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Frenético e violento, John Wick 3: Parabellum entrega o que há de melhor na franquia

Escrito por Gabriel Faria

Dando continuidade aos eventos do segundo filme, “John Wick 3: Parabellum” chega aos cinemas com a difícil tarefa de apresentar um encerramento para o arco construído até então, ao mesmo tempo em que deve expandir a mitologia deste universo sem deixar de abraçar seu gênero em todas as situações. Com muito mérito, já é possível afirmar que a trilogia do assassino Baba Yaga está consolidada como uma das melhores da história do cinema.

Na terceira película da saga, John Wick (Keanu Reeves) está sendo caçado pela associação após ter assassinado Santino D’Antonio (Riccardo Scamarcio) dentro do Hotel Continental. Banido e com uma gorda recompensa de US$ 14 milhões pela sua cabeça, cabe ao herói encontrar formas de sobreviver para manter seu objetivo: preservar as boas memórias que possui de sua amada e falecida esposa.

“John Wick 3: Parabellum” se destaca em boa parte, pela terceira vez em três filmes, graças ao visual. O diretor e ex-dublê Chad Stahelski utiliza todo seu conhecimento para entregar ao espectador as melhores coreografias de ação possíveis, em sequências de luta imparáveis e totalmente compreensíveis cercadas por uma paleta de cores chamativa, aplicando movimentos inventivos e tomadas únicas para um filme deste tipo, com realismo através da utilização de golpes de artes marciais e belas batalhas com armas de fogo. O longa inicia de forma frenética, dada a situação em que John se encontra após o final do segundo filme, e segue com poucas interrupções para construir momentos vindouros.

Em uma entrevista dada ao The Graham Norton Show, Keanu Reeves comentou sobre as capacidades de sobrevivência de John Wick, bem como aceitar determinadas situações.

Entretanto, assim como seus predecessores, Parabellum não se limita à ação – apesar desta ser boa parte do longa. O universo dos assassinos ganha novas camadas através da atuação da Alta Cúpula, representada aqui pela juíza vivida por Asia Kate Dillon, e parte do passado de John também é pincelado de forma pontual e sem subestimar a capacidade do espectador em compreender as entrelinhas. Novas personagens, como Sofia (Halle Berry) e A Diretora (Anjelica Huston) acrescentam mais enigmas que podem vir a ser desenvolvidos em outras mídias, e o vilão Zero (Mark Dacascos) rouba a cena com sua canastrice de vilões caricatos, porém extremamente funcionais. Vale lembrar que os já conhecidos membros da sociedade, como o Rei do Bowery (Laurence Fishburne), Winston (Ian McShane) e Charon (Lance Reddick) retornam triunfantes às suas funções, com mais destaque e reviravoltas inesperadas.

Parte da diversão também se encontra no humor negro da fita, que não ameniza em brincar com seus absurdos típicos de bons filmes de ação. Ao conhecer as principais características deste universo como a palma de sua mão, o roteirista Derek Kolstad, agora contando com a colaboração do diretor Chad Stahelski, sabe dosar muito bem os momentos em que uma boa e inusitada piada será encaixada, ainda que de forma séria. A constante presença dos animais, marca registrada do filme, funciona de forma tão orgânica quanto todo o restante e rende alguns dos melhores momentos de alívio cômico.

Cena de John Wick 3: Parabellum presente no segundo trailer do filme.

A construção das hierarquias da associação e a reutilização de propostas dos longas anteriores também é muito orgânica, estabelecendo mais do mundo em que esta franquia se passa. John Wick é um homem de poucas palavras e isso colabora para agravar a forma mitológica como ele é encarado por todos que o cercam, apesar da crescente dificuldade em superar os desafios conforme o desenrolar da história. No terceiro ato, John já está em seu limite, cansado e quase incapaz, transformando com naturalidade algumas coreografias em um desenrolar mais lento, que peca um pouco pela excessiva quantidade de acontecimentos sem pausa.

Finalizando com um ótimo – e corajoso – gancho para continuação, sem um final feliz, “John Wick 3: Parabellum” é tudo que os fãs esperam da série. O herói de Keanu Reeves, em toda sua perfeição quase imperfeita, é um livro com algumas páginas em branco que podem ser preenchidas, e toda a associação regida pela Alta Cúpula possui enorme potencial para ser mais explorada em um futuro retorno às origens. A fidelidade e os votos prestados, com muita honra e sobriedade, podem e devem ser honrados, e determinadas ações exigem reações, por mais perigoso que isso possa ser.

As decisões tomadas pelo protagonista, neste que encerra a primeira trilogia da série, podem e devem reverberar de maneira retumbante no resto do mundo. É uma questão de tempo até que o preço seja pago, e o prognóstico não é muito bom. A não ser, é claro, que John possua uma nova carta na manga. E pelo histórico, essa é uma possibilidade bem forte.

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.