Categorias
Entretenimento Serial-Nerd Séries

Space Force falha em sua decolagem até encontrar o tom certo

Em 2018, o presidente americano Donald Trump anunciou a criação de um programa espacial. Entretanto, o projeto não foi bem recebido pelos americanos, muitos consideravam a ideia ridícula e logo o assunto se tornou piada. Pois bem, diante disso, a premissa da série – lançada nesta sexta-feira (29/05) na Netflix – é justamente ser uma sátira da Força Espacial criada pelo presidente, comandada pela dupla responsável por The Office, Steve Carell e Greg Daniels.

Em Space Force, acompanhamos o general Mark Naird (Steve Carell) na missão de comandar o mais recente programa espacial americano que tem como principal objetivo levar o homem novamente para a lua até 2024, ao mesmo tempo que precisar lidar com seus problemas pessoais. Junto com o general, temos em sua equipe o Dr. Mallory (John Malkovich), o Dr. Chan (Jimmy Yang) e a Capitã Ali (Tawny Newsone).

Space Force: Veja a terrível piada que série da Netflix conta

Bem, Steve Carell interpreta novamente Michael Scott em uma versão militarizada servindo como uma crítica perfeita ao estereótipo do patriota americano. Enquanto isso, John Malkovich é seu equilíbrio na trama – um prefere explodir coisas e o outro tem a ciência como base. Os dois astros sustentam a série em grande parte dos episódios, enquanto o restante do elenco não apresenta o desenvolvimento necessário e acaba sendo ofuscado por ambos.

A série tenta desenvolver o lado pessoal de Naird ao mesmo tempo que desenvolve sua função no programa espacial, o que cria uma confusão na metade da temporada, até conseguir desenvolver apenas um lado da vida do general. Por sorte, Carell e Malkovich conseguem carregar a série nas costas e salvar grande parte da primeira temporada. Infelizmente, Lisa Kudrow se torna apagada por conta dessa confusão toda.

Além disso, o grande problema da série é sua falha inicial consistindo em seis episódios sem graça e monótonos, mesmo que tenha seus momentos. A partir do sexto episódio, a série consegue engrenar e mostrar um pouco do seu potencial desenvolvendo melhor a trama e os personagens inseridos nela. De certa forma, temos a impressão de que a série começou apenas a partir de sua metade, mostrando que apresenta potencial para uma segunda temporada.

Space Force' Season 1 Netflix Soundtrack: Every Song Featured ...

O interessante aqui é notar como as críticas são feitas de forma correta, seja com uma piada a respeito do terraplanismo ou com as atitudes que o general Naird toma durante a narrativa. Space Force se diferencia bastante de The Office e quem espera ver a mesma comédia em ambas as séries, sairá frustrado. O projeto é uma coisa nova e tem seu mérito, entretanto precisa de mais uma temporada para se provar definitivamente.

Em suma, Space Force falha em sua decolagem inicial até encontrar o tom certo de narrativa a partir do sexto episódio – mostrando que a série apresenta potencial para boas temporadas futuras. Vale lembrar que The Office também precisou de mais duas temporadas para engrenar de vez e quase foi cancelada em sua primeira, então vale a pena passar pelos seis episódios iniciais da série e concluir sua primeira temporada, onde cada episódio leva em média 30 minutos cada.

Nota: 2.5/5

 

Em Space Force, o cotidiano de trabalho dentro da Força Espacial, a sexta grande divisão das Forças Armadas dos Estados Unidos. Todos os dias, eles precisam “defender os satélites de ataques”, “executar outras tarefas relacionadas ao espaço” e outras coisas que não fazem ideia.

https://www.youtube.com/watch?v=Au7rXMuzYQQ

Space Force já está disponível na Netflix.

 

 

 

Categorias
Serial-Nerd Séries

Arremesso Final e a Construção Esportiva e Cultural do Mito Chicago Bulls

 “Que horas são? É hora do jogo!”

Imagina que você é dirigente de um time pentacampeão? Imagina que você é dirigente de um time que tem simplesmente o melhor jogador de todos os tempos? Imagina que você é dirigente de um time que se torna um marco máximo do esporte e da cultura mundial? Agora imagina que você decide desmontar esse time e avisa para o seu técnico no início da temporada? Essa foi a ideia do gerente geral do Chicago Bulls, Jerry Krause.

Partindo do principio do desmanche, Arremesso Final, Last Dance no original, a série documental sobre o lendário time da década de 90 do Chicago Bulls, apresenta um dos pilares daquela década. Um pilar que envolveu esporte, cultura pop, marketing esportivo, polêmicas, recordes e Michael Jordan. Com direção de Jason Herir, a série é uma co-produção da ESPN com a Netflix  tem como dois pontos que devem ser muito destacados: a qualidade jornalística e por não esconder, digamos, nenhum “podre” de ninguém. Nem do ídolo Michael Jordan.


Ao longo de dez episódios somos bombardeados em uma incessante viagem em tempos distintos. A linha temporal é contada de forma não linear, mas de muito fácil entendimento. E sim, temos mais de um documentário dentro de Arremesso Final. A série fala sobre a fabulosa última temporada do lendário time do Bulls, com todos os seus conflitos, mazelas, dores, alegrias etc. Ela fala de como esse mesmo time foi importante para a globalização do NBA. A série fala sobre Michael Jordan.

Destrinchando com maestria a vida do maior jogador de basquete de todos os tempos. Arremesso Final destila toda trajetória de como ele foi eleito cinco vezes o jogador mais valioso da NBA, de como foi o maior pontuador em um único jogo (com 69 pontos) e cestinha máximo durante 10 temporadas. Acompanhamos um menino Michael Jordan, que saiu de terceira opção do Draft de 1984, para lenda máxima do esporte. Mas não somente no basquete. Jordan foi, ou ainda é, um ícone da cultura. Da moda. Da perseverança. Momentos de sua carreira dão excelentes cases de sucesso em palestras motivacionais que se espalham por aí. Ele criou tendências influenciando não somente uma geração de atletas, mas também na moda com os tênis Air Jordan. Protagonizou a super produção da Warner Bros., Space Jam – O Jogo do Século e se tornou uma das personalidades mais famosas e importantes de todos os tempos.

Scottie Pippen, o técnico Phil Jackson e Michael Jordan.

Mas as suas polêmicas e jeito duro também são mencionados durante Arremesso Final. De como apesar de muito querido por boa parte dos jogadores, ele era uma pessoa altamente competitiva. A ponto de magoar seus companheiros de equipe em assédios morais em treinamentos e jogos. Momentos de vulnerabilidade a perda do pai e o vício por jogos são contados minuciosamente. E a série não esconde isso. O próprio Jordan, em depoimentos sinceros ao longo dos episódios, relata cada um deles. Inclusive depoimentos rancorosos. Que aos 57 anos, o atleta ainda os guarda. Como no momento em que ele chama Scottie Pippen de egoísta, por este forçar sua saída do Chicago Bulls por receber um salário menor. São momentos que poderiam desconstruir o mito. Mas muito pelo contrário, só fortalecem. Impossível não terminar a série gostando ainda mais dele. Querendo consumir mais leituras ou filmes sobre ele. Ou simplesmente assistir um jogo do Chicago Bulls daqueles gloriosos anos.

