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O Hulk de Ang Lee

Sem dúvida alguma o Hulk, alter ego de Bruce Banner, é um personagem bastante conhecido pelos fãs de quadrinhos e dos filmes de heróis. Atualmente vivido por Mark Ruffalo no cinema, o personagem foi criado por Stan Lee e por Jack Kirby tendo sua primeira aparição no quadrinho The Incredible Hulk nº1 em 1962.

O Gigante Esmeralda que conhecemos era para ser cinza, entretanto, por conta de erros na gráfica ganhou a coloração esverdeada e, além disso, sua criação foi inspirada no clássico ”O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson. Em sua origem dos quadrinhos, o Hulk nasceu através de um teste militar após Bruce Banner salvar um jovem que estava na área no momento errado – como resultado, a explosão de raios gama fez com que o doutor não morresse, mas sim se transformasse no monstro que conhecemos.

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Em 2003, o personagem ganhou uma nova adaptação para os cinemas – nova, pois anteriormente já havia uma série de televisão e filmes do personagem com outros grandes nomes da editora como Thor e o Demolidor – dirigida por Ang Lee, diretor responsável por filmes conhecidos como O Tigre e o Dragão, As Aventuras de Pi e Projeto Gemini. Na época, o cinema de Heróis como conhecemos hoje estava em sua fase inicial com X-Men (2000; dir: Bryan Singer) e Homem-Aranha (2002; dir: Sam Raimi), sendo estes em conjunto com Hulk e outros títulos da época podendo ser considerados até uma espécie de vanguarda do gênero, afinal, é inegável que os elementos que deram certos nestes longas foram aproveitados em diversos títulos atuais.

Em Hulk, Ang Lee criou um filme autoral ao mesmo tempo que fez a adaptação dos quadrinhos. A narrativa caminha em uma frágil linha entre o rídiculo e o dramático, acertando bem no seu tom e não se comprometendo, tornando-se fielmente cartunesco. Para isso, o diretor usou em sua fotografia cores vivas e em sua edição divisão de quadros para dar a sensação de que o espectador está lendo uma história em quadrinhos. Em um determinado momento do filme ainda, o corte de uma cena para outra simular uma troca de página. Atualmente, junto com alguns efeitos visuais, esse momento envelheceu mal – entretanto é uma excelente cartada utilizada pelo diretor e é uma passagem bem interessante de se observar.

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Na trama, houveram algumas modificações em relação a origem do verdão: seu pai, David Banner, trabalhava para o exército e experimentou em si próprio um soro criado para melhorar o soldado. Com isso, ele acaba passando para o seu filho. Alguns anos depois, Bruce Banner não se lembra de seu passado e, trabalhando junto com Betty Ross, sofre o acidente com a radiação gama. Após isso, todos já sabem o que acontece: o General Ross entra em cena e quer caçar o monstro verde a todo custo para usá-lo como arma militar. Junto com isso, seu pai reaparece e Bruce descobre o que houve em seu passado.

O diretor foca mais no drama entre pais e filhos e em como isso influecia no desenvolvimento do Hulk do que no comportamento destrutivo do herói e isto, talvez, tenha sido o motivo de rejeição do filme na época. Lee se preocupa mais em mostrar a tragédia presente na vida dos personagens e em como Bruce está lidando com o retorno de seu pai abusivo e com o surgimento de sua segunda personalidade do que em mostrar cenas de ação onde o Hulk, literalmente, esmaga.

O CGI do Hulk também foi um ponto que provavelmente trouxe as críticas negativas ao longa, visto que pela limitação da época não dava para se esperar um visual excelente (como visto em seus sucessores, O Incrível Hulk, de 2008 e em Os Vingadores, de 2012). Porém, depois da segunda transformação, o telespectador se acostuma com o visual. Uma curiosidade é que durante a primeira transformação, a cor do Hulk é meio acizentada por conta da história citada na introdução deste artigo.

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Mesmo com um CGI limitado, o filme apresenta boas sequências de ação como a primeira transformação de Bruce em Hulk e sua fuga pelo deserto. Porém, o confronto final entre o protagonista e o vilão foi extremamente fraco e deixou a desejar. A escolha de vilão também não ajudou muito, o Homem-Absorvente tem o poder de – como o nome já fala – absorver qualquer material da natureza e com os recursos limitados era evidente que não seria bem aplicado. Entretanto, no fim das contas, funciona. Um último elemento que ajuda a compor o longa de Ang Lee é a trilha sonora feita por Danny Elfman, que combina perfeitamente com o personagem e com a tensão e o tom dramático do longa.

