Bastardo. Refugiada. Intendente. Khaleesi. Senhor Comandante da Patrulha da Noite. Quebradora de Correntes. Rei do Norte. Conquistadora.
É bastante comum que a trajetória de um herói seja marcada por alegrias e tragédias. Elementos basais para amadurecer o personagem e se tornar aquilo que está destinado, como se fosse uma espécie de profecia há tantos anos contada. Nada de Azor Ahai e Nissa Nissa. Aqui temos, Jon Snow e Daenerys Targaryen. E só.
A rejeição e o medo que ambos sofreram bem no início foram a prova necessária para o início de suas jornadas como herói e heroína. Sem olhar para trás, Jon foi para a Muralha. Daenerys como refugiada e distante de seu lar, permitiu ser moeda de troca para que seu insano irmão, Viserys, conseguisse um exército digno para conquistar os Sete Reinos. Decisões que mudariam suas vidas para sempre. Até porque, caos é uma escada.

Daenerys da Casa Targaryen, a Primeira do Seu Nome, Rainha dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, Nascida na Tormenta, Khaleesi do Grande Mar Dothraki, A Não-Queimada, Mãe dos Dragões, Quebradora de Correntes e Mhysa.
Quando você possui Targaryen no sobrenome, os olhos se voltam para você e esperam muito de você. A dinastia dos senhores dos dragões que teve início quando Aegon I desembarcou com suas irmãs-esposas Visenya e Rhaenys, e chegou ao fim com a morte de Aerys II durante o Saque de Porto Real. A magia e soberania tinham morrido, mas o destino resolveu agir novamente. A Nascida na Tormenta foi capaz de trazer o renascimento dos dragões e com isso, o retorno da magia. Só faltou a soberania.
É sabido que os títulos dizem muito sobre o seu portador e assim, Dany o fez. Sua fama foi feita por seus grandes feitos do Outro Lado do Mar Estreito em Essos. Enquanto em Westeros acontecia a Guerra dos Cinco Reis e tudo que veio em seguida como consequência, nossa personagem foi aos poucos conquistando seu devido espaço e ganhando respeito mesmo sendo uma mulher. Até porque o valor feminino era desprezado e muitas vezes, ignorado pelos homens.
Existe recompensa no esforço, certo? Daenerys fez e fez muito mais para si, e principalmente por seu povo. Até porque além de Mãe dos Dragões (ao menos na época), ainda era uma Mhysa. Todas as suas realizações foram por mérito próprio. Suas conquistas na Baía dos Escravos (Astapor, Yunkai e Meereen) serviram para catapultar o seu nome pelo Mundo Conhecido, onde ajudou a libertar seus filhos da escravidão e dando uma nova vida para todos. Meereen serviu como um grande preparatório para a mesma no que diz respeito ao ato de governar, tendo assim acertos e erros. Nada anormal para uma governante. A prova de fogo veio em Westeros e apesar das vitórias, vieram a partir de sacrifícios. Que deixaram uma marca em sua alma e resultou numa atitude sombria, porém esperada há muito tempo.

Snow não possui um apelo popular quanto Daenerys possui, mas é impossível não reconhecer seus feitos durante sua trajetória como herói. O que ele fez pela Patrulha durante a Batalha na Muralha e a consequente aliança com os selvagens merecem nota, apesar de ter sido a sua queda como Senhor Comandante. A traição doeu nele e doeu na gente. Foi sujo e cruel, mas permitiu o seu amadurecimento. Sem as amarras do importante juramento, agora precisava colocar ordem em casa. Sua Casa.
O título denominado Rei do Norte é uma herança que remonta por milhares de anos quando aquele que tinha a coroa era chamado de Rei do Inverno. O último foi Torrhen Stark, também conhecido como o Rei Que Ajoelhou, durante a Conquista de Aegon. Este título retornou com a proclamação de Robb Stark durante o conflito dos Cinco Reis. Jon veio receber um pouco depois após a vitória na Batalha dos Bastardos. Sua proclamação foi tão bonita quanto de seu primo. Além de merecido, foi também a recompensa por vingar o sangrento Casamento Vermelho. Os Stark estavam de volta em seu lar ancestral.
Jon durante toda a sua vida foi reconhecido como um bastardo, porém vem descobrir que na verdade tem sangue de dragão. Como lidar com esta importante revelação? Algo que o retira de uma posição de tremendo conforto e o joga para uma posição de suma relevância perante todos. Ah, se Janos Slynt e Alliser Thorne estivem vivos agora. O Rei Corvo agora é um Rei Targaryen, primogênito de Rhaegar e Lyanna Stark. Não é qualquer coisa. O verdadeiro herdeiro para o Trono muda tudo aquilo que a Rainha Prateada estava almejando por anos.
Gelo e Fogo. A união de elementos que ferem, mas que também possuem sua estética e significado. Podemos considerar que as Crônicas de Gelo e Fogo faz referência aos dois personagens? Saberemos em algum século. Só que aqui nesta adaptação televisiva, a referência se fez mais presente. Seus feitos foram responsáveis por juntá-los. A aliança se transformou em amor. Essa ironia do destino permitiu que familiares se juntassem sem saberem do real parentesco por um instante e assim, honrando o preceito Targaryen de manter o sangue puro entre os próprios parentes.
A legitimidade ao Trono de Ferro sempre foi uma linha tênue durante a história westerosi e esta questão se complica quando nos deparamos com dois familiares da mesma Casa como pretendentes a governar, tal como foi durante a guerra civil conhecida como a Dança dos Dragões, que levou a grande conflitos desses dois lados.
Com apenas um episódio para encerrar a série, pode ser que exista uma certa pressa para lidar com o assunto e por assim dizer, ser aquém do esperado. Esse plot demandaria mais episódios para ser explorado, mas entendo que as Batalhas em Winterfell e Porto Real demandaram um esforço maior para uma temporada mais reduzida.
O lance é que Daenerys seria a mais digna para governar devido ao seu longo histórico até aqui. Só que se descobrissem a verdade, Jon seria o preferido pelo povo. Ele é mais amado em seu lar que a própria Rainha. É uma problemática para considerar. Quem estará disposto a abrir mão de sua pretensão por amor? Quais serão as consequências depois da Destruição de Porto Real? Saberemos logo mais com o Series Finale.