Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Resenha Semanal | The Detective is Already Dead #01

Nem só de obras completas vive um redator, e por isso, fujo da panela para cair no fogo. Querendo engajar mais com os leitores, me propus a comentar semanalmente um novo animê dessa temporada: “The Detective is Already Dead“. Como o bom mistério que é – ou que se propõe a ser, mas isso será discutido já já – esse show pode vir a ser um exercício mental interessante, ao comentarmos semana a semana o que está acontecendo. Se a ideia der certo, pretendo continuar com outros animês no futuro.

Primeiro, vamos conhecer o show: “The Detective is Already Dead” (no original em japonês, “Tantei wa mou, shindeiru“, ou “探偵はもう、死んでいる”) é baseado numa Light Novel de mesmo nome, que ainda está em publicação, com apenas cinco volumes lançados pela MF Bunko J. A obra, de autoria de nigozyu (二語十) e com ilustrações de Umibouzu (うみぼうず),  ainda é inédita no Brasil. O animê está em produção no Estúdio ENGI, e conta com um interessante comitê de produção.

Sua sinopse é a seguinte, cortesia da Funimation, que detém os direitos de exibição do animê no Brasil:

Reprodução: Funimation

Barrar o sequestro de um avião ao lado da bela detetive de cabelos prateados, Siesta, transforma a vida do jovem Kimihiko. O sucesso dos dois os lança em solucionar crimes e confrontar organizações mundo afora por anos até a morte de Siesta. Deixado para trás cheio de perguntas, Kimihiko segue com sua vida. Mas agora, um novo caso pode reabrir as feridas curadas ao se conectar com um assassino, uma conspiração mundial e sua parceira morta!

Com um primeiro episódio duplo, tivemos quase 47 minutos para conhecer a história, as personagens, e o universo que o animê quer nos contar. Mas e aí? O que eu achei? Vale lembrar que, como toda resenha, ela reflete apenas a opinião do autor, e de ninguém mais. Pra piorar, temos apenas um episódio para avaliar a situação. Todo o recado dado, vamos lá:

Episódio 1: “Atenção, passageiros: Há algum detetive a bordo?”

O episódio começa com uma clássica cena de exposição. É claro que precisamos ouvir o protagonista contar, em um solilóquio, quem ele é de uma forma bem pouco natural. Mas isso só precisa ser chato se você quiser que seja. O jeito como o nosso personagem principal conta sobre sua vida é bastante bem-humorada (bom humor que, aliás, parece ser uma característica do rapaz), e transforma a introdução em uma pequena esquete de humor. Como meu professor de teatro costumava dizer, “o verdadeiro humor é a desgraça alheia“, e isso talvez se aplique bem demais ao Kimihiko.

Quando conhecemos Siesta, a auto-proclamada “lendária detetive”, fica claro o tipo de personagem que ela é. É bastante comum termos personagens “geniais”, com capacidades absurdas em determinadas coisas, terem uma personalidade que não se encaixa na fantasia da posição que eles possuem. A Siesta é relaxada, talvez até “folgada” em alguns sentidos, e parece usar uma “inocência” para esconder sua natureza gentil. Claro que não tivemos tempo o suficiente para julgar, mas ela parece ser uma garota genuinamente boa, enquanto não podemos ter certeza se a sua atitude “bobalhona” é uma fachada ou não.

99% anjo, perfeita, mas aquele 1%… (Reprodução: Twitter Oficial, @tanteiwamou_)

Uma coisa que me pegou desprevenido foi a súbita aparição de elementos fantasiosos na história. Claro que existe a tag “sci-fi” atrelada ao show, mas não esperava que fôssemos tão longe. Pela sinopse, imaginei que teríamos apenas um show investigativo, mas realista, que se passa num futuro próximo. O máximo que eu pensei que teríamos eram projeções holográficas ou coisas assim. Mas não que isso seja ruim! Até acabo ficando mais interessado por conta disso.

O episódio inteiro foi incrivelmente bem animado, com um design que eu achei muito bonito, e que foi consistente ao longo de toda a duração. Um destaque que eu dou é a cena de “combate”, que aconteceu na primeira metade. Mais do que uma animação bonita, um combate interessante precisa ter uma boa coreografia. E eu adorei a coreografia de “The Detective is Already Dead” até então: A intensidade da luta foi passada tanto pelos movimentos caóticos e imprevisíveis, como também pelas consequências que ele deixou nos arredores. E ela também foi caótica, como era de se esperar, considerando que estamos acompanhando o “ponto de vista” do protagonista, que não fazia ideia do que estava acontecendo. Isso também vale para a trilha sonora, que eu gostei bastante, e acredito ter acrescentado à experiência.

O ponto alto do episódio pra mim, porém, foi a química entre os dois protagonistas. As interações entre a Siesta e o Kimihiko são hilárias, de uma forma bastante natural. O clima de humor do animê inteiro é super agradável, com piadas mais “prontas” sendo usadas na hora certa, e na quantidade certa, enquanto as piadas mais sutis são constantemente jogadas na sua cara (até mesmo uma referência a JoJo!). O Kimihiko é um tipo de cara que acaba sendo arrastado pras coisas, ele querendo ou não; enquanto a Siesta é uma garota de presença forte, que arrasta os outros ao seu redor. O fato de ambos serem bastante “bobos”, cada um em um sentido diferente da palavra, faz com que eles sejam bem complementares, alternando seus papéis como BokeTsukkomi. Eles são uma dupla perfeita.

Também queria comentar sobre como o animê usou, principalmente na primeira metade, a questão do protagonista “não ter ideia do que diabos está acontecendo”. Quando você esconde informações de um determinado grupo que inclui os espectadores, manter esse teatro por muito tempo pode levar a irritação. Eu, pelo menos, acho insuportável quando tentam fazer um mistério ao dar as informações para todo mundo, menos você. Deixar só uma pessoa no escuro enquanto todos ao redor sabem e parecem estar dando risadinhas às suas costas (cof cof Attack on Titan). Quando isso é usado para o humor, porém, você consegue um resultado interessante, se não exagerar na dose. O jeito como a Siesta evitava propositalmente dar respostas concretas para o Kimihiko foi feito para gerar uma situação engraçada, e também para nos mostrar os limites da paciência do garoto. Quando foi necessário, eles pararam com isso.

Participação especial: Loira do Banheiro (Reprodução: Twitter oficial, @tanteiwamou_)

Considerações Finais (Bem, “parciais”, mas vocês entenderam)

Embora o episódio “duplo” tenha sido simplesmente a junção de dois episódios completamente independentes, entendi o valor de tê-los unidos: Como a detetive já está morta, o impacto é muito maior ao terminar a primeira impressão com a sua morte, acompanhada de um titledrop, e, se entendi direito, de um timeskip. Embora isso me deixe um pouco triste, pois gostei muito da interação entre os dois, esse animê não é sobre a Siesta, mas sim, sobre Kimihiko. Juntar os dois episódios serviu para nos dar mais tempo com os dois, sem termos “tempo” de absorver essa situação, que um intervalo de uma semana nos daria. Assim como ela chegou, Siesta também se foi: Intangível, Intensa, Imprevisível.

Gostei bastante do que vi, e já estou bastante investido nas personagens. Nem tanto na trama, mas o suficiente, eu diria. Esperarei ansiosamente pelos domingos, para poder assistir mais um novo episódio de “The Detective is Already Dead“, e, claro, comentar com vocês.

O animê está disponível na Funimation, com novos episódios aos domingos, e legendas em português. Além de “The Detective is Already Dead”, a Funimation também anunciou diversos outros títulos para a temporada de verão de 2021.

Categorias
Anime Cultura Japonesa

Veja os títulos da “Temporada de Verão 2021” da Funimation

Julho marca o início da chamada “Temporada de Verão” dos animês. Verão, é claro, no hemisfério norte, pois aqui estamos em pleno inverno. Uma nova temporada também significa novos shows e o retorno de alguns já queridos do público. Confira abaixo todos os – até então – novos animês que estarão disponíveis na Funimation a partir de Julho, junto com um vídeo, disponibilizado pela plataforma, com uma prévia de alguns dos shows:

A lista completa de títulos anunciados até o momento segue:

“The Case Study of Vanitas”
  • The Case Study of Vanitas

Um vampiro jovem e cauteloso une esforços com um médico enigmático. Sua missão? Descobrir a cura para todos os vampiros.