Por mais que o Hulk de Ang Lee tenha tido uma baixa bilheteria e recebido críticas negativas há 17 anos atrás, é inegável que sua montagem cartunesca inspirou diversos filmes, como por exemplo Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010; dir: Edgar Wright). Além disso, mesmo que tenha envelhecido mal por conta de seus efeitos visuais e sua edição, o longa apresenta uma excelente releitura do Hulk e um ótimo estudo de personagem e sua relação com Betty Ross, General Ross e seu pai. Hulk merece mais atenção, pois é uma experiência extremamente divertida e única com os fãs do gênero ao mostrar uma das inspirações do que conhecemos hoje nos filmes baseados em histórias de quadrinhos.

 

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Contágio (2011): Ética e empatia em tempos de calamidade

Assistir ao filme Contágio (2011), principalmente na época em que estamos, não foi uma tarefa das mais fáceis. Por partir de uma situação similar às nossas condições atuais, os acontecimentos fictícios ganham uma perspectiva muito mais densa, pautada pela realidade observada. Ao abordar a proliferação de um vírus desconhecido, o roteiro se divide em quatro importantes tramas, que apresentam setores diversos da sociedade relacionados a doença: uma família comum, um jornalista, os cientistas e pesquisadores, e os servidores públicos e militares. A partir desse ponto, Contágio discute as particularidades de todos os envolvidos na epidemia, entrelaçando as causas e consequências, e permitindo uma ótima discussão sobre os reais interesses governamentais, a falta de ética que permeia o confronto com a doença e a perda gradativa da empatia da sociedade mundial.

Se pegarmos qualquer um dos assuntos listados acima, poderíamos facilmente abri-los e discuti-los no cenário atual. Essa forte ligação com o real mostra a evidente veracidade científica que permeia o roteiro do filme, e, consequentemente, o atribui uma credibilidade maior. Dessa forma, Contágio exemplifica conceitualmente as capacidades da contaminação do vírus, enquanto ainda demonstra as medidas governamentais necessárias para a diminuição da contaminação – soa familiar? – (Fechar escolas, universidades, locais públicos etc para evitar aglomerações; construir locais temporários para as pessoas contaminadas se estabelecerem e serem observadas; entre outras medidas).

Do ponto de vista político, Laurence Fishburne e Bryan Cranston representam homens públicos que estão dispostos a erradicarem o vírus, mesmo que isso leve tempo e o ocultamento de dados importantes para a população. Nesse sentido, entra o confronto direto com a parte científica dessa produção. Os pesquisadores e cientistas, liderados por Fishburne, têm um objetivo claro de acelerar os conhecimentos acerca dos detalhes da doença, enquanto, o governo, pretende ocultar certos dados para não causar pânico instantâneo nas pessoas. Resulta-se, portanto, em um embate passageiro de interesses, já que um lado está disposto a conceder certos níveis de informação, enquanto o outro preocupa-se na preservação social para não atingir setores da economia e da saúde, passando por questões burocráticas e governamentais. Embora haja o alinhamento desses grupos ao longo do filme, fica óbvio que o diretor Steven Soderbergh pretende debater os limites éticos das gestões governamentais em tempos de crise e colapso.

Tais limites éticos introduzem o personagem Alan (Jude Law) – o elenco é excepcional – que será um fator determinante para a discussão sobre a democratização da informação. Alan é um jornalista independente, que tem um blog pessoal onde escreve artigos sobre casos políticos, principalmente sobre o vírus que está assolando o planeta. Sua investigação acusa que o governo estaria acobertando uma possível cura para o vírus, por conta de interesses da indústria farmacêutica. O filme todo tenta convencer a bondade ética e moral do jornalista, mesmo que seus métodos sejam duvidáveis e o final guarde momentos reveladores. Em momentos como esse, diversos veículos de informação tentam achar algum furo de reportagem, montam discursos e matérias sensacionalistas na tentativa desprezível de alcançar o maior número de pessoas, valorizando seus canais de propaganda.

Contudo, a desinformação estrutural nem sempre está conectada com interesses econômicos. Há aqueles que necessitam dos holofotes para se autopromoverem publicamente. Isto é, independente dos riscos que as fake news podem causar, alguns cidadãos preferem inventar curas impossíveis, ou criar conspirações políticas que, de certa forma, os apresentam como os reais portadores da verdade. Os que “visualizam” as quebras do sistema e não se deixam enganar pelas amarras manipuladoras dos políticos, sendo mais inteligentes do que as organizações mundiais responsáveis.

Essa irresponsabilidade informacional e a inescrupulosa necessidade de ficar por cima refletem na fragilidade das relações sociais que, em momentos de uma epidemia nessa escala, sofrem com um estresse intenso, seja pelo medo da contaminação, ou pelo receio da falta de abastecimento nos mercados e farmácias. Podemos dizer que esse momento do filme – sim, ainda estamos nele – transmite o fator humano, que é corrompido de forma melancólica. Mitch (Matt Damon) é o marido da primeira paciente (Gwyneth Paltrow) que apresentou os sintomas, e se vê em uma situação delicada quando ela e seu filho estão fortemente contaminados. O que resta para o personagem é uma profunda angústia e tensão, enquanto presencia o caos social instaurado e a desestruturação parcial da típica sociedade sob catástrofe.