Arremesso final tem sua dose dramática que se eleva em diversos momentos. O décimo e último episódio é o melhor. Quando relata sobre a sofrida série de seis jogos finais contra o Utah Jazz, onde os jogos finais são apresentados como um épico do estilo Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei. Onde todos os personagens estão já exauridos, praticamente se arrastando, tirando forças sabe-se lá de onde, e mesmo assim estão indo para um último objetivo maior, para uma última e melhor dança. É praticamente impossível não ficar nervoso com a construção que a direção deu ao último episódio. Mesmo sabendo da história, é como estar dentro daquele estádio lotado.

Mas Arremesso Final constrói bem todo épico mitológico do Chicago Bulls pelos seus campeonatos. Ele vai cutucando cada mazela de seus jogadores. Sem nenhum pudor de falar da insatisfação de Scottie Pippen, das loucuras de Dennis Rodman e da obsessão de Michael Jordan com o topo e a vitória sempre. Muitas vezes vemos a narrativa da série, transformar “personagens” em vilões. E de uma hora para outra se tornarem heróis. É uma série que agrada quem gosta de basquete e viveu a Bulls-Mania e também agrada e prende quem não gosta do esporte. Os depoimentos dos jogadores, do técnico Phil Jackson, de adversários, os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton, familiares e de profissionais da imprensa esportiva abrilhantam a série. O que só eleva ainda mais o Chicago Bulls daquela época.


Arremesso Final, é obviamente uma série que conta a vida e carreira de Michael Jordan. Mas ela constrói é como o time chega ao ponto de se tornar um marco cultural e esportivo. Vamos lembrar que era uma década em que a internet dava seus primeiros passos. Não existiam os celulares poderosos, as redes sociais nem nada do tipo que pudesse compartilhar com outros países e se tornar viral uma imagem de time vencedor. O que esse Chicago Bulls fez foi entrar para a história pelo basquetebol. Michael Jordan, apesar de ser uma personalidade midiática, não tinha um aparato como Instagram para se promover. Suas clicadas e curtidas não eram com atrizes famosas ou festas badaladas. E sim com suas enterradas, performances e determinação nas quadras.

Arremesso Final é uma das séries documentais mais bem produzida de 2020. Uma série que não tem medo de desconstruir um mito, assim como ela não tem medo de elevar para um patamar maior. Para quem não teve a oportunidade de assistir nada daquele Chicago Bulls, é uma excelente chance. Para quem teve chance der assistir, quando chegava aqui no Brasil, assim como esse que lhe escreve, é uma chuva de lembranças. De boas lembranças.

Categorias
Serial-Nerd

Terceira temporada de Westworld mostra desgastes, mas mantém qualidade

“Dolores foi feita com uma sensibilidade poética”, afirma Bernard (Jeffrey Wright) em certo momento do sétimo episódio dessa nova temporada. Divertido notar a sutil semelhança que esta frase guarda com o como Westworld fora concebida: uma série com uma sensibilidade poética. Isto é, a forma de trazer assuntos tão presentes no gênero da ficção científica mais sofisticadamente. Sendo assim, fica óbvio entender a construção de um mundo que dialoga tanto com o western, representando a dissociação entre a evolução tecnológica e a simplicidade humana; afinal, em um futuro onde prédios parecem raciocinar sozinhos, quem iria optar pelo mundo do oeste? Aliás, os anfitriões do parque, que representam um dos marcos mais importantes da relação entre humanos e tecnologia, foram criados por um homem culto e ambicioso, atraído pela arte, que buscava em suas criaturas muito além da pura diversão perversa. Estes exemplos, entre outros, representam como Westworld tratou de sensibilizar sua abordagem à histórias que poderiam soar previsíveis e clichês.

Agora, o cenário que antes nos aproximava da humanidade, é substituído pelo ambiente pautado pela tecnologia. O mundo real parece menos real do que dentro do parque recreativo criado pela Delos; há um tom ameaçador nas arquiteturas rebuscadas e detalhadas dos prédios e monumentos, o elemento humano é pouco presente e quase desaparece nas cidades, a representação perfeita da ínfima relevância que o fator humano tem em um cenário controlado, onde o artificial e o real se confundem. Essa aproximação à estética cyberpunk cria um contraste interessante com o que vinha sendo o padrão de Westworld. Contudo, a luta de Dolores se mantém a mesma.

Dolores é a figura feminina mais bem trabalhada nas produções audiovisuais recentes. Embora a sua busca por emancipação esteja em um contexto amplo da consciência, e não puramente social, é notável ver como o protagonismo feminino da série cutuca assuntos atuais. Após anos tendo sido imposta a narrativas diversas, arquitetadas, tendo seu comportamento moldado e constantemente supervisionado, a sua vida no mundo real parece ser libertadora. Não há mais cordas e amarras, sua batalha será trilhada por si própria, e o objetivo de criar uma revolução sem precedentes é o grande foco da temporada. Enquanto nos habituamos com o novo cenário e alguns novos personagens, acompanhamos o desenrolar do plano de Dolores e entendemos gradualmente as intenções pouco óbvias da personagem. Esse mistério acerca da trama de Dolores nos deixa inquietos com uma indignação razoável: até onde valeria a luta pela nossa independência? Talvez a resposta seja cruel demais.

Além disso, o figurino de Dolores dá preferência a roupas mais escuras – distanciando-se do vestido azul predominante no parque -, refletindo o raciocínio da produção, que busca diminuir a aparência humana no cotidiano das cidades. Com o estilo pautado nas temáticas da história, o desenvolvimento da protagonista ganha volume e seriedade com a incrível atuação da Evan Rachel Wood, que já vinha de um trabalho fabuloso nas últimas temporadas, mantendo a expressividade dúbia que a carrega emocionalmente, e acompanhando o amadurecimento de suas convicções, estas, que colocam Caleb (Aaron Paul) na jogada.

Caleb é um ex-soldado do exército americano, onde sofreu perdas irreparáveis. Se o compararmos com qualquer outro arco de Westworld, é o personagem que mais se distancia dos eventos ocorridos no parque.  Entretanto, é parecido com tantos outros do gênero, melancólico e isolado, além de guardar experiências traumáticas providas pela guerra civil que participara. Aaron Paul, prestigiado após Breaking Bad, mantém o nível – sempre alto – das performances do elenco, mesmo que a direção não consiga acompanhar as reviravoltas o envolvendo.

