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Torre Entrevista | Chuck Dixon

Escrito por Gabriel Faria

O pai de um dos maiores vilões do Batman, prolífico roteirista e uma pessoa dotada de extrema simpatia, Chuck Dixon é um grande nome do mercado de quadrinhos norte-americanos. Algumas de suas obras inéditas foram lançadas no Brasil recentemente, enquanto outras ganharam republicações, e motivados pela cena atual, resolvemos entrevistá-lo para falar um pouco sobre duas histórias em específico:

Primeiramente, gostaria de agradecer por ter aceitado fazer esta entrevista. No período de alguns meses, os leitores brasileiros foram agraciados com os lançamentos de alguns quadrinhos de sua autoria, tais quais as edições de luxo de Robin: Ano Um e Batgirl: Ano Um (pela editora Eaglemoss), e o lançamento da inédita Bane: A Conquista (Panini), bem como a publicação de um encadernado especial de Mundo Invernal (Mythos Editora) compilando as duas aventuras originais ilustradas por Jorge Zaffino, e a recente La Niña. Gostaria de centrar, nesta entrevista, nestes dois quadrinhos citados por último.

Muito obrigado por vir falar comigo!

Chuck Dixon em sua mesa na MegaCon Tampa Bay em 2016. (Reprodução: bleedingcool.com)

Vamos começar falando sobre você. Em quaisquer sites como a Wikipedia ou até mesmo no Dixonverse qualquer um pode encontrar detalhes sobre o início de sua carreira. Entretanto, eu gostaria de saber como você se envolveu com os quadrinhos inicialmente, como leitor, para depois ir trabalhar no mercado.

Quando eu era criança havia quadrinhos em todo lugar. A maioria das casas tinha pilhas deles. Eles estavam na barbearia, farmácia e todo lugar que eu ia. Eu ficava muito doente quando criança, e membros da família traziam quadrinhos para mim como presentes. Eles se tornaram meu mundo. Ainda muito novo, eu estava estudando a “linguagem” dos gibis. Eles também se tornaram meu interesse central. Eu queria criar meus próprios quadrinhos e até desenhei centenas de páginas ao longo do ensino médio. Não havia nada mais que eu queria fazer além de trabalhar com quadrinhos, então arranjei alguns empregos simples para ter condições mínimas e fui para Nova York para ir à Marvel e DC sempre que eu pudesse.

Finalmente, no meio dos anos 80, quase simultaneamente eu chamei a atenção de duas empresas, a Eclipse Comics e a Marvel Comics. Então trabalhei duro para provar que eu era confiável e que poderia apresentar histórias competentes. Logo, fui contratado como roteirista e nunca mais olhei para trás!

Em 1987 você criou a série Mundo Invernal. Alguns textos de sites especializados dos EUA comparam a série original (e suas continuações modernas) com Mad Max, apelidando-a de “Mad Max no gelo.” Gostaria de saber quais foram as influências e inspirações para a criação de Mundo Invernal, e se realmente Mad Max foi parte das mesmas.

A maior influência foi Jorge Zaffino [o artista de Mundo Invernal]. No mesmo instante em que vi seu trabalho, eu soube que eu queria fazer algo cru e perigoso. Uma história pós-apocalíptica situada em um ambiente estéril e hostil pareceu perfeita para o estilo único de Jorge, seu dom de desenhar pessoas reais e suas habilidades em coisas elementares como clima e ação.

Há alguma influência de Mad Max [em Mundo Invernal] mas não nos aprofundamos no lado “punk” daquela série. Era mais algo como o mundo real, e menos fantasioso. Essas pessoas estavam muito ocupadas tentando sobreviver para ficar pensando em estilo!

Capa da edição nacional de Mundo Invernal, da Mythos Editora. (Reprodução: mythoseditora.com.br)

Em um texto seu escrito em 1988 e publicado em Winter World 3, você menciona o fato desta história ser sobre pessoas sobrevivendo sem um rumo exato, e não sobre salvar o universo. Esta é uma característica que se manteve quando a série retornou em 2014?

Com certeza. Eu sempre preferi histórias onde os personagens estavam mais preocupados com seus interesses pessoais do que com objetivos mais altos. Eu consigo me relacionar melhor com alguém tentando sobreviver, procurando comida e abrigo. Eu me relaciono menos com alguém tentando mudar o mundo.

Como foi retomar esta série após tantos anos? Quais foram os principais processos para que você pensasse “ok, Mundo Invernal deveria retornar às comic shops”.

A IDW tinha um interesse real em uma série de TV. Simples assim. Isso permitiu que eles pensassem em me chamar para criar uma nova série de quadrinhos. Pra mim, foi como se o tempo não tivesse passado. Eu estava de volta ao mundo de Scully e Wynn facilmente, como andar numa sala familiar.

