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O Irlandês: O legado de Martin Scorsese

Scorsese, Pesci, De Niro e Pacino. O conjunto desses nomes soa como os Vingadores do cinema de gângster, e não é por menos. Ambos se consolidaram nas histórias de máfia que traziam um mix interessante entre drama e crime. Enquanto De Niro e Pesci fizeram seus nomes acompanhados de Scorsese, principalmente em Os Bons Companheiros (1990) e Cassino (1985), Pacino trabalhou com Francis Ford Coppola em um das obras mais respeitadas da sétima arte: O Poderoso Chefão (1972). Com isso, O Irlandês esbanja profissionalismo e experiência de seus atores e diretor, contudo, o que mais impressiona é o fôlego admirável da trama, que se transforma em uma verdadeira síntese da filmografia de Martin Scorsese.

Logo nos primeiros segundos, temos um plano-sequência que corre um corredor inteiro para a revelação de um velho Frank Sheeran (Robert De Niro). A partir daí, ele começa a narrar a sua história, que aborda desde sua participação na Segunda Guerra Mundial até sua relação com o presidente sindicalista Jimmy Hoffa (Al Pacino). Aos que estão habituados com as densas e detalhadas narrativas dos filmes de Scorsese, não haverá estranhamento nenhum. O filme anda a passos curtos e lentos, apresentando de forma minuciosa a vida de Frank Irlandês e seu envolvimento com a máfia e os interesses de um sindicato de caminhoneiros. Nesse sentido, torna-se evidente o quão bem trabalhada é a relação entre os flashbacks e a narração de De Niro. Há flashbacks dentro de flashbacks, há relatos de personagens para com a câmera – algo marcante nos filmes anteriores – e também a apresentação dinâmica de novos rostos. Tudo isso acontece sucessivamente em O Irlandês, entretanto, Scorsese mantém a coesão da estrutura do roteiro, sem deixar o filme se perder ao apresentar tantos elementos em tão pouco tempo.

E talvez esta seja a magia de O Irlandês: não perder o fôlego em nenhum instante. O Lobo de Wall Street (2013) é um exemplo de filme que consegue, através de suas longas três horas, manter um nível de conexão com o espectador devido a vivacidade da narrativa. Para as três horas e trinta do filme da Netflix, Scorsese se utiliza do mesmo método para alcançar o êxito de manter o espectador completamente conectado à história e aos seus personagens. Grande parte desse método é a quebra de expectativa causada pelo roteiro de Steven Zaillian, adaptação da obra I Heard You Paint Houses, e pelo planejamento preciso das cenas. Esperando-se um ambiente sério e dramático, nos deparamos com fugas ao humor baseado em diálogos um tanto quanto desconexos em relação ao foco narrativo, semelhantes aos construídos por Quentin Tarantino.

A ambientação é constante nas obras de Scorsese, e aqui ela está deslumbrante. A constituição dos cenários se preocupa com a fidelidade dos locais para com a realidade; as luzes em neon, os típicos restaurantes da época e os carros transformam o filme na verdadeira representação do período. Para acrescentar ainda mais consistência, a trilha de Robbie Robertson cria o clima perfeito, equilibrando-se entre as variadas situações da obra.

Além disso, se utilizam textos para apresentar o destino de alguns personagens, principalmente aqueles que serão os principais condutores. Quando o personagem aparece pela primeira vez, ocorre uma curta pausa e o surgimento de um trecho como: “Nome, morto com três tiros no rosto, em 1980”. Tais inserções ajudam a trazer uma interessante oposição entre a ação e o destino. Ao passo que sabemos o que acontece com certas pessoas, conseguimos entender suas reais situações, mesmo que às vezes seja engraçado como pessoas “tão queridas” são mortas de formas viscerais. Isso demonstra o impacto que Scorsese sabe causar na audiência que acompanha seus projetos.

Quando se tem um roteiro estruturalmente sem defeitos, aliado a uma direção experiente, capaz de articular muitos elementos, fica mais fácil esconder atuações um pouco mais tímidas. Contudo, Joe Pesci, Robert De Niro e Al Pacino acrescentam uma enorme qualidade dramática, – observando que Harvey Keitel também está participando, mas tão pouco quanto se esperava – nos brindando com três atuações absolutamente incríveis, que transmitem o quão engajados estavam para entregar algo acima do nível. Robert De Niro interpreta Frank Sheeran com tamanha naturalidade que assusta. Sua interpretação parece se dividir em três partes: o pai, o mafioso e o velho solitário. Quando é o pai, De Niro simplesmente entrega a representação perfeita dos pais da época, envoltos de uma família submissa e patriarcal, tendo que esconder suas relações com a máfia. Na pele de um mafioso, há certa insegurança e imaturidade do personagem, mas também frieza ao executar alguém.

Além dessas duas camadas, o velho Frank Sheeran consolida a formidável atuação de De Niro. Depois de tantas formas ao abordar seu personagem, o ator guarda uma carta na manga, trazendo vulnerabilidade e experiência para o agora debilitado irlandês. Nota-se como suas preocupações em relação a máfia não condizem com o mundo presente, deixando Frank um tanto quanto inadequado neste período. Ver tantas transformações, acompanhadas do desenvolvimento de Frank, cria laços emocionais entre público e protagonista. Embora tenha tido uma vida carregada de violência e mentiras, presenciar sua velhice é estar consciente de como as decisões durante a vida acarretam em consequências graves ao nosso legado – algo que discutiremos mais para frente.

Outro expoente da filmografia de Scorsese foi, sem dúvida alguma, Joe Pesci. Após tantos anos sem se juntar ao diretor, seu retorno estava sendo muito aguardado. E, para surpresa de quase ninguém, marca forte presença. Interpretando Russell Bufalino, Pesci está representando o estereótipo do senhor de idade mafioso. Um cara experiente e boa vida, que busca deixar os amigos próximos e os inimigos ainda mais. Seus negócios em si parecem meio confusos, porque não se sabe exatamente tudo o que ele comanda, mas, pelos relatos de Frank, devem ser significativos. Talvez a única coisa que fique faltando é a explosão de nervoso, que marcou todos os personagens do ator. A repetição excessiva de fuck’s e a postura meio narcisista ficaram de lados, dando ao ator alguém mais sóbrio e paciente. Existe sua versão mais velha, como a de Frank, e pode-se dizer que também guarda uma ótima dramaticidade.

Apesar destes atores terem tido ótimas performances, os holofotes centram-se em Jimmy Hoffa, que ganhou a vida através de Al Pacino. Por aparecer menos que De Niro e ter sua aparição lá para quase um terço do filme, esperava-se uma atuação mais tímida e contida do ator. Engano meu, porque, além da importância inerente do personagem para com a trama, Al Pacino nos presenteia através de uma das melhores atuações de sua carreira até aqui. Dito anteriormente, o que surpreende em O Irlandês é o fôlego de alongar uma trama por mais de três horas, além das surpreendentes quebras cômicas. O principal causador desse efeito é o próprio Al Pacino, já que sempre surpreende com algum traço de seu personagem. Mesmo que seja excêntrico, estratégico e totalmente orgulhoso, o presidente sindicalista guarda certa impulsividade. Suas motivações e ideais políticos também acrescentam na caracterização. Se Joe Pesci está mais contido, alguém deve soltar a voz e os fuck’s. A partir dessa impulsividade, o personagem se torna uma caricatura política e dita os tons do ambiente em que participa, principalmente na hora dos discursos inflamados.

