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O Horror Profano de Longlegs: Vínculo Mortal que Intimida até o Terror de Shopping Center

O terror é o gênero cinematográfico que mais oferece liberdade criativa aos seus criadores, dado o número infinito de caminhos que os cineastas podem explorar ao contar uma história.

Longlegs: Vínculo Mortal exemplifica essa liberdade de maneira notável, entregando um horror profano que causa impacto até nos populares filmes de terror de shopping center. Esta obra mergulha no conceito do satanismo com um toque de realismo perturbador, mesmo ao incorporar elementos de fantasia, afastando-se da previsibilidade cansativa de grandes franquias como Invocação do Mal.

Nicolas Cage breaks down his 'androgynous' Longlegs role and using his mother as inspiration

Longlegs – Vínculo Mortal é dirigido pelo cineasta Oz Perkins. A narrativa segue a agente do FBI, Lee Harker (Maika Monroe), que é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer em uma cidade tranquila. À medida que Lee mergulha na investigação, ela descobre indícios perturbadores de práticas ocultas ligadas aos crimes, levando-a por um caminho sinuoso e perigoso. Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a numa corrida contra o tempo para evitar novas vítimas. Contudo, à medida que avança, percebe que algo sinistro a observa de perto, ameaçando não só o desfecho do caso, mas também sua própria segurança. Enquanto luta para desvendar a verdade por trás dos assassinatos, Harker se vê numa encruzilhada entre o dever profissional e os segredos sombrios que emergem, transformando sua investigação em uma batalha intensa entre a razão e o desconhecido.

Filho do icônico Anthony Perkins, eternizado como Norman Bates em Psicose, Oz Perkins vem deixando sua marca em Hollywood desde que dirigiu o aclamado O Último Capítulo. Conhecido por contar histórias assustadoras com uma abordagem crua e realista, Perkins desafia os clichês hollywoodianos ao trabalhar com a seguinte questão: “Como o ocultismo impactaria a vida de alguém, sem os exageros típicos de Hollywood?”

Em Longlegs: Vínculo Mortal, Perkins se mantém fiel a esse conceito, conduzindo com maestria uma trama que flerta com o drama, como fez em A Enviada do Mal. Contudo, a diferença nesta nova produção está em seu ritmo. Embora menos acelerado em comparação aos filmes de horror convencionais, Longelegs é mais ágil que os demais trabalhos de Perkins, mantendo o espectador em constante tensão. A cada cena, o diretor manipula o ritmo com sua direção arrepiante, alternando entre momentos de quietude inquietante e tomadas que preparam o terreno para o mal iminente.

Perkins demonstra um domínio notável sobre os elementos visuais, utilizando a iluminação e o design de som para criar uma atmosfera que não só conta a história, mas também a intensifica. As transições entre cenas mais lentas e momentos de puro terror são executadas com precisão, elevando a sensação de perigo constante que permeia o filme. Esse equilíbrio entre suspense psicológico e horror visceral faz de Longlegs uma experiência única e memorável.

Ao evitar os clichês do gênero e explorar a escuridão de forma sutil, Perkins entrega mais do que sustos baratos; ele convida o espectador a enfrentar o medo e a incerteza de maneira profunda.

Longlegs: Terror com Nicolas Cage promete ser o mais impactante do ano; Confira o trailer! | Cine Vibes

Longlegs: Vínculo Mortal não se destaca apenas pela história aterrorizante, mas também pela excelência das atuações, que são o verdadeiro ponto alto da produção.

Nicolas Cage está impressionante no papel-título, incorporando com maestria um serial killer ocultista com sérios distúrbios mentais. Seus trejeitos bizarros, em vez de tornarem o personagem caricato, contribuem para a construção de uma figura memorável e assustadora. A bizarrice e o exagero presentes na sua performance não resultam em um vilão cafona, mas sim em uma entidade tão apavorante quanto as aparições do “Homem Lá de Baixo”, que observa o telespectador e a protagonista nos momentos mais aterrorizantes do filme.

Maika Monroe, no papel da detetive Lee Harker, não fica atrás de Cage. Enquanto ele traz exagero ao interpretar Longlegs, Monroe atua com uma sutileza que transmite a timidez e o medo de sua personagem, moldando uma detetive desconfiada até de si mesma, mas determinada a colocar um fim no mal. O contraste entre essas duas personas resulta em uma interação profunda e caótica, deixando o espectador em dúvida sobre a possibilidade de uma mudança de lado por parte de Harker.

A trilha sonora também merece destaque. Composta por uma combinação de sons dissonantes e ritmos perturbadores, a música amplifica a atmosfera sombria e intensifica o impacto das cenas mais assustadoras. A sonoridade imersiva contribui para a experiência geral, adicionando uma camada extra de terror que se entrelaça perfeitamente com a narrativa visual e as performances intensas dos astros.

Longlegs: Vínculo Mortal é perturbador e incômodo — e isso é ótimo | Review

Infelizmente, Longlegs: Vínculo Mortal possui seus pontos baixos, embora isso não prejudique sua excelência geral. No entanto, é importante abordá-los.

Por ser um terror mais contemporâneo, o uso excessivo de jump scares acaba banalizando certos momentos. Inicialmente, Oz Perkins emprega essa técnica com inteligência, utilizando-a como um recurso que enriquece a trama e contribui para a tensão. Contudo, à medida que o filme avança, o cineasta parece perder a mão, utilizando os jump scares de forma mais gratuita e previsível, o que reduz o impacto que esses sustos poderiam ter em momentos críticos.

