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Oppenheimer: arte em sua mais bela forma

Obra-prima. Não há outro adjetivo para descrever Oppeheimer. Definitivamente, a nova produção do excelentíssimo Christopher Nolan não é um filme, mas o pedaço mais belo, excêntrico e ambicioso da  sétima arte.

Cinema, além de entretenimento, tem como principal objetivo impactar de alguma forma o telespectador, algo que Nolan sempre conseguiu fazer com maestria em sua carreira, vide o que foi feito com Interestellar, por exemplo. Oppeheimer não só impacta, como também adentra na alma de forma como pouquíssimos longas-metragens conseguem fazer. 

Oppenheimer Cillian Murphy GIF - Oppenheimer Cillian murphy Cillian - Discover & Share GIFs

O físico J. Robert Oppenheimer trabalha com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, levando ao desenvolvimento da bomba atômica.
Nolan é um cineasta que preza pela qualidade de seus filmes, e com Oppeheimer não é diferente. Concebido para ver na maior tela de cinema possível, sua fotografia encanta, tal qual o seu som, que mesmo se tratando de uma biografia, utiliza uma trilha sonora surpreendente de arrepiar.
O filme como um todo é uma experiência única e muioa imersiva, que se assemelha a um teatro.
Oppenheimer: conheça a história do cientista que inspirou filme
Com um elenco de primeira classe. O destaque fica por conta de Cillian Murphy, que encarna o personagem título de forma magistral; Robert Downey Jr, que desvincula totalmente sua imagem com Tony Stark, entregando uma atuação que vale mais que ouro; e Emily Blunt, onde coloca todos os seus sentimentos reais na personagem Kitty Oppeheimer
Matt Damon e Josh Hartnett também não ficam para trás. Ambos vivem seus personagens com excelência, conduzindo partes da história com muita minuciosidade. 
Oppenheimer é 'o melhor filme no qual participei', diz Robert Downey Jr.
Mesmo com enredo de fácil compreensão, Oppeheimer possui linhas de diálogo mais extensas e complexas quando comparadas com demais narrações entregues por Nolan. Todavia, tal fato, enriquece ainda mais a película, mostrando o cuidado que o cineasta idealizador e elenco tiveram ao conceber o filme. 
Oppeheimer é obra de arte em sua mais bela forma. Mexe com os sentimentos, sentidos e com o coração. É mais do que simplesmente um longa-metragem sobre a ”criação” da bomba atômica… ele é algo inexplicável, que deve ser somente sentido, antes de compreendido. 
Christopher Nolan's Oppenheimer: Release Date, Trailer, Cast & More | Rotten Tomatoes
”Sabíamos que o mundo não seria mais o mesmo. Algumas pessoas riram. Algumas pessoas choraram. A maioria das pessoas ficaram em silêncio. Eu me lembrei de algumas linhas de texto sagrado hindu Bhagavad-Gita. Vishnu… tenta convencer o príncipe… de que ele deveria cumprir o seu dever… e para impressioná-lo, assume sua forma com múltiplos braços… e diz: ‘Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos’. Suponho que todos nós pensávamos assim, de uma forma ou de outra”- J. Robert Oppeheimer. 
Nota: 5/5
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“My Home Hero”: Um ensaio sobre os limites do amor

Uma motivação comum, em filmes de ação de Hollywood, é fazer o mocinho lutar para defender sua família. Vilões que sequestram ou ameaçam familiares do protagonista existem aos montes, e a satisfação está em saber que o Schwarzenegger, Mel Gibson ou o Bruce Willis vão descer a porrada em tudo e em todos para proteger seus entes queridos.

Acontece que, na maioria dos casos, o personagem principal desses filmes é alguém já preparado para lidar com a situação: Policiais, espiões, agentes do governo, soldados… São pessoas que possuem treinamento formal para porte de armas e combate. O que é bem menos comum é o caso onde o protagonista é apenas uma pessoa qualquer. Um homem comum, que não tem artes marciais ou um três-oitão a sua disposição. O mocinho que não passa de um homem caseiro. Um “Herói do lar“, talvez?

Ok, perdão pela forçação de barra. Baseado num mangá de mesmo nome (recentemente anunciado no Brasil pela editora JBC), com autoria de Naoki Yamakawa e Masashi Asaki, “My Home Hero” foi animado pelo estúdio Tezuka Productions e dirigido por Kamei Takashi. Com doze episódios, o anime recém-concluído teve transmissão simultânea na Crunchyroll, e também recebeu dublagem brasileira. O trailer e sinopse, conforme a plataforma de streaming, seguem:

Durante seus 47 anos de vida, Tetsuo Tosu nunca cometeu um crime sequer. Mas quando ele descobre que sua filha Reika está apanhando do namorado, ele começa a investigar o rapaz e descobre que, não só ele possui laços com a yakuza, como tem um histórico de suspeitas de feminicídio em sua ficha. Determinado a proteger sua família, Tetsuo faz o impensável e mata o homem, mergulhando de cabeça no submundo da marginalidade e colocando em risco sua pacata vida burguesa.

Uma coisa que precisa ficar bem clara logo de cara é a seguinte: “My Home Hero” não é um animê para quem é fraco de coração. Em vários sentidos.
Para começar, como a sinopse deve ter explicado, a história trata de temas um pouco pesados. Não só temos violência física, como temos abusos psicológicos, degradação mental e social, apologia ao crime e ao uso de drogas… Fora coisas piores que seriam spoiler de te contar.
Depois, tem a questão de que, meu amigo… Não existem palavrões o suficiente na língua portuguesa para descrever o sentimento que se tem ao final de cada episódio. Nem a maior das hipérboles fálicas basta. Todo episódio você pensa “ok, não tem como a situação ficar pior“. Aí ela vai e fica.

E esse último ponto foi o que acabou me prendendo na obra, o que me deixava ansioso para assistir o próximo episódio na semana seguinte. Toda vez, passávamos por uma montanha-russa de emoções, que começava com o Tetsuo tendo que lidar com um problema aparentemente irreparável, apenas para vê-lo puxar um coelho da cartola para “resolver” a situação… Até chegarmos no final do episódio e darmos de cara com mais uma coisa que me fazia xingar o céu e o mundo.

A direção também ajuda nesse quesito. O jeito como as cenas vão e voltam no tempo, pequenos detalhes são apenas mencionados, e te deixam curioso para entender como aquela aparentemente inofensiva parada na loja de conveniências pode ser útil no futuro… As coisas acontecem e parecem absurdas e sem explicação… Para então voltarmos e descobrirmos que tudo só aconteceu por causa daquela parada.

