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Re:Zero: Começando uma Vida em Outro Mundo – Livro 1

Isekai. Essa é uma palavra que pode não ter muito sentido em português (e não tem mesmo), mas que adquiriu enorme proporção na mídia japonesa por conta da – literal – avalanche de títulos desse sub-gênero que tomou as prateleiras orientais.

Essa postagem de hoje é sobre o Volume 1 da Light Novel de “Re:Zero – Começando Uma Vida em Outro Mundo“, escrita por Tappei Nagatsuki, com belíssimas ilustrações de Shinichirou Otsuka, e publicada no Brasil pela Editora NewPOP.

É só que simplesmente não dá pra resenhar uma Light Novel Isekai, sem falar do próprio gênero Isekai antes: Traduzindo do japonês, “Isekai” significa “Outro mundo“. É um gênero que viu um crescimento tão grande quanto o da população chinesa, que retrata personagens sendo transportadas (por quaisquer desculpas esfarrapadas que sejam) para uma outra realidade, normalmente (mas não necessariamente) fantasiosa. Os motivos para a explosão do gênero são diversos mas não cabem ao momento, então ficaremos apenas com a introdução.

Dito isso, podemos cair de cabeça nessa tempestade de emoções que foi o primeiro volume de Re:Zero. Com um título que trás “Isekai” logo de cara (do japonês, Re:Zero Kara Hajimeru Isekai Seikatsu), não se podia evitar um começo cheio de confusões e mais perguntas do que respostas.

Subaru, nosso protagonista, é um “Hikikomori” (mais conhecido no Brasil pelo Fantástico termo “Nem-Nem”), que sabe-se-lá-Deus o motivo, acaba sendo teletransportado para um outro mundo. Utilizando-se de seu vasto conhecimento de histórias Isekai, adquiridos por ficar em casa o dia todo, Subaru consegue manter a calma, e procede em fazer todas as escolhas erradas possíveis.

Tá vendo como presta pra algo? [Capítulo 1, página 59]

O primeiro capítulo é involuntariamente hilário. Toda vez que o protagonista toma uma decisão, logo em seguida ele se arrepende amargamente, e vê-lo se dando mal nunca deixa de ser engraçado. Se a série se centrasse em simplesmente mostrar o Subaru se ferrando por suas más escolhas, eu não teria nenhuma reclamação a fazer. Acontece que, como toda história que se passa num mundo fantasioso medieval, precisamos ter uma história digna de um RPG. E como qualquer jogo do gênero deve ser jogado, as personagens também decidem ignorar completamente a missão principal e fazer todas as trezentas side-quests que lhe são oferecidas.

A “missão principal” do volume é bem simples e poderia ser resolvida de forma rápida, fácil e sem baixas. Eu consigo imaginar, no mínimo, sete ou oito tipos de desenrolar para a história onde tudo acabaria bem. Mas como o nosso protagonista parece sofrer de lapsos mentais convenientemente posicionados (já falo disso), temos a descoberta do maior ponto da novel: o “Retorno na Morte“.

Viagens no tempo precisam ser tratadas com cuidado pois, quando usadas da forma errada, podem acabar com uma história. Eu, particularmente, detesto viagens no tempo e vou matalas. Re:Zero revolucionou o gênero Isekai quando, não contente com ser um simples Isekai, decidiu também ser uma Light Novel de loops temporais. De forma tão bem explicada que levanta mais dúvidas do que você já tinha (como se ser transportado pra um outro mundo já não fosse estranho o bastante), Subaru possui esse poder de voltar no tempo sempre que morre.

Seria legal se cada vez que ele voltasse, o mundo ficasse mais VAPORWAVE

É o tipo de ferramente de roteiro que, pra mim, acaba completamente com qualquer tensão que uma história poderia criar. Isso é dito pelo próprio protagonista, que sabe que se alguma merda acontecer, ele pode simplesmente resetar o mundo e estará tudo bem. Contudo, ainda é muito cedo para julgar. Com a pequena quantidade de ‘loops’ que tivemos até agora, não dá para saber como o autor vai lidar com isso. Alguns exemplos famosos mostram que mesmo situações dessas podem gerar tensão, se usadas corretamente (Bites the Dust vem à mente). Alguns exemplos famosos mostram que mesmo situações dessas podem gerar tensão, se usadas corretamente (Bites the Dust vem à mente).

O elenco de Re:Zero é algo a se destacar. Todas as personagens são muito bonitas (graças às belas ilustrações de Shinichirou Otsuka), têm uma personalidade bem definida e conseguem se firmar bem na história proposta. Todos… Menos Subaru.

Parece ser algo padrão em histórias japonesas: Fazer o protagonista o cara mais absorto e desgostável possível. Não só sua personalidade e ações são horríveis, como ele também parece ser o único personagem mal-escrito da trama. Lembra dos lapsos de memória que eu comentei antes? O Subaru é um cara que possui um conhecimento enorme de… diversos tópicos. Ele os usa abundantemente durante o primeiro capítulo da novel. E apesar de várias vezes se dar mal por conta disso, ele consegue sim tomar algumas decisões sensatas com base neles.

Mas em diversos momentos ao longo do volume, Subaru parece simplesmente ESQUECER princípios básicos. O autor decide torná-lo burro sempre que lhe é conveniente, para fazer a história prosseguir no rumo planejado. A maior prova disso é que as melhores passagens do livro são justamente aquelas onde Subaru não está presente, ou está incapacitado de abrir a boca ou pensar. Basicamente, Re:Zero seria muito melhor sem ele, mas infelizmente estamos presos a esse protagonista. Pode se tornar até algo positivo, já que, quando se está no fundo do poço, o único caminho é pra cima.

Se você gosta de mundos de fantasia medieval, no melhor estilo Tolkien, The Elder Scrolls ou Warcraft, a ambientação vai com certeza te prender. Junte isso com um elenco de personagens excepcional, uma narrativa divertida (nos momentos mais leves da história) e descrições de cenas de ação muito bem elaboradas, e Re:Zero pode ser a sua praia. É só aguentar o protagonista mais irritante dos últimos anos.

Mas, agora que o conteúdo já foi analisado, podemos ir ao que realmente importa: a qualidade da edição brasileira. Afinal, somos todos sommelier de lombada, não é?

Como sempre, a NewPOP caprichou na impressão. A capa é linda (ambas são, inclusive. Vale como item de colecionador!), as ilustrações internas estão com qualidade excelente, e o papel é ótimo. O formato “pocket” (chamado assim por aqui, mas que é o original japonês para a obra) facilita muito a leitura, e ainda economiza espaço na estante. Nesse quesito, só pontos positivos para a editora do Sr. Júnior.

