Categorias
Cinema Detective Comics Quadrinhos

Hellboy Day! O novo filme do Hellboy e as referências aos quadrinhos

O novo filme do Hellboy, criação máxima do quadrinista Mike Mignola, chegará em breve aos cinemas, onze anos após a última adaptação cinematográfica do Garoto do Inferno, situada em universo que possui tom de “contos de fadas” pelas mãos do diretor Guillermo del Toro. Quais serão as expectativas com relação ao novo filme, denominado como um remake do personagem?

A nova película é dirigida por Neil Marshall com roteiro de Andrew Cosby. David Harbour assume o papel do protagonista, substituindo Ron Perlman, e o elenco também conta com Milla Jovovich (no papel de Nimue), Ian McShane (Trevor Bruttenholm), Sasha Lane (Alice Monaghan), Daniel Dae Kim (Ben Daimio) e Thomas Haden Church (Lagosta Johnson). E com tantos personagens, com base no que foi apresentado até o momento em dois trailers, quais serão as principais semelhanças com os quadrinhos?

Abaixo, listaremos alguns pontos que remetem diretamente aos gibis do Hellboy, publicados nos EUA pela Dark Horse Comics e trazidos ao Brasil pela Mythos Editora. Vale lembrar que a semelhança pode ser puramente visual ou situacional, entretanto, todas podem vir a deixar um fã do personagem cada vez mais feliz. Também é importante ressaltar que o texto abaixo pode conter spoilers.

Você pode conferir todos os detalhes acerca do universo do Hellboy em nosso Guia de Leitura completo, clicando aqui.

A origem de Hellboy

O filme deverá reapresentar a origem  do HB. Trazido à Terra pelas mãos de um grupo de cientistas nazistas liderados por Rasputin, o experimento trouxe o Garoto a este plano por engano. Nos quadrinhos, Hellboy foi invocado pelo Mago Louco, porém surgiu próximo às tropas americanas. O filme, com base no que foi apresentado nos trailers, retomará este momento tão icônico da saga do personagem, mostrada em detalhes no arco Sementes da Destruição e retomada por Astaroth em Hellboy no Inferno.

Trevor Bruttenholm

Pai adotivo de Hellboy, Trevor é o cientista responsável por acolher o recém-invocado Hellboy após o experimento de Rasputin. Um pai amável, Bruttenholm é responsável pela boa índole humana presente na personalidade do garoto. No filme, será vivido por Ian McShane, e a relação do herói com seu pai será levemente conturbada. Trevor aparenta ser bem mais áspero no longa em comparação com sua persona nos quadrinhos. O filme será uma adaptação dos arcos O Clamor das Trevas, Caçada Selvagem e Tormenta e Fúria. Neste momento da cronologia do Hellboy nos quadrinhos, Trevor já está morto há bastante tempo, e esta será uma das mudanças do filme.

B.P.D.P

O Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal (B.P.D.P.) é a organização para qual Hellboy prestou serviços durante muito tempo de sua vida. Fundada na década de 40 por Trevor Bruttenholm, a organização atua no combate e na pesquisa de fenômenos estranhos. A importância do B.P.D.P. para a mitologia de Hellboy é sem precedentes, e a organização privada é tão famosa que possui histórias em quadrinhos próprias. HB decidiu demitir-se do B.P.D.P. após os eventos da história O Verme Vencedor, passando por um momento de viagens pela África logo em seguida. Diversos agentes do Bureau conquistaram os fãs, destacando-se Abe Sapien, Liz Sherman, Roger e Johann Krauss, boa parte deles presentes nos dois primeiros filmes do personagem. O que nos leva aos próximos assuntos:

Ben Daimio e Alice Monaghan

No filme, Sasha Lane e Daniel Dae Kim viverão os personagens Alice Monaghan e Ben Daimio, respectivamente. Ao que tudo indica, ambos serão agentes do B.P.D.P. que ajudarão Hellboy nesta aventura. Nos quadrinhos, Alice foi salva quando bebê, após ter sido sequestrada por fadas. Apesar disso, Alice continuou a conviver com as criaturas mágicas enquanto crescia, e isso afetou sua vida de forma que ela quase não envelheceu mesmo após 50 anos. As ações de Hellboy envolvidas no resgate de Alice na história O Corpo vieram a afetar o futuro de forma grandiosa na trilogia Clamor das Trevas, Caçada Selvagem e Tormenta e Fúria. Alice é também interesse amoroso do herói nos quadrinhos, e no filme ela será uma agente do B.P.D.P. que ganhou alguns poderes mágicos após o sequestro.

Ben Daimio é outro agente do Bureau. Considerado morto pela Marinha dos Estados Unidos, Daimio sofre de uma maldição que o transforma em uma criatura similar a um jaguar. O incidente que deixou a cicatriz em seu rosto (durante uma missão na Bolívia) também o matou, mas após três dias, quando levado para a autópsia, Ben retornou ao plano consciente após ter tido visões de um espírito de jaguar que disse que sua nova vida havia começado. Nos quadrinhos, o personagem já está morto – desta vez, definitivamente.

Os vilões

O filme contará com uma verdadeira galeria de criaturas e inimigos do Hellboy. Os personagens listados abaixo marcaram presença em diversas histórias e arcos do herói nos quadrinhos, destacando-se: Hellboy no México, Clamor das Trevas, Caçada Selvagem, Tormenta e Fúria, O Corpo e O Despertar do Demônio.

Caçada Selvagem

Caçada Selvagem é um dos principais arcos do Hellboy. Nele, o herói se envolve com os chamados Caçadores Indômitos para participar de uma busca e extermínio de gigantes que retornaram às terras inglesas. É revelado que até mesmo Trevor Bruttenholm fez parte do grupo, e o chefe do pelotão utiliza o elmo de veado representando Herne, o deus das caçadas. Visando impedir que Hellboy ocupasse o trono da Inglaterra (por ser descendendo direto do Rei Arthur), o grupo trai o herói, tentando assassiná-lo.

Tanto nos quadrinhos como no filme, a convocação de Hellboy vem por parte do Clube Osíris, que possui história ligada a Irmandade Heliópica de Rá.

Gigantes

Após os eventos descritos acima, Hellboy se depara com gigantes reais. Ao lutar contra eles, o herói é tomado por uma fúria interminável, que o faz cometer um massacre e desmembrar os monstros com uma espada. Possesso, Hellboy começa a liberar seu lado “destruidor de mundos”, o chamado Anung Un Rama, após entrar em êxtase causada pelo derramamento de sangue. Entretanto, ele consegue retomar os sentidos. O evento acaba por marcá-lo profundamente.

Gruagach/Grom

Tendo estreado pela primeira vez na história O Corpo, e sendo uma figura diretamente ligada às origens de Alice Monaghan, Gruagach é peça central de parte da mitologia do universo de Hellboy. Um antigo guerreiro capaz de se metamorfosear em outras criaturas, após cair em desgraça gerada por engano ao se apaixonar, Gruagach foi o bebê que substituiu Alice quando ela foi raptada. Descoberto por Hellboy, que o tratou de forma cruel, o monstrinho se fundiu ao monstro Grom e assumiu a forma pela qual ficou reconhecido nos quadrinhos e estará presente no filme (um suídeo ambulante). Gruagach foi responsável pelos eventos que desencadearam a morte de Hellboy (na trilogia já citada neste post, de Clamor das Trevas à Tormenta e Fúria), tendo invocado Nimue.

Nimue

A principal antagonista do filme, Nimue (Milla Jovovich) desempenha papel importantíssimo na mitologia dos quadrinhos. A Rainha de Sangue, invocada por Gruagach e outras criaturas, foi a maior bruxa que existiu na Inglaterra. Nimue está ligada diretamente às Lendas Arthurianas, que desempenham papel crucial no passado de Hellboy. Tornou-se insana após perder o controle sob influência dos Ogdru Jahad, a entidade cósmica que é a vilania suprema dos quadrinhos. A feiticeira foi invocada (esta estava presa em um caixote, tendo sido desmembrada) após Hellboy banir Hecate, a antiga líder das bruxas, da existência. Nimue serviu de receptáculo para os Ogdru Jahad, e ao final do arco Tormenta e Fúria, arrancou o coração de Hellboy, matando-o.

Baba Yaga

Outra figura central da mitologia de Hellboy, Baba Yaga é uma bruxa do folclore russo, que vive dentro de uma casa com pernas de galinha. Na história que leva seu nome, Hellboy encontrou Baba Yaga (que estava sequestrando crianças) e foi o responsável por atirar em seu olho esquerdo, tornando-a caolha. Ela retornou posteriormente no arco O Despertar do Demônio, e teve papel de destaque na história O Clamor das Trevas. Entretanto, sua presença sempre esteve ligada a algumas histórias, seja em menção ou epílogos. A personagem é, talvez, a bruxa mais conhecida pelos fãs do personagem, se destacando no universo do HB.

Hellboy no México

Uma das cenas do trailer destaca Camazotz, um lutador com aspecto de morcego que Hellboy enfrentou enquanto esteve no México em 1956. Nesta aventura, Hellboy se envolve com luchadores em uma história completamente descompromissada, cheia de bebedeiras, cenas sem noção e a espetacular arte de Richard Corben. A luta com Camazotz é o momento-chave da história, que fez tanto sucesso (e foi tão bem-quista pelos autores), que posteriormente Mike Mignola e Corben inseriram HB novamente numa aventura mexicana. Camazotz é revelado como um dos irmãos luchadores (o mais novo) que havia desaparecido, e acabou morrendo pelas mãos do vermelhão – após este ter descoberto a forma monstruosa de Camazotz -, retornando então à forma humana.

Excalibur

Os trailers apresentados ao público até então também trazem outros elementos dos quadrinhos, tal qual a espada Excalibur (sim!) e Hellboy como destruidor do mundo após assumir sua sina demoníaca. Nas HQs, a espada Excalibur está ligada a todo o passado da mãe humana de Hellboy, a bruxa Sarah Hughes, descendente do Rei Arthur por parte de Mordred, o filho bastardo de Arthur com Morgana Le Fay. No arco Caçada Selvagem, toda a linhagem histórica da família humana de Hellboy é peça central da trama, e a decisão de assumir o posto de rei paira sobre a cabeça do herói durante um bom tempo. Como rei, Hellboy poderia liderar o exército de Arthur contra as forças do mal de Nimue.