  • How a Realist Hero Rebuilt the Kingdom

Kazuya Souma é coroado rei num mundo de fantasia e planeja melhorar as condições de seu reinado com uma reforma administrativa. Sim, isso mesmo!

  • My Hero Academia Season 5 (com legendas e áudio em português)

Endeavor reluta, mas acaba acolhendo os alunos que estão sob sua proteção. Enquanto isso, o guarda-costas de All For One coloca a Liga dos Vilões em seu devido lugar. Mas, antes que eles se recomponham, surge uma organização sinistra para destruir a Liga.

  • Sonny Boy

O colégio Nagara, misteriosamente, vai parar em outra dimensão, e seus alunos desenvolvem poderes estranhos e novas formas de rivalidade. Será que eles conseguirão sobreviver a esse ambiente hostil e suportar uns aos outros?

  • The Honor at Magic High School 

Recém-chegada à Magic High School, Miyuki é boa aluna e sonha aproveitar a escola na companhia de seu irmão mais velho, Tatsuya, um estudante pouco dedicado. Mas um racha entre as duas classes pode atrapalhar seus planos. Tudo leva a crer que Miyuki vai brilhar muito. Spin-off da famosa série “The Irregular at Magic High School“.

“The Dungeon of Black Company”
  • The Dungeon of Black Company

Kinji não quer saber de trabalhar e faz o possível para ficar longe de qualquer ofício. Tudo vai bem até ele se ver endividado num mundo completamente novo. Vivendo sob as regras de uma mineradora demoníaca, ele será capaz de se livrar dessa roubada?

  • Higurashi: When They Cry – SOTSU

Novo na vizinhança, Keiichi Maebara está se adaptando à vida no pacato vilarejo de Hinamizawa. Ele chegou a tempo do grande festival do ano e tem feito amizade facilmente com as meninas do colégio. Mas algo nessa vila isolada parece não estar bem e Keiichi desconfia que essa pequena comunidade esteja escondendo segredos obscuros. Nova temporada da famosa franquia “Higurashi“, cuja temporada anterior está, também, na Funimation.

  • RE-MAIN

Produzido pelo aclamado estúdio MAPPA, RE-MAIN mergulha no mundo do pólo aquático. O protagonista, Minato Kiyomizu, fera no esporte, abandona a modalidade após sofrer um acidente. Agora, cursando o ensino médio, ele volta a encarar o pólo, integrando uma equipe que enfrenta uma série de contratempos.

  • Life Lessons with Uramichi Oniisan

A história acompanha a jornada de Uramichi Omota, um homem de 31 anos que parece ter dupla personalidade. Uramichi trabalha com atividade física e aparenta ser uma pessoa animada. Mas, fora do campo de visão, o que se nota é um milenial desiludido e inconformado com a vida adulta. Conforme a trama se desenrola, a série explora as imperfeições dessa fase da vida.

  •  The Duke of Death and His Maid

Devido a uma maldição sofrida na infância, tudo aquilo em que Duke põe as mãos morre. Mas ele tem a companhia de sua empregada para ajudá-lo.

“Scarlet Nexus”
  • Scarlet Nexus

Salvo pela “Força de Supressão de Outros” quando era criança e munido de habilidades especiais, Yuito se alista a um grupo de elite formado especialmente para combater os inimigos da Terra. A prodígio Kasane também é escolhida por suas habilidades. Os sonhos estranhos e recorrentes de Kasane acabam arrastando os dois protagonistas para um destino inevitável.

  • Kageki Shojo!!

As jovens alunas da Escola de Música e Artes Cênicas Kouka Kageki se preparam para integrar um grupo teatral renomado e tradicional, chamado Kouka Acting Troupe, formado apenas por mulheres. Desde a época de escola, passando pelos palcos, até outras fases da vida, essas jovens são capazes de encarar qualquer desafio, graças à paixão pelo teatro.

  • Kingdom Season 3

Um menino sem nome e um jovem rei cresceram em uma nação atormentada pela guerra. O garoto já provou sua coragem incontáveis vezes no campo de batalha e, embora ele e o rei tenham lá suas diferenças, acabam tornando-se bons companheiros.

  • Blue Reflection Ray

Juntos, uma dupla de amigos um tanto inusitada usará seus poderes para ajudar a solucionar problemas emocionais e a proteger os “Fragmentos” de coração das pessoas.

  • The Stranger by the Shore

Shun Hashimoto é um rapaz solitário até o dia em que conhece Mio Chibana. Eles se apaixonam. Mas, logo após o encontro, Mio viaja para longe. Anos depois, ele retorna e, finalmente, se declara. Será, no entanto, que Shun ainda nutre os mesmos sentimentos por Mio?

Funimation está no Brasil desde 2020, como mais uma opção de streaming para os amantes de animês, oferecendo um extenso catálogo de títulos completos e fazendo simulcast (a transmissão simultânea de novos episódios, assim que são lançados no Japão) de novos shows, tudo com legendas em português. A plataforma também oferece a opção de dublagem em português do Brasil para alguns de seus shows.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Buscando uma vida tranquila em outro mundo

A essa altura, já deveríamos ter adicionado a palavra “isekai” ao dicionário. Não só da lingua portuguesa, como de todos os idiomas. É um termo tão recorrente quando o assunto são animês, que explicamos mais vezes do que gostaríamos de admitir. De forma breve, se traduz como “outro mundo“. Para uma descrição mais aprofundada, recomendo um outro texto: O Futuro do Isekai e “My Next Life as a Villainess”

Quando se cria um mundo completamente novo (e claro, uso o termo “completamente novo” com licença poética), você cria quantas oportunidades quanto você quiser. Esse mundo pode abrigar qualquer tipo de história ou narrativa, cabendo apenas ao autor decidir o que fazer com ele. Assim, é muito comum encontrarmos isekais onde temos uma trama épica, de proporções catastróficas. Onde a personagem principal é colocada numa posição onde precisa lutar contra o mal (ou pelo mal!), precisa estar no centro da ação para viver ou sobreviver. São situações extremamente incomuns no nosso mundo, e por isso, requerem um mundo de fantasia para acontecer.

Captura de tela do episódio 1 de "I've been killing slimes for 300 years and maxed out my level"
Como você pode já saber, dragões são super irados, mas, infelizmente, não existem em nosso mundo… Precisamos de um novo, se quisermos dragões.

Mas, recentemente, temos visto o crescimento de um tipo específico de fantasia. Uma história tão absurda para o nosso mundo, que realmente requer um mundo completamente novo para ser viável. Mas ela não envolve guerras, conflitos ou destruição eminente. A fantasia que vem se popularizando como sub-gênero do isekai é a de viver uma vida tranquila.

Colocando dessa forma, chega a ser um pouco triste, não é? E de certo modo, não deixa de ser mesmo. Um dos temas mais comuns para o início desses shows está em uma situação que se torna cada vez mais comum no Japão (principalmente lá, mas não exclusivamente), que é o excesso de trabalho. As chamadas “Black Companies“, empresas onde pessoas morrem de trabalhar (as vezes, literalmente), por violações nas leis trabalhistas e cargas absurdamente altas de horas-extras, muitas vezes sem remuneração adequada.
Com abusos de seus superiores, uma promessa vazia de crescimento de carreira, e ameaças de ter seu nome sujo no mercado caso desistam, muitos jovens acabam presos nesse ciclo tóxico de viver para trabalhar.

Captura de tela do episódio 1 de "I've been killing slimes for 300 years and maxed out my level"
A história de Azusa é apenas uma de várias como a dela…

E é a quebra desse ciclo, e um desejo por uma vida tranquila e de paz, que dá início a dois dos animês que terminaram sua exibição recentemente. Ambos abordam essa mesma temática, mas cada um consegue tomar seu próprio rumo e, dentro de gêneros diferentes, usar o melhor que seu respectivo gênero tem a oferecer para dar às nossas protagonistas um tão merecido descanso.

Esses shows são, é claro, “I’ve been killing slimes for 300 years and maxed out my level” e “The Saint’s Magic Power is Omnipotent“. Só de ler os dois nomes em sequência, eu já deveria cobrar hora extra… Mas vamos falar sobre eles.