Comparação de tamanho. Moeda de um real para padrão.

Já a parte escrita possui algumas coisas que ficaram entaladas na garganta. A revisão sempre foi um problema, e apesar das incansáveis tentativas de melhorar (que estão funcionando! Não me levem a mal, está muito melhor do que era antes!), ainda vemos erros de digitação e palavras sobrando ou faltando. No volume como um todo, pude contar seis erros que se encaixariam nessa categoria.

A qualidade do texto está boa. Apesar de uma ou outra frase que poderia ter sido escrita de forma mais fluida, e um exagero no número de artigos antes dos nomes das personagens, a leitura aconteceu sem nenhum problema.

Re:Zero – Começando uma Vida em Outro Mundo – vale a pena? Eu diria que meu julgamento final é que sim, compensa a compra e rende uma boa leitura. Desde que você entenda que se trata de uma Light Novel. E se você não sabe do que se trata uma Light Novel, pode aprender clicando aqui.

Você pode adquirir Re:Zero pela loja online da NewPOP, ou pela Amazon (Capa normal | Capa variante).

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Gamers! | Uma agradável surpresa

Meu plano inicial para Gamers! era fazer um texto de Primeiras Impressões, no entanto elas não foram muito boas. Isso porque o primeiro episódio do anime é bem mediano. Ele se utiliza de todos os clichês possíveis de um anime sobre clube escolar e os joga na tela.

Então por que Gamers! seria “uma agradável surpresa”?

Pois no final do primeiro episódio, o anime simplesmente revira todos esses clichês e acaba surpreendendo o telespectador. A resposta que Amano (o nosso protagonista) dá a Tendou é bem anticlímax. Você acaba querendo ver o que acontece em seguida, e então o anime te pega.

Amano, o protagonista clichézão que surpreende.

A partir do segundo episódio, Gamers! entra em uma evolução constante, é um episódio melhor do que o outro. O diretor conseguiu ter um excelente timing cômico, as cenas dos mal-entendidos são hilárias, além das ótimas piadas sobre games em si (principalmente as do último episódio). Como não li a Light Novel de Gamers!, não consigo saber quais piadas foram adicionadas pelo diretor. Mas uma coisa é certa: as facetas dos personagens com certeza foram obras dele.

“Desu Desu”. Chiaki best girl.

A animação de Gamers! é bem inconstante, existem episódios bem animados e uns que são porcamente mal animados. Mas como se trata de uma comédia, ter uma animação bem constante não é bem uma prioridade.

O episódio 12 funciona mais como um OVA do que uma continuação da história em si, mas certamente é divertido demais. As piadas sobre DLCs são sensacionais.

E não! Gamers! não é um anime de fanservice, mas por algum motivo, tanto as capas das Light Novels, quanto os endcards dos episódios são recheados deles. Eu realmente queria saber o motivo disso. Um dos poucos momentos em que tivemos um mínimo de fanservice foi no episódio 12, que como eu falei, é mais um OVA do que um episódio do anime.

Apesar de Tsuredure Children ter sido o melhor anime dessa temporada de Verão (antes que venham reclamar, ainda não assisti Made in Abyss), Gamers! acabou me divertindo muito mais.

Gamers! não é um anime que possui uma história impressionante, nem piadas geniais como Gintama e muito menos personagens altamente desenvolvidos, mas é uma diversão honesta para o que se propõe e com certeza foi a surpresa da temporada.

Gamers! ficou em primeiro lugar como o anime mais visto na Crunchyroll na América do Sul.

Ainda não foram divulgados os números de vendas de Gamers!, mas a previsão delas, assim como a maioria dos animes dessa temporada, não estão lá muito boas. Vamos torcer para que venda o bastante para que possa garantir uma segunda temporada.

Os doze episódios de Gamers! estão disponíveis com legendas em português pela Crunchyroll.

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One Piece | Guia dos Episódios (Sem Fillers)

One Piece. O “anime infinito.” A história criada por Eiichiro Oda sobre a procura do tesouro que é capaz de dar o título de Rei dos Piratas a quem o achá-lo, é uma das melhores coisas já feitas. Rico em história e personagens, One Piece é capaz de fazer qualquer um se relacionar e se emocionar.

Mas graças a enorme quantidade de episódios, One Piece é um dos animes que mais espantam o público. Afinal de contas, já fazem 20 anos que o mangá está sendo publicado, e o anime não fica muito atrás. Por este motivo, ele contém os temerosos fillers.

Comparado com Naruto, o número de fillers de One Piece não são tão extensos, levando em conta a longevidade da história.

O começo de tudo, a execução de Gol D. Roger. Episódio 01
  • Saga East Blue:
    Arco Romance Dawn – Episódios 01-03
    Arco Orange Town – Episódios 04-08
    Arco Vila Syrup – Episódios 09-18
    Arco Baratie – Episódios 19-30
    Arco Arlong Park – Episódios 31-44
    Arco Loguetown – Episódios 45, 48-53

East Blue é a saga introdutória de One Piece. Basicamente nos apresenta a Monkey D. Luffy, e ao seu sonho de se tornar o Rei dos Piratas. Zoro, Nami, Usopp e Sanji entram para a tripulação de Luffy.

Aparecendo com estilo. Episódio 01
  • Saga Alabasta:
    Arco Montanha Reversa – Episódios 62-63
    Arco Whiskey Peak – Episódios 64-67
    Arco Little Garden – Episódios 70-77
    Arco Ilha Drum – Episódios 78-91
    Arco Alabasta – Episódios 92-130

Seguimos o Bando dos Chapéu de Palha, que levam a Princesa Vivi de volta para sua terra natal, Alabasta. O Bando enfrenta a organização Baroque Works, comandada por Crocodile. Também somos apresentados a Portgas D. Ace, irmão de Luffy. Chopper e Nico Robin também entram para a tripulação.

Despedida. Episódio 129
  • Saga Skypiea:
    Arco Jaya – Episódios 144-152
    Arco Skypiea – Episódios 153-195

Luffy e sua tripulação desvendam a lenda da Ilha no Céu. Somos apresentados ao falso Deus, Enel.

