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Alien: Romulus é junção imperfeita de horror, ficção e ação

Ridley Scott tentou explorar mais a fundo a ficção científica da sua franquia renomada Alien com Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017). Infelizmente, embora gostando desses filmes, admito que suas intenções esbarraram em ideias confusas e – por que não? – estranhamente bizarras. Mas os filmes estão ali, tentando abordar temas de natureza mais complexa do que os filmes anteriores, discutindo a origem da humanidade e onde ela se encaixa no grande esquema das coisas. Em Alien: Romulus, o diretor Fede Alvarez também está interessado na ficção científica deste universo, desde a construção de um cenário distópico onde a humanidade se curva ao mundo privado até aos desdobramentos da existência de humanoides entre a sociedade civil. E, se essas discussões são mais bem pontuadas e desenvolvidas aqui, vale mencionar o quão bem-sucedido Alvarez foi se comparado com o mestre Scott.

Alien Romulus equilibra ficção científica e terror na medida certa -  Opinião | Minha Série

O êxito do diretor, cuja filmografia demonstra um interesse pelo suspense e o horror, reside na criação de um amálgama da franquia ao colocar o horror do clássico Alien, o Oitavo Passageiro (1979), a ação intensa de Aliens, o Resgate (1986), a maternidade de Alien 3 (1992), e as bizarrices de Prometheus e Covenat em uma mistura só. Assim, Romulus é, definitivamente, uma ode ao passado, que prova que a originalidade não é o único caminho, e beber de fontes certas sabendo o que está fazendo é uma tarefa tão árdua quanto inovar – embora só depender delas também não o faça um grande diretor.

A trama segue a dupla Rain (Cailee Spaeny) e Andy (David Jonsson), cuja irmandade começou quando o pai da garota integrou o humanoide Andy à família, e o deixou com a diretriz de proteger a garota. Eles se envolvem com um grupo de conhecidos na tentativa de fugir do sistema em que estão, a partir de uma carga de módulos de hibernação encontrada numa estação espacial abandonada. Este, portanto, é o cenário perfeito para que o grupo se depare com as criaturas adormecidas devido às pesquisas passadas envolvendo suas origens.

Alien: Romulus' é belo equilíbrio entre homenagem e cópia para ressuscitar  a franquia; g1 já viu | Cinema | G1

A premissa é simples, mas extremamente eficiente. Ao longo dos primeiros minutos, nos afeiçoamos com a dupla de protagonistas e pela habilidade do roteiro de construir um background entre eles, sem torná-los rasos e apenas um pedaço de carne para ser devorado (ou acasalado). Mas isso não se repete com os outros personagens, que apenas são condicionados a estarem relacionados com Rain e Andy. Como foi dito, o filme sabe explorar sua filosofia ao abordar a existência de Andy e como sua presença pode ser perturbadora para aqueles que são contrários à sua existência. Essa tensão entre os personagens já conduz a narrativa para além do superficial da sobrevivência, e nos oferece uma camada adicional quando coloca em pauta o quanto uma vida vale mais que a outra.

O que oferece um contorno ainda mais interessante é quando a consciência do sintético Rook (Ian Holm), mesmo modelo do famoso Ash do filme original, é transportada para Andy, e a figura inocente do personagem dá lugar à frieza cruel de alguém capaz de fazer o que for necessário para cumprir sua diretriz: entregar os resultados das pesquisas dos xenomorfos à Weyland-Yutani. E essa mudança, além de ser um aspecto brilhante da ótima atuação do David Jonsson, coloca em jogo a relação entre a humana Rain e seu “irmão”, e o quanto ela abdicaria de suas convicções para sobreviver.

Alien: Romulus terá continuação? Entenda o final do filme | Minha Série

De um ponto de vista estético, há muitos elogios para se fazer em relação às escolhas do diretor de fotografia Galo Olivares. Com um bom uso de luzes e sombras, o filme consegue explorar o seu cenário de modo a construir toda aquela sensação de perigo e solidão, seja através do vermelho presente em sinalizadores e sinais de alerta pela estação, às sombras dos corredores que sempre ameaçam guardar algum susto – ou surpresa desagradável. Gosto de como a protagonista é retratada como a Ripley dessa jornada, a colocando como a grande heroína da história. Outro fator que contribui ao horror são os ótimos efeitos práticos que tornam as ameaças mais verossímeis e incômodas só pela sua movimentação estranha; a maquiagem também reforça o horror com corpos estraçalhados, perfurados, dignos de um filme gore.

