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“As Quíntuplas: Filme” é cinco partes de acerto para uma de erros

Escrito por Vini Leonardi

Filmes de animê são uma mídia que está crescendo no Brasil. Quem é fã de longa data dos desenhos japoneses sabe o quão frustrante costumava ser ver uma série continuar (ou terminar) em formato de filme, pela grande dificuldade de se ter acesso a esse tipo de conteúdo. Mas, nos últimos anos, os longa-metragens tem ganhado mais e mais licenças para plataformas de streaming (mesmo que com algum atraso), e até tem populado as salas de cinema do país (mesmo que apenas em cidades grandes). Filme de animê já não é mais um problema tão grande.

Por causa disso, meu sentimento de tristeza (e um pouco de ódio) com “As Quíntuplas” (No original, “Gotoubun no Hanayome”, ou pelo título internacional, “The Quintessential Quintuplets”) foi bem menor do que teria sido alguns anos atrás, quando anunciaram, após sua segunda temporada, que a comédia romântica de Negi Haruba teria seu encerramento adaptado para as telonas, ao invés das telinhas. Demorou quase um ano inteiro, mas o filme, que foi lançado no Japão em 20 de maio de 2022, finalmente chegou para o ocidente, com o licenciamento da Crunchyroll. Como um grande fã da obra, reservei um tempo para assistir as mais de duas horas do longa-metragem, e já que eu tinha escrito sobre as duas temporadas iniciais, pensei: “Por que não resenhar também o filme?“.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quíntupla mais velha, Ichika

Minha cara de felicidade quando posso fazer propaganda descarada das minhas postagens antigas (Reprodução: Crunchyroll)

O clímax da história acontece, é claro, no festival escolar. Onde mais você acharia que uma comédia romântica escolar teria o seu ponto alto? Da mesma forma que outra RomCom que terminou em 2022, Kaguya-sama, temos o evento como centro e motivador de desenvolvimentos que nos levam ao fim da obra. O “Festival Escolar” é culturalmente visto e utilizado, especialmente no gênero romântico, como o “ápice” da juventude dos adolescentes. Especialmente quando se trata do festival para os alunos do terceiro ano do ensino médio, já que é a “última chance” que eles têm de “viverem como jovens”, antes de entrar no mundo adulto de universidade e trabalho.

O que diferencia o filme de As Quíntuplas de Kaguya-sama, porém, é o fator de descoberta: Até o último momento, você não sabe qual das irmãs o protagonista escolheu. O autor e a direção do filme fizeram um excelente trabalho de dar pistas para a revelação, fazendo com que ela não pareça arbitrária, mas sem fazer com que ela seja absurdamente escancarada antes da hora.

Aliás, já que toquei no assunto, fica dado o recado: O filme adapta até o final do mangá, então sim, o protagonista escolhe uma garota no final. Não tivemos um encerramento covarde, extremamente comum em histórias harém. Que mais autores sigam o exemplo.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a segunda quíntupla, Nino

A tensão de assistir RomComs sem saber se vai ter um final definido… (Reprodução: Crunchyroll)

Um dos charmes do filme é, na minha opinião, o jeito que ele é apresentado. Os três dias de evento do festival escolar são mostrados por seis pontos de vista diferentes: Do Uesugi, e de cada uma das quíntuplas. Conforme vamos indo e voltando no tempo, vendo e revendo acontecimentos marcantes, recebemos novas peças para montar o quebra-cabeça de o que aconteceu de fato, e como as coisas se conectam.

Além de dar tempo de tela e foco para todas as personagens, gerando conteúdo para fãs de todas as quíntuplas, essa ferramenta de roteiro das mudanças de ponto de vista serviu para reforçar a principal mensagem da história, que foi ainda mais central no filme: Que mesmo elas sendo idênticas, as quíntuplas não são iguais. Não há problema algum em gostar e sentir um conforto familiar nas similaridades entre elas, mas que elas também devem aprender a valorizar suas características únicas.