Deixando explícita a qualidade dos atores, do roteiro e da direção, fica claro que The Irishman é ótimo e estará concorrendo aos grandes prêmios do ano que vem. Apesar disso, não pode se negar o quão bonito Scorsese trata sua carreira. O filme não aparenta ser uma homenagem aos tantos anos do diretor, mas sim a síntese de sua filmografia. É o resultado de todas as experiências e estilos, que foram se alterando ao longo do tempo, desde Taxi Driver (1976) até Os Infiltrados (2006), do Rei da Comédia (1983) até ao A Invenção de Hugo Cabret (2011). Sua colaboração com a sétima arte foi fundamental para tratar o cotidiano nos cinemas. Trabalhar com questões reais e práticas, sem fantasias e super-heróis, mas com aqueles que vivem na realidade patética que é o mundo. Há certa cena que Frank Sheeran já está bem debilitado e vai para a igreja rezar com o padre – um símbolo que sempre esteve presente na vida do diretor – na esperança de superar seu legado de criminoso. A maneira ampla com que se explora as consequências da vida do protagonista nunca foi tão trabalhada no passado do diretor, porém, sua vasta experiência aparenta querer discutir sobre o destino, colocando veteranos do cinema para mostrar o quão difícil é a manutenção do legado.

O Irlandês esbanja competência e fôlego, abordando drama, máfia, humor e política em mais de três horas. Com três atores lendários, a história tem o objetivo de revisitar o passado da conjuntura mafiosa que influenciava sindicatos e a política americana, no entanto, mirando no presente, deixando marcadas as consequências. Enquanto Frank Sheeran se mostra inadequado por conta de seu legado, tentando constantemente escapá-lo, Martin Scorsese caminha pela trajetória contrária de seu personagem, porque, aparentemente, seus últimos dias de vida não serão lamentando, mas valorizando o seu legado a partir da única coisa que o transformou no que é: fazer filmes.

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Doutor Sono: Uma continuação decente e respeitosa

Dirigir a continuação de uma das obras mais consagradas do cinema não parece ser tarefa fácil. Ainda mais quando o seu antecessor é simplesmente o trabalho de um dos maiores diretores da história. Afinal, como construir e elaborar uma narrativa que consiga ter pernas próprias, sem depender de comparações com o passado? Doutor Sono é a resposta surpreendente e consciente de Mike Flanagan; reverenciar e respeitar o passado, contudo, ter coragem de desenvolver temáticas contemporâneas e ideias inovadoras. Embora seja adaptação do livro de Stephen King, a obra se apega à concepção estética de Stanley Kubrick,  além de construir novas abordagens.

Ouvir os famosos acordes da trilha de O Iluminado (1980) é algo que arrepia até mesmo aqueles que desconhecem o filme. Essa memória icônica está presente logo nos segundos inicias de Doutor Sono, já deixando claro o quão integrado sua história está com a do antecessor. Adaptando o livro de mesmo nome, a narrativa acompanha Danny Torrance (Ewan McGregor) após mais de 30 anos do incidente no Hotel Overlook, um homem que está tentando tratar seu alcoolismo, ao mesmo tempo em que guarda o segredo de sua “iluminação”. A conexão entre os dois filmes é parte integrante da obra, mesmo com novos personagens e situações, os conflitos internos do protagonista estão centrados nos acontecimentos passados e, constantemente, a narrativa retoma esses momentos por meio de alucinações e flashbacks, que recriam cenas exatas de O Iluminado – com atores diferentes.

A necessidade que Flanagan tem de usar o estilo único de Kubrick não demonstra só competência – também expõe coragem. Seja na construção idêntica dos cenários, ou seja na recriação de cenas memoráveis, o diretor tem muito respeito com a concepção estética de Kubrick. Há um certo entendimento sobre o quão importantes são as composições cinematográficas para a criação da atmosfera e do ambiente em torno dos personagens. Nota-se como ocorre as rimas entre este e O Iluminado – só um exemplo para não dar muitos spoilers, o escritório em que Danny tenta arrumar emprego é muito semelhante, nas cores e na arquitetura, da sala em que o pai, Jack (Jack Nicholson), aceita o trabalho no hotel. Além disso, precisa ser mencionado o uso excepcional das técnicas de montagem e de movimentação de câmeras, que são idênticas às utilizadas por Kubrick; as transições de cenas através do crossfade e o uso de panorâmicas e travellings, quase sempre explorando as passagens dos personagens entre os cenários.

Enquanto o filme trata de abordar de forma respeitosa seu antecessor, há a introdução de novas temáticas e personagens. Principalmente as duas protagonistas, Abra (Kyliegh Curran) e Rose (Rebecca Ferguson), que agregam à história por serem a verdadeira distinção entre bem e mal. O embate entre as duas, já que Abra possui uma poderosa iluminação, e Rose se alimenta a partir da morte dos iluminados, apresenta um tratamento visual impressionante. A luta centra-se em um plano mais espiritual e ritualístico, favorecendo a utilização de sequências que abordem elementos reais de forma metafórica. Como, por exemplo, arquivos extensos representando as memórias.

Apresentando um elenco feminino fortíssimo, outra adição, que só aparenta ser de menos importância, é a atriz Emily Alan Lynd. Sua personagem, Snakebit Andi, não é uma simples iluminada que tenta esconder seus poderes e “capacidades psíquicas”, mas sim uma combatente diante dos abusos e da pedofilia praticada por homens adultos. O próprio discurso da personagem está muito ligado com a questão feminista, deixando claro a necessidade que ela tem de marcar suas “vítimas” como uma forma de os envergonharem publicamente. O Iluminado apresentava questionamentos semelhantes, contudo, seus debates eram muito mais implícitos devido a alta capacidade que Kubrick tinha de abordar o tema. Dessa maneira, Doutor Sono expande as barreiras do que é ser iluminado, não se limitando apenas em um poder inexplicável, porém, em uma possível ferramenta social.

E, obviamente, o título Doutor Sono não é por acaso, porque Danny entende sua iluminação além dos simples poderes. Mesmo assim, há certa relutância por parte dele em usar suas habilidades devido ao passado envolvendo seu pai e o Hotel Overlook. Além disso, seus problemas abordam questões reais e práticas como o alcoolismo, algo que o personagem está constantemente tentando escapar. Fica claro o como a obra articula a história de Danny com solidão e melancolia; tendo seu quarto semelhante à uma prisão psicológica. A atuação de Ewan McGregor reforças esses sentimentos e angústias, criando uma complexa dimensão do indivíduo.

Ao passo em que nos aproximamos da reta final, as referências ao Iluminado são quase inevitáveis. Com isso, Doutor Sono cria um terceiro ato que guarda ação, violência e sustos, mas sem deixar escapar o foco narrativo, que é a densa camada psicológica de todos os personagens. Todos ali enfrentam dores próprias e questionamentos, mas Danny é aquele que deve enfrentar seu passado. Quando tudo parecia levar a um final genérico, há um importante encerramento de um ciclo, que transmite a ótima química entre Abra e Danny, e a sensibilidade do diretor ao resolver as profundas e dramáticas dificuldades de seus personagens.

