Detective Comics Quadrinhos

A Balada de amor e tragédia da Família Visão

Escrito por Ricardo Ramos

Finalmente chegou ao Brasil o tão comentado e elogiado arco de Tom King para o vingador Visão. A reformulação do personagem nas mãos do escritor trouxe um vendaval de inovações na mitologia do personagem, que muitas vezes só ganhava importância quando Ultron voltava a ser uma ameaça pela enésima vez ou quando estava nos braços da Feiticeira Escarlate. Venhamos e convenhamos, Visão sempre fui um dos personagens do segundo escalão dos Vingadores. Que teve uma origem fantástica, mas com o passar do tempo, fosse por desinteresse da Marvel ou dos roteiristas, nunca ganhou algo tão incrível como o que Tom King fez.

A história suburbana criada por King é uma mistura de filmes de suspense, ficção cientifica e comédia de erros no estilo de Fargo. Engana-se quem pensa que se trata de uma simples história de super-heróis, assim como fez em Xerife da Babilônia, Tom King cria um trilher que caberia muito bem no cinema, obviamente usando outros personagens e contextos. As reviravoltas existentes durante toda a história fazem o leitor perder o fôlego, e cria uma simpatia com os personagens.

A simpatia pelo Visão não é algo que ocorre de imediato. Algo normal se levarmos em consideração que ele sempre foi  um personagem frio. E Tom King deixa isso bem explicito. Ele na verdade é até um tanto ausente. Por causa dos seus trabalhos, uma critica velada no roteiro para as famílias que vivem longe dos pais. Mas com o andamento da história, o Visão vai se apresentando um personagem protetor. Um pai de família zeloso, que acabamos criando laços. Mas os grandes protagonistas são a sua esposa Virginia e seus filhos Viv e Vin. Muitas vezes a torcida cresce dentro do leitor para o trio.

Tom King em diversas vezes, meio que cria uma armadilha para o leitor, o colocando em uma zona de conforto dentro da leitura, mas do nada, aparece uma arapuca. Seja na trama principal, ou seja, na hora de lidar com a emoção dos personagens. A Família Visão não apresenta emoções tão facilmente, a não ser quando estão sendo teatrais para vizinhos, mas sentimos, vindo dos personagens, coisas como alegria, fúria, amor, solidão e decepções. Como quando o Visão descobre que seu trabalho junto a Casa Branca não é remunerado e ele se preocupa com e renda familiar. O modo que é colocado, sentimos a decepção do personagem por isso.

Visão criou a sua família e se mudou para um subúrbio. Ele tem um ideal de ter uma vida normal com os vizinhos, trabalhando como contato dos Vingadores na Casa Branca, os filhos frequentando a escola. Mas não existe vida normal para super seres. Em um momento em que o patriarca está fora, o vilão Ceifador ataca a casa, e feri a filha Viv. Virginia então mata o agressor e o enterra no quintal. Então alguém (como no filme Janela Indiscreta) a filma fazendo isso e começa uma chantagem e o jogo dos erros sucessivos.

O texto visceral, que há muito tempo eu não via em um personagem da Marvel Comics, constrói o fato da Família Visão tentar ser o mais normal possível, as conversas familiares são de pessoas normais, mas o dialogo construído está longe disso. Eles se são figuras circenses aos olhares das pessoas próximas, e também alvo de preconceitos. Algo decorrente durante arco, mas que não é o principal tema. O tentar ser normal, tentar levar uma vida normal é o que nos faz pensar sobre o arco de Visão. Quantas e quantas famílias que vivem com diversos problemas internos tentam passar uma vida rotineira para quem está de fora?

O ato final estampa na cara do leitor que ainda é, apesar de todo o contexto diferenciado, uma história com personagens super-heróis. Mas o final, que é digno de um grande filme de suspense e com uma revelação incrível, bate na nossa cara a grande obra que é. Tom King realmente acertou no ponto certo em Visão, coisa que ainda falta fazer na sua mensal do Batman. 

Os desenhos de Gabriel Hernandes Walta apresentam personagens com belos traços humanos e variadas expressões dignas de vencedores de Oscars, mas no o resultado final é bem comum. Mas não que seja por culpa do desenhista, mas o projeto em si, como a própria história pede, tem um ar de “normalidade”. A série tem menos ação que um gibi de heróis teria, com bastantes diálogos e situações de cotidiano. Acaba meio que indo no automático em alguns momentos.

Lançado originalmente em 12 edições, a Panini publicou em dois volumes, Pouco Pior Que Um Homem (Vol 1) e Eu Também Serei Salvo Pelo Amor (Vol. 2), essa fase de Tom King na HQ do Visão. Edições que não podem faltar na estante de nenhum amante de quadrinhos.

 

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Sobre o Autor

Ricardo Ramos

Gibizeiro, escritor, jogador de games, cervejeiro, rockêro e pai da Melissa.

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