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A frágil proteção da existência humana de Love Kills

Em seu segundo título pela Darkside, Danilo Beyruth lança história cujo tema se encaixa de forma mais contundente na proposta da editora especializada em terror.

Desconsiderando seus quadrinhos feitos para a Marvel e Maurício de Sousa Produções, Beyruth traz ao público sua oitava publicação  original  em menos de 10 anos, e pouco mais de um ano após Samurai Shirô, com uma trama voltada à atuação da máfia japonesa em São Paulo. Sua prolífica produção de histórias é proposital e o auxilia na constante mudança de temas entre um trabalho e outro.

Como era de se esperar, a editora que agora traz ao mundo dos vivos esta HQ, já visitou o mundo dos semi-mortos com 30 dias de Noite, de Ben Templesmith e a referência-mor do gênero, com duas versões de Drácula de Bram Stocker. Mas, agora a trama está em nosso terreno, e as semelhanças não se resumem apenas entre a proximidade de idiomas, já que romeno e português são ramos do mesmo tronco linguístico.

Marcus trabalha arduamente todos os dias para sobreviver na cinzenta capital paulista mas, apesar de seu esforço, em pouco é reconhecido por isso. Passando pelas duras críticas e falsas ideias de ascensão de cargo prometidas por seu chefe, sua monótona rotina muda quando involuntariamente atravessa o caminho de Helena, uma vampira que, mesmo com sua aparência de jovem, guarda um fardo de séculos, e muito maior do que aparenta conservar seu corpo.

Seu passado datado como distante para nós é como ontem para ela. Seu histórico na terra é como uma trajetória utópica e pertenceria apenas aos livros de História para os seres humanos. Suas marcas na terra, apesar de serem guardadas com afeto por diversas recordações que a mesma insiste em manter, também carrega um passado turbulento e mal resolvido.

IMAGEM: Cortesia do autor

Helena é perseguida por uma gangue de sua espécie que busca vingança pelo que ela fez a eles e a Leander, este último alguém que Helena possui um laço muito mais estreito, numa intensidade similar ao vínculo formado com Marcus, que misteriosamente não pode ser controlado pelos poderes de Helena, embora seja totalmente humano.

A narrativa de Love Kills começa com apenas imagens nenhum texto por mais de 10 páginas, mecânica parecida com outro trabalho com participação de Beyruth: O longa-metragem Motorrad, com seus 15 minutos iniciais sem falas ou interjeições. A leitura flui facilmente e é surpreendentemente rápida. As mais de 200 páginas do tomo passam de uma forma tão dinâmica que mal parece ter essa extensão. Um dos artifícios que ajudam nesse aspecto é a constante movimentação, com diversas cenas de ação e perseguições.

IMAGEM: Cortesia do autor

Os elementos clássicos das histórias de Vampiros estão aqui com uma adição constante de metáforas entre eles, humanos e animais. Suas crises existenciais são expostas como pouco se vê e a casca de sua aparente imortalidade se mostra mais frágil do que parecia.

Todos os elementos então são condensados na sombria São Paulo com sua vida noturna, submundo das drogas e vidas despedaçadas, passando por detalhes minuciosos como seu deficiente esgoto aos pisos de taco, tão comuns nos apartamentos de várias regiões da cidade a partir dos anos 70. Beyruth mergulha mais uma vez em seu cenário mais recorrente, porém dessa vez explorando uma outra faceta da cidade que ele mesmo considera ser várias em uma só e, de fato, em sua mão se torna um abismo sem fundo aparente, onde a cada descida descobre-se um até então inexplorado nível ou subnível.

IMAGEM: Cortesia do autor


Já algumas vezes Beyruth afirmou temer tornar-se esquecido, e também por isso está em constante produção. Apesar de considerarmos um medo exagerado, não vemos problemas em sua lista de trabalhos estar sempre em atualização pois, assim como os contos vampirescos, suas histórias estarão sempre ao nosso redor.

Love Kills
Danilo Beyruth
250 páginas
26 x 17 cm
R$69,90
Capa Dura
Darkside Books
Data de publicação: 01/2020

 

 

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HQ Apresenta uma Nova Visão sobre Judas: Vilão ou peça importante para Ressurreição?

“Fui nomeado o vilão da história. Nenhum homem recebeu meu nome novamente.”

A história todos conhecem. Judas traí Jesus. Jesus é julgado, é crucificado, morre e ressuscita no terceiro dia. Judas se mata após perceber o que tinha feito. Cheio de dor e arrependimento. Mas o que acontece com Judas logo após o seu suicídio? O que aconteceu com a alma do homem que foi destinado a ser vilão na história mais famosa e importante de todo o Cristianismo?

Mas a questão que mais deixa Judas mais confuso é: Jesus sabia? Ele sabia do que ia acontecer desde o princípio? Sabia que Judas seria o traidor e que o transformaria em um pária para toda a eternidade? Que condenaria até mesmo o simples citar de seu nome?

São essas questões que são levantadas na HQ Judas de Jeff Loveness.

A minissérie foi publicada originalmente em 2017, em quatro edições pela Boom! Studios nos EUA, e começa com o pé fundo no acelerador com questionamentos ao cristianismo e o que o cerca. Questões como se Deus é Todo-Poderoso e bondoso, por que criou um mundo onde as pessoas sofrem? A jornada de Judas pelo inferno é cheia de exemplos de que Deus sempre precisa de um vilão para exercer sua divindade e amor ao mundo. A história apresenta os destinos de personagens como o Faraó de Moíses, Jezebel, Golias e a Esposa de Ló e como esses sofrem por toda a eternidade. Eis que a indignação de Judas ganha mais vapor. Se Deus é grandioso, porque eles foram escolhidos? Onde está o livre arbítrio?