Captura de tela do episódio 12 de "My Home Hero"
“Próxima estação: Palmeiras-Barra Funda. Acesso a linha 3-vermelha do metrô, e linha 7-Rubi da CPTM. Desembarque pelo lado direito.” (Reprodução: Crunchyroll)

Tetsuo pode não ter nenhuma forma de se defender fisicamente, como mencionado no início, mas o uso criativo da sua esperteza e seu hobby acabam salvando a sua vida (e o colocando em ainda mais perigos) várias vezes. De uma forma positiva, o animê consegue fazer com que as jogadas de xadrez 5D do protagonista pareçam mais como tentativas desesperadas que acabaram dando certo do que planos meticulosos de um mestre intelectual, e essa incerteza adiciona ainda mais tensão na história como um todo. Algumas explicações podem parecer inconsistentes, mas o show se esforça para tentar deixar claro que isso só deu certo por causa do passado e presente extremamente específicos do cinquentão.

E tudo isso acontece por uma motivação única e simples, quase primitiva e animalesca: O desejo incontrolável e até mesmo irracional de defender aquilo que é seu e que lhe faz bem. O animê demonstra, em vários momentos, que a vida que Tetsuo leva é extremamente medíocre. Ele é um homem de meia-idade, classe média, com um emprego qualquer, um casamento aparentemente desgastado, ambições impossíveis em seu hobby, e um relacionamento difícil com a filha. Mesmo assim, ao se deparar com uma situação onde o que ele tinha foi colocado em risco, ele se transforma no Hulk, vai até os limites da sua capacidade (e, muitas vezes, até passa deles!) para evitar qualquer perda.

Sabe aquele ditado, de que só damos valor para algo quando o perdemos? A reação visceral de rejeição que o Tetsu tem de perder a filha, de perder a família e a vida que tinha, mostra que ele percebeu o valor das coisas à sua volta. Onde outros shows poderiam trabalhar em cima da mediocridade e encará-la como um aspecto negativo, “My Home Hero” se apoia na busca pela continuidade dessa mediocridade. Não é muito, não é extravagante, mas é a vida e a família que Tetsuo Tosu construiu com as próprias mãos, e que ele está satisfeito em ter. É algo que ele ama, e esse amor é o que faz com que ele lute com tudo que tem para defendê-lo.

Captura de tela do episódio 12 de "My Home Hero"
Assim como ogros e cebolas, essa imagem tem camadas. O show inteiro tem, aliás. (Reprodução: Crunchyroll)

Com uma trama cheia de suspense, adrenalina e emoção, que apesar de exagerada e fantasiosa, ainda consegue entregar uma história até que bastante pé-no-chão, “My Home Hero” existe a partir de uma única pergunta: Qual é o limite do amor? Até onde você iria para proteger aqueles que ama? E o animê mostra que a resposta pode ser muito mais assustadora do que se esperaria.
O mangá ainda está em publicação, mas o animê se encerrou em um ponto que muitos podem ver como anticlimático, mas que eu vejo como uma forma de passar uma mensagem, e a nota do redator é 4/5, ainda com o asterisco de que não é um show para todo mundo. Mas que show que é, não é?

O animê está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, completo em 12 episódios, com legendas e dublagem em português.

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Diablo IV é o ápice da franquia

Essa franquia causou muitos problemas para as crianças nascidas nos anos 90, primeiro por conta de seu nome, e consequentemente suas cinemáticas e gameplay sangrento. E nesse ano de 2023, temos entre nós mais um capítulo dessa história marcante, Diablo IV está em chamas.

Preciso informar que essa análise conterá terá spoilers da história geral dos jogos, para situar melhor as pessoas nesse novo jogo.

Antes de tudo vamos dar uma recapitulada na história por trás de Diablo IV. De fato a Blizzard trata com muito esmero o lore do seu jogo.

O anjo Inarius juntou-se a Lilith, a filha do demônio Mephisto um dos Três Males Maiores. Os dois estavam cansados do conflito eterno entre anjos e demônios pelo controle do universo e criaram Santuário, com o poder da Pedra do Mundo, que eles roubaram. Santuário servia como um refúgio e lar para todos que queriam fugir do conflito eterno. Entretanto, durante anos os anjos e demônios de Santuário começaram a se relacionar e a partir disso surgiram os Nephalens, uma nova raça híbrida que possuíam poderes mais elevados que Anjos e Demônios.

Inarius sentindo-se ameaçado queria acabar com  os Nephalens, enquanto Lilith via neles, a oportunidade de acabar com o conflito eterno entre Céu e Inferno. Uma guerra em Santuário ocorreu, entre Anjos, Nephalens e Demônios, que acabou com um acordo entre o Céu e Inferno de não interferir mais em Santuário.

Diablo IV então trás de volta, Lilith, que quer retomar o controle e poder que exercia em Santuário, sobre os filhos dos Nephalens, os humanos.

Para todos que jogarem outros jogos de Diablo, a mecânica de gameplay não é novidade, mas é impressionante como a Blizzard consegue nos entregar pela 4º vez a mesma coisa, e mesmo assim não transforma em algo chato, ou tedioso, como vemos em algumas outras franquias de jogos (Assassin´s Creed e FarCry estou apontando para vocês).

Se você tirar todo o background da história, profecias, as distrações cinematográficas, as amarras com o mundo, Diablo IV é sem sombra de dúvidas um RPG padrão, mas é justamente ai que ele ganha destaque, porque ele não é nada, além do que se propõe a ser.

Diablo IV ocupa um espaço de complexidade, que vimos em Diablo II, e a acessibilidade que foi Diablo III, sem dúvidas o responsável por elevar ainda mais o nível da franquia. Passados mais de 50 anos após a DLC Reaper of Souls, Diablo IV trás de volta os pontos de habilidade e atributos atribuíveis, permitindo mais variações na construção de classe, experimentações incentivadas, exigindo mais cuidado em combate, o jogo como um todo está cheio de revisões inteligentes, mudanças específicas em certos aspectos que já estamos acostumados, que não os mudam, mas melhoram tudo que conhecemos.

Diablo IV é um parque temático de exploração, acumulação e criação, a progressão do personagem é definida muito mais pelos equipamentos que você consegue gerar durante a gameplay, do que pelas escolhas aleatórias. Os itens têm propriedades mágicas e classificação distintas, mas isso não impede que você aplicar essas propriedades passivas únicas a outro item em seu inventário.

Parece um pouco contraintuitivo ter tanto controle nas primeiras horas, não lembra muito outros jogos da franquia Diablo. Mas esses toques leves, alterando pontos específicos na gameplay aumentou a qualidade geral do combate desde o início da campanha até as incontáveis ​​horas gastas descobrindo os detalhes no mapa durante o fim de jogo. De maneira geral em Diablo IV, ainda temos que nos concentrar (um pouco) para matar demônios, e é realmente muito bom.

Entretanto você precisará ser mais atencioso do que no jogos anteriores, com uma variedade de fatores externos no ambiente. Seleção de habilidades, gerenciamento de recursos, especializações e posicionamento durante as batalhas. 