O desencadeamento de uma insatisfação popular parece distante em certo momento de Contágio, mas conforme o agravamento das letalidades causadas pela infecção do vírus, ela se torna mais nítida e presente. E o filme tenta encontrar causas pertinentes que desencadearam a depredação de locais públicos e os constantes furtos em mercados e lojas de qualquer departamento: a negligência do governo e dos meios de comunicação. A falta de compromisso do governo para com a população soa como clichê, mas o que Soderbergh faz é também mostrar as dificuldades de manter a ordem pública, seja por comandos superiores ou pela falta de recursos para tal. Em relação a comunicação, uma das revelações de Alan é determinante para causar ainda mais tumulto e caos, que se mostra uma falsa esperança para os que acreditam fielmente.

Contudo, há um fator pouco claro que, se seguirmos os conceitos concretos apresentados pelo filme, não conseguimos encontrar de maneira explícita: a perda da empatia. Evidente que o número de mortes apresentado pelo filme, e a alta infecção, deixaria todos em pânico e, de certa forma, justificaria os extremos praticados pela população. Mas o ato de puro pânico demonstra-se pautado na arrogância e no egoísmo, já que, ao invés das pessoas terem uma consciência coletiva, elas se tratam como inimigas e competidoras; saltam de seu estado comportado para o seu estado puro e natural. E a violência de Contágio está concentrada em uma cena particular e precisa, que mostra que o medo é só uma justificativa para o desnecessário uso da violência.

Sim, o texto tem confusões temáticas claras. Estaria eu falando sobre o filme, ou sobre a atualidade? E, sim, a confusão é proposital por motivos óbvios. Não há necessidade para pânico, e tampouco para o esvaziamento de mercados e farmácias. Há a necessidade de nos conscientizarmos sobre a atual situação, seguir as medidas profiláticas, e compartilhar informações confiáveis de fontes seguras com credibilidade. Porém, não sou nenhum especialista para dizer o que você deve ou não fazer, contudo, como essa é uma coluna sobre cinema, me vejo na responsabilidade de te dar uma dica para a sua quarentena: assista a filmes e séries, leia livros e contos, e, além disso, reflita sobre o que acabara de ver/ler. Faça o seu tempo valer a pena, aproveite os momentos livres em casa para fortalecer e desenvolver a sua sensibilidade.

É através da sensibilidade que adquirimos empatia. Embora Contágio apresente diversas problemáticas e desperte certa melancolia, não deixa de introduzir um vislumbre de um futuro promissor que, certamente, com ética e empatia, aparecerá para nós também.

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Bloodshot é uma grata surpresa e inova as adaptações de quadrinhos

Após as dezenas de adaptações de quadrinhos da Marvel e DC, outras editoras quiseram explorar o mundo das salas de cinema. E dessa vez foi a Valiant Comics que quis entrar com um novo universo compartilhado, com seu mais novo filme, Bloodshot. Estrelando Vin Diesel, Eiza González, Guy Pearce e grande elenco, longa conta a história do soldado americano Ray, que após uma tragédia, é submetida à uma experiência chamada “Projeto Espírito em Ascensão“; em que nanites (nanorobôs) são injetados em seu corpo, apagando a memória e assim dando ‘poderes’ ao soldado.

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O filme tem um começo extremamente genérico, com uma edição estranha e fatores que podem deixar meio confuso a narrativa, sendo que o filme tem a pretensão de ser algo mais ‘pé no chão’, tomando caminhos caricatos demais. Para quem tinha um pé atrás com o projeto, isso era um mal sinal e talvez um presságio de que o resto não seria do agrado. Felizmente, não é isso que acontece. A partir do seu segundo ato, ou meio da história, somos apresentados à um plot-twist que se encaixa e funciona perfeitamente, e após isso, o filme toma um rumo único e inusitado. Pode se dizer, esse é o que faz esse filme se tornar um ponto fora da curva no atual mundo de filmes adaptados de quadrinhos.

As personagens ao longo da trama são carismáticas, e que deixam a curiosidade de conhecermos mais sobre. Eiza Gonzalez e Lamorne Morris roubam várias vezes a cena para suas personagens, e Lamorne traz a melhor parte do humor do filme, que não chega a funcionar tanto em outras personagens. O vilão do filme infelizmente não é tão memorável, mas funciona. Em parte de atuação, apenas Vin Diesel peca e traz cenas sem emoção, o que deixa a imersão um tanto quanto difícil.

Duas coisas que são feitas com maestria no longa: Os efeitos especiais e a fotografia. Uma das principais críticas aos filmes de heróis é a saturação de CGI desnecessário, e que deixa o filme com um visual plástico. Em Bloodshot, os efeitos visuais são como um personagem, e o personagem mais importante e mais bem desenvolvido. Claro, ele não é totalmente perfeito, mas pode chegar perto disso; cenas em slow-motion e dos nanites (que reconstroem o personagem de Diesel) são de tirar o fôlego.