Mas, engana-se que Judas é um quadrinhos que só levanta bandeiras que revoltaria todo cristão. Ela na verdade é uma narrativa de redenção. Uma sincera exploração de fé, amizade e perdão. Onde Judas finalmente entende o porque de ser o escolhido. O porque teve seu nome e tudo que seja relacionado à ele condenado para sempre. No fim entendemos que o velho chavão “escreve certo, por linhas tortas” é um dos pilares do Cristianismo.

As escrituras falam de após a sua morte, Jesus desceu às profundezas da terra. No Novo Testamento, existem afirmações que Jesus ressuscitou dentre os mortos. Em Efésios 4:9, 10 diz: “Jesus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos no terceiro dia Jesus desceu às profundezas da terra. Aquele que desceu é também aquele que subiu”. Mas as próprias escrituras não detalham muito sobre isso, dizem que venceu a Morte, e trouxe a salvação para todos os justos que vieram antes dele para os que vieram depois, mas exatamente como acontece não está relacionado. E são nessas lacunas, que a história de redenção de Jeff Loveness atua.

O roteiro é bom e por ser uma visão não muito explorada acaba te prendendo até o fim. Você compadece e entende a dor e frustração de Judas durante o período e por alguns momentos, a narrativa te convence e te traz questionamentos. Jeff consegue trazer uma vírgula em uma história que é pilar forte e tradicional de toda redenção e perdão do Cristianismo, e que é ocasionada por uma traição.

As artes são um espetáculo a parte que passeia entre expressões depressivas, soberbas e de sofridas. O inferno é como uma caverna tenebrosa, fria e sem amor. Os desenhos de Jakub Rebelka são como os que vemos em vitrais das igrejas, o que ajuda a familiarizar a trama. Mas o grande destaque mesmo são as cores. As tintas espessas e a coloração que vai de um cinza insosso, passeando por um vermelho sangue poderoso e um amarelo redentor. As cores chocam como passeiam por um misto de desesperança, dúvidas, ódio e amor.

Infelizmente Judas nunca foi publicada no Brasil. Nenhuma editora tupiniquim se interessou a lançar o material por aqui. Acredito que seria uma experiência bacana, e imagino que, considerando os fanáticos religiosos cristãos, seria uma grande polêmica sendo lançada por aqui.

Hoje em dia você pode conseguir na Amazon Brasil em inglês no formato de volume único.

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Tenha, Seja, pratique mais Calvin & Haroldo durante a sua Quarentena

No quase final de outono de 1985, mais precisamente no dia 18 de novembro, o norte-americano Bill Watterson publicava a primeira tira de Calvin e Haroldo nos EUA. Ali era dado o pontapé inicial da trajetória do menino com seu tigre de pelúcia imaginário e suas tiras cheias de aventuras, travessuras e reflexões. E depois de muitos anos divertindo milhões ao redor do mundo, conquistando adultos, crianças e prêmios como o Reuben Award. No ano de 1995, Waterson pôs um ponto final na sua história.

As tiras eram sobre Calvin, um garoto de seis anos cheio de personalidade, que fala o que bem entende, sem papas na língua, e seu único amigo verdadeiro: um tigre de pelúcia chamado Haroldo. O tigre, pela imaginação do menino toma vida e participa ativamente de suas histórias. Tomando decisões, falando sobre os mais diversos assuntos que vão desde dever de casa, morte, família, passando por política e até mesmo direitos civis. Tudo isso dentro das fantasias mirabolantes criadas por Calvin.

E são nessas fantasias onde quero chegar. Onde elas são necessárias e até para deixar-nos com os pés no chão. Hoje em dia, com um mundo virtual mais interativo, fantasiar ficou meio que banal. Muitas vezes deixamos de simplesmente deitar e nos imaginar em outros mundos. Ou como grandes estrelas da música enquanto ouvimos músicas. Ou até mesmo de escrever versos para a pessoa amada enquanto estamos simplesmente sentados no vaso sanitário. Não, não é ironia.

Convido você, estimado leitor, a lembrar quando foi a última vez que simplesmente deitou no chão da sua sala, ou no seu sofá, ou acordou e ficou olhando para o teto pensando. Sonhando. Viajando. Fantasiando como pode ser o seu dia, ou como poderia ter sido. Não, não falo em remoer ou se arrepender sobre decisões tomadas. E sim fantasiar coisas, sejam elas absurdas ou normais. Quando foi a última vez em que você escreveu um texto, um paragrafo que seja com caneta e papel?

Estamos perdendo nossa arte de fantasiar?

Matamos o Calvin que existe dentro de todos nós?

As tirinhas de Bill Watterson constituem frequentemente de uma fuga à cruel realidade do mundo moderno que Calvin fazia, e assim explorava a natureza humana. A natureza inocente de uma criança que acha que deveria ter direito ao voto por não querer que os adultos tomassem decisões para ele, sendo que pela realidade mundial que ele enxergava, os adultos só tomavam decisões ruins. Mas era a mesma criança que fugia do dever de casa, de tarefas simples e tinha medo de ficar com a babá. Vejo que perdemos esse gatilho de recriar nossas fantasias. Seja por causa de um mundo atribulado. Cheio de correrias de nossos compromisso. Seja por que simplesmente não gostamos mais de fantasiar.

Mas, vou falar algo para você: Criar um mundo de fantasia é bom! Relaxa a mente em um lugar seu fora da tela de um celular. E agora, que temos que ficar isolados, praticando a quarentena, temos uma chance de ressuscitar o Calvin dentro de nós.