As classes de heróis estão muito melhor exploradas aqui. Desde o necromante, capaz de levantar um exército de mortos, até o singelo bárbaro, com suas armas trocáveis. Você tem a opção do mago com suas conjurações elementais. O Rogue é o mestre stealth, disparando flechas através das sombras, enquanto o Druida pode mudar sua forma para a batalha.

Essas classes são apoiadas em um sistema de árvore de habilidades bem trabalhado. Em Diablo IV além do clássico modo de ganhar pontos de habilidade conforme você sobe de nível, você ganha pontos também ao explorar, indo á certos limites do Santuário, saqueando masmorras, caçando estátuas de altares de Lilith e completando as centenas de missões secundárias pelo mundo aberto.

O seu modo de jogo é amplo, não necessariamente focado apenas em devastar hordas de demônios, há outras maneiras de fazer o jogo acontecer, e isso depende de você. 

Muitos estavam ansiosos para ver como a Blizzard iria implementar o mundo aberto em Diablo IV, e aqui podemos ver a habilidade da equipe de produção que está a mais de 20 anos aplicando os conceitos em World of Warcraft, presente em Diablo. Um desafio criativo que o estúdio navegou com precisão hábil, permitindo que o jogador possa vagar livremente neste espaço enorme de integração perfeita do PvP a zonas específicas do mapa adicionando um ar de perigo à exploração a cada passo.

Não há como prever, Diablo IV como um serviço online, em um ambiente desafiador como é atualmente, onde jogos precisam se renovar constantemente para se manter no auge. Mas aqui a Blizzard, estabeleceu uma bases sólidas de mecânica e gameplay, que evoluiu junto a franquia, como uma experiência solo, há uma elegância em sua composição e a liberdade que temos para explorar é sem dúvida cativante.

Diablo IV é o ápice da franquia. Aquele loop de jogabilidade que exige uma atenção tão simplória, repetitiva que domina sua mente. O típico jogo que te entrega diversão instantânea, desafios persistentes em um modo contínuo, com complexidade acessível. É o retorno triunfante que Lilith tanto esperou.

Diablo IV com seu sistema de loot e refinamento no sistemas de combate, e mundo aberto, entra no pódio como o melhor RPG de ação dos últimos anos.

Diablo IV foi analisado no PC, sem código fornecido pela editora.

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Creed III: Quando poucos golpes são suficientes

A franquia Rocky ultrapassou os limites do ringue de luta. Embora mantive-se o foco na história de superação, treinamento, disciplina e nos sacrifícios pessoais do lutador Rocky Balboa, os filmes nunca esqueceram do aspecto urbano e do cotidiano envolto do protagonista. Ryan Coogler, diretor do primeiro Creed e roteirista da trilogia, conseguiu retomar esses aspectos através das lentes da cultura negra americana. E mesmo Pantera Negra (2018) sendo o seu trabalho de maior prestígio e popularidade, foi com Creed que a sua capacidade conseguiu ditar as temáticas de uma franquia inteira. No terceiro filme, agora sem a estrela de Sylvester Stallone, o background dos personagens persiste nas raízes da comunidade negra – e como o passado destes interferiu em suas expectativas e sonhos de vida.

Se olharmos em última instância, todos os filmes da franquia, desde o primeiro Rocky de 1976, trabalharam em cima do sonho daqueles em tela. Os personagens sempre estão buscando alcançar um outro patamar de vida: casar com a mulher amada, vencer a luta, tornar-se campeão. O personagem interpretado por Jonathan Majors, Damian Anderson, é um entre vários que almejavam ser profissional do boxe e desfilar com o cinturão numa carreira vitoriosa, mas acabou tendo seu caminho redirecionado por uma sentença de 18 anos em cárcere privado após um desentendimento na rua. O terceiro filme nos oferece dois personagens que partiram juntos, mas acabaram atravessando jornadas distintas e consequentemente finais desiguais. Adonis tornou-se aquilo que o amigo desejava, e Damian viveu quase duas décadas no presídio vendo um sonho próximo da realidade se transformar numa probabilidade distante.

Assim, Creed III traça um comentário político interessante quando coloca em debate como as circunstâncias e a desproporcional punição condicionaram o futuro de um garoto, e destruíram qualquer perspectiva de sucesso. Contudo, o filme se interessa mais nessa background como justificativa para o sentimento vingativo do antagonista, do que necessariamente se aprofundar no comentário político e social.

É preciso ter uma suspensão de descrença do mesmo nível daquela em Gigantes de Aço (2011), quando o robô de treinamento Atom confronta os robôs mais competitivos e tecnologicamente avançados do mundo, para engolir a história de Damian. O plano arquitetado e a escalada oportunista para enfrentar o atual campeão, além do mistério envolta da sua vida dentro da prisão, mantendo o ritmo de treinamentos e o porte físico de um atleta profissional são enfiados goela abaixo e apenas geram dúvidas pertinentes sobre suas reais condições na cadeia, pois é conveniente para o roteiro deixá-lo pronto para a jornada sem qualquer preparo – e torná-lo uma opção viável num confronto de proporções globais.

E o roteiro não peca exclusivamente nesse contexto. A história retrata um Adonis Creed aposentado, sendo a primeira luta do filme justamente sua despedida dos ringues. Semelhante à premissa de Rocky Balboa (2006), Creed III coloca seu protagonista na posição de superado e ultrapassado, quando outros rostos e nomes assumem o protagonismo do esporte. Contudo, existe uma diferença gritante entre o que fizeram com Balboa em 2006 e essa tentativa. A caracterização de Sylvester Stallone corresponde a alguém obsoleto, cansado e nitidamente fora da idade (resultado da própria realidade do ator); a forma como o filme explora suas vulnerabilidades e fraquezas o tornam mais verossímil, e nos fazem reconhecer seu retorno aos ringues como um desafio complicado. No caso de Michael B. Jordan, sua caracterização e, portanto, seu porte físico e estilo de vida (assim como o período curto da aposentadoria), não correspondem ao que filme pretende transmitir e acaba por atrapalhar na forma como nos relacionamos com ele, sendo este “grande desafio” um mero percalço no caminho.

Se essa tentativa frustrada de emular a capacidade emocional da obra de 2006 já não fosse suficiente, o filme também retrata uma perda (que não será revelada aqui) com o peso dramático de uma folha de papel. Novamente parte do esforço de criar empatia pela história do protagonista, como se obter a comoção do público fosse missão fácil apenas por colocar o acontecimento anunciado desde o início num ponto crítico da trama – e não resultado de um processo construído gradativamente (se possível, com sutileza).

Contudo, as limitações óbvias do roteiro esbarram numa direção competente e inspiradora do estreante Michael B. Jordan. Foi uma grata surpresa reconhecer na tela um diretor que busca alternativas para cenas simples, sempre procurando caminhos diferentes para transmitir sensações. Não só pela capacidade de conduzir ritmos impressionantes nas lutas, mas imprimir um estilo inspirado por seus gostos pessoais pela linguagem dos animes (os planos fechados nos braços e luvas, o slow motion) que possuem caráter próprio na produção das cenas de ação. Outro ponto relevante é como Jordan não se limita em focar na luta em si, mas busca intercalar com flashbacks que remetem às emoções e pensamentos dos lutadores. O conflito principal entre Adonis e Damian é para além do âmbito físico, é quase como um acerto de contas espiritual.