E as inspirações para o filme não aparentam ser somente essas! A equipe criativa por trás do novo longa foi fundo nas pesquisas para montar um roteiro que una diversos pontos-chave da mitologia do Garoto do Inferno, podendo ter mais surpresas na manga esperando para o dia da estreia, que está marcada no Brasil para 16 de maio de 2019.  O herói da infância de Hellboy, Lagosta Johnson (vivido por Thomas Haden Church), ainda não foi mostrado nos trailers e clipes, por exemplo. E então, ansiosos?

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Papo de Saloon | Tex Willer, a nova revista de Tex

Sei muito bem o que você está pensando: OUTRA revista Tex? Não basta as histórias inéditas sendo publicadas nas bancas, vêm aí mais republicações de clássicos? Pois saiba que a nova Tex Willer não é nada do que você espera: aqui os leitores terão um vislumbre expandido da juventude do maior herói de faroeste dos quadrinhos. Sim, estamos voltando à fase “Procurado: Vivo ou Morto”!

A vida de Tex é cheia de redenções. Um dos mais famosos foras-da-lei em sua juventude, a primeira história do ranger abre com Tex e seu cavalo – ainda sem nome na época, e depois apelidado Dinamite -, um outlaw com gorda recompensa por sua cabeça. Histórias futuras viriam a mostrar como Tex tornou-se procurado pela justiça. Se vingando dos assassinos de seu pai e posteriormente dos assassinos de seu irmão Sam, a cabeça de Tex foi posta a prêmio e assim permaneceu por algum tempo.

O herói sempre teve um grande senso de justiça e honra. Apesar de procurado, Tex manteve grandes amizades com alguns homens brancos e índios, que tinham noção de sua boa índole. Entretanto, boa parte deste período da vida de Tex permanece inexplorada nos quadrinhos. Recentemente a Tex Graphic Novel (série semestral feita em formato maior e colorida) voltou ao passado do herói, pelas mãos do roteirista e editor Mauro Boselli, e foi comentada na Torre de Vigilância há algumas semanas.

Mas e os momentos que permanecem inéditos? Como já foi dito, a vida de Tex não é completamente conhecida. E a partir deste ponto surgiu a ideia de Davide Bonelli (atual chefia da Sergio Bonelli Editore) e Boselli, de criarem uma nova revista que explora o passado do ranger, e resgata também uma característica vital do início de sua publicação nos anos 40: um senso de continuidade e aventuras seriadas, que são contadas ao longo de várias revistas, em capítulos.

O lançamento da revista Tex Willer fez parte da comemoração de 70 anos de Tex. E curiosamente, a Mythos Editora está trazendo esta publicação ao Brasil pouquíssimo tempo após seu início na Itália. Com um acabamento similar às revistas italianas (abandonando o famoso formatinho brasileiro), em altura e com papel offwhite que remete diretamente ao original, Tex Willer recebeu o subtítulo “As aventuras de Tex quando jovem“, perfeitamente apropriado para a publicação.

E a história contada aqui, ligando os leitores à aventura do Totem Misterioso, é conduzida por Mauro Boselli com arte do veterano Roberto De Angelis (de Nathan Never). Boselli, em seu prefácio, promete que os fãs conhecerão todos os detalhes de coisas como o relacionamento de Tex e diversos xerifes, do jovem Kit Carson, de suas boas relações com índios (tal qual o já conhecido Cochise) e diversas outras figurinhas carimbadas da mitologia texiana.

Roberto De Angelis traz um visual clássico porém com características claramente modernizadas ao traço da aventura, trabalhando muito bem os tons de preto. Tex já é Tex desde sempre: justo, inventivo, um herói como poucos. E aqui nada difere em relação aos seus problemas comumente enfrentados, exceto o fato da justiça o perseguir. Porém, bandidos seguem sendo castigados por suas mãos.

A característica de “novidade” está presente nesta série, já que o objetivo é audaciosamente ir onde nenhum roteirista jamais esteve. Ou seja, é um ótimo ponto de partida para novos leitores! Apesar do ar imaturo de Tex, seus feitos chamam a atenção de leitores veteranos e também podem vir a encantar os recém-chegados, que buscam uma boa nova revista seriada para acompanhar nas bancas.

E o fator “série” não é um ponto negativo, pelo menos do meu ponto de vista. Certas aventuras funcionam melhor se contadas aos poucos, e sendo aqui a meta “remeter ao clássico”, nada mais justo do que fisgar o leitor com revistas baratas (Tex Willer chega custando R$ 14,90) e de rápida leitura. Mas a quantidade de desdobramentos e reviravoltas não deixa a desejar em comparação às grandes histórias: Boselli sabe criar um elenco de personagens convincentes, capazes de pôr em xeque a astúcia do ranger mais querido da nona arte.

Com duas edições publicadas até o momento (nos meses de janeiro e fevereiro de 2019), Tex Willer segue sua publicação mensalmente, com previsão de lançamento de um novo volume no vigésimo dia de cada mês. Cada edição é padronizada com um preview da próxima história na quarta capa da revista, e no interior, suas 64 páginas contam com o prefácio e a história propriamente dita.

Até onde irá a publicação desta série, não se sabe. Porém, é interessante notar como a editora italiana, casa de Tex, é capaz de criar novos materiais para o personagem sem prejudicar o cânone estabelecido. Somente as maiores figuras da história dos quadrinhos possuem esta maleabilidade cronológica, e definitivamente, o ranger é um dos grandes destaques mundiais neste sentido.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Resenha | Todo o amor e coragem por Justin

“O tempo todo estou tentando me defender. Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância. Esperando um pouco de afeição”.
(Esperando por Mim – Legião Urbana)

Saber quem você é e se aceitar como é. Esse é o principal ponto que Justin da quadrinista francesa Gauthier trata na graphic novel lançada pela Editora Nemo aqui no Brasil. No resumo da história, Justine é uma menina, que durante a sua infância começa a sentir, digamos, “incomodada” pelo corpo que tem. Ela então entra em uma jornada para procurar o que lhe deixa feliz, o que lhe satisfaz, mesmo sem entender o que está acontecendo. O que acaba incluindo psicólogos, bullying dos amigos, pressão e decepção dos pais. Mas Justine tem uma característica de ser decidida. Ela tem seus momentos em que a dúvida paira sobre sua cabeça. Mas também tem atitude em diversas ocasiões. E isso é encorajador para diversas pessoas no mesmo caso.

Em uma rápida pesquisa no Google, você pode ver como casos como esse são rotineiros. Pessoas que começam a se incomodar com o próprio corpo como se existisse um grito de socorro dentro delas. Algumas decidem lutar para serem felizes. Outras, por um medo compreensível da sociedade, escondem-se atrás de mentiras e passam a vida assim. Algumas delas chegam até ao suicídio.

“Bobeira é não viver a realidade”. (Malandragem – Cazuza)

A transexualidade é um assunto extremamente polêmico e muito menos discutido do que deveria ser. Talvez por isso, por não entendermos exatamente do que se trata, essa condição seja motivo de tantos casos de preconceito. Transexual é aquela pessoa que nasceu com um determinado sexo, mas não se identifica com ele. E esse sentimento diferente com mudança de comportamento leva a pessoa a procurar tratamentos hormonais e até fazer cirurgias para mudar o corpo. Tratada por muitos como um transtorno, são recomendados acompanhamento psicológicos ou até mesmo com remédios.

Mas onde fica a linha tênue que separa se é transtorno ou apenas um grito pedindo liberdade de uma pessoa?

Gauthier trata disso em Justin. A trama começa na década de 80, quando os sentimentos e as dúvidas começam a aflorar em Justine. Todos os elementos que compõem essa “Ópera da Negação” estão na HQ. A negação dos pais, a negação da sociedade, a negação da família, a negação de profissionais e a negação da própria Justine. Em poucas páginas, a graphic novel, revela e conta sobre como é dolorido e pesado o fardo de tentar se posicionar em um mundo que simplesmente não te aceita. A trama mostra que muitas vezes você será chacoteado, humilhado… mas ao mesmo tempo ela te dá coragem para seguir para o que quer de verdade. E imagina você, amado leitor, que se hoje em dia a transexualidade é ainda um tabu, pense como era em 1983.

Sempre foram casos tratados como “sem-vergonhice”; “ah é falta de um bom homem”, “falta de porrada”, e essas canalhices que todos já escutaram diversas vezes. O tambor de ódio e incompreensão sobre esse assunto e outros semelhares já transbordou há tempos, e ainda mais no momento em que vivemos onde ter ódio parece que ficou na moda. Mas exemplos de publicações como Justin são essenciais para sabermos com tratar essas mazelas e não alimentar o preconceito. Táoquei?

A arte de Justin é simples com traços normais, sendo até mesmo infantis às vezes, mas o que é bom para a graphic novel. O assunto em si é pesado, e os desenhos com as pessoas sendo retratadas como bichinhos dão a leveza necessária para a carregada história. O ponto fraco é que o desenvolvimento é muito rápido pela trama ser curta (se é que isso é um ponto fraco). Às vezes a gente fica pensando “como é que chegou assim, já?” Mas nada que te deixe extremamente confuso com a trama.

“Olhos nos Olhos, quero ver o que você faz. Ao sentir que sem você eu passo bem demais”.  (Olhos nos Olhos – Chico Buarque)

O ponto forte é Justine. Ela é uma protagonista, que de forma simples, você abraça e fala: “estou contigo até o fim”. Ela passa por todo um processo onde ela se deprime, fica decidida no que quer, fica confusa, ela revida o ódio, se apaixona, se descobre sexualmente e se coloca em xeque. Toda essa salada de sentimentos sinceros da protagonista acaba estreitando o caminho dela com o leitor.

O trabalho editorial da Nemo aqui está incrível, o que não é nenhuma novidade se tratando desta editora. A publicação é prazerosa de se ler. O acabamento é de primeira linha como todos os trabalhos da Nemo. Sempre dando esse deleite para o seu leitor.