Pegue um tempo seu e faça o exercício de imaginar. Imagine-se como o personagem do filme que você acabou de assistir. Dentro do quadrinho ou do livro que você leu. No anime que você viu. Ou como um cantor tocando para uma multidão. E vou te falar, pode ser cinco minutos. Mas serão cinco minutos que na sua mente vai durar uma eternidade boa. Fuja um pouco dessa realidade. E, pasmem, criar fantasias te dão senso critico! Porque em algum momento, você se colocará em uma situação em que pensa: “mas e se eu fizer isso, não é legal”. E é para isso que forçamos esse exercício mental. E vou além! Devemos aproveitar que estamos com as crianças em casa e convida-las a fantasiar também. Tirar elas um pouco de dentro de casa, mas pela sua mente. Estimular as crianças a pensar, a criar mundos que lhe deixem como o “poder” de decisão. Obviamente não estou falando para colocar nenhuma criança em uma situação extrema que venha traumatizar, mas faça imaginar que no meio de sua brincadeira de Cidade Lego, um tiranossauro sorridente roxo de bolinhas amarelas passe correndo destruindo tudo! E construa de novo.

Estimule à fantasia. Saia da caixa durante essa quarentena. Saia da frente do celular.

Imagine. Traga o Calvin dentro de você a tona. Encontre e brinque com o Haroldo.

Imagine!

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O Ritmo Tenso e Sufocante de Ditadura no Ar: Coração Selvagem

“Noir é a entropia para a ordem da sociedade, a decadência de todos nós.”

Não teria melhor definição de Ed Brubaker para uma produção Noir e que venha casar tão bem com Ditadura no Ar: Coração Selvagem. A HQ é situada em uma época em que o Brasil vivia uma decadência de paz, liberdade de expressão e sensatez. Uma decadência que durante os anos, muitos tentam mascarar, ainda mais agora com o avanço das redes sociais e a inundação das fakes news. Uma montagem no Facebook, por exemplo, hoje em dia, para algumas pessoas, parece ter um poder maior na “educação” do que livros e professores de história. Ou um poder maior ainda de quem vivenciou e/ou sofreu realmente os fatos e não mascara a realidade deles. Mas contra esse inimigo comum que idolatra generais assassinos, que diz em alto e bom som que quem procura osso é cachorro e os asseclas que semeiam ódio temos produções como Ditadura no Ar.

Escrita por Raphael Fernandes e com desenhos de Rafael Vasconcellos, Ditadura no Ar começou a ser publicada como webtiras no site Contraversão. Naquele mesmo ano foi lançada em forma impressa, de maneira independente pelos autores, como uma minissérie em quatro partes. Em 2016 a editora Draco relançou em edição única com o título Ditadura no Ar: Coração Selvagem. Foi em 2016 que ela ganhou na categoria Melhor Minissérie, o Troféu HQ Mix, dividindo o prêmio com, a também minissérie, Pátria Armada de Klebs Júnior.

A trama conta a história do fotografo Félix Panta que tem que mover o mundo e enfrentar os milicos para encontrar a sua namorada Lenina, que foi presa pelo DOPS durante um protesto. Essa busca revela as entranhas, sensação de medo e sujeira de como os considerados subversivos eram tratados no pesadelo tenebroso que o país passou durante os chamados Anos de Chumbo. Ditadura no Ar: Coração Selvagem, traz Félix não como um herói paladino que enche o leitor de esperança de que tudo vai acabar bem. Em nenhum momento esse sentimento é repassado para o leitor. O clima da HQ, com a sua tensão esbofeteia para uma sufocante sensação de que o final feliz não estará lá.

E isso é o mais impressionante em Ditadura no Ar: Coração Selvagem. A sufocante falta de esperança.


Durante toda a saga de Félix, somos apresentados como a ditadura e sua caçada cheia de agonia influenciam as rotinas, as pessoas, as instituições educacionais, a imprensa livre (ou que tentava ser) e as famílias. E tudo é elevado ao extremo porque as pessoas que cercam o Félix sofrem mais as consequências. Tudo originado pela sua busca por Nina. E por mais amargurado, durão, destemido e sem medo das consequências que o protagonista seja, é nítido a forma que ele vai definhando com o passar da trama. E isso é sentido pelo leitor.

Como o clima Noir da arte de Rafael Vasconcellos em Ditadura no Ar: Coração Selvagem, é um personagem a parte. Você sente ele nas páginas. Tenso. Gritando. E é um personagem que relaciona perfeitamente com o roteiro do Raphael Fernandes e acaba gerando um relato perfeito sobre os Anos de Chumbo.

Ditadura no Ar: Coração tem formato 23,8 cm x 16,8 cm, 104 páginas e pode ser encontrado no site da Editora Draco e na Amazon Brasil.

 

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Ousadas: a série em quadrinhos sobre trinta mulheres excepcionais

Serializada de forma impressa na França entre 2016 e 2017 pela editora Gallimard, a série Ousadas (Culottées no original) é uma criação da quadrinista Pénélope Bagieu (Uma morte horrível) feita inicialmente para seu blog, tendo chegado completa ao Brasil graças a uma iniciativa da editora Nemo entre 2018 e 2020, em dois volumes.

A coleção Ousadas apresenta ao longo de suas 300 páginas trinta mulheres excepcionais de suas respectivas épocas que, com suas atitudes, perduram até hoje de maneira icônica – ou também acontecimentos modernos, mais recentes. São histórias reais de figuras importantes que revolucionaram de alguma forma a política, a arte, os esportes e outras esferas da sociedade predominantemente dominadas por homens.

Caixa especial com a coleção completa em dois volumes. Já à venda.