Também vale ressaltar a continuidade de estilos musicais, temáticas e saudosismos que integram toda a trilogia. É importante manter uma unidade artística facilmente reconhecida ao assisti-los: a representatividade da comunidade negra, a exaltação e o respeito pelas figuras do passado (embora aqui ocorra um distanciamento muito maior do que nos anteriores), além da música tema com acordes clássicos da franquia. São, portanto, elementos que mantém o espírito dos três filmes.

Ao final (sem spoilers), o diálogo entre o Adonis e Damian retrata dois homens compreendendo como o sentimento de vingança só serve para consumir aquilo que resta. Mas o destaque está quando eles se conscientizam sobre o quão equivocados estavam em tentar procurar culpados entre si, quando a culpa verdadeiramente partia daquelas forças externas maiores, que – às vezes – os tornam coadjuvantes da própria vida.

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Review | Star Wars Jedi: Survivor, de qual lado você está?

Já imagino um dos motivos de você se interessar em ler esta análise e a resposta é: Sim! Sinta-se à vontade, pode ir comprar o seu jogo na sua plataforma preferida. Star Wars Jedi: Survivor é um jogo excepcional. 

Star Wars Jedi: Survivor se passa cerca de cinco anos após os eventos de Fallen Order, durante o período de controle do Império Galático, pós Ep. III – A Vingança dos Sith, conectando sua história com todo o universo que conhecemos. A busca de Cal o leva a novos cantos da galáxia, mas a jornada mais atraente que ele faz é introspectiva. 

Star Wars Jedi: Survivor baseia-se na fórmula já vencedora de Star Wars Jedi: Fallen Order , tornando Cal Kestis um Cavaleiro Jedi mais poderoso do que na sua última aparição, infelizmente o mesmo não ocorre com os desafios que enfrentamos durante a gameplay.

Em comparação a Fallen Order, Survivor é bem mais fácil, os inimigos não escalam acompanhando a sua evolução de poder. Fallen Order tinha um pouco de soulslike em seu gameplay, já em Survivor não sentimos isso, pelo que vivenciei aqui temos uma maior exploração de recursos para a jogabilidade do que na jogabilidade em si.

Para acompanhar essa ideia de que Cal Kestis está mais velho, mais habilidoso, e para esse novo mecanismo de gameplay relacionada aos recursos, temos uma árvore de talentos, ainda prematura, mas bem-vinda. A adição de duas novas posições de sabre de luz. 

Uma com estilo de luta à distância, e outra com golpes lentos, mas fortes. Ambos têm suas vantagens e desvantagens, mas não é algo que te fará refletir, basicamente uma funciona melhor durante a gameplay, e o game design sabe disso, é tanto que para “dificultar” um pouco as coisas, eles te limitam o uso de cada guarda, para que você utilize mais de uma durante sua gameplay.

Embora isso tenha me causado um pouco de frustração e sufoco, entendi com o passar do gameplay que essa limitação me forçou a me adaptar, e passar pelos mesmos sentimentos que Cal Kestis estava passando. Se foi algo proposital, não tenho como afirmar. Além de que, somos Jedi, então temos um leque de habilidades com a Força para nos ajudar.

Star Wars Jedi: Survivor é sem dúvida superior a Fallen Order, vemos o orçamento maior sendo usado. Tanto na história, nas localidades, quanto na jogabilidade, desafios de plataforma, quebra-cabeças, etc. Os combates são pontos altos, combinações de habilidades Jedi e encontros cinematográficos tensos, fazem uma ponte perfeita para a entrada da trilha sonora, que cresce desde o início da gameplay.

Survivor conta com um sistema de dicas, que respeita sua inteligência, aparecendo em momentos que o jogo entende que você está com dificuldade. E mesmo assim, como Fallen Order, o jogo perguntará se você gostaria de uma dica.

O jogo também reserva tempo para momentos de silêncio e contemplação. Principalmente quando estamos em Koboh, sem dar spoiler, Cal pode visitar NPCs que atuam como vendedores, entre outras coisas, Koboh é importante tanto para você quanto para Cal. Infelizmente os NPCs não mergulham em narrativa, servem apenas a um propósito, algo que me frustrou. Um planeta tão grande, onde pensei que poderíamos explorar e realizar algumas atividades, no final das contas é apenas um casco para a narrativa geral, e é assim com a maioria dos planetas. 

O desempenho gráfico de Survivor é um obstáculo que não podemos passar em branco. Ao jogar no PlayStation 5 notei oscilações no frame rate, alguns travamentos aleatórios, mas em nenhum deles foi algo que me prejudicou, claro que é irritante, mas em questão de atrapalhar em batalhas ou em cut scenes, posso dizer que minha experiência geral foi satisfatória. Alguns veículos comentaram também sobre travamentos em outras plataformas. O que me deixou curioso foram as telas de loading, principalmente no início do jogo, eram bem longas e irritantes.

Star Wars Jedi: Survivor melhora de maneira significativa muitos pontos de Fallen Order, mecânica de combate, expansão do universo, e os puzzles.

Por diversas vezes temos os conflitos internos de Cal, vindo à tona, suas oscilações em direção ao Lado Sombrio da Força, enquanto enfrenta novos desafios.

Star Wars Jedi: Survivor é um conto Jedi muito bem desenvolvido sobre medo, resiliência, e adaptação. Mostra o que medo significa para alguém como Cal, que é um sobrevivente de uma guerra e de um ataque genocida contra seu povo, uma verdadeira história Jedi que merecemos.

PONTOS POSITIVOS:

  • Aborda o medo existente do personagem, trazendo para uma visão mais humana.
  • A evolução do combate comparado com o jogo anterior.
  • Puzzles que respeitam a gameplay.
  • Trilha sonora.

PONTOS NEGATIVOS:

  • Exploração geral pouco empolgante.
  • Problemas técnicos que podem prejudicar a gameplay.

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“As Quíntuplas: Filme” é cinco partes de acerto para uma de erros

Filmes de animê são uma mídia que está crescendo no Brasil. Quem é fã de longa data dos desenhos japoneses sabe o quão frustrante costumava ser ver uma série continuar (ou terminar) em formato de filme, pela grande dificuldade de se ter acesso a esse tipo de conteúdo. Mas, nos últimos anos, os longa-metragens tem ganhado mais e mais licenças para plataformas de streaming (mesmo que com algum atraso), e até tem populado as salas de cinema do país (mesmo que apenas em cidades grandes). Filme de animê já não é mais um problema tão grande.