Doutor Sono consiste em uma sequência decente e respeitosa do material original. Tendo consciência da importância de seu antecessor, o filme tenta recriar de forma contemplativa a linguagem de Kubrick. Contudo, Mike Flanagan não se intimida em abordar e expandir temas que conversam com a época em que vivemos. Enquanto O Iluminado apresentava a insanidade e a prisão psicológica de Jack, Wendy e Danny, a nova história mostra como combatermos nossos demônios, sejam eles no plano real ou espiritual, emaranhados na densa teia psicológica do ser humano.

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Arthur Fleck – O Início, o Fim e o Meio do Vitimismo e do Desvario

“Tente me ensinar das tuas coisas. Que a vida é séria e a guerra é dura. Mas se não puder, cale essa boca, Pedro, e deixa eu viver minha loucura.”
(Meu Amigo Pedro)

Alguns momentos que leio Watchmen ou assisto a sua adaptação cinematográfica, minha mente pratica um exercício de imaginar a substituição daqueles personagens maravilhosos pelos pesos pesados icônicos da DC Comics. O mesmo que tentei fazer após que assisti Coringa do Todd Philips. Muitas pessoas falaram que poderia ser qualquer personagem ali, fosse de quadrinhos ou não, que o resultado seria o mesmo. O homem que passa por distúrbios mentais, com uma vida desgraçada, ignorado pela sociedade e que chegou ao seu limite. Talvez faça sentido. Mas tem coisa mais Coringa do que isso?

O filme de Todd Philips apresenta uma levada no melhor estilo Maluco Beleza, onde Arthur Fleck vai controlando sua maluquez misturada com a sua lucidez no meio que o turbilhão do sistema e do maremoto que vai destruindo a sua vida pessoal. Lidar com o fracasso, com o derrotismo, com a falta do amor ao próximo e sua mãe sonhadora. É um pesado fardo mas que ao mesmo tempo ele leva o fato de ser uma pessoa que nasceu para ser um agente de alegria para os outros. Quando ele assume para si ser o ativo da revolução dos oprimidos de Gotham City, Arthur Fleck entende que é uma forma de levar alegria para o povo. A revolução.

“A minha enfermeira tem mania de artista, trepa em minha cama, crente que é uma trapezista. Eu não vou dizer que eu também seja perfeito. Mamãe me viciou a só querer mamar no peito. Ehê, ahã! Quando acabar o maluco sou eu!”
(Quando Acabar o Maluco sou eu)

Não considero válido usar a imagem do personagem do filme como um “símbolo” nas recentes manifestações que estão ocorrendo ao redor do mundo atualmente. A revolução contra os poderosos, ou o sistema da podridão de Gotham é o cenário para a verdadeira face de Arthur Fleck aflorar. Mas ouso dizer que mesmo não existindo pessoas o seguindo e levantando essa bandeira revolucionária maquiada de palhaço no filme, o Coringa surgiria do mesmo jeito. Ele é a válvula de escape. É o motor ligado de Arthur. E que é iniciado sempre em sua dança.

“Por que cargas d’águas. Você acha que tem o direito de afogar tudo aquilo que eu sinto em meu peito.”
(Sapato 36)

Arthur Fleck é um personagem sofrido. Um personagem que tem um pesado fardo, mas que muitas vezes, ele mesmo enriquece bizarramente o peso desse fardo. Ele apanha da sociedade de todas as formas. Mas isso também não significa que ele seja um coitadinho. O filme, que tem uma forte crítica social que há tempos grita nos EUA, às vezes dá a sensação de criar um ar de vitimismo ao personagem. E muitas vezes ele abraça isso. O público abraça isso. Onde ele apoia seus argumentos, ou disfarça os seus argumentos, para chegar a insanidade do Coringa nisso. Quando ele tem seus argumentos confrontados pelo personagem Murray Franklin de Robert De Niro, como se fosse uma bronca de um pai, ele fica mais nervoso, a ponto de quase perceber que é algo estúpido beirando à “pirraça” de um cara grande. Mas ele tem o seu transtorno mental causado por uma série de fatos. Como por exemplo a falta de uma figura paterna mais caridosa. Já que seus exemplos de pai foram os ex-companheiros violentos de sua mãe. E Arthur procura muito essa figura paterna no apresentador e no Thomas Wayne. E isso contribui para a formação do personagem.

“É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro, evita o aperto de mão de um possível aliado. Convence as paredes do quarto, e dorme tranquilo. Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo.”
(Porque os Sinos Dobram)

A involução de sua sanidade, ou quando sua insanidade realmente mostra a sua cara, é medida por suas risadas. Ao longo da película acompanhamos as gargalhadas causadas pela risada patológica, também chamada de afeto pseudobulbar ou labilidade emocional. No início era sofrida, agoniante, beirando ao desespero. As risadas além de desesperadoras, fazem parte de um método do personagem para tentar se enquadrar no mundo. Um bom exemplo é a cena em que seu colega de trabalho faz uma piada com o anão, ele gargalha e, ao sair da vista deles, subitamente para, com a expressão séria, dando a entender que ele só fingiu que achou aquilo engraçado para poder se encaixar na situação. Outro termômetro de transtorno mental são as risadas fora de hora. Como quando ele está no bar assistindo ao show de comédia, e só ri quando a piada acaba.

Mas quando o Coringa realmente surge, a risada muda. As risadas se tornam prazerosas para o personagem. É a sua evolução. É quando ele se livra dos grilhões que considera impostos pela sociedade, pelas mentiras e maus tratos da mãe, pela violência doméstica quando era criança, da busca frustrada pela figura paterna e de suas próprias limitações que ele se impõe. É importante salientar que nesse momento, não existe mais Arthur Fleck. Nesse momento ele se matou. Até o enquadramento muda. Antes da icônica cena da dança na escada, vemos a câmera focando por cima. Como se o mundo pesasse nas costas do Arthur. E depois muda focando de baixo para cima, mostrando como ele cresceu. Mas vamos lembrar que o filme é contado pela ótica de um homem conturbado mentalmente.

“Eu sou o medo do fraco. A força da imaginação. O blefe do jogador. Eu sou, eu fui, eu vou!” (Gita)

O mundo particular de Arthur Fleck é atingido como um Trem das 7 desgovernado da realidade da vida. E ele não é capaz de lidar com rejeição e o fracasso que estão à bordo. Então somos levados para uma viagem em que não sabemos a linha tênue entre delírios e realidade. Assim como o relacionamento de sua vizinha foi tudo uma viagem de sua cabeça. Podemos discordar de outros momentos também? Como por exemplo a batida da ambulância na viatura onde o personagem está preso, e acontece aquela ovação. Será que aquilo aconteceu mesmo? Ou foi um delírio onde Arthur recebe o tão sonhado reconhecimento do publico finalmente? Seria o final do seu grande ato que começa no programa de TV. Uma cena me questionou é quando Arthur confronta Thomas Wayne no banheiro do cinema. Arthur está apoiado em uma pia. Quando acontece o corte, ele está na mesma posição. Logo após acontece a cena da geladeira. Será que realmente existiu essa conversa? Ou ele teve outro devaneio?