O plot twist, apesar de bem elaborado e com uma justificativa dramática e aterrorizante, é revelado de forma um tanto direta, sem o mistério e a construção que poderiam intensificar o impacto. Embora a revelação não seja ruim, sua entrega antecipada tira parte da surpresa e da profundidade que um mistério bem trabalhado poderia proporcionar. Em um filme com uma narrativa tão envolvente como Longelegs, um enigma mais sutil e desenvolvido teria elevado ainda mais a experiência.

Apesar dessas falhas, Longlegs: Vínculo Mortal continua a ser uma obra impressionante dentro do gênero, oferecendo uma experiência que, mesmo com suas imperfeições, mantém o espectador cativado e imerso em seu terror perturbador.

How to watch Longlegs – Is it streaming? - Dexerto

Em um cenário onde obras de horror frequentemente se tornam previsíveis e se baseiam em fórmulas desgastadas, Longlegs: Vínculo Mortal surge como um verdadeiro alívio para os aficionados do gênero. Eu não me lembrava da última vez que um longa do gênero conseguiu me causar um medo genuíno; mas essa produção conseguiu exatamente isso. Cada cena é carregada de uma tensão palpável que se intensifica de forma magistral, mantendo o espectador completamente imerso. O medo que ele provoca é visceral e autêntico, um ponto fora da curva em um mar de produções que muitas vezes preferem se apoiar em sustos fáceis e previsíveis.

O que realmente distingue Longlegs dos habituais “terror de shopping center”, é sua abordagem ousada. Enquanto muitos há longas-metragens que se contentam com efeitos superficiais e roteiros formulaicos, Vínculo Mortal se destaca pelo seu medo profundo e real por meio de uma estética que abraça o horror profano de maneira genuína. É uma produção que não apenas assusta, mas também desafia e inquieta, oferecendo uma experiência cinematográfica memorável que permanece depois dos créditos finais. Em suma, Longlegs: Vínculo Mortal é um exemplo brilhante de como o terror pode ser elevado a um patamar superior, misturando uma narrativa realista com uma atmosfera de arrepiar.

NOTA: 4/5

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Alien: Romulus é junção imperfeita de horror, ficção e ação

Ridley Scott tentou explorar mais a fundo a ficção científica da sua franquia renomada Alien com Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017). Infelizmente, embora gostando desses filmes, admito que suas intenções esbarraram em ideias confusas e – por que não? – estranhamente bizarras. Mas os filmes estão ali, tentando abordar temas de natureza mais complexa do que os filmes anteriores, discutindo a origem da humanidade e onde ela se encaixa no grande esquema das coisas. Em Alien: Romulus, o diretor Fede Alvarez também está interessado na ficção científica deste universo, desde a construção de um cenário distópico onde a humanidade se curva ao mundo privado até aos desdobramentos da existência de humanoides entre a sociedade civil. E, se essas discussões são mais bem pontuadas e desenvolvidas aqui, vale mencionar o quão bem-sucedido Alvarez foi se comparado com o mestre Scott.

Alien Romulus equilibra ficção científica e terror na medida certa -  Opinião | Minha Série

O êxito do diretor, cuja filmografia demonstra um interesse pelo suspense e o horror, reside na criação de um amálgama da franquia ao colocar o horror do clássico Alien, o Oitavo Passageiro (1979), a ação intensa de Aliens, o Resgate (1986), a maternidade de Alien 3 (1992), e as bizarrices de Prometheus e Covenat em uma mistura só. Assim, Romulus é, definitivamente, uma ode ao passado, que prova que a originalidade não é o único caminho, e beber de fontes certas sabendo o que está fazendo é uma tarefa tão árdua quanto inovar – embora só depender delas também não o faça um grande diretor.

A trama segue a dupla Rain (Cailee Spaeny) e Andy (David Jonsson), cuja irmandade começou quando o pai da garota integrou o humanoide Andy à família, e o deixou com a diretriz de proteger a garota. Eles se envolvem com um grupo de conhecidos na tentativa de fugir do sistema em que estão, a partir de uma carga de módulos de hibernação encontrada numa estação espacial abandonada. Este, portanto, é o cenário perfeito para que o grupo se depare com as criaturas adormecidas devido às pesquisas passadas envolvendo suas origens.

Alien: Romulus' é belo equilíbrio entre homenagem e cópia para ressuscitar  a franquia; g1 já viu | Cinema | G1

A premissa é simples, mas extremamente eficiente. Ao longo dos primeiros minutos, nos afeiçoamos com a dupla de protagonistas e pela habilidade do roteiro de construir um background entre eles, sem torná-los rasos e apenas um pedaço de carne para ser devorado (ou acasalado). Mas isso não se repete com os outros personagens, que apenas são condicionados a estarem relacionados com Rain e Andy. Como foi dito, o filme sabe explorar sua filosofia ao abordar a existência de Andy e como sua presença pode ser perturbadora para aqueles que são contrários à sua existência. Essa tensão entre os personagens já conduz a narrativa para além do superficial da sobrevivência, e nos oferece uma camada adicional quando coloca em pauta o quanto uma vida vale mais que a outra.

O que oferece um contorno ainda mais interessante é quando a consciência do sintético Rook (Ian Holm), mesmo modelo do famoso Ash do filme original, é transportada para Andy, e a figura inocente do personagem dá lugar à frieza cruel de alguém capaz de fazer o que for necessário para cumprir sua diretriz: entregar os resultados das pesquisas dos xenomorfos à Weyland-Yutani. E essa mudança, além de ser um aspecto brilhante da ótima atuação do David Jonsson, coloca em jogo a relação entre a humana Rain e seu “irmão”, e o quanto ela abdicaria de suas convicções para sobreviver.