Por causa disso, meu sentimento de tristeza (e um pouco de ódio) com “As Quíntuplas” (No original, “Gotoubun no Hanayome”, ou pelo título internacional, “The Quintessential Quintuplets”) foi bem menor do que teria sido alguns anos atrás, quando anunciaram, após sua segunda temporada, que a comédia romântica de Negi Haruba teria seu encerramento adaptado para as telonas, ao invés das telinhas. Demorou quase um ano inteiro, mas o filme, que foi lançado no Japão em 20 de maio de 2022, finalmente chegou para o ocidente, com o licenciamento da Crunchyroll. Como um grande fã da obra, reservei um tempo para assistir as mais de duas horas do longa-metragem, e já que eu tinha escrito sobre as duas temporadas iniciais, pensei: “Por que não resenhar também o filme?“.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quíntupla mais velha, Ichika
Minha cara de felicidade quando posso fazer propaganda descarada das minhas postagens antigas (Reprodução: Crunchyroll)

O clímax da história acontece, é claro, no festival escolar. Onde mais você acharia que uma comédia romântica escolar teria o seu ponto alto? Da mesma forma que outra RomCom que terminou em 2022, Kaguya-sama, temos o evento como centro e motivador de desenvolvimentos que nos levam ao fim da obra. O “Festival Escolar” é culturalmente visto e utilizado, especialmente no gênero romântico, como o “ápice” da juventude dos adolescentes. Especialmente quando se trata do festival para os alunos do terceiro ano do ensino médio, já que é a “última chance” que eles têm de “viverem como jovens”, antes de entrar no mundo adulto de universidade e trabalho.

O que diferencia o filme de As Quíntuplas de Kaguya-sama, porém, é o fator de descoberta: Até o último momento, você não sabe qual das irmãs o protagonista escolheu. O autor e a direção do filme fizeram um excelente trabalho de dar pistas para a revelação, fazendo com que ela não pareça arbitrária, mas sem fazer com que ela seja absurdamente escancarada antes da hora.

Aliás, já que toquei no assunto, fica dado o recado: O filme adapta até o final do mangá, então sim, o protagonista escolhe uma garota no final. Não tivemos um encerramento covarde, extremamente comum em histórias harém. Que mais autores sigam o exemplo.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a segunda quíntupla, Nino
A tensão de assistir RomComs sem saber se vai ter um final definido… (Reprodução: Crunchyroll)

Um dos charmes do filme é, na minha opinião, o jeito que ele é apresentado. Os três dias de evento do festival escolar são mostrados por seis pontos de vista diferentes: Do Uesugi, e de cada uma das quíntuplas. Conforme vamos indo e voltando no tempo, vendo e revendo acontecimentos marcantes, recebemos novas peças para montar o quebra-cabeça de o que aconteceu de fato, e como as coisas se conectam.

Além de dar tempo de tela e foco para todas as personagens, gerando conteúdo para fãs de todas as quíntuplas, essa ferramenta de roteiro das mudanças de ponto de vista serviu para reforçar a principal mensagem da história, que foi ainda mais central no filme: Que mesmo elas sendo idênticas, as quíntuplas não são iguais. Não há problema algum em gostar e sentir um conforto familiar nas similaridades entre elas, mas que elas também devem aprender a valorizar suas características únicas.

Dessa forma, cada “segmento” não foi idêntico. Cada quíntupla recebeu um conteúdo que é bastante condizente e respeitoso com o que ela é, e com o que foi construído ao longo da série. Talvez isso possa ser visto como “injusto”, já que a carga e o tipo de conteúdo recebido não foi equilibrado, mas acredito que seria um questionamento que apenas os mais fanáticos cruzados das guerras de waifu fariam, e que uma pessoa sensata encararia as diferenças como um ponto de desenvolvimento das personagens.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a terceira quíntupla, Miku
A cara da Miku resume tudo sobre quem reclama do tratamento de cada quíntupla no filme (Reprodução: Crunchyroll)

Quando o assunto é humor, tenho que, mais uma vez, dar os parabéns para As Quíntuplas. Esse filme foi muito engraçado, com diversos momentos (alguns até não-propositais) que me fizeram rir alto. Mesmo esse sendo o final da série, com um desfecho quase que “de novela“, com muito drama e emoção envolvido, o longa conseguiu manter as piadas e o divertimento, deixando a “comédia” em “comédia romântica” brilhar. E esse é um dos maiores méritos da série como um todo, como eu comentei mais a fundo na postagem anterior.

Claro que nem tudo são flores, e o filme não é perfeito (por mais que eu quisesse que fosse). Ironicamente, o principal problema do filme de As Quíntuplas é justamente… ser um filme.

Tá bom, eu sei que eu sou hater admitido de filmes de animê, mas dessa vez eu tenho argumentos reais: Com uma duração de duas horas e dezesseis minutos, o longa tem o tempo equivalente a mais ou menos seis episódios de animê para televisão. Isso fez com que muito conteúdo precisasse ser acelerado ou totalmente cortado, e momentos que poderiam ser melhor explorados deixaram a desejar.

O começo do filme é um ótimo exemplo do que eu estou falando: Sem spoilers (se é que dá pra spoilar alguma coisa quando o conteúdo foi literalmente cortado…), mas a cena de abertura, que tem menos de dois minutos e serve apenas para tocar musiquinha enquanto passam créditos, cobriu um evento inteiro, que passou despretensiosamente como quem não deve nada a ninguém. Logo depois, um outro acontecimento, que é algo muito importante para as quíntuplas, e é diretamente relacionado com um dos principais conflitos da segunda temporada, acontece em uma transição de cena. UMA TRANSIÇÃO DE CENA! Eles falam como se fosse um “Ah, sim, uma última coisa” e saem andando.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quarta quíntupla, Yotsuba
Algumas coisas passaram voando tão rápido que deu pra ouvir a Yotsuba gritando “Já chegou o Disco Voador” (Reprodução: Crunchyroll)

Esses são apenas dois exemplos que você vai encontrar logo nos cinco primeiros minutos do filme, mas isso se repete várias vezes ao longo da duração. Personagens aparecendo sem a menor explicação, coisas acontecendo totalmente do nada, ou tendo motivações tão rasas que em alguns casos era melhor nem citar nada… Fica claro que faltou tempo para terminar o mangá.

Isso me faz questionar ainda mais a decisão de fazer um filme, quando claramente uma terceira temporada, com 12 episódios, teria tido o dobro do tempo para trabalhar nos detalhes que faltaram. Especialmente quando olhamos para a estrutura do filme, que é extremamente segmentada e poderia facilmente ser encaixada em “bloquinhos” de 20 minutos.