Justin é uma história que nos faz pensar. Ela traz para a mente aquela velha questão: e se acontecesse comigo? Se por acaso uma pessoa próxima a mim, como por exemplo, um membro da família se descobrisse transexual, como agiria? Você pode ter uma mente aberta, ser sem preconceitos, mas será que diante de um caso tão próximo, você seria como a mãe da Justine? Ou aceitaria de braços e coração abertos? Faça esse exercício.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

O Multiverso entra em colapso em Liga da Justiça Anual #1

Publicada na semana passada, o Multiverso mudou para sempre em Liga da Justiça Anual #1. Escrita por Scott Snyder e James Tynion IV, a publicação lida com as consequências de Noites de Trevas: Metal, onde a Muralha da Fonte foi acidentalmente quebrada pelos heróis. Agora, quase um ano depois, A equipe se dirige à Galáxia Prometeica, para reparar a maior barreira da realidade.

SPOILERS SOBRE A PUBLICAÇÃO A SEGUIR

Com a ajuda da Tropa dos Lanternas Verdes, dos Novos Deuses, de Thanagar e Starman, os heróis colocam seu plano em prática: Trazer os três Titãs Ômega. Caso você não conheça esses gigantescos seres cósmicos, sugiro que leia Sem Justiça, recentemente publicada pela editora Panini na mensal da equipe.

Mais tarde, em um flashback, Starman e a Mulher-Gavião discutem sobre as implicações cósmicas da futura missão. Para quem não sabe, a sétima edição de título, contou com o retorno de Will Payton, o quinto Starman, afirmando ter as respostas para todas as perguntas da Liga da Justiça em relação ao Multiverso.

Exposition Time!

Ele afirma que as asas de Kendra estão relacionadas com a Totalidade, uma esfera, onde a criadora do Multiverso, Perpetua, estava presa. A Muralha foi criada para contê-la e os Titãs, para selá-la. O que explica o plano da equipe consistir em utilizá-los. Entretanto, um dos Titãs foi morto na Terra, logo a heroína precisa usar suas asas para canalizar energia e selar a Muralha.

Enquanto isso, Brainiac, aparentemente morto em Sem Justiça, retornou, para ajudar Luthor em seus objetivos perversos. O vilão explica que Starman é a chave para uma ameaça ainda mais grave que Perpetua, assim como a Liga possui uma chave para duas fechaduras diferentes. Logo, eles precisam redirecionar esta “chave” para a Totalidade, para Perpetua. Caso eles o façam, serão capazes de reconstituir a forma física da Mãe do Monitor e do Anti-Monitor para estudá-la.

Para alguém que criou o Multiverso, ela tá bem inteira.

Mais tarde, enquanto Starman redireciona sua energia para ajudar a Mulher-Gavião servir ao seu propósito cósmico, Brainiac controla a sua mente, fazendo com que os heróis percam vantagem na batalha. Quando Payton se recupera, é tarde demais. Os seres na Muralha sentem a presença de Perpetua. Eles estão com medo. Com a Muralha se desestabilizando, Kendra é tirada de lá contra sua vontade, restando apenas ouvir os gritos dos seres que compõem a barreira da realidade.

A Muralha da Fonte explode. A Liga da Justiça falha em sua missão. Luthor possui o corpo de Perpetua para estudos. Enquanto isso, o Multiverso sente a ausência da barreira e está se movendo. Nova Gênesis e Apokolips somem, Darkseid celebra o funcionamento do campo de distorção do Setor Fantasma, Monstro do Pântano ouve os gritos da natureza, o Espectro jura vingar a criação e a Liga da Justiça Encarnada atesta: “Não há como parar. Este é o fim.”

É impossível imaginar o que virá a seguir, mas de acordo com Scott Snyder, esta é apenas a ponta do iceberg e o primeiro ato de seu longínquo run. As próximas edições explorarão as consequências do anual e trarão revelações bombásticas. O Multiverso entrou em colapso e para se manter informado sobre essa gigantesca trama cósmica, fique ligado na Torre de Vigilância.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Os 10 melhores quadrinhos republicados no Brasil em 2018

O ano que ficou pra trás foi marcado por muitas mudanças – positivas e negativas – no cenário de quadrinhos do Brasil. Como pôde ser observado na nossa listagem dos “Melhores quadrinhos estrangeiros publicados no Brasil em 2018“, apenas com títulos inéditos o mercado trouxe diversas obras maravilhosas. Mas não somente de novidades vivem as editoras.

Esta listagem tem como objetivo elencar, com base exclusivamente na opinião pessoal do redator que vos relata, os dez melhores quadrinhos republicados no Brasil no ano passado.

Os critério utilizados para seleção foram: deve ser uma obra que já foi publicada no Brasil, e não estão sendo contadas as reimpressões. Devem ser verdadeiros relançamentos, ou seja, a editora também deve ser diferente da primeira a trazer determinado gibi ao país no passado. Sem mais delongas, confira a listagem completa abaixo!

Bone: O Vale ou Equinócio Vernal

A obra-prima do genial Jeff Smith finalmente está recebendo o tratamento que merece no Brasil. Bone, um épico de fantasia dos quadrinhos norte-americanos (e de todos os tempos, vale dizer) teve duas outras tentativas de publicação no Brasil, uma pela editora Via Lettera e outra pela HQM Editora, ambas não levando a obra até o fim. Agora, a editora Todavia publicará, em três volumes (coloridos, com tradução de Érico Assis) toda a saga de Bone, Phoney Bone e Smiley Bone, e todos os outros personagens fantásticos desta aventura.

Bone, resumidamente, narra as aventuras dos três Bones após serem expulsos de sua vila e chegando a um misterioso vale fantástico. A trama se desenvolve em um épico de fantasia que não deve nada a Senhor dos Anéis e outras grandes obras. Uma leitura essencial para a vida.

Sláine: O Deus Guerreiro

Uma das mais famosas criações do roteirista Pat Mills (de Juiz Dredd, Guerreiros A.B.C., Marshall Law e Réquiem) Sláine já foi publicado no Brasil em algumas circunstâncias. A minissérie O Deus Guerreiro (The Horned God no original) é sua saga mais famosa de todos os tempos. Não é pra menos: esta história conta com os inspiradíssimos desenhos de Simon Bisley. A primeira publicação da série se deu no Brasil pela extinta Pandora Books, e em 2018 a Mythos Editora relançou a obra completa em uma edição de luxo.

Sláine é um bárbaro celta. Suas histórias são repletas de ação e mitologia céltica em perfeita harmonia, e O Deus Guerreiro é provavelmente o ápice da criatividade de Mills com o personagem (que depois ainda teve sagas fantásticas nas mãos de outros artistas como Clint Langley e Simon Davis). Narra a história de Sláine unindo as tribos de Tir Nan Og e se tornando o Rei dos Reis. A arte de Bisley também está em seu auge.

Tekkon Kinkreet

Provavelmente a obra mais famosa do mangaká Taiyo Matsumoto, Tekkon Kinkreet retornou ao Brasil em lançamento da editora Devir através do selo Tsuru. Publicada pela primeira vez no Brasil pela editora Conrad (com nome Preto & Branco), esta série é situada numa cidade de “ferro” e “concreto” (significado em japonês de Tekkon Kinkreet), onde vivem personagens também implacáveis e indomáveis.

Kuro (o preto) e Shiro (o branco) são órfãos. Para sobreviver, eles têm de roubar, lutar e se esconder em um mundo sombrio, solitário e corrupto, onde a própria cidade os afaga ou os despreza, como se fosse um ser vivo. Matsumoto é muito consagrado por sua fabulosa arte, porém a história narrada em Tekkon Kinkreet leva o leitor a momentos de angústia e felicidade em extremos opostos, bem como possui cenas verdadeiramente emocionantes. Esta obra possui uma adaptação cinematográfica e já venceu o Prêmio Eisner de Melhor Edição Internacional em 2008.

Fun Home: Uma tragicomédia em família

A obra-prima da autora Alison Bechdel, Fun Home já havia sido publicada no Brasil pela editora Conrad. Nesta autobiografia de sua vida e de sua família (em especial de seu falecido pai), Alison narra todo o conturbado relacionamento desta estranha casa. Seu pai, um homem cheio de segredos e gostos diferentes; ela, uma garota que descobre sua homossexualidade; o negócio da família, uma casa funerária.

E aos poucos Alison aborda cada mínimo detalhe de seu relacionamento com o pai, que faleceu poucas semanas após ela ter revelado ser gay. Sua morte, envolta em mistérios (pode ou não ter sido um suicídio), é o gatilho para que a autora se abra neste quadrinho excepcional. A nova edição de Fun Home foi trazida ao Brasil pela editora Todavia.

Cinco por Infinito

A mais famosa obra do gênio espanhol Esteban Maroto retornou ao Brasil após 45 anos desde sua primeira publicação pela editora Ebal que, em 1973, encerrou a série com seus 20 tomos. E além da republicação, agora em uma belíssima edição de luxo (um verdadeiro totem) pela editora Pipoca & Nanquim, o encadernado definitivo de Cinco por Infinito também possui um capítulo inédito da saga!

Antecedendo obras como Star Wars e 2001: Uma Odisseia no Espaço, com o clima sci-fi dos anos 60 de seriados como Star Trek e Perdidos no Espaço, Cinco por Infinito é um dos quadrinhos de ficção científica mais aclamados da história. Narra a jornada de cinco heróis terráqueos, Exploradores do Espaço, solucionando problemas pelo universo, perpetuando conhecimento de diferentes culturas e buscando a paz universal.

O Corvo – Edição Definitiva

O expurgo dos demônios internos de James O’Barr, que tornou-se um cult do quadrinho underground norte-americano (ganhando até mesmo um famoso filme live-action protagonizado por Brandon Lee, que morreu nas filmagens), O Corvo é simplesmente fenomenal. A noiva de O’Barr foi morta por um motorista bêbado, e a melhor forma que o autor encontrou para tirar de dentro de si toda a raiva e frustração contidas foi através da produção deste gibi.