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De um ponto de vista estético, há muitos elogios para se fazer em relação às escolhas do diretor de fotografia Galo Olivares. Com um bom uso de luzes e sombras, o filme consegue explorar o seu cenário de modo a construir toda aquela sensação de perigo e solidão, seja através do vermelho presente em sinalizadores e sinais de alerta pela estação, às sombras dos corredores que sempre ameaçam guardar algum susto – ou surpresa desagradável. Gosto de como a protagonista é retratada como a Ripley dessa jornada, a colocando como a grande heroína da história. Outro fator que contribui ao horror são os ótimos efeitos práticos que tornam as ameaças mais verossímeis e incômodas só pela sua movimentação estranha; a maquiagem também reforça o horror com corpos estraçalhados, perfurados, dignos de um filme gore.

Além disso, a ação é outro elemento presente aqui e bem conduzido. Devo destacar a cena envolvendo as secreções/substâncias ácidas dos Aliens, e quando elas estão espalhadas num andar sem gravidade. A beleza estética fala por si só, e a tentativa de escapar de qualquer ferimento é a sequência mais apreensiva do longa.

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Infelizmente, a apreensão dessa cena não se repete ao longo do filme. Mesmo fazendo um trabalho competente, não me encontrei imerso em quase nenhum momento de Romulus. A sensação de perigo, a claustrofobia, o receio, o medo pelos personagens são emoções esperadas que não estiveram presentes durante a minha experiência. É como se o filme se contentasse com soluções fáceis e convenientes, e não trouxesse soluções mais interessantes, e desperdiçasse seus ótimos comandos artísticos na fotografia, na maquiagem, no figurino e no design de produção. Cito aqui uma cena onde o silêncio se faz fundamental para não alertar as criaturas e de repente surge uma voz na transmissão de rádio alertando a todos no local. Se Alien: Romulus for sua primeira experiência de terror nos cinemas, talvez essa cena, entre várias outras, surta o efeito pretendido.

Basear-se nas fontes boas e saber trabalhá-las é o grande destaque deste filme, mas também é seu principal obstáculo: o potencial esbarra nas suas inspirações. Embora Romulus possua um início particular e imersivo, que prometia um desenrolar mais intimista e amedrontador, ele respeita tanto seus antecessores que acaba esvaindo-se de ideias criativas, não necessariamente originais. Desse modo, acaba encerrando sua história de forma diametralmente oposta ao seu início: óbvia e comum. E isso não faz jus ao bom filme feito por Alvarez.

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Planeta dos Macacos: O Reinado | Quando o modesto se torna o maior e a lição cinematográfica para a própria Disney

Não há o que esconder: O Reinado consolida-se como o melhor filme da nova franquia Planeta dos Macacos, iniciada em 2011 com César, interpretado por Andy Serkis.

Não obstante, o longa-metragem, que chegou ao Disney+ na última sexta-feira (02/08/2024), demonstra à própria Disney que grandes obras cinematográficas não necessariamente emergem de vastas sagas, mas sim de produções relativamente “menores”. Afinal, permanece um mistério o motivo pelo qual a maior produtora do mundo trata seus maiores e mais lucrativos trunfos com desleixo, enquanto suas franquias de menor escala são lapidadas como diamantes.

Sci-fi Gifs — Kingdom of the Planet of the Apes (2024), dir. Wes...

Muitas sociedades de macacos cresceram desde que César conduziu seu povo a um oásis, enquanto os humanos foram reduzidos a sobreviver e se esconder nas sombras. Um líder macaco começa a escravizar outros grupos em busca de tecnologia humana, enquanto um jovem macaco, que testemunhou a captura de seu clã, embarca em uma jornada para encontrar a liberdade, sendo uma jovem humana a chave para essa conquista.

Planeta dos Macacos: O Reinado não apresenta uma narrativa original ou inovadora, utilizando uma fórmula comum frequentemente adotada pelos filmes hollywoodianos. Todavia, a relevância da trama reside em sua execução fluída, que cativa o espectador em uma sequência de emoções intensas.

Assim como nas demais edições de Planeta dos Macacos, O Reinado apela ao emocional com inteligência e consistência, através de diálogos redigidos de forma excepcional. A direção de Wes Ball conduz o universo do filme por meio de ações humanizadas e imaturas, fazendo com que os símios se assemelhem mais aos humanos, e os humanos, mais aos símios.

A crítica social presente, embora mais sutil em comparação com os filmes anteriores, revela-se ainda mais incisiva, evidenciando ao espectador a natureza do ser humano como intrinsecamente má e a nossa disposição para buscar poder, até mesmo escravizando nosso próprio povo.

Kingdom Of The Planet Of The Apes Review – 'These apes are still strong'

Os laços entre os personagens são explorados na medida certa, sem excessos. Dessa forma, os protagonistas interagem de maneira genuína e natural, criando uma relação espontânea e verdadeira que espelha a vida real.

Proximus César destaca-se como um vilão à parte. A forma como é inserido na história revela que Proximus é uma ameaça mesmo sem aparecer diretamente, tornando-se o melhor antagonista da saga. Sua postura, que o faz acreditar ser um discípulo de César, contribui para sua construção como adversário de Noa, conferindo-lhe um propósito que foge às razões convencionais de se tornar maligno.

Sci-fi Gifs — Kingdom of the Planet of the Apes (2024), dir. Wes...

Planeta dos Macacos: O Reinado é surpreendente. Simples, mas eficaz, a produção evita ser um entretenimento barato e se estabelece como uma obra cinematográfica que supera expectativas, oferecendo um verdadeiro espectáculo visual e sensorial para o espectador.