Pénélope Bagieu narra, tanto no primeiro quanto no segundo volume, de forma similar. Cada “capítulo” conta a história de vida e importância de determinada mulher, somando quinze no total em cada edição. Sua narrativa se mantém parecida em todos os capítulos: são cerca de seis a sete páginas, cada página composta por nove quadros. Em seguida, uma ilustração grande que preenche duas páginas. Seguindo esta fórmula, a autora habilmente possui espaço para mostrar todos os pontos relevantes do nascimento, vida e às vezes morte da figura histórica que aborda sem problemas, visto que é um esquema de narrativa basicamente perfeito.

Seus desenhos, claros e belos, transmitem quadro a quadro os principais pontos que o texto destaca, seja em recordatórios ou em balões. E suas cores mudam conforme a abordagem de cada capítulo, seja apenas pela mudança de tom como também pelas diferenças geográficas, visto que cada mulher é de um local diferente do planeta.

A autora segue uma narrativa dividida em nove quadros por página.

É importante ressaltar que as histórias de vida narradas por Bagieu não se limitam apenas às tragédias. Todas têm, de alguma forma, uma mensagem poderosa a ser passada. Entretanto, algumas são puramente espirituosas e divertidas, e ao mesmo tempo inspiradoras – enquanto outras são, de fato e necessariamente, revoltantes.

No segundo volume, o mais recente lançado no Brasil – e que completa a coleção – temos histórias de uma rapper, de uma astronauta, uma vulcanóloga, jornalista investigativa, inventora, ativista dos direitos dos animais, entre outras. Todas são unidas de alguma forma por incompreensão, machismo intrínseco às suas culturas e/ou tragédias pessoais. E todas são Ousadas o suficiente para iniciarem suas próprias revoluções.

Ao final de cada capítulo o leitor é premiado com uma bela ilustração que ocupa duas páginas. Os estilos de arte variam conforme a temática do capítulo.

A quebra dos preconceitos é emocionante e inspiradora. Todas as histórias são bem embasadas de acordo com as biografias (oficiais ou não) de cada mulher, e a autora cita, em determinados momentos, algumas fontes que podem ser ou foram conferidas para a narração daquilo que está em quadro.

A coleção nacional é, como padrão da Editora Nemo, um primor gráfico e editorial. Como fator de curiosidade, vale citar que a coleção Ousadas em inglês apresenta vinte e nove e não trinta histórias. O que ocorreu foi uma censura da história de Phoolan Devi, a Rainha Bandida da Índia, por apresentar cenas de estupro quando ela tinha apenas dez anos de idade, por seu marido imposto pela família.

No Brasil você pode conferir as trinta histórias na íntegra. Na França, Ousadas já vendeu mais de 200.000 cópias. Ficou interessado(a)? Clique aqui para comprar suas edições com desconto!

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Saiba como Thor se tornou [SPOILER] em sua nova fase nos quadrinhos

Contém spoilers de Thor #1 (2020).

Em fevereiro de 2006 chegava às lojas norte-americanas um curioso “What If” (O que aconteceria se… em português) protagonizado por Thor, o Deus do Trovão. Com roteiro de Robert Kirkman (sim, o criador de The Walking Dead) e arte de Michael Avon Oeming, What If: Thor apresentou aos leitores uma história fechada em pouco mais de 20 páginas onde o Filho de Odin tornou-se… Arauto de Galactus.

O que aconteceria se Thor fosse o Arauto de Galactus?

A premissa é simples. A fome do Devorador de Mundos atingiu Asgard. Lady Sif, Volstagg, Hogun, Fandral, Valquíria e todos os bravos guerreiros do Reino dos Deuses iniciaram suas batalhas contra o gigante e seu arauto, uma mulher criada para esta aventura (e que nunca foi nomeada).

A destruição resulta na morte de Sif e Thor, possuído pela ira, vingou-se derrotando a assassina. Asgard está em frangalhos e seus guerreiros não aguentam mais, então Galactus propõe para Thor que ele se torne seu novo arauto em troca da salvação de seu reino.

Thor é transformado em Arauto.

A trama descrita acima resume os acontecimentos iniciais da história criada por Kirkman e Oeming. Thor, ao tornar-se arauto de Galactus, deve lidar com a já conhecida sina de “condenar mundos habitados ou não” para que o Devorador sacie sua fome, sob o perigo de, caso falhe, Asgard seja condenada.

A ideia (por mais maluca que pareça) rende uma boa aventura, com reviravoltas a respeito de Loki e o destino de Asgard, soando muitas vezes como uma aventura padrão do Deus do Trovão. E cerca de 13 anos depois, o exercício de imaginação tornou-se realidade… Nas mãos do roteirista Donny Cates.

O Thor de Donny Cates.

Thor #1, lançada nos EUA no dia 01 de janeiro de 2020, marcou a estreia de Cates como roteirista do deus nórdico, acompanhado do ótimo artista Nic Klein. Cates assume as rédeas deixadas por Jason Aaron após um longo run de quase sete anos onde o personagem foi revolucionado algumas vezes, de indigno a Rei de Asgard passando obviamente por um meio onde a Poderosa Thor foi criada.

Cates estabelece Thor como rei e aos poucos demonstra o status dos coadjuvantes de seu núcleo de personagens. Até que o inesperado acontece: um Galactus moribundo desaba em Asgard durante um pronunciamento do Rei, e Cates traz os personagens cósmicos em que trabalhou ao longo dos últimos anos para esta aventura, como o Motoqueiro Fantasma Cósmico e o Surfista Prateado Sombrio, e recupera outros como Nova (Frankie Raye) e Raio Alfa.

O Rei Thor confronta seu irmão Loki.

