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Crunchyroll e Adult Swim liberam a abertura de Black Lotus, novo anime da franquia Blade Runner

A Crunchyroll e Adult Swim liberaram a abertura de Black Lotus, novo anime da franquia Blade Runner que estreia ainda em 2021. 

O elenco é composto por Jessica Henwick/Arisa Shida, Josh Duhamel/Taiten Kusunoki, Will Yun Lee/Shinshu Fuji, Samira Wiley/Takako Honda, Brian Cox/Takaya Hashi, Wes Bentley/Takehito Koyasu, Peyton List/Yoshiko Sakakibara, Stephen Root/Hochu Otsuka, Barkhad Abdi/Takayuki Kinba, Gregg Henry/Masane Tsukayama, Henry Czerny/Akio Nojima e Jason Spisak/Kazuki Yao.

A seguir, você pode conferir os cartazes de Black Lotus em alta resolução disponibilizados para nós, da Torre de Vigilância

A animação se passará em 2032 e conectará os dois filmes da franquia, sendo uma espécie de ponte entre eles. Rostos novos e conhecidos irão compor a trama de Black Lotus. Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop) será o produtor criativo enquanto Sola Digital Arts é quem está cuidando do visual do projeto.

Para futuras informações a respeito de Black Lotus, fique ligado aqui, na Torre se Vigilância.

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Confira o trailer de Blade Runner: Black Lotus, série animada que chega ainda em 2021 no Crunchyroll

Foi liberado pelo Crunchyroll durante o evento San Diego Comic-Con@Home, o primeiro trailer e pôster de Blade Runner: Black Lotus, série animada que estreia ainda em 2021 no serviço de streaming.

O elenco é composto por Jessica Henwick/Arisa Shida, Josh Duhamel/Taiten Kusunoki, Will Yun Lee/Shinshu Fuji, Samira Wiley/Takako Honda, Brian Cox/Takaya Hashi, Wes Bentley/Takehito Koyasu, Peyton List/Yoshiko Sakakibara, Stephen Root/Hochu Otsuka, Barkhad Abdi/Takayuki Kinba, Gregg Henry/Masane Tsukayama, Henry Czerny/Akio Nojima e Jason Spisak/Kazuki Yao.

A animação se passará em 2032 e conectará os dois filmes da franquia, sendo uma espécie de ponte entre eles. Rostos novos e conhecidos irão compor a trama de Black Lotus. Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop) será o produtor criativo enquanto Sola Digital Arts é quem está cuidando do visual do projeto.

Para futuras informações a respeito de Black Lotus, fique ligado aqui, na Torre se Vigilância.

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Primeiras Impressões | Girlfriend Girlfriend

Nem só de resenha semanal vive um redator, e por isso, voltaremos às origens para falar uma vez só de algo que acabou de sair, para talvez revisitar com outra postagem no futuro: Mais um “Primeiras Impressões“!

O animê de hoje se chama “Girlfriend Girlfriend” (No original, “Kanojo mo Kanojo“, カノジョも彼女), baseado num mangá com arte e roteiro por “Hiroyuki“, ainda inédito no Brasil. Até o momento, o show possui dois episódios, animados pelo estúdio Tezuka Productions, e com direção de Satoshi Kuwahara.

No Brasil, os direitos de exibição simulcast são da Crunchyroll, que disponibiliza a seguinte sinopse e trailer:

Naoya, o protagonista, está no primeiro ano do colegial. Ele se declara para Saki, sua paixão de infância, que aceita se tornar sua namorada. Sua vida não podia estar melhor, quando uma bela garota chamada Nagisa o convida para sair. Indeciso e incapaz de magoar uma garota tão gentil quanto a Nagisa, Naoya chega a uma conclusão inusitada, dando início a um novo tipo de comédia romântica!

Vamos começar falando do elefante na sala. Simplesmente não vai ter como termos uma conversa franca sem alinharmos expectativas quanto a isso, então precisa ser falado o quanto antes:
Sim, este é um show sobre um “trisal” adolescente. É um caso de poliamor que se encaixa na definição de dicionário do termo. Não há “mas”, não é “poréns”, as três personagens estão num relacionamento aberto e estão todas cientes disso.

Com isso dito, a pergunta que eu faço para você, leitor, é a seguinte: Isso te incomoda? Isso é um problema? E faço essa pergunta com a cara mais lavada do mundo. Não quero pagar de diferentão, de desconstruído, nem nada do tipo. A minha opinião sobre o assunto (e, sinceramente, a sua também!) não poderia ser menos importante. Estou simplesmente alinhando expectativas pro resto do texto.

A ideia do show é justamente usar essa situação, que é bastante “inusitada” (principalmente no contexto em que acontece), como fonte de humor. E tudo nasce a partir disso. Se isso for algo que te incomoda, o animê simplesmente não é para você. E tudo bem! Faz parte, cada um tem seu gosto. A única coisa que eu peço é a seguinte: Ao menos tente assistir, pensando que se trata de uma comédia. Você não precisa levar o conceito a sério, e isso independe da sua opinião sobre o quão real o poliamor pode ser na vida real. Pois isso é uma ficção, e o próprio show deixa claro que não está se levanto a sério. Por que você deveria levar?

As duas reações mais comuns ao ler a sinopse (Reprodução: Crunchyroll)

Pronto, chega, sermão dado, oração feita, expectativas alinhadas. Vamos falar do animê em si, agora que sabemos que estamos olhando para uma comédia:

Um dos tipos mais clássicos de humor japonês é o “Manzai“, onde temos um “cara sério” (chamado de “Tsukkomi“) e um “cara bobo” (chamado de “Boke“). A ideia desse tipo de show é que o “cara sério” serve como a voz da razão, e reage aos comentários absurdos do “cara bobo”. E por qual motivo eu estou explicando isso ao invés de falar do animê, como prometi no parágrafo anterior? Pois isso é essencial para entender o show.

Embora tenhamos apenas três personagens principais, eu diria que podemos enquadrar quatro “coisas” nos títulos anteriores: Temos três Bokes e um Tsukkomi. O “cara sério” é, claramente, a garota que parece ser a mais sensata do grupo, SakiSaki (ou apenas “Saki”). Não haveria nada demais nisso, se ela fosse um Tsukkomi tradicional, que simplesmente reage aos absurdos dos Bokes e corta o barato deles. Acontece que a Saki é um Tsukkomi muito fraco, ela não tem a frieza e o bom senso necessários para aguentar tanto absurdo. Afinal, ela precisa lidar com seu namorado, Naoya, e a namorada dele, a Nagisa, como Bokes. E, pra piorar, a própria situação em que eles estão pode se enquadrar como um gigantesco, onipresente e francamente genial Boke.