O Corvo narra a vida de Eric Draven, que retorna para perseguir seus assassinos depois que estes interromperam uma vida de sonhos ao lado de sua amada Shelly. A publicação nos EUA foi independente a partir de 1981, e este ícone pós-punk já havia sido lançado no Brasil pela Pandora Books e retornou com uma Edição Definitiva da editora DarkSide.

Blood: Uma História de Sangue

Da parceria de J. M. Dematteis (roteirista) e Kent Williams (ilustrador) surgiu uma das mais cultuadas séries publicadas nos EUA através do selo Marvel Epic. Blood foi uma minissérie tão contundente (trazida ao Brasil pela primeira vez pela editora Abril) que alguns anos após sua publicação original, houve uma republicação pelo selo Vertigo da DC Comics. Ou seja, esta história foi impressa com os dois selos adultos mais famosos do quadrinho mainstream norte-americano! Com poético texto de Dematteis e estupenda arte de Kent Williams, Uma História de Sangue é definitivamente um dos destaques do ano passado, que retornou às livrarias pela editora Pipoca & Nanquim.

Um rapaz encontrado ainda bebê, num rio, e criado em um Monastério, descobre que não é a mão divina que escreve os livros que regem sua doutrina, mas sim a de seu mentor. Ele se sente traído e foge, mas não sem antes assassinar o homem, em um acesso de fúria. Sem rumo certo, ele dá início a uma jornada de autoconhecimento, até se deparar com uma tribo de vampiros em uma floresta que, contra a sua vontade, o transforma em um deles. Nesse dia nasce Blood, o vampiro…

Como uma luva de veludo moldada em ferro

A editora Nemo vem fazendo um trabalho espetacular com as obras de Daniel Clowes. Após Paciência e a republicação de Ghost World em 2017, em 2018 foi a vez da editora trazer de volta às livrarias do Brasil uma das obras mais famosas do autor, Como uma luva de veludo moldada em ferro, publicada no país há exatos 16 anos pela Conrad.

A sinopse: Ao tentar desvendar os mistérios por trás de um _snuff film_ – gênero em que as mortes filmadas são reais –, Clay Loudermilk se vê envolvido com um elenco cada vez mais bizarro de personagens, incluindo uma dupla sádica de policiais que entalha um estranho símbolo no seu calcanhar; uma suburbana de meia-idade e libidinosa, cujo encontro sexual com uma misteriosa criatura das águas gerou uma filha mutante grotescamente disforme, mas não menos libidinosa; um cão sem qualquer orifício (que tem de ser alimentado via injeções); duas vítimas sinistras de implantes capilares terrivelmente malfeitos; um carismático líder de culto, no melhor estilo Charles Manson, que planeja sequestrar um famoso colunista de autoajuda e muito mais!

Dampyr – Volume 1

Um ótimo personagem da italiana Sergio Bonelli Editore, criado por Mauro Boselli e Maurizio Colombo, Harlan Draka é o protagonista da série Dampyr. A trama explora o mundo dos Mestres da Noite, superpredadores que se alimentam de seres humanos. Porém, o nascimento de Draka, filho de uma humana com uma dessas criaturas, gera o único inimigo natural de tais ameaças: um Dampyr. Draka cresce para tornar-se o caçador dos Mestres da Noite, e conta com aliados como o soldado Kurjak e a vampira Tesla.

As aventuras, que muitas vezes são situadas em Praga porém rodam todo o mundo, já haviam sido publicadas no Brasil pela Mythos Editora, que trouxe os 12 primeiros números da revista original. A Editora 85 assumiu as rédeas da série há algum tempo, dando continuidade de onde a Mythos havia parado, porém agora também está relançando as primeiras edições, com novo – e ótimo – acabamento gráfico. Dampyr é uma grata surpresa originada da mente de um dos maiores gênios da Itália, e o cuidado editorial da 85 tem se provado excelente.

Marada: A Mulher-Lobo

O selo Marvel Epic mais uma vez está sendo mencionado neste TOP 10, agora com uma famosa obra de Chris Claremont (sim, o roteirista que definiu os X-Men para todo o sempre) e do fabuloso artista John Bolton (de Sandman e Os Livros da Magia). Marada: A Mulher-Lobo também já havia sido publicada no Brasil pela editora Globo através do selo Graphic Globo, em 1989. A obra retorna ao Brasil pela editora Pipoca & Nanquim republicando o que já havia sido lançado pela editora anterior, e também entregando material inédito!

Marada é uma fantasia medieval (gênero espada e feitiçaria) protagonizada pela mais poderosa guerreira que o Império Romano já conheceu. Entretanto, Marada jaz alquebrada, derrotada, entregue e indefesa. A história então, focada nos aliados da heroína de cabelos prateados, narra o que pode ter acontecido com a incrível espadachim. Recheada de feitiçaria, barbarismo, guerras e traição, hoje os direitos de publicação desta saga estupenda estão com a editora Titan Books, e o sucesso motivou a editora P&N a trazer mais uma obra de Claremont e Bolton, o inédito Dragão Negro.


Encerramos aqui este TOP 10 de melhores quadrinhos republicados no Brasil em 2018. Concorda com a lista? Discorda de algum título escolhido e possui sugestões, críticas ou elogios? Sinta-se a vontade para trocar uma ideia nos comentários logo abaixo, e torceremos juntos para que em 2019 outras maravilhas da nona arte há muito esquecidas pelo mercado retornem pelas editoras que vêm desbravando o cenário brasileiro!

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Papo de Saloon | Tex Graphic Novel: Justiça em Corpus Christi

No finalzinho do ano que ficou pra trás, a Mythos Editora brindou as bancas e livrarias do Brasil com a nova edição da série Tex Graphic Novel. Uma das linhas autorais que mais admiro nos quadrinhos do ranger Tex Willer, esta série de graphic novels já foi tema de um artigo da Torre de Vigilância, onde o conceito da coleção foi apresentado. E o mais recente lançamento, Justiça em Corpus Christi, é a primeira história com senso cronológico dentro deste selo de aventuras lindamente ilustradas!

Serpieri, Mario Alberti, Angelo Stano, Gianfranco Manfredi, Giulio De Vita, Stefano Andreucci, Corrado Mastantuono e Mauro Boselli. Estes são os grandiosos nomes por trás dos seis volumes de Tex Graphic Novel lançados no Brasil até o momento. E Boselli é o nome que se repete mais vezes: os roteiros de quatro, das seis aventuras, são deste que é um dos maiores nomes responsáveis por Tex Willer de todos os tempos, não somente como roteirista mas também como editor.

As aventuras contadas neste selo autoral não possuem amarras cronológicas. Os autores podem ir e vir nas vidas de todos os personagens de Tex como bem entenderem, e esta liberdade permite que as histórias contadas se situem em momentos bem específicos da jornada do herói. No volume cinco, O Vingador, Boselli levou os leitores à trama de vingança de Tex, indo atrás dos assassinos de seu pai, culminando na tramoia que o tornou injustamente um fora da lei. Esta história se passa antes das origens inicias contadas há muitos anos na revista mensal de Tex. Justiça em Corpus Christi se situa logo após os acontecimentos desta história, sendo o primeiro caso de continuidade deste selo moderno!

O irmão de Tex, Sam, ainda vive. Após Tex completar sua vingança (que até então havia sido parcial, pois os facínoras que foram mortos por ele há algum tempo eram apenas uma parcela de um grupo maior), e com a parceria do ranger Jim Callahan, o mandante Bronson finalmente teve o que merecia. E com as manipulações feitas para incriminar injustamente Tex por roubo de gado, o herói parte em busca de uma forma para limpar seu nome.

Willer age como um justiceiro, indo atrás de uma enorme quadrilha de pistoleiros que é protegida pelo xerife de Corpus Christi. As ações de Tex e Callahan, feitas no volume anterior com relação aos mexicanos, reverbera na aventura narrada aqui. E o herói conta, quase literalmente, apenas com o apoio do ranger Callahan. A amizade dos dois torna-se aos poucos algo muito especial, e a jornada do grupo montado em busca de justiça é, pra dizer o mínimo, muito empolgante.

No decorrer, os heróis agem com astúcia para encurralar aos poucos cada um dos salafrários que regem Corpus Christi. Sam, irmão de Tex, possui um envolvimento direto com Harris, a dona de um pequeno rancho atacado pelos pistoleiros chefiados por Zeb Mason com apoio do xerife Donahue. E todas estas serpentes do Satanás, ótimos vilões, tentam piamente tirar vantagem de cada movimento e possível deslize de Tex, Callahan, Dan Bannion (outro ranger) e Sam Willer. Como toda boa história da Sergio Bonelli Editore, eles chegam bem perto de conseguir algum sucesso. Mas rapidamente nossos heróis os levam a sete palmos debaixo da terra.

Como todas as histórias mostradas nesta série de GN, Justiça em Corpus Christi foge um pouco do politicamente correto das aventuras mensais (ou especiais) do ranger. Isso acaba por se tornar uma faca de dois gumes, pois pode desagradar os fãs mais puritanos, mas também atrai novos leitores. Entretanto, O Vingador e Corpus Christi são exatamente situados em momentos da vida de Tex onde o “incorreto” reinava. E Boselli trabalha com maestria o lado justiceiro do personagem.

Corrado Mastantuono, o artista desta edição, é famoso por seu trabalho em Nick Raider Magico Vento, além dos trabalhos feitos para a Disney. Como os cinco volumes anteriores, um chamariz incrível desta edição é a belíssima arte, valorizada pelo formato magazine da revista e também pelas cores de Matteo Vattani. Mastantuono segue um pouco a linha de Stefano Andreucci (do volume anterior), porém não emula completamente o desenho deste artista, tornando a continuação algo também original.

O jovem Tex de Mastantuono é um dos mais esguios apresentados até então, e a ambientação da cidade e dos arredores (com longas passagens pelo deserto) é também digna de nota. E as 48 páginas deste volume correm muito bem graças a narrativa fluida do ilustrador. Esta não é sua primeira história do Tex, então é perceptível que já há reconhecimento por parte do mesmo. Em Tex 583 e 584, por exemplo (Missouri! e I due guerriglieri), Corrado trabalhou com Boselli num arco. Esta era sua segunda história de Tex, primeira para a série normal.

