Detective Comics Quadrinhos

HQ Apresenta uma Nova Visão sobre Judas: Vilão ou peça importante para Ressurreição?

Escrito por Ricardo Ramos

“Fui nomeado o vilão da história. Nenhum homem recebeu meu nome novamente.”

A história todos conhecem. Judas traí Jesus. Jesus é julgado, é crucificado, morre e ressuscita no terceiro dia. Judas se mata após perceber o que tinha feito. Cheio de dor e arrependimento. Mas o que acontece com Judas logo após o seu suicídio? O que aconteceu com a alma do homem que foi destinado a ser vilão na história mais famosa e importante de todo o Cristianismo?

Mas a questão que mais deixa Judas mais confuso é: Jesus sabia? Ele sabia do que ia acontecer desde o princípio? Sabia que Judas seria o traidor e que o transformaria em um pária para toda a eternidade? Que condenaria até mesmo o simples citar de seu nome?

São essas questões que são levantadas na HQ Judas de Jeff Loveness.

A minissérie foi publicada originalmente em 2017, em quatro edições pela Boom! Studios nos EUA, e começa com o pé fundo no acelerador com questionamentos ao cristianismo e o que o cerca. Questões como se Deus é Todo-Poderoso e bondoso, por que criou um mundo onde as pessoas sofrem? A jornada de Judas pelo inferno é cheia de exemplos de que Deus sempre precisa de um vilão para exercer sua divindade e amor ao mundo. A história apresenta os destinos de personagens como o Faraó de Moíses, Jezebel, Golias e a Esposa de Ló e como esses sofrem por toda a eternidade. Eis que a indignação de Judas ganha mais vapor. Se Deus é grandioso, porque eles foram escolhidos? Onde está o livre arbítrio?

Mas, engana-se que Judas é um quadrinhos que só levanta bandeiras que revoltaria todo cristão. Ela na verdade é uma narrativa de redenção. Uma sincera exploração de fé, amizade e perdão. Onde Judas finalmente entende o porque de ser o escolhido. O porque teve seu nome e tudo que seja relacionado à ele condenado para sempre. No fim entendemos que o velho chavão “escreve certo, por linhas tortas” é um dos pilares do Cristianismo.

As escrituras falam de após a sua morte, Jesus desceu às profundezas da terra. No Novo Testamento, existem afirmações que Jesus ressuscitou dentre os mortos. Em Efésios 4:9, 10 diz: “Jesus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos no terceiro dia Jesus desceu às profundezas da terra. Aquele que desceu é também aquele que subiu”. Mas as próprias escrituras não detalham muito sobre isso, dizem que venceu a Morte, e trouxe a salvação para todos os justos que vieram antes dele para os que vieram depois, mas exatamente como acontece não está relacionado. E são nessas lacunas, que a história de redenção de Jeff Loveness atua.

O roteiro é bom e por ser uma visão não muito explorada acaba te prendendo até o fim. Você compadece e entende a dor e frustração de Judas durante o período e por alguns momentos, a narrativa te convence e te traz questionamentos. Jeff consegue trazer uma vírgula em uma história que é pilar forte e tradicional de toda redenção e perdão do Cristianismo, e que é ocasionada por uma traição.

As artes são um espetáculo a parte que passeia entre expressões depressivas, soberbas e de sofridas. O inferno é como uma caverna tenebrosa, fria e sem amor. Os desenhos de Jakub Rebelka são como os que vemos em vitrais das igrejas, o que ajuda a familiarizar a trama. Mas o grande destaque mesmo são as cores. As tintas espessas e a coloração que vai de um cinza insosso, passeando por um vermelho sangue poderoso e um amarelo redentor. As cores chocam como passeiam por um misto de desesperança, dúvidas, ódio e amor.

Infelizmente Judas nunca foi publicada no Brasil. Nenhuma editora tupiniquim se interessou a lançar o material por aqui. Acredito que seria uma experiência bacana, e imagino que, considerando os fanáticos religiosos cristãos, seria uma grande polêmica sendo lançada por aqui.

Hoje em dia você pode conseguir na Amazon Brasil em inglês no formato de volume único.

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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