A participação de Caleb adiciona um contexto político e militar pouco aproveitado nas temporadas anteriores, e Serac (Vincent Cassel), assumindo o papel do “antagonista” (entre aspas, já que Westworld nunca propôs lados definidos, deixando o espectador julgar livremente as ações – discutíveis – de todos os envolvidos), amplia o tema para a influência do corporativismo na política mundial. Qualquer mundo cyberpunk tende a mostrar empresas privadas manipulando as políticas públicas em prol de seus próprios interesses e convicções. As redes de dados se tornaram arma fundamental para a prática do imperialismo das empresas, espalhando zonas de domínio com imposição de poder. E, se os dados providos pela Delos, ao estudar seus integrantes, tinham destinos pouco compreendidos por um momento, o que descobrimos sobre eles é completamente sórdido.

Serac também tem um panorama emocional profundo e bem detalhado. Apesar de apresentar certos clichês do “empresário malvado”, o seu passado meio obscuro e relatado em alguns flashbacks – e a possível guerra química ocorrida na França poderia ser explorada adiante -, ajudam a compreender as ações dele. Ademais, é responsável pela construção da inteligência artificial Rehoboam, capaz de, através de dados e estatísticas, projetar a narrativa de vida de qualquer ser humano. O que, certamente, impacta na liberdade individual do mundo (real?).

Mesmo com novos integrantes, Westworld tenta manter sua identidade com Maeve (Thandie Newton) e Bernard. Ambos ainda estão muito conectados com as vidas nos parques, e, de certo modo, precisam tomar atitude e escolher um lado na luta de Dolores. Infelizmente, Maeve é bem subaproveitada, enquanto fora um dos pilares da segunda temporada, aqui é só uma ninja que pouco compreende o porquê de estar lutando. Bernard idem, já que se transporta de locais com uma facilidade absurda e pouco agrega narrativamente. Contudo, nem todos os personagens já conhecidos pelo público são subaproveitados. Charlotte Hale, interpretada por Tessa Thompson, revela a dificuldade de conciliar seu comportamento ao estilo de vida da contraparte humana. As consequências severas dos atos de Hale irão refletir nos próximos anos.

William, interpretado magistralmente por Ed Harris, é o melhor personagem, com o melhor arco, da terceira temporada. Depois de passar duas temporadas tentando compreender a rebuscada história arquitetada pelo Dr. Ford (Anthony Hopkins) e Arnold, o Homem de Preto precisa entender a si próprio, combatendo seus demônios internos – entende-se como suas versões antigas. William nunca se encontrou na realidade, entendendo que o parque era o que mais o aproximava da vida, ao mesmo tempo que almejava a destruição dos anfitriões e o fim do labirinto de Arnold. Como um pequeno anfitrião, reprodução de um Dr. Ford criança, profetizou, o jogo encontraria William, que assume o papel do Homem de Branco, aquele que salvará o mundo da ameaça artificial.

A transformação do Homem de Preto e as reviravoltas de Caleb, contudo, são um pouco prejudicadas pelos mesmos responsáveis por deixar tantos personagens subaproveitados: diretores e roteiristas. O primeiro parágrafo fala, justamente, sobre a sutileza poética de Dolores e de Westworld, e o que vemos nesse terceiro ano é o desgaste dos responsáveis criativos. Em busca pela maior linearidade da história – requisitada por muitos, após episódios que abordavam linhas temporais diversas e que, em certo momento, se entrelaçavam – o roteiro força momentos que aparentam ter revelações bombásticas, ou sínteses dignas de um Pulitzer, mas que, na verdade, apresentam frases clichês e excessivamente expositivas. Enquanto, na direção, vemos uma narrativa apressada e deslocada – a pós-crédito é exemplo disso -, não conseguindo imprimir ritmo e tom harmônicos, atrapalhando a coesão e certas construções de personagens.

Nessa terceira temporada, o que vemos é a busca pela linearidade afetando a estética narrativa, trunfo de Westworld. Embora ainda mantenha ótimos personagens, tramas emocionalmente eficientes e um futuro promissor, há um notável desgaste na criatividade e na sensibilidade. Buscar novamente a essência de uma história que discute humanidade e consciência através da ficção, da perversão, da política e da arte, deve ser o objetivo principal dos criadores. Esse resgate trata de reconhecer a importância dos temas levantados por Westworld, comprovada na imagem sutil da abertura: uma mão artificial tocando um piano, até deixá-lo tocando sozinho. Existe maior representação de livre arbítrio do que essa?

Categorias
Serial-Nerd

Quinto ano de Better Call Saul atinge o nível de Breaking Bad

Better Call Saul é incansável. Embora a história de Saul Goodman (Bob Odenkirk) pareça estar chegando ao seu final, isto é, seu início em Breaking Bad, os criadores Vince Gilligan e Peter Gould continuam a construir personagens e subtramas complexas. Em contrapartida das outras temporadas, a quinta demonstrou um nível de tensão e preciosismo técnico nunca visto antes, e, por conta disso, estabeleceu uma aproximação aos personagens da mesma forma que fomos nos aproximando de Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (AaronPaul). Se, na temporada anterior, Mike (Jonathan Banks) e Saul tinham se tornado aquilo que seriam por anos, nessa, Kim Wexler (Rhea Seehorn) toma para si sua transformação, e Lalo Salamanca (Tony Dalton) se impõe como um dos maiores “antagonistas” do universo Breaking Bad.

Foi a primeira vez que vimos Saul Goodman dar as caras na série. Depois de Jimmy McGill viver sempre à sombra de seu irmão Chuck (Michael McKean), contando fracassos na sua vida jurídica, sua transformação em Saul revela um homem renovado e corajoso para tomar qualquer atitude que fortaleça a sua imagem como advogado dos mais necessitados. A dinâmica dos julgamentos, das negociações de casos e da abordagem para com a clientela criam um ótimo início de temporada. Bob Odenkirk entrega sua performance ressoando quase que por completo sua atuação em Breaking Bad; audacioso, manipulador e sensacionalista. O caso do banco Mesa Verde, especificamente, tratou de trabalhar a figura de Saul Goodman como um manipulador de narrativas e casos, fortalecendo a figura inescrupulosa do personagem. Entretanto, a série desenvolve dilemas morais que colidem com os seus interesses, flertando com um lado mais humano e sentimental que permanece em seu consciente.

Enquanto isso, Mike vive um conflito interno depois do assassinato que cometera no final da quarta temporada. Sua indignação e incômodo com os negócios envolvendo Gustavo Fring (Giancarlo Esposito) criam a tensão perfeita, acrescentado emoção ao terço inicial da temporada. A relação com sua neta e a viúva de seu filho mantém o lado dócil do personagem, mas a abordagem é menor comparada às outras temporadas. O principal arco dele está ligado ao personagem de Nacho Varga (Michael Mando), que está infiltrado na família Salamanca a mando de Fring.

Já Kim Wexler surpreende por transmitir características e ambições semelhantes aos de Goodman. Se nas temporadas passadas a personagem mantinha uma ética profissional intacta, preocupada com as estratégias um tanto quanto criminosas de Saul e comprometida fielmente com os seus casos jurídicos, agora ela foi desenvolvida como se tivesse se transformado no oposto disso. Kim se torna cúmplice das ações do namorado, e acaba se envolvendo parcialmente em suas decisões duvidáveis.

