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Saltburn: uma odisséia sobre amor, ódio e manipulação

Escrito por Daniel Estorari

Ser bom compensa? Não de acordo com Saltburn, novo filme de Emerald Fennell, diretora do aclamado Bela Vingança, que recebeu a estatueta do Oscar 2021 na categoria Melhor Roteiro Original; que em suas entrelinhas, aborda sobre a manipulação humana com sutileza e selvageria, sem perder sua classe. 

Ousado, Saltburn é uma odisséia sobre amor e ódio. Contudo, sua história aborda infidelidade de forma muito mais ampla como a grande massa está acostumada, expandindo o termo para além de ”traição eros’‘, trabalhando a quebra de fidelidade em conjunto com a propagação de mentiras com inteligência e sagacidade.  

We Do The Gif — Barry Keoghan as Oliver Quick Saltburn 2023 |...

 A trama se passa nos anos 2000 e acompanha o estudante universitário Oliver Quick, que tem dificuldades para se encaixar na Universidade de Oxford. Após conhecer Felix Catton, Oliver é imediatamente atraído pelo mundo aristocrático do jovem ,que o convida para passar uma temporada na casa de sua família. Mas o que começa como uma amizade aparentemente inocente logo escalona para uma crescente obsessão.

Emerald, que além de assumir o posto de diretora, assina o roteiro satírico e magistral que conduz o espectador para uma teia burguesa de podridão, levando quem está assistindo para uma história recheada de canalhiches e reviravoltas passíveis de atitudes sociopatas (e psicopatas) dos personagens que compôem o elenco. 

Propositalmente, Fennell entrega motivações vazias e rasas para os membros da família Catton, dado que Saltburn se trata de um drama satírico que também visa explorar a carência emocional de uma pequena sociedade parental que se contém com prazeres mundanos e imundos. Dessa forma, a cineasta cutuca na ferida desse tipo de gente com muito sarcasmo e ironia. 

Contudo, o grande destaque da obra está na relação entre as duas personas principais: Oliver Quick (Barry Keoghan) e Jacob Elordi (Felix Catton), que mesmo inicialmente tendo comportamentos distintos, vão se transformando ao decorrer da história em um único ser movido à sexo, drogas, prazeres rasos. Jacob se esforça em entregar uma atuação respeitosa e convincente. Por sorte, ele consegue, mas não tanto quanto Barry, que é a grande cereja desse bolo, afinal não é atoa o papel que ele anda desencadeando em Hollywood, sendo um ator disputado por grandes estúdios e trabalhando na Marvel e DC ao mesmo tempo. 

Keoghan é tão convincente em seu papel como Oliver, que mesmo sendo um personagem fictício, dá-se a impressão que tudo que é visto ao longo das duas horas do filme é real e que Oliver Quick foi contratado para fazer ao filme com Emerald gritando aos fundos das gravações: ”apenas seja você mesmo!”

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Saltburn também se destaca pela sua atmosfera de Dark Academia, dando um toque especial para aquilo que já era perfeito. Além disso, sua ambientação no início da década 2000, faz com que Emerald Fennell fuja de sua zona de conforto, buscando por saídas  ”medievais” para situações que ela colocou seus personagens, fazendo assim, um show de entretenimento sádico e angustiante. 

Sua direção, que muitas vezes lembra obras cinematográficas de décadas passadas filmadas por câmeras analógicas, pode inicialmente causar um pequeno desconforto devido as famosas bordas pretas ao redor da tela. Entretanto, o que parecia ser um problema, torna-se um charme casando com a temática de Dark Academia citada no parágrafo anterior. 

Em outras palavras, a produção não se salva somente pela sua extraordinária história e elenco, mas também, por todo conceito artístico cuidadosamente montado para entregar ao espectador, um produto de qualidade acima da média. 

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Saltburn mostra o quão imundo e manipulador o ser-humano é quando lhe convém, mostrando que a confiança e bondade não costumam existir em meios da alta e baixa cúpula. Acima do amor e ódio, a manipulação é quem reina em pessoas que tendem a tirar vantagem de tudo e todos; e a nova obra prima de Emerald Fennell mostra tudo isso com muita maestria através de reviravoltas inesperadas, chocantes e bárbaras. Se não fosse por uma trama tão sutilmente agressiva, Saltburn não seria o que ele é, sendo necessário explorar e romantizar até certo ponto, a podridão humana. 

NOTA: 5/5

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Sobre o Autor

Daniel Estorari

With great powers...

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