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Os princípios da comédia em “A Destructive God Sits Next to Me”

Escrito por Vini Leonardi

A cada três meses – em situações normais, pelo menos – nós somos inundados com toneladas e toneladas de novos animês. E toda temporada temos que passar pela mesma história: tem aquele show absurdamente popular; os dezessete isekais que parecem ser sempre a mesma coisa; aquele um isekai que faz sucesso mesmo assim; diversos títulos que nos fazem questionar a racionalidade da humanidade; e, é claro, aqueles shows que ninguém assistiu, e você fica revoltado pois ele foi o melhor da temporada mas “puxa vida ninguém viu essa porcaria?!”.

No começo do ano, quando o mundo ainda era mundo, tivemos a temporada de janeiro seguindo o roteiro à risca. E eu, particularmente, fiquei revoltadíssimo com a baixa repercussão de um dos shows mais engraçados não só da temporada, como dos últimos anos. “A Destructive God Sits Next To Me” deu uma aula de comédia por doze semanas seguidas, ao não só respeitar como doutrinar sobre os três princípios da comédia.

Inclusive, vou quebrar minha regra de usar “os três princípios da comédia” como piada no final de postagens, e irei comentar sobre elas de verdade, dessa vez. Como vocês sabem, o primeiro princípio da comédia é a repetição. E é justamente ela que faz o humor do show. O protagonista, Koyuki Seri, está lidando sempre com o mesmo problema, e o próprio animê reconhece e abraça essa repetição, usando ela para manter a piada rolando, e fazer meta-piadas com o próprio senso de ridículo que toda essa situação representa.

As ‘mortes’ de Koyuki ao longo da série representam aquilo que meu professor de teatro sempre me disse: “a verdadeira comédia é a desgraça alheia”

Seguindo o nosso cronograma, o segundo princípio da comédia é a repetição. E normalmente é aqui que a maioria das comédias fracassa. Eles conseguem seguir o primeiro princípio, mas acabam repetindo a mesma coisa e isso acaba ficando chato. É o clássico “a piada ficou velha” e perdeu a graça. Eu já perdi a conta de quantos animês tiveram dois ou três episódios maravilhosos, só para cair no mais do mesmo pelo resto da temporada. A chave para o sucesso do nosso show nesse quesito está, na verdade, no próximo ponto.

Pois é, como você deve ter imaginado, o terceiro princípio da comédia é pegar o público desprevenido. Quando você já sabe o que esperar, a comédia perde o efeito. Em “A Destructive God Sits Next To Me”, esse princípio começa a tomar efeito antes mesmo de você assistir. Dê uma lida na sinopse do show, olhe com bastante atenção para a imagem de capa, e me diga com sinceridade: você daria algum trocado pra isso? A resposta mais honesta é que não. Eu também não dei. E justamente por não esperar nada dali que tudo se torna ainda melhor.

A sinopse, aliás, retirada da Crunchyroll: “Koyuki Seri é um estudante do colegial com propensão para mandar tiradas bem ácidas… E ao mesmo tempo, ele odeia quem merece receber essas tiradas! Para sua infelicidade, ele atraiu a atenção de Hanatori Kabuto, que sofre de delírios de grandeza. Seri promete a si mesmo que não vai comentar as extravagâncias de Kabuto, mas ele não consegue se conter. E pra piorar, outros sujeitos anormais estão se aproximando dos dois… Está começando uma comédia colegial que vai te fazer rir de montão (e te encantar um pouquinho, também!

Um ponto a mais que preciso acrescentar sobre o terceiro princípio é a maestria com que ele é utilizado. Com o passar dos episódios, você começa a entender como o show funciona, e começa a pensar que sabe o que está acontecendo. Mesmo quando você sabe que algo absurdo vai acontecer, mesmo estando preparado para o pior, o animê ainda consegue te pegar com as calças arriadas. Sério, é inacreditável, eu sinceramente não faço a menor ideia de como eles conseguiam se superar toda semana, mas conseguiam. Quando eu achava que não tinha como ficar mais absurdo, eles iam lá e me provavam errado.

E se isso tudo não fosse o suficiente, a parte técnica é de uma qualidade surpreendente. Não só contando com uns dubladores que parecem ser mais areia do que o caminhãozinho do show pode carregar (Takahiro Sakurai, Jun Fukuyama e Ai Kayano, só para citar alguns), ainda temos uma direção que criou alguns dos aspectos visuais mais geniais do século (agradecimentos a Atsuhi Nigorikawa!).

A arte e animação do estúdio EMT², que já foi comentado por mim antes, quando tratamos de Assassins Pride e Renai Boukun, quebrou minhas expectativas (hah!) ao ser muito mais consistente do que tem qualquer direito de ser… É um show que, poupando termos técnicos que agradam poucos, mostrou serviço e botou o pau na mesa e conseguiu seguir firme com seus próprios pés.

Desculpe, mas se você não vê que isso é praticamente A MONA LISA MODERNA, eu não tenho mais nada para falar com você

Claro que, agora que sua expectativa tá lá em cima, você vai chegar e acabar se decepcionando. Faz parte. Pra mim, só de você ter visto o que eu julgo como sendo um dos candidatos a melhor animê do ano, já estou de barriga cheia. Se depois disso tudo, você quiser dar uma chance para “A Destructive God Sits Next To Me”, o show está disponível na íntegra, com legendas em português, na Crunchyroll.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.