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Primeiras Impressões | Princess Principal

Escrito por Vini Leonardi

Alguns períodos da história humana acabam sendo fetichizados pelo homem moderno. Nunca paramos para pensar em como a Peste Negra assolava a Idade Média; como a discriminação era a norma na Era Vitoriana; ou como as pessoas viviam com medo do fim dos tempos durante a Guerra Fria. É com esses aspectos mais viscerais do passado que autores como Philip Pullman, Scott Westerfeld, Stephen Hunt e China Miéville (que eu descaradamente copiei e colei da Wikipédia) “fundaram” o subgênero steampunk.

E isso tudo é relevante para nosso tópico pois tratamos de uma série com canos, engrenagens e vielas londrinas pra tudo que é lado. E que apesar de abraçar fortemente a temática de “Crítica social foda” que é o steampunk, ainda não deixa de ser japonês, então vemos a fetichização de outras formas.

Mas convenhamos, quem é que não gostaria de ver garotinhas moe encarnando o 007 numa Londres Steampunk durante uma releitura da Guerra Fria? Esse é o seriado que você nunca soube que queria tanto.

Com um primeiro episódio sensacional, provavelmente um dos melhores que eu vi nos últimos anos, o show conseguiu usar aquele truque que é mais velho que vovó menina, mas que funciona perfeitamente quando bem executado: a Premonição Sugestiva.

Não sei se já existe um nome pra isso, mas acabei de inventar um, e na minha cabeça ficou muito legal.

Começos de história são sempre chatos. Você é obrigado a explicar o que está acontecendo, quem são essas pessoas, o motivo delas estarem fazendo aquilo, em que mundo estamos, de onde viemos, para onde vamos, e aquela coisa toda. Dependendo de como você faz isso (tipo o clássico “Ficar sentado num restaurante por vinte minutos“), o espectador já transcendeu a morte de tão entediado que ele ficou. O que vem depois pode até ser bom, mas ninguém aguenta passar por tanta exposição chata logo de cara.

Por isso que a Premonição Sugestiva existe. Tasque um episódio intenso, porém independente, do meio da temporada logo no começo. Pegue o telespectador desprevenido, mostre para qual lado o negócio vai andar, e o que o espera no futuro. Depois que ele pegar o queixo do chão, você pode voltar pro começo e ficar naquele lero-lero nada acontece feijoada, que vai ser mais fácil de engolir.

E até nisso o nosso anime da vez dá um show. Em cada episódio após o nosso prólogo de nome elegante, eles conseguem: apresentar uma personagem; introduzi-la na história de forma satisfatória; contar parte dos acontecimentos que moldam o mundo sem apelar pra fatídica cena do café; e ainda ter uma sequência de ação de dar inveja no Jack Splinter.

Weebs, a maior fraqueza da Máfia

Só que eu já gastei metade da postagem falando da mesma coisa, então vamos comprimir todo o resto na segunda metade e torcer para ficar legível.

O elenco não tem lá grandes nomes. As personagens são espiãs (e elas adoram dizem que são espiãs. Elas farão questão de te lembrar que elas são espiãs a cada dez segundos e vão repetir caso você tenha esquecido que elas são espiãs), então é meio óbvio que elas não queiram se destacar demais.

Mas mesmo assim temos uma guria que brilha verde e voa, outra que anda por aí com espadas na mão e uma que é basicamente o Stephen Hawking moe. Tanto em Character Design como em notoriedade, elas se destacam mais do que deviam. Ah, e elas são espiãs.

Desnecessário falar, os visuais são simplesmente deslumbrantes. Não dá pra fazer um steampunk de qualidade sem artwork de mesmo nível. Eles se preocuparam tanto com isso que na lista de staff tem pra mais de dez pessoas creditadas como responsáveis ou envolvidos na parte artística. É mais gente nisso do que muito anime por aí tem pra produção inteira

Por outro lado, a animação (por conta dos não-tão-influentes ‘Actas’ e ‘Studio 3Hz’) é tão flutuante quando a protagonista (já que ela voa… sacou?). Temos muitas cenas lindíssimas, que são seguidas por cortes questionáveis e de qualidade duvidosa. Não gosto de me prolongar nisso pois é um buraco bem mais fundo do que aparenta e quase ninguém tem coragem de descer isso tudo.

DELET THIS

Uma surpresa agradável, que vai te interessar por soar extremamente bobo (e, como é de praxe nas mídias nipônicas, realmente é tão idiota quanto soa), mas vai te fisgar e te manter entretido pelos episódios intensos; pelas personagens (que são espiãs) e seus objetivos; e toda aquela bagunça de espionagem e politicagem no melhor estilo House of Cards. A nota não podia ficar abaixo de 8/10.

Você pode assistir este excelente show legalmente pelo sistema de Streaming de anime da Amazon, o Anime Strike.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.