Não é a primeira vez que Galactus é usado nas histórias modernas de Thor. Durante o run de Jason Aaron, Galactus desempenhou um forte papel como antagonista do Rei Thor no futuro apocalíptico, unindo-se à Necroespada até finalmente ser morto por Ego, o Planeta Vivo. Donny Cates dá a entender que Galactus viu o momento de sua morte e este está associado ao Thor. Por conta disso, condena que ele e o Deus do Trovão devam enfrentar o vindouro Inverno Sombrio juntos. Este evento é previsto pelo Surfista durante a reunião após a queda de Galactus.

A edição termina com um gancho matador onde Galactus transforma Thor em seu arauto, apelidado de Aurato do Trovão. Esta fase do Thor parece ser a junção de tudo que Cates estabeleceu previamente em outros títulos,  de Thanos ao Motoqueiro Cósmico passando por sua minissérie do Surfista, realizando agora seu sonho de escrever um de seus personagens favoritos. Cates recupera os membros perdidos do herói (um braço e um olho) ao se utilizar desta tunada em seus poderes – e responsabilidades.

A capa de Thor #2 traz o herói sendo controlado por Galactus.

A segunda edição de Thor chegará às lojas americanas em fevereiro. Clique aqui para acessar o site da Marvel Comics. No Brasil, a Guerra dos Reinos de Jason Aaron está para começar, e paralelamente a editora Panini vem publicando encadernados de capa dura com toda a fase de Aaron no personagem, além da série Loki: Agente de Asgard e do título Asgardianos da Galáxia.

Thanos, Motoqueiro Fantasma Cósmico e A Morte dos Inumanos de Donny Cates foram publicados por aqui em formato encadernado, e seu Surfista Prateado permanece inédito, bem como sua fase dos Guardiões da Galáxia. Além das aventuras cósmicas, a elogiada passagem de Cates no Venom possui uma revista mensal, e seu Doutor Estranho também foi publicado em encadernados.

Clique aqui para acessar a Loja Panini e completar sua coleção!

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Temos Que Ter Política Nos Quadrinhos em Todas as Instâncias!

O mundo mudou muito. A velocidade da informação é feroz e assim como as mentiras propagadas são mortais. Na década de 90, uma das décadas mais largadas de todas, o Brasil estava recém saído de uma ditadura longínqua, e ainda pisávamos em ovos do que podíamos falar ou não. Mas mesmo com toda herança de assuntos mal terminados que ficou para a galera, política ainda era destinado as artes. Diferente de hoje em dia em que em qualquer roda de amigos, ele aflora. E aflora com muito veneno. E como toda a arte, os quadrinhos nunca ficaram de fora.

Vamos lembrar que X-Men sempre tocou em preconceitos. E os caminhos que tomavam seguiam muitas vezes pela política com jogos de interesses dos congressistas americanos sobre o Homo Superior. Nem vou chover no molhado com os arrasa-quarteirões como Watchmen, V de Vingança, Batman – Cavaleiro das Trevas, Maus, Persépolis, as tirinhas da Mafalda, entre outros. E ouso dizer que tudo existente em quadrinhos, respira política. John Constantine, nas primeiras edições de Hellblazer, vira e mexe citava Margareth Thatcher. As suas preciosas Marvel e DC Comics sempre lidam com política. Ou você acha que sagas como Guerra Civil ou até mesmo Injustiça falam sobre o que?

Sem falarmos de política nos quadrinhos não teríamos grandes obras nacionais. Como por exemplo Ditadura no Ar (Raphael Fernandes e Abel), Cidade de Sangue (Julio Shimamoto e Márcio Jr.), O Planta, Um Bípede Entre Plantas – Volume 1 (Gustavo Ravaglio), Acelera SP (Cadu Simões), Angola Janga (Marcelo D’Salete), as publicações da Zapata Edições do Daniel Esteves, entre tantas outras. Cada uma com seu estilo e sua abordagem. Sim, caro amigo que levanta bandeira de Quadrinhos sem Política. A nona arte é uma porta para diversos assuntos. Feminismo, sexualidade, amizade, preconceitos, dramas, romances e, obviamente, a política está entre eles.

As editoras brasileiras têm se esforçado para publicar grandes obras consagradas na gringa que abordam a política. A Veneta trouxe coisas como Asa Quebrada e Arte de Voar, O Processo. A Nemo trouxe Kobane Calling: Ou como fui parar no meio da Guerra na Síria. A Devir publicou inteiramente Saga. A Editora Comix Zone recentemente publicou o importante O Eternauta 1969. A Sesi trouxe o drama político futurista Shangri-la. Até a Panini trouxe coisas como Xerife da Babilônia e prosseguiu com The Walking Dead. Sim, os zumbis também falam de política.

Temos caso em que quadrinhos lançados como meio de campanha eleitoral. Em 1961, o candidato democrata George Wallace, publicou uma HQ que falava sobre seu plano de governo. Divulgando suas qualificações, promovendo sua personalidade como um “outsider” político e reforçando sua aliança com facções supremacistas brancas no estado. E pasmem, ele venceu. Essa publicação é um item raro fisicamente, mas ainda é encontrado, infelizmente, na internet. Em uma edição, Savage Dragon declarou seu apoio ao então candidato Barack Obama. Também podemos lembrar de The Authority, na sua nova fase lidando com concepções e valores intimamente ligados ao movimento antiglobalização. Outro que andava muito em terras políticas era o Tintim. Personagem criado por Hergé, se meteu em casos políticos na América Latina, Japão e na antiga União Soviética.

Se assumirmos que devemos ficar em cima do muro, e não se posicionar, como ficaríamos sem essas obras? Ora bolas, os quadrinhos são uma forma de contracultura! Como vamos simplesmente agir como Pôncio Pilatos e simplesmente lavar as mãos? Qual é o problema de falar sobre política? Como fazer quadrinhos sem falar de política? Não cara, não tem como.