NOTA: 5/5

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Simples e divertido, Deadpool & Wolverine cumpre a proposta como uma comédia despretensiosa

Engana-se quem acredita que Deadpool & Wolverine é a “salvação” da Marvel Studios, como o próprio personagem afirma repetidamente em seu filme, chamando-se de “Jesus da Marvel”. O filme, é uma produção feita para ser simples e divertida, cumprindo sua proposta como uma comédia despretensiosa que não se preocupa em alavancar uma empresa que teve altos e baixos nos últimos anos.

Marvel Gifs — DEADPOOL & WOLVERINE (2024)

Deadpool & Wolverine reúne o icônico mercenário tagarela Wade Wilson (Ryan Reynolds) e o poderoso mutante Wolverine (Hugh Jackman) em uma aventura cheia de ação e humor, escrita e produzida pelos mesmos criadores de Deadpool (2016) e Deadpool 2 (2018). Enquanto Wade desfruta de um momento de aparente tranquilidade com Vanessa (Morena Baccarin) e seus amigos, Wolverine se recupera de ferimentos. Seus caminhos se cruzam, formando uma aliança improvável. Juntos, enfrentam um inimigo formidável, desencadeando uma jornada repleta de ação, humor e surpresas. O filme promete uma experiência épica, com referências aos quadrinhos e muita adrenalina, oferecendo aos fãs um vislumbre único no universo dos super-heróis.

Esperar que Deadpool & Wolverine seja um marco cinematográfico é irreal. Nem todo filme precisa ser uma obra-prima; algumas produções existem apenas para entreter. Deadpool, tanto nos quadrinhos quanto no cinema, não é um personagem de profundos simbolismos, mas sim um anti-herói voltado para o humor e diversão em massa. Ele cumpre seu papel sem grandes surpresas.

Ryan Reynolds novamente usa o longa como um laboratório de ideias, com sucesso em muitos casos, mas também apresenta piadas com timing questionável, que parecem destinadas a agradar sua bolha de amigos famosos.

É inegável o empenho de Ryan Reynolds em trazer Hugh Jackman de volta e a colaboração de Kevin Feige, CEO da Marvel Studios, que, antes da compra da 20th Century Fox pela Disney, estava limitado por questões burocráticas. O trio está claramente satisfeito com o resultado, não apenas pela expectativa de alcançar US$ 1 bilhão, mas também por oferecer aos fãs elementos que esperavam há muito tempo.

Como em outras produções da Marvel Studios, Deadpool & Wolverine apresenta uma direção padronizada. Shawn Levy está à frente apenas por ser amigo de Reynolds, enquanto Ryan e Feige são os verdadeiros responsáveis pelo entretenimento.

Deadpool & Wolverine" também é para quem não conhece os filmes da Marvel, garante o realizador - Atualidade - SAPO Mag

O retorno de Hugh Jackman como Wolverine é divertido, mas não emocionante, dado que o foco do filme é Deadpool. O novo Wolverine de Jackman busca se redimir de falhas passadas, mas não traz novidades para quem conhece os quadrinhos ou assistiu Logan. Ver Jackman no icônico traje amarelo e com sua personalidade impetuosa é um momento que poderia ter chegado antes.

Cassandra Nova demonstra a versatilidade de Emma Corrin como atriz, mas a vilã serve somente para aprofundamento do Vazio, tal como Paradoxo, que se revela genérico e pouco cativante para Matthew Macfadyen.

As participações especiais, que fazem referência à FOX, servem para provocar reações no público, mas não têm peso na trama. Ao contrário de Sem Volta Para Casa, onde os as aparições de Tobey Maguire e Andrew Garfield estavam integrados na narrativa, estas aparições em Deadpool & Wolverine são meros divertimentos, sem impacto significativo.

Deadpool & Wolverine: Every Easter Egg, Cameo and Marvel Reference (That We Spotted) - IGN

Em resumo, a nova obra da Marvel Studios  não passa de um ótimo entretenimento barato, que assim como qualquer outra comédia de grandes estúdios hollywoodianos, tira ótimas gargalhadas de seus telespectadores através de maneirismos visuais e piadas sarcáticas com conotações sexuais, algo que funcional muito bem com o tipo de público que o terceiro longa do mercenário tagarela visa atingir: adolescentes e jovens adultos que por algum motivo, ainda acreditam estar na adolescência.  

NOTA: 3,5/5

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Rivais: Luca Guadagnino transforma triângulo amoroso em espetáculo esportivo de alta tensão

Luca Guadagnino é um cineasta reverenciado pelos cinéfilos da nova geração devido ao seu trabalho em Me Chame Pelo Seu Nome. Portanto, qualquer produção que tenha o nome do italiano vinculado atrai os holofotes da mídia.

Não seria diferente com Rivais, seu mais recente longa-metragem esportivo sobre um triângulo amoroso onde o ego é mais valorizado do que a determinação de vencer.

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“Rivais” acompanha Tashi (Zendaya), uma tenista prodígio que se tornou treinadora, uma força da natureza que nunca pede desculpas por seu jogo, dentro e fora do campo. Casada com Art (Mike Faist), ela conseguiu transformar a carreira do marido, de um jogador medíocre para um campeão mundialmente aclamado. Quando Art está tentando superar um período difícil, onde apenas acumula derrotas, a estratégia de Tashi toma um rumo inesperado: ela convence o marido a jogar em um torneio “Challenger” – o nível mais baixo do circuito profissional – onde terá de enfrentar Patrick (Josh O’Connor), seu antigo melhor amigo e ex-namorado de Tashi. Patrick, que também já foi um talento promissor, agora se encontra exaurido e lentamente caminha para o ocaso de sua carreira. O encontro dos três pode reacender antigas rivalidades, dentro e fora da quadra, e resultar em um desfecho diferente para a carreira de todos.