O núcleo da família Salamanca é o que tem de mais interessante na quinta temporada. Composto principalmente por Nacho Varga e Lalo Salamanca, a família do cartel mexicano já é velha conhecida dos fãs deste universo, mas guarda uma potencialidade nunca antes exibida. Os dois administram os negócios dos Salamanca na região, enfrentando a concorrência e os diversos planos arquitetados por Gustavo Fring. A espionagem promovida por Varga carrega as cenas entre ele e os mexicanos de tensão absoluta. A opção da direção de fotografia  por planos fechados, que retratam as expressões de insegurança e nervosismo, como também marcam os olhares dos personagens, sempre sombrios e misteriosos, montam cenas a partir do perigo iminente existente nos trabalhos dos cartéis. Embora Breaking Bad aborde de maneira excepcional os mecanismos da máfia, Gilligan parece ter refinado ainda mais sua abordagem para com os detalhes do tráfico de drogas.

A partir dessas pequenas explicações, entende-se que a série tem pernas próprias há um bom tempo. Antes havia uma sombra de Breaking Bad que incomodava, e que poderia ser determinante para comprometer a qualidade da série, mas Gilligan e Gould entenderam que a submissão ao material fonte seria um tiro no pé – na verdade, na cabeça. O que se vê é uma história com uma identidade temática e visual própria e autêntica. Os núcleos se desenvolvem individualmente e coletivamente, culminando em um terço final que esbanja qualidade técnica, da direção a atuação. Com os personagens plenamente desenvolvidos, ainda que guardem surpreendentes reviravoltas, quando todos contracenam juntos estabelecem uma química tão perfeita e inacreditável, que o resultado é simplesmente a superação em relação a Breaking Bad.

Quando assistia os episódios, sempre estava à procura de alguma referência a Breaking Bad. A cada início havia o despertar de uma nova esperança que algum personagem da série principal fosse aparecer – e isso acontece, já que Hank Schrader (Dean Norris) aparece para matar as saudades -, afinal, Walter White e Jesse Pinkman marcaram uma geração na televisão. Contudo, as subtramas e os conflitos de interesse de Better Call Saul juntando com as atuações de alto nível e as mentes criativas de Gilligan e Gould me fazem esquecer de possíveis conexões com a trama original. Óbvio que se espera essa ligação entre as séries, mas a narrativa do spin-off é, inegavelmente, única e independente.

O terço final da série realmente se destaca dos demais episódios, não só pelo ritmo intenso, mas também pela preocupação em deixar alguns ganchos para a sexta e – já confirmada – última temporada. O antepenúltimo episódio, gravado quase inteiro no deserto, coloca os protagonistas em momentos de opressão psicológica e de reflexão moral. Depois, o penúltimo traduz as consequências dos atos dos personagens e encerra com uma das cenas mais tensas do ano na televisão, culminando na melhor performance de Kim – que ganha a série para si. Chegando ao último episódio, temos a exploração visceral da violência, que era mais implícita nas passagens de tensão do que uma verdadeira exposição de sangue e mortes. Em relação  aos ganchos construídos, fica evidente o desafio que será para encerrar os arcos de Better Call Saul, que, ao mesmo tempo, deverá entregar a ponte entre sua história e Breaking Bad.

Better Call Saul, assim sendo, é indiscutivelmente uma das melhores produções anuais da televisão. Saber quem era Saul Goodman antes da fama parecia ser o trunfo da história, mas, ao nos aproximarmos cada vez mais do final, percebemos que a conjuntura que envolve todo o universo de Breaking Bad antes de Heisenberg é mais rica do que pensávamos, e merecia uma narrativa densa e bem construída como essa. Que bom que Gilligan e Gould perceberam isso.

Categorias
Serial-Nerd

Hunters consegue tocar na ferida com humor negro e diversão setentista

”Passei trinta anos infiltrado neste lixo de país. Clubes de striptease em Washington, bastidores do Senado, o Salão Oval. E agora, semanas depois do nosso avanço, acha que eu deixaria tudo ir água abaixo por uma judia miserável? Criei problemas desnecessários? Claro. Mas o Tio Sam não suspeita de nada. Eu poderia marchar que nem um nazista na frente do congresso americano que eles nem ligariam. Estes tolos estão ocupados demais achando que seu povo é o inimigo. Tornaram-se cegos para nós. Bota a culpa em um negro que você se safa de qualquer coisa nos EUA.”

Biff Simpson.

Amazon Prime não poupou esforços para mostrar um roteiro carregado de humor negro num nível tão ácido, que após o telespectador rir durante alguns segundos, para imediatamente e começa a sentir o impacto da mensagem que está sendo transmitida. Está tudo ali sendo jogado para a gente da maneira mais sublime ou até explícita para refletir sobre determinados assuntos que estamos acostumados a nos deparar em nosso dia-a-dia como racismo e a xenofobia. A série se passa nos anos 70, mas poderia estar situada muito bem atualmente.

A trama, por si só, já consegue fisgar o público em mostrar o grupo denominado Caçadores iniciando uma jornada sem precedentes para exterminar todos os nazistas infiltrados nos EUA após a II Guerra Mundial e com isso, acabam esbarrando numa conspiração ariana para trazer toda a glória da época.

O elenco é bem afinado e contracenam com tamanha naturalidade mesmo com a presença de Al Pacino como Meyer Offerman, o líder da empreitada. O tempo de tela para todos não deixa a desejar e cada um tem a sua hora de brilhar sem comprometer os demais. Destes, destaco Harriet como a personagem com várias camadas e sua dualidade é explorada ao longo dos episódios. Mindy e Murray também merecem a atenção necessária, pois acrescentam de forma satisfatória e o passado de ambos traz uma carga dramática pesada. Até Logan Lerman se garante em determinadas partes no papel de Jonah, o adolescente iniciante.

Tendo a II Guerra como o principal contexto histórico, é claro que menções ao Holocausto e ao campo de concentração de Auschwitz não ficariam de fora da trama. É aqui que a série ganha ainda mais a atenção de quem assiste. Os flashbacks são carregados de drama e emoção. São pesados. Não é fácil digerir determinadas cenas e diálogos trocados entre os personagens. Você sente o peso delas e sente-se mal por isso.

Como eu disse anteriormente, a Amazon não poupou esforços para mostrar um roteiro caprichado no humor negro e isso se repete aqui. Mesmo que as situações vividas pelos personagens tenham sido criadas pela produção, acabamos sentindo onde mais dói. É louvável quando conseguimos nos conectar desta forma tão intensa.

Porém, quando um assunto tão delicado como este é usado em determinada adaptação televisiva, é esperado algum tipo de reação negativa por parte de uma comunidade específica. O Museu de Auschwitz fez uma crítica sobre a cena do xadrez humano e classificou a trama como uma ficção irresponsável. Finalizou dizendo que honra todas as vítimas preservando a precisão factual.