No primeiro título nós acompanhamos, com todo o bom humor que uma comédia pode nos dar, a nova vida de Azusa, reencarnada em um novo mundo de fantasia e magia, após morrer de trabalhar.

Após trezentos anos de paz e tranquilidade, uma quantidade honestamente absurda de acontecimentos em sequência faz com que, aos poucos, a protagonista comece a repensar sua estrutura familiar. Talvez, a companhia de algumas pessoas não seja tão ruim, não é?
Com uma atmosfera aconchegante e acolhedora, a Bruxa das Terras Altas consegue “montar” uma família feliz, para finalmente receber a interação “humana” (bem… élfica, dracônica, demoníaca, fantasmagórica… vocês entenderam) e o amor fraternal que ela precisou abandonar em sua vida passada.

Numa mistura quase que perfeita de humor absurdo, previsibilidade como forma de imprevisibilidade, interessantíssimas interações de personagem, incrível trabalho técnico (principalmente de sonoplastia e visuais) e clima fofinho ownnt cuticuti, “Killing Slimes” se firmou como meu show predileto da temporada, e, até aqui, também do ano.

Já no segundo título, nós acompanhamos a nova vida de Sei, evocada para um novo mundo de fantasia e magia, deixando para trás um planeta Terra onde trabalhava exaustivamente.

Ao contrário de “Killing Slimes“, que é uma galhofa proposital, a história da nossa Santa em “Saint’s Magic Power” é surpreendentemente pé no chão. É claro que é necessário um certo grau de suspensão de descrença para lidar com toda a abobrinha mágica, mas quando isso é colocado de lado, vemos uma mulher adulta que lida com a sua vida de forma racional. E “racional” não significa “chata”: Sei é uma mulher de ótimo humor, com um repertório de vida que faz seus pensamentos serem bastante interessantes.

Embora sua vida não seja tão “tranquila” quanto a de Azusa, Sei está, também, vivendo uma realidade que não tinha em seu mundo original: Uma rotina onde ela se sente realizada, onde ela consegue deitar na cama no final do dia e, mesmo que cansada, pensar que tudo valeu a pena. É uma demonstração de que a exaustão pode ser, também, um sinal de que você está se divertindo com o que faz.

Com uma sinceridade que faz falta nos dias de hoje, o animê consegue ser sério e divertido ao mesmo tempo. E ele também serve como um refúgio para quem está cansado de ver séries sobre adolescentes, pois tem um elenco de adultos, e, mais importante, que agem como adultos.

Você pode assistir “I’ve Been Killing Slimes For 300 Years and Maxed Out My Level” na Crunchyroll, com legendas em português, e também com a opção dublada, que está sendo lançada semanalmente (e, até o momento, temos cinco episódios com dublagem brasileira). Já “The Saint’s Magic Power is Omnipotent” está disponível, com legendas em português, na Funimation.

Categorias
Entretenimento

Loading demite todo o elenco e encerrará programação inédita

No início da noite desta quinta-feira (27), o blog “NaTelinha“, portal de notícias sobre televisão do grupo Uol, noticiou com exclusividade a demissão de todo o elenco da Loading, e o fim da programação inédita do canal.

Segundo o redator Thomaz Rocha, o blog apurou que por volta de 60 funcionários – todos criadores de conteúdo para os programas autorais da emissora – foram mandados embora. A informação veio do Diretor de Programação da Loading, Anderson Abraços, numa reunião que aconteceu na tarde de hoje. O motivo seria a retirada do patrocínio da Kalunga, investidora majoritária do canal.

A Loading ainda não se pronunciou sobre as demissões, nem sobre a mudança da grade de programação, mas a notícia já foi confirmada por diversos ex-funcionários em suas redes sociais:

O canal de TV Loading entrou no ar no dia 7 de dezembro de 2020, utilizando a antiga frequência da MTV. A proposta da emissora era ter um conteúdo voltado para o público jovem, com programas sobre cultura pop e entretenimento moderno, como e-sports, animê, k-pop, entre outros. A empresa tinha feito diversas parcerias para exibição de programas em sua grade, como com a Crunchyroll e a Funimation, além de estar produzindo conteúdos exclusivos.

Logo em seu primeiro mês, já havia ocorrido uma demissão em massa da emissora: Todos os 16 redatores do bloco “Metagaming” (programa sobre e-sports e jogos) se desligaram por “desalinhamentos editoriais“, e alegaram terem sofrido censura em uma de suas matérias. O evento também foi coberto pelo blog NaTelinha.

Iremos atualizar a notícia assim que a Loading se pronunciar oficialmente sobre o caso.

Categorias
Anime Pagode Japonês

Vlad Love é uma declaração de amor ao caos

Clichês são, de certa forma, o ápice da literatura. Afinal, para que algo se torne um clichê, ele precisa ser usado à exaustão, e só existe um motivo para quererem usar algo tanto assim: Essa coisa precisa ser boa. Quando chegamos no patamar de clichê, porém, a necessidade de inovação se torna maior e mais importante, fazendo com que mudanças e reviravoltas precisem ser adicionadas ao seu roteiro. Um exemplo clássico disso são as velhas histórias de vampiro. Desde “The Vampyre“, tivemos diversas pessoas tentando fazer algo novo: Bram Stoker, Stephenie Meyer, Jorge Fernando…

E como o nome sugere, “Vlad Love” é uma história de vampiro. Ao menos, é a ideia que ela tenta te passar. Só que dessa vez, o destaque está na reviravolta que precisa existir para saírmos do clichê: Existem coisas pequenas e existem coisas grandes. Existem coisas enormes, e existem coisas colossais. E, acima de tudo isso, existe seja lá o que aconteceu nesse show.

A sinopse e o trailer, ambos cortesia da Crunchyroll:

Mitsugu Bamba é viciada em doar sangue, e visita bancos de sangue tão frequentemente que chega a atrair a inimizade das enfermeiras. Certo dia, Mitsugu encontra uma bela garota que parece ter vindo do exterior. Ela é tão pálida que parece prestes a desmaiar, então Mitsugu decide levá-la pra casa…

Para entender o que, e principalmente, o como isso sequer saiu do papel, precisamos conhecer o responsável (ou “culpado“, se preferir) por tudo: Mamoru Oshii.
Atualmente o meu diretor predileto, esse homem é responsável não apenas por títulos que você conhece, mas também por difundir uma boa parte dos diversos esteriótipos de animê que são usados até hoje.
Como cineasta, dirigiu filmes que quebraram recordes, como Ghost in the Shell (1995, com sequência em 2004) e Patlabor (1989, com sequência em 1993). Para o nosso contexto, porém, creio que seu maior mérito esteja em Urusei Yatsura, animê de 1981, que é a própria definição do gigante naquela famosa frase de Isaac Newton, sobre “ver mais longe“.
Se esses nomes não te deram contexto nenhum, significa que você não está familiarizado com esse lado da internet, e, muito provavelmente, “Vlad Love” seria um baque grande demais pra você suportar.

Por mais incrível que possa parecer, esse nem é o clube mais esquisito da escola

Aí você pega um diretor que, pelo histórico que tem, sabemos que gosta de fazer coisas absurdas e impensáveis… e dá a ele carta branca para fazer o que ele quiser, do jeito que ele quiser. Como foi um animê completamente patrocinado por uma única empresa privada, Mamoru Oshii recebeu o dinheiro e teve a liberdade de simplesmente fazer o que diabos ele tivesse afim. Ele não precisava ser coeso, ele não precisava criar algo que fizesse sentido. Ele podia apenas fazer por fazer. A habilidade – e, talvez, a possibilidade – de criar tantas tangentes quanto ele quisesse é, indubitavelmente, a própria essência de o que é o “caos“. E a frase anterior é pomposa de propósito.

Não vou contar tudo o que acontece na animê, para você ainda ter a chance de viver essa experiência surreal em primeira mão, mas só para te dar uns exemplos: Temos desde referências a quadrinhos avant-garde da década de 60; pausas de vários minutos para ler artigos da Wikipedia sobre assuntos diversos; Escolhas artísticas e visuais que são ousadas até mesmo para o próprio Mamoru Oshii… São coisas tão absurdas que quando chegamos na violência gratuita, nas quebras de quarta parede e nas piadas com direitos autorais, elas parecem até normais demais.

