Detective Comics Quadrinhos

Temos Que Ter Política Nos Quadrinhos em Todas as Instâncias!

Escrito por Ricardo Ramos

O mundo mudou muito. A velocidade da informação é feroz e assim como as mentiras propagadas são mortais. Na década de 90, uma das décadas mais largadas de todas, o Brasil estava recém saído de uma ditadura longínqua, e ainda pisávamos em ovos do que podíamos falar ou não. Mas mesmo com toda herança de assuntos mal terminados que ficou para a galera, política ainda era destinado as artes. Diferente de hoje em dia em que em qualquer roda de amigos, ele aflora. E aflora com muito veneno. E como toda a arte, os quadrinhos nunca ficaram de fora.

Vamos lembrar que X-Men sempre tocou em preconceitos. E os caminhos que tomavam seguiam muitas vezes pela política com jogos de interesses dos congressistas americanos sobre o Homo Superior. Nem vou chover no molhado com os arrasa-quarteirões como Watchmen, V de Vingança, Batman – Cavaleiro das Trevas, Maus, Persépolis, as tirinhas da Mafalda, entre outros. E ouso dizer que tudo existente em quadrinhos, respira política. John Constantine, nas primeiras edições de Hellblazer, vira e mexe citava Margareth Thatcher. As suas preciosas Marvel e DC Comics sempre lidam com política. Ou você acha que sagas como Guerra Civil ou até mesmo Injustiça falam sobre o que?

Sem falarmos de política nos quadrinhos não teríamos grandes obras nacionais. Como por exemplo Ditadura no Ar (Raphael Fernandes e Abel), Cidade de Sangue (Julio Shimamoto e Márcio Jr.), O Planta, Um Bípede Entre Plantas – Volume 1 (Gustavo Ravaglio), Acelera SP (Cadu Simões), Angola Janga (Marcelo D’Salete), as publicações da Zapata Edições do Daniel Esteves, entre tantas outras. Cada uma com seu estilo e sua abordagem. Sim, caro amigo que levanta bandeira de Quadrinhos sem Política. A nona arte é uma porta para diversos assuntos. Feminismo, sexualidade, amizade, preconceitos, dramas, romances e, obviamente, a política está entre eles.

As editoras brasileiras têm se esforçado para publicar grandes obras consagradas na gringa que abordam a política. A Veneta trouxe coisas como Asa Quebrada e Arte de Voar, O Processo. A Nemo trouxe Kobane Calling: Ou como fui parar no meio da Guerra na Síria. A Devir publicou inteiramente Saga. A Editora Comix Zone recentemente publicou o importante O Eternauta 1969. A Sesi trouxe o drama político futurista Shangri-la. Até a Panini trouxe coisas como Xerife da Babilônia e prosseguiu com The Walking Dead. Sim, os zumbis também falam de política.

Temos caso em que quadrinhos lançados como meio de campanha eleitoral. Em 1961, o candidato democrata George Wallace, publicou uma HQ que falava sobre seu plano de governo. Divulgando suas qualificações, promovendo sua personalidade como um “outsider” político e reforçando sua aliança com facções supremacistas brancas no estado. E pasmem, ele venceu. Essa publicação é um item raro fisicamente, mas ainda é encontrado, infelizmente, na internet. Em uma edição, Savage Dragon declarou seu apoio ao então candidato Barack Obama. Também podemos lembrar de The Authority, na sua nova fase lidando com concepções e valores intimamente ligados ao movimento antiglobalização. Outro que andava muito em terras políticas era o Tintim. Personagem criado por Hergé, se meteu em casos políticos na América Latina, Japão e na antiga União Soviética.

Se assumirmos que devemos ficar em cima do muro, e não se posicionar, como ficaríamos sem essas obras? Ora bolas, os quadrinhos são uma forma de contracultura! Como vamos simplesmente agir como Pôncio Pilatos e simplesmente lavar as mãos? Qual é o problema de falar sobre política? Como fazer quadrinhos sem falar de política? Não cara, não tem como.

Talvez o problema esteja em no posicionamento de alguns artistas sobre movimentos políticos A ou B. Talvez você não queira que seu precioso ídolo não seja atingido por uma horda de enfurecidos por demonstrações políticas. Todos nós temos nosso posicionamento. Isso é obvio e livre. O problema é quando usamos do nosso posicionamento para aplaudir algum tipo de violência, isso é errado. E nem vou tocar na editora que tenta consertar a lambança feita por um dos sócios em uma postagem tendenciosa. E se a postagem atingisse o movimento político contrário, também estaria errada.

Se lutamos e berramos por democracia, ela também engloba o direito da pessoa acreditar no que quiser. Por mais idiota que essa coisa seja.

Por isso, não levante essa bandeira. Quadrinhos tem que ter política sim. Filmes tem que ter política sim. Músicas tem que ter política sim. Games tem que ter política sim. Sua conversa na mesa do bar tem que ter política sim. Em todas as instâncias. Desde que saiba do que esteja falando. Desde que tenha embasamento do que está falando.

E os quadrinhos são uma porta para grandes entendimentos nesses assuntos.

 

Comentários
Compartilhar

Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

Contatos, sugestões, dicas, idéias e xingamentos: ricardo@torredevigilancia.com