O que me fez dar tanta risada com os dois primeiros episódios de “Girlfriend Girlfriend” foi justamente essa dinâmica pouco comum, onde a Saki, não conseguindo segurar as rédeas da situação, acaba se juntando ao absurdo e cada vez mais se vê afundadando na areia movediça dos outros dois. É um caso semelhante ao que existe em “A Destructive God Sits Next to me“, embora lá, o protagonista “sério” tinha um pouco mais de “força” para segurar os seus Bokes. Não o suficiente, mas já gerava um tipo diferente de humor.

E já que estamos falando de personagens, o ponto alto do show, pra mim, foi o fato de que não tem um único que se salva ali. Tá todo mundo completamente biruta. Se erguer o braço, Deus leva. Mesmo a Saki, que deveria ser a pessoa mais sã entre os três, já está muito mais pra lá do que pra cá, e é justamente essa instabilidade dela que se encaixa tão bem com a honestidade do Naoya, e com a inocência da Nagisa, para nos dar uma dinâmica maravilhosa. É uma dinâmica um pouco “cringe“, para usar o termo da moda? Sim, com certeza. Especialmente quando os adolescentes começam a discutir sobre sexo. Mas a ideia é justamente essa, é engraçado justamente por ser vergonhoso.

Eu fiquei o episódio inteiro pensando nessa imagem do The Joker™

Falando um pouco sobre a parte técnica, eu tenho dois comentários indispensáveis pra fazer: O primeiro é sobre a qualidade da atuação de Sakura Ayane, a dubladora da Saki. Com um alcance de voz absurdo, ela conseguiu dar vida a todo o caos e volatilidade necessários para interpretar a garota. Em um momento, ela está falando normalmente, e na próxima frase, já está gritando como se sua vida dependesse disso. É esse tipo de reação exagerada (que todas as personagens tem) que fazem o Manzai ser engraçado pra mim, e ter uma dubladora tão talentosa como a Sakura Ayane trabalhando nisso facilita muito o humor.
O segundo ponto é o uso cirúrgico da trilha sonora e de efeitos sonoros para incrementar cada piada. Cada música e cada som foi colocado com uma maestria, que somente uma pessoa extremamente qualificada conseguiria tal proeza. O responsável é o diretor de som Satoshi Motoyama, que trabalhou em mais comédias do que eu posso contar, e tem o know-how pra fazer mágica com os ouvidos.

Vi muitos comentarem que “Girlfriend Girlfriend” lembra muito de outro mangá-que-virou-animê, “Rent-a-girlfriend” (no Brasil, foi adaptado para “Namorada de Aluguel” pela Editora Panini). E, de certo modo, lembra mesmo. Porém, eu não poderia ter tido uma experiência mais desagradável com “Namorada de Aluguel“, e o motivo é simples: Ele tentava ser levado a sério. Ele tentava ser uma história coesa e sensata. No final, ao tentar tocar uma trama de novela, as desavenças se destacaram muito mais do que o humor, e ficamos com um show sobre relacionamentos abusivos, ao invés de uma comédia.

É até bom eu ter tocado nesse assunto, pois é uma preocupação que eu tive assistindo “Girlfriend Girlfriend“: Isso parece que poderia se tornar um relacionamento abusivo muito rapidamente. Embora estejamos tratando tudo na brincadeira e na suspenção de descrença, é um desenvolvimento que poderia acontecer facilmente, se assim o autor desejasse. Eu espero que não, e que continuemos pensando apenas no absurdo da situação para darmos gostosas risadas.

Minha cara quando a comédia-romântica inevitavelmente vira um drama na segunda metade (Reprodução: Crunchyroll)

Com um humor absurdo e absurdamente bem bolado, “Girlfriend Girlfriend” foi uma das estréias mais divertidas da temporada, e será o animê que ficarei mais ansioso por assistir. Se fosse para dar uma nota para esses dois primeiros episódios, seria um sólido 9/10, e, claro, acompanhado do recado de que o show é melhor apreciado ao não ser levado a sério.

O animê está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, com legendas em português, e novos episódios todas as sextas.

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Jessica Henwick, Josh Duhamel e mais, conheça o elenco da série animada Blade Runner: Black Lotus

O Deadline disponibilizou o elenco de dublagem norte-americano e japonês de Blade Runner: Black Lotus, série animada com estreia prevista para o segundo semestre de 2021 no Adult Swim e Crunchyroll. 

Jessica Henwick/Arisa Shida, Josh Duhamel/Taiten Kusunoki, Will Yun Lee/Shinshu Fuji, Samira Wiley/Takako Honda, Brian Cox/Takaya Hashi, Wes Bentley/Takehito Koyasu, Peyton List/Yoshiko Sakakibara, Stephen Root/Hochu Otsuka, Barkhad Abdi/Takayuki Kinba, Gregg Henry/Masane Tsukayama, Henry Czerny/Akio Nojima e Jason Spisak/Kazuki Yao serão respectivamente serão respectivamente Elle, Marlowe, Joseph, Alani Davis, Niander Wallace Sr, Niander Wallace Jr, Josephine Grant, Earl Grant, Doc Badger, Bannister, Doutor M e Hooper. 

Confira a mais nova imagem de Black Lotus logo abaixo. 

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A animação se passará em 2032 e conectará os dois filmes da franquia, sendo uma espécie de ponte entre eles. Rostos novos e conhecidos irão compor a trama de Black Lotus. Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop) será o produtor criativo enquanto Sola Digital Arts é quem está cuidando do visual do projeto.

Para futuras informações a respeito de Black Lotus, fique ligado aqui, na Torre se Vigilância.

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Buscando uma vida tranquila em outro mundo

A essa altura, já deveríamos ter adicionado a palavra “isekai” ao dicionário. Não só da lingua portuguesa, como de todos os idiomas. É um termo tão recorrente quando o assunto são animês, que explicamos mais vezes do que gostaríamos de admitir. De forma breve, se traduz como “outro mundo“. Para uma descrição mais aprofundada, recomendo um outro texto: O Futuro do Isekai e “My Next Life as a Villainess”

Quando se cria um mundo completamente novo (e claro, uso o termo “completamente novo” com licença poética), você cria quantas oportunidades quanto você quiser. Esse mundo pode abrigar qualquer tipo de história ou narrativa, cabendo apenas ao autor decidir o que fazer com ele. Assim, é muito comum encontrarmos isekais onde temos uma trama épica, de proporções catastróficas. Onde a personagem principal é colocada numa posição onde precisa lutar contra o mal (ou pelo mal!), precisa estar no centro da ação para viver ou sobreviver. São situações extremamente incomuns no nosso mundo, e por isso, requerem um mundo de fantasia para acontecer.