O Coringa de Todd Philips tem várias camadas e diversos caminhos que podemos nos sentar em uma mesa de bar e conversar durante horas sobre o que cada pessoa entendeu e assimilou do filme. Isso somado com uma atuação monstra do Joaquim Phoenix. Mas buscando a discussão que foi recorrente: qual é o Coringa desse filme? Vamos entender que o personagem sempre foi uma incógnita em todos os seus 80 anos de existência. Nem a própria DC Comics tem algo definitivo para sua origem. O mais próximo é A Piada Mortal de Alan Moore, que definiu uma espécie de origem plausível para o personagem. Mesmo assim, sem nunca dá um simples nome próprio para ele. Vale lembrar que A Piada Mortal só veio a ser considerada cânone depois da reformulação Renascimento da DC Comics. Mas ao mesmo tempo a editora considerou a existência de três Coringas no universo. Fato que até agora não foi publicado mais detalhadamente, mas que sabemos que terá uma edição futura sobre isso. Seja o Jack Napier do Jack Nicholson, ou o elogiado Coringa de Heath Ledger, o contestado de Jared Leto. Ou pode ser o Coringa dos desenhos de Bruce Timm, ou às inúmeras versões dos quadrinhos. Pegue todo o excesso, prazeroso, de versões dos personagens, e você pode abraçar e aceitar a versão Arthur Fleck. Sim ele pode ser o Coringa de algum lugar.

Se lembra do exercício mental que eu falei no primeiro parágrafo? Então realize-o usando outros Coringas.

 

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El Camino é um presente para os fãs de Breaking Bad

Em 29 de Setembro de 2013, Breaking Bad chegou ao seu fim de forma excepcional através de Felina, onde vimos o desfecho de Walter White e a libertação de Jesse Pinkman. Agora, seis anos depois, a Netflix teve a iniciativa de produzir El Camino – um longa que mostra o que houve com Pinkman após o final do episódio e que finalmente nos mostra um desfecho digno para o personagem.

É inegável dizer que Breaking Bad é uma das melhores séries já produzidas, com o desenvolvimento impecável de todos os personagens centrais da trama e uma conclusão satisfatória. Quando a Netflix anunciou que um filme da série estava a caminho, continuando do ponto em que terminou, muitos fãs ficaram receosos com o que estava por vir – afinal, com um desfecho perfeito, não era necessário. Depois de tanta espera e medo, o longa finalmente foi lançado no serviço de streaming e comprovou que o medo era desnecessário – El Camino se mostrou como um revival digno da série e um presente para os fãs matarem as saudades e o vazio que Breaking Bad deixou.

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Como dito acima, a trama se inicia logo após o término do último episódio e acompanhamos Jesse fugindo do cativeiro no qual era mantido em um El Camino. Após isso Pinkman decide reencontrar velhos amigos e recomeçar sua vida, deixando todo o passado para trás. O longa se desenrola através de intercalações entre o passado e o presente, onde temos Pinkman fugindo da polícia e correndo atrás de dinheiro para poder recomeçar e flashbacks com personagens queridos da série.

Grande parte dos flashbacks se tornam desnecessários por ocuparem um grande tempo de tela, fazendo com que a resolução final seja feita em menos de 20 minutos. A maior parte deles mostra Jesse com Todd durante seu aprisionamento pelos neonazistas, enrolando um pouco o desenrolar da trama. Talvez esse seja o único defeito do longa, afinal, o roteiro funciona bem e tem a mesma qualidade que a de um episódio da série mesmo com esse excesso.

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Vince Gilligan trabalha no longa da mesma forma que trabalhou na série, mantendo a mesma qualidade de fotografia e desenvolvendo um arco de redenção para o personagem de Aaron Paul. O longa não tem pretensão nenhuma superar a série ou apresentar algo novo para ter uma continuação, muito pelo contrário, o objetivo aqui é presentear os fãs com um episódio bônus de duas horas e um final ‘feliz’ na vida de um dos personagens que mais sofreu perdas durante a série – e esse papel, o filme cumpre muito bem.

No fim das contas, El Camino é isso: um presente para os fãs de Breaking Bad e uma conclusão digna para Jesse Pinkman. Sem plot twists nem grandes reviravoltas, apenas um revival de uma das melhores séries já feitas até os dias atuais e uma simples homenagem aos personagens.

Após fugir do cativeiro, onde foi mantido quando sequestrado, dramaticamente, Jesse Pinkman inicia uma jornada em busca da própria liberdade, mas antes precisa se reconciliar com o passado para, só então, ter seu futuro garantido.

El Camino: A Breaking Bad Film está disponível na Netflix.

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Projeto Gemini é simples, porém pioneiro e revolucionário

Três anos após seu último filme, Ang Lee volta às telas de cinema com o seu novo espetáculo visual, Projeto Gemini, filme que havia sido engavetado pela Disney nos anos 90. No filme, Henry Brogan (Will Smith) é o melhor assassino profissional do mundo, com uma taxa de sucesso maior do que de qualquer outro, mas, quando decide se aposentar, acaba se tornando um alvo da Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos, para quem trabalhava anteriormente. Enquanto luta para se manter vivo, ele se depara com um clone de si mesmo e descobre que as ações do governo americano são para esconder um grande segredo, que só Brogan, com toda sua experiência, é capaz de desmascarar.

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Em termos de história, é algo bem simples, é uma trama rasa e que provavelmente funcionaria melhor no passado, mas não que isso seja um problema. É melhor que tenhamos algo bem estruturado do que uma trama pretenciosa que deixa inúmeros furos. Como dito, o filme tem um tom de filmes nostálgicos de ação, principalmente por ter sido desenvolvido nos anos 90 (O filme havia ido para a ‘geladeira’ pois, na época, os efeitos visuais não eram bons o suficiente para reproduzir o que o filme queria passar).

Um problema no filme é explicar demais, todo momento somos apresentados à algo que cedo ou tarde receberá uma explicação enorme, algo que o próprio espectador poderia deduzir sozinho. Uma coisa ruim também, é que eles não explicam a coisa que motiva o filme: Não falam de como o clone do Henry foi criado. Isso é algo que incomoda, mesmo eles fazendo uma longa explicação sobre toda vida do clone, não explicam como ele foi criado.

Os diálogos são coisas bem superficiais também, muitos não tão bem feitos, porém, alguns até memoráveis. O longa sabe trabalhar muito bem seu tempo, cenas de luta, ação, comédia, drama, todas se encaixam como uma luva. Mais uma vez provando que, ser simples não significa ser ruim.


O elenco do filme também tem um grande destaque nesse filme. Will Smith na maioria do filme tem uma atuação aceitável, é como se fosse o mesmo padrão dele em todos os filmes de ação, porém, em cenas mais dramáticas, o ator consegue entregar uma carga emocional no ponto certo, e funciona de forma esplêndida.

Então, somos apresentados a Danny, personagem interpretada pela Mary Elizabeth Winstead, e sinceramente, ela rouba todas as cenas que aparece. Carismática, com uma atuação muito bem feita pela Winstead, ela é a melhor personagem do filme, junto com o Júnior, o clone do protagonista. E é engraçado pensar que, o personagem interpretado por Benedict Wong, Baron, era para ser um personagem feito para o alívio cômico, acaba competindo com a Danny para ver quem consegue conquistar mais o público; isso é bom, já que os dois fazem seu papel com maestria.


Agora, a parte mais importante de todo filme, seus efeitos especiais. O quê tem de tão especial nos efeitos visuais do filme? Uma tecnologia pioneira chamada 3D+, e cenas de ação feitas com autenticidade.  Mas, o que é o 3D+?