Dessa forma, cada “segmento” não foi idêntico. Cada quíntupla recebeu um conteúdo que é bastante condizente e respeitoso com o que ela é, e com o que foi construído ao longo da série. Talvez isso possa ser visto como “injusto”, já que a carga e o tipo de conteúdo recebido não foi equilibrado, mas acredito que seria um questionamento que apenas os mais fanáticos cruzados das guerras de waifu fariam, e que uma pessoa sensata encararia as diferenças como um ponto de desenvolvimento das personagens.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a terceira quíntupla, Miku

A cara da Miku resume tudo sobre quem reclama do tratamento de cada quíntupla no filme (Reprodução: Crunchyroll)

Quando o assunto é humor, tenho que, mais uma vez, dar os parabéns para As Quíntuplas. Esse filme foi muito engraçado, com diversos momentos (alguns até não-propositais) que me fizeram rir alto. Mesmo esse sendo o final da série, com um desfecho quase que “de novela“, com muito drama e emoção envolvido, o longa conseguiu manter as piadas e o divertimento, deixando a “comédia” em “comédia romântica” brilhar. E esse é um dos maiores méritos da série como um todo, como eu comentei mais a fundo na postagem anterior.

Claro que nem tudo são flores, e o filme não é perfeito (por mais que eu quisesse que fosse). Ironicamente, o principal problema do filme de As Quíntuplas é justamente… ser um filme.

Tá bom, eu sei que eu sou hater admitido de filmes de animê, mas dessa vez eu tenho argumentos reais: Com uma duração de duas horas e dezesseis minutos, o longa tem o tempo equivalente a mais ou menos seis episódios de animê para televisão. Isso fez com que muito conteúdo precisasse ser acelerado ou totalmente cortado, e momentos que poderiam ser melhor explorados deixaram a desejar.

O começo do filme é um ótimo exemplo do que eu estou falando: Sem spoilers (se é que dá pra spoilar alguma coisa quando o conteúdo foi literalmente cortado…), mas a cena de abertura, que tem menos de dois minutos e serve apenas para tocar musiquinha enquanto passam créditos, cobriu um evento inteiro, que passou despretensiosamente como quem não deve nada a ninguém. Logo depois, um outro acontecimento, que é algo muito importante para as quíntuplas, e é diretamente relacionado com um dos principais conflitos da segunda temporada, acontece em uma transição de cena. UMA TRANSIÇÃO DE CENA! Eles falam como se fosse um “Ah, sim, uma última coisa” e saem andando.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quarta quíntupla, Yotsuba

Algumas coisas passaram voando tão rápido que deu pra ouvir a Yotsuba gritando “Já chegou o Disco Voador” (Reprodução: Crunchyroll)

Esses são apenas dois exemplos que você vai encontrar logo nos cinco primeiros minutos do filme, mas isso se repete várias vezes ao longo da duração. Personagens aparecendo sem a menor explicação, coisas acontecendo totalmente do nada, ou tendo motivações tão rasas que em alguns casos era melhor nem citar nada… Fica claro que faltou tempo para terminar o mangá.

Isso me faz questionar ainda mais a decisão de fazer um filme, quando claramente uma terceira temporada, com 12 episódios, teria tido o dobro do tempo para trabalhar nos detalhes que faltaram. Especialmente quando olhamos para a estrutura do filme, que é extremamente segmentada e poderia facilmente ser encaixada em “bloquinhos” de 20 minutos.

Não sei se foi algum esquema de lavagem de dinheiro ou visaram os lucros das salas de cinema. Talvez seja uma questão da produção semanal? Eu não sei, e é o tipo de coisa de bastidores que provavelmente nunca saberemos, mas que As Quíntuplas sofreram por essa escolha, isso é inegável.

Captura de tela de "The Quintessential Quintuplets - Movie", mostrando a quíntupla mais nova, Itsuki

Posso ter reclamado bastante do filme, mas eu também tava mandando ver num sanduba enquanto assistia, e essa parte foi boa (Reprodução: Crunchyroll)

Apesar dos problemas causados pelo formato escolhido, é inegável que a adaptação foi extremamente fiel a tudo que a série construiu, tanto em atmosfera quanto em conteúdo. Um final memorável e satisfatório para uma série que foi divertida do início ao fim, o filme de “As Quíntuplas” poderia ter sido melhor, mas o que foi, já foi excelente, e o redator dá a nota de 4,0/5,0 para ele.

Sendo sincero, eu já fico muito feliz de simplesmente ver um animê acabando. Ôh mídia que gosta de deixar coisas incompletas, viu.

O filme, assim como as duas primeiras temporadas que o antecedem, está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, sob o nome internacional, “The Quintessential Quintuplets”, e possui opção dublada em português.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.

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