Detective Comics Quadrinhos

A frágil proteção da existência humana de Love Kills

Escrito por Marcus Santana

Em seu segundo título pela Darkside, Danilo Beyruth lança história cujo tema se encaixa de forma mais contundente na proposta da editora especializada em terror.

Desconsiderando seus quadrinhos feitos para a Marvel e Maurício de Sousa Produções, Beyruth traz ao público sua oitava publicação  original  em menos de 10 anos, e pouco mais de um ano após Samurai Shirô, com uma trama voltada à atuação da máfia japonesa em São Paulo. Sua prolífica produção de histórias é proposital e o auxilia na constante mudança de temas entre um trabalho e outro.

Como era de se esperar, a editora que agora traz ao mundo dos vivos esta HQ, já visitou o mundo dos semi-mortos com 30 dias de Noite, de Ben Templesmith e a referência-mor do gênero, com duas versões de Drácula de Bram Stocker. Mas, agora a trama está em nosso terreno, e as semelhanças não se resumem apenas entre a proximidade de idiomas, já que romeno e português são ramos do mesmo tronco linguístico.

Marcus trabalha arduamente todos os dias para sobreviver na cinzenta capital paulista mas, apesar de seu esforço, em pouco é reconhecido por isso. Passando pelas duras críticas e falsas ideias de ascensão de cargo prometidas por seu chefe, sua monótona rotina muda quando involuntariamente atravessa o caminho de Helena, uma vampira que, mesmo com sua aparência de jovem, guarda um fardo de séculos, e muito maior do que aparenta conservar seu corpo.

Seu passado datado como distante para nós é como ontem para ela. Seu histórico na terra é como uma trajetória utópica e pertenceria apenas aos livros de História para os seres humanos. Suas marcas na terra, apesar de serem guardadas com afeto por diversas recordações que a mesma insiste em manter, também carrega um passado turbulento e mal resolvido.

IMAGEM: Cortesia do autor

Helena é perseguida por uma gangue de sua espécie que busca vingança pelo que ela fez a eles e a Leander, este último alguém que Helena possui um laço muito mais estreito, numa intensidade similar ao vínculo formado com Marcus, que misteriosamente não pode ser controlado pelos poderes de Helena, embora seja totalmente humano.

A narrativa de Love Kills começa com apenas imagens nenhum texto por mais de 10 páginas, mecânica parecida com outro trabalho com participação de Beyruth: O longa-metragem Motorrad, com seus 15 minutos iniciais sem falas ou interjeições. A leitura flui facilmente e é surpreendentemente rápida. As mais de 200 páginas do tomo passam de uma forma tão dinâmica que mal parece ter essa extensão. Um dos artifícios que ajudam nesse aspecto é a constante movimentação, com diversas cenas de ação e perseguições.

IMAGEM: Cortesia do autor

Os elementos clássicos das histórias de Vampiros estão aqui com uma adição constante de metáforas entre eles, humanos e animais. Suas crises existenciais são expostas como pouco se vê e a casca de sua aparente imortalidade se mostra mais frágil do que parecia.

Todos os elementos então são condensados na sombria São Paulo com sua vida noturna, submundo das drogas e vidas despedaçadas, passando por detalhes minuciosos como seu deficiente esgoto aos pisos de taco, tão comuns nos apartamentos de várias regiões da cidade a partir dos anos 70. Beyruth mergulha mais uma vez em seu cenário mais recorrente, porém dessa vez explorando uma outra faceta da cidade que ele mesmo considera ser várias em uma só e, de fato, em sua mão se torna um abismo sem fundo aparente, onde a cada descida descobre-se um até então inexplorado nível ou subnível.

IMAGEM: Cortesia do autor


Já algumas vezes Beyruth afirmou temer tornar-se esquecido, e também por isso está em constante produção. Apesar de considerarmos um medo exagerado, não vemos problemas em sua lista de trabalhos estar sempre em atualização pois, assim como os contos vampirescos, suas histórias estarão sempre ao nosso redor.

Love Kills
Danilo Beyruth
250 páginas
26 x 17 cm
R$69,90
Capa Dura
Darkside Books
Data de publicação: 01/2020

 

 

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Sobre o Autor

Marcus Santana

O que seria de nós sem quadrinhos?