A produção não poderia perder a oportunidade de falar, seja no tom sério ou satírico, sobre a tão famosa Operação Paperclip e teve como principal função, o recrutamento de cientistas nazistas em território americano para aumentar o seu poderio contra a URSS comunista pós-II Guerra. As principais contribuições foram de foguetes até a icônica conquista da Lua. Wernher Von Braun é bem lembrado na trama numa das Caçadas e na vida real, ele teve um papel fundamental no desenvolvimento de todo programa espacial dos EUA na NASA, onde chegou a assumir o cargo de diretor. Assim como não deixam escapar a chance de mencionar a ida dos nazistas para América do Sul para se refugiarem.

Hunters acerta significativamente em sua proposta em nos entreter na ambientação setentista com referências e contextos sociais da época, além do humor que beira ao brega ou cafona. Não que isso seja um demérito, pelo contrário. Cumpre também de forma satisfatória sua função na parte técnica como trilha sonora e fotografia. As sátiras foram feitas para incomodar, doa a quem doer. São reflexivas e com isso, trazem a composição para entender todo o cenário do passado e presente. Os plot twists mudam o status quo e deixaram excelentes caminhos para serem explorados na segunda temporada. Mesmo com uma duração mais longa em seus episódios, o que pode comprometer a atenção de quem assiste, ainda sim é gratificante a experiência no final.

Hunters conta com 10 episódios e está disponível no Amazon Prime Video.

Categorias
Serial-Nerd

The Outsider agrada com início promissor onde o sobrenatural abraça a realidade

Estamos no 17° dia de 2020 e não é difícil imaginar boa parte das pessoas completamente ansiosas para as inúmeras novas produções que inundarão as nossas TV’s, notebooks, celulares e afins. A chegada de mais um ano também traz a expectativa de ver as principais séries sendo indicadas a importantes premiações como Globo de Ouro e Emmy. Por conta disso, quero um pouco do tempo de vocês para falar de The Outsider, série estreante da HBO que está adaptando a obra de mesmo nome do mestre Stephen King.

Quando o corpo de um garoto de 11 anos é encontrado na floresta da Geórgia, o detetive Ralph Anderson inicia uma investigação sobre o terrível assassinato. Evidências apontam para o treinador de beisebol local Terry, mesmo possuindo um álibi incontestável.

O Piloto, sem rodeios, já coloca as cartas na mesa sobre o responsável pelo assassinato brutal de Frankie Peterson, que muda completamente a rotina de todos da cidade, trazendo também grandes repercussões. O encarregado do caso é Ralph Anderson, interpretado pelo excelente Ben Mendelsohn (Capitã Marvel, Bloodline e Rogue One). Como todo detetive auto-confiante, ele cria um espetáculo para prender Terry Maitland (Jason Bateman) e demonstrar a sua autoridade perante o suspeito.

Bateman é um excelente destaque na adaptação e também esteve a frente na direção de dois episódios. O ator consegue entregar muito bem a posição de ser inocente, porém ao mesmo tempo, somos levados a crer que seja apenas uma atuação para cobrir o crime violento cometido.

E como estamos falando da obra de King, o fator sobrenatural não poderia ficar de fora da equação. Os episódios apresentam de forma bem modesta todo esse clima, porém dão início a um conto assustador que promete dar guinadas cada vez mais sombrias. Para quem está familiarizado com essa temática, é possível deduzir a real natureza desse caso.

HBO iniciou o ano de forma bastante satisfatória com The Outsider e a tendência, assim espero, é que a cada episódio tenhamos mais surpresas em torno desse mundo sombrio que segue a investigação. E outra: Se o verdadeiro assassino está por aí, nada impede que faça uma nova vítima. Agora que chegou ao final deste texto, o que está esperando para começar a assistir?

Até mais, e Obrigado pelos Peixes!

Categorias
Serial-Nerd

As melhores séries de 2019

Sempre que um novo ano inicia-se, é esperada com grande expectativa a estreia de inúmeras séries e novas temporadas de produções veteranas. Só que antes disso, é necessário um pequeno balanço do que tivemos de melhor no ano anterior, certo? Por conta disso, estou aqui para listar as principais séries que caíram no gosto dos redatores da Torre de Vigilância.

Chernobyl

A minissérie da HBO foi uma das grandes surpresas com a trama bastante detalhista sobre um dos piores desastres nucleares na história da humanidade e ganhou a atenção do público com reproduções fiéis dos desdobramentos após a explosão. Vale notar que ontem (05), Chernobyl ganhou dois prêmios no Globo de Ouro: Melhor Ator Coadjuvante em Série Limitada para Stellan Skarsgård e Melhor Série Limitada.

Dark

A segunda temporada lançada na Netflix manteve o excelente nível mostrado em seu ano de estreia e continuou destrinchando todo o conceito temporal sem se perder na trama. O gancho deixado no Season Finale expandiu a mitologia apresentada e com isso, promete entortar ainda mais nossas mentes na última temporada.

Fleabag

Fleabag (Phoebe Waller-Bridge) é uma jovem adulta lidando com problemas quase universais sob o ponto de vista feminino: problemas de relacionamento, frustração sexual e profissional, conflitos familiares. Uma mulher moderna vivendo em Londres, ela está tentando curar uma ferida enquanto recusa ajuda daqueles à sua volta, mantendo seu perfil intimidante o mais intacto possível.

Boa parte dos olhares estão voltados para esta série, uma vez que no ano passado levou o Emmy de Melhor Série Cômica, Melhor Atriz em Série Cômica para Phoebe, Melhor Roteiro em Série Cômica e Melhor Direção em Série Cômica. Não bastando este reconhecimento, no Globo de Ouro deste ano conseguiu levar mais dois prêmios para a prateleira: Melhor Série Cômica e Melhor Atriz em Série de Comédia.

His Dark Materials

A versão televisiva da obra literária de mesmo nome apresenta Lyra como uma menina órfã que encara uma aventura sem precedentes em busca do amigo desaparecido e acaba esbarrando numa grande profecia sobre o . Com apenas oito episódios em sua temporada e adaptando o primeiro livro (A Bússola de Ouro), a trama mágica é bem envolvente e a atuação do elenco é notável. Destaque para Ruth Wilson como a Sra. Coulter.

Love, Death and Robots

A coleção de contos animados que mistura ficção científica, fantasia e terror como as aventuras de lobisomens soldados, caçadores de recompensas de cyborg e até mesmo de aranhas alienígenas deixou os telespectadores da Netflix apaixonados com os elementos apresentados na temporada.

Marianne

Emma (Victoire Du Bois) é uma escritora que tem sido atormentada por pesadelos com uma bruxa chamada Marianne. A romancista então decide usar seus livros como tentativa de manter a criatura maligna longe, mas percebe que os personagens estão ganhando vida, sendo obrigada a voltar para casa e descobrir o motivo. Mais uma produção da Netflix entrando na lista com este ótimo terror e toda a tensão que vão apresentando ao longo dos episódios a cada nova descoberta sobre o mal que paira na vida de Emma e os demais.

