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Primeiras Impressões | Fate/Apocrypha

Escrito por Vini Leonardi

Heróis britânicos lutando na Romênia por causa de um copo da Galileia enquanto conversam em japonês. Vê se esses caras não são malucos? Cada coisa que eles inventam… Japonês é mesmo um povo estranho.

Tendo origens num dos multiversos mais bem trabalhados da cultura contemporânea nipônica, – sim, aquele – a tão esperada adaptação para TV da série de light novels Fate/Apocrypha finalmente chegou, e infelizmente ela não ficou lá essas coisas. Vamos trabalhar em explicar alguns pontos. Afinal, eu já passei quase quarenta minutos ouvindo nada além de explicações em cenas expositivas mesmo, já devo estar craque nisso.

Podemos começar com a própria chacota que eu fiz no parágrafo anterior: exposições. Tá certo que, por se tratar de um show da franquia Fate/, é literalmente OBRIGATÓRIO ter, no mínimo, meia hora de explicações sobre todas as regras, todos os personagens, a ambientação, o contexto, o motivo do cara estar usando cuecas de determinada cor, etc e tal. É a regra número dois de qualquer obra da empresa.

Retirada do site oficial da empresa. Sério, de verdade, 100% legit

Apesar de focar nos aspectos excepcionais que tornam o evento que move a obra algo especial, as demoradas explicações ficam massantes depois de um tempo. A pior parte é que, mesmo sabendo que 90% das pessoas assistindo o show já são fãs da franquia e já sabem tudo que está sendo dito, eles fazem questão de repetir pela milionésima vez.

Acredito, porém, que a principal falha dessa adaptação tenha sido a coreografia. Sei lá o que diabos é um “Diretor de Ação“, mas Enokido Hayao está creditado como um em Fate/Apocrypha, então ele deve ser o responsável por isso.

As lutas, o combate, todas as cenas de ação são extremamente… vazias. Os movimentos parecem ser “brutos”, pouco refinados. Dois grandes heróis da mitologia, conhecidos através das eras por sua habilidade de combate, que quando eles cruzam espadas, parecem o Gabriel e eu brincando de lutinha com garrafas pet.

O prólogo da história, que vemos nos primeiros cinco minutos do episódio inicial contém uma das cenas mais épicas de todas as obras da franquia. Os homens capacitados e treinados da A-1 Pictures (já falo deles) conseguiram a proeza de animá-la de forma totalmente sem emoção. Acaba sempre faltando um “tchan“, aquela coisa que faz tudo parecer épico. Abaixo segue o vídeo de uma luta de Fate/Kaleid Liner Prisma Illya, onde ocorre uma cena extremamente similar. Repare como a Silverlink. (estúdio responsável) trata a cena como um todo, em especial o confronto de golpes no final, e veja se não tem um “tchan” que falta em Apocrypha?

Tendo uma história relativamente fraca, Apocrypha se apoia demais em seu excelente elenco. Com uma seleção de servos ao mesmo tempo interessante e diversa; com mestres que são chamativos por si só, além dos que brilham ainda mais quando interagindo com seus novos familiares, formamos um ambiente que consegue se sustentar mesmo sem muito pé (nem cabeça).

O único problema é a falta de mistério que envolve os personagens. Metade da graça de qualquer obra de Fate/ é tentar descobrir quem são os servos. Ter aquela satisfação de ter acertado e provar pra si mesmo que é um grandessíssimo nerd; aprender coisas novas sobre lendas que você nem fazia ideia que existiam; aquele plot twist na reta final, onde finalmente descobrimos quem é aquele babaca que vem enchendo nosso saco… Daí o autor vem e revela o nome de todo mundo antes mesmo de completar um episódio.

Pontos negativos listados, também devo dar meus méritos ao show: confesso que fiquei com receio do design de personagens para o anime (feito por Yukei Yamada) quando vi as imagens promocionais, mas vê-los em ação, animados, foi uma experiência completamente diferente. Eles funcionam até que bem, e ficaram bons o bastante.

“Um cavalo, um cavalo! O meu reino por um cavalo!”

Com pesar no coração também digo que a A-1 Pictures até que conseguiu fazer sua parte. Mais ou menos. A animação está com uma ótima qualidade. Apesar das coreografias ruins, elas estão muito bonitas. É tipo assistir a Dança dos Muleke Zika em 1080p. A OST também é extremamente consistente e acrescenta muito ao clima. Era de se esperar, tendo um diretor tão experiente como Yoshikazu Iwanami. Com um currículo desses, fica difícil contestar o cara.

Fate/Apocrypha acaba sendo um cabo-de-guerra. Temos boas qualidades em seu elenco e produção, mas muitos defeitos em sua falta de tato, mistério e direção. Independente do lado que te puxa mais, ele é, sem dúvida, uma adição extremamente importante para o universo animado da franquia, e acaba por valer a pena apenas por isso.

Eu dou 6/10 pra esse começo, e acredito que, se não houver um bom desenvolvimento dos personagens interessantes, eles não vão conseguir se sustentar. Não só com lutinhas, pelo menos. Mas não que eles precisem né, fazendo parte de uma franquia dessas, podia sair qualquer coisa que daria lucro.

O anime será disponibilizado na plataforma de streaming Netflix a partir do dia 7 de novembro, mas ainda não temos informações sobre as regiões e se terá dublagem ocidental.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.