Captura de tela do episódio 1 de "I've been killing slimes for 300 years and maxed out my level"
Como você pode já saber, dragões são super irados, mas, infelizmente, não existem em nosso mundo… Precisamos de um novo, se quisermos dragões.

Mas, recentemente, temos visto o crescimento de um tipo específico de fantasia. Uma história tão absurda para o nosso mundo, que realmente requer um mundo completamente novo para ser viável. Mas ela não envolve guerras, conflitos ou destruição eminente. A fantasia que vem se popularizando como sub-gênero do isekai é a de viver uma vida tranquila.

Colocando dessa forma, chega a ser um pouco triste, não é? E de certo modo, não deixa de ser mesmo. Um dos temas mais comuns para o início desses shows está em uma situação que se torna cada vez mais comum no Japão (principalmente lá, mas não exclusivamente), que é o excesso de trabalho. As chamadas “Black Companies“, empresas onde pessoas morrem de trabalhar (as vezes, literalmente), por violações nas leis trabalhistas e cargas absurdamente altas de horas-extras, muitas vezes sem remuneração adequada.
Com abusos de seus superiores, uma promessa vazia de crescimento de carreira, e ameaças de ter seu nome sujo no mercado caso desistam, muitos jovens acabam presos nesse ciclo tóxico de viver para trabalhar.

Captura de tela do episódio 1 de "I've been killing slimes for 300 years and maxed out my level"
A história de Azusa é apenas uma de várias como a dela…

E é a quebra desse ciclo, e um desejo por uma vida tranquila e de paz, que dá início a dois dos animês que terminaram sua exibição recentemente. Ambos abordam essa mesma temática, mas cada um consegue tomar seu próprio rumo e, dentro de gêneros diferentes, usar o melhor que seu respectivo gênero tem a oferecer para dar às nossas protagonistas um tão merecido descanso.

Esses shows são, é claro, “I’ve been killing slimes for 300 years and maxed out my level” e “The Saint’s Magic Power is Omnipotent“. Só de ler os dois nomes em sequência, eu já deveria cobrar hora extra… Mas vamos falar sobre eles.

No primeiro título nós acompanhamos, com todo o bom humor que uma comédia pode nos dar, a nova vida de Azusa, reencarnada em um novo mundo de fantasia e magia, após morrer de trabalhar.

Após trezentos anos de paz e tranquilidade, uma quantidade honestamente absurda de acontecimentos em sequência faz com que, aos poucos, a protagonista comece a repensar sua estrutura familiar. Talvez, a companhia de algumas pessoas não seja tão ruim, não é?
Com uma atmosfera aconchegante e acolhedora, a Bruxa das Terras Altas consegue “montar” uma família feliz, para finalmente receber a interação “humana” (bem… élfica, dracônica, demoníaca, fantasmagórica… vocês entenderam) e o amor fraternal que ela precisou abandonar em sua vida passada.

Numa mistura quase que perfeita de humor absurdo, previsibilidade como forma de imprevisibilidade, interessantíssimas interações de personagem, incrível trabalho técnico (principalmente de sonoplastia e visuais) e clima fofinho ownnt cuticuti, “Killing Slimes” se firmou como meu show predileto da temporada, e, até aqui, também do ano.

Já no segundo título, nós acompanhamos a nova vida de Sei, evocada para um novo mundo de fantasia e magia, deixando para trás um planeta Terra onde trabalhava exaustivamente.

Ao contrário de “Killing Slimes“, que é uma galhofa proposital, a história da nossa Santa em “Saint’s Magic Power” é surpreendentemente pé no chão. É claro que é necessário um certo grau de suspensão de descrença para lidar com toda a abobrinha mágica, mas quando isso é colocado de lado, vemos uma mulher adulta que lida com a sua vida de forma racional. E “racional” não significa “chata”: Sei é uma mulher de ótimo humor, com um repertório de vida que faz seus pensamentos serem bastante interessantes.

Embora sua vida não seja tão “tranquila” quanto a de Azusa, Sei está, também, vivendo uma realidade que não tinha em seu mundo original: Uma rotina onde ela se sente realizada, onde ela consegue deitar na cama no final do dia e, mesmo que cansada, pensar que tudo valeu a pena. É uma demonstração de que a exaustão pode ser, também, um sinal de que você está se divertindo com o que faz.

Com uma sinceridade que faz falta nos dias de hoje, o animê consegue ser sério e divertido ao mesmo tempo. E ele também serve como um refúgio para quem está cansado de ver séries sobre adolescentes, pois tem um elenco de adultos, e, mais importante, que agem como adultos.

Você pode assistir “I’ve Been Killing Slimes For 300 Years and Maxed Out My Level” na Crunchyroll, com legendas em português, e também com a opção dublada, que está sendo lançada semanalmente (e, até o momento, temos cinco episódios com dublagem brasileira). Já “The Saint’s Magic Power is Omnipotent” está disponível, com legendas em português, na Funimation.

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Vlad Love é uma declaração de amor ao caos

Clichês são, de certa forma, o ápice da literatura. Afinal, para que algo se torne um clichê, ele precisa ser usado à exaustão, e só existe um motivo para quererem usar algo tanto assim: Essa coisa precisa ser boa. Quando chegamos no patamar de clichê, porém, a necessidade de inovação se torna maior e mais importante, fazendo com que mudanças e reviravoltas precisem ser adicionadas ao seu roteiro. Um exemplo clássico disso são as velhas histórias de vampiro. Desde “The Vampyre“, tivemos diversas pessoas tentando fazer algo novo: Bram Stoker, Stephenie Meyer, Jorge Fernando…

E como o nome sugere, “Vlad Love” é uma história de vampiro. Ao menos, é a ideia que ela tenta te passar. Só que dessa vez, o destaque está na reviravolta que precisa existir para saírmos do clichê: Existem coisas pequenas e existem coisas grandes. Existem coisas enormes, e existem coisas colossais. E, acima de tudo isso, existe seja lá o que aconteceu nesse show.