Já sua fotografia, pode se dizer que é uma das melhores do meio em que o filme se encontra. A forma que as luzes e as cores são usadas mostra que Bloodshot quis tentar ser diferente de outras franquias, que não trabalham tanto com isso, deixando de lado. Por outro lado, o filme ainda peca em algumas cenas de ação, usando uma técnica de tremer demais a câmera, que atrapalha a apreciação da cena e da coreografia.

A trilha-sonora do filme ficou um tanto deixada de lado, o que chega a entristecer. Mas, a edição de som do filme é muito boa, o que também adiciona demais para sua imersão.

Assistir esse filme dá a sensação de estar vendo um filme clássico dessa era de filmes baseados em quadrinhos, como Homem de Ferro, Homem Aranha de Sam Raimi, e o longa tinha esse propósito, já que abre o universo da Valiant. Com cenas de ação ótimas, personagens novos e um universo inteiramente único, Bloodshot é um filme que diverte e conquista o público. Agora é esperar para que o filme faça sucesso, para explorarmos mais desse novo mundo.

Nota: 3,5/5

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1917 e o seu reconhecimento mundial

Antes de sermos fisgados com a exibição de um trailer de determinado filme, a porta de entrada que o antecede é a liberação da sinopse. Que nada mais é do que uma resumida síntese sobre a ideia central do longa ou uma de suas ideias. É o ponto inicial de interesse para muitos. Esta parte textual que desperta levemente a curiosidade necessária para criar o delírio coletivo do hype. Com isso, leia abaixo a sinopse de 1917.

Os cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) são jovens soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. Quando eles são encarregados de uma missão aparentemente impossível, os dois precisam atravessar território inimigo, lutando contra o tempo, para entregar uma mensagem que pode salvar cerca de 1600 colegas de batalhão.

Bem simples, né? Aparentemente,  seria mais um projeto cinematográfico com essa temática de guerra e cairia no esquecimento. Só que o cineasta Sam Mendes veio para mostrar totalmente o oposto. A trama em si é bastante simples, porém as técnicas que foram usadas caíram no gosto do público e permitiram receber o reconhecimento que veio a seguir.

A trama com quase duas horas conseguiu imergir com excelência o telespectador à tensão e horror que uma guerra traz, esta sendo a I Guerra Mundial. A câmera estava sempre ali tão próxima aos personagens como se tivesse vida própria e o ambiente se ampliava diante de nós quando realizava um giro de 360°, dando uma melhor noção de tudo que estava acontecendo com os demais também. Isso acontecendo graças ao excelente trabalho em conjunto de Roger Deakins na fotografia e Thomas Newton na trilha sonora, criando maravilhosos momentos de tensão que se arrastava e mantinha-se presente de forma constante.

Neste vídeo dos bastidores, Sam explicou como o filme precisava ser gravado em tempo real num take só para que cada parte da jornada destes soldados fosse compartilhada. Missão cumprida com sucesso. Já Roger também comentou que o conceito dessa longa tomada na montagem traria claramente o conceito imersivo. Para tal efeito, foi preciso gravar o céu todos os dias para não afetar a continuidade destas tomadas posteriormente. A produtora Pipa Harris falou que o maior ganho foi a forma de repassar realidade para quem assistia. Fazendo com que a pessoa realmente se sinta dentro das trincheiras.

O resultado deste cuidado técnico veio no início deste ano com as principais premiações como Globo de Ouro, Critic’s Choice Awards e Directors Guild of America Awards. Ganhando em categorias importantes como Melhor Fotografia e Melhor Direção. Foi com o BAFTA (Oscar britânico) que 1917 fez a festa. Levando para casa as sete estatuetas num total de nove no qual foi indicado. Finalizou esta corrida com o Oscar e garantiu três prêmios técnicos como Fotografia, Efeitos Visuais e Mixagem de Som.

1917 permanecerá durante um bom tempo no pensamento das pessoas que renderam-se ao magnífico estilo idealizado por esta equipe competente. Será um bom exemplo de longa para as próximas produções de guerra para conseguir garantir a atenção do público do começo ao fim. De uma coisa Mendes não precisará se preocupar: 1917 não será esquecido.

Os vencedores do Oscar e a crítica de 1917 podem ser lidos, respectivamente, aquiaqui.

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A importância de Parasita para o cinema a partir de agora

Somos criaturas de hábitos e temos a tendência de criar determinados rituais para várias atividades do nosso dia-a-dia. O exemplo claro disso é quando vamos assistir a algum filme. Tudo começa pela escolha do título através do gênero favorito e depois partimos para saber as diversas opiniões sobre o mesmo. Falam bem, vamos assistir. Falam mal, fica a dúvida de arriscar. Porém, tudo acaba em filme. O ritual vai sendo criado até o seu desfecho. Sendo satisfatório ou não.