Best reaction. Episódio 182
  • Saga Water 7:
    Arco Davy Back Fight – Episódios 207 – 219
    Arco Water 7 – Episódios 227 – 265
    Arco Enies Lobby – Episódios 266-290, 293-302 e 304-312

Os Chapéus de Palha chegam em Water 7, a procura de um carpinteiro para a tripulação. Luffy e Usopp brigam entre si, e Robin é sequestrada pelo Governo Mundial. Somos apresentados a Sogeking. Luffy declara Guerra ao Governo Mundial e Franky entra para a tripulação.

O anime que irá ter fazer chorar, pela morte de um barco. Episódio 312
  • Saga Thriller Back:
    Arco Thriller Back – Episódios 337-381

O melhor apocalipse zumbi que você verá. Brook se junta a tripulação.

Yo-hohoho, Yo-hohoho. Episódio 380
  • Saga Guerra de Marineford/Guerra dos Maiorais:
    Arco Arquipélago Sabaody – Episódios 385-405
    Arco Amazon Lily – Episódios 408-417
    Arco Impel Down – Episódios 422-425 e 430-452
    Arco Marineford – Episódios 457-489
    Arco Pós-Marineford – Episódios 490-491 e 493-516

O Bando é dividido. Ace é condenado a morte, Prison Break em One Piece e uma Guerra foderosa.

3D2Y. Episódio 511.

Após a Guerra de Marineford, One Piece passou por um timeskip de 2 anos. A tripulação, ainda separada, decidiu treinar, para então se reunir no futuro. E chegamos a segunda parte da Grand Line (e da obra), chamada de Novo Mundo.

  • Saga Ilha dos Tritões:
    Arco Reunião em Sabaody – Episódios 517-522
    Arco Ilha dos Tritões – Episódios 523-541 e 543-574

A tripulação se reúne. Luffy declara Guerra a Big Mom e o Bando parte de vez para o Novo Mundo.

Reunião! Episódio 522
  • Saga Dressrosa:
    Arco Punk Hazard – Episódios 579-589 e 591-625
    Arco Dressrosa – Episódios 629-746

Os Chapéus de Palha chegam ao Novo Mundo e recebem uma ligação pedindo um resgate em Punk Hazard. Formam uma aliança com o bando comandado por Trafalgar Law e partem para Dressrosa, onde enfrentam Donquixote Doflamingo. Rola até uma batalha de Gladiadores, e um encontro inesperado (ou não :p ) É a maior saga da obra, que infelizmente tem uma narrativa muito trancada, que engata somente de vez em quando.

Esse momento… Não vou nem numerar o episódio.
  • Saga Yonkou:
    Arco Zou – Episódios 751-779
    Arco Ilha Whole Cake – Episódios 783-atual

Saga atual do anime e mangá. No momento, o Bando está atrás de Sanji, que foi levado pela sua família e é obrigado a se casar. O Bando lutará contra a Big Mom. No mangá, o arco Ilha Whole Cake está caminhando para o seu final, já no anime, recém começou a ser adaptado.

Poster do atual arco.

No Brasil, One Piece é transmitido oficialmente pela Crunchyroll. Já o seu mangá, é publicado pela Editora Panini. Clique aqui, para adquirir o mangá.

Confira também o Guia de Naruto.

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Primeiras Impressões | Princess Principal

Alguns períodos da história humana acabam sendo fetichizados pelo homem moderno. Nunca paramos para pensar em como a Peste Negra assolava a Idade Média; como a discriminação era a norma na Era Vitoriana; ou como as pessoas viviam com medo do fim dos tempos durante a Guerra Fria. É com esses aspectos mais viscerais do passado que autores como Philip Pullman, Scott Westerfeld, Stephen Hunt e China Miéville (que eu descaradamente copiei e colei da Wikipédia) “fundaram” o subgênero steampunk.

E isso tudo é relevante para nosso tópico pois tratamos de uma série com canos, engrenagens e vielas londrinas pra tudo que é lado. E que apesar de abraçar fortemente a temática de “Crítica social foda” que é o steampunk, ainda não deixa de ser japonês, então vemos a fetichização de outras formas.

Mas convenhamos, quem é que não gostaria de ver garotinhas moe encarnando o 007 numa Londres Steampunk durante uma releitura da Guerra Fria? Esse é o seriado que você nunca soube que queria tanto.

Com um primeiro episódio sensacional, provavelmente um dos melhores que eu vi nos últimos anos, o show conseguiu usar aquele truque que é mais velho que vovó menina, mas que funciona perfeitamente quando bem executado: a Premonição Sugestiva.

Não sei se já existe um nome pra isso, mas acabei de inventar um, e na minha cabeça ficou muito legal.

Começos de história são sempre chatos. Você é obrigado a explicar o que está acontecendo, quem são essas pessoas, o motivo delas estarem fazendo aquilo, em que mundo estamos, de onde viemos, para onde vamos, e aquela coisa toda. Dependendo de como você faz isso (tipo o clássico “Ficar sentado num restaurante por vinte minutos“), o espectador já transcendeu a morte de tão entediado que ele ficou. O que vem depois pode até ser bom, mas ninguém aguenta passar por tanta exposição chata logo de cara.

Por isso que a Premonição Sugestiva existe. Tasque um episódio intenso, porém independente, do meio da temporada logo no começo. Pegue o telespectador desprevenido, mostre para qual lado o negócio vai andar, e o que o espera no futuro. Depois que ele pegar o queixo do chão, você pode voltar pro começo e ficar naquele lero-lero nada acontece feijoada, que vai ser mais fácil de engolir.

E até nisso o nosso anime da vez dá um show. Em cada episódio após o nosso prólogo de nome elegante, eles conseguem: apresentar uma personagem; introduzi-la na história de forma satisfatória; contar parte dos acontecimentos que moldam o mundo sem apelar pra fatídica cena do café; e ainda ter uma sequência de ação de dar inveja no Jack Splinter.

Weebs, a maior fraqueza da Máfia

Só que eu já gastei metade da postagem falando da mesma coisa, então vamos comprimir todo o resto na segunda metade e torcer para ficar legível.

O elenco não tem lá grandes nomes. As personagens são espiãs (e elas adoram dizem que são espiãs. Elas farão questão de te lembrar que elas são espiãs a cada dez segundos e vão repetir caso você tenha esquecido que elas são espiãs), então é meio óbvio que elas não queiram se destacar demais.

Mas mesmo assim temos uma guria que brilha verde e voa, outra que anda por aí com espadas na mão e uma que é basicamente o Stephen Hawking moe. Tanto em Character Design como em notoriedade, elas se destacam mais do que deviam. Ah, e elas são espiãs.