Quando comparado com os filmes anteriores do mestre, Rivais exibe uma direção frenética e inquieta, típica de uma boa partida de tênis. O esmero que Luca demonstra ao narrar essa história, situada em dois períodos de tempo sem parecer confusa, confere um charme à obra que poucos diretores, mesmo renomados, conseguem trazer.

A adrenalina imposta por Guadagnino não se restringe às quadras esportivas apresentadas durante a história, que muitas vezes são tratadas como uma “entidade” que fala por si só. Essa adrenalina também se estende à relação entre os personagens centrais, gerando um triângulo amoroso composto por ego e tensões sexuais fascinantes de se acompanhar.

Justin Kuritzkes, o roteirista, capricha ao trazer um relacionamento psicosexual, sem relegar a trama esportiva a um segundo plano.

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Do seu início ao seu epílogo, Rivais trabalha nos mínimos detalhes para que o espectador sinta-se íntimo da história ali apresentada, sendo eufórica mas sem exaurir em seus espectros quase “tóxicos”.

Devido aos talentos escolhidos a dedo pelo diretor, é difícil escolher um único personagem para se simpatizar, dado que Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist sabem muito bem como compartilhar o brilho entre si.

O holofote compartilhado entre os três astros culmina em um favoritismo equilibrado, moldando um desejo de que todos triunfem de acordo com a natureza e rivalidade de cada um presente na trama.

Um trio, quando bem desenvolvido, demonstra a capacidade que tem de cumprir os desejos mais profundos de um único corpo, e Rivais é a prova disso.

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Rivais é um diamante meticulosamente lapidado por Luca Guadagnino, que explora os principais anseios humanos de forma surpreendente, egocêntrica e sensual sem ser vulgar, sendo uma peça de grife dentro da vasta e esplêndida filmografia do diretor.

NOTA: 5/5

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Saltburn: uma odisséia sobre amor, ódio e manipulação

Ser bom compensa? Não de acordo com Saltburn, novo filme de Emerald Fennell, diretora do aclamado Bela Vingança, que recebeu a estatueta do Oscar 2021 na categoria Melhor Roteiro Original; que em suas entrelinhas, aborda sobre a manipulação humana com sutileza e selvageria, sem perder sua classe. 

Ousado, Saltburn é uma odisséia sobre amor e ódio. Contudo, sua história aborda infidelidade de forma muito mais ampla como a grande massa está acostumada, expandindo o termo para além de ”traição eros’‘, trabalhando a quebra de fidelidade em conjunto com a propagação de mentiras com inteligência e sagacidade.  

We Do The Gif — Barry Keoghan as Oliver Quick Saltburn 2023 |...

 A trama se passa nos anos 2000 e acompanha o estudante universitário Oliver Quick, que tem dificuldades para se encaixar na Universidade de Oxford. Após conhecer Felix Catton, Oliver é imediatamente atraído pelo mundo aristocrático do jovem ,que o convida para passar uma temporada na casa de sua família. Mas o que começa como uma amizade aparentemente inocente logo escalona para uma crescente obsessão.

Emerald, que além de assumir o posto de diretora, assina o roteiro satírico e magistral que conduz o espectador para uma teia burguesa de podridão, levando quem está assistindo para uma história recheada de canalhiches e reviravoltas passíveis de atitudes sociopatas (e psicopatas) dos personagens que compôem o elenco. 

Propositalmente, Fennell entrega motivações vazias e rasas para os membros da família Catton, dado que Saltburn se trata de um drama satírico que também visa explorar a carência emocional de uma pequena sociedade parental que se contém com prazeres mundanos e imundos. Dessa forma, a cineasta cutuca na ferida desse tipo de gente com muito sarcasmo e ironia. 

Contudo, o grande destaque da obra está na relação entre as duas personas principais: Oliver Quick (Barry Keoghan) e Jacob Elordi (Felix Catton), que mesmo inicialmente tendo comportamentos distintos, vão se transformando ao decorrer da história em um único ser movido à sexo, drogas, prazeres rasos. Jacob se esforça em entregar uma atuação respeitosa e convincente. Por sorte, ele consegue, mas não tanto quanto Barry, que é a grande cereja desse bolo, afinal não é atoa o papel que ele anda desencadeando em Hollywood, sendo um ator disputado por grandes estúdios e trabalhando na Marvel e DC ao mesmo tempo. 

Keoghan é tão convincente em seu papel como Oliver, que mesmo sendo um personagem fictício, dá-se a impressão que tudo que é visto ao longo das duas horas do filme é real e que Oliver Quick foi contratado para fazer ao filme com Emerald gritando aos fundos das gravações: ”apenas seja você mesmo!”

Polêmico filme 'Saltburn', com Barry Keoghan e Jacob Elordi, estreia no Brasil

Saltburn também se destaca pela sua atmosfera de Dark Academia, dando um toque especial para aquilo que já era perfeito. Além disso, sua ambientação no início da década 2000, faz com que Emerald Fennell fuja de sua zona de conforto, buscando por saídas  ”medievais” para situações que ela colocou seus personagens, fazendo assim, um show de entretenimento sádico e angustiante. 

Sua direção, que muitas vezes lembra obras cinematográficas de décadas passadas filmadas por câmeras analógicas, pode inicialmente causar um pequeno desconforto devido as famosas bordas pretas ao redor da tela. Entretanto, o que parecia ser um problema, torna-se um charme casando com a temática de Dark Academia citada no parágrafo anterior. 