O outro passo envolve o sentimento. Somos criaturas sensitivas e tentamos criar conexão sempre que possível com algo. O cinema é isso. Uma mistura de sensações. Vale muito a pena permitir esse gradiente de emoções que uma trama nos proporciona. Parasita ficou responsável por trazer essa bagagem. E foi além

A sinopse completamente solta pode direcionar o público por um caminho apático com a trama, mas esse não foi o intuito do diretor Bong Joon-Ho. Ele traz choque, repulsa e reflexão sobre as atitudes que a nossa sociedade moderna cometem através da família de Kim Ki-taek. Foram justamente esses elementos que fizeram Parasita não só conquistar a quem assistia, assim como também o mundo.

O reconhecimento que o longa sul-coreano vem recebendo começou no ano passado com o recebimento da Palma de Ouro pelo Festival de Cinema de Cannes e mais alguns festivais como Buil Film Awards e Sydney Film Festival, onde venceu as categorias principais. Dando, desta forma, a partida numa corrida inacreditável que culminou na estatueta inédita de Melhor Filme para um Filme Estrangeiro na edição recente do Oscar exibido neste domingo (9). Essa foi a prova legítima que todos estávamos arrebatados com o jeito de Bong em contar a sua história. E que história, não é mesmo?

Este simpático e fofo cineasta conseguiu o importante feito de quebrar esta roda que os membros da Academia insistiam incessantemente em mantê-la funcionando, trazendo o tão esperado sentimento de renovo que estávamos precisando receber de Hollywood. Finalmente veio e a partir de agora, significará muito para os vindouros projetos internacionais. Dá um ânimo para mostrar a sua capacidade, receber o merecido lugar no sol e descansar perante um universo grato. Mudado. Disposto a acreditar e aceitar essas mudanças. O futuro está cada vez mais promissor e isso será excelente para todos.

Os vencedores do Oscar e a crítica de Parasita podem ser lidas, respectivamente, aquiaqui.

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1917 é uma obra-prima entre os filmes do gênero

Conhecido por ter ganho os principais prêmios do Globo de Ouro e do BAFTA este ano, 1917 se apresentou como uma grande surpresa e conquistou rapidamente a curiosidade do público. O novo longa dirigido por Sam Mendes, feito como uma homenagem ao seu avô que esteve presente no conflito e lhe contava histórias a respeito, é uma experiência única que eleva os longas do gênero ao seu ápice em duas horas de exibição.

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A trama de 1917 é bem simples: durante a primeira guerra mundial, dois soldados britânicos – Schofield (George MacKay, de Capitão Fantástico) e Blake (Dean-Charles Chapman, de Game of Thrones) são convocados para entregar uma carta que tem como objetivo impedir um ataque que colocará em risco uma tropa inteira onde, inclusive, o irmão de um dos protagonistas está. É um roteiro comum, sem nenhum grande plot twist ou qualquer reviravolta, mas que funciona com maestria no decorrer do longa.

Entretanto, não é essa simplicidade que define o filme. A história é marcada pela imersão que o telespectador tem ao acompanhar os dois soldados através dos desafios e dos obstáculos para concluir a sua missão – imersão essa criada pelos aspectos técnicos e pela direção do longa.

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Todo o filme se passa através de um plano sequência de tirar o fôlego, onde o longa aparenta não ter nenhum corte. Claro que isso foi feito por meio de jogadas de câmera e durante a edição, mas foi tão cirúrgico que o telespectador fica sem fôlego vendo toda a ação acontecendo de forma contínua até o término do filme. Durante toda a película, a câmera faz giros de 360º ao redor dos personagens, fica sob no ombro deles e atravessa paredes ou qualquer superfície para evitar que haja algum corte brusco. Inclusive, em alguns momentos, dá a impressão de que o filme é um videogame de última geração.

A fotografia dirigida pelo excelente Roger Deakins (responsável por Blade Runner 2049) é extraordinária, contribuindo perfeitamente com a forma pela qual o filme foi gravado, evitando o uso de luz artificial para cômpor os cenários.

Em conjunto com isso, a trilha sonora de Thomas Newton cria a tensão e o alívio necessários para ajudar na imersão do longa. A direção de Sam Mendes é impecável e é o fator primordial para que 1917 seja uma obra-prima do gênero.

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É impossível não comparar 1917 com Dunkirk, o último filme bem sucedido do gênero que foi dirigido por Christopher Nolan. O longa de Mendes consegue pegar tudo o que deu certo em Dunkirk e transformar em algo melhor ainda, sem repetir os erros cometidos pelo mesmo.