Desde o início do cinema, todos filmes eram projetados a 24 quadros por segundo, o que se tornou um padrão em todo audiovisual. Porém, em Projeto Gemini, o longa foi filmado em 120 quadros por segundo, e nas salas de cinema onde o 3D+ está disponível, o filme é exibido em 60 quadros, mais que o dobro da taxa tradicional. As imagens se assemelham muito à sensação de estar jogando um video-game, e como o efeito consegue trazer mais imagens, existe muito mais profundidade, assim deixando o espectador mais imerso e com maior desfrutação das cenas. Isso, além de conseguir passar o espetáculo visual que Ang Lee queria, se prova sendo uma das experiências mais imersivas que se tem no cinema atualmente. E quem odeia sessões 3D, não precisa ter medo ao assistir esse filme, pois vale muito ver nesse formato.

Inicialmente, pode-se até causar um grande estranhamento ao assistir o longa nesse formato, a fotografia é mais limitada, a movimentação de câmeras são bem diferentes, mas isso não é algo ruim. É pioneiro, e devemos aprender a respeitar isso. Então, antes de ir assistir o filme, certifique-se que o seu cinema oferece a opção 3D+, pois é a melhor maneira de ter uma experiência única. É uma diferença brutal do 2D para o 3D+, são visões extremamente diferentes.

E falando dos efeitos de rejuvenescimento que utilizaram no Will Smith, está simplesmente fantástico, assim como os efeitos em um todo. As primeiras cenas com o clone jovem do protagonista podem dar um sentimento ambíguo em um primeiro momento, mas ao longo do filme, o efeito melhora e acaba se tornando uma das partes mais marcantes.
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Em termos técnicos, o filme também acerta. Nele temos uma boa trilha-sonora, que funciona em todas as cenas, algo que impressiona e ajuda bastante na imersão que o diretor quis passar. A edição do filme também não conflita, e nem cria problemas, é bem feita.

Algo que pode dividir opiniões, se dá na hora da direção e fotografia, logo que é extremamente fora de um padrão já criado no audiovisual. Pode agradar muita gente, ou pode gerar um belo estranhamento. Pensando no que Lee queria passar no longa, toda essa nova imersão inovadora, eu acredito que funciona, e que futuramente terá uma enorme evolução quanto esse assunto. Mesmo limitado por tais quesitos, o filme não deixa de criar cenas bonitas, mesmo sem um filtro ou coisas do gênero, a fotografia é bem limpa e também tem um tratamento visual que funciona com o tom que o filme passa.

Em suma, o filme de certa forma funciona, tem seus momentos e tem seus erros. Mesmo apresentando um roteiro um tanto ultrapassado, ele diverte e cumpre seu papel em entreter o espectador. A tecnologia e a inovação que o filme traz em sua bagagem também é única e merece seu devido respeito, querendo ou não, o longa já entrou na história do cinema e do audiovisual, mais uma vez, Ang Lee fazendo história. É o primeiro filme a ter essa tecnologia, e com certeza veremos os filmes de heróis utilizando isso no futuro.

Se quiser se aprofundar mais na história apresentada, juntamente ao longa, o livro contando a história mais aprofundada e mostrando um pouco mais dos personagens será lançado dia 16 de outubro. Agradecendo a Paramount Brasil, que nos disponibilizou uma edição, é possivel comparar com o filme e as cenas são extremamente fiéis, com uma diferença ou outra, é mais um modo de se envolver no universo do filme.

Nota: 3,5/5

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Animais Noturnos (2016): Interpretação ilimitada

O que seria da arte sem o seu público? Talvez fosse apenas um artifício estético de contemplação e nada mais do que isso. Os limites de uma obra artística são ditados pelos seus respectivos apreciadores. Observar, interpretar e, consequentemente, expandir os significados da arte, são funções exclusivas do público. E esses pensamentos estão, provavelmente sempre, ligados às experiências e ao estilo de vida do espectador. Isto é, a observação da arte depende de um repertório próprio, único e estritamente pessoal. Nossas visões de mundo dependem das nossas vivências. Animais Noturnos trabalha com essa premissa, não dessa maneira tão direta, mas com o trabalho minucioso e cuidadoso de Tom Ford.

Amy Adams é a escolha perfeita para o papel de Susan Morrow, uma renomada profissional do mundo artístico, que trabalha no planejamento e na comercialização de exposições. Inclusive, é casada com um homem influente – fato relevante. Embora a sua vida aparenta ser estável, isto não reflete o vazio emocional sentido pela personagem. Outro elemento que nunca está exposto de modo tão visível em um primeiro momento, mas que vamos desvendando aos poucos pelo o que a obra nos mostra. E Amy Adams atua impecavelmente por transmitir a postura que Susan tenta manter, ao passo em que seu emocional demonstra-se fragilizado. A atriz tem expressões únicas para certas passagens, que remetem tanto as reflexões, quanto as incertezas de Morrow para com seu casamento e trabalho.

Após estabelecer as condições psicológicas, ocorre o ponto de partida. Susan recebe o livro do ex-marido Edward (Jake Gylenhall), intitulado Animais Noturnos, e embarca na narrativa densa e complexa proposta por ele. E, essencialmente, o filme é a leitura do livro que tem a sua história imaginada do ponto de vista da moça. Quando a leitura se inicia, a obra parece se dividir em duas, não só por apresentar narrativas que, aparentemente, são distintas, mas também porque se distinguem em tom. Enquanto a história de Susan remete a um padrão rigoroso, reflexivo e sereno, o livro é brutal, frio e deliberadamente dramático. Animais Noturnos – o conto – apresenta a família composta por um casal, Tony e Laura (Isla Fisher), e sua filha India (Ellie Bamber), que se preparam para uma viagem de carro. Na estrada, os três se desentendem com um grupo de amigos, entre eles o Ray Marcus (Aaron Johnson). A partir daqui, a família fica em uma situação grave, que guarda possíveis consequências incuráveis.

O fascínio está em como Tom Ford brinca sobre a forma da interpretação. Os personagens dos livros tem rostos familiares, atribuídos pela imaginação de Susan; Tony tem o rosto igual de Edward, – sim, Gylenhall interpreta dois personagens, e ambos brilhantemente – Laura se assemelha com a figura da protagonista, e India não aparenta ter uma conexão com alguma personalidade apresentada. Este imaginário não é atoa, porque a obra consiste na abordagem psicológica da leitora, que aplica seus dramas pessoais na trama obscura do livro. E, para embaralhar ainda mais informações, Ford nos brinda com flashbacks do mundo real, que recontam um passado confuso, porém esclarecedor.

Desse modo, as confusões providas pela junção do passado, do presente e do livro, criam uma profundidade que se desenrola aos poucos, culminando em uma trajetória árdua que explora o íntimo de Susan. Por conta disso, vemos que a produção artística do ex-marido mexeu com seu emocional e tratou de impacta-la, fazendo-a adquirir uma nova perspectiva para sua ideia de arte. O processo criativo de Edward afeta diretamente a satisfação pessoal que Morrow nunca encontrou nas exposições e na vida. Então, a interpretação diante da narrativa quebra barreiras íntimas causando certa transformação, nunca explícita.

Algo que garante as mudanças durante o filme é a técnica empregada por Ford em abordar os personagens com solidão, pessimismo e tristeza. Não há sequer um que fuja desses aspectos, seja pela câmera próxima aos olhares e rostos, ou pela situação em que se encontram. Fica a menção para o Detetive Bobby, que, além de ser interpretado pelo Michael Shannon com maestria, apresenta um desprendimento social e beira ao niilismo.