Desnecessário falar, os visuais são simplesmente deslumbrantes. Não dá pra fazer um steampunk de qualidade sem artwork de mesmo nível. Eles se preocuparam tanto com isso que na lista de staff tem pra mais de dez pessoas creditadas como responsáveis ou envolvidos na parte artística. É mais gente nisso do que muito anime por aí tem pra produção inteira

Por outro lado, a animação (por conta dos não-tão-influentes ‘Actas’ e ‘Studio 3Hz’) é tão flutuante quando a protagonista (já que ela voa… sacou?). Temos muitas cenas lindíssimas, que são seguidas por cortes questionáveis e de qualidade duvidosa. Não gosto de me prolongar nisso pois é um buraco bem mais fundo do que aparenta e quase ninguém tem coragem de descer isso tudo.

DELET THIS

Uma surpresa agradável, que vai te interessar por soar extremamente bobo (e, como é de praxe nas mídias nipônicas, realmente é tão idiota quanto soa), mas vai te fisgar e te manter entretido pelos episódios intensos; pelas personagens (que são espiãs) e seus objetivos; e toda aquela bagunça de espionagem e politicagem no melhor estilo House of Cards. A nota não podia ficar abaixo de 8/10.

Você pode assistir este excelente show legalmente pelo sistema de Streaming de anime da Amazon, o Anime Strike.

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Primeiras Impressões | Koi to Uso

Vamos falar sobre Koi to Uso. Histórias que começam com “Num futuro não tão distante…” normalmente têm várias coisas que com certeza não existiram num futuro não tão distante. Isso é quase que uma regra da ficção (científica). Mas quando tratamos do Japão, as coisas numa história dessas são bem mais plausíveis do que imaginamos. Japonês é um povo estranho mesmo.

De vez em quando nós paramos para refletir sobre nossas vidas, sobre todos os anos que temos nas costas… Pensamos sobre como nossos tempos de colégio já estão lá pra trás (ou não! Mas estarão um dia!), numa época distante… Daí vem um anime desse tipo e faz você perceber que, de verdade, tua cabeça ainda está na quinta série.

Incrível como, não importa a maturidade que você tenha, a sua idade ou seu estado civil, quando certos assuntos são tocados, nossa mente instantaneamente regressa para o auge dos nossos doze anos. E o mais legal é que eu não preciso citar nenhum exemplo, todo mundo sabe do que eu estou falando.

https://youtu.be/2CS87AfcD1A

Koi to Uso trata justamente de um desses temas: romance cinematográfico. Você acaba torcendo tanto para tal casal dar certo, que sua mente desaparece e tudo que você consegue fazer é dar gritinhos e espernear.

Eu totalmente não fiz isso…
Aham

De qualquer maneira… O mais impressionante de tudo, e que vale como um enorme ponto positivo, é a famigerada “desconstrução” (palavra que eu detesto, mas que por motivos diversos pode ser encaixada aqui) do principal paradigma do gênero: a enrolação.

Se você já assistiu qualquer anime que possuísse qualquer forma de “romance” em sua narrativa (não importa se foi um Harém Genérico, um Shoujo… Independente do gênero), você deve ter notado como as coisas são DEVAGAR PARA CARAMBA. Tudo demora demais. Nenhum desenvolvimento acontece por trinta e sete episódios, e quando algo finalmente vai acontecer… Alguma coisa interrompe ou impede ela de se efetivar. Ficamos andando em círculos, para que só aconteça algo (isso QUANDO acontece algo) no final da obra.

O que temos nesse show é justamente o contrário: o autor (Musawo Tsumugi) não poupa esforços para que, logo no começo da história, você já sinta afeto e interesse o suficiente nos personagens dele, para que quando eles finalmente consumarem seu amor, você se importe. Enquanto outros mangakás e escritores preferem levar anos de publicação para fazer isso (e no final você acaba se apegando aos personagens pelo tempo gasto com eles, e não por se importar com quem eles são), Musawo mete o pé no acelerador e consegue, de forma convincente, te deixar emocionalmente ligado aos protagonistas em menos de vinte minutos.

Ele faz de zero a cem [lágrimas] em vinte [minutos]!

E já que estamos falando dos protagonistas, deixe-me comentar sobre os personagens. Acharei extremamente difícil você desgostar de alguém. Todos são muito gostáveis, e de certo modo você fica até triste com o fato de, não importando como o negócio se desenrole no final, alguém legal vai acabar perdendo. Sério. E olha que eu costumo ser bem chato com isso, e desgosto de mais da metade do elenco de muitas coisas.

E isso não se resume ao núcleo central da trama, apenas. Até mesmo os secundários tem algo de especial que os fazem interessantes. Pode não ser muita coisa, mas se compararmos a impressão que eles deixam com o (pouco) tempo de tela que eles possuem, vemos como eles têm certa presença, certo carisma que muitos shows falham em dar aos seus figurantes (e às vezes, até aos seus mocinhos!).

Acontece que quem vive só de flores é defunto, e claro que o anime não veio sem suas falhas. Meu principal problema com o show é, dentre outros que citarei mais adiante, o seu Design de Personagens. O traço faz parecer que os personagens tenham, no máximo, uns 13 ou 14 anos. Eles possuem feições infantis, um corpo de criança. A impressão que me passa é que o desenho se força muito a tentar diferenciar os seus “jovens” (de 15 e 16 anos) de seus “adultos” (com mais de 30), e como os adultos parecem normais, os jovens acabam ‘rejuvenescendo‘.

Isso não seria um problema por si só. Existem diversos shows com um design mais “infantil” que funciona bem. A questão é como esse design se encaixa na atmosfera da obra em que ele está. Animes como Lucky Star ou K-ON!, por exemplo, possuem um ritmo mais leve (entendeu? Leve? Música Leve? K-ON? …Não? Ok), onde o design infantil acrescenta ao humor e à narrativa da obra. Em Koi to Uso, onde os temas principais são o amor, a paixão e a sexualidade de adolescentes, ter um design infantil é… Horrível. Não preciso poupar palavras, é quase que nojento.

Ah sim, e aqueles olhos gigantes (até para padrões japoneses) me perturbaram um pouco.

Mesma idade? Mesma idade. É o poder do design de personagens.

O outro problema que enxerguei nesses episódios iniciais, parece ser a hipocrisia da trama. Explico:

Enquanto toda a história roda em volta da “banalização” do casamento, da ideia de que a união do matrimônio não é mais uma decisão importante na sua vida, e de como os personagens não concordam com essa ideia… O autor parece também “banalizar” o próprio adversário do sistema, que é o “amor”.