Não sei se foi algum esquema de lavagem de dinheiro ou visaram os lucros das salas de cinema. Talvez seja uma questão da produção semanal? Eu não sei, e é o tipo de coisa de bastidores que provavelmente nunca saberemos, mas que As Quíntuplas sofreram por essa escolha, isso é inegável.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quíntupla mais nova, Itsuki
Posso ter reclamado bastante do filme, mas eu também tava mandando ver num sanduba enquanto assistia, e essa parte foi boa (Reprodução: Crunchyroll)

Apesar dos problemas causados pelo formato escolhido, é inegável que a adaptação foi extremamente fiel a tudo que a série construiu, tanto em atmosfera quanto em conteúdo. Um final memorável e satisfatório para uma série que foi divertida do início ao fim, o filme de “As Quíntuplas” poderia ter sido melhor, mas o que foi, já foi excelente, e o redator dá a nota de 4,0/5,0 para ele.

Sendo sincero, eu já fico muito feliz de simplesmente ver um animê acabando. Ôh mídia que gosta de deixar coisas incompletas, viu.

O filme, assim como as duas primeiras temporadas que o antecedem, está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, sob o nome internacional, “The Quintessential Quintuplets”, e possui opção dublada em português.

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Super Mario Bros. Um Filme despretensioso para assistir com toda família

Super Mario Bros. é uma franquia de jogos que tornou-se popular quase de imediato quando foi criada, isso porque, possuía uma jogabilidade simples, sem história (fator que mudou ao longo dos anos) e era acessível para todos. 

Logo, era inevitável que Hollywood tentaria mais uma vez (dado que um filme em live-action foi produzido em 1993, mas foi um fracasso) revitalizar a franquia, mas em forma de longa-metragem animado. Uma jogada inteligente da Nintendo e Illumination, diga-se de passagem. 

Super Mario Movie Super Mario Bros GIF - Super Mario Movie ...

Mario é um encanador junto com seu irmão Luigi. Um dia, eles vão parar no reino dos cogumelos, governado pela Princesa Peach, mas ameaçado pelo rei dos Koopas, que faz de tudo para conseguir reinar em todos os lugares.
Não, Super Mario Bros. O Filme não se enquadra no ”subgênero” de animações para o público infantil, que tem uma grande mensagem adulta por trás. Ele é simplesmente uma obra cinematográfica animada simples, descontraída e despretensiosa, e é justamente isto que faz a história ser prazerosa de assistir. 
Diferente dos games, Super Mario Bros. O Filme expande a vida pessoal do encanador e de seu irmão bigodudo, aprofundando em suas origens, relação com a família e abordando a conexão entre os antagonistas humanos presentes no cotidiano da dupla. 
Super Mario Bros. O Filme não se sustenta somente com referências visuais aos jogos. A jornada do herói, desde a chegada do italiano à Terra do Cogumelo, é o grande ponto alto do filme, dado que Mario embarca em uma jornada de autodescobrimento influenciado pela princesa Peach. Em resumo, o personagem recebe um propósito muito mais ”humano” e corajoso em contraparte ao material fonte, que sempre abordou as dores e forças do pequeno herói superficialmente. 
The Super Mario Bros. Movie' Is Another Bad Game Adaptation
Personagens secundários, como Peach, Bowser, Toad e Donkey Kong ganham uma profundidade e significado ainda maior com o decorrer da trama, dando um verdadeiro significado para os amigos de Mario, e descartando a ideia de serem meros coadjuvantes, afinal, a trama aborda de maneira simples e rápida, mas profunda, a dor, desejo e motivação de cada individuo. 
Mesmo com uma história simples, feita somente para entreter a família e sem uma grande mensagem por trás, Super Mario Bros. O Filme moderniza a franquia mas sem deixar de lado a nostalgia, entregando uma comédia de qualidade e adorável. 
NOTA: 5/5
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A Morte do Demônio: A Ascensão é sinônimo de qualidade e entrega além do que promete

A Morte do Demônio é uma famosa franquia de horror e comédia que nasceu em 1981, através de um projeto idealizado pelo diretor e roteirista Sam Raimi, por Bruce Campbell e pelo produtor Robert Tapert. Ao longo dos anos, a franquia tornou-se um clássico entre os fãs de terror, sendo considerada como uma das melhores sagas do gênero. 

Com continuações excelentes, incluindo uma série com três temporadas e uma nova versão lançada em 2013, A Morte do Demônio sempre se manteve no alto nível sem perder sua essência. Em outras palavras, os fãs da série nunca tiveram motivos para se preocupar, dado que cada obra sempre encontrava uma maneira de respeitar o material fonte. 

Com A Morte do Demônio: A Ascensão não é diferente, sendo a melhor adição à franquia desde Uma Noite Alucinante 3 e Ash vs Evil Dead, que entrega além do prometido de forma simples, elegante e sangrenta. 

Evil Dead: A franquia até hoje

No filme, Beth (Lily Sullivan) vai até Los Angeles para visitar sua irmã mais velha, Ellie (Alyssa Sutherland), que mora com os três filhos em um pequeno apartamento. Com uma relação distante, essa seria a oportunidade para uma reaproximação entre as irmãs. Porém, o reencontro toma um rumo macabro quando elas encontram um livro antigo que dá vida a demônios possuidores de carne. Agora, para sobreviverem, serão forçadas a enfrentar uma versão aterrorizante da família.

Com direção do irlandês Lee Cronin (O Bosque Maldito), que também assina o roteiro, A Ascensão é um longa-metragem feito com amor, cuidado e dedicação. Desde fidelidade à mitologia criada por Sam Raimi, até homenagens visuais, Cronin entrega uma direção dinâmica, dando ao telespectador a sensação de que ele faz parte da história e que também está sendo caçado pelos Deadites (demônios), como por exemplo, acompanhar os olhares dos personagens com a câmera, dando a sensação de que os protagonistas estão interagindo com o público. 

Diferente das outras obras, A Morte do Demônio: A Ascensão desenvolve todos os personagens individualmente, dando um real propósito para toda a família, descartando a possibilidade deles serem meros NPC’s que estão ali para morrer. Cada um possui sua dor individual, seu momento e seu protagonismo, enriquecendo ainda mais a história. 

Contudo, Ellie (Alyssa Sutherland) e Beth (Lily Sullivan), a dupla de irmãs, são as que se destacam em meio à tanto protagonismo das filhas de Ellie. Enquanto Beth, é a grande ”heroína” que esconde um grande segredo de sua família, e por isso, luta para sobreviver (dado que ela descobre um propósito em sua vida), sua irmã fica com o papel de vilã… e que vilã! Percebe-se no olhar de ambas as atrizes, que elas não estavam somente se divertindo enquanto gravavam A Ascensão, como também se entregaram de corpo e alma para suas personagens, entregando atuações medonhas, empolgantes e claro, de alta qualidade. 

Bloody New 'Evil Dead Rise' Image Shows Off the Boomstick! - Bloody Disgusting

A Morte do Demônio: A Ascensão inova em trazer para a franquia, uma ambientação claustrofóbica se passando quase que inteiramente no mesmo cenário, sem enjoar. Além disso, a escolha por levar A Morte do Demônio para dentro de um prédio, abriu possibilidades para criar uma trama mais íntima e criativa, ao mesmo tempo que a ambientação é trabalhada com recursos ”escassos”.