Por mais incrível que possa parecer, essa nem é a pausa para ler um artigo da Wikipedia mais esquisita do show

O resultado é que, em sua essência, Vlad Love não é uma história. O animê é apenas um delírio coletivo, uma alucinação liderada por um homem louco e que não tem nada a perder, e que está disposto a entregar uma experiência surrealista e irracional para qualquer pessoa insana o bastante para querer recebê-la. Ao abraçar o caos em sua mais pura forma, o show se torna a própria definição de “comédia“, ao ser completamente impossível de se prever, tal como dita o terceiro princípio do gênero.
E, se não conhece os três princípios da comédia, um outro show pode te apresentar ao conceito: “A Destructive God Sits Next to Me“.

Assim como uma seita, é preciso aceitar a doutrina completamente sem pé nem cabeça e se tornar um seguidor fanático. Sem essa aceitação, o animê simplesmente não funciona, e por isso, ele acaba sendo extremista: Ou você o ama religiosamente, ou você o odeia tanto quanto o diabo odeia a cruz. Se você acha que gosta de humor absurdo e nonsense, Vlad Love é, com certeza, um teste para ver se isso é verdade.

Por mais incrível que possa parecer, essa nem é a quebra de quarta parede mais esquisita do animê

Se acredita que é verdade, eu não poderia recomendar mais esse show, que, acredito eu, foi o responsável por queimar o resto dos fusíveis que eu ainda tinha funcionando na cabeça. E eu os queimaria novamente com o maior prazer.

Caso seja o seu tipo de animê, a única avaliação possível para “Vlad Love” é Diamante. Mas só se for o seu tipo de animê.
Você pode assistir “Vlad Love” completo na plataforma de streaming Crunchyroll, com legendas em português.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

O destino de comédias-românticas com “As Quíntuplas”

Não faço segredo para ninguém que comédias-românticas são um dos meus gêneros prediletos. Eu adoro comédias no geral, e defendo que animê, como mídia, é perfeita para gerar humor. Juntar a mídia perfeita com um dos subgêneros mais bem sucedidos dela é como um pastelzinho com caldo de cana: Mesmo se der errado, ainda vai ter valido a pena.

Com autoria de Negi Haruba, “As Quíntuplas” (no original, “Gotoubun no Hanayome“) é um mangá de comédia-romântica, completo no Japão em 14 volumes, e que se transformou em, até o momento, duas temporadas de animê, com 24 episódios no total. E, é claro, foi a minha inspiração para essa postagem.

Quando a primeira temporada saiu, em 2019, eu comentei sobre ela no “Primeiras Impressões“, e o show acabou se tornando o meu animê predileto daquele ano – desbancando títulos como Kaguya-sama e Demon Slayer – e por um bom motivo: Foi uma das melhores comédias-românticas que eu já assisti, a ponto de me fazer sobreviver 2020 para assistir a segunda temporada. E ainda bem que eu consegui.

Captura de tela do episódio 7 de "The Quintessential Quintuplets 2"
Eu pensando no pastelzinho com caldo de cana enquanto escrevo o resto da postagem

Com o mangá recentemente lançado no Brasil, eu tive a oportunidade de consumir a mídia das duas formas: No original e na adaptação. E fico muito feliz em poder dizer que as duas são equivalentemente boas, com cada uma delas trazendo aspectos e características diferentes para uma mesma história, fazendo com que cada versão possa agradar um público diferente.

Fora as mudanças claras que existem na forma de consumir cada mídia (e isso, talvez, já pode servir como diferenciação de público. Eu, por exemplo, não tenho costume de ler mangá, então fiquei um pouco desconfortável com o livro em mãos), os dois grandes fatores em jogo são cor e som.

Isso pode parecer óbvio, mas a mera existência desses dois fatores faz com que o animê seja uma experiência completamente diferente. Quando tratamos das irmãs Nakano, nós sabemos que elas são quíntuplas idênticas. Logo, não deveria existir diferença na voz ou na cor dos cabelos entre as cinco garotas. Isso não é um problema no mangá, que é todo em preto-e-branco, e onde a voz não passa de um balão de fala. Quando elas “brincam” de trocar de lugar uma com a outra, a versão impressa torna a história muito mais acreditável, e levanta mistérios muito mais potentes, por nunca sabermos, de fato, quando alguma irmã está se passando por outra, ou qual delas é a responsável.

Por outro lado… O animê diferencia as garotas com cores de cabelos imaginárias, e nenhum produtor em sã consciência deixaria sua dubladora fazer cinco personagens num show semanal (que era a ideia inicial, como pode ser visto nesse comercial do mangá, que precede o animê), então temos também diferentes vozes. Como você pode imaginar, isso destrói completamente a brincadeira de adivinhação, fazendo com que o show acabe se tornando acidentalmente mais engraçado, de tão idiota que é a situação. E pra mim, que veio assistir uma comédia-romântica por conta do primeiro pedaço, isso é um ponto positivo.

Na esquerda, captura de tela do episódio 9 de "The Quintessential Quintuplets"; Na direita, foto de uma página do volume 4 de "As Quíntuplas"
Ok, o tamanho dos cabelos entrega um pouco… Mas a falta de cor já ajuda a confundir todas as cinco, não ajuda?

Aliás, já que toquei no assunto… Apesar de gostar muito de comédias-românticas, elas parecem ter um problema que é estrutural, impossível de fugir: Elas costumam virar um drama na segunda metade.
E isso não é exatamente um “problema“… Acaba sendo uma das características que fazem o gênero ser o que é, e, para muitos, pode ser o fator determinante entre gostar ou desgostar de uma obra.
Aí eu só posso falar por mim, mas tem vezes que essa virada de chave é muito repentina e/ou muito brusca pro meu gosto. Eu não me importo muito com o drama, mas eu simplesmente prefiro a comédia, então, quando o show faz um completo 180º e se torna um drama completo, isso me deixa um pouco decepcionado.

Talvez seja um “azar” meu, mas esses casos de troca violenta de ritmo parecem ser muito comuns, pelo menos nas coisas que eu assisto. Por causa disso, eu precisei aplaudir de pé a coragem que “As Quíntuplas” teve ao ser muito mais sutíl em sua abordagem dessa mudança, que, aparentemente, é obrigatória em todo e qualquer tipo de comédia-romântica.

Em sua segunda temporada, o animê entra na inevitável parte dramática, e ao perceber o caminho que estávamos indo, eu já revirei meus olhos em desgosto. Porém, vocês podem imaginar o tamanho do meu sorriso ao perceber que, embora o drama tivesse chegado, o humor havia se mantido. Num balanço quase inacreditável de cenas sérias e cenas absurdas, o show conseguiu ter quase dois arcos inteiros e consecutivos de histórias de novela, sem abandonar suas raízes como comédia, fazendo com que eu me mantivesse dando risadas mesmo quando o mundo estava literalmente em chamas.

É um caso exatamente oposto ao de outra comédia-romântica que eu já comentei aqui: Oregairu. Não me levem a mal, eu adoro Oregairu, e acredito ser um dos finais mais satisfatórios que eu já vi, mas… Logo no começo da sua segunda temporada, o show parece desistir de ser uma comédia e fica totalmente dedicado ao drama. Eu precisei parar de encarar as aventuras de Hachiman como uma comédia, e começar a encará-las como um drama. E como um drama, elas são excelentes.

Captura de tela do episódio 1 de "The Quintessential Quintuplets 2"
No momento, o drama é assistir elas serem vacinadas e eu não estar nem próximo de tomar a minha…

Como já comentado, a mágica desse gênero está em atrair tanto quem goste de drama (e precisa passar por um sofrido começo cômico), como quem gosta de comédias (e acaba sofrendo com os finais dramáticos de suas obras prediletas). Com um desenvolvimento que mescla os dois lados da moeda, Negi Haruba parece ter empatado seu cara-ou-coroa ao derrubá-la de lado, trazendo tanto gregos como troianos para sua obra, com essa decisão tão diferente que parece até esquisita.