E os méritos de roteiro e arte também são expansíveis para a edição nacional. A Mythos segue publicando os volumes desta coleção em formato magazine (28 x 20,2 cm), com capa cartão e preço de capa acessível – R$ 32,90. A tradução, como sempre, é do veterano Júlio Schneider, e fica o pedido dos leitores para que a editora lance o próximo volume, Cinnamon Wells, com roteiro de Chuck Dixon (já entrevistado pela Torre, clique aqui para conferir) e arte de Mario Alberti.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Comece a ler Dylan Dog com sua Nova Série

Em março de 2018 a Mythos Editora começou a publicação de seus novos títulos Bonelli, sendo eles respectivamente: Dylan Dog, Martin Mystère, Nathan Never e Nick Raider. Trazendo histórias clássicas dos personagens com acabamento gráfico fiel ao original (em formato italiano), o plano inicial consistia na publicação de quatro volumes como um teste de mercado. Dando certo, as séries poderiam ser continuadas. Dylan Dog foi um caso de sucesso e agora o Investigador do Pesadelo está estreando sua segunda revista no Brasil, em publicação simultânea com a iniciada no ano passado, e trazendo histórias modernas que funcionam como porta de entrada para novos leitores!

Dylan Dog é um dos personagens mais famosos da Itália, rivalizando até mesmo com o imbatível Tex Willer. Com histórias focadas na investigação do sobrenatural, Dylan lida com coisas misteriosas no seu dia-a-dia, convivendo com seus ótimos e fantásticos coadjuvantes como Groucho Marx e o Inspetor Bloch. O investigador foi criado em 1986 por Tiziano Sclavi e já foi abordado na Torre de Vigilância em um post de apresentação do personagem escrito por Luiz Costa.

Suas aventuras foram publicadas por diversas editoras no Brasil ao longo das últimas décadas, totalizando: 12 números pela Editora Record, 1 pela Editora Globo, 6 pela Conrad, 3 pela Lorentz e 46 pela Mythos. Porém, como citado acima, em 2018 retornou às mãos da Mythos, que vem publicando histórias clássicas e inéditas do herói na revista principal (que já ruma para sua sexta edição) e acabou de dar início à denominada Nova Série do personagem.

Mas quais seriam as diferenças das primeiras revistas para as da Nova Série?

No quinto volume de Dylan Dog, “O Homem Que Viveu Duas Vezes“, o editorial da Mythos apresentou nas páginas finais o novo vilão recorrente, John Ghost, que marcará presença neste reinício. E a Nova Série nada mais é do que um recomeço. O primeiro volume desta revista traz a edição 338 italiana (de 2014), marcada pela tão aguardada (e surpreendente) aposentadoria do Inspetor Bloch, feita pelas mãos da roterista Paola Barbato com arte magistral de Bruno Brindisi, um dos ilustradores recorrentes da revista.

O quinto volume de Dylan Dog apresentou o vilão principal da Nova Série do herói em suas páginas finais.

A aposentadoria de Bloch pega Dylan de surpresa, e agora o investigador terá de se acostumar com a falta de colaboração por parte da Scotland Yard ao mesmo tempo que investiga um misterioso caso onde uma jovem foi assassinada porém continuou viva. Esta trama também traz para a Londres de Dylan um pouco de modernização: agora, os personagens utilizam celulares, tablets e computadores. Tudo é mais moderno, situando as aventuras no nosso presente real.

E o respiro de novidade (que funciona bem para que novos leitores tenham contato com este universo) não é somente estético. Ao longo das próximas edições, como em Dylan Dog Nova Série #2 (edição 339 italiana), os roteiristas apresentam os novos policiais com que Dylan deverá lidar costumeiramente – o inspetor Tyron Carpenter e a sargento Rania Rakim, impactando os leitores antigos e criando novidades para os iniciantes. E enquanto a trama da primeira edição era um pouco mais sentimental (especialmente para fãs antigos, angustiados com as reviravoltas das descobertas de Dylan), a história contada no segundo volume é digna de um filme de terror policial, com uma pitada de discussão social e, claro, um leve humor ácido.

O roteiro desta história é de Gigi Simeoni e a arte é de G. Casertano.

Polêmica, a história contada na edição 339 de Dylan Dog dividiu opiniões na Itália.

A fase atual de Dylan é consistentemente elogiada na Itália, e ao que tudo indica a revista da Mythos Editora seguirá a publicação cronológica a partir da edição 338 original, sem cortes e interrupções. Em paralelo, para os saudosos e admiradores, as histórias clássicas seguirão sendo publicadas na outra revista, possibilitando que todo mês (em alternância, um clássico e uma novidade) os leitores brasileiros possam usufruir das tão queridas histórias do DyD.

E a curiosidade segue atiçada, pois John Ghost ainda não fez sua primeira aparição (entretanto, outra “vilã” famosa de Dylan – e não somente dele – já deu as caras logo na primeira revista da Nova Série). O embate épico entre os dois personagens promete ser inesquecível!

Dylan Dog Nova Série está sendo publicada em formato italiano (21 x 16,8 cm), e cada volume possui 100 páginas. Compre suas edições com desconto na Amazon ou na Loja da Mythos Editora!

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Melhores quadrinhos estrangeiros publicados no Brasil em 2018

O ano de 2018 foi marcado pela publicação de excelentes quadrinhos. Algumas editoras estrearam no mercado, outras consolidaram seus nomes, e em meio a uma crise que atinge todo o setor livreiro do Brasil, os leitores priorizam suas coleções e leituras através de boas indicações e séries/personagens favoritos.

A Torre de Vigilância, para marcar o início de 2019, elencará nesta publicação os 10 Melhores Quadrinhos Internacionais do ano passado na opinião de três redatores da categoria Quadrinhos do site, sendo eles: Marcus Santana, Ricardo Ramos e Gabriel Faria. No total, são 30 (ou quase 30, pois alguns se repetem) quadrinhos indicados.

Os critérios básicos para escolha dos materiais foram: o quadrinho deve ter sido lançado no Brasil em 2018, e deve ser uma obra inédita, nunca antes publicada no país. O motivo é simples: queremos indicar as melhores novidades para o público leitor. Haverá também uma lista elencando as melhores republicações do ano, e outra elencando os melhores quadrinhos nacionais – para dar um destaque único e exclusivo aos autores nacionais -, mas isso ficará para outro dia. Outro critério para escolha dos gibis, é claro, foi o gosto pessoal de cada um dos redatores. Uma das graças em fazer este tipo de levantamento é a divergência (ou não) de opiniões, e o gosto  pessoal sempre influenciará na escolha dos indicados.

Sem mais delongas, vamos às listas:

Marcus Santana

Blacksad – Alma Vermelha

Os dois primeiros volumes de Blacksad saíram pela Panini no Brasil há mais de 10 anos. Na época, A Alma Vermelha já havia sido lançado na Europa, mas as baixas vendas, fruto de uma estratégia mal-sucedida de vender álbuns europeus em bancas fez somente em pleno 2018 os leitores brasileiros terem acesso ao terceiro álbum da série. 

Mesmo que um pouco abaixo de Arctic-Nation, meu volume favorito do personagem, o nível ainda é muito alto. A trama envolvendo pesquisas nucleares, tensões políticas bem parecida com os dias de hoje, uma fórmula secreta e obras de arte é genial. A arte, as cores, a narrativa, a tradução e o projeto editorial deram muito certo.

A aceitação dos leitores pela segunda encarnação de Blacksad por aqui parece ser boa, uma vez que, em menos de um ano e meio, a editora SESI-SP lançou cinco álbuns do gato de sobretudo. Ainda em 2018 saíram  O Inferno, o Silêncio e Amarillo, alcançando assim o último álbum da série lançado até o momento. Agora é esperar por novos volumes, que foram anunciados em 2016 mais ainda não foram lançados.


Verões Felizes – Senhorita Estérel

Nostalgia é a maior inimiga do senso critico. Grande problema ver tantos produtos de entretenimento que mexem com o passado, nos encantamos e achamos que é o máximo simplesmente por isso. 

Verões Felizes conta em cada volume determinado período de férias da família Fálderault. Apesar de breves passagens em 1992, Senhorita Estérel se passa em 1962, antes dos dois primeiros álbuns da série. Em direção à Saint-Étienne, nos aprofundamos mais ainda na origem dessa família que identificamos cada vez mais como nossa. Seus pais, avôs, filhos… nos sentimos em casa. A arte de Jordi Lafrebe é linda. Seus cenários, expressões, cores e etc. Mesmo ser uma diferença imensa entre hábitos, nostalgia aqui tem qualidade. 

Fica a torcida para os volumes 4 e 5 serem lançados o quanto antes. Já estamos ansiosos.


Ayako

Poucos autores simplesmente não erram. Osamu Tezuka sequer deu a alguém a chance de apostar um descuido em suas obras. E no Brasil já tivemos algumas chances: Adolf, A Princesa e o Cavaleiro, Buda, Dororo, Kimba… Ainda uma lista tímida  se levarmos em conta que ainda faltam obras como Astroboy, Black Jack, Doutor Tenma e Pukko.

Tezuka conseguia surfar em mares agitados, tratava de temas para todos os públicos e mostrou que HQs lá no oriente não é entretenimento somente para jovens. Ia do infantil ao seinen.

O Japão pós-guerra narrado em Ayako foi o período que justamente popularizou os mangás por lá, devido a ocupação dos EUA no país. Temos uma narrativa mais real que fantástica, diferente de Adolf, que mescla os dois universos.

Não vou negar que, apesar da qualidade imensa, a edição da Veneta é grande e cara. 720 páginas em capa dura não teriam como resultar em outra consequência, mas Tezuka vale o esforço. 


Duas Vidas

Já havia gostado muito de Não Era Você Quem eu Esperava, lançamento anterior desse francês que fala português melhor que muito brasileiro.

Dois irmãos, duas carreiras e duas vidas em colisão. É nada mais que isso.

Toulmé fala de obstáculos e situações complicadas de forma ao mesmo tempo serena, preocupante e cômica. Ponto pra editora Nemo.


Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash

A surpresa do ano. Muitos têm seu auge e depois se mantém, apesar de um nível abaixo, regulares.