A sinopse e o trailer, ambos cortesia da Crunchyroll:

Mitsugu Bamba é viciada em doar sangue, e visita bancos de sangue tão frequentemente que chega a atrair a inimizade das enfermeiras. Certo dia, Mitsugu encontra uma bela garota que parece ter vindo do exterior. Ela é tão pálida que parece prestes a desmaiar, então Mitsugu decide levá-la pra casa…

Para entender o que, e principalmente, o como isso sequer saiu do papel, precisamos conhecer o responsável (ou “culpado“, se preferir) por tudo: Mamoru Oshii.
Atualmente o meu diretor predileto, esse homem é responsável não apenas por títulos que você conhece, mas também por difundir uma boa parte dos diversos esteriótipos de animê que são usados até hoje.
Como cineasta, dirigiu filmes que quebraram recordes, como Ghost in the Shell (1995, com sequência em 2004) e Patlabor (1989, com sequência em 1993). Para o nosso contexto, porém, creio que seu maior mérito esteja em Urusei Yatsura, animê de 1981, que é a própria definição do gigante naquela famosa frase de Isaac Newton, sobre “ver mais longe“.
Se esses nomes não te deram contexto nenhum, significa que você não está familiarizado com esse lado da internet, e, muito provavelmente, “Vlad Love” seria um baque grande demais pra você suportar.

Por mais incrível que possa parecer, esse nem é o clube mais esquisito da escola

Aí você pega um diretor que, pelo histórico que tem, sabemos que gosta de fazer coisas absurdas e impensáveis… e dá a ele carta branca para fazer o que ele quiser, do jeito que ele quiser. Como foi um animê completamente patrocinado por uma única empresa privada, Mamoru Oshii recebeu o dinheiro e teve a liberdade de simplesmente fazer o que diabos ele tivesse afim. Ele não precisava ser coeso, ele não precisava criar algo que fizesse sentido. Ele podia apenas fazer por fazer. A habilidade – e, talvez, a possibilidade – de criar tantas tangentes quanto ele quisesse é, indubitavelmente, a própria essência de o que é o “caos“. E a frase anterior é pomposa de propósito.

Não vou contar tudo o que acontece na animê, para você ainda ter a chance de viver essa experiência surreal em primeira mão, mas só para te dar uns exemplos: Temos desde referências a quadrinhos avant-garde da década de 60; pausas de vários minutos para ler artigos da Wikipedia sobre assuntos diversos; Escolhas artísticas e visuais que são ousadas até mesmo para o próprio Mamoru Oshii… São coisas tão absurdas que quando chegamos na violência gratuita, nas quebras de quarta parede e nas piadas com direitos autorais, elas parecem até normais demais.

Por mais incrível que possa parecer, essa nem é a pausa para ler um artigo da Wikipedia mais esquisita do show

O resultado é que, em sua essência, Vlad Love não é uma história. O animê é apenas um delírio coletivo, uma alucinação liderada por um homem louco e que não tem nada a perder, e que está disposto a entregar uma experiência surrealista e irracional para qualquer pessoa insana o bastante para querer recebê-la. Ao abraçar o caos em sua mais pura forma, o show se torna a própria definição de “comédia“, ao ser completamente impossível de se prever, tal como dita o terceiro princípio do gênero.
E, se não conhece os três princípios da comédia, um outro show pode te apresentar ao conceito: “A Destructive God Sits Next to Me“.

Assim como uma seita, é preciso aceitar a doutrina completamente sem pé nem cabeça e se tornar um seguidor fanático. Sem essa aceitação, o animê simplesmente não funciona, e por isso, ele acaba sendo extremista: Ou você o ama religiosamente, ou você o odeia tanto quanto o diabo odeia a cruz. Se você acha que gosta de humor absurdo e nonsense, Vlad Love é, com certeza, um teste para ver se isso é verdade.

Por mais incrível que possa parecer, essa nem é a quebra de quarta parede mais esquisita do animê

Se acredita que é verdade, eu não poderia recomendar mais esse show, que, acredito eu, foi o responsável por queimar o resto dos fusíveis que eu ainda tinha funcionando na cabeça. E eu os queimaria novamente com o maior prazer.

Caso seja o seu tipo de animê, a única avaliação possível para “Vlad Love” é Diamante. Mas só se for o seu tipo de animê.
Você pode assistir “Vlad Love” completo na plataforma de streaming Crunchyroll, com legendas em português.

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O destino de comédias-românticas com “As Quíntuplas”

Não faço segredo para ninguém que comédias-românticas são um dos meus gêneros prediletos. Eu adoro comédias no geral, e defendo que animê, como mídia, é perfeita para gerar humor. Juntar a mídia perfeita com um dos subgêneros mais bem sucedidos dela é como um pastelzinho com caldo de cana: Mesmo se der errado, ainda vai ter valido a pena.

Com autoria de Negi Haruba, “As Quíntuplas” (no original, “Gotoubun no Hanayome“) é um mangá de comédia-romântica, completo no Japão em 14 volumes, e que se transformou em, até o momento, duas temporadas de animê, com 24 episódios no total. E, é claro, foi a minha inspiração para essa postagem.

Quando a primeira temporada saiu, em 2019, eu comentei sobre ela no “Primeiras Impressões“, e o show acabou se tornando o meu animê predileto daquele ano – desbancando títulos como Kaguya-sama e Demon Slayer – e por um bom motivo: Foi uma das melhores comédias-românticas que eu já assisti, a ponto de me fazer sobreviver 2020 para assistir a segunda temporada. E ainda bem que eu consegui.

Captura de tela do episódio 7 de "The Quintessential Quintuplets 2"
Eu pensando no pastelzinho com caldo de cana enquanto escrevo o resto da postagem

Com o mangá recentemente lançado no Brasil, eu tive a oportunidade de consumir a mídia das duas formas: No original e na adaptação. E fico muito feliz em poder dizer que as duas são equivalentemente boas, com cada uma delas trazendo aspectos e características diferentes para uma mesma história, fazendo com que cada versão possa agradar um público diferente.

Fora as mudanças claras que existem na forma de consumir cada mídia (e isso, talvez, já pode servir como diferenciação de público. Eu, por exemplo, não tenho costume de ler mangá, então fiquei um pouco desconfortável com o livro em mãos), os dois grandes fatores em jogo são cor e som.

Isso pode parecer óbvio, mas a mera existência desses dois fatores faz com que o animê seja uma experiência completamente diferente. Quando tratamos das irmãs Nakano, nós sabemos que elas são quíntuplas idênticas. Logo, não deveria existir diferença na voz ou na cor dos cabelos entre as cinco garotas. Isso não é um problema no mangá, que é todo em preto-e-branco, e onde a voz não passa de um balão de fala. Quando elas “brincam” de trocar de lugar uma com a outra, a versão impressa torna a história muito mais acreditável, e levanta mistérios muito mais potentes, por nunca sabermos, de fato, quando alguma irmã está se passando por outra, ou qual delas é a responsável.

