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Vlad Love é uma declaração de amor ao caos

Clichês são, de certa forma, o ápice da literatura. Afinal, para que algo se torne um clichê, ele precisa ser usado à exaustão, e só existe um motivo para quererem usar algo tanto assim: Essa coisa precisa ser boa. Quando chegamos no patamar de clichê, porém, a necessidade de inovação se torna maior e mais importante, fazendo com que mudanças e reviravoltas precisem ser adicionadas ao seu roteiro. Um exemplo clássico disso são as velhas histórias de vampiro. Desde “The Vampyre“, tivemos diversas pessoas tentando fazer algo novo: Bram Stoker, Stephenie Meyer, Jorge Fernando…

E como o nome sugere, “Vlad Love” é uma história de vampiro. Ao menos, é a ideia que ela tenta te passar. Só que dessa vez, o destaque está na reviravolta que precisa existir para saírmos do clichê: Existem coisas pequenas e existem coisas grandes. Existem coisas enormes, e existem coisas colossais. E, acima de tudo isso, existe seja lá o que aconteceu nesse show.

A sinopse e o trailer, ambos cortesia da Crunchyroll:

Mitsugu Bamba é viciada em doar sangue, e visita bancos de sangue tão frequentemente que chega a atrair a inimizade das enfermeiras. Certo dia, Mitsugu encontra uma bela garota que parece ter vindo do exterior. Ela é tão pálida que parece prestes a desmaiar, então Mitsugu decide levá-la pra casa…

Para entender o que, e principalmente, o como isso sequer saiu do papel, precisamos conhecer o responsável (ou “culpado“, se preferir) por tudo: Mamoru Oshii.
Atualmente o meu diretor predileto, esse homem é responsável não apenas por títulos que você conhece, mas também por difundir uma boa parte dos diversos esteriótipos de animê que são usados até hoje.
Como cineasta, dirigiu filmes que quebraram recordes, como Ghost in the Shell (1995, com sequência em 2004) e Patlabor (1989, com sequência em 1993). Para o nosso contexto, porém, creio que seu maior mérito esteja em Urusei Yatsura, animê de 1981, que é a própria definição do gigante naquela famosa frase de Isaac Newton, sobre “ver mais longe“.
Se esses nomes não te deram contexto nenhum, significa que você não está familiarizado com esse lado da internet, e, muito provavelmente, “Vlad Love” seria um baque grande demais pra você suportar.

Por mais incrível que possa parecer, esse nem é o clube mais esquisito da escola

Aí você pega um diretor que, pelo histórico que tem, sabemos que gosta de fazer coisas absurdas e impensáveis… e dá a ele carta branca para fazer o que ele quiser, do jeito que ele quiser. Como foi um animê completamente patrocinado por uma única empresa privada, Mamoru Oshii recebeu o dinheiro e teve a liberdade de simplesmente fazer o que diabos ele tivesse afim. Ele não precisava ser coeso, ele não precisava criar algo que fizesse sentido. Ele podia apenas fazer por fazer. A habilidade – e, talvez, a possibilidade – de criar tantas tangentes quanto ele quisesse é, indubitavelmente, a própria essência de o que é o “caos“. E a frase anterior é pomposa de propósito.

Não vou contar tudo o que acontece na animê, para você ainda ter a chance de viver essa experiência surreal em primeira mão, mas só para te dar uns exemplos: Temos desde referências a quadrinhos avant-garde da década de 60; pausas de vários minutos para ler artigos da Wikipedia sobre assuntos diversos; Escolhas artísticas e visuais que são ousadas até mesmo para o próprio Mamoru Oshii… São coisas tão absurdas que quando chegamos na violência gratuita, nas quebras de quarta parede e nas piadas com direitos autorais, elas parecem até normais demais.

Por mais incrível que possa parecer, essa nem é a pausa para ler um artigo da Wikipedia mais esquisita do show

O resultado é que, em sua essência, Vlad Love não é uma história. O animê é apenas um delírio coletivo, uma alucinação liderada por um homem louco e que não tem nada a perder, e que está disposto a entregar uma experiência surrealista e irracional para qualquer pessoa insana o bastante para querer recebê-la. Ao abraçar o caos em sua mais pura forma, o show se torna a própria definição de “comédia“, ao ser completamente impossível de se prever, tal como dita o terceiro princípio do gênero.
E, se não conhece os três princípios da comédia, um outro show pode te apresentar ao conceito: “A Destructive God Sits Next to Me“.

Assim como uma seita, é preciso aceitar a doutrina completamente sem pé nem cabeça e se tornar um seguidor fanático. Sem essa aceitação, o animê simplesmente não funciona, e por isso, ele acaba sendo extremista: Ou você o ama religiosamente, ou você o odeia tanto quanto o diabo odeia a cruz. Se você acha que gosta de humor absurdo e nonsense, Vlad Love é, com certeza, um teste para ver se isso é verdade.

Por mais incrível que possa parecer, essa nem é a quebra de quarta parede mais esquisita do animê

Se acredita que é verdade, eu não poderia recomendar mais esse show, que, acredito eu, foi o responsável por queimar o resto dos fusíveis que eu ainda tinha funcionando na cabeça. E eu os queimaria novamente com o maior prazer.

Caso seja o seu tipo de animê, a única avaliação possível para “Vlad Love” é Diamante. Mas só se for o seu tipo de animê.
Você pode assistir “Vlad Love” completo na plataforma de streaming Crunchyroll, com legendas em português.

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Golden Boy: o que te faz feliz?

Posso começar esse texto dizendo que sempre tive uma ideia quase que utópica de felicidade – e a palavra “estabilidade” foi predominante no meu conceito. Nós nascemos, crescemos um pouco, entramos na escola. Estudamos. Crescemos um pouco mais, nos formamos. Trabalhamos, e trabalhamos bastante. Se ousarmos escapar mesmo que de forma sutil dessa linha imaginariamente consensual, sofremos o risco do arrependimento ou até mesmo do medo de não estarmos seguindo o que se considera o mais aceitável. Mas… é só isso então? A vida é um corredor estático e segue apenas uma direção? O descobrimento de nossas próprias indagações não estaria entrelaçado unicamente à nós mesmos?

Ok, admito que essa foi uma introdução longa, mas no decorrer do texto vocês vão entender onde eu quero chegar.

Lançado em 1995, Golden Boy é um anime de 6 episódios, produzido pela Shueisha em conjunto com a KSS. Baseado no mangá de mesmo nome, o criador Tatsuya Egawa nos apresenta à jornada do jovem Oe Kintaro, um rapaz de 25 anos que optou por “largar tudo” e viajar com sua fiel bicicleta pelo Japão. Kintaro decidiu que iria aprender sobre a vida, percorrendo seu país não em busca de si mesmo, mas em busca de um aprendizado que só poderia ser conquistado através de uma vivência única.

Ao longo dos 6 episódios, vemos o personagem passar de cidade em cidade, de trabalho em trabalho, sempre buscando aprender o máximo que pode no lugar em que se encontra. O desapego que Kintaro tem com relação ao que a maioria considera como essencial é o que permeia toda a essência do anime, nos mostrando como a alegria pode ser encontrada nas menores e mais simples coisas.

No primeiro episódio, o jovem acaba conseguindo um emprego como faxineiro de uma empresa de informática comandada por mulheres. Mesmo ocupando uma função “simples” e que nada tinha a ver com a computação, Kintaro está sempre com um caderno em mãos, anotando tudo que as suas chefes lhe dizem e até mesmo tudo que elas falam entre si sobre programação e tecnologia. O ânimo em absorver o que o atual momento lhe proporciona é inclusive reparado pelas moças, que veem no jovem uma curiosidade excepcional.

Numa noite, ao estar sozinho no trabalho após o expediente, Kintaro vê um dos computadores ligados, e, numa falha tentativa de poupar energia e ajudar a natureza, desliga o aparelho. O ato ecológico, no entanto, acaba por jogar fora todo o trabalho de meses da empresa, que estava desenvolvendo um programa de computador para um exigente cliente. Perdendo o emprego, Kintaro sente que precisa, de alguma forma, compensar o erro e ajudar as mulheres, começando então a ele mesmo desenvolver o programa que havia deletado. Consultando suas próprias anotações do seu tempo na empresa e mais diversos livros, o jovem consegue criar do zero um software ainda melhor do que o deletado, entregando o arquivo na empresa com um pedido de desculpas e agradecendo por todos os ensinamentos que teve.

Ao perceberem o resultado e o talento de Kintaro, as empresárias procuram pelo jovem, que já havia subido em sua bicicleta e partido rumo à uma nova aventura. O rapaz sente que sua função ali já foi cumprida, que aprendeu o que podia e que conseguiu, de alguma forma, ajudar as pessoas que conheceu.