Com o Oscar chegando e sendo indicado nas principais categorias, é inegável que 1917 levará uma boa quantidade de estatuetas para a casa, sendo o preferido por muitos para levar também o de ‘Melhor Filme’. 1917 é uma experiência única ao telespectador – com uma imersão intensa e uma direção impecável, ele se tornou uma obra-prima do gênero que vale a pena ser conferida no cinema.

Nota: 5/5

Os cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) são jovens soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. Quando eles são encarregados de uma missão aparentemente impossível, os dois precisam atravessar território inimigo, lutando contra o tempo, para entregar uma mensagem que pode salvar cerca de 1600 colegas de batalhão.

1917 está concorrendo ao Oscar e está em cartaz nos cinemas.

 

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Aves de Rapina: Cartunesco, absurdo, enérgico e divertido

Enquanto preparava-se para viver a Arlequina em Esquadrão Suicida, Margot Robbie leu outros títulos da DC Comics. A ideia de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa surgiu durante a San Diego Comic-Con de 2015. Robbie assim como os fãs, não esperava a aprovação do projeto, mas como foram bastante os elogios à sua performance, o estúdio concordou. Após 3 anos em desenvolvimento, o filme chega aos cinemas e o resultado é divertido e interessante.

A Arlequina e o Coringa terminaram. Como ele era a carta de imunidade dela em relação ao submundo de Gotham, ela é caçada por metade da cidade. Quando o diamante de Roman Sionis é roubado por Cassandra Cain, Harley une-se a Canário Negro, Caçadora e Renne Montoya para protegê-la. Todas as histórias individuais interconectam-se por diferentes razões, mas o objetivo é o mesmo: emancipação.

Cai pro pau, pudim fedido.

Em termos de direção, Cathy Yan faz um ótimo trabalho. Há muita precisão na coordenação dos movimentos de câmera para as cenas de ação (Extremamente bem coreografadas) e o timing cômico é quase perfeito. Além disso, a cinematografia por Matthew Libatique é responsável por planos muito bonitos. Porém, o maior esmero estético do filme é o design de produção por K. K. Barret, com cores vibrantes, estruturas bizarras e uma excelente interação com os personagens durante o ato final.

Enquanto isso, o roteiro por Christina Hodson é eficiente na transmissão da mensagem, os diálogos são engraçados, mas o último terço opta por exposição desnecessária. O aspecto mais forte da narrativa é a montagem por Jay Cassady, não linear, com transições de cena criativas e sinérgicas com a narração em primeira-pessoa.

Tem um simbolismo nesse frame e eu irei encontrá-lo. Oh meu deus, ela é tão linda <3

A forma como a história é contada é tão imperfeita, repleta de digressões, assim como a protagonista. A atmosfera é definida pela excelente trilha sonora composta por Daniel Plemberton. Apesar de todas as canções do álbum serem boas, a maioria delas não estão em alinhamento com os eventos.

 

O maior desafio de Aves de Rapina era a inserção de personagens diversos em um mesmo tom e funcionou perfeitamente. Robbie nasceu para a Arlequina e Jurnee Smollett Bell é compassiva e durona como Canário Negro. A Caçadora da Mary Elizabeth Winstead é a paródia perfeita da Beatrix Kiddo, de Kill Bill e o Ewan McGregor está divertidíssimo, fabuloso e sádico como Máscara Negra. Chris Missena, Rosie Perez também desempenham bons papeis.  Entretanto, a Cassandra Cain será um incomodo para os fãs. Apesar do distanciamento enorme do material-base, Ella Jay Basco é uma revelação.

No does it better

Aves de Rapina poderia ser mais longo, pois a conclusão é apressada. Todavia, é uma explosão de criatividade e tudo o que você espera em um filme da Arlequina. É cartunesco, absurdo, divertido e enérgico.

 

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A Redenção de Adam Sandler em Jóias Brutas

Antes de começar essa crítica, precisamos falar sobre Adam Sandler.

Conhecido por suas comédias pastelonas e de fórmulas repetidas, a carreira de Sandler se tornou marcada por elas. Entretanto mesmo diante de diversos filmes criticados negativamente, como Jack & Jill (Cada Um Tem a Gêmea Que Merece), That’s my boy (Este é o Meu Garoto), Gente Grande e suas últimas comédias feitas para a Netflix, vale lembrar que o ator também é responsável por diversos filmes bons – sejam eles de comédia, como seus longas clássicos, ou de drama. Em seu último drama feito para a Netflix, The Meyerowitz Stories (Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe), Adam Sandler provou que não é um mal ator, apenas que faz péssimas escolhas a respeito dos filmes que irá fazer e que, consequentemente, faz com que ele caia sempre na mesma comédia sem graça e com fórmula datada.

Entretanto, em Jóias Brutas, observamos a redenção de Adam Sandler e a prova de que ele é sim um bom ator – sendo, inclusive, uma injustiça o ator não ter sido indicado ao Oscar.