Talvez por consequência da aceleração do desenvolvimento, ou simplesmente por falta de costume de ver isso acontecendo nessa mídia, eu encaro o tanto de afeto trocado entre o casal principal como sendo “banal”. No começo, você sente toda aquela emoção nos personagens… Mas quando aquilo começa a se repetir várias e várias vezes (até como consequência do desenvolvimento da trama! Que diabos!), a mágica simplesmente se esgota, e aquilo que deveria ser o ápice da história, vira um quadro do centro da página 37.

Na parte técnica, não temos nada de extraordinário. A animação dirigida por Eriko Ito (Another, Kuromukuro) no estúdio LIDENFILMS (Terra formars, Arslan Senki) é passável, apesar de ter vários derps aqui e ali. E a música de Masaru Yokoyama e Nobuaki Nobusawa (Freezing! e Dagashi Kashi, respectivamente), dirigida por Yota Tsuruoka (Clannad, Puella Magi Madoka Magica) ajuda a criar o clima, mas não chama muita atenção. A dublagem conta com nomes de peso e atuações acima da média, com Kana HanazawaYui Makino e Shinnosuke Tachibana.

Mesmo com falhas muito graves, elas são poucas e podem ser, se não superadas, pelo menos “aceitas”. E as qualidades do show acabam por abafar seus defeitos. Passou uma boa primeira impressão, e possui potencial tão grande para ir pra qualquer lugar, que ainda prevejo muita gente (eu incluso) deixando cair o cu da bunda com o que pode vir. 8/10 é uma nota justíssima.

Você encontra Koi to Uso para ser assistido legalmente pelos sites de streaming da Amazon (Anime Strike) e da HIDIVE.

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Primeiras Impressões | Fate/Apocrypha

Heróis britânicos lutando na Romênia por causa de um copo da Galileia enquanto conversam em japonês. Vê se esses caras não são malucos? Cada coisa que eles inventam… Japonês é mesmo um povo estranho.

http://www.dailymotion.com/video/x5qzby7

Tendo origens num dos multiversos mais bem trabalhados da cultura contemporânea nipônica, – sim, aquele – a tão esperada adaptação para TV da série de light novels Fate/Apocrypha finalmente chegou, e infelizmente ela não ficou lá essas coisas. Vamos trabalhar em explicar alguns pontos. Afinal, eu já passei quase quarenta minutos ouvindo nada além de explicações em cenas expositivas mesmo, já devo estar craque nisso.

Podemos começar com a própria chacota que eu fiz no parágrafo anterior: exposições. Tá certo que, por se tratar de um show da franquia Fate/, é literalmente OBRIGATÓRIO ter, no mínimo, meia hora de explicações sobre todas as regras, todos os personagens, a ambientação, o contexto, o motivo do cara estar usando cuecas de determinada cor, etc e tal. É a regra número dois de qualquer obra da empresa.

Retirada do site oficial da empresa. Sério, de verdade, 100% legit

Apesar de focar nos aspectos excepcionais que tornam o evento que move a obra algo especial, as demoradas explicações ficam massantes depois de um tempo. A pior parte é que, mesmo sabendo que 90% das pessoas assistindo o show já são fãs da franquia e já sabem tudo que está sendo dito, eles fazem questão de repetir pela milionésima vez.

Acredito, porém, que a principal falha dessa adaptação tenha sido a coreografia. Sei lá o que diabos é um “Diretor de Ação“, mas Enokido Hayao está creditado como um em Fate/Apocrypha, então ele deve ser o responsável por isso.

As lutas, o combate, todas as cenas de ação são extremamente… vazias. Os movimentos parecem ser “brutos”, pouco refinados. Dois grandes heróis da mitologia, conhecidos através das eras por sua habilidade de combate, que quando eles cruzam espadas, parecem o Gabriel e eu brincando de lutinha com garrafas pet.

O prólogo da história, que vemos nos primeiros cinco minutos do episódio inicial contém uma das cenas mais épicas de todas as obras da franquia. Os homens capacitados e treinados da A-1 Pictures (já falo deles) conseguiram a proeza de animá-la de forma totalmente sem emoção. Acaba sempre faltando um “tchan“, aquela coisa que faz tudo parecer épico. Abaixo segue o vídeo de uma luta de Fate/Kaleid Liner Prisma Illya, onde ocorre uma cena extremamente similar. Repare como a Silverlink. (estúdio responsável) trata a cena como um todo, em especial o confronto de golpes no final, e veja se não tem um “tchan” que falta em Apocrypha?

https://youtu.be/3YhfEPxVxNY

Tendo uma história relativamente fraca, Apocrypha se apoia demais em seu excelente elenco. Com uma seleção de servos ao mesmo tempo interessante e diversa; com mestres que são chamativos por si só, além dos que brilham ainda mais quando interagindo com seus novos familiares, formamos um ambiente que consegue se sustentar mesmo sem muito pé (nem cabeça).

O único problema é a falta de mistério que envolve os personagens. Metade da graça de qualquer obra de Fate/ é tentar descobrir quem são os servos. Ter aquela satisfação de ter acertado e provar pra si mesmo que é um grandessíssimo nerd; aprender coisas novas sobre lendas que você nem fazia ideia que existiam; aquele plot twist na reta final, onde finalmente descobrimos quem é aquele babaca que vem enchendo nosso saco… Daí o autor vem e revela o nome de todo mundo antes mesmo de completar um episódio.

Pontos negativos listados, também devo dar meus méritos ao show: confesso que fiquei com receio do design de personagens para o anime (feito por Yukei Yamada) quando vi as imagens promocionais, mas vê-los em ação, animados, foi uma experiência completamente diferente. Eles funcionam até que bem, e ficaram bons o bastante.

“Um cavalo, um cavalo! O meu reino por um cavalo!”

Com pesar no coração também digo que a A-1 Pictures até que conseguiu fazer sua parte. Mais ou menos. A animação está com uma ótima qualidade. Apesar das coreografias ruins, elas estão muito bonitas. É tipo assistir a Dança dos Muleke Zika em 1080p. A OST também é extremamente consistente e acrescenta muito ao clima. Era de se esperar, tendo um diretor tão experiente como Yoshikazu Iwanami. Com um currículo desses, fica difícil contestar o cara.

Fate/Apocrypha acaba sendo um cabo-de-guerra. Temos boas qualidades em seu elenco e produção, mas muitos defeitos em sua falta de tato, mistério e direção. Independente do lado que te puxa mais, ele é, sem dúvida, uma adição extremamente importante para o universo animado da franquia, e acaba por valer a pena apenas por isso.