Em outro momento, vemos Kintaro agora trabalhando em um restaurante de massas artesanais. Morando provisoriamente em um quarto na casa dos proprietários, Oe fala que vai partir assim que o braço do responsável melhorar e o mesmo já puder preparar os pratos sem dificuldades. No decorrer desse tempo, percebemos como o jovem se importa com a família que o contratou – e o acolheu -, dando duro no trabalho, ajudando no que precisa e, o mais importante: vemos como ele está feliz em estar ali.

Sabemos – nós expectadores e a família do restaurante – que a estadia de Kintaro é passageira; sabemos que ele seguirá seu caminho e que as pessoas que ele conhecerá não embarcarão na mesma jornada. Entretanto, mesmo tendo ciência desses fatos, sentimos quando a despedida acontece. Novamente, ao sentir que ali cumpriu sua missão, Kintaro parte, carregando consigo a experiência que adquiriu e os laços que criou.

Kintaro nos faz refletir sobre nossos próprios conceitos de felicidade e aprendizado, nos ensinando (mesmo sendo ele quem está buscando aprender) a olharmos para as oportunidades como uma nova forma de encarar a vida. Percebemos como muitas pessoas irão passar pelos caminhos de Oe e que, mesmo que elas não permaneçam, suas marcas serão eternas. A  solidão de constantes separações acaba sendo compensada pelas belas paisagens que conhece, pelos lugares que visita e pelos encontros que essa incrível jornada lhe proporciona. E, uma coisa eu posso afirmar: Kintaro é feliz. Kintaro leva a felicidade aonde vai, e, do seu jeito, transforma a vida de quem cruza seu caminho, nos mostrando que parte da trajetória também é a partida.


Mesmo sendo um anime ecchi, com cenas de insinuação sexual e até mesmo nudez, Golden Boy consegue empregar a sexualidade de uma forma eficaz, sendo coerente com a narrativa, mesmo que as vezes acabe pesando um pouco na dose. Cabe ressaltar que, por ser uma produção de mais de 20 anos atrás, temos muitos conceitos e entendimentos da época, fazendo com que algumas cenas e piadas se tornem “datadas”. A animação é muito bem feita e produzida, tendo o estilo único que os anos 90 proporcionaram para os padrões estéticos e de traçado. Recomendo essa obra, do fundo do meu coração, não somente aos amantes de animações japonesas, mas à todos que procuram uma trama diferenciada quanto à mensagem que traz. O anime pode ser encontrado na Crunchyroll, clicando AQUI.

PS: se te der vontade de pegar uma bicicleta e sair pelo mundo… não esqueça: a vida é boa e merece ser vivida todos os dias.


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O destino de comédias-românticas com “As Quíntuplas”

Não faço segredo para ninguém que comédias-românticas são um dos meus gêneros prediletos. Eu adoro comédias no geral, e defendo que animê, como mídia, é perfeita para gerar humor. Juntar a mídia perfeita com um dos subgêneros mais bem sucedidos dela é como um pastelzinho com caldo de cana: Mesmo se der errado, ainda vai ter valido a pena.

Com autoria de Negi Haruba, “As Quíntuplas” (no original, “Gotoubun no Hanayome“) é um mangá de comédia-romântica, completo no Japão em 14 volumes, e que se transformou em, até o momento, duas temporadas de animê, com 24 episódios no total. E, é claro, foi a minha inspiração para essa postagem.

Quando a primeira temporada saiu, em 2019, eu comentei sobre ela no “Primeiras Impressões“, e o show acabou se tornando o meu animê predileto daquele ano – desbancando títulos como Kaguya-sama e Demon Slayer – e por um bom motivo: Foi uma das melhores comédias-românticas que eu já assisti, a ponto de me fazer sobreviver 2020 para assistir a segunda temporada. E ainda bem que eu consegui.

Captura de tela do episódio 7 de "The Quintessential Quintuplets 2"
Eu pensando no pastelzinho com caldo de cana enquanto escrevo o resto da postagem

Com o mangá recentemente lançado no Brasil, eu tive a oportunidade de consumir a mídia das duas formas: No original e na adaptação. E fico muito feliz em poder dizer que as duas são equivalentemente boas, com cada uma delas trazendo aspectos e características diferentes para uma mesma história, fazendo com que cada versão possa agradar um público diferente.

Fora as mudanças claras que existem na forma de consumir cada mídia (e isso, talvez, já pode servir como diferenciação de público. Eu, por exemplo, não tenho costume de ler mangá, então fiquei um pouco desconfortável com o livro em mãos), os dois grandes fatores em jogo são cor e som.

Isso pode parecer óbvio, mas a mera existência desses dois fatores faz com que o animê seja uma experiência completamente diferente. Quando tratamos das irmãs Nakano, nós sabemos que elas são quíntuplas idênticas. Logo, não deveria existir diferença na voz ou na cor dos cabelos entre as cinco garotas. Isso não é um problema no mangá, que é todo em preto-e-branco, e onde a voz não passa de um balão de fala. Quando elas “brincam” de trocar de lugar uma com a outra, a versão impressa torna a história muito mais acreditável, e levanta mistérios muito mais potentes, por nunca sabermos, de fato, quando alguma irmã está se passando por outra, ou qual delas é a responsável.

Por outro lado… O animê diferencia as garotas com cores de cabelos imaginárias, e nenhum produtor em sã consciência deixaria sua dubladora fazer cinco personagens num show semanal (que era a ideia inicial, como pode ser visto nesse comercial do mangá, que precede o animê), então temos também diferentes vozes. Como você pode imaginar, isso destrói completamente a brincadeira de adivinhação, fazendo com que o show acabe se tornando acidentalmente mais engraçado, de tão idiota que é a situação. E pra mim, que veio assistir uma comédia-romântica por conta do primeiro pedaço, isso é um ponto positivo.

Na esquerda, captura de tela do episódio 9 de "The Quintessential Quintuplets"; Na direita, foto de uma página do volume 4 de "As Quíntuplas"
Ok, o tamanho dos cabelos entrega um pouco… Mas a falta de cor já ajuda a confundir todas as cinco, não ajuda?

Aliás, já que toquei no assunto… Apesar de gostar muito de comédias-românticas, elas parecem ter um problema que é estrutural, impossível de fugir: Elas costumam virar um drama na segunda metade.
E isso não é exatamente um “problema“… Acaba sendo uma das características que fazem o gênero ser o que é, e, para muitos, pode ser o fator determinante entre gostar ou desgostar de uma obra.
Aí eu só posso falar por mim, mas tem vezes que essa virada de chave é muito repentina e/ou muito brusca pro meu gosto. Eu não me importo muito com o drama, mas eu simplesmente prefiro a comédia, então, quando o show faz um completo 180º e se torna um drama completo, isso me deixa um pouco decepcionado.

Talvez seja um “azar” meu, mas esses casos de troca violenta de ritmo parecem ser muito comuns, pelo menos nas coisas que eu assisto. Por causa disso, eu precisei aplaudir de pé a coragem que “As Quíntuplas” teve ao ser muito mais sutíl em sua abordagem dessa mudança, que, aparentemente, é obrigatória em todo e qualquer tipo de comédia-romântica.

Em sua segunda temporada, o animê entra na inevitável parte dramática, e ao perceber o caminho que estávamos indo, eu já revirei meus olhos em desgosto. Porém, vocês podem imaginar o tamanho do meu sorriso ao perceber que, embora o drama tivesse chegado, o humor havia se mantido. Num balanço quase inacreditável de cenas sérias e cenas absurdas, o show conseguiu ter quase dois arcos inteiros e consecutivos de histórias de novela, sem abandonar suas raízes como comédia, fazendo com que eu me mantivesse dando risadas mesmo quando o mundo estava literalmente em chamas.

É um caso exatamente oposto ao de outra comédia-romântica que eu já comentei aqui: Oregairu. Não me levem a mal, eu adoro Oregairu, e acredito ser um dos finais mais satisfatórios que eu já vi, mas… Logo no começo da sua segunda temporada, o show parece desistir de ser uma comédia e fica totalmente dedicado ao drama. Eu precisei parar de encarar as aventuras de Hachiman como uma comédia, e começar a encará-las como um drama. E como um drama, elas são excelentes.

Captura de tela do episódio 1 de "The Quintessential Quintuplets 2"
No momento, o drama é assistir elas serem vacinadas e eu não estar nem próximo de tomar a minha…

Como já comentado, a mágica desse gênero está em atrair tanto quem goste de drama (e precisa passar por um sofrido começo cômico), como quem gosta de comédias (e acaba sofrendo com os finais dramáticos de suas obras prediletas). Com um desenvolvimento que mescla os dois lados da moeda, Negi Haruba parece ter empatado seu cara-ou-coroa ao derrubá-la de lado, trazendo tanto gregos como troianos para sua obra, com essa decisão tão diferente que parece até esquisita.