Talvez o problema esteja em no posicionamento de alguns artistas sobre movimentos políticos A ou B. Talvez você não queira que seu precioso ídolo não seja atingido por uma horda de enfurecidos por demonstrações políticas. Todos nós temos nosso posicionamento. Isso é obvio e livre. O problema é quando usamos do nosso posicionamento para aplaudir algum tipo de violência, isso é errado. E nem vou tocar na editora que tenta consertar a lambança feita por um dos sócios em uma postagem tendenciosa. E se a postagem atingisse o movimento político contrário, também estaria errada.

Se lutamos e berramos por democracia, ela também engloba o direito da pessoa acreditar no que quiser. Por mais idiota que essa coisa seja.

Por isso, não levante essa bandeira. Quadrinhos tem que ter política sim. Filmes tem que ter política sim. Músicas tem que ter política sim. Games tem que ter política sim. Sua conversa na mesa do bar tem que ter política sim. Em todas as instâncias. Desde que saiba do que esteja falando. Desde que tenha embasamento do que está falando.

E os quadrinhos são uma porta para grandes entendimentos nesses assuntos.

 

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O Som pesado e macabro de Delirium Tremens de Edgar Allan Poe

“Delirium tremens (DT) é um estado confusional breve, acompanhado de perturbações somáticas, que usualmente acomete usuários de álcool gravemente dependentes em abstinência absoluta ou relativa.”

Um dos grandes palcos do quadrinho nacional é o terror. Nesse estilo, arrisco dizer, que a nossa nona arte é uma das melhores do mundo, com artistas que escrevem e traçam belíssimas histórias que realmente metem medo, criam um sentimento de repulsa, que (às vezes) fazem o leitor concordar com o mal exposto na trama. Além, obvio, das produções muito bem editadas. Como um grande show de sua banda favorita, nossas obras encantam e fascinam. E Delirium Tremens de Edgar Allan Poe da Editora Draco é uma dessas.

Delirium Tremens de Edgar Allan Poe conta com oito histórias que fariam o lendário autor se orgulhar da nossa galera. São contos realmente assustadores, alguns mais, alguns menos, mas dentro de uma proporção que exploram o asco e a repulsa. E outros que fazem você concordar com o mal. A coletânea foi organizada pelo editor Raphael Fernandes, que juntou os roteiristas Dana Guedes, Murilo Zibetti, Antonio Tadeu, Larissa Palmieri, Airton Marinho, Gabriel Correia e Alexey Dodsworth. Os desenhos são por Erick Pasqua, Eder Santos, Ioannis Fiore, Má Matiazi, LuCas Chewie, Ebá Lima, Flávio L. Maravilha e Tiago Palma.

Logo de cara, Delirium Tremens mostra que não veio à passeio. A tenebrosa Smiley Away de Dana Guedes e Erick Pasqua surge como um hit pesado e amedrontador, no melhor estilo de música que uma banda abriria um show levantando o público. A vontade de ler mais sobre o esquizofrênico Eduardo em novas investidas ficou com o final da história. Outra trama que impressiona é Murder. Com roteiro de Alexey Dodsworth e ilustração de Flávio L. Maravilha, a trama segue uma policial que investiga uma série de assassinatos de membros de uma rede de pedofilia. Com uma batida que lembra muito Garth Ennis, a história vai envolvendo não somente no grande mistério mas também no desenvolvimento da personagem principal. É incrível como a história cresce e remonta passado com presente e ainda sobra espaço para críticas sociais. Alexey fez um trabalho impecável nessa história, por colocar tantos elementos e camadas em poucas páginas, como é de praxe em coletâneas.

Se Delirium Tremens de Edgar Allan Poe fosse um show de banda de rock, um dos hits que seriam cantados unissono com a galera seria In Articulo Mortis. O roteiro da Larissa Palmieri é macabro e parece que foi tirado das entranhas de Edgar Allan Poe. A trama, que tem desenho da Má Matiazi, conta a história de Natália, que se apaixona por um hipnotizador. Depois de um grave acidente, a jovem fica sobre o efeito hipnótico do rapaz. Impossibilitada de ter qualquer ação própria. Como um cárcere privado. O que acaba espelhando como um relacionamento abusivo, que infelizmente é a realidade de milhares de pessoas. Larissa Palmieri foi muito bem cirúrgica em reunir um ritmo no melhor estilo de Edgar Allan Poe e dar a sua pitada particular social na trama.

Na linha de macabro misturado com repulsa, temos a interessante O insólito caso de vossa excelência deputado Mendes, com roteiro de Gabriel Correia e desenhos de Ebá Lima. Na trama apresenta um mundo muito conhecido da política podre brasileira, com o deputado Mendes como protagonista. A história se mistura em flashbacks de uma grande orgia em Brasília às vésperas de uma grande votação para o Brasil. E assim temos um grande grupo de políticos misturados. Os desenhos fortes de Ebá Lima fazem o leitor olhar cada detalhe da página, mas o asco que ela espuma provoca desvio de olhares ao mesmo tempo. É uma experiência visual interessante, teve momentos em que era difícil encarar um quadrinho dessa história.

E para o encerramento desse show, nada melhor do que algo icônico. Butim que foi escrito por Raphael Fernandes e ilustrado por Tiago Palma é uma cereja (a mais) nesse bolo de Delirium Tremens de Edgar Allan Poe. A trama coloca o leitor no olhar de um velho que é odiado pela família, mas que tem uma grana guardada. Quando ele é morto, o protagonista quer descobrir quem o matou. A partir daí uma agonia salta das páginas pelos excelentes desenhos do Tiago Palma. A captação do feeling agônico do texto escrito por Raphael Fernandes pelo desenhista é uma das grandes sacadas e remete ao leitor sentir o que é ver a autopsia do próprio corpo. Com um protagonista totalmente estático, vemos o mundo e as pessoas se movimentarem ao seu redor com expressões, trejeitos e diálogos. Possivelmente uma das mais criativas histórias que li no segmento de terror nos últimos tempos.