Em outras palavras, a produção não se salva somente pela sua extraordinária história e elenco, mas também, por todo conceito artístico cuidadosamente montado para entregar ao espectador, um produto de qualidade acima da média. 

Saltburn | Crítica do filme do Prime Video com Barry Keoghan

Saltburn mostra o quão imundo e manipulador o ser-humano é quando lhe convém, mostrando que a confiança e bondade não costumam existir em meios da alta e baixa cúpula. Acima do amor e ódio, a manipulação é quem reina em pessoas que tendem a tirar vantagem de tudo e todos; e a nova obra prima de Emerald Fennell mostra tudo isso com muita maestria através de reviravoltas inesperadas, chocantes e bárbaras. Se não fosse por uma trama tão sutilmente agressiva, Saltburn não seria o que ele é, sendo necessário explorar e romantizar até certo ponto, a podridão humana. 

NOTA: 5/5

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Oppenheimer: arte em sua mais bela forma

Obra-prima. Não há outro adjetivo para descrever Oppeheimer. Definitivamente, a nova produção do excelentíssimo Christopher Nolan não é um filme, mas o pedaço mais belo, excêntrico e ambicioso da  sétima arte.

Cinema, além de entretenimento, tem como principal objetivo impactar de alguma forma o telespectador, algo que Nolan sempre conseguiu fazer com maestria em sua carreira, vide o que foi feito com Interestellar, por exemplo. Oppeheimer não só impacta, como também adentra na alma de forma como pouquíssimos longas-metragens conseguem fazer. 

Oppenheimer Cillian Murphy GIF - Oppenheimer Cillian murphy Cillian - Discover & Share GIFs

O físico J. Robert Oppenheimer trabalha com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, levando ao desenvolvimento da bomba atômica.
Nolan é um cineasta que preza pela qualidade de seus filmes, e com Oppeheimer não é diferente. Concebido para ver na maior tela de cinema possível, sua fotografia encanta, tal qual o seu som, que mesmo se tratando de uma biografia, utiliza uma trilha sonora surpreendente de arrepiar.
O filme como um todo é uma experiência única e muioa imersiva, que se assemelha a um teatro.
Oppenheimer: conheça a história do cientista que inspirou filme
Com um elenco de primeira classe. O destaque fica por conta de Cillian Murphy, que encarna o personagem título de forma magistral; Robert Downey Jr, que desvincula totalmente sua imagem com Tony Stark, entregando uma atuação que vale mais que ouro; e Emily Blunt, onde coloca todos os seus sentimentos reais na personagem Kitty Oppeheimer
Matt Damon e Josh Hartnett também não ficam para trás. Ambos vivem seus personagens com excelência, conduzindo partes da história com muita minuciosidade. 
Oppenheimer é 'o melhor filme no qual participei', diz Robert Downey Jr.
Mesmo com enredo de fácil compreensão, Oppeheimer possui linhas de diálogo mais extensas e complexas quando comparadas com demais narrações entregues por Nolan. Todavia, tal fato, enriquece ainda mais a película, mostrando o cuidado que o cineasta idealizador e elenco tiveram ao conceber o filme. 
Oppeheimer é obra de arte em sua mais bela forma. Mexe com os sentimentos, sentidos e com o coração. É mais do que simplesmente um longa-metragem sobre a ”criação” da bomba atômica… ele é algo inexplicável, que deve ser somente sentido, antes de compreendido. 
Christopher Nolan's Oppenheimer: Release Date, Trailer, Cast & More | Rotten Tomatoes
”Sabíamos que o mundo não seria mais o mesmo. Algumas pessoas riram. Algumas pessoas choraram. A maioria das pessoas ficaram em silêncio. Eu me lembrei de algumas linhas de texto sagrado hindu Bhagavad-Gita. Vishnu… tenta convencer o príncipe… de que ele deveria cumprir o seu dever… e para impressioná-lo, assume sua forma com múltiplos braços… e diz: ‘Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos’. Suponho que todos nós pensávamos assim, de uma forma ou de outra”- J. Robert Oppeheimer. 
Nota: 5/5
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Creed III: Quando poucos golpes são suficientes

A franquia Rocky ultrapassou os limites do ringue de luta. Embora mantive-se o foco na história de superação, treinamento, disciplina e nos sacrifícios pessoais do lutador Rocky Balboa, os filmes nunca esqueceram do aspecto urbano e do cotidiano envolto do protagonista. Ryan Coogler, diretor do primeiro Creed e roteirista da trilogia, conseguiu retomar esses aspectos através das lentes da cultura negra americana. E mesmo Pantera Negra (2018) sendo o seu trabalho de maior prestígio e popularidade, foi com Creed que a sua capacidade conseguiu ditar as temáticas de uma franquia inteira. No terceiro filme, agora sem a estrela de Sylvester Stallone, o background dos personagens persiste nas raízes da comunidade negra – e como o passado destes interferiu em suas expectativas e sonhos de vida.

Se olharmos em última instância, todos os filmes da franquia, desde o primeiro Rocky de 1976, trabalharam em cima do sonho daqueles em tela. Os personagens sempre estão buscando alcançar um outro patamar de vida: casar com a mulher amada, vencer a luta, tornar-se campeão. O personagem interpretado por Jonathan Majors, Damian Anderson, é um entre vários que almejavam ser profissional do boxe e desfilar com o cinturão numa carreira vitoriosa, mas acabou tendo seu caminho redirecionado por uma sentença de 18 anos em cárcere privado após um desentendimento na rua. O terceiro filme nos oferece dois personagens que partiram juntos, mas acabaram atravessando jornadas distintas e consequentemente finais desiguais. Adonis tornou-se aquilo que o amigo desejava, e Damian viveu quase duas décadas no presídio vendo um sonho próximo da realidade se transformar numa probabilidade distante.