E ninguém esperava por isso. Não só com “As Quíntuplas“, mas com todas as comédias-românticas que existem, os fãs não sabem como uma obra vai se direcionar. Quanto tempo ficaremos na parte “cômica“, até entrar o drama? A história vai virar uma novela? Se sim, vai virar “Amor de Mãe” ou “Ti Ti Ti“? São perguntas que só podem ser respondidas conforme a própria obra se encaminha para seu desfecho. Se eu não fosse químico e odiasse o uso errôneo desse exemplo, poderia dizer que toda comédia-romântica é um “Drama de Schrödinger“, e que talvez esse mistério seja o maior motivador de fãs do gênero.

Caso tenha ficado interessado em “As Quíntuplas“, e queira conferir por você mesmo, o mangá é licenciado no Brasil pela Editora Panini, e você pode encontrar os volumes já lançados na Amazon. Se preferir o animê, as duas temporadas estão disponíveis na plataforma de streaming Crunchyroll, sob o nome “The Quintessential Quintuplets“, e possuem legendas em português.

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11 anos depois, Angel Beats ainda é perfeito no meu coração

Algum tempo atrás, fiz uma postagem sobre o valor de revisitar conteúdos, em oposição a consumir coisas novas. Acredito ser uma das minhas melhores obras, e ela foi justamente a inspiração para esse texto de hoje. Se não viu ainda, recomendo dar uma olhada: O valor de revisitar conteúdos já conhecidos.

Em suma, o que nos trouxe aqui hoje foi um experimento simples: O Vinicius de hoje tem os mesmos gostos que o Vinicius de 11 anos atrás? Pegamos um animê que, até então, eu considerava como um dos meus favoritos, e que sempre tive certo “receio” de rever: Angel Beats. Queria descobrir se eu continuaria gostando tanto quanto eu gostei no passado, e se eu teria uma visão diferente daquela que tive na primeira vez.

Inclusive, decidi fazer isso justo agora por um motivo especial: 3 de abril de 2021 marca o décimo primeiro aniversário do lançamento do show. O primeiro episódio foi exibido na televisão japonesa justamente nesse mesmo 3 de abril, no longinquo ano de 2010. Posso estar exagerando um pouco, mas ouso dizer que foi um animê que marcou não só o gênero, como toda uma geração de fãs. Pelo menos, me marcou.

O clássico episódio de beisebol, sempre sendo usado para desenvolvimento de personagens e, claro, como mote para várias piadas.

Sendo a mais nova – na época – artimanha de Jun Maeda e da Key, todos os olhos estavam voltados para Angel Beats: Com antecessores como Clannad e Little Busters, o público estava preparado para mais uma obra repleta de comédia e recheada de drama, com apenas um pequeno toque de magia e muito, mas muito beisebol.
Afinal, se existe um escritor que é consistente em suas obras, é justamente Jun Maeda. Um dos fundadores do estúdio “Key” (parte do grupo “Visual Arts“), ele é formado em psicologia pela Universidade de Chukyo, e olha… ele usa bastante o diploma. Os roteiros que escreve são conhecidos por serem fortes, alegres, tristes, engraçados, intensos e até cruéis, tudo ao mesmo tempo. Com os já anteriormente citados “Clannad” (Visual novel de 2004, com animação em 2007) e “Little Busters!” (Visual novel de 2007, até então sem animação) sendo considerados “clássicos”, e tendo mais ou menos a mesma temática, nós já tínhamos uma ideia de o que esperar de Angel Beats.

Mas é claro que em 2010, o pobre Vinicius de 14 anos não tinha a menor noção de nada disso. Ele tinha acabado de começar a assistir animês, tendo apenas visto alguns episódios de Naruto e os clássicos Dragon Ball e Sakura Card Captors na televisão.
Hoje, me recordo de ter adorado o show, e que ter assistido sem ter muita noção do que esperar foi parte do motivo. Eu simplesmente recebi uma indicação de um amigo meu (se estiver lendo isso, Nishida, grande abraço!), e fui atrás dos dois ou três episódios já lançados no momento. A cada semana, foi uma surpresa nova, uma risada nova, um sentimento novo.

O problema é que onze anos é muito tempo, bicho. Minha nossa, que tristeza pensar nisso… E com o tempo, memórias vão se deteriorando. O próprio conceito de “memória” é uma coisa horrível, pois ela deveria servir para nos recordar do passado, mas elas acabam apagando todos os detalhes e nos deixando apenas com o “sentimento geral” daquela situação.
Até reassistir o animê nesses últimos dias, eu me lembrava vagamente do show. Eu tinha certeza de que era algo divertido e emocionante, que me marcou muito e que eu considerei, na época, como uma das melhores coisas que eu conhecia. Mas… Se me perguntassem “por quê?“… Eu não saberia responder. Eu mal poderia dar uma sinopse de todos os arcos que ocorrem nos exorbitantes treze episódios. Nem é tanta coisa assim, sabe? E mesmo assim, minha memória era apenas uma bolota flutuante que dizia “Angel Beats bacanudo” e nada mais.

Só que agora, eu revi o show. Sentei por treze episódios e assisti tudo novamente. Uma coisa que eu não tinha nem como apreciar no passado (pela falta de experiência), e que vi agora com outros olhos, foi a qualidade técnica de Angel Beats. Não preciso nem entrar no mérito de história ou trama pra isso. Falo mesmo da questão de estúdio, de direção, de animação, de dublagem. Até para os padrões de hoje, o animê é absurdamente bem feito. É bonito e bem animado (como já era de se esperar do Estúdio P.A. Works e nomes como Tadashi Hiramatsu e Katsuzou Hirata na equipe); tem OST de fazer inveja; umas três ou quatro (até perco a conta!) insert songs; um elenco de dubladores que reuniu os maiores nomes da época (com muitos deles estando no ápice de suas carreiras até hoje, como Kana Hanazawa e Kamiya Hiroshi)…
Não dá pra negar que uma quantidade enorme de dedicação, recursos e talento foi colocado nessa produção, que, com certeza, venceu o teste do tempo nesses quesitos.

Com apenas treze episódios, não dá para falar de todo mundo. Mas, talvez, seja melhor assim.

E quando entramos, de fato, no mérito da trama… Angel Beats é um show agridoce, como tudo que a Key custuma fazer. E, depois de ponderar um pouco sobre o assunto, acho que cheguei na conclusão de que isso é feito com o uso de elipses.
Vou explicar: A gente tem um elenco absurdo, personagens interessantíssimas e que sabemos, com certeza, que possuem uma história e um motivo para estar ali. Muitas delas nos deixam curiosos para entender o que aconteceu, ou o porquê de ter acontecido. Afinal, quem diabos é TK, e por qual motivo ele só fala em citações musicais? Por que Shiina age como uma ninja? O quão sofrida pode ter sido a vida de um jovem faixa preta 5º dan em judô?
Quando decide NÃO te dar essas respostas, Jun Maeda está reforçando ainda mais o impacto das histórias que ele decidiu te mostrar. Esse “ar de mistério” que cerca não só as personagens, como toda a trama, é que faz com que os pedaços que foram, de fato, elucidados, se tornem tão marcantes.
Isso é feito com grande maestria com o próprio protagonista. Privar o público do passado de Otonashi não é apenas uma ferramenta de roteiro para que a obra comece. É, também, uma elipse ao nos mostrar apenas metade da história, fazendo com que o final dela seja tão mais memorável.

Voltando ao ponto principal, que seria a minha interpretação atual: Assistindo a cada episódio, eu senti mais e mais que Angel Beats foi algo feito para mim. Ele tem as principais características que eu amo nessa mídia, e que comento sempre que posso. Animês são a mídia perfeita para comédia esdrúxula e, ao colocá-la no meio de um drama comovente que te faz chorar igual um bebê, você atinge um balanço ideal.
E, se entendermos o contexto em que esse show existiu na minha vida, é muito provável que ele seja um dos responsáveis por moldar o meu gosto. Possivelmente é o motivo de eu ter um fraco por comédias absurdas e um fraco ainda maior por qualquer historinha triste mequetrefe (por mais que eu tente esconder o fato de ser movido à lágrimas facilmente).

Impossível negar, porém, que chegar para assistir um show (ou ler um livro, ver um filme, ouvir uma música… A ideia é aplicável para qualquer mídia) já com “sentimentos” – a grande bolota que citei mais cedo – faz com que essa experiência não seja tão nova assim: Você já tem alguns pré-conceitos (talvez pós-conceitos?) que afetam a sua visão.
Por outro lado, justamente a existência desses “sentimentos” já é um fator que diferencia a sua nova jornada da primeira.