Não é o caso. Apesar de recente e ter sido um trabalho encomendado por um instituto, considero essa uma obra-prima de McKean.

São sonhos (sim, pensei o mesmo que você a respeito de outro personagem do autor) e reminescências de Paul Nash, artista e militar da Primeira Guerra Mundial. Com suas imagens de conflito, ficou conhecido como artista oficial do período.

A leitura é sensorial. Uma ótima experiência. Obrigado, DarkSide! Inclusive por escolher capa dura, edição que, no reino unido, só saiu em 500 exemplares.


Mort Cinder

Oesterheld é para mim o maior roteirista de HQs que já existiu. Podem tentar copiá-lo, mas não tem como chegar no patamar que ele tinha em combinar palavras em sua narrativa. Eu sinto a tensão do ambiente, o peso das vozes e os efeitos sonoros de cada palavra que ele escreve. É o maior.

Alberto Breccia é um gênio da ilustração. Desenhar assim usando como um dos utensílios LÂMINA DE BARBEAR não é para qualquer um.

A trama? Bom, vou deixar vocês mesmos descobrirem. O assunto poderia ser o que fosse, com esses dois não teria a mínima possibilidade de dar errado.

A edição da Figura é melhor até que a versão argentina, país de origem da HQ, que já saiu na França, Alemanha, Portugal, Espanha, Estados Unidos da América e FINALMENTE no Brasil. 

Ano que vem é o centenário de ambos os autores, então se ainda não os conhecem, a hora é essa.


Crimes e Castigos

Carlos Nine é um autor quase desconhecido no Brasil e quase nada de sua autoria foi publicado por aqui. Reparando esse erro, a Figura lançou este ano essa inesperada edição que por pouco não veio. Crimes e Castigos quase não teve sua meta de financiamento coletivo atingida, e o azar seria nosso.

A narrativa de Nine é similar à de Rodolphe Töpffer e Hal Hoster. Com apenas caixas de texto, o detetive Babously desvenda um mistério que, ao mesmo tempo que conta uma história ao longo da HQ, é recheada de narrativas mais curtas em cada uma de suas aventuras.

Os desenhos de Nine beiram o surreal e misturam erotismo, ação e violência neste volume. Sua construção de página são extremamente criativas e divertidas.

Seria muito bem-vinda a iniciativa de novas histórias do autor, mas acredito que seja muito difícil pois até na Argentina, seu país de origem, o público é muito específico.


Uma Irmã

Bastien Vivés, apesar de muito jovem, já é visto como um dos grandes nomes das Narrativas Gráficas na França. Jovem como sua idade, também é sua introdução no mercado brasileiro: esta é apenas sua segunda HQ publicada por aqui. A primeira, O Gosto do Cloro, saiu em 2012.

Assim como na primeira HQ aqui lançada, o foco de Vivés é um relacionamento ao mesmo tempo instantâneo e incomum. Um garoto tem afeto cada dia maior com uma garota que tem que conviver diariamente devido suas férias. A convivência cresce e suas atividades avançam. Seria inicialmente uma irmã, mas a convivência torna a relação difícil de explicar.

Melhor dizendo, é muito bem descritível graças ao traço de Vivés. Tão leve e puro como uma convivência familiar.

A Editora Nemo há um bom tempo mudou seu perfil de publicações, e tem lançado HQs cada vez mais autorais. Infelizmente projetos como de Hugo Pratt e Enki Bilal não vingaram, mas bom saber que continuam ousando em publicar um material tão exclusivo por aqui.


Paraíso Perdido

Sempre tive um pé atras com adaptações em HQ. Ao meu ver é o mesmo que assistir ao filme ao invés de ler a HQ. Ridículo aos que têm preconceito com quadrinhos mas lotam salas de cinema. É preguiça de ler. Medo de gostar.

Mas é tão bom quando calam nossa boca; recentemente tivemos esse gostinho com Elric da Glénat (publicado no Brasil pela Mythos) e Paraíso Perdido faz exatamente isso novamente. Baseado num poema de John Milton no século XVII, temos aqui o drama de anjos que sucumbiram à uma revolta de Satanás, corrompendo a humanidade e gerando o mundo que até hoje vivemos.

A quase falta de texto não incomoda. Me lembrou bem o que Danilo Beyruth me disse em uma entrevista realizada aqui no site: quando uma arte é tão bem feita que o espaço de tempo é diferente. Passamos mais tempo que de costume apreciando cada página pois Pablo Auladell destrói. Que esse autor esteja mais presente por aqui.

A DarkSide definitivamente veio para ficar no mercado de quadrinhos. Ainda bem.


A Terra dos Filhos

Sinceramente acho que o gênero “pós-apocalíptico” se aproxima do cansaço. Muitos filmes, séries e HQs sobre o mesmo assunto em um curto espaço de tempo os estão tornando cada vez mais previsíveis. No mesmo ano, por exemplo, tivemos os filmes Um Lugar Silencioso e Bird Box. A diferença de um para outro era o sentido a ser evitado.

Finalmente publicado no Brasil, Gipi conseguiu fazer uma obra sem cair na mesmice desse gênero. Dois garotos viajam uma terra arrasada buscando uma coisa apenas: conseguir ler o diário de seu pai.

O trabalho editorial da Editora Veneta é muito bom, inclusive escolhendo uma capa melhor que a versão original.


Ricardo Ramos

Black Hammer

Uma das séries mais elogiadas lá na gringa chegou ao Brasil por meio da Intrínseca, e foi um baita golaço. A premiadíssima obra de Jeff Lemire juntamente com o artista Dean Ormston e o colorista Dave Stewart já arrebatou em 2017 o Eisner na categoria Melhor Série Original, contando a trama de um grupo de super heróis em total decadência.

Até agora a Intrínseca publicou dois volumes: Origens Secretas e O Evento, mas a editora tem em seus planos manter a continuidade da série.


A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 1

Lançado originalmente em agosto de 2013 nos Estados Unidos, A Marcha é a primeira parte de uma trilogia que apresenta a longa batalha do lendário congressista americano John Lewis pelos direitos humanos e civis e a luta pelo fim das políticas de segregação no país. É um retrato sobre o movimento de direitos civis na América, sob a perspectiva de Lewis e a influência que foi exercida sobre ele pelo ícone Martin Luther King.  A obra foi escrita pelo parlamentar norte-americano John Lewis e Andrew Aydin e tem desenhos de Nate Powell.

Aqui no Brasil A Marcha foi publicada pela Editora Nemo que já anunciou a segunda parte da trilogia para abril. Confira a nossa resenha AQUI.


Visão de Tom King

O tão comentado e elogiado arco de Tom King que reformulou o Visão com um vendaval de inovações na sua mitologia chegou ao Brasil e agradou os leitores. Uma história suburbana que mistura suspense, ficção científica e comédia de erros que dá prazer de ler e reler. É praticamente um thriller bem no estilo de King, com simpatias com os personagens e reviravoltas que aparecem a todo momento durante a leitura. Você pode conferir nossa resenha AQUI.


Drácula

O último trabalho de Mike Mgnola antes de cair de cabeça em Hellboy, a adaptação do filme Bram Stoker’s Drácula, chegou ao Brasil pela Editora Mino. E chegou em grande estilo. A Mino não poupou trabalho para publicar uma lindíssima edição, com uma capa vermelha sangue e a história em preto e branco, que só realçou e valorizou mais a arte de Mignola. A qualidade é tão absurda, que quando você termina a leitura dá vontade de assistir ao filme de Francis Ford Coppola em preto e branco. Um dos melhores trabalhos editoriais lançados no país ano passado.


Asa Quebrada

A obra do escritor espanhol Antonio Altarriba conta a trajetória de sua mãe Petra. Uma mulher calejada de tragédias, que começaram logo quando ela nasceu. Quando a sua mãe morreu quando dava luz a ela, o seu próprio pai a tentou matar e no ato deixou Petra com um braço imóvel permanentemente. Anos depois, ela teve que cuidar do seu pai que ficou paralisado após uma briga. E chegando até salvar a sua vida durante a Guerra Civil Espanhola. Assim como em Arte de Voar, onde Altarriba narra a história de seu pai, a trajetória de Petra se mistura com o momento em que o fascismo da Guerra Civil Espanhola aterrorizava o país.

Tanto Arte de Voar quanto Asa Quebrada foram publicadas por aqui pela Editora Veneta.


Os Vampiros

Baseada em fatos reais, a HQ de Filipe Melo e Juan Cavia apresenta um grupo de soldados portugueses que são destacados durante a guerra colonial para uma missão secreta no Senegal em dezembro de 1972. Mas o clima tenso vai pesando sobre eles que acabam sendo consumidos pela paranoia e pelo cansaço. Os homens enfrentam sucessivos demônios. Tanto os da guerra como os que cada um carrega com si mesmo. A publicação aqui foi da SESI-SP.


A Entrevista

A HQ do italiano Manuele Fior apresenta o psicólogo de meia idade Raniero, que conhece a jovem Dora, uma paciente que se torna uma catalisadora das mudanças que se impõem sobre a sua conturbada vida. Publicado por aqui pela Editora Mino, A Entrevista chegou liderar por um tempo o ranking de vendas na Amazon Brasil.


Juízes Negros: A Queda do Mundo Morto

Não poderia faltar nesta lista de 30 quadrinhos, um do universo do Juiz Dredd, maior e mais famoso personagem dos quadrinhos britânicos. Este, escrito por Kek-W (que já teve uma obra publicada no Brasil, A Lei de Canon) e ilustrado por Dave Kendall, é um prelúdio da vida dos principais inimigos do Juiz Dredd, os Juízes Negros (Morte, Mortis, Fogo e Medo), mostrando como era seu universo que foi destruído posteriormente por sua política de “o crime é a vida, a sentença é a morte”. Com arte fenomenal e história elucidante para os fãs do Bom Juiz, A Queda do Mundo Morto (e todos quadrinhos do Dredd) merece receber destaque por parte dos leitores brasileiros.