Assim, Creed III traça um comentário político interessante quando coloca em debate como as circunstâncias e a desproporcional punição condicionaram o futuro de um garoto, e destruíram qualquer perspectiva de sucesso. Contudo, o filme se interessa mais nessa background como justificativa para o sentimento vingativo do antagonista, do que necessariamente se aprofundar no comentário político e social.

É preciso ter uma suspensão de descrença do mesmo nível daquela em Gigantes de Aço (2011), quando o robô de treinamento Atom confronta os robôs mais competitivos e tecnologicamente avançados do mundo, para engolir a história de Damian. O plano arquitetado e a escalada oportunista para enfrentar o atual campeão, além do mistério envolta da sua vida dentro da prisão, mantendo o ritmo de treinamentos e o porte físico de um atleta profissional são enfiados goela abaixo e apenas geram dúvidas pertinentes sobre suas reais condições na cadeia, pois é conveniente para o roteiro deixá-lo pronto para a jornada sem qualquer preparo – e torná-lo uma opção viável num confronto de proporções globais.

E o roteiro não peca exclusivamente nesse contexto. A história retrata um Adonis Creed aposentado, sendo a primeira luta do filme justamente sua despedida dos ringues. Semelhante à premissa de Rocky Balboa (2006), Creed III coloca seu protagonista na posição de superado e ultrapassado, quando outros rostos e nomes assumem o protagonismo do esporte. Contudo, existe uma diferença gritante entre o que fizeram com Balboa em 2006 e essa tentativa. A caracterização de Sylvester Stallone corresponde a alguém obsoleto, cansado e nitidamente fora da idade (resultado da própria realidade do ator); a forma como o filme explora suas vulnerabilidades e fraquezas o tornam mais verossímil, e nos fazem reconhecer seu retorno aos ringues como um desafio complicado. No caso de Michael B. Jordan, sua caracterização e, portanto, seu porte físico e estilo de vida (assim como o período curto da aposentadoria), não correspondem ao que filme pretende transmitir e acaba por atrapalhar na forma como nos relacionamos com ele, sendo este “grande desafio” um mero percalço no caminho.

Se essa tentativa frustrada de emular a capacidade emocional da obra de 2006 já não fosse suficiente, o filme também retrata uma perda (que não será revelada aqui) com o peso dramático de uma folha de papel. Novamente parte do esforço de criar empatia pela história do protagonista, como se obter a comoção do público fosse missão fácil apenas por colocar o acontecimento anunciado desde o início num ponto crítico da trama – e não resultado de um processo construído gradativamente (se possível, com sutileza).

Contudo, as limitações óbvias do roteiro esbarram numa direção competente e inspiradora do estreante Michael B. Jordan. Foi uma grata surpresa reconhecer na tela um diretor que busca alternativas para cenas simples, sempre procurando caminhos diferentes para transmitir sensações. Não só pela capacidade de conduzir ritmos impressionantes nas lutas, mas imprimir um estilo inspirado por seus gostos pessoais pela linguagem dos animes (os planos fechados nos braços e luvas, o slow motion) que possuem caráter próprio na produção das cenas de ação. Outro ponto relevante é como Jordan não se limita em focar na luta em si, mas busca intercalar com flashbacks que remetem às emoções e pensamentos dos lutadores. O conflito principal entre Adonis e Damian é para além do âmbito físico, é quase como um acerto de contas espiritual.

Também vale ressaltar a continuidade de estilos musicais, temáticas e saudosismos que integram toda a trilogia. É importante manter uma unidade artística facilmente reconhecida ao assisti-los: a representatividade da comunidade negra, a exaltação e o respeito pelas figuras do passado (embora aqui ocorra um distanciamento muito maior do que nos anteriores), além da música tema com acordes clássicos da franquia. São, portanto, elementos que mantém o espírito dos três filmes.

Ao final (sem spoilers), o diálogo entre o Adonis e Damian retrata dois homens compreendendo como o sentimento de vingança só serve para consumir aquilo que resta. Mas o destaque está quando eles se conscientizam sobre o quão equivocados estavam em tentar procurar culpados entre si, quando a culpa verdadeiramente partia daquelas forças externas maiores, que – às vezes – os tornam coadjuvantes da própria vida.

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Super Mario Bros. Um Filme despretensioso para assistir com toda família

Super Mario Bros. é uma franquia de jogos que tornou-se popular quase de imediato quando foi criada, isso porque, possuía uma jogabilidade simples, sem história (fator que mudou ao longo dos anos) e era acessível para todos. 

Logo, era inevitável que Hollywood tentaria mais uma vez (dado que um filme em live-action foi produzido em 1993, mas foi um fracasso) revitalizar a franquia, mas em forma de longa-metragem animado. Uma jogada inteligente da Nintendo e Illumination, diga-se de passagem. 

Super Mario Movie Super Mario Bros GIF - Super Mario Movie ...