Primeira página da série original Mundo Invernal, de 1987. Arte de Zorge Zaffino. (Reprodução: amazon.com.br)

Scully, Wynn e Rah-Rah formam um trio único. Como você descreveria a relação entre Scully e Wynn?

Não é uma relação de pai e filha. Eu suponho que eles sejam mais como irmãos. Apesar dela ser mais nova, Wynn é de um mundo onde todos devem crescer rapidamente. Então, apesar da diferença de idade, eles são equivalentes, iguais. Em um mundo onde você não pode confiar em ninguém, eles contam um com o outro para sobreviver e sabem que eles se apoiam juntos.

Já pensou, alguma vez, em dar maiores detalhes acerca de como o planeta chegou ao ponto que está neste universo? Durante La Niña [história presente no encadernado da Mythos Editora], um dos personagens dá dicas acerca do ocorrido, mas nada muito aprofundado. Esta vontade de contar em detalhes os acontecimentos que congelaram o mundo já passou pela sua cabeça?

Eu nunca quis ir às origens. Fazer isso iria sugerir que há uma solução [para a situação do mundo congelado]. Eu não queria que meus personagens lidassem com nada disso. Eu queria que suas histórias fossem sobre pessoas frágeis em um mundo duro, violento e quase inabitado. Eles não se importam sobre como o mundo chegou onde chegou. Suas únicas preocupações são comida e calor. E as dicas dadas nesta história são apenas teorias.

Capa da primeira edição do retorno de Mundo Invernal, publicada pela IDW em 2014. Arte de Butch Guice. (Reprodução: idwpublishing.com)

Migrando para a DC Comics e as perguntas direcionadas à Bane: A Conquista. Primeiramente, como foi trabalhar com basicamente toda a Batfamília? Você ainda acompanha regularmente o que é feito com os heróis e vilões do Batman?

Eu não mais acompanho os quadrinhos de perto, já que eu não trabalho mais para a DC regularmente. Eu tenho que pensar nas minhas próprias continuidades!

Trabalhar para a DC Comics foi uma tremenda oportunidade pra mim. Eu ainda não acredito que pude brincar naquele playground por tanto tempo! Eu me arrepiava sempre que escrevia “Batman e Robin.” Isso nunca foi embora!

Bane é, talvez, sua criação mais famosa para o universo do Batman. Como foi ver seu personagem adaptado duas vezes nos cinemas (Batman e Robin em 1997 e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge em 2012), e quais as impressões que ambas as adaptações lhe passaram como “pai” deste personagem?

A primeira versão (vivida por Jeep Swenson) teve o melhor visual de todos. Mas ele foi interpretado como um viciado em um filme muito ruim. O Cavaleiro das Trevas Ressurge foi muito melhor, mostrando o Bane como um intelectual. Mas ainda não foi o que Graham Nolan e eu tínhamos em mente.

Capa do segundo e último volume da série Bane: A Conquista, que está atualmente nas bancas em lançamento da editora Panini. (Reprodução: hotsitepanini.com.br/dc)

Atualmente, Bane: A Conquista está sendo publicada no Brasil. Sobre esta série, como foi retornar à sua cria após tanto tempo, e quais foram seus principais objetivos com o desenvolvimento desta história?

Graham e eu tínhamos mais histórias para contar. Quando começamos, foi como se nem um dia tivesse passado desde a última vez. Nós “lidamos” com o Bane melhor que qualquer um pois nós o criamos. Há muita profundidade lá.

Conhece o Brasil? Se não, gostaria de conhecer?

Eu gostaria de conhecer. Meu grande amigo Sergio Cariello mora não muito longe de mim aqui na Flórida. Ele fala sobre ter crescido no Brasil o tempo todo.

Em que você está trabalhando atualmente? Poderia dar algumas dicas do que virá no futuro?

Estou trabalhando em uma nova série do Van Helsing para a Zenescope, e também em uma série chamada Avalin para a ArkHaven, uma nova empresa. E tenho muitos projetos que ainda não foram anunciados, incluindo uma graphic novel para a Marinha dos Estados Unidos.

Van Helsing vs. The Werewolf #2, da editora Zenescope. Arte de Mike Lilly. (Reprodução: blog.zenescope.com)

Chuck, gostaria de agradecer imensamente a atenção depositada para responder estas perguntas, e tenho certeza que os fãs brasileiros irão gostar de ler suas respostas. Por fim, queria pedir que mande algum recado para os leitores daqui, e também aproveitar o espaço para lhe desejar todo o sucesso do mundo!

Para todos meus amigos brasileiros, muito obrigado por ler e curtir meu trabalho! Acreditem, eu gosto de ter minhas histórias sendo desfrutadas em cada canto do mundo!

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Agradecimentos ao Roberto Nicácio pela colaboração.

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.