Lazarus

Greg Rucka e Michael Lark criam, em Lazarus (da Image Comics) uma história de ação e política deslumbrante. A dupla já havia trabalhado em união na série Gotham Central da DC Comics, e em Lazarus, uma série mais autoral, eles repetem o sucesso e qualidade dessa união tão fantástica, e apresentam muita violência com uma personagem feminina, protagonista, fortíssima. O foco da história está no poder mundial, controlado pelas “famílias”, e cada “família” possui sua espada e escudo, uma pessoa, um protetor denominado Lazarus.

A edição nacional é da editora Devir, que trouxe a série em capa cartão e capa dura, para que os leitores possam escolher o que mais lhe agrada.


Fugir: O Relato de Um Refém

A editora Zarabatana, casa brasileira dos quadrinhos de Guy Delisle, surpreendeu a todos ao trazer em 2018 sua obra sobre o sequestro de um funcionário de uma ONG médica na região do Cáucaso. Delisle narra, de forma angustiante, como Christophe André foi mantido em cativeiro sem saber o motivo do sequestro. Comovente, absurda e rivalizando com suas melhores obras (Pyongyang, Shenzhen e suas Crônicas Birmanesas e de Jerusalém), esta graphic novel de mais de 400 páginas explicita muito bem o motivo de Delisle ser tão celebrado no mundo inteiro.


Gabriel Faria

Paraíso Perdido

Pra mim, o melhor quadrinho de 2018. Sempre tive um fascínio por histórias fantásticas com personagens bíblicos. Tal qual o poema original de John Milton (que li somente após ter lido o quadrinho publicado pela DarkSide), o espanhol Pablo Auladell entrega um espetáculo narrativo e visual que enche os olhos do leitor. Sua arte assemelha-se a pinturas clássicas, o que entrega à obra um charme ainda mais especial.

A história narrada, apesar de simples, é recheada de nuances e significados. O que começa como uma história intrigante torna-se rapidamente um épico de guerra, e o texto rebuscado, apesar de dificultar a leitura no início, passa a ser plenamente legível com velocidade significativa no decorrer das páginas. A edição da editora DarkSide também é um espetáculo visual primoroso.


O Relatório de Brodeck

A estreia do francês Manu Larcenet no mercado nacional veio através da editora Pipoca & Nanquim. E, assim como o quadrinho que citei anteriormente, esta também é uma adaptação de um livro. Uma belíssima adaptação.

Uma história densa, que trata especialmente sobre a crueldade humana, O Relatório de Brodeck mostra a vida de Brodeck, escriba recém-saído da Segunda Guerra Mundial, contando e investigando um assassinato brutal cometido pelos moradores de um vilarejo. A obra original é de Philippe Claudel, e a adaptação de Larcenet destaca-se em grande parte por sua arte sombria e muito expressiva.

O quadrinho é tenso. Angustiante, triste e sofrido. Ele escancara o pior do que há na humanidade, e você sente o impacto de cada momento no decorrer das páginas. Brodeck compete com Paraíso Perdido, pra mim, como melhor publicação do ano. E o cuidado editorial da Pipoca & Nanquim é belíssimo.


Blue Note: Os Últimos Dias da Lei Seca

Publicado na França pela Dargaud e chegando ao Brasil pela Mythos Editora através do selo Gold Edition, Blue Note possui dois álbuns em um, ambos situados na Nova Iorque dos anos 30, quando a Lei Seca foi abolida nos Estados Unidos.

Uma das histórias é focada em um boxeador que retorna a ativa enquanto lida com a máfia e um novo amor, e a outra é sobre um músico que se mudou para Nova Iorque. As duas histórias têm em comum o envolvimento com a venda ilegal de álcool, os clubes de música, e principalmente, gângsteres.

A atmosfera de época traduzida às páginas pela dupla Mathieu Mariolle e Mikaël Bourgouin é simplesmente deslumbrante, e a ligação entre a vida de Jack Doyle (o boxeador) e R. J. (o músico) é belissimamente conduzida. Vincenzo, dono do maior clube da cidade e perigoso mafioso, também é um personagem intrigante, e a ligação entre jazz, boxe e noir torna Blue Note uma das surpresas mais agradáveis do ano.


Uma Irmã

Assim como o texto do Marcus no início desta postagem resumiu bem, Uma Irmã é um quadrinho leve e puro, e um adjetivo ficou de fora mas acrescento aqui: delicado. História sobre descobertas e uma relação inusitada que poderia facilmente desembocar na pornografia gratuita pura e simples, mas nas mãos de Bastien Vivès, acaba por se tornar um show de empatia e delicadeza.

Vivès possui apenas 34 anos mas é considerado por muitos como um dos prodígios do mercado europeu. E não é pra menos: sua arte e narrativa são muito singelos, e a forma como ele apresenta todos os personagens quase como rascunhos, em traços finos e limpos, colabora para a inocência da história. Ponto positivo para a edição da Nemo, que poderia muito bem se tornar a casa editorial do autor no Brasil. Seria ótimo.


Shangri-La

Um quadrinho polêmico que vem dividindo a opinião de muitos leitores, Shangri-La de Mathieu Bablet me encantou do início ao fim. Para muitos, a história de ficção-científica narrada neste quadrinho foi cheia de problemas: pretensiosa, cansativa, rasa, com desenhos insatisfatórios… Entretanto, todos estes pontos “negativos” para mim são os grandes destaques do quadrinho.

Shangri-La mostra a vida em uma estação espacial após a Terra ter se tornado um planeta inabitável. A estação é dominada pela grande corporação Tianzhu, que controla a vida dos habitantes quase como de forma hipnótica, através do consumo exacerbado de novas tecnologias e controle de créditos. Entretanto, a história da vida “perfeita” na nave rapidamente torna-se questionadora quando a empresa, que possui um plano de criar vida a partir do zero em Titã, uma das luas de Saturno, é posta em cheque por um leque de personagens da estação espacial. E a partir daí inicia-se a investigação e o caos generalizado da vida humana no local.

Esta história é ficção-científica pura, sem tirar nem por: o contexto fantástico e futurista serve para que o autor fale sobre a realidade no momento atual da raça humana. E os questionamentos que ele levanta são realmente pertinentes, além de chocantes em muitos aspectos. Mas o quadrinho não dá respostas: ele apenas questiona. E acho isso um charme especial, pois o leitor deve preencher as lacunas em sua cabeça e mostrar o que absorveu daquilo que leu. A arte de Bablet é linda (apesar de realmente possuir um problema, que é a representação do rosto humano), e a edição da SESI-SP ficou primorosa. Pra mim, uma surpresa positiva.


Um Pedaço de Madeira e Aço

O francês Christophe Chabouté foi um dos destaques de 2017, pra mim, com a publicação de Moby Dick pela editora Pipoca & Nanquim. Agora, este mestre francês da arte em preto & branco retorna por sua casa editorial brasileira com um de seus quadrinhos mais aclamados, Um Pedaço de Madeira e Aço.

Nesta história com mais de 300 páginas, Chabouté mostra a vida e a passagem do tempo com foco em um… Banco de praça. E a história deste banco de praça, frequentado por diversas pessoas (e animais) da cidade onde ele se localiza, inusitadamente é uma das leituras mais emocionantes do ano. Um mestre da perspectiva e narrativa gráfica, o autor consegue, através do banco, mostrar um pouco da vida de cada um que passa por lá, criando um envolvimento único com o leitor. O banco é, assim como “personagem principal”, o único cenário da história, e a passagem de tempo (demonstrada sem textos, pois este é um quadrinho mudo) torna a finalização da leitura uma verdadeira jornada de sentimentos, que vão do riso às lágrimas em algumas viradas de páginas.

Mais Chabouté deverá chegar ao Brasil em 2019, e se a qualidade se mantiver como Moby Dick e Um Pedaço de Madeira e Aço, este autor rapidamente se consagrará como leitura obrigatória por aqui.


Black Hammer

Jeff Lemire segue consolidando seu nome como um dos maiores autores do mercado norte-americano. A cada história é uma surpresa, e a qualidade não cai. Black Hammer, na minha opinião, é o grande destaque das histórias de super-heróis publicadas no Brasil em 2018.

Lemire homenageia todo o legado dos heróis da Marvel e DC através de uma história sombria, cheia de mistérios e constantemente chocante. O plot simples (heróis presos em uma realidade/tempo específica sem saber como voltar para a vida normal), nas mãos do roteirista, cresce de maneira surpreendente e entrega uma leitura que, ao terminar, você sente necessidade de mais. E todos os personagens são memoráveis e carismáticos, representados muito bem através da linda arte de Dean Ormston. O sucesso desta publicação da Editora Intrínseca é merecido, e os leitores brasileiros precisam de mais.


Boa Noite Punpun

Assim como Ayako (já citado pelo Marcus no início desta lista), Boa Noite Punpun é o destaque dos mangás lançados no Brasil em 2018. Inio Asano é, na minha opinião, o melhor mangaká contemporâneo do Japão. No Brasil já tivemos a publicação de algumas obras suas: Solanin, A Cidade da Luz e Nijigahara Holograph. Entretanto, Punpun é sua obra-prima.

Como todos os mangás de Asano, Punpun gira em torno do fator humano. A história, que segue a vida de um garoto chamado Onodera Punpun (representado como uma espécie de passarinho) enquanto ele cresce e convive com amigos e familiares, possui tudo que o autor mais sabe fazer: algo sincero, depressivo, metafórico, imperfeito, delicado… Todas as características que se enquadram nas obras de Inio Asano, em Punpun são trabalhadas com maestria.

O crescimento e as descobertas de Punpun, o convívio com sua família quebrada e seus amigos, sua rotina escolar, seus primeiros sentimentos (como amor e depressão, alegria e tristeza), suas incertezas a respeito do que está acontecendo, seu contato com Deus… Tudo é primoroso. E a edição da JBC, em Formato Big (com mais de 400 páginas), é perfeita. Boa Noite Punpun é uma história aclamadíssima no Japão, e a oportunidade de ler esta obra no Brasil é fantástica.


Gideon Falls

Jeff Lemire surge mais uma vez, agora com uma história bem diferente do que ele conta em Black Hammer, apesar do clima de tensão de ambas as obras. Aqui, temos uma história de terror publicada nos EUA pela Image Comics. E é uma história de terror de primeira categoria.