A história se aplica ao próprio show, onde personagens passam por coisas que os mudam, e mudam as percepções de mundo deles.

De novo trago a velha história do rio: A pessoa que assistiu Angel Beats hoje é completamente diferente da pessoa que assistiu Angel Beats 11 anos atrás. O modo de assistir, o clima e a visão do mundo, a personalidade, a visão de si próprio… Tudo isso mudou, apenas para citar alguns pontos. O show pode ser exatamente o mesmo, sem tirar nem por, mas eu não sou. Isso permitiu que essa experiência “velha” pudesse ser uma “nova” experiência, e que abriu novas interpretações e sentimentos, agregando novidades à bolota de memórias.

Um exemplo muito claro disso é minha relação com uma das personagens: Na experiência “velha“, lembro de não ter ido muito com a cara da Yui, por ser uma garota extremamente enérgica e que me dava uma impressão ruim. O impacto do passado dela não foi, nem de perto, tão grande quanto na experiência “nova“, onde eu tinha uma mente mais aberta e consegui me solidarizar com a garota.

A conclusão que podemos tirar disso tudo é que eu posso ficar tranquilo, pois os meus shows favoritos (muito provavelmente) continuam sendo meus shows favoritos, mesmo depois de tantos anos. Assim, graças a Deus, não precisarei mais rever uma cacetada de animês. Eu confio no meu eu do passado e nas minhas queridas bolotas.
É uma desculpa a menos para não assistir coisas novas, mas é um preço que estou disposto a pagar.

“Angel Beats” está disponível na Crunchyroll, todos os 13 episódios com legendas em português, e é um animê que eu não poderia recomendar mais. Mas acho que esse ponto já ficou claro, né?

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Resenha | Fate/Zero é uma tragédia sem heróis

Lançado no Brasil pela editora NewPOP no longinquo ano de 2015, Fate/Zero é uma série completa em seis volumes, e que pode não ser a coisa mais nova ou mais popular no momento, mas como será reimpressa ainda esse mês, após alguns anos fora de estoque, achei um bom momento para comentar sobre ela. Isso, e o fato de que eu terminei de ler o negócio só semana passada, mas majoritariamente por causa das reimpressões.

Então vamos começar contando o que é Fate/Zero. Se você está aqui, muito provavelmente já ouviu falar da franquia Fate/, certo? Ela está em literalmente todos os lugares, é quase um negócio insuportável. Eu já fiz uma postagem contando como você pode entrar nesse universo (veja AQUI), e só passando o olho por lá, você vai ver que temos bastante coisa. Fate/Zero, embora seja uma prequel (isso é, uma história que se passa antes da história principal) de Fate/Stay Night, e seja melhor aproveitado dessa maneira, pode servir como uma porta para você adentrar esse vasto e sofrido mundo.

Escrito por ninguém menos que Gen Urobuchi – um dos autores japoneses mais conhecidos no nicho, principalmente por sua adoração por tragédias e incapacidade de escrever um final feliz – Fate/Zero é uma obra que deu todas as oportunidades para seu escritor fazer o que faz de melhor: Deixar todas as suas personagens sofrendo em um inferno cheio de desgraças.

Com ilustrações de Takashi Takeuchi, que, infelizmente, não aparecem no miolo dos livros

Como o título sugere, nessa Light Novel, não temos heróis. Temos apenas uma grande tragédia composta por uma infinidade de pequenas tragédias, cada uma com seu toque especial. Mas afinal, o que é um “herói“? O que é preciso para definirmos uma personagem como “herói“? É uma discussão complexa, mas acredito que aqui, nós passamos tão longe do conceito, que uma definição simples pode servir. Podemos dizer que um herói é alguém que faz coisas boas por bons motivos.

Colocando dessa forma, acabamos levantando outro questionamento: Histórias precisam de heróis? Eles são necessários para que uma trama persevere? Por um lado, uma história “sem heróis“, como é Fate/Zero, pode ganhar pontos ao ser – dentro dos limites da suspensão de descrença – um conto realista: Basta olhar para o mundo que você verá que não existem heróis na realidade. Ao menos, não o suficiente. A quantidade de “não-heróis” é astronomicamente maior. Então, as chances de você conseguir um herói ao fazer um pequeno recorte de pessoas é muito pequena. Uma história sem heróis é, em sua essência, um retrato do mundo.

Daí, entra uma questão pessoal, e que só posso falar por mim: Buscamos na ficção aquilo que não encontramos no mundo real, não é? Se eu quisesse uma tragédia, eu não estaria lendo light novels, eu estaria assistindo o jornal. Acaba sendo uma obra que não é para todo mundo, principalmente nessa época onde não tá fácil pra ninguém. Mas, sempre tem quem goste, né. Fica apenas como recado.

A parte interessante do livro, para mim, foi ver os diferentes tipos de personagens que tiveram suas vidas expostas, e como cada um deles poderia ser um candidato ao posto de “herói da história“. Em especial, quatro delas chegaram mais perto disso: Kiritsugu Emiya, Waver Velvet, Saber, e Kariya Matoh. De uma forma surpreendente, temos quatro pessoas absurdamente opostas.

Mas, como foi dito no começo da postagem, o autor da novel, Gen Urobuchi, não é conhecido por dar “felizes para sempre” à suas personagens. Nenhum dos quatro candidatos consegue alcançar essa vaga, todos terminando com um final trágico, o completo oposto do que seria digno de um herói.

Pelo menos ela tem uma motinha super irada

[spoiler]Começamos com o chamado “protagonista” da história: Kiritsugu Emiya. Ele será o primeiro pois, dentre os quatro listados, é o que precisamos mais forçar a barra para tentar justificar a quase classificação como herói. Afinal, Kiritsugu é um anti-herói, um clássico exemplo da famosa máxima erroneamente atribuída à Maquiavel: que “os fins justificam os meios“.
Esse é um esteriótipo de personagem bastante comum na ficção, mas que normalmente é acompanhado por uma outra personagem ou grupo, que está ali com a função de dar uns tapa na cara do “justiceiro” e tentar botar juízo na cabeça dele. Sem explicar que os fins não justificam os meios; e que ficar buscando por um milagre para resolver todos os problemas que você mesmo causou ao tentar resolver outros problemas é, francamente, um estilo de vida estúpido; Urobochi tenta nos convencer de que Kiritsugu deveria, mesmo, ser o herói da história. Claro que isso não cola com ninguém, e ficamos apenas com uma situação desconfortável por cinco volumes e meio, onde precisamos encarar os ideais do “Assassino de Magos” e fingir que estamos levando-o a sério, quando sabemos que personagens desse tipo nunca terão um final feliz.

Seguimos com Waver Velvet. Desde o princípio, ele é construído como uma personagem que tem as bases para ser um herói: Um jovem “comum” que recebe uma quantidade absurda de poderes e, com eles, uma carga igualmente grande de responsabilidades. A partir daí, a única coisa que falta para se alcançar o posto de herói seria coragem. É necessário coragem para dar o passo adiante, que definirá todo o resto do caminho.
Mas Waver não toma esse passo: Ele prefere se acovardar em sua própria mediocridade – aquela que ele tanto lutou para provar falsa – e acaba se contentando com se tornar uma mera sombra sob o manto de um herói, ao invés de se tornar um ele mesmo. Ao escolher passar a vida perseguindo um vulto inalcançável, ele descarta um possível grande futuro para ter um final trágico e sem esperanças.

Continuamos com a Saber. Você pode estar me olhando torto agora, pensando “mas a Saber É uma heroína!“, e eu preciso concordar com você. Sim, é claro que ela é um heroína. Acontece que, em Fate/Zero, ela não recebe o tratamento de uma heroína, muito pelo contrário.
Sendo uma pessoa majoritariamente boa e com boas intenções, o que Saber busca, na novel, é redenção. Quando nega essa redenção à ela, Urobochi está, na prática, dizendo que o “caminho de reinado” dela – que ela se esforçou para mostrar ser correto para os outros reis – é falho.
O fim trágico de Saber em Fate/Zero é, de certa forma, como o ponto mais baixo em um filme de super-herói, onde temos a segunda metade do filme para fazer o protagonista re-assumir seu papel de herói. Podemos usar “O Homem de Aço” como exemplo: Quando o Super Homem se deixa ser algemado e levado, estamos vendo o pior momento do antes chamado “símbolo de esperança“; mas temos todo o resto da história para que ele consiga “se redimir” com aqueles que decepcionou. O problema é que esse não é o fim da história de Saber, mas é o fim da light novel. A “conclusão” da saga de redenção e heroísmo de Saber acontece em Fate/Stay Night, fazendo com que ela termine não como uma heroína, mas sim, como uma casca vazia do que já foi uma heroína.

