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O Horror Profano de Longlegs: Vínculo Mortal que Intimida até o Terror de Shopping Center

Escrito por Daniel Estorari

O terror é o gênero cinematográfico que mais oferece liberdade criativa aos seus criadores, dado o número infinito de caminhos que os cineastas podem explorar ao contar uma história.

Longlegs: Vínculo Mortal exemplifica essa liberdade de maneira notável, entregando um horror profano que causa impacto até nos populares filmes de terror de shopping center. Esta obra mergulha no conceito do satanismo com um toque de realismo perturbador, mesmo ao incorporar elementos de fantasia, afastando-se da previsibilidade cansativa de grandes franquias como Invocação do Mal.

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Longlegs – Vínculo Mortal é dirigido pelo cineasta Oz Perkins. A narrativa segue a agente do FBI, Lee Harker (Maika Monroe), que é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer em uma cidade tranquila. À medida que Lee mergulha na investigação, ela descobre indícios perturbadores de práticas ocultas ligadas aos crimes, levando-a por um caminho sinuoso e perigoso. Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a numa corrida contra o tempo para evitar novas vítimas. Contudo, à medida que avança, percebe que algo sinistro a observa de perto, ameaçando não só o desfecho do caso, mas também sua própria segurança. Enquanto luta para desvendar a verdade por trás dos assassinatos, Harker se vê numa encruzilhada entre o dever profissional e os segredos sombrios que emergem, transformando sua investigação em uma batalha intensa entre a razão e o desconhecido.

Filho do icônico Anthony Perkins, eternizado como Norman Bates em Psicose, Oz Perkins vem deixando sua marca em Hollywood desde que dirigiu o aclamado O Último Capítulo. Conhecido por contar histórias assustadoras com uma abordagem crua e realista, Perkins desafia os clichês hollywoodianos ao trabalhar com a seguinte questão: “Como o ocultismo impactaria a vida de alguém, sem os exageros típicos de Hollywood?”

Em Longlegs: Vínculo Mortal, Perkins se mantém fiel a esse conceito, conduzindo com maestria uma trama que flerta com o drama, como fez em A Enviada do Mal. Contudo, a diferença nesta nova produção está em seu ritmo. Embora menos acelerado em comparação aos filmes de horror convencionais, Longelegs é mais ágil que os demais trabalhos de Perkins, mantendo o espectador em constante tensão. A cada cena, o diretor manipula o ritmo com sua direção arrepiante, alternando entre momentos de quietude inquietante e tomadas que preparam o terreno para o mal iminente.

Perkins demonstra um domínio notável sobre os elementos visuais, utilizando a iluminação e o design de som para criar uma atmosfera que não só conta a história, mas também a intensifica. As transições entre cenas mais lentas e momentos de puro terror são executadas com precisão, elevando a sensação de perigo constante que permeia o filme. Esse equilíbrio entre suspense psicológico e horror visceral faz de Longlegs uma experiência única e memorável.

Ao evitar os clichês do gênero e explorar a escuridão de forma sutil, Perkins entrega mais do que sustos baratos; ele convida o espectador a enfrentar o medo e a incerteza de maneira profunda.

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Longlegs: Vínculo Mortal não se destaca apenas pela história aterrorizante, mas também pela excelência das atuações, que são o verdadeiro ponto alto da produção.

Nicolas Cage está impressionante no papel-título, incorporando com maestria um serial killer ocultista com sérios distúrbios mentais. Seus trejeitos bizarros, em vez de tornarem o personagem caricato, contribuem para a construção de uma figura memorável e assustadora. A bizarrice e o exagero presentes na sua performance não resultam em um vilão cafona, mas sim em uma entidade tão apavorante quanto as aparições do “Homem Lá de Baixo”, que observa o telespectador e a protagonista nos momentos mais aterrorizantes do filme.

Maika Monroe, no papel da detetive Lee Harker, não fica atrás de Cage. Enquanto ele traz exagero ao interpretar Longlegs, Monroe atua com uma sutileza que transmite a timidez e o medo de sua personagem, moldando uma detetive desconfiada até de si mesma, mas determinada a colocar um fim no mal. O contraste entre essas duas personas resulta em uma interação profunda e caótica, deixando o espectador em dúvida sobre a possibilidade de uma mudança de lado por parte de Harker.

A trilha sonora também merece destaque. Composta por uma combinação de sons dissonantes e ritmos perturbadores, a música amplifica a atmosfera sombria e intensifica o impacto das cenas mais assustadoras. A sonoridade imersiva contribui para a experiência geral, adicionando uma camada extra de terror que se entrelaça perfeitamente com a narrativa visual e as performances intensas dos astros.

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Infelizmente, Longlegs: Vínculo Mortal possui seus pontos baixos, embora isso não prejudique sua excelência geral. No entanto, é importante abordá-los.

Por ser um terror mais contemporâneo, o uso excessivo de jump scares acaba banalizando certos momentos. Inicialmente, Oz Perkins emprega essa técnica com inteligência, utilizando-a como um recurso que enriquece a trama e contribui para a tensão. Contudo, à medida que o filme avança, o cineasta parece perder a mão, utilizando os jump scares de forma mais gratuita e previsível, o que reduz o impacto que esses sustos poderiam ter em momentos críticos.

O plot twist, apesar de bem elaborado e com uma justificativa dramática e aterrorizante, é revelado de forma um tanto direta, sem o mistério e a construção que poderiam intensificar o impacto. Embora a revelação não seja ruim, sua entrega antecipada tira parte da surpresa e da profundidade que um mistério bem trabalhado poderia proporcionar. Em um filme com uma narrativa tão envolvente como Longelegs, um enigma mais sutil e desenvolvido teria elevado ainda mais a experiência.

Apesar dessas falhas, Longlegs: Vínculo Mortal continua a ser uma obra impressionante dentro do gênero, oferecendo uma experiência que, mesmo com suas imperfeições, mantém o espectador cativado e imerso em seu terror perturbador.

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Em um cenário onde obras de horror frequentemente se tornam previsíveis e se baseiam em fórmulas desgastadas, Longlegs: Vínculo Mortal surge como um verdadeiro alívio para os aficionados do gênero. Eu não me lembrava da última vez que um longa do gênero conseguiu me causar um medo genuíno; mas essa produção conseguiu exatamente isso. Cada cena é carregada de uma tensão palpável que se intensifica de forma magistral, mantendo o espectador completamente imerso. O medo que ele provoca é visceral e autêntico, um ponto fora da curva em um mar de produções que muitas vezes preferem se apoiar em sustos fáceis e previsíveis.

O que realmente distingue Longlegs dos habituais “terror de shopping center”, é sua abordagem ousada. Enquanto muitos há longas-metragens que se contentam com efeitos superficiais e roteiros formulaicos, Vínculo Mortal se destaca pelo seu medo profundo e real por meio de uma estética que abraça o horror profano de maneira genuína. É uma produção que não apenas assusta, mas também desafia e inquieta, oferecendo uma experiência cinematográfica memorável que permanece depois dos créditos finais. Em suma, Longlegs: Vínculo Mortal é um exemplo brilhante de como o terror pode ser elevado a um patamar superior, misturando uma narrativa realista com uma atmosfera de arrepiar.

NOTA: 4/5

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Sobre o Autor

Daniel Estorari

With great powers...

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