No apanhado geral, Delirium Tremens de Edgar Allan Poe é uma coletânea que nenhum fã do gênero e do aclamado autor pode colocar defeito. Mas assim como em qualquer show de rock, de qualquer banda, tem umas notas desafinadas. Algumas histórias não estão à altura das outras, mesmo assim são deveras interessantes  e no final formalizam uma publicação de grande qualidade no quadrinho nacional. O que é uma das características da Editora Draco.

Delirium Tremens de Edgar Allan Poe tem formato 17 cm X 24 cm, 184 páginas e capa dura.

 

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Surfista Prateado: Parábola e a crítica de Stan Lee ao fanatismo religioso

Antes de mais nada,  é importante ressaltar que falaremos aqui sobre uma história em quadrinhos de 1988. E se você é um colecionador de quadrinhos, com certeza ou leu ou ao menos deve ter ouvido falar de Surfista Prateado: Parábola, HQ escrita por Stan Lee e ilustrada por Moebius.

“Mas por que falar de um quadrinho antigo e que já foi relançado tantas vezes por aqui?” Bom… O quadrinho pode ser antigo, mas infelizmente o tema é presente, e existe desde o início da humanidade.

Por ser um tema um pouco delicado, peço a todos que leiam de cabeça aberta e não associem a X ou Y. Pensem no contexto geral, e como tudo isso influencia nossas vidas e rotinas em sociedade. Ah…. já ia me esquecendo, o texto pode trazer SPOILERS, então aconselho ler o quadrinho antes de começar (Você consegue encontrar ele clicando aqui).

Logo no início, nos deparamos com o pânico da população a respeito de um objeto não identificado que se aproxima da Terra. Em poucas páginas já conseguimos ver o que o medo do desconhecido consegue causar na humanidade: Caos, tumulto, e o individual se tornando maior que o coletivo naquela atmosfera “Salve-se quem puder”.

Desespero da população nas páginas iniciais

A vontade de saber respostas, o medo de lidar com o desconhecido, ou até mesmo a simples necessidade de se curvar e adorar alguma coisa, tudo isso podem ser considerados fatores que levam a criação de uma nova crença. Teorias surgem e claro, com a ajuda de “intérpretes” das suposições criadas, surge uma nova “Religião”.

O personagem Colton Candell foi criado para retratar exatamente esse tipo de “Intérprete” de teorias de uma maneira bastante extrema e cumpre perfeitamente esse papel. No aparecer de uma figura misteriosa ele aproveita da sua influência e começa a disseminar entre a população todas suas convenientes verdades distorcidas.

 

Candell e Elyna

A figura misteriosa é Galactus, um vilão muito conhecido dentro do Universo MARVEL e por se alimentar de núcleos de planetas, também recebe a alcunha de “Devorador de Mundos”.

À medida que a crença se espalha, o fanatismo começa a se libertar, e quando surgem os questionamentos, a violência acaba prevalecendo como forma de doutrina, quem não concorda é espancado (Familiar?).

Para entender o contexto do quadrinho precisamos fazer um pequeno resumo do que havia acontecido no Universo MARVEL antes de tudo: “O Surfista prateado era um arauto de Galactus que se recusou a destruir a Terra e com a ajuda dos heróis terrestres conseguiu impedir sua destruição, como castigo, foi aprisionado pelo antigo mestre dentro do planeta por uma barreira invisível e ficou exilado (esse exílio também é comparado à história de Lúcifer, o anjo caído, condenado a ficar aprisionado no inferno, o que deixa ainda mais genial a escolha dos personagens para protagonizar a história, invertendo completamente os papéis). Além disso, Galactus também prometeu não destruir o planeta.”

Agora que sabemos mais sobre o que ocorreu anteriormente podemos retomar com uma pergunta: “Por que Galactus voltou se ele havia prometido não destruir mais a terra?” Ele observou duas características bastante incomuns nos seres humanos: A capacidade de se autodestruir e a busca constante por salvação.

Usando de todos esses pontos fracos, ele põe abaixo as leis criadas pelo homem e instaura o prazer próprio e o individualismo como propósito de todos, levando-os a autodestruição.

Logo a necessidade de adoração acaba e o medo começa a prevalecer, famílias começam a não questionar para não serem acusados de heresia e apenas aceitam o que está acontecendo.

E é aí que entra o papel do Surfista Prateado, trazer bom senso a população. De forma bem paciente ele tenta mas quando começa seu discurso, ele é alvejado pelo próprio povo que quer salvar. O terror e a mudança de opinião dos adoradores de Galactus só muda quando ele mata uma inocente, Elyna, irmã do agora reverendo Candell, derrubando o helicóptero que ela usava para tentar impedir a “auto-escravização” da humanidade.

Com a saída de Galactus do planeta, mais uma crítica é exposta no quadrinho. Mesmo depois de tudo que aconteceu, os seres humanos ainda pedem salvação, dessa vez para o Surfista Prateado, e começam em poucos segundos a tratá-lo como um deus, como se nenhuma consequência do que acabou de acontecer tivesse tido importância. Nesse momento é exposto a necessidade de liderança da espécie, a busca por sempre adorar um ser inanimado e isso automaticamente passa ao leitor uma sensação de medo. Medo não por ficarem assustados com um quadrinho, mas sim por perceberem que a situação é real, e só foi retratada de um modo diferente.