Não apenas a capa, como todo o sexto volume da obra serve para mostrar esse ponto: que Saber não está aqui para ter um final feliz

E encerramos nossa lista com Kariya Matoh. Possivelmente a personagem que é, ao mesmo tempo, mais parecido e mais diferente ao primeiro da lista, Kiritsugu. Os dois são pessoas com motivações nobres e que costumam fazer coisas estúpidas para alcançar esses objetivos, mas, enquanto Kiritsugu escolhe sacrificar outros em busca de um ganho coletivo, Kariya escolhe sacrificar a si próprio em busca de uma causa individual.
Ele tenta agir de forma heroica, mas mesmo com uma causa justa e lutando para provar que seu ponto de vista é o certo, ele acaba simplesmente jogando sua vida fora, num final trágico e melancólico. Kariya funciona, de certa forma, como um recado de que a linha entre coragem e burrice é tênue, e que o que faz um herói é saber em qual ponto dessa linha se deve parar. Num caso oposto ao de Waver, o problema de Kariya foi ter ido longe demais.[/spoiler]

Voltando agora aos detalhes da edição nacional, é preciso lembrar que Fate/Zero foi publicado pela NewPOP em 2015. Se você acompanha o mercado nacional há algum tempo, sabe o que isso significa: O livro tem uma quantidade maior do que se gostaria de erros de revisão. É um problema que a editora possuía no passado e que vem melhorando bastante, mas que, infelizmente, não é retro-ativo. As obras antigas ficarão, para sempre, com esses erros.
Durante a leitura, encontrei uma infinidade de problemas de revisão, e me vi corrigindo automaticamente algumas digitações incorretas no texto. Porém, nenhuma delas foi grave a ponto de tornar uma frase ilegível, ou de mudar o contexto de alguma cena. Acaba sendo apenas um inconveniente que atrapalha a leitura, mas não a prejudica.

Créditos do volume 6 da obra

No fim, seja para fãs de longa data da franquia ou para novas pessoas querendo ingressar nela, Fate/Zero é uma Light Novel que faz muito bem o seu papel de entregar uma história trágica e extremamente em sintonia com suas antecessoras.

Você pode comprar os volumes disponíveis da Light Novel na Amazon, enquanto se prepara para as reimpressões: Volume 1 | Volume 4 | Volume 5 | Volume 6.

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Primeiras Impressões | Heaven’s Design Team

Depois de anos escrevendo introduções onde falo que há novos animês sendo lançados com a mesma frequência de sempre, eu acabei ficando sem ideias para começar essa postagem. Mas, assim como a clássica “crônica sobre escrever uma crônica“, podemos ser metalinguísticos de vez em quando.
A questão é que depois de 2020 ter sido como foi, ficar sem palavras nem é tão estranho assim. Pelo menos o ano acabou, e com 2021 parecendo ser mais esperançoso, podemos ao menos fingir que haverá melhora, enquanto nos confortamos com um bom e velho show de humor. E esse aqui é justamente o que você precisa nesse momento!

Baseado no mangá – ainda inédito no Brasil – de Tarako, Hebi Zou, e Tsuta Suzuki, “Heaven’s Design Team” – o show que vamos tratar hoje – te dá logo de cara aquilo que é um dos pontos mais importantes para uma comédia: um clima animado e alto-astral. Embora seja possível (e alguns shows trabalham muito bem com isso), é difícil dar risada quando tudo parece deprimente.
Conseguimos esse clima com uma junção de diversas coisas, que se complementam de forma muito bem pensada: Um visual bonito e caricato no grau certo, com muita cor e liberdade artística (com destaque para Mijo Tanaka, responsável pelo design de cores); Um elenco de personagens divertido e que se completam, tornando toda interação uma interação interessante e com um grau de intimidadade que traz conforto; e uma trilha sonora que intensifica tudo isso (graças a nomes como Hayato Matsuo e Satoki Iida no controle musical).

Tendo como premissa um absurdo, é surpreendente pensar que o animê não é tão absurdo assim. Embora tenha suas eventuais cenas absurdas e que, até então, tiveram um timing decente, o quadro geral do humor do show está mais em quebra de expectativas.
Mas todo humor é sobre quebra de expectativas!“… Bem, sim. A diferença é pensar na quebra de expectativa desde o começo. Ainda é uma quebra de expectativa quando você sabe que a piada é justamente uma quebra de expectativa? Logo de cara você já percebe que tudo vai funcionar na base de incitar você a pensar em um animal, quando a resposta é outro, completamente diferente.

E é aí que entra a parte educacional do negócio. Temos pequenas esquetes ao longo dos episódios que contam algumas curiosidades sobre os animais citados, além de te mostrar uns filmezinhos reais no melhor estilo “documentário do National Geographic“.

Imagem do episódio 3 de "Heaven's Design Team"
Se você morre de saudades de aprender curiosidades de animais ao assistir TV Cultura, esse show é pra você!

Já aproveito o parágrafo anterior para fazer uma comparação impossível de passar batido, pois vai também nos ligar com o próximo ponto: Cells at Work! (Veja também: Primeiras Impressões | Cells at Work!). Ambos são shows com uma pegada extremamente semelhante de humor alto-astral e educativo, e com um início bastante forte. Por serem tão parecidos, é que eu tenho medo de Heaven’s Design Team sofrer do mesmo problema que Cells at Work! sofreu: Cair no marasmo de ser repetitivo demais.

Eu sei que a repetição é o primeiro princípio da comédia, mas como já comentei antes (nessa postagem aqui), a repetição precisa ser feita da maneira certa, ou fica repetitiva demais, e acabamos ficando cansados de mais do mesmo. Foi o que aconteceu com Cells at Work, que fez questão de nos dar uma introdução de um minuto todo episódio antes da música de abertura… Coisa que acontece também com “Heaven’s Design Team”.

Além disso, todo o lance “educativo” pode acabar ficando massante depois de um tempo. Apesar de serem esquetes divertidas e fofinhas, a maior parte das “curiosidades” passadas são coisas bastante comuns e conhecidas. Se você, assim como eu, possui um repertório de “conhecimento aleatório” gigante, os cortes acabam ficando entediantes. Além disso, existe a possibilidade de você simplesmente… Não se importar: Todos nós (ou, pelo menos, a maioria de nós) já saímos da escola, e ninguém tem mais saco para aulas de biologia, né?

Imagem do tema de encerramento do animê "Heaven's Design Team"
Não importa o quão legal seja uma luta de gigantes: Baleia x Lula; Kong x Godzilla… Uma hora, o negócio cansa.

Em resumo, o show me passou uma impressão muito positiva, com um humor amigável e bastante aberto para todos os públicos. A torcida é para que ele não acabe sendo repetitivo e mantenha o embalo até o final, coisa que eu queria muito que acontecesse, mas não estou com muitas esperanças. Porém, o que importa é o que tivemos até então, e até então, o animê fica com um 7/10 e um selo “Sessão da Tarde” de aprovação.

Heaven’s Design Team” está disponível com legendas em português na plataforma de streaming Crunchyroll, com novos episódios toda quinta-feira.

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Torre Recomenda | Animês de 2020

Agora sim, creio que isso seja um evento frequente o suficiente para chamarmos de “tradição”: Todos os anos, as equipes da Torre se esforçam por noites a fio para juntar as três coisas que o brasileiro mais gosta, que são “listas”, “entretenimento” e “confusão”.
A ideia dos “melhores do ano” é de botar o holofote em algumas coisas que podem ter passado despercebidas no meio de um ano agitado (que 2020 foi mais do que o normal, diga-se de passagem). Também serve para demonstrar o quão deslocada e fora do lugar a nossa equipe de animês está do público-alvo deste site. Mas tudo bem!

Esse ano, este que vos digita (Vini) estará acompanhado de ninguém menos que Luiz Alex para te trazer os animês que foram, em nossas humildes opiniões, os cinco melhores de 2020 (com algumas ressalvas).

Redator: Vini Leonardi

5 – BOFURI: I Don’t Want to Get Hurt, so I’ll Max Out My Defense. (Inverno 2020)

Eu já disse que amo comédias? Em quinto lugar, um show do já tãaaao longuínquo mês de Janeiro.
Esse animê foi um caso positivo de quebra de expectativa (e vocês vão ver que isso aconteceu bastante esse ano): Eu imaginei que teríamos um simples show Slice of Life fofinho com garotinhas fofinhas fazendo coisas fofinhas. E, sinceramente? Isso bastaria pra mim. Mas o que eu recebi foi muito mais do que foi prometido. Recebemos um show hilário com uma comédia absurda e nonsense que eu simplesmente adoro. E, como a cereja do bolo, um elenco de personagens carismáticos tanto em design como em personalidade, que conseguiram me cativar em meros 12 episódios.
Estou com muitas saudades da Maple e ficarei feliz de assistir a segunda temporada – que já está anunciada – assim que ela começar.