E ninguém esperava por isso. Não só com “As Quíntuplas“, mas com todas as comédias-românticas que existem, os fãs não sabem como uma obra vai se direcionar. Quanto tempo ficaremos na parte “cômica“, até entrar o drama? A história vai virar uma novela? Se sim, vai virar “Amor de Mãe” ou “Ti Ti Ti“? São perguntas que só podem ser respondidas conforme a própria obra se encaminha para seu desfecho. Se eu não fosse químico e odiasse o uso errôneo desse exemplo, poderia dizer que toda comédia-romântica é um “Drama de Schrödinger“, e que talvez esse mistério seja o maior motivador de fãs do gênero.

Caso tenha ficado interessado em “As Quíntuplas“, e queira conferir por você mesmo, o mangá é licenciado no Brasil pela Editora Panini, e você pode encontrar os volumes já lançados na Amazon. Se preferir o animê, as duas temporadas estão disponíveis na plataforma de streaming Crunchyroll, sob o nome “The Quintessential Quintuplets“, e possuem legendas em português.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Entretenimento Pagode Japonês Séries

11 anos depois, Angel Beats ainda é perfeito no meu coração

Algum tempo atrás, fiz uma postagem sobre o valor de revisitar conteúdos, em oposição a consumir coisas novas. Acredito ser uma das minhas melhores obras, e ela foi justamente a inspiração para esse texto de hoje. Se não viu ainda, recomendo dar uma olhada: O valor de revisitar conteúdos já conhecidos.

Em suma, o que nos trouxe aqui hoje foi um experimento simples: O Vinicius de hoje tem os mesmos gostos que o Vinicius de 11 anos atrás? Pegamos um animê que, até então, eu considerava como um dos meus favoritos, e que sempre tive certo “receio” de rever: Angel Beats. Queria descobrir se eu continuaria gostando tanto quanto eu gostei no passado, e se eu teria uma visão diferente daquela que tive na primeira vez.

Inclusive, decidi fazer isso justo agora por um motivo especial: 3 de abril de 2021 marca o décimo primeiro aniversário do lançamento do show. O primeiro episódio foi exibido na televisão japonesa justamente nesse mesmo 3 de abril, no longinquo ano de 2010. Posso estar exagerando um pouco, mas ouso dizer que foi um animê que marcou não só o gênero, como toda uma geração de fãs. Pelo menos, me marcou.

O clássico episódio de beisebol, sempre sendo usado para desenvolvimento de personagens e, claro, como mote para várias piadas.

Sendo a mais nova – na época – artimanha de Jun Maeda e da Key, todos os olhos estavam voltados para Angel Beats: Com antecessores como Clannad e Little Busters, o público estava preparado para mais uma obra repleta de comédia e recheada de drama, com apenas um pequeno toque de magia e muito, mas muito beisebol.
Afinal, se existe um escritor que é consistente em suas obras, é justamente Jun Maeda. Um dos fundadores do estúdio “Key” (parte do grupo “Visual Arts“), ele é formado em psicologia pela Universidade de Chukyo, e olha… ele usa bastante o diploma. Os roteiros que escreve são conhecidos por serem fortes, alegres, tristes, engraçados, intensos e até cruéis, tudo ao mesmo tempo. Com os já anteriormente citados “Clannad” (Visual novel de 2004, com animação em 2007) e “Little Busters!” (Visual novel de 2007, até então sem animação) sendo considerados “clássicos”, e tendo mais ou menos a mesma temática, nós já tínhamos uma ideia de o que esperar de Angel Beats.

Mas é claro que em 2010, o pobre Vinicius de 14 anos não tinha a menor noção de nada disso. Ele tinha acabado de começar a assistir animês, tendo apenas visto alguns episódios de Naruto e os clássicos Dragon Ball e Sakura Card Captors na televisão.
Hoje, me recordo de ter adorado o show, e que ter assistido sem ter muita noção do que esperar foi parte do motivo. Eu simplesmente recebi uma indicação de um amigo meu (se estiver lendo isso, Nishida, grande abraço!), e fui atrás dos dois ou três episódios já lançados no momento. A cada semana, foi uma surpresa nova, uma risada nova, um sentimento novo.

O problema é que onze anos é muito tempo, bicho. Minha nossa, que tristeza pensar nisso… E com o tempo, memórias vão se deteriorando. O próprio conceito de “memória” é uma coisa horrível, pois ela deveria servir para nos recordar do passado, mas elas acabam apagando todos os detalhes e nos deixando apenas com o “sentimento geral” daquela situação.
Até reassistir o animê nesses últimos dias, eu me lembrava vagamente do show. Eu tinha certeza de que era algo divertido e emocionante, que me marcou muito e que eu considerei, na época, como uma das melhores coisas que eu conhecia. Mas… Se me perguntassem “por quê?“… Eu não saberia responder. Eu mal poderia dar uma sinopse de todos os arcos que ocorrem nos exorbitantes treze episódios. Nem é tanta coisa assim, sabe? E mesmo assim, minha memória era apenas uma bolota flutuante que dizia “Angel Beats bacanudo” e nada mais.

Só que agora, eu revi o show. Sentei por treze episódios e assisti tudo novamente. Uma coisa que eu não tinha nem como apreciar no passado (pela falta de experiência), e que vi agora com outros olhos, foi a qualidade técnica de Angel Beats. Não preciso nem entrar no mérito de história ou trama pra isso. Falo mesmo da questão de estúdio, de direção, de animação, de dublagem. Até para os padrões de hoje, o animê é absurdamente bem feito. É bonito e bem animado (como já era de se esperar do Estúdio P.A. Works e nomes como Tadashi Hiramatsu e Katsuzou Hirata na equipe); tem OST de fazer inveja; umas três ou quatro (até perco a conta!) insert songs; um elenco de dubladores que reuniu os maiores nomes da época (com muitos deles estando no ápice de suas carreiras até hoje, como Kana Hanazawa e Kamiya Hiroshi)…
Não dá pra negar que uma quantidade enorme de dedicação, recursos e talento foi colocado nessa produção, que, com certeza, venceu o teste do tempo nesses quesitos.

Com apenas treze episódios, não dá para falar de todo mundo. Mas, talvez, seja melhor assim.

E quando entramos, de fato, no mérito da trama… Angel Beats é um show agridoce, como tudo que a Key custuma fazer. E, depois de ponderar um pouco sobre o assunto, acho que cheguei na conclusão de que isso é feito com o uso de elipses.
Vou explicar: A gente tem um elenco absurdo, personagens interessantíssimas e que sabemos, com certeza, que possuem uma história e um motivo para estar ali. Muitas delas nos deixam curiosos para entender o que aconteceu, ou o porquê de ter acontecido. Afinal, quem diabos é TK, e por qual motivo ele só fala em citações musicais? Por que Shiina age como uma ninja? O quão sofrida pode ter sido a vida de um jovem faixa preta 5º dan em judô?
Quando decide NÃO te dar essas respostas, Jun Maeda está reforçando ainda mais o impacto das histórias que ele decidiu te mostrar. Esse “ar de mistério” que cerca não só as personagens, como toda a trama, é que faz com que os pedaços que foram, de fato, elucidados, se tornem tão marcantes.
Isso é feito com grande maestria com o próprio protagonista. Privar o público do passado de Otonashi não é apenas uma ferramenta de roteiro para que a obra comece. É, também, uma elipse ao nos mostrar apenas metade da história, fazendo com que o final dela seja tão mais memorável.

Voltando ao ponto principal, que seria a minha interpretação atual: Assistindo a cada episódio, eu senti mais e mais que Angel Beats foi algo feito para mim. Ele tem as principais características que eu amo nessa mídia, e que comento sempre que posso. Animês são a mídia perfeita para comédia esdrúxula e, ao colocá-la no meio de um drama comovente que te faz chorar igual um bebê, você atinge um balanço ideal.
E, se entendermos o contexto em que esse show existiu na minha vida, é muito provável que ele seja um dos responsáveis por moldar o meu gosto. Possivelmente é o motivo de eu ter um fraco por comédias absurdas e um fraco ainda maior por qualquer historinha triste mequetrefe (por mais que eu tente esconder o fato de ser movido à lágrimas facilmente).

Impossível negar, porém, que chegar para assistir um show (ou ler um livro, ver um filme, ouvir uma música… A ideia é aplicável para qualquer mídia) já com “sentimentos” – a grande bolota que citei mais cedo – faz com que essa experiência não seja tão nova assim: Você já tem alguns pré-conceitos (talvez pós-conceitos?) que afetam a sua visão.
Por outro lado, justamente a existência desses “sentimentos” já é um fator que diferencia a sua nova jornada da primeira.