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A trama de Uncut Gems gira em torno de Howard Ratner (interpretado por Adam Sandler), um joalheiro extremamente malandro e enrolado que gera mais problemas ao tentar resolver os pendentes através de desvios de dinheiro, apostas em esportes e outros esquemas ‘ilegais’. Todo o longa gira em torno disso em um sistema de ação-consequência, ou seja, a cada atitude que Ratner toma no decorrer do filme, logo em seguida chega sua consequência até o momento do plot final.

A direção e a narrativa dos Irmãos Safdie é semelhante ao que foi visto em Good Times (Bom Comportamento, com Robert Pattinson): os diretores utilizam para sua construção os sons de uma Nova York extremamente barulhenta, figurantes conversando alto ao fundo de uma cena e cortes brutos para criar um ritmo agitado e uma imersão do telespectador ao longa. Junto com toda a situação do ambiente, a fotografia com destaque ao urbano e ao neon e a trilha sonora trazem uma experiência sensorial que já é a marca registrada dos diretores.

Todos esses fatores, em conjunto, tornam a narrativa dos Irmãos Safdie extremamente frenética e única. Entretanto, em alguns momentos isto se torna um problema pois fica difícil de acompanhar tanta informação.

A atuação de Adam Sandler é memorável, e talvez esta aqui seja a melhor da sua carreira. O ator sustenta o filme inteiro através de sua interpretação, se não fosse por ela, a trama não teria o peso que tem e possivelmente o longa não apresentaria a qualidade que possui. Por mais que todos os outros detalhes técnicos citados acima chamem a atenção, é a sua atuação que conduz o longa.

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Apresentando uma narrativa acelerada e conturbada feita pela direção única dos Irmãos Safdie em conjunto com a atuação de Sandler tornam o filme algo único e bem feito, podendo ser definido como uma sinfonia: Uncut Gems é uma composição frenética e bruta orquestrada pelos Safdie e conduzida por Adam Sandler.

Por fim, foi lançado recentemente um curta intitulado Goldman v Silverman, onde vemos novamente a parceria entre os diretores e o ator. Vale a pena conferir após o longa.

Nota: 4/5

 

Howard Ratner (Adam Sandler) é o dono de uma loja de joias, que está repleto de dívidas. Sua grande chance em quitar a situação é através da venda de uma pedra não lapidada enviada diretamente da Etiópia, cheia de minerais preciosos. Inicialmente Howard a oferece ao astro da NBA Kevin Garnett, um de seus clientes assíduos, mas depois resolve que conseguirá faturar mais caso ela vá a leilão. Para tanto, precisa driblar seus cobradores e a própria confusão que cria a partir de suas constantes mudanças.

Jóias Brutas (Uncut Gems) está disponível na Netflix a partir de hoje, dia 31 de Janeiro.

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Bad Boys Para Sempre é a perfeita sintonia entre passado e presente

Quando mencionamos Bad Boys, logo temos memórias de filmes icônicos e que até hoje marcam a história da cultura pop, e continua sendo uma das comédias mais lembradas. Quando anunciaram o terceiro filme da franquia, Bad Boys Para Sempre, muitas pessoas ficaram com o pé atrás com a ideia, e com medo do longa não estar ao nível de seus antecessores. Bem, medo não é necessário, pois esse deve ser o melhor filme dos parceiros Mike e Marcus.

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Anos após os eventos de ‘Bad Boys 2‘, os dois amigos e companheiros de trabalho, interpretados por Will Smith e Martin Lawrence, estão entrando para a seus 50 anos. Enquanto Mike decide continuar trabalho, Marcus quer se aposentar, e assim o longa segue e mostra que as coisas já não são a mesma coisa que antigamente. Somos apresentados a uma nova linha de agentes especiais, intitulado AMMO, que é composto por atores e atrizes de filmes/seriados teen; Vanessa Hugdens (High School Musical), Charles Melton (Riverdale), Alexander Ludwig (Jogos Vorazes) compõe uma linha nova de personagens mais jovens, que renovam o humor e a ação do filme, e que é um ponto extremamente positivo.

Também temos uma nova ameaça, que explora o passado de Mike e que realmente deixa o espectador totalmente vidrando em desvendar o motivo dessa nova ameaça. Outro ponto muito bem executado vai para às cenas de ação, que não desapontam. E vale lembrar, nós temos vários easter-eggs e fan-services no filme, que dão um gostinho a mais quando se assiste.

Seu roteiro e direção funcionam, e conseguem dialogar bem entre drama, comédia, ação em um timing certo. O ponto mais positivo do filme, é que seu humor não é datado, não é algo que parece ter ficado parado no tempo, ele se inova e mesmo assim deixa a sensação dos antecessores. Enquanto ele se aventura em coisas novas, não deixa de ser um filme dos Bad Boys, é perceptível em vários pontos que a sensação de ver um longa dos anos 90; algo muito difícil de se conquistar, já que várias franquias pecam nesse quesito.