A facilidade de se criar uma religião hoje em dia, de convencer a todos que aquilo ali é uma verdade para as perguntas que sempre buscaram, deixar escutarem o que sempre quiseram ouvir… Isso é bastante perigoso e só pode ser superado quando começamos a questionar. As perguntas sempre irão nos levar mais longe do que as respostas.

Escrita por Stan Lee há mais de 3 décadas, a HQ nunca se tornou tão atual quanto no presente momento. Lembre-se que questionar não significa não ter religião ou não ter fé, até porque eu não sou ateu. Qualquer tipo de fé cega e intolerante faz mal, tanto para você quanto para a todos os que estão ao redor, portanto sempre pergunte! Um abraço a todos e até a nossa próxima aventura.

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De repente, alguns líderes deveriam ler mais quadrinhos

Com atitudes como a do Prefeito Crivella, que, no dia 05/09, ordenou o recolhimento, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, do quadrinho Vingadores – A Cruzada das Crianças de Allan Heinberg e Jim Cheung, publicada pela Salvat, as palavras de Charles Xavier se tornam reais: “as pessoas temem o que não compreendem”. Mas me permito a discordar do Professor X, não é temor, é o fato de opinar sem ao menos saber do que se trata. Segundo Crivella, a publicação consta com conteúdo sexual para menores. Ora Sr. Prefeito, se você conhecesse pelo menos um pouco da história, ou pelo menos tivesse visto a publicação, ela apenas mostra, em uma única página, um beijo de dois jovens apaixonados. Essa ordem foi considerada um ato autoritário e homofóbico.

Os quadrinhos sempre puderam falar abertamente sobre tudo que ocorre na sociedade, de modo que todas as idades possam compreender e aceitar (ou não). Mas, principalmente, a nona arte sempre buscou ensinar (preste atenção na palavra) as pessoas que o respeito é fundamental. Em X-Men aprendemos que o preconceito e a diferença entre raças é errado e mortal. Alias, uma história dos mutantes seria muito bem aplicada agora: Deus Ama, o Homem Mata de Chris Claremon. A mesma coisa que temos, sendo relatada historicamente com uma perfeição ímpar, sobre os atos nazistas em Maus de Art Spiegelman. Aprendemos em quadrinhos como Socorro! Polícia! de Amanda Ribeiro e Luiz Fernando Menezes, publicado pela Editora Draco, que a rotina policial é tensa, perigosa e poucas vezes reconfortante.

Quadrinhos apresentam belas histórias que podemos levar como experiência de vida, como Não era você que eu esperava de Fabien Toulmé publicado pela Nemo. Ou o Virgem Depois dos 30, publicada pela Pipoca & Nanquim, baseado no livro de Atsuhiko Nakamura, que revelou o gravíssimo problema social por trás dos virgens de meia-idade existentes no Japão. O livro foi adaptado para o formato mangá por Bargain Sakuraich. E o registro histórico de A Marcha publicado também pela Nemo, e recontando a luta de John Lewis e Martin Luther King contra a terrível segregação racial. Na Graphic MSP Jeremias – pele, de Rafael Calça e Jefferson Costa, mostra como o racismo é sutil e terrivelmente cotidiano em todos os lugares. Os quadrinhos são tão importantes que deveriam estar em salas de aulas, como Angola Janga do Macelo D’Salete.

 

E sem contar todas as vezes que os quadrinhos contaram belas histórias de amor. Peter Parker e Mary Jane. Clark Kent e Lois Lane. Mônica e Cebolinha (nas versões jovens). O amor sempre foi tema recorrente. E todo o tipo de amor.

Esse tipo de pessoa deveria ler mais quadrinhos. Pois todo tipo de quadrinho falar sobre amor. Talvez falte nesse tipo de pessoa, deva ler um quadrinho sobre um amor verdadeiro e puro. como o do casal Clementine e Emma, da graphic novel Azul é a Cor Mais Quente da francesa Julie Maroh. Deveria ler Apolo e Meia-Noite, que um casal homossexual é totalmente igual a qualquer outro, enfrentando problemas com o dia a dia e combatendo o crime. Deveria ler Batwoman. Onde Kate Kane divide o fato de ser uma vigilante com sua coragem de cair de cabeça dentro dos relacionamentos com outras mulheres. Aprender sobre ter coragem e sensibilidade. Achou que já passou da hora de conhecer a latina América Chavez da Marvel. Talvez para uma pessoa como essa, lhe falte ler Justin de autoria de Gauthier ou conhecer Bendita Cura do brasileiro Mário Cesar. Ou deveria ler sobre Arlequina e Hera Venenosa. Um relacionamento que cresceu muito nos últimos anos por ser sincero e alegre. De repente uns momentos alegres que falte para esse tipo de pessoa. Quer continuar a alegrar o seu coração? Então leia o Cara-Unicórnio de Adri A.

E eu nem toquei em outras diversas obras, sejam nacionais ou gringas, que falam e relatam sobre o assunto. E produzidas por quem entende. E a nona arte não se prende em ensinar sobre o amor LGBTQ, também temos fatos históricos, ecológicos, contra a violência, contra racismo, contra xenofobia, contra homofobia etc e tal. Não são os quadrinhos que fazem as pessoas empunhar armas, a espancar negros, hostilizar homossexuais… assim como os videogames, filmes e músicas NÃO transformam pessoas em psicopatas assassinos. Como eu disse antes, os quadrinhos ensinam a formar o caráter e a respeitar a escolha de cada um. Respeitar é a palavra que precisamos. Não precisamos de censura em cima de quadrinhos.

De repente, você está precisando ler mais quadrinhos Sr. Prefeito.