Patrulha do Destino

A equipe completamente incomum merece estar aqui por ter nos deslocado para um clima completamente distinto do que já estávamos habituados a ver no grande universo da CW com o Arrowverse. Liderados por Chefe, o grupo composto por Crazy Jane, Homem-Negativo, Mulher-Elástica e Homem-Robô é convocado por Ciborgue para uma missão especial.

Rick and Morty

A série animada acompanha as aventuras e os descobrimentos de um super cientista e seu neto não muito brilhante e está atualmente em sua quarta temporada. É apenas uma das animações mais comentadas atualmente e pode te deixar mais inteligente.

Stranger Things

Em seu terceiro ano, as crianças de Hawkins lidaram com mais uma situação de perigo e outras questões típicas da adolescência foram abordadas. O tom um pouco mais maduro também foi um grande diferencial para configurar a série como uma das principais do ano passado.

The Boys

Sob a tutela de Eric Kripke, alguns super-heróis passam a se corromper quando a fama sobe à cabeça e usar seu status para se promoverem ainda mais, o que pode colocar em risco a própria população. Pensando nisso, uma equipe da CIA foi preparada para cuidar desse caso. Conhecidos como The Boys, esses agentes têm a missão de vigiar o trabalho dessas personalidades, assim como controlar o surgimento de novos heróis. Esta adaptação do gibi de mesmo nome ganhou notoriedade na mesma vibe de Patrulha do Destino no que diz respeito no que já nos acostumamos com produções deste tipo.

The Mandalorian

A produção da Disney+ apresentou as aventuras de Mando pela galáxia e conquistando o público pela qualidade em sua primeira temporada. Claramente, um dos destaques foi Baby Yoda com a sua fofura em todas as suas cenas. Essa iniciativa não acabará por aí, pois veremos mais dos personagens da franquia em suas próprias séries como Obi-Wan e Cassian Andor.

The Witcher

Baseado na série de livros Wiedźmin, do escritor polonês Andrzej Sapkowski, The Witcher se passa em um mundo de fantasia medieval e segue a história de Geralt de Rívia, um dos últimos bruxos restantes na Terra. Ele é um destemido andarilho e caçador de monstros, dotado de capacidades físicas sobrenaturais. Lançado já no final do ano, a adaptação televisiva teve um percentual excelente de telespectadores e já garantiu sua renovação para a segunda temporada.

Watchmen

Para finalizar, falemos daquela que era a mais enigmática e preocupante no ponto de vista daqueles que leram o gibi. Porém, Watchmen teve sua estreia e boa parte abraçou a ideia de Damon Lindelof para apresentar tudo que aconteceu após o trágico ataque orquestrado por Adrian Veidt. Ao mesmo tempo que a série narra novos conceitos, ela respeita bastante a alma da obra original.

 

Isso é tudo, vigilantes. Espero que tenham curtido a lista feita pelos redatores e até a próxima.

Categorias
Serial-Nerd

Arlequina é uma série animada extremamente promissora

Parece absurdo, mas a Arlequina é o quarto pilar da DC Comics há algum tempo. Palavras de Jim Lee, não minhas. É realmente interessante como uma personagem criada para a TV, conquistou o coração de inúmeros fãs e consequentemente, foi incorporada ao universo das HQs. Entretanto, o gigantesco”BOOM” veio com Os Novos 52 e a emancipação da (ex) namorada do Coringa por Jimmy Palmiotti e Amanda Conner. Em breve, Aves de Rapina e Aquele Longo Subtítulo refletirão essa importante mudança de status nos cinemas, mas até lá, esse papel cabe à série animada dela.

O primeiro e excelente episódio, Till Death Do us Part, é pontuado por bastante violência e linguagem obscena desde os seus primeiros minutos. Não soa forçado, pois há uma organicidade na forma como a direção associa a tonalidade com a personagem. Além de introduzir perfeitamente a sua atmosfera, também o faz com arco dramático da protagonista, extremamente iludida com o Palhaço do Crime. Tão iludida a ponto de crer em um resgate por ele, mesmo aprisionada há um ano no Asilo Arkham.

Arlequina

Enquanto ela crê cegamente nesse Louco Amor, toda a Gotham, principalmente a Hera Venenosa, conhece a verdadeira natureza do relacionamento entre os dois. Utilizar os personagens da cidade como indicadores da obviedade situacional ao público, é uma excelente jogada do roteiro. Ainda melhor, é a forma como Dean Lorey, Justin Halpern e Patrick Schumacker apresentam e desconstroem a ilusão da personagem.

Além disso, o universo construído aqui, repleto de caricaturas de personagens icônicos é simplesmente hilário. Apesar da seriedade do Batman se transformar em piada sempre, há usos mais criativos para outros personagens. Como por exemplo, o comissário Gordon, em sua encarnação mais exagerada e melancólica já testemunhada nas adaptações. O Homem-Calendário e o Charada também se destacam.

“Liga, desliga, desliga e liga. Tudo vive e tudo morre.” – Melhor Gordon

O elenco também é perfeito. A Arlequina de Kaley Cuoco traz um forte senso de ironia e explosão, em contraste com a voz mais debochada, mas amável e acolhedora de Lake Bell como Hera. Enquanto Alan Tudyk como Coringa possui tanta presença quanto o Senhor-Ninguém em Patrulha do Destino. Diedrich Bader faz um bom trabalho como Batman e Christopher Meloni está sensacional como Jim Gordon.

A julgar pelo primeiro episódio, Arlequina é uma série animada extremamente promissora. Além da ótima irreverência violenta e cômica, é a encapsulação perfeita de mais de 20 anos de cânone em 20 minutos. Os designs são ótimos, a animação, fluída e as vozes são um casamento perfeito com os personagens. Caso mantenha a qualidade, pode tornar-se o melhor desenho da DC desde a era Dini e Timm e a melhor produção do DC Universe.

Categorias
Serial-Nerd Séries

Nós somos o Cavaleiro da Lua! 11 atores que poderiam interpretar o Marc Spector no MCU

Atenção, essa coluna expressa um ponto de vista estritamente pessoal.

Durante a D23 desse ano (2019), a Marvel Studios finalmente anunciou a tão aguardada série do Cavaleiro da Lua, que será exclusiva do serviço de streaming Disney+ e terá a mesma qualidade dos filmes da empresa, assim como os outros seriados que estão sendo produzidos pelo estúdio.

Em tese, o personagem deve ser uma aparição recorrente no MCU, podendo protagonizar mais temporadas de sua própria produção para o Disney+, dar as caras em outros filmes de heróis e podendo até mesmo ser um dos membros mais importantes dos novos Vingadores, uma vez que a sua popularidade tende a aumentar cada vez mais.

Pra quem não está familiarizado, o Cavaleiro da Lua é um super-herói da Marvel Comics criado por Doug Moench e Don Perlin, que apareceu pela primeira vez em Werewolf By Night #32. O seu maior diferencial em relação aos outros personagens da Casa das Ideias, é que ele possui transtorno dissociativo de indenidade, compartilhando a sua mente com mais três personalidades (Steven Grant, Jake Lockley, o deus egípcio Khonshu e é claro, a sua personalidade principal, Marc Spector). 