A história se aplica ao próprio show, onde personagens passam por coisas que os mudam, e mudam as percepções de mundo deles.

De novo trago a velha história do rio: A pessoa que assistiu Angel Beats hoje é completamente diferente da pessoa que assistiu Angel Beats 11 anos atrás. O modo de assistir, o clima e a visão do mundo, a personalidade, a visão de si próprio… Tudo isso mudou, apenas para citar alguns pontos. O show pode ser exatamente o mesmo, sem tirar nem por, mas eu não sou. Isso permitiu que essa experiência “velha” pudesse ser uma “nova” experiência, e que abriu novas interpretações e sentimentos, agregando novidades à bolota de memórias.

Um exemplo muito claro disso é minha relação com uma das personagens: Na experiência “velha“, lembro de não ter ido muito com a cara da Yui, por ser uma garota extremamente enérgica e que me dava uma impressão ruim. O impacto do passado dela não foi, nem de perto, tão grande quanto na experiência “nova“, onde eu tinha uma mente mais aberta e consegui me solidarizar com a garota.

A conclusão que podemos tirar disso tudo é que eu posso ficar tranquilo, pois os meus shows favoritos (muito provavelmente) continuam sendo meus shows favoritos, mesmo depois de tantos anos. Assim, graças a Deus, não precisarei mais rever uma cacetada de animês. Eu confio no meu eu do passado e nas minhas queridas bolotas.
É uma desculpa a menos para não assistir coisas novas, mas é um preço que estou disposto a pagar.

“Angel Beats” está disponível na Crunchyroll, todos os 13 episódios com legendas em português, e é um animê que eu não poderia recomendar mais. Mas acho que esse ponto já ficou claro, né?

Categorias
Cultura Japonesa Mangá Marca Página Pagode Japonês

Resenha | Fate/Zero é uma tragédia sem heróis

Lançado no Brasil pela editora NewPOP no longinquo ano de 2015, Fate/Zero é uma série completa em seis volumes, e que pode não ser a coisa mais nova ou mais popular no momento, mas como será reimpressa ainda esse mês, após alguns anos fora de estoque, achei um bom momento para comentar sobre ela. Isso, e o fato de que eu terminei de ler o negócio só semana passada, mas majoritariamente por causa das reimpressões.

Então vamos começar contando o que é Fate/Zero. Se você está aqui, muito provavelmente já ouviu falar da franquia Fate/, certo? Ela está em literalmente todos os lugares, é quase um negócio insuportável. Eu já fiz uma postagem contando como você pode entrar nesse universo (veja AQUI), e só passando o olho por lá, você vai ver que temos bastante coisa. Fate/Zero, embora seja uma prequel (isso é, uma história que se passa antes da história principal) de Fate/Stay Night, e seja melhor aproveitado dessa maneira, pode servir como uma porta para você adentrar esse vasto e sofrido mundo.

Escrito por ninguém menos que Gen Urobuchi – um dos autores japoneses mais conhecidos no nicho, principalmente por sua adoração por tragédias e incapacidade de escrever um final feliz – Fate/Zero é uma obra que deu todas as oportunidades para seu escritor fazer o que faz de melhor: Deixar todas as suas personagens sofrendo em um inferno cheio de desgraças.

Com ilustrações de Takashi Takeuchi, que, infelizmente, não aparecem no miolo dos livros

Como o título sugere, nessa Light Novel, não temos heróis. Temos apenas uma grande tragédia composta por uma infinidade de pequenas tragédias, cada uma com seu toque especial. Mas afinal, o que é um “herói“? O que é preciso para definirmos uma personagem como “herói“? É uma discussão complexa, mas acredito que aqui, nós passamos tão longe do conceito, que uma definição simples pode servir. Podemos dizer que um herói é alguém que faz coisas boas por bons motivos.

Colocando dessa forma, acabamos levantando outro questionamento: Histórias precisam de heróis? Eles são necessários para que uma trama persevere? Por um lado, uma história “sem heróis“, como é Fate/Zero, pode ganhar pontos ao ser – dentro dos limites da suspensão de descrença – um conto realista: Basta olhar para o mundo que você verá que não existem heróis na realidade. Ao menos, não o suficiente. A quantidade de “não-heróis” é astronomicamente maior. Então, as chances de você conseguir um herói ao fazer um pequeno recorte de pessoas é muito pequena. Uma história sem heróis é, em sua essência, um retrato do mundo.

Daí, entra uma questão pessoal, e que só posso falar por mim: Buscamos na ficção aquilo que não encontramos no mundo real, não é? Se eu quisesse uma tragédia, eu não estaria lendo light novels, eu estaria assistindo o jornal. Acaba sendo uma obra que não é para todo mundo, principalmente nessa época onde não tá fácil pra ninguém. Mas, sempre tem quem goste, né. Fica apenas como recado.

A parte interessante do livro, para mim, foi ver os diferentes tipos de personagens que tiveram suas vidas expostas, e como cada um deles poderia ser um candidato ao posto de “herói da história“. Em especial, quatro delas chegaram mais perto disso: Kiritsugu Emiya, Waver Velvet, Saber, e Kariya Matoh. De uma forma surpreendente, temos quatro pessoas absurdamente opostas.

Mas, como foi dito no começo da postagem, o autor da novel, Gen Urobuchi, não é conhecido por dar “felizes para sempre” à suas personagens. Nenhum dos quatro candidatos consegue alcançar essa vaga, todos terminando com um final trágico, o completo oposto do que seria digno de um herói.

Pelo menos ela tem uma motinha super irada

[spoiler]Começamos com o chamado “protagonista” da história: Kiritsugu Emiya. Ele será o primeiro pois, dentre os quatro listados, é o que precisamos mais forçar a barra para tentar justificar a quase classificação como herói. Afinal, Kiritsugu é um anti-herói, um clássico exemplo da famosa máxima erroneamente atribuída à Maquiavel: que “os fins justificam os meios“.
Esse é um esteriótipo de personagem bastante comum na ficção, mas que normalmente é acompanhado por uma outra personagem ou grupo, que está ali com a função de dar uns tapa na cara do “justiceiro” e tentar botar juízo na cabeça dele. Sem explicar que os fins não justificam os meios; e que ficar buscando por um milagre para resolver todos os problemas que você mesmo causou ao tentar resolver outros problemas é, francamente, um estilo de vida estúpido; Urobochi tenta nos convencer de que Kiritsugu deveria, mesmo, ser o herói da história. Claro que isso não cola com ninguém, e ficamos apenas com uma situação desconfortável por cinco volumes e meio, onde precisamos encarar os ideais do “Assassino de Magos” e fingir que estamos levando-o a sério, quando sabemos que personagens desse tipo nunca terão um final feliz.

Seguimos com Waver Velvet. Desde o princípio, ele é construído como uma personagem que tem as bases para ser um herói: Um jovem “comum” que recebe uma quantidade absurda de poderes e, com eles, uma carga igualmente grande de responsabilidades. A partir daí, a única coisa que falta para se alcançar o posto de herói seria coragem. É necessário coragem para dar o passo adiante, que definirá todo o resto do caminho.
Mas Waver não toma esse passo: Ele prefere se acovardar em sua própria mediocridade – aquela que ele tanto lutou para provar falsa – e acaba se contentando com se tornar uma mera sombra sob o manto de um herói, ao invés de se tornar um ele mesmo. Ao escolher passar a vida perseguindo um vulto inalcançável, ele descarta um possível grande futuro para ter um final trágico e sem esperanças.

Continuamos com a Saber. Você pode estar me olhando torto agora, pensando “mas a Saber É uma heroína!“, e eu preciso concordar com você. Sim, é claro que ela é um heroína. Acontece que, em Fate/Zero, ela não recebe o tratamento de uma heroína, muito pelo contrário.
Sendo uma pessoa majoritariamente boa e com boas intenções, o que Saber busca, na novel, é redenção. Quando nega essa redenção à ela, Urobochi está, na prática, dizendo que o “caminho de reinado” dela – que ela se esforçou para mostrar ser correto para os outros reis – é falho.
O fim trágico de Saber em Fate/Zero é, de certa forma, como o ponto mais baixo em um filme de super-herói, onde temos a segunda metade do filme para fazer o protagonista re-assumir seu papel de herói. Podemos usar “O Homem de Aço” como exemplo: Quando o Super Homem se deixa ser algemado e levado, estamos vendo o pior momento do antes chamado “símbolo de esperança“; mas temos todo o resto da história para que ele consiga “se redimir” com aqueles que decepcionou. O problema é que esse não é o fim da história de Saber, mas é o fim da light novel. A “conclusão” da saga de redenção e heroísmo de Saber acontece em Fate/Stay Night, fazendo com que ela termine não como uma heroína, mas sim, como uma casca vazia do que já foi uma heroína.