A nova produção utiliza do humor de maneira inteligente e pontual, criando uma atmosfera tensa, mas que há momentos engraçados. Porém, tais situações não são utilizadas para quebrar o gelo como de costume, mas sim, para deixar os acontecimentos ainda mais macabros e maquiavélicos. Mais um ponto para o longa-metragem. 

Yeah, they're dead. They're all messed up." — Evil Dead Rise (2023) dir. Lee Cronin “Mommy's...

A Morte do Demônio: A Ascensão é um verdadeiro (e lindo?) banho de sangue e gore, dando uma alegria quase que infinita para os amantes de Ash e sua turma, sendo além de uma bela homenagem, mas sim, uma adição magnífica à este universo cinematográfico que tende crescer cada vez mais. 

NOTA: 5/5

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Eu não sei o que dizer sobre “The Vampire Dies in no Time”

No mundo das crônicas – os textos mundanos de uma página que vemos publicados em jornais e revistas – existe uma máxima (que não sei se existe de fato, mas que acredito que escritores concordariam): Todo cronista, inevitavelmente, acabará escrevendo uma crônica sobre não saber sobre o que escrever, e uma crônica sobre o ato de escrever uma crônica. Às vezes, essas duas acabam sendo a mesma crônica.

Talvez isso valha também para blogueiros, pois o que estou fazendo hoje é justamente isso: Eu literalmente não sei o quê escrever sobre o animê que quero divulgar. Mas o algoritmo ruge, então tentarei mesmo assim.

Baseado num mangá de mesmo nome, com roteiro de arte de Itaru Bonnoki, “The Vampire Dies In No Time” (Kyuuketsuki Sugu Shinu) foi adaptado em 2021 para animação, e sua segunda temporada terminou agorinha, no final de março de 2023.

A comédia acompanha as aventuras de Draluc, o vampiro mais fraco do mundo (e que morre com qualquer arranhão, mas logo se recupera), e do caçador de vampiros Ronaldo, que juntam forças enquanto combatem as mais diversas ameaças à população da cidade de Shin-Yokohama.

Existem diversos tipos de humor, e eu já falei extensivamente sobre eles em diversas postagens diferentes. Afinal, quando venho recomendar um animê de comédia para vocês, eu preciso explicar o tipo de comédia que ele possui, já que pessoas diferentes gostam de tipos diferentes de comédia. Depois da explicação, eu comento sobre o show em si, seus pontos fortes e fracos, e suas excentricidades.

Pois bem: A comédia de “The Vampire Dies In No Time” é do tipo “Dedo no c* e gritaria”. É uma junção de choque pelo absurdo; com um manzai mais clássico de uma pessoa fazendo uma piada e outra reagindo a ela de forma exagerada; e do humor pela repetição da mesma piada várias e várias vezes. É uma mistura que pode ficar densa, mas que é tão bem executada, que não passa dos limites. Bem, dos limites técnicos, pois de roteiro… Eles vivem passando dos limites. E é isso que faz a coisa ser engraçada.

Captura de tela do episódio 4 da primeira temporada de "The Vampire Dies In No Time"
Considerando onde ele enfia esse dedo, é bom manter a unha cortada mesmo (Reprodução: Crunchyroll)

E agora é o momento que eu começo a me enrolar. Para falar sobre as excentricidades de “The Vampire Dies In No Time”, eu precisaria… Bem, pra início de conversa, eu precisaria ter prestado atenção o suficiente para notar qualquer coisa. O animê me fazia rir tanto, que eu quase não conseguia notar nada além das piadas. Mas, se eu me esforçar para tentar trazer algum ponto, eu teria uma certa dificuldade em explicá-los. Sabe aquela sensação de “você precisava estar lá”? Quando você conta uma história hilária para um amigo, e recebe como resposta apenas um silêncio constrangedor? É assim que eu me sinto ao tentar descrever qualquer coisa sobre o show.

Nesse mundo, cada vampiro tem uma habilidade “especial”, que deveria ser a sua assinatura e principal forma de atacar humanos e conseguir sangue. Mas a história nunca se leva a sério, e isso faz com que as habilidades dos vampiros sejam apenas coisas absurdas, badulaques extremamente específicos e que servem apenas de mote para piadas, onde ninguém está, de fato, correndo perigo.

Inclusive, as situações de maior “risco” para qualquer pessoa na história acontecem quando não há nenhum vampiro envolvido. Você poderia até tentar dizer que é uma alegoria ao fato de que “nós somos os verdadeiros monstros”, mas… Não, o animê certamente não tenta passar nenhuma mensagem dessas, ele apenas usa o choque pelo absurdo.

A repetição da piada que dá nome ao show, o fato de Draluc sempre morrer com qualquer coisa que aconteça com ele, é o foco do humor apenas no início da história. Sabendo que repetição demais pode tornar uma coisa repetitiva, o animê utiliza o gás da piada para introduzir um elenco de apoio, e, assim que estabelecemos um bom e diverso grupo, as “mortes” de Draluc se tornam algo secundário.

Com episódios divididos em dois ou três “esquetes”, cada uma focada em uma personagem, grupo ou evento diferente, o gigantesco elenco entra em jogo para diversificar o humor e sempre te dar algo que parece “fresco”. De certo modo, temos a própria cidade de Shin-Yokohama como o palco e protagonista de “The Vampire Dies In No Time”.

Captura de tela do episódio 11 da primeira temporada de "The Vampire Dies In No Time"
[CONTEXTO NÃO ENCONTRADO] (Reprodução: Crunchyroll)

Ok, ok, sei que disse que não tinha o que falar, e já mandei 700 palavras sobre o assunto, mas veja bem… Eu só consigo falar de forma genérica. “O humor é bom”; “tem ótimas personagens”; etc. Se eu tentasse ser mais específico, eu não apenas iria parecer maluco, como acabaria dando spoiler e fazendo muitas piadas perderem a graça.

Uns tempos atrás, eu simplesmente não escreveria esse texto. “Se não tenho o que dizer, o que eu diria? Que conteúdo eu teria para colocar no papel?”, pensaria. Mas, depois de me divertir tanto, e dar tantas risadas com “The Vampire Dies In No Time”, e de ver – ao menos na minha bolha – o animê sendo completamente ignorado por todo mundo… Eu me senti na obrigação de ao menos tentar. Nem que seja um mero grito ecoando num vale completamente vazio (a maioria das minhas postagens são, né? Mas isso não é relevante no momento), eu precisava botar para fora.

The Vampire Dies In No Time” tem um humor tão diverso quanto seu elenco, e funciona na base do grito e do berro. É uma história sem pé nem cabeça, mas surpreendentemente funcional, com uma única função: Ser absurda para te fazer rir. Um animê que sempre me deixava empolgado para assistir, o redator facilmente dá a nota de 5/5.