Além disso, a ação é outro elemento presente aqui e bem conduzido. Devo destacar a cena envolvendo as secreções/substâncias ácidas dos Aliens, e quando elas estão espalhadas num andar sem gravidade. A beleza estética fala por si só, e a tentativa de escapar de qualquer ferimento é a sequência mais apreensiva do longa.

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Infelizmente, a apreensão dessa cena não se repete ao longo do filme. Mesmo fazendo um trabalho competente, não me encontrei imerso em quase nenhum momento de Romulus. A sensação de perigo, a claustrofobia, o receio, o medo pelos personagens são emoções esperadas que não estiveram presentes durante a minha experiência. É como se o filme se contentasse com soluções fáceis e convenientes, e não trouxesse soluções mais interessantes, e desperdiçasse seus ótimos comandos artísticos na fotografia, na maquiagem, no figurino e no design de produção. Cito aqui uma cena onde o silêncio se faz fundamental para não alertar as criaturas e de repente surge uma voz na transmissão de rádio alertando a todos no local. Se Alien: Romulus for sua primeira experiência de terror nos cinemas, talvez essa cena, entre várias outras, surta o efeito pretendido.

Basear-se nas fontes boas e saber trabalhá-las é o grande destaque deste filme, mas também é seu principal obstáculo: o potencial esbarra nas suas inspirações. Embora Romulus possua um início particular e imersivo, que prometia um desenrolar mais intimista e amedrontador, ele respeita tanto seus antecessores que acaba esvaindo-se de ideias criativas, não necessariamente originais. Desse modo, acaba encerrando sua história de forma diametralmente oposta ao seu início: óbvia e comum. E isso não faz jus ao bom filme feito por Alvarez.

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NetEase Games e Marvel Games anunciam Marvel Rivals!

Os fãs de games e da Marvel já podem comemorar! A NetEase Games em parceria com a Marvel Games anunciou o mais novo título que chegará nas lojas digitais em breve: Marvel Rivals. O jogo será um PvP com partidas de 6×6, inspirado nos famosos Overwatch e Valorant.

Confira o trailer de revelação:

https://www.youtube.com/watch?v=IVXO9Iis-Qc

Ainda não há previsão de lançamento, mas o teste alfa está programado para Maio, com 12 personagens jogáveis, entre eles Pantera Negra, Homem-Aranha, Magneto, entre outros.

A premissa do game parte de um confronto impiedoso entre o ditador tirânico Doutor Destino e seu homólogo do ano de 2099, cuja consequência foi inúmeros universos colidirem no Emaranhado do Fluxo Temporal, criando novos mundos e crises ainda desconhecidas. Agora, super-heróis e super vilões de todo o multiverso devem lutar juntos e uns contra os outros, enquanto grupos díspares tentam derrotar ambos.

Inicialmente, o jogo só estará disponível para PC pela Steam. Ainda não há nenhum anúncio oficial para outras plataformas, embora rumores e vazamentos afirmem que o jogo também está sendo desenvolvido para consoles. Para mais notícias acerca de Marvel Rivals, fique atento nas redes da Torre de Vigilância!

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Creed III: Quando poucos golpes são suficientes

A franquia Rocky ultrapassou os limites do ringue de luta. Embora mantive-se o foco na história de superação, treinamento, disciplina e nos sacrifícios pessoais do lutador Rocky Balboa, os filmes nunca esqueceram do aspecto urbano e do cotidiano envolto do protagonista. Ryan Coogler, diretor do primeiro Creed e roteirista da trilogia, conseguiu retomar esses aspectos através das lentes da cultura negra americana. E mesmo Pantera Negra (2018) sendo o seu trabalho de maior prestígio e popularidade, foi com Creed que a sua capacidade conseguiu ditar as temáticas de uma franquia inteira. No terceiro filme, agora sem a estrela de Sylvester Stallone, o background dos personagens persiste nas raízes da comunidade negra – e como o passado destes interferiu em suas expectativas e sonhos de vida.