O show está disponível na Funimation.

4 – Ikebukuro West Gate Park (Outono 2020)

(Contestavelmente) O único título da minha lista que não é uma comédia. O show que se auto-abrevia como IWGP faz parte de um gênero que eu adoro, e que sempre que encontro, decido assistir imediatamente: O mistério urbano. Esse, em especial, trata de um subgênero do mistério urbano que eu gosto ainda mais: O urbano racional, onde os conflitos são intrinsecamente humanos.
Você gosta de guerras de gangue em um centro urbano japonês do início dos anos 2000? Se sua resposta é “sim”, eu não tenho como te recomendar mais esse show.

Apesar de ser totalmente fabricado para apelar aos meus gostos, eu ainda consegui encontrar algo que me surpreendeu na trama: Os temas que seus contos episódicos contam, se considerando a data do material de origem. O show trata de temas complexos como xenofobia e imigração, preconceitos irraigados da cultura japonesa, uso de drogas e prostituição, suicídio e muito mais. Pode não parecer nada de extraordinário nos dias de hoje tratar desses assuntos, mas quando você percebe que o show é uma adaptação de uma série de livros cuja publicação começou em 1998, você entende o quão “ousado” foi Ira Ishida, o autor da obra.

Como comentei, o show é episódico, então você pode pegar apenas o primeiro episódio para assistir, e ver se é o seu tipo de entretenimento. Se não gostar logo de cara, já abandona o barco e parte pro próximo. Simples assim.

O show está disponível na Funimation.

3 – My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom! (Primavera 2020)

Já falei bastante sobre “Hamefura” quando tratei do futuro do isekai. Recomendo a leitura para entender do que o show se trata: O Futuro do Isekai e “My Next Life as a Villainess”.

E, agora que o show já está terminado, tenho ainda um ponto extra a acrescentar, e que fez com que as aventuras de Catarina (que, aliás, espero que esteja tendo um bom dia) ficassem ainda melhores: A história é fechada com uma conclusão extremamente satisfatória. É muito, mas muito raro encontrar shows adaptados de Light Novels (principalmente isekais) que conseguem… terminar. Sempre acabamos com um final em aberto que grita “vá ler o material original” na sua cara. Mas a Catarina é boba demais para fazer isso. Ela te deu um final que é realmente um final, e isso foi o suficiente para me dar uma satisfação absurdamente grande.

As Light Novels continuam depois do animê, e, inclusive, já temos uma segunda temporada anunciada. Mas é um caso onde a história não precisava continuar. Isso, aliás, me dá um pouco de medo do que vem por aí…

O show está disponível na Crunchyroll.

2 – A Destructive God Sits Next to Me (Inverno 2020)

Possivelmente uma das comédias mais tecnicamente perfeitas já feitas na história da humanidade. Eu fiz questão de explicar os motivos por trás dessa afirmação ousada numa postagem: Os princípios da comédia em “A Destructive God Sits Next to Me”.

Entendo que se trata de um show que não faz o gosto de todo mundo, mas tenho certeza que se você, assim como eu, simplesmente adora o absurdo e se acaba de rir com a desgraça alheia, você vai adorá-lo, a ponto de cair da cadeira rindo. Não que isso tenha acontecido comigo… Não… Jamais…

Tendo sido um título de Janeiro, eu passei o ano todo tendo certeza que uma das posições do meu TOP 5 já estava ocupada. E, por grande parte do ano, tive a impressão de que nada – nem ninguém – seria capaz de tirar o título de Koyuki Seri. Porém…

O show está disponível na Crunchyroll.

1 – The Misfit of Demon King Academy (Verão 2020)

Você achou mesmo que ser o melhor animê do ano seria o suficiente para tirar Anos Voldigoad, o Rei-Demônio da Destruição, do primeiro lugar?

Surpreendendo você, eu, e até a minha mãe, o melhor show do ano foi um Harém Escolar Mágico Genérico com protagonista invencível. É um animê que trabalha com expectativas e realidade, e é justamente isso que eu explico no meu mais sincero pedido de desculpas: Expectativas e Realidade em “The Misfit of Demon King Academy”.

Como comentei mais cedo na lista, há controvérsias sobre classificar “The Misfit of Demon King Academy” como uma comédia, pois… Bem… Não temos certeza se a ideia era ser uma comédia ou ser levado a sério. A arte de ser capaz de fazer uma obra que pode ser lida tanto seriamente, como também se fosse uma paródia, e fazer ambas as leituras serem viáveis e plausíveis é de aplaudir de pé.
E a minha forma de aplaudir de pé é dedicando o título de “Melhor animê do ano” para o Rei-Demônio da Destruição, Anos Voldigoad.

Fico com muita expectativa de que façam mais. Eu quero mais! Há muito mais a se explorado! A ser explicado! Muitas frases de efeito cafonas para serem ditas! Por favor, Japão, nunca te pedi nada!

O show está disponível na Crunchyroll.

Redator: Luiz A. Butkeivicz

– Dorohedoro (Inverno 2020)

Adaptando o mangá seinen de mesmo nome, Dorohedoro foi um dos destaques e surpresas desse ano.

Produzido pelo estúdio MAPPA e dirigido por Yuuchirou Hayashi, Dorohedoro é um animê em CGi que se passa na sombria cidade distópica, Hole, onde usuários de magia testam suas habilidades nos seus residentes. Kaiman, um homem misterioso com cabeça de lagarto, e Nikkaido, dona de um restaurante cuja especialidade é o seu gyoza, caçam esses usuários de magia a fim de conseguir respostas sobre o passado de Kaiman. No decorrer da história, conhecemos outros personagens fascinantes como Shin e sua parceira Noi, usuários de magias extremamente fortes e violentos mas também incrivelmente carismáticos, que fazem a trama brilhar ainda mais ao borrar a linha entre protagonistas e antagonistas.

Produzido completamente em CGi, Dorohedoro demonstra, através de cenas de luta incrivelmente brutais e multicoloridas, a realidade cruel, monstruosa, suja e distópica de Hole e que é possível se apropriar dessas técnicas sem quedas de qualidades na animação em comparação com o estilo tradicional 2D.

Dorohedoro é uma recomendação excepcional que se destaca pela sua ambientação fantástica, lutas incríveis e sangrentas e personagens vívidos e carismáticos que, a cada episódio, sempre deixam ansioso para o próximo e com um gostinho de quero mais.

Dorohedoro está disponível em streaming na Netflix.

– Kakushigoto (Primavera 2020)

Uma obra de um dos meus mangakas favoritos, Koji Kumeta, não decepcionou ao trazer Kakushigoto para a tela através do estúdio Aija-Do (Honzuki no Gekokujou) na primavera de 2020.

A sinopse do animê, pela Funimation, diz: “Kakushi Goto é um pai solteiro com um grande segredo. Ele é o artista mais vendido de mangás eróticos populares, e sua filha, Hime, não pode descobrir. Ele tem que rebolar para impedi-la de descobrir neste conto de amor e risos entre pai e filha.”

Ainda seguindo muitos passos característicos do autor desde sua obra anterior, Sayonara Zetsubou Sensei, Kakushigoto cria sua própria marca e é em comparação uma história muito mais linear e pessoal, que a cada episódio traz com extremo sucesso o espectador mais próximo da tela e de seus personagens.

Um slice of life dramático incrível que demonstra o crescimento do autor tanto dentro quanto fora da obra, além de uma ótima introdução – leve e casual – para as obras de Kumeta.

Kakushigoto está disponível em streaming na Funimation.

– Keep Your Hands Off Eizouken! (Inverno 2020)

Do lendário diretor, Masaaki Yuasa (Devilman: Crybaby, Tatami Galaxy), “Keep Your Hands Off Eizouken!” brilhou como ouro desde o seu primeiro episódio ao apresentar uma história hilária e cativante sobre o poder que a animação tem de criar e trazer sonhos à vida.

Midori Asakusa é uma garota com uma grande imaginação sempre perdida em seu sketchbook, enquanto sua melhor amiga, Sayaka Kanamori, é uma calculista que traz Asakusa de volta das suas viagens imaginárias.
Após as duas se encontrarem com Tsubame Misuzaki, as três imediatamente formam uma conexão quando Asakusa e Misuzaki percebem suas paixões pela arte da animação. Movida pelo seu interesse em fazer dinheiro, Kanamori sugere que as três formem o clube de animação com Asakusa desenhando as magníficas paisagens e cenários e Misuzaki os vívidos personagens. A história segue o trio em uma aventura através dos insights e técnicas da indústria da animação em trechos fantásticos que ilustram a imaginação das personagens ganhando vida.