E, novamente, peço desculpas por não conseguir explicar o que é tão divertido sobre o animê. Você precisava estar lá pra entender.

“The Vampire Dies In No Time” está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, com duas temporadas que totalizam 24 episódios. Também há dublagem com áudio em português.

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Retorno de Succession é síntese do que a série sempre foi

Humor e drama andam de mãos dadas em Succession. O sucesso estrondoso do streaming faz por merecer a audiência e a repercussão. Após três temporadas finalizadas, a série ainda se mantém fiel aquilo que a fez chegar aos holofotes, e sem perder a qualidade e as particularidades técnicas que a tornaram incomparável e única no meio de tantas produções televisivas. Sua principal virtude recai na forma como ela enxerga a elite econômica americana. Isto é, um retrato irônico sobre uma família que possui tudo do ponto de vista financeiro e, ao mesmo tempo, nada na perspectiva familiar e afetiva – e talvez um dos seus apelos seja justamente rir daqueles que estão acima (em termos de concentração de renda e poder), como se fosse uma catarse temporária para nós, espectadores, rodeados por uma dinâmica de tensão de classes.

Rir e chorar, aliás, ditam os ritmos do primeiro episódio, que serve como abertura para já anunciada quarta e última temporada. Em poucos minutos, a série consegue criar tensão sobre um negócio particular complicado, que envolve uma transação de bilhões de dólares; humor na festa de aniversário de Logan (Brian Cox) rodeada de pessoas interesseiras que se esforçam para conseguir o mínimo de apreço e apenas recebem desprezo; estranhamento pelo fiasco da campanha presidencial de Connor; dramaticidade a partir do conflito amoroso entre Shiv e Tom; além do constrangimento decorrente da situação enfrentada por Greg. Assim, são cenas que geram emoções contraditórias: preocupação, atenção, alegria, tristeza – e isto é síntese do que a série sempre foi. Um amálgama de emoções que nos fazem odiar e amar todos os personagens, torcer contra alguns, mas depois torcer para outros. É uma experiência audiovisual inteligente e capaz de nos fazer enxergar uma família por diferentes perspectivas e, desse modo, nos tornar ativos a cada episódio: para quem estamos torcendo, afinal?

Numa das cenas de abertura do episódio, os convidados cantam parabéns para Logan, este que sai da sala esbravejando: “put* que o pariu…”. Já é popularmente conhecida a insatisfação geral de Logan pela vida e as pessoas ao seu redor. Embora seja um dos personagens mais cruéis, sinto uma sinceridade rara exalando nele; como se fosse o único realmente consciente do interesse que move o cotidiano corporativo. O diálogo entre ele e seu segurança num simpático e humilde restaurante demonstram uma preocupação honesta sobre o destino e a finitude das coisas. De certo modo, é um momento particular que enxergamos as outras camadas da sua personalidade, nos afeiçoando brevemente – para logo depois o próprio criticar e colocar pra baixo a sua equipe de suporte inteira.

Ao fim da terceira temporada, os personagens se separaram em dois pequenos grupos. Shiv (Sarah Snook), Roy (Kieran Culkin) e Kendall (Jeremy Strong) fizeram uma tentativa frustrada de tomar as rédeas da corporação presidida pelo seu pai, enquanto Logan ficou com Tom, este que traiu a confiança da esposa para conseguir o mínimo apreço e finalmente conquistar seu espaço dentro da empresa. Como prometido, portanto, a quarta temporada será marcada pelo conflito entre esses dois grupos, ambos ambicionando poder, influência e dinheiro. Nesse episódio especificamente, os filhos finalmente conquistam a primeira vitória contra as tentativas do pai, que subestimou a coragem destes. A repercussão desse embate, contudo, só poderá ser vista no próximo episódio.

Antes de entrar na cena mais dramática, devo mencionar o quão engraçado foi descobrir os resultados da campanha presidencial do Connor (Alan Ruck). O filho mais velho de Logan é um coadjuvante na trama principal, mas guarda para si uma missão: tornar-se presidente dos EUA. Porém, seus gastos milionários na campanha quase não surtiram efeito, atingindo a marca impressionante de 1% nas pesquisas. E sua dúvida é se um investimento adicional de 100 milhões de dólares seja suficiente para que sua campanha não perca décimos e não seja considerada um fracasso (como se 1% não fosse cômico suficiente). Greg (Nicholas Braun) também passa por uma situação engraçada ao praticar relações sexuais com a parceira num dos quartos de Logan, onde Tom afirma que existem câmeras instaladas. Greg, então, fica preocupado e começa a questionar Logan durante o ponto mais crítico da negociação. Logo, enquanto todos estão preocupados com o desfecho do acordo, Greg fica completamente deslocado da seriedade e tensão do ambiente, resultando em cenas constrangedoras – e hilárias.

Para finalizar a análise do episódio, é preciso comentar sobre a relação entre Shiv e Tom. Após diversos momentos críticos em episódios variados, o casamento parece ter chegado no seu limite emocional. Cansados de manter algo desgastado e sem sentido, o diálogo que serve como desfecho do episódio é um dos mais sentimentais da série por representar o fim do amor a partir da consciência de dois adultos maduros que compreendem que aquilo ali acabou, por mais duro que seja. A cena com ambos deitados de mãos dadas é, desde já, uma das imagens mais marcantes e tristes do ano.

Tom, particularmente, possui um retrato melancólico. Enquanto este despreza as pessoas sem poder aquisitivo, algo que fica marcado nas piadas referentes à companheira de Greg, suas brincadeiras e gozações acobertam uma vida artificialmente construída pelo interesse, um casamento infeliz, além de relações de trabalho frágeis. É um personagem habilmente construído e atuado com excelência por Matthew Macfadyen, que traz consigo trejeitos quase infantis como alguém que não possui habilidades sociais suficientes para dizer aquilo que sente, apenas arrota arrogância para disfarçar a insegurança.

Portanto, Tom não é  retratado exclusivamente como um pobre coitado, mas também como um vilão oportunista e manipulador, indiferente em como as atitudes irão respingar em seus relacionamentos. Essa ambiguidade envolta dele, e de todos os outros, é uma das razões para a série se destacar em meio a tantas produções.

Succession volta aos domingos preenchendo uma lacuna possível de ser alcançada por raríssimas obras que tenham algo a dizer, mas principalmente mostrar – e isso ela tem de sobra. Chega com a proposta de combater uma associação socialmente construída entre poder aquisitivo e valores pessoais, como se o bilionário fosse exemplo de perfeição em carne e osso, uma idealização altamente difundida nesses tempos sombrios de coaching. Mesmo com a crueldade e perversidade de alguns personagens, a série é capaz de extrair sentimentalismo e sinceridade das relações de seus protagonistas, e destacar como estão perdidos tentando aprender uma lição fundamental: nem tudo se compra.