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Um aspecto importante que o longa apresenta, é a sua fotografia que sempre remete aos dos seus antecessores, dando ainda mais o aspecto de ver um filme ‘noventista‘. A trilha sonora também se encaixa perfeitamente e empolga o espectador, dando uma ótima imersão e clima para as cenas, falando da parte técnica, o filme tem realmente um trabalho muito bem feito e que merece ser elogiado.

Os efeitos especiais do filme são quase imperceptíveis, com a direção de Bilall Fallah e Adil El Arbi, às cenas conseguem trazer movimentos, efeitos práticos e anglos que não necessitem tanto de CGI. 

Talvez, a única coisa que o filme realmente tenha de problema, seja o final, que fica maçante e meio lento. Mesmo assim, não estraga a experiência e toda a diversão que foi criada durante todo o tempo.

Bad Boys Para Sempre é um caso em um milhão, sem se perder no tempo, e sabendo dialogar com o passado e o presente, cria uma atmosfera única. Seja seu humor encaixado certo como uma peça importante em um quebra-cabeças, ou a forma em que o roteiro sabe em qual momento precisamos focar e deixar mais sério, o filme pode se consolidar como o melhor da trilogia. Uma aula para outras franquias que decidem reviver seus filmes e ficam no passado, e não sabem inovar. E com toda certeza, esperamos que possamos ver a dupla mais vezes, para sempre.

Nota: 4/5

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Entre Facas e Segredos: Muito além de um mistério

Em determinado momento de Entre Facas e Segredos, o detetive Benoit Blanc pondera sobre o buraco de uma rosquinha. Apesar de absurdo ou ridículo, é uma das inúmeras provas do amor de Rian Johnson pelos complexos mistérios de assassinato. Além do arquétipo do investigador mirabolante, o novo filme de Johnson homenageia o gênero em si. Assim como no controverso Os Últimos Jedi, o diretor busca pela revolução da estrutura narrativa, mas com um imenso respeito ao clássico.

A premissa de Entre Facas e Segredos é essencialmente a mesma de outras histórias de mistério: Uma pessoa é encontrada morta (Um escritor bem sucedido chamado Harlan Thrombey), a indicação de homicídio e os suspeitos são selecionados (A família). Sob a superfície, é mais um whodunnit, pois há um senso de familiaridade com diversos elementos. Entretanto, não demora muito para a subversão de expectativas proposta, novamente, por Johnson entrar em cena.

O roteiro, também do cineasta, é repleto de foreshadowings, ou seja, um truque narrativo com prenúncios. A história é desviada da premissa de uma maneira simples, instigante e surpreendente. Cada diálogo é extremamente importante para a resolução não apenas do caso, mas dos próprios personagens. É assim como uma história precisa funcionar, nada dito é simplesmente em vão. Há um ótimo equilíbrio entre exposição e narrativa visual. Além disso, a direção dele também é um trabalho ímpar, seja pelo excelente uso de close-ups nos atores, ou nas rimas visuais, muitas delas são indícios dos eventos futuros da película.

Tanto quanto a coordenação dos atributos em cenas, a direção de fotografia de Steve Yedlin é muito importante para o funcionamento das pistas. A trilha sonora composta por Nathan Johnson é contribuinte essencial para o suspense. O design de produção de David Crank parece um tabuleiro do jogo Detetive transportado para a vida. Além do mais, Entre as Facas e Segredos é um pouco metalinguístico e irônico, pois o assassinado é um escritor de mistérios, assim como Agatha Christie e Arthur Conan Doyle. Como já dito, Blanc é a mistura de Poirot e Holmes, Daniel Craig é cativante e possui um grande domínio de cena.

Entretanto, a verdadeira protagonista (sem spoilers) é a enfermeira Marta Cabrera. Ana de Armas é uma excelente tradutora da bondade, da verdade e da empatia carregada pela personagem. É óbvio e nada sútil o posicionamento de Johnson em relação aos imigrantes, mas o comentário sociopolítico funciona perfeitamente.

Porque a família Thrombey é representante dos piores aspectos do ser humano. Além da xenofobia bem exposta, é denunciada a linha tênue traçada por algumas pessoas entre solidariedade e interesse. O cinema no último ano trouxe a luta de classes à tona com Coringa e Parasita, mesmo que não intensamente como os dois citados, isso também é abordado no filme. Pois há uma preocupação em trazer contemporaneidade e é extremamente bem vinda.

Entre Facas Segredos é um whodunnit para a atualidade. Talvez, conforme dito pelo diretor, não seja atemporal, mas só o tempo dirá. Por enquanto, é a prova de que Johnson é um excelente contador de histórias e essa aqui, é sobre o desenrolar involuntário dos fatos e como a verdade é acentuada pela bondade e a maldade intrínseca à natureza humana.