Com diversas indiretas e referências a ícones e obras da indústria, Eizouken é uma declaração de amor que transpira sentimentos de paixão e nostalgia pelo sonho de criar um mundo absurdo e fantástico através do poder da animação; uma declaração compreendida tanto por aqueles que possuem esse sonho como aqueles que cresceram vivenciado as histórias e magias que ela proporciona.

Eizouken é verdadeiramente uma experiência mágica que através de uma direção e animação geniais leva o espectador de volta à infância e nos lembra o esforço e paixão que está por trás das obras que colocam um sorriso em nossos rostos.

Keep Your Hands of Eizouken! está disponível em streaming na Crunchyroll.

– The God of Highschool (Verão 2020)

Numa nova onda de adaptações de manhwa e webcomics, The God of Highschool traz tudo que um shounen de torneio precisava.

The God of Highschool, abreviado GOH, é um torneio nacional de artes marciais livre organizado pelo misterioso Park Mujin, membro da Assembléia Nacional, a fim de testar os lutadores mais fortes da Coréia, conferindo ao vencedor do torneio um desejo a seu alcance. É nesse torneio que o expert de taekwondo Jin Mo-ri, o karateka Han Dae-wi e a espadachim Yu Mi-ra se encontram, cada um seu objetivo para alcançar o título de God of Highschool.

Através de uma animação incrível, o estúdio Mappa traz à vida as sensacionais cenas de luta que definem o animê. Aos poucos o show se distancia do torneio e começa a revelar um plot maior envolvendo poderes divinos que, embora já explicados, devem ser mais explorados futuramente.

Com o manhwa em andamento; a promessa de uma continuação ambientada na China; e ter terminado deixando mais dúvidas do que respostas, o show nos deixa ansiosos para o retorno do trio de Seul.

The God of Highschool está disponível em streaming na Crunchyroll.

– The Millionaire Detective – Balance: Unlimited (Primavera 2020)

Seguindo na linha da comédia e do gênero policial, The Millionaire Detective – Balance: Unlimited foi uma das surpresas ofuscadas da temporada de primavera de 2020, estreando ao lado de Kaguya-sama e Kakushigoto. Entretanto, acabou reluzindo no final das contas e ganhando seu espaço nessa lista.

O animê segue Haru Katou, um mundano detetive guiado pela justiça que após um evento traumático é transferido para a Divisão de Prevenção de Crimes da polícia metropolitana, e Daisuke Kanbe, um playboy multimilionário que ingressa para força policial como parceiro de Katou. Completamente opostos, Daisuke e Haru deverão rever seus valores e trabalhar juntos para chegar a conclusão de um caso enraizado no alto escalão.

É brincando com os estereótipos do gênero mas também explorando a temática do poder ilimitado do dinheiro que “The Millionaire Detective” se faz uma história movida por seus personagens; onde aos poucos, o objetivo é entender o que “justiça” significa para Katou e Daisuke, e como isso afeta seu trabalho como detetives. A discrepância entre os detetives é o que verdadeiramente faz a história do animê brilhar, já que suas diferenças vão muito além apenas da sua metodologia em relação a combater o crime, mas também suas vidas financeiras e personalidades, fazendo com que muitas vezes sua amizade pareça com uma rivalidade.

Com uma excelente dinâmica e interação entre os personagens e extremamente divertido do primeiro ao último episódio, The Millionaire Detective – Balance: Unlimited não chamou muita atenção durante sua estreia mas no fim das contas se destaca como um dos melhores de 2020.

The Millionaire Detective – Balance: Unlimited está disponível em streaming na Funimation.

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Parceria entre Loading e Crunchyroll trará mais de 50 animês para a TV aberta

O recentemente anunciado novo canal de televisão “Loading TV” (@loading52x no Twitter), em parceria com a plataforma de streaming “Crunchyroll“, trará uma gama de títulos de animação oriental para todos os horários da televisão brasileira, incluíndo o horário nobre.

A parceria foi revelada na tarde desta sexta-feira (04), e apenas alguns dos títulos que terão sua exibição na TV foram confirmados. Entre eles, estarão Berserk; GOBLIN SLAYER e dois dos “Crunchyroll Originals“, The God of Highschool e Tower of God.

"Berserk", que fará parte da programação da Loading
“Berserk”, que fará parte da programação da Loading

Além disso, a Loading TV também fará, com exclusividade e em parceria com a Crunchyroll, a dublagens para português de dois títulos: given e 91 Days.

Veja também: Primeiras Impressões | 91 Days

Até o momento, não foi divulgada uma lista completa com os títulos que farão parte da programação da Loading TV, nem a grade horária, ou se haverá outras dublagens além das duas anunciadas.

"given", animê que receberá dublagem exclusiva para o canal Loading
“given”, animê que receberá dublagem exclusiva para o canal Loading

Uma entrevista com o canal de entretenimento JBOX foi divulgada, onde o CEO da Loading TV, Thiago Garcia, comenta sobre a parceria:

Estamos tomando muito cuidado com os animês na nossa programação, não teremos apenas uma faixa, teremos algumas faixas e focadas em diferentes públicos. É claro que para o nosso prime time (18h00 às 01h00) separamos as melhores séries! Como disse, no começo teremos vários programas, com animes diferentes em diferentes blocos com uma galera que conhece muito do assunto.

Na mesma entrevista, Brady McCollum, Chefe das Operações Globais e Internacionais da Crunchyroll, fala sobre suas expectativas:

Estamos extremamente empolgados de poder levar aos fãs brasileiros mais de seus animes favoritos através da nossa parceria com a Loading. Com mais de 3 milhões de assinantes e 70 milhões de usuários registrados, a Crunchyroll esta comprometida com a expansão global do anime, e nossa parceria com a Loading torna-se outro canal pelo qual os fãs podem assistir às séries que mais amam.

Ainda, Anderson Abraços, Chief Experience Officer da Loading, explica de onde surgiu o interesse da parceria:

Procuramos sempre os melhores animes do mercado e a Crunchyroll acertou em cheio com seu selo Originals e com o licenciamento de grandes animes da temporada, então foi natural procurarmos a marca e negociar essa parceria que em breve pode render novos frutos!

A Loading estreia em dezembro, com a proposta de ser a casa das principais comunidades do entretenimento jovem, programação 24/7 multiplataforma, streaming ao vivo, conteúdo on demand sem necessidade de assinatura e transmissão nas redes sociais, TV a cabo e aberta – com a quinta maior cobertura, no canal 32 UHF. Você pode descobrir como assistir ao novo canal através do site.

Fonte: Release de imprensa.

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Um pouco de esperança com “Pretty Cure”

Obrigado por ser um dos poucos que se deu ao trabalho de clicar nessa matéria. Sei que a grande maioria desistiu antes mesmo de chegar aqui. Só de olhar para o título e a imagem, já consigo imaginar os suspiros e viradas de olhos que muitos deram.
E a essa altura, já estou acostumado. E como eu quero terminar essa introdução com uma piada ao invés de falar que isso é puro preconceito, lá vai: Isso acontece pois as pessoas temem aquilo que não compreendem.

"Rate", personagem de Healin' Good Pretty Cure
Como recompensa por ter aberto a postagem, toma: Uma cachorrinha super fofa.

A imagem da capa é do show “Healin’ Good Pretty Cure“, um animê com publico-alvo infantil, sobre garotinhas mágicas lutando contra monstros. E é claro que, como comentado, essa é uma obra feita para crianças, e não estou aqui para tentar negar isso. Pretty Cure é e sempre foi uma série infantil. O que eu quero te convencer é que apesar de ser uma série infantil, ela ainda tem muito a oferecer para um adulto, caso a pessoa deixe o preconceito de lado e dê uma chance para ela.
Esse é um argumento que serve para animês no geral (que, por algum motivo, acaba sempre sendo associado a um produto para crianças, mesmo quando não é), e não apenas para os infantis. Mas dessa vez, vou falar especialmente sobre os infantis, e espero que você entenda o motivo até o final da leitura.

Primeiro, vamos entender qual a função e a importância de um show para crianças para… as crianças. Muitas vezes baseados nas fábulas, temos uma historinha com o objetivo de ensinar uma valiosa lição de moral para os pequeninos. Usando Healin’ Good Pretty Cure como exemplo mais uma vez, temos episódios onde apredemos que a diferença entre os amiguinhos é algo que torna a amizade especial; vemos que o trabalho em equipe pode trazer resultados incríveis; ou até mesmo um incentivo para a prática de atividades físicas. Isso tudo sanduichado entre cenas de ação contra monstros caricatos e sequências de transformação com muito brilho. É um entretenimento saudável pra garotada.