Por outro lado… O animê diferencia as garotas com cores de cabelos imaginárias, e nenhum produtor em sã consciência deixaria sua dubladora fazer cinco personagens num show semanal (que era a ideia inicial, como pode ser visto nesse comercial do mangá, que precede o animê), então temos também diferentes vozes. Como você pode imaginar, isso destrói completamente a brincadeira de adivinhação, fazendo com que o show acabe se tornando acidentalmente mais engraçado, de tão idiota que é a situação. E pra mim, que veio assistir uma comédia-romântica por conta do primeiro pedaço, isso é um ponto positivo.

Na esquerda, captura de tela do episódio 9 de "The Quintessential Quintuplets"; Na direita, foto de uma página do volume 4 de "As Quíntuplas"
Ok, o tamanho dos cabelos entrega um pouco… Mas a falta de cor já ajuda a confundir todas as cinco, não ajuda?

Aliás, já que toquei no assunto… Apesar de gostar muito de comédias-românticas, elas parecem ter um problema que é estrutural, impossível de fugir: Elas costumam virar um drama na segunda metade.
E isso não é exatamente um “problema“… Acaba sendo uma das características que fazem o gênero ser o que é, e, para muitos, pode ser o fator determinante entre gostar ou desgostar de uma obra.
Aí eu só posso falar por mim, mas tem vezes que essa virada de chave é muito repentina e/ou muito brusca pro meu gosto. Eu não me importo muito com o drama, mas eu simplesmente prefiro a comédia, então, quando o show faz um completo 180º e se torna um drama completo, isso me deixa um pouco decepcionado.

Talvez seja um “azar” meu, mas esses casos de troca violenta de ritmo parecem ser muito comuns, pelo menos nas coisas que eu assisto. Por causa disso, eu precisei aplaudir de pé a coragem que “As Quíntuplas” teve ao ser muito mais sutíl em sua abordagem dessa mudança, que, aparentemente, é obrigatória em todo e qualquer tipo de comédia-romântica.

Em sua segunda temporada, o animê entra na inevitável parte dramática, e ao perceber o caminho que estávamos indo, eu já revirei meus olhos em desgosto. Porém, vocês podem imaginar o tamanho do meu sorriso ao perceber que, embora o drama tivesse chegado, o humor havia se mantido. Num balanço quase inacreditável de cenas sérias e cenas absurdas, o show conseguiu ter quase dois arcos inteiros e consecutivos de histórias de novela, sem abandonar suas raízes como comédia, fazendo com que eu me mantivesse dando risadas mesmo quando o mundo estava literalmente em chamas.

É um caso exatamente oposto ao de outra comédia-romântica que eu já comentei aqui: Oregairu. Não me levem a mal, eu adoro Oregairu, e acredito ser um dos finais mais satisfatórios que eu já vi, mas… Logo no começo da sua segunda temporada, o show parece desistir de ser uma comédia e fica totalmente dedicado ao drama. Eu precisei parar de encarar as aventuras de Hachiman como uma comédia, e começar a encará-las como um drama. E como um drama, elas são excelentes.

Captura de tela do episódio 1 de "The Quintessential Quintuplets 2"
No momento, o drama é assistir elas serem vacinadas e eu não estar nem próximo de tomar a minha…

Como já comentado, a mágica desse gênero está em atrair tanto quem goste de drama (e precisa passar por um sofrido começo cômico), como quem gosta de comédias (e acaba sofrendo com os finais dramáticos de suas obras prediletas). Com um desenvolvimento que mescla os dois lados da moeda, Negi Haruba parece ter empatado seu cara-ou-coroa ao derrubá-la de lado, trazendo tanto gregos como troianos para sua obra, com essa decisão tão diferente que parece até esquisita.

E ninguém esperava por isso. Não só com “As Quíntuplas“, mas com todas as comédias-românticas que existem, os fãs não sabem como uma obra vai se direcionar. Quanto tempo ficaremos na parte “cômica“, até entrar o drama? A história vai virar uma novela? Se sim, vai virar “Amor de Mãe” ou “Ti Ti Ti“? São perguntas que só podem ser respondidas conforme a própria obra se encaminha para seu desfecho. Se eu não fosse químico e odiasse o uso errôneo desse exemplo, poderia dizer que toda comédia-romântica é um “Drama de Schrödinger“, e que talvez esse mistério seja o maior motivador de fãs do gênero.

Caso tenha ficado interessado em “As Quíntuplas“, e queira conferir por você mesmo, o mangá é licenciado no Brasil pela Editora Panini, e você pode encontrar os volumes já lançados na Amazon. Se preferir o animê, as duas temporadas estão disponíveis na plataforma de streaming Crunchyroll, sob o nome “The Quintessential Quintuplets“, e possuem legendas em português.

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11 anos depois, Angel Beats ainda é perfeito no meu coração

Algum tempo atrás, fiz uma postagem sobre o valor de revisitar conteúdos, em oposição a consumir coisas novas. Acredito ser uma das minhas melhores obras, e ela foi justamente a inspiração para esse texto de hoje. Se não viu ainda, recomendo dar uma olhada: O valor de revisitar conteúdos já conhecidos.

Em suma, o que nos trouxe aqui hoje foi um experimento simples: O Vinicius de hoje tem os mesmos gostos que o Vinicius de 11 anos atrás? Pegamos um animê que, até então, eu considerava como um dos meus favoritos, e que sempre tive certo “receio” de rever: Angel Beats. Queria descobrir se eu continuaria gostando tanto quanto eu gostei no passado, e se eu teria uma visão diferente daquela que tive na primeira vez.

Inclusive, decidi fazer isso justo agora por um motivo especial: 3 de abril de 2021 marca o décimo primeiro aniversário do lançamento do show. O primeiro episódio foi exibido na televisão japonesa justamente nesse mesmo 3 de abril, no longinquo ano de 2010. Posso estar exagerando um pouco, mas ouso dizer que foi um animê que marcou não só o gênero, como toda uma geração de fãs. Pelo menos, me marcou.

O clássico episódio de beisebol, sempre sendo usado para desenvolvimento de personagens e, claro, como mote para várias piadas.