Confesso que o vigilante se tornou um dos meus personagens favoritos, me levando aos prantos quando o seu seriado foi apresentado ao mundo pelo Kevin Feige. No entanto, surgiu uma dúvida em minha cabeça: ”quem poderia interpetá-lo?” Foi ai, que eu pensei em alguns nomes hollywoodianos que se encaixariam perfeitamente no papel, e é claro, decidi compartilhar a minha lista com você meu querido leitor.

Então meu caro vigilante, se posicione no lugar mais confortável da sua casa e confira quais são os 10 atores que poderiam interpretar o Marc Spector no MCU.


#11: Bill Skarsgård

Conhecido por: IT: A Coisa, IT: Capítulo 2, Hemlock Grove e Castle Rock.

Resultado de imagem para bill skarsgård

Desde a primeira temporada do seriado Hemlock Grove, Bill se demonstrou um ator que se afundaria na loucura para entregar uma boa atuação (diga-se de passagem, o Cavaleiro é uma persona que vive em um ”mundo” rodeado de insanidade própria). A prova mais recente disso, é na sua encarnação como Pennywise em IT: A Coisa e IT: Capítulo 2.


#10: Andrew Garfield

Conhecido por: O Espetacular Homem-Aranha, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, Até o Último Homem e Under the Silver Lake.

Resultado de imagem para andrew garfield

O terceiro intérprete do Homem-Aranha nos cinemas, Andrew merece mais uma chance para interpretar um personagem de histórias em quadrinhos por muitos anos através de inúmeras produções audiovisuais, visto que o astro daria vida ao amigão da vizinhança por mais de 5 filmes.

Ultimamente, Andrew vem se dedicando à papéis mais dramáticos em longas voltados para grandes premiações. O exemplo mais recente, é na película Under the Silver Lake, produzida e distribuída pela A24. Marc é um personagem que possui uma vida no tanto quanto perturbada, devido a sua constante batalha mental consigo mesmo. Garfield seria uma escolha certeira da Marvel Studios para dar vida ao herói, dado que Andrew Garfild passou por momentos difíceis após o término com a atriz Emma Stone, podendo usar um pouco de mágoas passadas para a sua atuação como Spector.


#9: Alexander Skarsgård

Conhecido por: A Lenda de Tarzan, True Blood, Mudo e Hold the Dark.

Resultado de imagem para alexander skarsgård

Diferente do seu irmão mais novo Bill Skarsgård, Alexander atua de uma maneira mais calma e serena, assim como o seu comportamento pessoal. Marc é um homem que está em busca contaste pela própria paz e Skarsgård seria ideal para transmitir essa sensação para o personagem.


#8: Dacre Montgomery

Conhecido por: Stranger Things, Power Rangers, A Few Less Men e Safe Neighborhood.

Resultado de imagem para dacre montgomery

Dacre Montgomery é um ator australiano que vem sendo especulado para interpretar um personagem no MCU há meses. Admito que Dacre tem cara de Tocha Humana ou até mesmo de Adam Warlock, mas seria muito interessante ver o ex Ranger Vermelho emprestando as suas ”habilidades” na hora de interpretar um herói louco no MCU.


#7: Dave Franco

Conhecido por: Truque de Mestre, Truque de Mestre 2, Nerve: Um Jogo Sem Regras e Artista do Desastre.

Resultado de imagem para dave franco

Assim como o seu irmão James Franco, Dave tem a reputação de estrelar filmes mais voltados para a comédia (longas-metragens comerciais se incluem na lista), caso de LEGO Ninjago: O Filme, Superbad e Os Vizinhos. 

A Marvel Studios sempre preza pela qualidade de suas produções; entretanto, não importa qual tema os seus filmes e séries abordam, sempre haverá uma quantidade demasiada de piadas. Dito isso, Franco poderia usar elementos de suas já conhecidas atuações para dar um tom mais ”engraçado” para o vigilante de Nova York.


#6: Liam Hemsworth

Conhecido por: Jogos Vorazes, A Última Música, Independence Day: O Ressurgimento e Killerman: A Lei das Ruas.

Resultado de imagem para liam hemsworth

Liam é um ator que eu sempre desejei ver interpretando um personagem de quadrinhos, seja ele um herói ou vilão. Ex-marido da Hannah Montana e irmão mais novo do Thor, Hemsworth possui o porte ideal para o nosso herói encapuzado, uma vez que de uns anos pra cá, ele vem se dedicando à filmes de ação e aventura.


#5: Dylan O’Brien

Conhecido por: Maze Runner, Bumblebee, O Assassino: O Primeiro Alvo e Deepwater Horizon.

Resultado de imagem para dylan o'brien

Dylan ganhou notoriedade após participar do famoso seriado Teen Wolf. Posteriormente, o astro se dedicou à estrelar filme de ação, como a franquia Maze Runner e O Assassinato: O Primeiro Alvo. 

Por sorte, O’ Brien se provou como um artista talentoso, sendo denominado por muitos, como o ”Bruce Willis” da nova geração. O curioso, é que o seriado do Cavaleiro da Lua terá a classificativa PG-13, mas isso não irá impedir que a produção seja composta por violência extrema e temas adulto, tendo possivelmente uma abordagem parecida com a trilogia do Batman do Nolan. Ao meu ver, o ator se daria bem interpretando um personagem voltado para o público infantil, mas sem perder a sua essência sombria e violenta.


#4: Mena Massoud  

Conhecidos por: Aladdin, Jack Ryan, Strange but True e Open Heart.

Resultado de imagem para mena massoud

A conexão entre Mena e o Cavaleiro, está mais próxima do que imaginávamos. A história do personagem é diretamente ligada com o antigo Egito, que coincidentemente, é o país de origem do ator. Filho de judeus (religião de Marc), Massound participou de apenas dois grandes projetos na sua vida, são eles: Aladdin e Jack Ryan. É muito comum por parte da Marvel Studios, contratar atores da Disney para dar vida à personagens em seu Universo Cinematográfico. Dito isso, conclui-se que não seria uma má escolha caso a produtora decidisse dar uma chance de ”engradecimento” para o astro, uma vez que todos merecem uma chance para intepretar um herói (ou vilão) nas telonas e telinhas.


#3: Taron Egerton

Conhecido por: Kingsman, Rocketman, Billionaire Boys Club e Voando Alto.

Resultado de imagem para taron egerton

Temos aqui, mais um caso de um ator que se dá muito bem em grandes cenas de ação. Particularmente, Taron é um dos meus atores favoritos da atualidade, uma vez que ele me ganhou através da franquia Kingsman e pelo seu filme mais recente, Rocketman.