Eu dou 6/10 pra esse começo, e acredito que, se não houver um bom desenvolvimento dos personagens interessantes, eles não vão conseguir se sustentar. Não só com lutinhas, pelo menos. Mas não que eles precisem né, fazendo parte de uma franquia dessas, podia sair qualquer coisa que daria lucro.

O anime será disponibilizado na plataforma de streaming Netflix a partir do dia 7 de novembro, mas ainda não temos informações sobre as regiões e se terá dublagem ocidental.

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Inuyashiki | A chocante sociedade japonesa retratada na ficção científica

Hiroya Oku é um autor controverso. Após 13 anos escrevendo e desenhando sua série mais longeva, Gantz, com a criação de Inuyashiki em 2014 o mangaká parece ter encontrado novos ares para sua habilidade primária: criar histórias de ficção-científica com algum valor moral, abordando aspectos da sociedade japonesa moderna através da violência típica de suas obras, com um visual extremamente realístico e cenas chocantes.

Em 1999 Oku lançou sua primeira obra com um pé no sci-fi. Zero One era uma história sobre um torneio de videogame, e o sucesso não foi alcançado como em sua série prévia de comédia romântica, Hen. Apesar do fracasso o autor iniciou em seguida sua mais duradoura e bem-sucedida publicação, Gantz, que rende frutos até hoje e através de uma narrativa louca, violenta e chocante, tornou-se um dos seinen mais marcantes dos quadrinhos japoneses.

Um dos aspectos de Gantz era, no meio da violência, sexo e alienígenas bizarros, tecer críticas à forma de viver dos seres humanos. Abordando a superficialidade do coletivo, preconceito e até mesmo falando sobre o papel da mulher no mundo (da forma mais rasa possível, mas está lá), as camadas mais “profundas” do mangá perdiam-se no meio de robôs gigantes e roupas coladas, com muitos peitos e bundas.

Com o fim da série em 2013, Oku levou um ano para bolar o que, aparentemente, é sua obra mais intelectual, sem deixar perder sua assinatura e estilo que ficaram marcados no universo de Gantz. Inuyashiki veio ao mundo nas páginas da revista Evening japonesa e agora alcança as bancas do Brasil em volumes bimestrais publicados pela editora Panini.

Inuyashiki possui uma premissa semelhante a de Parasyte (Kiseijuu), mangá de Hitoshi Iwaaki publicado no Brasil pela Editora JBC. A história é centrada em Ichiro Inuyashiki, um senhor de 58 anos que aparenta ser muito mais velho. Sua família não dá muita bola pra ele e constantemente o desrespeita, e no meio de sua vida infeliz, Ichiro descobre estar com um câncer terminal. Rodeado em desgraça, o senhor acaba por se envolver em um acontecimento que altera sua perspectiva da realidade: ele é transformado num ciborgue. E daí pra frente, a vida de Inuyashiki muda de forma radical.

Oku parece possuir uma missão com este mangá. Todo o primeiro volume é centrado quase que exclusivamente em criticar os aspectos mais deploráveis da sociedade japonesa moderna, que vão desde a marginalização dos jovens até o desrespeito e falta de empatia pelos mais velhos. Os idosos do Japão são desprezados, ignorados e solitários, enquanto as pessoas mais novas agem de forma egoísta, instável e passional. As críticas sociais, típicas de qualquer boa ficção científica, misturam-se com a vontade de Ichiro ao passar por esta experiência com “seres alienígenas” que mudaram seu corpo: tornar-se uma espécie de justiceiro, um super-herói que faz o bem para a humanidade, agindo onde ninguém mais parece enxergar os problemas.

Obviamente, surge também um possível antagonista que passou por essa “experiência” ao lado de Ichiro e tornou-se um psicopata assassino.

O autor pesa a mão na dramaticidade, algo extremamente necessário para uma história que toca em assuntos tão delicados. O objetivo aqui é chocar o leitor, propor uma reflexão que se aplica também ao nosso dia-a-dia, e tentar expandir a visão de mundo dos leitores, criando paralelos entre a personalidade do leitor com algum dos personagens secundários, cheios de falhas de caráter e vivendo suas vidas das formas mais comuns e desprezíveis.

A semelhança com Parasyte é traçada no modo em que a trama é abordada. De forma similar, os protagonistas passam por um de contato alienígena que os torna super poderosos, e tentam agir para o bem da sociedade. Da mesma forma, outra pessoa (no caso da obra de Iwaaki, outras) passa pela mesma mudança, e vai para o lado oposto. E no meio disso, as questões sociais, políticas e reflexivas são abordadas, com choques culturais e um texto sofisticado em ambos os casos.

Deixando de lado o principal atrativo, que é sua temática, Inuyashiki também é um mangá lindamente ilustrado. Oku-sensei refinou seu traço ao longo dos treze anos de Gantz, tornando-o ainda mais realístico, bem detalhado e fluido, com uma movimentação única que poucos profissionais conseguem retratar com clareza. A beleza da arte também contribui para a imersão, visto que este mundo é extremamente similar ao nosso, facilitando o reconhecimento e potencializando a mensagem que deve ser passada.

O mangaká também brinca com a metalinguagem, inserindo outros mangás na narrativa, tornando este mundo teoricamente fictício algo verdadeiramente inserido na realidade, um perfeito retrato do nosso mundo quando somado ao seu já citado belíssimo traço.

E apesar da narrativa mais calma, com capítulos cadenciados de forma bem amena, rapidamente o passar das páginas torna-se algo frenético, com ação e cenas marcantes, misturando emoção e repulsa pelos acontecimentos. Este desenrolar é típico dos mangás de Oku-sensei, que deixam o leitor empolgado e curioso para saber o que acontecerá em seguida. E ao contrário de Gantz, aqui ele não deve se perder na aventura, já que o final da obra está programado para setembro, quando o décimo e último volume da série será lançado no Japão.

Inuyashiki é tudo de bom que o gênero da ficção científica tem a oferecer. Apesar do currículo estranho de seu autor (ele mesmo brinca com isso), a obra parece vir para acrescentar algo ao mercado, unindo-se aos outros ótimos mangás com premissas mais reflexivas, como Assassination Classroom – que é uma crítica ao sistema de ensino – e Arakawa Under The Bridge, que fala sobre a aceitação do diferente na comunidade.