Mario é um encanador junto com seu irmão Luigi. Um dia, eles vão parar no reino dos cogumelos, governado pela Princesa Peach, mas ameaçado pelo rei dos Koopas, que faz de tudo para conseguir reinar em todos os lugares.
Não, Super Mario Bros. O Filme não se enquadra no ”subgênero” de animações para o público infantil, que tem uma grande mensagem adulta por trás. Ele é simplesmente uma obra cinematográfica animada simples, descontraída e despretensiosa, e é justamente isto que faz a história ser prazerosa de assistir. 
Diferente dos games, Super Mario Bros. O Filme expande a vida pessoal do encanador e de seu irmão bigodudo, aprofundando em suas origens, relação com a família e abordando a conexão entre os antagonistas humanos presentes no cotidiano da dupla. 
Super Mario Bros. O Filme não se sustenta somente com referências visuais aos jogos. A jornada do herói, desde a chegada do italiano à Terra do Cogumelo, é o grande ponto alto do filme, dado que Mario embarca em uma jornada de autodescobrimento influenciado pela princesa Peach. Em resumo, o personagem recebe um propósito muito mais ”humano” e corajoso em contraparte ao material fonte, que sempre abordou as dores e forças do pequeno herói superficialmente. 
The Super Mario Bros. Movie' Is Another Bad Game Adaptation
Personagens secundários, como Peach, Bowser, Toad e Donkey Kong ganham uma profundidade e significado ainda maior com o decorrer da trama, dando um verdadeiro significado para os amigos de Mario, e descartando a ideia de serem meros coadjuvantes, afinal, a trama aborda de maneira simples e rápida, mas profunda, a dor, desejo e motivação de cada individuo. 
Mesmo com uma história simples, feita somente para entreter a família e sem uma grande mensagem por trás, Super Mario Bros. O Filme moderniza a franquia mas sem deixar de lado a nostalgia, entregando uma comédia de qualidade e adorável. 
NOTA: 5/5
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A Morte do Demônio: A Ascensão é sinônimo de qualidade e entrega além do que promete

A Morte do Demônio é uma famosa franquia de horror e comédia que nasceu em 1981, através de um projeto idealizado pelo diretor e roteirista Sam Raimi, por Bruce Campbell e pelo produtor Robert Tapert. Ao longo dos anos, a franquia tornou-se um clássico entre os fãs de terror, sendo considerada como uma das melhores sagas do gênero. 

Com continuações excelentes, incluindo uma série com três temporadas e uma nova versão lançada em 2013, A Morte do Demônio sempre se manteve no alto nível sem perder sua essência. Em outras palavras, os fãs da série nunca tiveram motivos para se preocupar, dado que cada obra sempre encontrava uma maneira de respeitar o material fonte. 

Com A Morte do Demônio: A Ascensão não é diferente, sendo a melhor adição à franquia desde Uma Noite Alucinante 3 e Ash vs Evil Dead, que entrega além do prometido de forma simples, elegante e sangrenta. 

Evil Dead: A franquia até hoje

No filme, Beth (Lily Sullivan) vai até Los Angeles para visitar sua irmã mais velha, Ellie (Alyssa Sutherland), que mora com os três filhos em um pequeno apartamento. Com uma relação distante, essa seria a oportunidade para uma reaproximação entre as irmãs. Porém, o reencontro toma um rumo macabro quando elas encontram um livro antigo que dá vida a demônios possuidores de carne. Agora, para sobreviverem, serão forçadas a enfrentar uma versão aterrorizante da família.

Com direção do irlandês Lee Cronin (O Bosque Maldito), que também assina o roteiro, A Ascensão é um longa-metragem feito com amor, cuidado e dedicação. Desde fidelidade à mitologia criada por Sam Raimi, até homenagens visuais, Cronin entrega uma direção dinâmica, dando ao telespectador a sensação de que ele faz parte da história e que também está sendo caçado pelos Deadites (demônios), como por exemplo, acompanhar os olhares dos personagens com a câmera, dando a sensação de que os protagonistas estão interagindo com o público. 

Diferente das outras obras, A Morte do Demônio: A Ascensão desenvolve todos os personagens individualmente, dando um real propósito para toda a família, descartando a possibilidade deles serem meros NPC’s que estão ali para morrer. Cada um possui sua dor individual, seu momento e seu protagonismo, enriquecendo ainda mais a história. 

Contudo, Ellie (Alyssa Sutherland) e Beth (Lily Sullivan), a dupla de irmãs, são as que se destacam em meio à tanto protagonismo das filhas de Ellie. Enquanto Beth, é a grande ”heroína” que esconde um grande segredo de sua família, e por isso, luta para sobreviver (dado que ela descobre um propósito em sua vida), sua irmã fica com o papel de vilã… e que vilã! Percebe-se no olhar de ambas as atrizes, que elas não estavam somente se divertindo enquanto gravavam A Ascensão, como também se entregaram de corpo e alma para suas personagens, entregando atuações medonhas, empolgantes e claro, de alta qualidade. 

Bloody New 'Evil Dead Rise' Image Shows Off the Boomstick! - Bloody Disgusting

A Morte do Demônio: A Ascensão inova em trazer para a franquia, uma ambientação claustrofóbica se passando quase que inteiramente no mesmo cenário, sem enjoar. Além disso, a escolha por levar A Morte do Demônio para dentro de um prédio, abriu possibilidades para criar uma trama mais íntima e criativa, ao mesmo tempo que a ambientação é trabalhada com recursos ”escassos”.

A nova produção utiliza do humor de maneira inteligente e pontual, criando uma atmosfera tensa, mas que há momentos engraçados. Porém, tais situações não são utilizadas para quebrar o gelo como de costume, mas sim, para deixar os acontecimentos ainda mais macabros e maquiavélicos. Mais um ponto para o longa-metragem. 

Yeah, they're dead. They're all messed up." — Evil Dead Rise (2023) dir. Lee Cronin “Mommy's...

A Morte do Demônio: A Ascensão é um verdadeiro (e lindo?) banho de sangue e gore, dando uma alegria quase que infinita para os amantes de Ash e sua turma, sendo além de uma bela homenagem, mas sim, uma adição magnífica à este universo cinematográfico que tende crescer cada vez mais. 

NOTA: 5/5