Cena de Healin' Good Pretty Cure, episódio 33
Um show infantil, como Pretty Cure, pode ser educativo para crianças, mas também ter muito valor para um adulto.

Porém, o show também fala sobre perseverança, força de vontade e, principalmente, esperança. Estamos passando por uma época que exige uma garra descomunal, onde muitas vezes temos até mesmo dificuldade para levantar da cama. Nos questionamos quando isso tudo vai passar, se vai passar. Quando as coisas vão voltar ao normal. Xingamos o micróbio maldito e balançamos os braços para o alto como se fossemos velhos rabugentos pedindo para saírem do nosso gramado.

Passamos nosso dia assistindo jornais, lendo notícias e ouvindo histórias de como as coisas estão lá fora, e o que sentimos é que a realidade não tem a capacidade de nos dar aquilo que precisamos para continuar. Mas é algo que podemos encontrar na inocência da infância. Um show infantil como Pretty Cure é um raio de esperança que te faz lembrar das coisas pelo qual valem a pena lutar. Ter uma visão tão otimista e tão encorajadora é algo revigorante, que pode te ajudar a superar essa fase com um pouco mais de magia.
E com lutas iradas no melhor estilo tokusatsu, uma cachorrinha super fofa, e uma capivara rapper.

Batetemoda, personagem de Healin' Good Pretty Cure
É sério. Um dos vilões é uma capivara maligna que canta rap.

Inclusive, talvez como uma enorme ironia do destino, o tema da temporada atual de Pretty Cure é justamente sobre médicos. As garotas lutam contra monstros que são “doenças” e querem “infectar a Terra”. Ao longo dos episódios, vemos um desenvolvimento especial envolvido em um sentimento que é extremamente importante no ano de 2020: A fé na medicina e na ciência.
Mas puxa vida, temporadas novas são sempre planejadas com, pelo menos, um ano de antecedência. Calhar de vir um tema sobre médicos bem num ano de pandemia, ein.

Depois de anos e anos no “limbo” de licenciamento, Pretty Cure pode finalmente ser assistido legalmente no Brasil, e em sua forma integral (Já que tivemos “adaptações” que saíram na Netflix antes, sob o nome de “Glitter Force”). Tanto a temporada atual (Healin’ Good Pretty Cure), como a temporada de 2017 (Kira Kira Pretty Cure a La Mode) estão disponíveis com legendas em português na Crunchyroll.
Dar suporte a essas duas licenças pode abrir caminho para que ainda mais raios de esperança venham no futuro. Afinal, não sabemos quanto tempo essa desgraça vai continuar, né, e as vezes até esquecemos como era a vida antes disso tudo.

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Expectativas e Realidade em “The Misfit of Demon King Academy”

Já fazem alguns anos que escrevo aqui para a Torre de Vigilância, e um dos quadros mais recorrentes que eu participo é o “Primeiras Impressões”. Além de ser um conteúdo – na maioria das vezes – fácil e rápido de produzir, acredito funcionar como um dever cívico para com as pessoas interessadas: É o famoso “eu fiz para que você não precise fazer”.
O ditado diz que “a primeira impressão é a que fica”, e justamente por isso, é um quadro importante: Se o começo for ruim, ou nos passar uma impressão ruim, acabamos nem vendo o final, não é? Isso quer dizer que, na maior parte dos casos, quando decidimos continuar com um show, só existem duas possibilidades: Ou ele se mantém no nível que nos fez querer ficar, ou ele piora.

Por causa disso, é sempre uma gratificante surpresa quando um show resolve ficar melhor do que aparentou ser no início. O que “The Misfit of Demon King Academy” fez, em seus dois primeiros episódios, não chega aos pés do mérito que ele merece. Aparentando ser um simples show de porradinha, eu fui muito cruel e desrespeitoso com ele nas minhas “Primeiras Impressões“. Apesar de manter a porradinha que a gente gostou, ele foi um passo além, e por conta disso, venho me desculpar com essa postagem.

Existem diversas expectativas e esperanças para um “shonen de lutinha”: Você espera uma história simples, extremamente preto no branco, onde os vilões são maus e os mocinhos são bons, e você gasta metade da temporada em um arco de torneio absolutamente desnecessário e que não acrescenta em nada à história. Que história, aliás? É um shonen de lutinha!

Mas é claro que Anos Voldigoad, o Rei-demônio da Destruição, não poderia deixar isso barato. Vocês acharam mesmo que ele teria um show genérico e sem graça, só porque você achou a premissa e a sinopse genérica e sem graça? Com uma história ainda genérica, mas muito bem trabalhada e, principalmente, bastante divertida, nos vemos investidos no mistério do mundo, tentando entender o que aconteceu nos dois mil anos que passaram.

Frases de efeito. Frases de efeito que são uma contradição absurda e só fazem sentido no contexto que elas são ditas. Esse show é maravilhoso.

Muito se comenta sobre “protagonistas invencíveis”, onde qualquer conflito que envolva violência ou força física não traz nenhuma tensão para o espectador: Nunca há uma real chance de os mocinhos serem derrotados, então, aquela luta não tem sentido. Várias obras tentam circunver esse obstáculo ao deixar seu protagonista de lado, e permitir que as personagens de apoio tenham seu tempo no holofote. One-Punch Man faz isso com maestria, sempre dando alguma desculpa para que o patrono do show esteja no lugar errado na hora que precisamos dele. Isso funciona um número de vezes, até você perceber que no final, o protagonista invencível sempre vai chegar e resolver o problema.

A forma que “The Misfit of Demon King Academy” encontrou de resolver esse problema é interessante: Fazendo o conflito principal não ser uma batalha de forças, mas uma batalha de ideais. Afinal, como já comentamos, não haveria história alguma se o problema pudesse ser resolvido na base da porrada. Nem mesmo o todo-poderoso Rei-demônio da Destruição pode derrotar mil anos de racismo sistêmico. Pelo menos, não em uma noite.

Porém, acredito que o maior mérito do show seja no seu caráter genuinamente misterioso. O grau de absurdo do show atinge níveis estratosféricos logo no primeiro episódio, te dando a impressão de que aquilo não passa de uma descarada paródia, afinal, não há como algo assim ser sério… né?
Depois de alguns episódios, você percebe a seriedade com que tudo é tratado, mesmo quando estamos tratando de coisas ordens de grandeza piores do que deveria ser permitido. Você fica sem saber dizer se a intenção era ser uma paródia ou era ser levado a sério, e, pra mim, esse é um efeito mágico que só pode ser alcançado com completa maestria sob a escrita. Não é fácil fazer algo assim, que pode ser interpretado de ambas as formas e te deixa irritado não importa qual delas você resolva adotar. O animê realmente merece os parabéns.

Ele tem a PACHORRA de mandar um “estava usando meros 10% do meu poder” na metade da temporada. E fala isso com a cara mais séria do mundo. Sinceramente…

Outra coisa que precisa ser comentada é sobre o aspecto técnico do show. Mais uma vez, temos uma impressão de que animês “como esse” tendem a ser mal produzidos, tendo animação desajustada, direção porca e coreografia desanimadora. Embora seja verdade na maior parte dos casos, “The Misfit of Demon King Academy” nos mostrou, outra vez (já é o quê? A terceira vez? Só nessa postagem?), que nem tudo deve ser levado apenas por impressões.
A animação, do estúdio Silverlink, é belíssima e se mantém consistente ao longo de todos os treze episódios; a direção, do dueto Shin Oonuma e Masafumi Tamura, fez jus à complexidade da obra e conseguiu torná-la ainda mais marcante; e a coreografia tornou cada luta em um espetáculo digno de um season finale.

A grande lição que temos que tirar disso tudo é que julgar um livro pela capa etc etc etc. Já conhecemos o ditado, né? De verdade, a lição que fica é sobre expectativas e como o resultado se compara a elas. Eu acabei adorando “The Misfit of Demon King Academy” pois fui com a expectativa mais baixa do mundo, e me deparei com um resultado surpreendentemente acima do que esperava. Isso fez com que minha visão da obra fosse um enorme sorriso. Quando você espera um 2/10 e consegue um 6/10, ele parece muito melhor do que um 6/10 que parecia ser um 9/10. Na prática, o show é um 10/10 no meu coração, que me divertiu horrores por toda sua exibição e provavelmente liderará a minha lista de melhores do ano, para semear ainda mais caos por lá.

Encerro pedindo desculpas ao show, e desculpas A VOCÊ, leitor, que agora vai assistir o animê com uma expectativa super alta e vai se decepcionar. Foi mal.

“The Misfit of Demon King Academy” está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, com todos os 13 episódios com legendas em português.