Animais Noturnos tem sua essência baseada na interpretação da arte, e como esta pode ser decisiva em determinadas circunstâncias.  No final, se Ford coloca sua protagonista para entender o livro por ela mesma, ele impõe ao espectador que faça o mesmo, colocando a veracidade do filme inteiro em dúvida, já que só estamos presenciando um único ponto de vista. Assim sendo, o desdobramento e as surpresas da conclusão ficam só em nossas cabeças, deixando clara a força da expressão do imaginário na arte. Afinal, o que seria dela sem o seu público?

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Coringa é a experiência cinematográfica mais impactante do ano

Filmes bons entretém e filmes excelentes fazem isso e muito mais. Coringa é uma daquelas obras arrebatadoras deixando o espectador em um estado catatônico e eufórico após os créditos subirem. Poderia ser mais um estudo de personagem interessantíssimo fadado ao desinteresse do público, caso tivesse outro título. O próprio diretor Todd Phillips concorda que o filme não precisaria ser necessariamente sobre o maior vilão do Batman. Porém, Hollywood vive hoje em uma era repleta de filmes baseados em HQs e o público é atraído por heróis e vilões fantasiados (encare os fatos, quem não?). É certo que as intenções não se refletem em adaptação, mas sim, em tornar visível, uma tragédia sobre a psique humana.

Quem carrega o conto melancólico é Arthur Fleck, um homem com uma doença neurológica provocadora de risadas compulsivas. Ele trabalha como palhaço de placa para comprar remédios para a sua mãe. Ele quer ser um comediante, fazer as pessoas rirem, mas é rejeitado, mal tratado e violentado pela sociedade. Além disso, sua condição também é ignorada pelo sistema. Como tudo o que separa um homem da loucura é um dia ruim (nesse caso, uma vida), ele resolve revidar, tornando-se o Coringa. Com isso, ele inspira, por acidente, uma revolução contra Thomas Wayne e toda a elite de Gotham.

A forma como Coringa se inspira nas obras de Martin Scorsese era evidente desde as suas prévias. A direção de Phillips traz diversos planos semelhantes a Taxi Driver e O Rei da Comédia, mas nunca se torna uma cópia, ou homenagem forçada. O cineasta imprime um estilo próprio em sua direção. Como a maioria dos seus trabalhos consistem em comédias, Coringa caiu como uma luva para Phillips. Ele é um excelente diretor de atores e imprime uma certa subversividade na condução do humor, contraditório e pesado, encontrando nele, a carga dramática. Ele entende como ser caótico e ter domínio de seu espetáculo.

Mas existe um ingrediente especial conhecido como Joaquin Phoenix. Os trabalhos anteriores do ator são impressionantes, com bastante intensividade e tudo isso é entregue aqui, porém dessa vez, ele também entrega um resultado assustador. Sua performance passa por diversas fases durante a trama e próximo do final da obra, Phoenix é o próprio clímax. O que o difere das outras interpretações do Palhaço do Crime é, certamente, a humanidade. Já o vimos como alguém cômico, como anarquista, como gângster, mas nunca o vimos como uma pessoa. Aquilo que torna Coringa assustador é a proximidade emocional de Arthur com a plateia. Não é como olhar para uma tela, é como estar ao lado daquele homem trágico e dentro de sua mente.

Aliás é necessário comentar sobre a perfeição que é o roteiro de Phillips e Scott Silver, extremamente coeso, fornecendo todas as peças necessárias do desenvolvimento de seu protagonista e a sua queda à insanidade. A montagem por Jeff Groth também é extremamente importante para se situar na mente do personagem e questionar sobre o senso de realidade e ficção dentro da película. A cinematografia do Lawrence Sher é melancólica, claustrofóbica, deixa uma impressão fortíssima em quem assiste e a trilha sonora composta por Hildur Guðnadóttir, pautada por acordes extremamente agudos, quase como desafinação, é essencial para compôr a tragédia.

Coringa é um filme extremamente relevante, pois dá visibilidade a doenças mentais e denuncia a forma como são tratadas desumanamente pelo sistema. Talvez alguns considerem o último terço da obra, expositiva, mas ao meu ver, é um soco no estômago misturado com um choque de realidade aos 220 volts. É uma obra em que as gotas de humanidade restantes se secam justamente para lembrar a nós que ainda possuímos alguns desses pingos conosco. Às vezes é necessário filmar um circo pegando em fogo apenas para provocar uma reflexão e é exatamente a isso que, excelentemente, a produção se propõe.

Em suma, Coringa é um conto trágico, irônico, controverso, caótico, que tira o espectador do assento, o deixa trêmulo, espantado, entretido, chocado e faz com que seja para sempre, lembrado. É a experiência cinematográfica mais impactante do ano.

Observação: Não levem crianças para assistir ao filme.

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Ad Astra: Uma jornada ao não tão desconhecido

Sintetizar os temas de Ad Astra: Rumo às Estrelas seria um tremendo erro de minha parte. Não só por menosprezar o ótimo trabalho do diretor James Gray, mas também por querer simplificar questões que exigem engajamento do espectador para decifrá-las e compreendê-las. Portanto, é bom deixar claro que o filme aborda diversas temáticas difíceis para serem absorvidas de uma vez, e que devem impactar as pessoas de modos distintos. Mesmo assim, há alguns momentos que devem nos tocar de uma maneira muito semelhante, porque condizem com a nossa necessidade inerente de autoconhecimento.

O filme tem Brad Pitt como o protagonista Roy McBride, um astronauta altamente competente e que guarda uma influência familiar dentro do trabalho: seu pai. Interpretado por Tommy Lee Jones, Clifford é um dos astronautas mais conhecidos na história americana por seus trabalhos referentes à exploração de vida extraterrestre. Após anos dado como morto, o governo adquire pistas de que ele possa estar vivo, – além de ter relação com uma possível ameaça à Terra – e decide enviar o próprio filho para tentar se comunicar com o pai.

A sequência que presenciamos a partir daí é a jornada íntima de Roy em busca do pai, mas também à procura de respostas em relação a si próprio. E esta é uma beleza nítida na trama de Ad Astra, porque apresentas duas jornadas que se complementam, mas partem para objetivos diferentes. Enquanto um se esforça e trabalha para alcançar um conhecimento que vai além da humanidade, o outro encontra-se em resolver sua própria humanidade.

Este esforço de Roy é o que garante a intensidade da dramatização da história. Desde os primeiros minutos, o personagem narra sua história e transmite um estado vazio emocionalmente. Seu olhar, suas expressões, e até mesmo a forma de andar, não conversam com o prestígio que ele tem nas divisões da NASA. Há um incômodo constante pouco explicado, criando uma atmosfera claustrofóbica ao seu redor. Em todo momento ele quer fugir, escapar daquela vida, e o filme nos mostra tantas memórias e pensamentos do protagonista, que nos impede de definir sua agonia.

Brad Pitt está tendo um grande ano. Após uma interpretação maravilhosa em Era Uma Vez em Hollywood (2019), aqui, o ator transforma-se em um ser que sempre está com a aparência de derrotado. O drama do personagem tem influência quase total do ator, porque este entrega uma performance formidável, conseguindo espelhar as indignações do personagem e sua profunda dor emocional. Explicando a expressão “quase”, a direção de Gray não pode ser ignorada de maneira alguma, porque é a que sustenta tecnicamente essa prisão psicológica.