Sendo a mais nova – na época – artimanha de Jun Maeda e da Key, todos os olhos estavam voltados para Angel Beats: Com antecessores como Clannad e Little Busters, o público estava preparado para mais uma obra repleta de comédia e recheada de drama, com apenas um pequeno toque de magia e muito, mas muito beisebol.
Afinal, se existe um escritor que é consistente em suas obras, é justamente Jun Maeda. Um dos fundadores do estúdio “Key” (parte do grupo “Visual Arts“), ele é formado em psicologia pela Universidade de Chukyo, e olha… ele usa bastante o diploma. Os roteiros que escreve são conhecidos por serem fortes, alegres, tristes, engraçados, intensos e até cruéis, tudo ao mesmo tempo. Com os já anteriormente citados “Clannad” (Visual novel de 2004, com animação em 2007) e “Little Busters!” (Visual novel de 2007, até então sem animação) sendo considerados “clássicos”, e tendo mais ou menos a mesma temática, nós já tínhamos uma ideia de o que esperar de Angel Beats.

Mas é claro que em 2010, o pobre Vinicius de 14 anos não tinha a menor noção de nada disso. Ele tinha acabado de começar a assistir animês, tendo apenas visto alguns episódios de Naruto e os clássicos Dragon Ball e Sakura Card Captors na televisão.
Hoje, me recordo de ter adorado o show, e que ter assistido sem ter muita noção do que esperar foi parte do motivo. Eu simplesmente recebi uma indicação de um amigo meu (se estiver lendo isso, Nishida, grande abraço!), e fui atrás dos dois ou três episódios já lançados no momento. A cada semana, foi uma surpresa nova, uma risada nova, um sentimento novo.

O problema é que onze anos é muito tempo, bicho. Minha nossa, que tristeza pensar nisso… E com o tempo, memórias vão se deteriorando. O próprio conceito de “memória” é uma coisa horrível, pois ela deveria servir para nos recordar do passado, mas elas acabam apagando todos os detalhes e nos deixando apenas com o “sentimento geral” daquela situação.
Até reassistir o animê nesses últimos dias, eu me lembrava vagamente do show. Eu tinha certeza de que era algo divertido e emocionante, que me marcou muito e que eu considerei, na época, como uma das melhores coisas que eu conhecia. Mas… Se me perguntassem “por quê?“… Eu não saberia responder. Eu mal poderia dar uma sinopse de todos os arcos que ocorrem nos exorbitantes treze episódios. Nem é tanta coisa assim, sabe? E mesmo assim, minha memória era apenas uma bolota flutuante que dizia “Angel Beats bacanudo” e nada mais.

Só que agora, eu revi o show. Sentei por treze episódios e assisti tudo novamente. Uma coisa que eu não tinha nem como apreciar no passado (pela falta de experiência), e que vi agora com outros olhos, foi a qualidade técnica de Angel Beats. Não preciso nem entrar no mérito de história ou trama pra isso. Falo mesmo da questão de estúdio, de direção, de animação, de dublagem. Até para os padrões de hoje, o animê é absurdamente bem feito. É bonito e bem animado (como já era de se esperar do Estúdio P.A. Works e nomes como Tadashi Hiramatsu e Katsuzou Hirata na equipe); tem OST de fazer inveja; umas três ou quatro (até perco a conta!) insert songs; um elenco de dubladores que reuniu os maiores nomes da época (com muitos deles estando no ápice de suas carreiras até hoje, como Kana Hanazawa e Kamiya Hiroshi)…
Não dá pra negar que uma quantidade enorme de dedicação, recursos e talento foi colocado nessa produção, que, com certeza, venceu o teste do tempo nesses quesitos.

Com apenas treze episódios, não dá para falar de todo mundo. Mas, talvez, seja melhor assim.

E quando entramos, de fato, no mérito da trama… Angel Beats é um show agridoce, como tudo que a Key custuma fazer. E, depois de ponderar um pouco sobre o assunto, acho que cheguei na conclusão de que isso é feito com o uso de elipses.
Vou explicar: A gente tem um elenco absurdo, personagens interessantíssimas e que sabemos, com certeza, que possuem uma história e um motivo para estar ali. Muitas delas nos deixam curiosos para entender o que aconteceu, ou o porquê de ter acontecido. Afinal, quem diabos é TK, e por qual motivo ele só fala em citações musicais? Por que Shiina age como uma ninja? O quão sofrida pode ter sido a vida de um jovem faixa preta 5º dan em judô?
Quando decide NÃO te dar essas respostas, Jun Maeda está reforçando ainda mais o impacto das histórias que ele decidiu te mostrar. Esse “ar de mistério” que cerca não só as personagens, como toda a trama, é que faz com que os pedaços que foram, de fato, elucidados, se tornem tão marcantes.
Isso é feito com grande maestria com o próprio protagonista. Privar o público do passado de Otonashi não é apenas uma ferramenta de roteiro para que a obra comece. É, também, uma elipse ao nos mostrar apenas metade da história, fazendo com que o final dela seja tão mais memorável.

Voltando ao ponto principal, que seria a minha interpretação atual: Assistindo a cada episódio, eu senti mais e mais que Angel Beats foi algo feito para mim. Ele tem as principais características que eu amo nessa mídia, e que comento sempre que posso. Animês são a mídia perfeita para comédia esdrúxula e, ao colocá-la no meio de um drama comovente que te faz chorar igual um bebê, você atinge um balanço ideal.
E, se entendermos o contexto em que esse show existiu na minha vida, é muito provável que ele seja um dos responsáveis por moldar o meu gosto. Possivelmente é o motivo de eu ter um fraco por comédias absurdas e um fraco ainda maior por qualquer historinha triste mequetrefe (por mais que eu tente esconder o fato de ser movido à lágrimas facilmente).

Impossível negar, porém, que chegar para assistir um show (ou ler um livro, ver um filme, ouvir uma música… A ideia é aplicável para qualquer mídia) já com “sentimentos” – a grande bolota que citei mais cedo – faz com que essa experiência não seja tão nova assim: Você já tem alguns pré-conceitos (talvez pós-conceitos?) que afetam a sua visão.
Por outro lado, justamente a existência desses “sentimentos” já é um fator que diferencia a sua nova jornada da primeira.

A história se aplica ao próprio show, onde personagens passam por coisas que os mudam, e mudam as percepções de mundo deles.

De novo trago a velha história do rio: A pessoa que assistiu Angel Beats hoje é completamente diferente da pessoa que assistiu Angel Beats 11 anos atrás. O modo de assistir, o clima e a visão do mundo, a personalidade, a visão de si próprio… Tudo isso mudou, apenas para citar alguns pontos. O show pode ser exatamente o mesmo, sem tirar nem por, mas eu não sou. Isso permitiu que essa experiência “velha” pudesse ser uma “nova” experiência, e que abriu novas interpretações e sentimentos, agregando novidades à bolota de memórias.