E sendo outro ótimo candidato ao posto de melhor mangá do ano, a obra de Hiroya Oku também acrescenta qualidade ao mercado, que passa atualmente por um belíssimo momento onde verdadeiros clássicos e novos-clássicos enchem as prateleiras de bancas e livrarias de todo o Brasil. A edição também conta com um belo glossário em suas páginas finais, que explica as referências e termos utilizados ao longo das 204 páginas do primeiro volume, que assim como a edição japonesa, possui um efeito holográfico especial em sua capa. Um capricho editorial respeitável, que faz valer cada centavo dos R$ 13,90 cobrados.

Recentemente o estúdio MAPPA anunciou que adaptará a obra para um anime, além de haver um filme live-action programado para 2018.

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GTO | O professor mais foda que você respeita

Em 1997 estreava nas páginas da japonesa Weekly Shōnen Magazine a série Great Teacher Onizuka, criada por Toru Fujisawa. Com serialização entre os anos de 97 e 2002, GTO (abreviação oficial) tornou-se rapidamente um fenômeno cultuado no mundo todo, figurando entre os 40 mangás mais vendidos do Japão. E com uma estreia fenomenal, este clássico da comédia japonesa chega ao Brasil pela NewPOP Editora, com um formato extremamente similar ao japonês e detalhes exclusivos da edição nacional.

Eikichi Onizuka é um personagem recorrente de diversas histórias do mestre Fujisawa. Shonan Junai Gumi e Bad Company foram séries produzidas antes da estreia de GTO, e as duas focavam na vida de Onizuka como um delinquente. A diferença, com a estreia da série que leva seu nome, foi a ideia aplicada: o delinquente Eikichi Onizuka, 22 anos, decide se tornar um professor… com o objetivo de ajudar (no sentido bíblico) alunas mais novas. E a trama se desenrola com foco em Onizuka tentando assumir o autodeclarado posto de “professor mais foda que virará uma lenda.”

Mangás com delinquentes marcaram uma época e quase sempre são sinônimos de boas risadas. Yu Yu Hakusho, Slam Dunk, Diamond is Unbreakable, Tenjō Tenge e tantos outros possuem o mesmo estilo de protagonismo, similar ao modo de agir do professorzinho de GTO. Através do absurdo conceito onde os delinquentes fazem coisas boas, os autores extrapolam suas ideias na comédia, algo que GTO consegue fazer em um nível muito elevado e mais adulto se comparado a outras obras do gênero. Séries do tipo permanecem vivas até hoje, com mangás recentes como Beelzebub, encerrado há poucos anos.

Great Teacher Onizuka apresenta um caráter sexual muito forte, já que a motivação inicial do protagonista é pura e simplesmente pegar garotinhas. Situações absurdas envolvendo os desejos do professor (e outros que o cercam), com uma arte extremamente caprichada e típica dos anos 90, tornam todas as situações da vida de Eikichi muito memoráveis (entenda o que quiser). Os personagens ao seu redor parecem inicialmente rasos e sem muito teor dramático, mas aos poucos as histórias são contadas e até os mal caráteres tornam-se extremamente relacionáveis com o leitor. Em 1998 a obra foi vencedora do Kodansha Manga Award na categoria shōnen.

A edição nacional, recém-lançada pela editora NewPOP, é o formato mais próximo de um volume japonês já publicado no Brasil. Com sobrecapa, papel especial de gramatura mais alta, sem transparência e dimensões quase iguais aos tankos japoneses, GTO é possivelmente um novo parâmetro de qualidade para os produtos nacionais, sendo importante ressaltar que as páginas coloridas apresentadas nesta edição não existem nos volumes do Japão, tendo sido negociadas como um adicional para a versão do Brasil. E apesar da quantidade absurda de textos e detalhes traduzidos em diversos quadros, erros de revisão interna não passaram, tornando o produto ainda mais caprichado.

O mangá foi adaptado em uma série animada entre 1999 e 2000, totalizando 43 epsiódios. Séries de TV e filmes live-action também foram produzidos e elogiados pelos críticos e fãs. Em 2014 Fujisawa deu início a sua nova série GTO: Paradise Lost, na Young Magazine japonesa, que conta com quatro volumes encadernados até o momento, adicionando mais história aos 25 volumes originais de GTO.

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Um dos anúncios mais empolgantes com um acabamento muito relevante para o mercado brasileiro, GTO é até o momento a estreia de mangá mais fantástica de 2017. Com personagens carismáticos, ótimas ilustrações e diversão com emoção a todo instante, a vida de Onizuka como um professor é um clássico obrigatório para a coleção de todos, reforçando a capacidade humorística dos mangakás japoneses.

GTO possui uma média de 192 páginas por volume encadernadas em formato 18 x 12 cm, com sobrecapa resistente, papel especial de alta gramatura e preço de capa R$ 23,90. Os volumes serão lançados bimestralmente, com assinantes e consumidores da loja Anime Hunter recebendo brindes exclusivos como bottons, marca-páginas e postais.

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Primeiras Impressões | Renai Boukun

Aquele que tiver seu nome escrito nesse caderno há de… Beijar outra pessoa? Não, de verdade, quem é que pensa nessas coisas? É umas ideia que não tenho nem noção de onde é que eles tiram… Cada dia que passa, e cada post que eu escrevo, é uma prova cada vez maior de que japonês é um povo estranho.

Acontece que, quando uma ideia é absurda desde o princípio, só existem dois caminhos pare seguir: ou você segue na absurdidade, pois o início já foi aviso o suficiente para qualquer um; ou você tenta racionalizar o negócio, falha miseravelmente e manda tudo por água abaixo. E o que o mangá de Megane Mihoshi faz é justamente a primeira opção. Em andamento com oito volumes no Japão, a série que é publicada originalmente na web é trabalho único do autor, mas vem fazendo relativo sucesso nas terras nipônicas.

Fico extremamente feliz de saber que ainda existem pessoas e autores dispostos a aderir ao absurdo e fazer uso do que há de melhor em marmelada para trazer humor à suas obras. Renai Boukun é justamente isso, uma reunião absurda de marmelada que por juntar o inacreditável com o inesperado, consegue te fazer rir.

A obra não tenta esconder em momento algum que se trata de uma comédia absurda e propositalmente forçada. Além de ter personagens extremamente diferentes interagindo de forma genial entre si, o anime ainda conta com eventuais quebras da quarta parede que já são muito boas por si só, mas conseguem brilhar ainda mais pelo fator surpresa.

Minha cara quando o professor libera as notas.
Minha cara quando o professor libera as notas.