A maneira de extrapolar os usos do primeiro plano e do primeiríssimo plano ressalta a importância de sentirmos seus dramas.  O filme vai e volta várias vezes com flashbacks que retomam a relação entre Roy e sua mulher (Liv Tyler), além daqueles que juntam ele e o seu pai na infância. Me lembrou na hora das cenas de A Chegada (2016), que também se utiliza de flashbacks para sensibilizar a vida da personagem e aproximá-la para com o público. E a montagem não para por aí, porque intercala nos momentos corretos diversas cenas desconexas, mas que criam a cadeia psicológica que Roy está. Ele precisa escapar.

Focando em uma abordagem mais técnica, Ad Astra pode cometer alguns erros científicos, mas cinematograficamente tem uma condução brilhante pela constituição das cenas. A fotografia de Hoyte van Hoyteman destaca a saturação de cores específicas, aplica certas luzes e sombras em cenas mais amplas e gerais e, embora o diretor abuse das sombras nos rostos dos personagens, cria uma passagem interessante e significativa no terceiro ato. Há, também, movimentações e ângulos de câmera que se conversam durante o filme, – e você deve ficar atento – mas seria spoiler se descrevesse-os aqui.

Outro ponto fortíssimo é a concepção de cenários, que remete um pouco ao 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e ao Solaris (1971). Há uma brincadeira de cores em determinada parte que se assemelha ao recente Blade Runner 2049 (2017). Existe a adição de surpreendentes cenas de ação, que, além de serem bem gravadas e conterem uma brutalidade marcante, dão um contraste com a trama rígida e reflexiva.

Chegando no terço final do longa, o filme estava me parecendo um pouco desgastante e, mesmo estando fascinado, senti que o final estava prestes a não entregar nada. Erro rude, porque é aqui que nós partimos da jornada íntima de Roy para um dos temas centrais de Ad Astra. A relação entre Roy e Clifford serve como instrumento para nos levantar questões acerca da busca pelo conhecimento. Afinal, o que buscamos de verdade? De onde surgiu a necessidade instantânea de conhecermos o universo, e de expandirmos horizontes? Seria algo bom realmente? Mais dúvidas e dores? Mais respostas duras para enfrentarmos?

A viagem para o desconhecido, o descobrimento da extensão do universo, a imposição da racionalidade humana diante dos segredos das galáxias, não parecem ser um caminho fácil. E Ad Astra demonstra, com a jornada de Roy e a sua relação paterna, que talvez já tenhamos as respostas, mas não conseguimos enxergá-las, ou, na verdade, nunca quisemos entendê-las.

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A alucinação coletiva em Midsommar: O Mal Não Espera a Noite

Produzido pela A24 e dirigido/escrito por Ari Aster – diretor do excelente Hereditário, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite é mais uma revolução do gênero terror feita pelo diretor. O segundo longa de Aster é difícil de se digerir inicialmente, talvez pelas sequências que não apresentam um sentido inicial ou pelo choque que o filme causa em sua primeira exibição, entretanto com o passar das horas, o objetivo do diretor se torna claro e o filme fica mais nítido.

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Em Midsommar acompanhamos Dani Astor (Florence Pugh), que em meio a todos seus problemas psicológicos se vê lidando com um novo trauma: o suicídio de sua irmã e a morte de seus pais e seu namorado, Christian (Jack Reynor), que não rompe sua relação com ela por medo do que ela poderá fazer. Em meio a esse momento delicado, o casal viaja com um grupo de amigos para o vilarejo de Peele (Vilhelm Blomgren), na Suécia, para vivenciar as tradições (um tanto quanto peculiares) da comunidade para comemorar o solstício de verão. Conforme as comemorações vão passando e eventos bizarros vão acontecendo, o pessoal começa a estranhar e a se perguntar o que de fato está acontecendo.

A trama é bem construída ao decorrer do filme, deixando algumas coisas em aberto para sua interpretação pessoal. É interessante notar o quanto a personagem de Florence, Dani, se fortalece em meio a cultura em que está sendo apresentada – de uma pessoa emocionalmente instável, com inúmeras crises de pânico e traumas, a uma pessoa forte que se sente vingada por enfrentar todos os seus problemas, que sorri no fim de tudo. E comentando brevemente sobre o elenco, os destaques do longa são o casal protagonista, interpretado por Florence Pugh e Jack Reynor – ambos conseguem transmitir com precisão seus sentimentos, seus medos e suas angústias de acordo com os eventos que vão acontecendo. O elenco secundário está excelente também.

Tecnicamente falando, Midsommar é um filme belo. A direção de Ari Aster é impecável e a fotografia é algo lindo de se ver: a paleta de cores em cada cômodo, representando desde a escuridão de um apartamento até o colorido de flores em conjunto com as vestimentas utilizadas pelas pessoas do vilarejo e pelo clima ensolarado da Suíça, além dos planos utilizados para representar as passagens entre diferentes cômodos, tornam o filme uma alucinação. E a imersão, em conjunto com o choque causado a cada rito de passagem define Midsommar como uma alucinação coletiva na sala do cinema.

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Um ponto negativo é que o diretor tenta abordar diversos assuntos e não consegue desenvolver todos da mesma forma, deixando algumas lacunas incompletas ao decorrer do filme e diversas dúvidas ao telespectador (assuntos esses que eu não posso comentar sem dar spoilers). Talvez esse seja um dos únicos defeitos do filme: ser ambicioso demais e não conseguir concluir totalmente as subtramas.

De certa forma, o objetivo de Ari Aster foi concluido com sucesso: deixar o telespectador em choque e sem reação durante a exibição do filme, fazendo com que ele ria de nervoso em diversos momentos e que ele fique tenso com o que está acontecendo. Por conta de toda a situação que o filme se desenvolve, com cores que remetem ”paz” mas com momentos que certamente é o oposto, o choque vem mais forte.

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Midsommar: O Mal Não Espera a Noite é uma alucinação coletiva pelo simples fato de chocar o público com cenas fortes, em uma paisagem um tanto como paradisíaca e que é semelhante daquelas vistas em folhetos de igrejas. Além da imersão que o filme trás ao telespectador. Focando mais no terror psicológico, o longa consegue deixar o público atento ao que está acontecendo com uma trama boa, uma direção bem executada e uma fotografia excelente. No final das contas, Midssomar é mais uma evolução do gênero ao deixar de lado os clássicos jumpscares do gênero e focando no terror psicológico e misturar brevemente com a fórmula clássica de um bom slasher, isso em conjunto com sua fotografia e sua ambientação tornam o filme algo único – podendo ser definido como uma jogada genial de Ari Aster.

 

Nota: 3/5

Um jovem casal atravessa a Suécia para visitar um grupo de amigos e participar de um festival local de verão. Ao invés das férias tranquilas com a qual sonhavam, os dois vão se deparar com rituais violentos e bizarros de uma adoração pagã.

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite estreia nos cinemas brasileiros dia 19 de Setembro.

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A24 e a sua promessa aos futuros clássicos do cinema

Você já ouviu falar sobre, ou viu um filme que começa com uma logo escrita ‘A24’? Caso sua resposta seja positiva, provavelmente teve o prazer de assistir um espetáculo do audiovisual. Se negativa, não tem problema, pois iremos agora decorrer sobre quem é essa produtora, e quais são seus filmes.