Não apenas a capa, como todo o sexto volume da obra serve para mostrar esse ponto: que Saber não está aqui para ter um final feliz

E encerramos nossa lista com Kariya Matoh. Possivelmente a personagem que é, ao mesmo tempo, mais parecido e mais diferente ao primeiro da lista, Kiritsugu. Os dois são pessoas com motivações nobres e que costumam fazer coisas estúpidas para alcançar esses objetivos, mas, enquanto Kiritsugu escolhe sacrificar outros em busca de um ganho coletivo, Kariya escolhe sacrificar a si próprio em busca de uma causa individual.
Ele tenta agir de forma heroica, mas mesmo com uma causa justa e lutando para provar que seu ponto de vista é o certo, ele acaba simplesmente jogando sua vida fora, num final trágico e melancólico. Kariya funciona, de certa forma, como um recado de que a linha entre coragem e burrice é tênue, e que o que faz um herói é saber em qual ponto dessa linha se deve parar. Num caso oposto ao de Waver, o problema de Kariya foi ter ido longe demais.[/spoiler]

Voltando agora aos detalhes da edição nacional, é preciso lembrar que Fate/Zero foi publicado pela NewPOP em 2015. Se você acompanha o mercado nacional há algum tempo, sabe o que isso significa: O livro tem uma quantidade maior do que se gostaria de erros de revisão. É um problema que a editora possuía no passado e que vem melhorando bastante, mas que, infelizmente, não é retro-ativo. As obras antigas ficarão, para sempre, com esses erros.
Durante a leitura, encontrei uma infinidade de problemas de revisão, e me vi corrigindo automaticamente algumas digitações incorretas no texto. Porém, nenhuma delas foi grave a ponto de tornar uma frase ilegível, ou de mudar o contexto de alguma cena. Acaba sendo apenas um inconveniente que atrapalha a leitura, mas não a prejudica.

Créditos do volume 6 da obra

No fim, seja para fãs de longa data da franquia ou para novas pessoas querendo ingressar nela, Fate/Zero é uma Light Novel que faz muito bem o seu papel de entregar uma história trágica e extremamente em sintonia com suas antecessoras.

Você pode comprar os volumes disponíveis da Light Novel na Amazon, enquanto se prepara para as reimpressões: Volume 1 | Volume 4 | Volume 5 | Volume 6.

Categorias
Anime Cultura Japonesa

A dublagem da Funimation: Azur Lane

Se algo mudou nos últimos anos no mundo do entretenimento, foi a ascensão do streaming. Cada vez mais e mais plataformas estão surgindo e disponibilizando conteúdos em novas regiões, nos deixando até confusos, às vezes, tentando lembrar em qual site está aquela série em específico. No final de 2020, a Funimation, uma das gigantes da indústria de animê, lançou – aos trancos e barrancos – o seu serviço no Brasil, trazendo um catálogo com diversos títulos legendados e dublados.

Inclusive, a dublagem de shows recentes é um dos carros-chefe da empresa no exterior, e eles parecem estar querendo trazer isso para o nosso país, também. Dublando clássicos absolutos como Steins;Gate e Claymore, e sucessos mais recentes como My Hero Academia e Attack on Titan, a Funimation mostra que não está pra brincadeira e que realmente quer emplacar a cultura do animê dublado no Brasil.
Sua parceria com o mais novo canal da TV aberta, a Loading, está levando algumas dessas obras dubladas para a televisão, com um programa voltado especialmente para os conteúdos da plataforma. A “Funimation TV” está no ar de segunda a sexta, 22:20.

Introdução feita, vamos falar sobre o tema de verdade: Azur Lane. Lançado em 2017 pelas empresas chinesas Shanghai Manjuu e Xiamen Yongshi, esse jogo para celular viu sua popularidade zarpar para mares muito além do que poderiam imaginar. Usando a velha tática de antropoformizar uma categoria de objetos (como, por exemplo, células do corpo humano), temos navios da segunda guerra mundial transformados em garotas de animê, com designs e personalidades baseados na história e visuais dos barcos reais. O que faz com que o jogo acabe agradando os nerds marítimos e os weeaboos ao mesmo tempo (e você se impressionaria como grande parte das pessoas que jogam fazem parte de ambos os grupos).

E como tudo que faz sucesso hoje em dia, não demorou muito para Azur Lane receber uma adaptação animada. Quando esses projetos são aprovados (e isso também vale para a dublagem, aliás), sempre se tem um público-alvo em mente, e se constrói o show em volta dele. O resultado disso é que Azur Lane se tornou um clássico do cinema: “Porradinha super brega com garotas em roupas sexy“. É o tipo de coisa que você sabe perfeitamente do que se trata quando pega para assistir, pois ele não tenta te enganar ou fingir que é outra coisa.

E pensando por esse lado, talvez “Azur Lane” seja um show ideal para ser dublado. Embora esteja longe de ser um “título de entrada”, é específico o bastante para talvez converter pessoas que já estão nesse meio, fazendo-as dar novas chances para shows dublados.

Captura de tela do episódio 1 de "Azur Lane"
A parte “garotas em roupas sexy” do show é bem aparente logo de começo. A porradinha brega, nem tanto.

Feita em São Paulo, pelo estúdio DuBrasil, com direção de Bruno Sagregório e Bernardo Berro, a dublagem do show foi uma feliz surpresa pra mim. Eu não sabia o que esperar, sendo a primeira dublagem da Funimation que eu assisto (assim como a primeira do estúdio DuBrasil), então entrei com um pé atrás, desconfiado. Mas o resultado me trouxe muito mais pontos positivos para comentar do que negativos para reclamar. No geral, uma dublagem de qualidade. Mas vamos falar mais a fundo sobre esses pontos.

Acredito que a primeira coisa que preciso dizer é que o elenco principal foi um enorme acerto. Quando se tem profissionais tão experientes e de alto nível como protagonistas, fica difícil de dar errado. Com vozes que se encaixaram muito bem nas personagens, e atuações que deram vida e credibilidade para elas, a DuBrasil conseguiu trazer seu trabalho para o mesmo nível que as atuações das dubladoras originais.
Em especial, gostaria de parabenizar Flavia Saddy (Gal Godot em “Mulher Maravilha”) em seu papel como Enterprise. Como alguém que já conhecia o jogo antes de ver a série, e nunca gostou muito da personagem, devo dizer que a dublagem brasileira me fez entender melhor como ela se sente e me deu novos horizontes. Foi uma atuação impecável.
Outros nomes que merecem destaque são Maitê Cunha (Kurisu em “Stens;Gate”, também na Funimation) como Belfast, que conseguiu trazer toda a tranquilidade da personagem, sem perder o “peso” da personalidade dela; e Fernanda Baronne (Vampira na franquia “X-Men”) no papel da Kaga, especialmente em seus momentos mais marcantes nos episódios finais, onde a carga emocional da cena exigiu uma atuação excepcional, que foi entregue com louvores.

Outro ponto, um pouco mais polêmico, é sobre a adaptação. Eu sempre comento calorosamente sobre o assunto, explicando meus pontos sobre como uma dublagem deveria trazer o maior sentimento brasileiro possível. Aqui, é um pouco mais complicado, pois praticamente todas as personagens são absurdamente caricatas. Ter personagens que falam de forma caricata é normal, principalmente no universo dos animês, mas “Azur Lane” consegue extrapolar todas as noções que temos. O trabalho da tradução e direção foi complexo, ao tentar equilibrar os dois lados da moeda: Tentar manter as personagens caricatas, pois é uma característica do show; mas fazer isso de uma forma que continue mais ou menos natural para um brasileiro.
E eu diria que, no geral, o trabalho deu certo. O show conseguiu alcançar o meio-termo, mantendo aquele clima brega que o original tem, mas sem ficar muito alienígena para quem não está muito familiarizado com shows japoneses. Acho que a única instância de adaptação que ficou estranha demais pro meu gosto foram todas as “irmãzona” que ficaram no roteiro. Os diversos “minha irmã” e “querida irmã” soam mais caricatos e plausíveis do que qualquer um dos “irmãzonas” que acontecem entre as garotas da classe Cleveland.