O desenvolvimento da história se dá por “bloquinhos”. Não é exatamente episódico, pois temos mais de um episódico por episódio, mas acho que não é errado chamá-lo assim. Em cada bloco temos um problema, um conflito e uma solução. As coisas acabam sendo bem fechadinhas em si mesmas, e pouco se vê de prosa a longo prazo. Em três episódios, não se pode tirar praticamente nada que pudesse vir a ser desenvolvido de novo no futuro. Talvez, no máximo, a história da irmã do protagonista, mas isso é algo que é óbvio que virá a acontecer no futuro, dentro do formato de “bloquinho”.

Acontece que isso não é exatamente um problema. É quase que uma das ferramentas que torna a estrutura absurda do anime viável. Justamente por ser absurdo, se tentássemos focar demais em alguma coisa, algo daria errado em algum momento, e cairíamos no segundo caso que foi descrito lá no começo deste Primeiras Impressões. Meu único medo é não ter certeza se o show consegue aguentar doze episódios assim, sem perder a graça.

Equipe de dubladores caracterizados como seus personagens. Graças a Deus o "gato" não está ai...
Equipe de dubladores caracterizada como seus personagens. Graças a Deus o “gato” não está ai…

Na parte técnica, temos uma animação de ótima qualidade pelo recente estúdio EMT², que consegue capturar bem as diversas facetas da obra (como, por exemplo, as mudanças das personagens para um modo caricato quando a cena demanda); os personagens não têm um design espetacular, mas possuem, sim, características peculiares e marcantes o bastante para podermos dizer que foi um bom trabalho por parte de Mariko Ito. O destaque técnico, porém, com certeza está na música: botar a responsabilidade nas mãos do cara que cuida da música de um anime musical que está no ar há mais de quatro anos, foi sem dúvidas uma escolha certa. O monaca conseguiu deixar tudo ainda mais galhofado com sua trilha sonora que beira o estúpido de tão boa que é. Com a ajuda do diretor de áudio Satoshi Motoyama, os sons são o ponto alto do show.

Resumão, então: obra sólida com comédia nonsense que consegue tirar muitas risadas de quem gosta desse tipo de coisa; personagens não muito especiais tanto em personalidade como em aparência, mas que interagem muito bem entre si; parte técnica interessantemente positiva e com destaque para uma ótima trilha sonora.

Pra mim, que adoro esse tipo de show, foi uma estréia maravilhosa e que com certeza valerá acompanhar. Começa com um 7/10 no comedômetro, sendo que não recebeu um oito por pura precaução.

O anime pode ser assistido gratuitamente no serviço de streaming da Crunchyroll, com novos episódios todas as quintas-feiras.

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Primeiras Impressões | Boruto: Naruto Next Generation

Após 15 anos de exibição, Naruto, um dos animes mais populares mundialmente, finalizou a sua jornada com o total de 720 episódios, contabilizando a fase Clássica e a Shippuden, e também os odiados fillers (inclusive, fizemos uma Guia dos Episódios sem os fillers. Confira aqui).

E mesmo depois de ser finalizado, Naruto não acabou nem quando acabou, então surgiu Boruto: Naruto Next Generation, focando no legado de Naruto e seus amigos.

Abertura de Boruto:

https://www.youtube.com/watch?v=9prtl1aVcdM

O primeiro episódio de Boruto estreou dia 05 de Abril e teve um início no mínimo interessante. A história começa do final, no auge de uma batalha entre Boruto e um garoto misterioso chamado Kawaki, que diz que a era dos shinobis acabou, e fará com Boruto o mesmo que fez com seu pai, o que pode ser um indício da morte de Naruto futuramente. E, então, o nosso novo protagonista veste uma bandana de Konoha que está riscada, que normalmente é usada por  ninjas renegados, e utiliza um poder ocular que pode ser um Byakugan, mas também parece ser diferente do de sua mãe, Hinata.

boruto-byakugan
Boruto e seu Byakugan

Passado o combate entre Boruto e Kawaki em um futuro aparentemente distante, o foco muda para um Boruto ainda criança, que não ingressou na academia ninja mas já se garante no Ninjutsu, diferente de seu pai quando tinha essa mesma idade. Além da aparente prodigiosidade do filho de Naruto, há outras diferenças entre pai e filho, como o fato de Boruto ter uma família e amigos, logo, os dilemas a serem enfrentados pelo protagonista serão diferentes do que vimos durante a trajetória do Naruto.

É interessante notar que, apesar de se tratar do mesmo universo que já é conhecido há 15 anos, algumas coisas soam como novas, como a modernização de Konoha frente às tecnologias, ou a presença de corporações no mundo ninja.

Fazendo uma aposta para o que vem no futuro do anime, chuto que a presença de tecnologias no mundo ninja está diretamente ligada ao fim da era dos Shinobis que é mencionado por Kawaki.

Kawaki
Kawaki

Em relação aos personagens secundários, não há muito que falar, pois apareceram pouco e devem ser apresentados aos poucos. Em um primeiro momento temos o Shikadai, filho do Shikamaru e da Temari, que inclusive, tem a mesma personalidade do pai, e é amigo próximo de Boruto devido à amizade de seus pais.

Há também um personagem novo, Denki, que foi criado especialmente para o anime. Ele é filho de um dono de uma corporação, e que por acaso se tornou amigo de Boruto ao ser salvo pelo rapaz. Futuramente, deve haver uma trama para ele, pois ele é possuído por uma aura negra misteriosa, que inclusive é o motivo de despertar o Byakugan diferente que Boruto possui.

Shikadai e Denki
Shikadai e Denki

Sarada Uchiha, filha do Sasuke e da Sakura, e Mitsuki, criação do Orochimaru, serão coprotagonistas do animes, mas ainda não ganharam espaço em tela. Sarada aparece brevemente, mas Mitsuki nem deu as caras no anime ainda.

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Mitsuki e Sarada

Talvez o ponto mais positivo dessa nova era de ninjas seja o retorno à raiz clássica de Naruto, em que há uma forte presença de combate corpo a corpo entre os ninjas, e não dependem só de técnicas especiais envolvendo poderes especiais exagerados, que foi um rumo natural de Naruto, mas em certo ponto se tornou desgastante.

Konohamaru e Boruto
Konohamaru e Boruto

Boruto: Naruto Next Generation tem um começo intrigante, que ao mesmo tempo é familiar aos fãs antigos, mas também é novo. Se será bom ou não, só descobriremos com o tempo, mas com certeza será uma jornada que deve durar alguns anos.