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A24 é uma produtora que foi fundada em agosto de 2012 por Daniel Katz, David Fenkel e John Hodges. Seu nome foi inspirado na Autoestrada 24, que fica na Itália; o motivo desse nome, foi que Katz estava passando por essa estrada quando decidiu fundar a empresa.

Logo após um ano, em 2013, a produtora fez seus primeiros longas, como o polêmico Spring Breakers. Já em 2014, abriram uma divisão para televisão, com a série Playing House, e também havia anunciado que financiaria e trabalharia em vários episódios pilotos.

Ao longo dessa década, a empresa já virou uma querida entre os cinéfilos, amantes de filmes de terror, filmes teen, filmes de comédia e romance. Tendo abordagens mais reais e direções maravilhosas, vários dos longas produzidos por eles dominam premiações e aclamações do público. Então, vamos mostrar os cinco longas mais importantes, e suas futuras produções;

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Provavelmente o filme que colocou o nome da produtora em um nível acima, The Witch (The VVitch: A New-England Folktale) conta uma história de pecado, culpa religiosa e histeria.   No século 17, a familia de Thomasin (Anya Taylor-Joy) culpa a jovem garota pelo desaparecimento do seu irmão mais novo, ainda bebê. Com sua trama centrada na religiosidade da familia, magia negra e terror psicológico fez com que o longa fosse aclamado por crítica e premiações, sendo chamado até de ‘melhor filme de terror dos últimos tempos’.

Mesmo dividindo a opinião do público, que teve várias críticas por achar o filme ‘complicado’ e ‘lento’, é inegável dizer que a direção do Robert Eggers não foi um dos pontos principais para que esse filme triunfasse. Tanto que ele e a atriz Anya Taylor-Joy foram os mais premiados durante o lançamento do longa. The Witch é um clássico atual, e foi o pontapé para a A24 decolar para produções grandiosas e icônicas.

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Um filme histórico. Moonlight: Sob a Luz do Luar conta três fases da história de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético e emocionante estudo de personagem.

O longa marcou história no Oscar 2017, por ser o primeiro filme com o elenco todos de negros, o primeiro filme com temática LGBT e o segundo filme com menor bilheteria americana a ganhar o prêmio de Melhor Filme.  Também foi o primeiro a conceder o prêmio de Melhor Ator para um mulçumano e a ter o prêmio de Melhor Edição para uma mulher negra.

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A fantasia do terror, o drama do amadurecimento, e agora à questão filosófica do sci-fi.

EX_MACHINA conta a história de Caleb (Domhnall Gleeson), um jovem programador de computadores, que ganha um concurso na empresa onde trabalha para passar uma semana na casa de Nathan Bateman (Oscar Isaac), o brilhante e recluso presidente da companhia. Após sua chegada, Caleb percebe que foi o escolhido para participar de um teste com a última criação de Nathan: Ava (Alicia Vikander), uma robô com inteligência artificial. Mas essa criatura se apresenta sofisticada e sedutora de uma forma que ninguém poderia prever, complicando a situação ao ponto que Caleb não sabe mais em quem confiar.

O filme foi aclamado por crítica, público e premiações por toda sua parte técnica e visual. Alguns críticos até dizem que esse filme pode ser considerado um dos melhores, se não o melhor, longa de ficção cientifica atual.

Resultado de imagem para good timeNeon, arthouse, e de tirar o fôlego, com certeza todos que assistiram a Bom Comportamento definiriam o filme assim. Com uma das melhores atuações do Robert Pattinson, e direção dos irmãos Safdie, o longa conta sobre o plano de Constantine Nikas (Robert Pattinson), que era assaltar um banco e descolar uma boa quantia em dinheiro, mas nada sai como o planejado e seu irmão mais novo acaba sendo preso. Decidido a resgatá-lo, Constantine embarca em uma perigosa corrida contra o relógio, e onde ele mesmo é o próximo alvo da polícia.

Consagrando mais ainda a carreira dos diretores e de Robert Pattinson, Bom Comportamento foi extremamente aclamado e ainda gera discussões na internet. Com sua trama única, atuações que impressionam do inicio ao fim, esse longa já é considerado por vários um clássico atual.

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Para arrancar lágrimas, Lady Bird é aclamado como um dos melhores filmes ‘Coming of Age’, o longa conta a história de Christine McPherson (Saoirse Ronan), que está no último ano do ensino médio e o que mais deseja é ir fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia firmemente rejeitada por sua mãe (Laurie Metcalf). Lady Bird, como a garota de forte personalidade exige ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir embora adiante mesmo assim. Enquanto sua hora não chega, no entanto, ela se divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, típicos rituais de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com a progenitora.

Com a aprovação de 99% no Rotten Tomatoes, o primeiro filme dirigido e escrito por Greta Gerwig, o longa foi aclamado em festivais de cinema, e até chegou a concorrer em quatro categorias no Oscar 2018.

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Agora uma menção especial: Como havíamos dito, a A24 não se limita apenas aos filmes, ela já produz e produziu dezenas de seriados americanos, e o que mais chamou a atenção foi
‘Euphoria’, estrelando a atriz Zendaya.

A série conta o dia-a-dia de adolescentes do ensino médio, mostrando seu amadurecimento, relacionamentos, traumas, redes sociais, drogas e vários outros assuntos que um bom ‘coming of age’ (assim como Lady Bird) precisa dialogar sobre.

A série é uma das favoritas para futuras temporadas de premiações, com destaque na direção, arte, maquiagem e atuação apresentadas na série.

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É realmente dificil ter que escolher apenas cinco longas para representar uma produtora que a sua maioria de filmes devem ser classificados como ‘ver antes de morrer’. Midsommar, Hereditário, Oitava Série, Mid90’s, High Life, Climax e First Reformed são alguns exemplos de filmes que também merecem ser vistos e apreciados, futuramente esses nomes ocuparão a lista de clássicos.

Resultado de imagem para lighthouse movie gifTambém não podemos deixar de citar as futuras produções da empresa, que prometem também entrar nessa lista tão magnifica. The Lighthouse, dirigido por Robert Eggers (o mesmo diretor de ‘A Bruxa’), trabalha ao lado de Robert Pattinson e Willian Dafoe em um terror marítimo, que foi concebido com muitos aplausos, críticas extremamente positivas em Cannes, o longa está sendo cotado como um dos favoritos para o Oscar 2020.

Também podendo ser citados nessa lista, The Last Black Man in San Francisco, elogiado e sendo uma aposta para um dos melhores filmes nas próximas temporadas de premiações, é um longa muito dramático, bonito e emocionante. Outro que entrou de surpresa para essa lista é Uncut Gems (dirigido pelos irmãos Safdie, os mesmos de Bom Comportamento), estrelado pelo Adam Sandler, o longa recebeu aprovação de 100% no Rotten Tomatoes e está sendo comentado como uma das melhores atuações de Sandler, e uma história única.

Resultado de imagem para the witch gifEntão, não se preocupe quando ver o nome da A24 em um filme; talvez você ache o filme controverso, mas esse é o papel de um longa. Criar discussões, te emocionar, assustar, divertir e marcar, é tudo isso que os filmes dessa grandiosa produtora oferecem, e garantem uma experiência única.

Você pode encontrar vários desses filmes citados em plataformas de streaming, cinemas e mídias-físicas. O próximo lançamento da A24 aqui no Brasil será Midsommar: O Mal Não Espera a Noite, no dia 19 de setembro, e terá sessões antecipadas no dia 13, uma sexta-feira.