Ao lado de seu parceiro de outros trabalhos, Andrea Sorrentino, Lemire narra a história de um padre em uma pequena cidade do interior e um rapaz transtornado na cidade, enquanto um misterioso celeiro negro está linkado às suas vidas de forma similar. E a tensão evocada pelas aparições do celeiro e todo o mistério que gira em torno de sua existência são surpreendentemente curiosas. Você quer saber o que está acontecendo a qualquer custo.

A edição da Mino, em capa dura com bom acabamento gráfico, também merece elogios. Um quadrinho que, assim como B.H., os leitores brasileiros precisam de mais!


Réquiem: Cavaleiro Vampiro

O fantástico roteirista Pat Mills (de Guerreiros ABC, Sláine, Juiz Dredd e Marshall Law) mergulha no mercado francês, ao lado do fantástico desenhista Olivier Ledroit, para contar uma das histórias mais criativas presentes nesta lista.

Um nazista morto na guerra, ressuscita como um vampiro em um mundo que é o oposto da Terra (também geograficamente falando), onde o tempo corre ao contrário, cima é baixo, esquerda é direita, água é sangue. Este mundo, chamado Ressurreição, torna-se o lar de Heinrich, que ao renascer assume o posto de Cavaleiro Vampiro, soldado que deve manter a ordem caótica deste universo estranho cheio de lobisomens, zumbis e outros monstros.

Réquiem é a cara de Pat Mills: um quadrinho ácido, violento, e visualmente fantástico graças a maravilhosa arte de Olivier Ledroit. Assim como Blue Note, Réquiem foi publicado pela Mythos Editora através do selo Gold Edition, e foi uma das mais gratas surpresas do ano. Mais volumes virão, se Drácula ajudar.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Heróis em Crise, fãs da DC Comics também

Se você dissesse para mim, há alguns meses, que Heróis em Crise seria uma das histórias mais controversas da DC Comics, eu sinceramente não acreditaria. Claro, o autor por trás da história, Tom King, agrada muitos, assim como também desagrada. Entretanto, quando King abordou sutilmente depressão em Senhor Milagre, criando um clássico moderno da editora. Logo, seguindo esta linha de raciocínio, abordar Estresse Pós-Traumático em uma história com homens e mulheres vestindo collant, seria moleza. Não poderia estar mais enganado.

Entenda, o redator o qual vos escreve, está gostando de Heróis em Crise, por diversos motivos. Um deles, reside no fato de que King pegou o quarto pilar da DC (A Arlequina, palavras do Jim Lee) e a transformou em uma vilã de destaque. Me diga, caro leitor, quantas vezes você viu uma personagem feminina protagonizando ou antagonizando um evento na Editora das Lendas? Zero, não é mesmo? Não é exagero dizer que ela está no caminho para se tornar a maior supervilã da editora.

Arlequina é facilmente a melhor personagem da publicação.

Entretanto, eu também possuo algumas ressalvas, as quais poderiam ser facilmente resolvidas. Como por exemplo, a hiper sexualização de personagens femininas em uma história a qual lida com assuntos pesados. Respeito quem gostou da Lois Lane vestida com uma camisola do Superman em uma pose digna de um ensaio fotográfico sensual. Entretanto, não estamos mais no início dos anos 2000. A realidade é outra e há outras de representar a personagem perguntando ao Superman: “O que você quer que eu faça?”

Já os leitores de um modo geral, parecem bastante insatisfeitos com a história, principalmente com a quarta edição publicada hoje. As críticas ao modo como o desenhista Clay Mann sexualizou inúmeras personagens femininas, levou King a bloquear pessoas em sua conta no Twitter. Se você segue o autor, sabe muito bem como ele lida com críticas. Quando a terceira parte do arco Superfriends foi publicada, King pediu desculpas e agradeceu pelo feedback. Isto não é normal.

Admita. Você notou o balão de fala nesta página.

Mas a maioria dos leitores já estava insatisfeito com a história desde o início. Cada um por um motivo diferente. Determinadas mortes da história geraram ira e tristeza no fandom. Rumores sobre a interferência do editor Dan DiDio deixaram os fãs ainda mais furiosos. King precisou ir às redes para esclarecer o nível de sua liberdade criativa. O circo “pegou fogo”, assim como na história. Minto, até mais do que na ficção.

Há alguns meses, eu publiquei uma pequena reflexão sobre a história, quando a primeira edição foi publicada, mas eu senti a necessidade de reescrevê-la, pois a editora não vive em um cenário tão polêmico, desde Crise de Identidade, outro evento “pé no chão”. Quando Heróis em Crise foi anunciada, era um estudo sobre o psicológico dos heróis. Durante a San Diego Comic-Con, a história ganhou um novo status: Mistério de assassinato. É uma continuação espiritual de Crise de Identidade.

“Nossa esperança de redenção, é apenas mais uma caçada por vingança.”

É impossível saber se a história foi alterada para algo mais mainstream ou não, pois o roteirista afirma ter 100% de liberdade no projeto. Entretanto, pouco importa, pois a história é tão chocante, tão sombria, com uma arte tão padronizada e parece realmente reviver os tempos sombrios e ambíguos da DC Comics, onde descobrimos que a Liga da Justiça não era tão heroica e agora sabemos que Batman, Superman e Mulher-Maravilha, não podem resolver os problemas de seus companheiros. Mas a que custo, caro leitor?

Qual é o custo? Por que a obsessão em retornar aos tempos os quais haviam se distanciado há anos? Apesar de apresentar uma certa qualidade narrativa, Heróis em Crise, não é uma história a qual precisava ser publicada agora. Perceba. Em nenhum momento digo que a história jamais deveria ser publicada, mas acredito na importância do contexto. Enquanto King continua a conceder aos leitores mais perguntas, menos respostas são obtidas.

“Heroes will die! Readers will fall! Nothing will ever be the same”

A cada mês quando uma edição de Heróis em Crise é publicada, os fãs da DC Comics suam friamente, tremem, choram, se enfurecem, assim como os heróis, entram em crise. Eu estou fascinado. Fascinado com algo o qual remexe e ainda remexerá os meus e os nossos sentimentos por mais alguns meses. Mas espero, que ao final, o saldo seja mais positivo do que negativo, para todos.

 

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Aquaman por Geoff Johns: A introdução definitiva ao Rei de Atlântida

Em 2011, a DC Comics lançava a sua nova iniciativa: Os Novos 52. O selo tinha como objetivo reiniciar todo o universo DC, com exceção de Batman e Lanterna Verde. Com 52 títulos, o reboot, em sua maioria, não foi bem recebido pelos leitores. Entretanto, alguns títulos se destacaram como gratas surpresas. A maior delas, com certeza foi Aquaman por Geoff Johns. Enquanto a reinvenção da DC, não conseguiu lidar com o icônico Homem de Aço, ela conseguiu salvar o Rei de Atlântida do esquecimento.

O run de Johns é o mais importante para o personagem desde Peter David (Da década de 90). Durante 25 edições (Sem contar tie-ins e crossovers), o roteirista acrescentou novos elementos à mitologia do personagem e revitalizou o personagem, fazendo com que ele alcançasse um patamar de popularidade o qual ele jamais havia alcançado.

Composta por quatro arcos: As Profundezas, Os Outros, Trono de Atlântida e A Morte do Rei, a fase escrita por Johns é um dos trabalhos mais simples e dinâmicos da editora nos últimos anos. Logo na primeira edição, o roteirista se preocupa em descosntruir a péssima imagem do personagem possuída pelo público. Ele o faz, mostrando a rotina de Arthur Curry ao lado de seu grande amor, Mera. Para moldar o seu protagonista, Johns, através de flashbacks, utiliza duas figuras: Thomas Curry, o seu pai, o qual o incentiva a servir como faroleiro e o Doutor Shin, o qual faz com que Arthur tenha noção de que ele não apenas pertence a superfície.

Através dos comentários pejorativos de civis sobre o herói na história, Johns cria perfeitamente a tensão entre o pertencimento de dois mundos, um tema recorrente nas histórias do Aquaman. O roteirista cria o peixe fora d’água definitivo, não apenas mostrando sua bondade e heroísmo, mas mais tarde, explorando mais facetas morais no decorrer da narrativa, decorrente do seu passado.

“Você é meu super-herói favorito.”

É óbvio que este não seria um grande título, caso não possuísse personagens coadjuvantes bem escritos. Felizmente, todas as figuras de apoio obtêm de imediato o interesse do leitor. Seja Mera, pela sua imponência ingênua e desconhecimento perante as leis da superfície, Arraia Negra, através de sua vingança de “mão única”, ou Orm com sua xenofobia pela superfície e dono de um antagonismo formidável e uma ambiguidade moral esplêndida, o tornando mais do que um vilão, menos do que um herói.

As novas adições à mitologia como os monstros submarinos conhecidos como Abissais, o grupo de super-heróis repleto de diversidade e extremamente internacional, conhecido como Os Outros. Ou até mesmo, Atlan, aqui como o vingativo Rei Morto. A mitologia de Atlântida é explorada durante a reta final do run e Johns faz um maravilhoso trabalho com ela.

Não poderia encerrar este texto sem mencionar a arte. Pois muito mais do que o script simples e focado de Johns, Aquaman dos Novos 52 nada seria caso Ivan Reis, Joe Prado, Paul Pelletier e Rod Reis não fossem responsáveis pelos desenhos. O trabalho gráfico de todos os artistas eleva a HQ ao nível de uma produção de Hollywood do gênero épico (Melhor inspiração para o filme, impossível, não é, James Wan?) É impossível contar nos dedos quantas splashpages existem nessas 25 edições.

Apesar do término do run, o roteirista planejava uma história com a Liga da Justiça chamada: Ascensão dos Setes Mares. Infelizmente, nenhum detalhe, além da equipe criativa (a mesma), foi divulgado.

Aquaman por Geoff Johns é a introdução definitiva ao Rei de Atlântida. Com uma arte em escala épica e um roteiro simples e extremamente focado, esse não é apenas o grande momento do personagem nas HQs, assim como é uma das fases mais satisfatórias publicadas pela DC Comics nos últimos anos.