Captura de tela do episódio 9 de "Azur Lane"
Dois dos principais problemas do show de uma vez: As personagens secundárias e a falta de legendas.

Como já comecei a falar de coisas não tão boas… Vamos falar dos pontos negativos da dublagem. Embora eu tenha gostado bastante do produto final, ele não é perfeito. Acredito que o pior dos defeitos seja, em contraste com a melhor das qualidades, a dublagem das personagens secundárias. Muitas das personagens que tem pouco tempo de palco (e, consequentemente, poucas falas) tiveram vozes estranhas, que muitas vezes não combinavam com elas, e com atuações abaixo da média. Realmente deu pra perceber que o show tinha uma quantidade absurdamente gigante de personagens, e que não dava pra dublar todo mundo. De qualquer maneira, por serem personagens com pouco impacto na obra, o maior defeito acaba não sendo tão grande assim, apenas um peixinho num grande oceano de qualidades.

Um problema menor, mas ainda existente, é a falta de legendas na versão dublada. É claro que não precisamos legendar os diálogos, mas todo o resto do show ainda está em japonês: Placas, letreiros com nomes de personagens e localizações, todas essas informações ficaram perdidas, completamente sem tradução. Sempre que uma nova personagem aparecia, seu nome e mais alguns dados (que eu só posso supor que fossem sua classe e afiliação) eram apresentados, mas eram completamente ilegíveis. Locais também eram apresentados por letreiros e nunca colocados em português, fazendo a já escassa noção espacial do show ficar ainda pior.

Para finalizar, uma reclamação que nem sei se vale a pena ser feita, pois muito provavelmente está fora do alcance das pessoas envolvidas, mas… Sabe, quando você tem uma obra onde a ideia é justamente atrair pessoas que estão afim de ver garotas com roupas sexy, usar a versão censurada do vídeo não parece ser uma boa ideia. Tá certo que a censura só existe em uma única cena de cinco minutos em apenas um episódio, mas só de dar uma olhada nas respostas do tweet que postei ali em cima, já dá pra ver que a galera ficou decepcionada com os raios de luz cobrindo metade da tela deles. Fazer o quê? Imagino que seja uma questão contratual.

Captura de tela do episódio 9 de "Azur Lane"
Se a terra é plana, como você explica isso?

Com uma história surpreendentemente mais complexa do que se esperaria (mas não tão complexa assim), cenas de ação muito bem animadas e um tom quase que estável por toda a sua duração, Azur Lane acabou sendo um show bastante divertido de se assistir. É super brega, com jargões toscos sendo jogados à bombordo e estibordo? É. Tem umas situações meio forçadas só para aumentar a taxa de cenas sexy por minuto? Tem. Mas se você atravessou mares conturbados para chegar até aqui, você sabe exatamente o que está fazendo, e a versão nacional pode ser uma boa escolha para justificar suas ações.

Afinal, eu só estou querendo incentivar a dublagem brasileira! É por isso que eu assisti! Sim, sim, por isso!

Você pode assistir “Azur Lane”, dublado em português ou legendado, com exclusividade na Funimation.

 

Categorias
Anime Pagode Japonês

Primeiras Impressões | Heaven’s Design Team

Depois de anos escrevendo introduções onde falo que há novos animês sendo lançados com a mesma frequência de sempre, eu acabei ficando sem ideias para começar essa postagem. Mas, assim como a clássica “crônica sobre escrever uma crônica“, podemos ser metalinguísticos de vez em quando.
A questão é que depois de 2020 ter sido como foi, ficar sem palavras nem é tão estranho assim. Pelo menos o ano acabou, e com 2021 parecendo ser mais esperançoso, podemos ao menos fingir que haverá melhora, enquanto nos confortamos com um bom e velho show de humor. E esse aqui é justamente o que você precisa nesse momento!

Baseado no mangá – ainda inédito no Brasil – de Tarako, Hebi Zou, e Tsuta Suzuki, “Heaven’s Design Team” – o show que vamos tratar hoje – te dá logo de cara aquilo que é um dos pontos mais importantes para uma comédia: um clima animado e alto-astral. Embora seja possível (e alguns shows trabalham muito bem com isso), é difícil dar risada quando tudo parece deprimente.
Conseguimos esse clima com uma junção de diversas coisas, que se complementam de forma muito bem pensada: Um visual bonito e caricato no grau certo, com muita cor e liberdade artística (com destaque para Mijo Tanaka, responsável pelo design de cores); Um elenco de personagens divertido e que se completam, tornando toda interação uma interação interessante e com um grau de intimidadade que traz conforto; e uma trilha sonora que intensifica tudo isso (graças a nomes como Hayato Matsuo e Satoki Iida no controle musical).

Tendo como premissa um absurdo, é surpreendente pensar que o animê não é tão absurdo assim. Embora tenha suas eventuais cenas absurdas e que, até então, tiveram um timing decente, o quadro geral do humor do show está mais em quebra de expectativas.
Mas todo humor é sobre quebra de expectativas!“… Bem, sim. A diferença é pensar na quebra de expectativa desde o começo. Ainda é uma quebra de expectativa quando você sabe que a piada é justamente uma quebra de expectativa? Logo de cara você já percebe que tudo vai funcionar na base de incitar você a pensar em um animal, quando a resposta é outro, completamente diferente.

E é aí que entra a parte educacional do negócio. Temos pequenas esquetes ao longo dos episódios que contam algumas curiosidades sobre os animais citados, além de te mostrar uns filmezinhos reais no melhor estilo “documentário do National Geographic“.

Imagem do episódio 3 de "Heaven's Design Team"
Se você morre de saudades de aprender curiosidades de animais ao assistir TV Cultura, esse show é pra você!

Já aproveito o parágrafo anterior para fazer uma comparação impossível de passar batido, pois vai também nos ligar com o próximo ponto: Cells at Work! (Veja também: Primeiras Impressões | Cells at Work!). Ambos são shows com uma pegada extremamente semelhante de humor alto-astral e educativo, e com um início bastante forte. Por serem tão parecidos, é que eu tenho medo de Heaven’s Design Team sofrer do mesmo problema que Cells at Work! sofreu: Cair no marasmo de ser repetitivo demais.

Eu sei que a repetição é o primeiro princípio da comédia, mas como já comentei antes (nessa postagem aqui), a repetição precisa ser feita da maneira certa, ou fica repetitiva demais, e acabamos ficando cansados de mais do mesmo. Foi o que aconteceu com Cells at Work, que fez questão de nos dar uma introdução de um minuto todo episódio antes da música de abertura… Coisa que acontece também com “Heaven’s Design Team”.

Além disso, todo o lance “educativo” pode acabar ficando massante depois de um tempo. Apesar de serem esquetes divertidas e fofinhas, a maior parte das “curiosidades” passadas são coisas bastante comuns e conhecidas. Se você, assim como eu, possui um repertório de “conhecimento aleatório” gigante, os cortes acabam ficando entediantes. Além disso, existe a possibilidade de você simplesmente… Não se importar: Todos nós (ou, pelo menos, a maioria de nós) já saímos da escola, e ninguém tem mais saco para aulas de biologia, né?

Imagem do tema de encerramento do animê "Heaven's Design Team"
Não importa o quão legal seja uma luta de gigantes: Baleia x Lula; Kong x Godzilla… Uma hora, o negócio cansa.

Em resumo, o show me passou uma impressão muito positiva, com um humor amigável e bastante aberto para todos os públicos. A torcida é para que ele não acabe sendo repetitivo e mantenha o embalo até o final, coisa que eu queria muito que acontecesse, mas não estou com muitas esperanças. Porém, o que importa é o que tivemos até então, e até então, o animê fica com um 7/10 e um selo “Sessão da Tarde” de aprovação.

Heaven’s Design Team” está disponível com legendas em português na plataforma de streaming Crunchyroll, com novos episódios toda quinta-feira.