Um exemplo muito claro disso é minha relação com uma das personagens: Na experiência “velha“, lembro de não ter ido muito com a cara da Yui, por ser uma garota extremamente enérgica e que me dava uma impressão ruim. O impacto do passado dela não foi, nem de perto, tão grande quanto na experiência “nova“, onde eu tinha uma mente mais aberta e consegui me solidarizar com a garota.

A conclusão que podemos tirar disso tudo é que eu posso ficar tranquilo, pois os meus shows favoritos (muito provavelmente) continuam sendo meus shows favoritos, mesmo depois de tantos anos. Assim, graças a Deus, não precisarei mais rever uma cacetada de animês. Eu confio no meu eu do passado e nas minhas queridas bolotas.
É uma desculpa a menos para não assistir coisas novas, mas é um preço que estou disposto a pagar.

“Angel Beats” está disponível na Crunchyroll, todos os 13 episódios com legendas em português, e é um animê que eu não poderia recomendar mais. Mas acho que esse ponto já ficou claro, né?

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Primeiras Impressões | Heaven’s Design Team

Depois de anos escrevendo introduções onde falo que há novos animês sendo lançados com a mesma frequência de sempre, eu acabei ficando sem ideias para começar essa postagem. Mas, assim como a clássica “crônica sobre escrever uma crônica“, podemos ser metalinguísticos de vez em quando.
A questão é que depois de 2020 ter sido como foi, ficar sem palavras nem é tão estranho assim. Pelo menos o ano acabou, e com 2021 parecendo ser mais esperançoso, podemos ao menos fingir que haverá melhora, enquanto nos confortamos com um bom e velho show de humor. E esse aqui é justamente o que você precisa nesse momento!

Baseado no mangá – ainda inédito no Brasil – de Tarako, Hebi Zou, e Tsuta Suzuki, “Heaven’s Design Team” – o show que vamos tratar hoje – te dá logo de cara aquilo que é um dos pontos mais importantes para uma comédia: um clima animado e alto-astral. Embora seja possível (e alguns shows trabalham muito bem com isso), é difícil dar risada quando tudo parece deprimente.
Conseguimos esse clima com uma junção de diversas coisas, que se complementam de forma muito bem pensada: Um visual bonito e caricato no grau certo, com muita cor e liberdade artística (com destaque para Mijo Tanaka, responsável pelo design de cores); Um elenco de personagens divertido e que se completam, tornando toda interação uma interação interessante e com um grau de intimidadade que traz conforto; e uma trilha sonora que intensifica tudo isso (graças a nomes como Hayato Matsuo e Satoki Iida no controle musical).

Tendo como premissa um absurdo, é surpreendente pensar que o animê não é tão absurdo assim. Embora tenha suas eventuais cenas absurdas e que, até então, tiveram um timing decente, o quadro geral do humor do show está mais em quebra de expectativas.
Mas todo humor é sobre quebra de expectativas!“… Bem, sim. A diferença é pensar na quebra de expectativa desde o começo. Ainda é uma quebra de expectativa quando você sabe que a piada é justamente uma quebra de expectativa? Logo de cara você já percebe que tudo vai funcionar na base de incitar você a pensar em um animal, quando a resposta é outro, completamente diferente.

E é aí que entra a parte educacional do negócio. Temos pequenas esquetes ao longo dos episódios que contam algumas curiosidades sobre os animais citados, além de te mostrar uns filmezinhos reais no melhor estilo “documentário do National Geographic“.

Imagem do episódio 3 de "Heaven's Design Team"
Se você morre de saudades de aprender curiosidades de animais ao assistir TV Cultura, esse show é pra você!

Já aproveito o parágrafo anterior para fazer uma comparação impossível de passar batido, pois vai também nos ligar com o próximo ponto: Cells at Work! (Veja também: Primeiras Impressões | Cells at Work!). Ambos são shows com uma pegada extremamente semelhante de humor alto-astral e educativo, e com um início bastante forte. Por serem tão parecidos, é que eu tenho medo de Heaven’s Design Team sofrer do mesmo problema que Cells at Work! sofreu: Cair no marasmo de ser repetitivo demais.

Eu sei que a repetição é o primeiro princípio da comédia, mas como já comentei antes (nessa postagem aqui), a repetição precisa ser feita da maneira certa, ou fica repetitiva demais, e acabamos ficando cansados de mais do mesmo. Foi o que aconteceu com Cells at Work, que fez questão de nos dar uma introdução de um minuto todo episódio antes da música de abertura… Coisa que acontece também com “Heaven’s Design Team”.

Além disso, todo o lance “educativo” pode acabar ficando massante depois de um tempo. Apesar de serem esquetes divertidas e fofinhas, a maior parte das “curiosidades” passadas são coisas bastante comuns e conhecidas. Se você, assim como eu, possui um repertório de “conhecimento aleatório” gigante, os cortes acabam ficando entediantes. Além disso, existe a possibilidade de você simplesmente… Não se importar: Todos nós (ou, pelo menos, a maioria de nós) já saímos da escola, e ninguém tem mais saco para aulas de biologia, né?

Imagem do tema de encerramento do animê "Heaven's Design Team"
Não importa o quão legal seja uma luta de gigantes: Baleia x Lula; Kong x Godzilla… Uma hora, o negócio cansa.

Em resumo, o show me passou uma impressão muito positiva, com um humor amigável e bastante aberto para todos os públicos. A torcida é para que ele não acabe sendo repetitivo e mantenha o embalo até o final, coisa que eu queria muito que acontecesse, mas não estou com muitas esperanças. Porém, o que importa é o que tivemos até então, e até então, o animê fica com um 7/10 e um selo “Sessão da Tarde” de aprovação.

Heaven’s Design Team” está disponível com legendas em português na plataforma de streaming Crunchyroll, com novos episódios toda quinta-feira.

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O valor de revisitar conteúdos já conhecidos

Minha mãe nunca foi muito de ver televisão. Ela assiste novelas e programas de fofoca como todo brasileiro médio faz (mesmo que escondido), mas nada muito além disso. Por isso, fiquei bastante surpreso quando, há uns dois anos, ela me pediu para usar minha conta da Netflix (que eu também não uso, pra ser sincero). Ela queria assistir “Grey’s Anatomy”, por recomendação de algumas amigas.