O astro é um dos favoritos dos fãs para ser a nova faceta do Wolverine na telonas. Contudo, o mesmo já declarou que apesar de amar o personagem, no seu ponto de vista, há outros atores mais competentes para dar vida ao personagem. Todavia, Taron afirmou que ama os filmes da Marvel Studios e que é um sonho entrar para a equipe um dia. Será que vermos o astro fazendo a sua estreia no MCU em Cavaleiro da Lua? 


#2: Oliver Jackson-Cohen

Conhecido por: O Homem Invisível, A Maldição da Residência Hill, The Secret River e Man in an Orange Shirt.

Resultado de imagem para oliver jackson-cohen

Mais um candidato da lista nascido no Egito e Judeu, Oliver é um astro que se divide entre o cinema e os seriados. Um dos fatores mais importantes da mitologia do Cavaleiro da Lua, são as suas 3 personalidades, que acabam dando uma diferenciada no personagem em relação aos outros heróis. Dito isso, Jackson seria perfeito para o papel, uma vez que ele costuma interpretar papéis dos mais variados possíveis, como por exemplo, um monarca homossexual, um dependente químico com sérios problemas de depressão e um cientista abusivo com a sua própria namorada.

Vale mencionar, que coincidentemente, na fase do personagem escrita por Jack Lemire e ilustrada por Greg Smallwood, o cruzado encapuzado da Marvel se assemelha fisicamente com o ator em inúmeros quadros. Seria isso, um sinal?


#1: Zac Efron

Conhecido por: High School Musical, Vizinhos, We Are Your Friends e Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile.

Resultado de imagem para zac efron

Finalmente, chegamos no TOP 1 dessa lista e o meu candidato favorito pro papel, que sinceramente, torço muito pra que Zac acabe sendo cotado para ser o Cavaleiro. 

Assim como Robert Pattinson, o atual Batman nos cinemas, Efron era um ator que geralmente, era mal visto pelo público e pela crítica, devido à sua participação na trilogia High School Musical. Porém, felizmente assim como Robert, o astro deu a volta por cima, interpretando papéis dos mais variados tipos, como por exemplo, recentemente deu vida ao serial killer Ted Bundy no filme Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, da Netflix. Após o lançamento do longa, muitos afirmaram que a atuação do ator está impecável, e que em diversas vezes, é impossível reconhecer aquele menino franzino que sai por ai cantarolando no papel de um assassino em série.

Em 2018, o ator estava sendo cotado para viver o Ikaris em Os Eternos, mas que devido a conflitos de agenda, acabou desistindo de interpretar o conjugue da Sersi. Porém, recentemente vazou uma lista na qual diz que a Marvel Studios está procurando um ator judeu e de preferência descendente de Israelitas que se assemelhe com Zac para viver o Cavaleiro da Lua. 

Porém, a lista diz que Efron é um dos candidatos para o papel, uma vez que além de ser judeu praticante, a empresa quer que o ator faça parte do MCU de qualquer jeito, e irá ”lutar” para ter Zac em seu Universo. Também não seria estranho a produtora contratar o ator famoso igual ele para dar vida a um personagem desconhecido, uma vez que o intuito da produtora, é aumentar a fama do Cavaleiro ao máximo. Apenas faça isso acontecer Marvel!


#0: Um ator desconhecido e que até então  está em ascensão em Hollywood

Entretanto, não podemos descartar a hipótese da Marvel Studios escalar um ator não tão conhecido que está apenas começando a sua carreira de ator para viver o possível líder dos Filhos da Meia-Noite ao lado de Blade

O caso mais recente, foi com o Simu Liu, que era apenas conhecido no Canadá por participar de sitcoms e que acabou sendo escalado para dar vida ao Shang-Chi no filme solo do personagem. 

Portanto, caso a fórmula se repita, temos que levar em consideração que não seria uma atitude incomum por parte da produtora.


Cavaleiro da Lua é um herói que tem um potencial incrível, visto que o seu universo é riquíssimo e cheio de alegorias mentais. Portanto, conclui-se que dependendo do ator que for escolhido, ele terá uma jornada incrível no MCU e será tratado com o seu devido ator.

Tem alguma sugestão de outro astro que não está na lista? Deixe nos comentários e até a próxima.

Categorias
Serial-Nerd

Achou o início de American Horror Story: 1984 bem trash? Então, você entendeu a mensagem!

American Horror Story sempre foi uma franquia antológica com uma certa polarização entre os seus telespectadores, ou seja, utiliza-se do ‘‘ame-o ou deixe-o” para classificar o tom que cada temporada transmite. Falando a verdade, a série inicia de forma promissora, porém ao longo de seus episódios, consegue desviar o caminho de forma impressionante. Até estúpida, se me permite a ousadia. Sim, é de você mesmo que estou falando, AHS: Apocalypse 

Esse elemento estabelecido é notável mais uma vez com a estreia da nona temporada intitulada 1984. No que se refere ao primeiro episódio, podemos argumentar que o novo ano possui um certo potencial para agradar, certo? Mas por qual motivo?

Sua temática, obviamente.

A produção veterana da FX sabe como explorar visualmente o seu tema principal e somos agraciados com a riqueza de detalhes na composição das cenas juntamente com os personagens. Para melhor veracidade, recebemos doses de referências sobre locais, personalidades representadas e cultura. Por exemplo, Coven teve como base pessoas reais para uma imersão completa na mitologia das bruxas. Aqui segue da mesma forma. Estamos sendo apresentados à uma época tão charmosa para a música, moda e especialmente, as icônicas franquias de terror. E é justamente neste último que precisamos nos atentar para esta nova imersão.

Para você que era um adolescente nos anos 80, deve ter acompanhado todo o alvoroço criado para as estreias de clássicos como Brinquedo Assassino, Sexta-Feira 13, A Morte do Demônio, Hellraiser e A Hora do Pesadelo. Trazendo com força o sub-gênero do terror conhecido como slasher. O primeiro episódio não perde tempo em mostrar situações que nos fazem remeter rapidamente para algum destes filmes, como o acampamento distante de tudo com vários jovens que já foi palco de um massacre. A fuga do principal serial killer do manicômio que nos lembra a escapada de Michael Myers em Halloween (1978) ou uma das personagens sendo atormentada por este assassino e o mesmo fazer disso um jogo.

Este sub-gênero traz consigo uma característica que a temporada trouxe bem: o lado trash. Por conta disso, o roteiro não quer ser exigente em nenhum momento. É para ser trash? Então, vamos ver! Não tem problema nenhum com isso, pelo contrário. Só deixa tudo mais divertido. Começando pelos personagens com suas peculiaridades, trazendo mais um pouco de leveza. Temos até Emma Roberts como a boa moça, quem diria.

A abertura de American Horror Story 1984 é uma completa imersão para a época.

Com um início determinado a deixar claro que não pretende fazer rodeios em sua história, existe um material excelente para ser explorado desse roteiro mais descompromissado e caso seja muito bem dosado, poderá nos render bons momentos para lembrar depois. Caso contrário, existe o perigo da temporada se tornar no mais belo besteirol americano. Não queremos isso, né Ryan Murphy?