Quinze temporadas depois, me pego perguntando o que será que ela assistirá em seguida. Afinal, ela tinha criado um hábito de sempre sentar para assistir seu seriado durante a noite. Cheguei a pensar em algumas recomendações, caso ela viesse perguntar por elas, mas a conversa que tive foi inesperada: “Vou reassistir tudo do começo”.

Introdução feita, vamos falar sobre o tema da postagem: Qual o valor de revisitar obras que você já consumiu? Qual o balanço ideal entre consumir novas coisas e buscar de novo aquilo que já foi consumido? Esse é um assunto relevante o bastante para se discutir?

Vou começar respondendo a terceira pergunta: Não, não é. Não acho que precisamos discutir ou criar conversas elaboradas sobre o assunto. Afinal, acaba sendo uma coisa pessoal e de opinião, certo? Isso sim é questão de opinião. Minha mãe não está fazendo mal a ninguém por reassistir Grey’s Anatomy inteiro pela quinta vez (sim, pois é). Então… tudo bem? Se ela prefere assistir a mesma coisa de novo ao invés de conhecer novas séries, pra quê discutir?

Então é isso. Acabou a postagem. Valeu galera, e até a próxima.

Foto de Patrick Dempsey, no papel de "Derek Shepherd", em "Grey's Anatomy"
E foi aí que o problema começou… Aquele sorriso… Aquele maldito sorriso…

Ok, ok. De verdade, acredito que a questão principal é que existem dois grupos bem distintos de pessoas, e elas não costumam entender o outro lado. As pessoas que preferem conteúdo novo não entendem a motivação das pessoas que gostam de revisitar conteúdo já conhecido, e vice-versa.

Como uma pessoa que era membro fanático dos exclusivetes, mas que está começando a virar a casaca, acredito que posso falar pelos dois lados.

Seja lá qual a mídia que você gosta de consumir, pode ter certeza que existe o suficiente para que você possa ficar o resto de sua vida sem precisar repetir uma única vez. Séries? Mais de mil delas, só na Netflix; Filmes? Provavelmente mais de cem mil já foram produzidos; Quadrinhos? Só na sua estante você deve ter uns trinta que não foram lidos ainda; Animes? Só a Crunchyroll oferece mais de 700 títulos no Brasil; Livros? São escritos há literalmente milhares de anos.

Com catálogos tão grandes, e tantas experiências novas podendo ser descobertas, muitas pessoas acabam tendo dificuldade em se imaginar “perdendo tempo” ao rever um filme ou reler um quadrinho que já conhecem. Quem sabe esse livro não é aquele que se tornará o meu novo favorito? Não saberei até terminar de lê-lo!

Por outro lado… Só existe um único favorito. Sempre haverá apenas um “melhor”. Isso significa que todos os outros não serão tão bons assim. As chances dessa coisa nova ser pior do que eu imagino são bem maiores do que a de ser algo melhor do que eu espero, não é? Mais vale ter certeza de que aquilo que estou consumindo é, de fato, bom. Assim, eu maximizo o meu tempo!

Mas, quando temos uma infinidade de possibilidades disponíveis, parece um pouco presunçoso pensar que você já encontrou sua alma gêmea. Claro que você pode ter gostado muito desse livro, mas achar logo de cara que ele é a maior invenção da humanidade desde o filtro de barro é forçar um pouco a barra. Que tal analisar aquilo que você gostou, e tentar entender o motivo de ter gostado daquilo? Você pode acabar encontrando alguns gêneros ou tipos de histórias que te agradam, e pode buscar isso em novas obras.

Dois exemplos disso, um que deu certo, e outro que não deu: Voltamos pra minha mãe. Ela adorou Grey’s Anatomy. Assim, recomendei que procurasse outras séries médicas. Ela assistiu “The Good Doctor: O Bom Doutor” na Globo Play, e o resultado? Ela não gostou. No final das contas, o que fez com que ela gostasse de Grey’s Anatomy não era o fato de ser uma série médica. Logo depois, ela começou a assistir “Lucifer”, na Netflix, e adorou o novo passatempo. Conclusão? Descobrimos que ela está mais interessada em romances no ambiente de trabalho do que em hospitais. E agora, ela tem exorbitantes DOIS seriados que ela gosta de assistir!

Foto de "Tom Ellis" no papel de "Lucifer"
Espere aí… talvez eu esteja começando a notar um padrão nos seriados que minha mãe gosta…

Além disso, tem aquele ditado lá né? “Nunca se banha duas vezes no mesmo rio”. Acho um péssimo ditado pois ele é um dos poucos ditados que requer corolário. Ele diz isso pois na segunda vez, tanto o rio como você já estão mudados, fazendo com que “outra pessoa” esteja se banhando em “outro rio”… Enfim. No contexto, o que quero trazer é que com o passar do tempo, com o ganho de novas experiências e de novas perspectivas, é possível que sua visão de uma obra mude.

Recentemente, tivemos a terceira e última temporada de “My Teen Romantic Comedy SNAFU” (Show que está disponível no Brasil na Crunchyroll e que eu comentei numa postagem). O animê estreou em 2013 e teve sua segunda temporada em 2015, e portanto, julguei mais sábio reassistir tudo antes de embarcar na última jornada. A série é um drama adolescente surpreendentemente realista, e isso é um ponto importante. Em 2013, eu ainda era um adolescente, e estava no segundo ano do ensino médio (mesmo ano que todas as personagens do show, inclusive). Um adolescente assistindo um drama adolescente é uma experiência absurdamente diferente de um adulto (supostamente) assistindo um drama adolescente. Eu revi o show e parecia que eu estava vendo uma coisa completamente nova. Minha visão sobre tudo mudou de uma forma drástica.

Foi uma mudança tão grande que me animou a dar uma nova chance para coisas que eu já tinha visto. “Será que meus favoritos ainda são tão bons quanto eu me lembro?” eu meu questionei. Pretendo rever “Angel Beats” em breve, para descobrir.

Imagem do tema de encerramento de "Angel Beats"
Algumas coisas, porém, o tempo não muda. Essa imagem ainda me dá um baque, dez anos depois…

O que tiramos disso tudo é que, sinceramente? Faça o que lhe deixar mais feliz. Às vezes, você simplesmente não está com saco para experimentar coisas novas, e quer o conforto de sentar no seu sofá e ler o mesmo gibi do Batman pela quadragésima vez, pois você sabe que aquele socão que ele dá na página 37 é muito satisfatório. E às vezes, você não aguenta mais assistir Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, que parece passar sete vezes ao dia na TV fechada, e clica em algo aleatório na Netflix. Dê uma chance para ambos.