Se olharmos em última instância, todos os filmes da franquia, desde o primeiro Rocky de 1976, trabalharam em cima do sonho daqueles em tela. Os personagens sempre estão buscando alcançar um outro patamar de vida: casar com a mulher amada, vencer a luta, tornar-se campeão. O personagem interpretado por Jonathan Majors, Damian Anderson, é um entre vários que almejavam ser profissional do boxe e desfilar com o cinturão numa carreira vitoriosa, mas acabou tendo seu caminho redirecionado por uma sentença de 18 anos em cárcere privado após um desentendimento na rua. O terceiro filme nos oferece dois personagens que partiram juntos, mas acabaram atravessando jornadas distintas e consequentemente finais desiguais. Adonis tornou-se aquilo que o amigo desejava, e Damian viveu quase duas décadas no presídio vendo um sonho próximo da realidade se transformar numa probabilidade distante.

Assim, Creed III traça um comentário político interessante quando coloca em debate como as circunstâncias e a desproporcional punição condicionaram o futuro de um garoto, e destruíram qualquer perspectiva de sucesso. Contudo, o filme se interessa mais nessa background como justificativa para o sentimento vingativo do antagonista, do que necessariamente se aprofundar no comentário político e social.

É preciso ter uma suspensão de descrença do mesmo nível daquela em Gigantes de Aço (2011), quando o robô de treinamento Atom confronta os robôs mais competitivos e tecnologicamente avançados do mundo, para engolir a história de Damian. O plano arquitetado e a escalada oportunista para enfrentar o atual campeão, além do mistério envolta da sua vida dentro da prisão, mantendo o ritmo de treinamentos e o porte físico de um atleta profissional são enfiados goela abaixo e apenas geram dúvidas pertinentes sobre suas reais condições na cadeia, pois é conveniente para o roteiro deixá-lo pronto para a jornada sem qualquer preparo – e torná-lo uma opção viável num confronto de proporções globais.

E o roteiro não peca exclusivamente nesse contexto. A história retrata um Adonis Creed aposentado, sendo a primeira luta do filme justamente sua despedida dos ringues. Semelhante à premissa de Rocky Balboa (2006), Creed III coloca seu protagonista na posição de superado e ultrapassado, quando outros rostos e nomes assumem o protagonismo do esporte. Contudo, existe uma diferença gritante entre o que fizeram com Balboa em 2006 e essa tentativa. A caracterização de Sylvester Stallone corresponde a alguém obsoleto, cansado e nitidamente fora da idade (resultado da própria realidade do ator); a forma como o filme explora suas vulnerabilidades e fraquezas o tornam mais verossímil, e nos fazem reconhecer seu retorno aos ringues como um desafio complicado. No caso de Michael B. Jordan, sua caracterização e, portanto, seu porte físico e estilo de vida (assim como o período curto da aposentadoria), não correspondem ao que filme pretende transmitir e acaba por atrapalhar na forma como nos relacionamos com ele, sendo este “grande desafio” um mero percalço no caminho.

Se essa tentativa frustrada de emular a capacidade emocional da obra de 2006 já não fosse suficiente, o filme também retrata uma perda (que não será revelada aqui) com o peso dramático de uma folha de papel. Novamente parte do esforço de criar empatia pela história do protagonista, como se obter a comoção do público fosse missão fácil apenas por colocar o acontecimento anunciado desde o início num ponto crítico da trama – e não resultado de um processo construído gradativamente (se possível, com sutileza).

Contudo, as limitações óbvias do roteiro esbarram numa direção competente e inspiradora do estreante Michael B. Jordan. Foi uma grata surpresa reconhecer na tela um diretor que busca alternativas para cenas simples, sempre procurando caminhos diferentes para transmitir sensações. Não só pela capacidade de conduzir ritmos impressionantes nas lutas, mas imprimir um estilo inspirado por seus gostos pessoais pela linguagem dos animes (os planos fechados nos braços e luvas, o slow motion) que possuem caráter próprio na produção das cenas de ação. Outro ponto relevante é como Jordan não se limita em focar na luta em si, mas busca intercalar com flashbacks que remetem às emoções e pensamentos dos lutadores. O conflito principal entre Adonis e Damian é para além do âmbito físico, é quase como um acerto de contas espiritual.

Também vale ressaltar a continuidade de estilos musicais, temáticas e saudosismos que integram toda a trilogia. É importante manter uma unidade artística facilmente reconhecida ao assisti-los: a representatividade da comunidade negra, a exaltação e o respeito pelas figuras do passado (embora aqui ocorra um distanciamento muito maior do que nos anteriores), além da música tema com acordes clássicos da franquia. São, portanto, elementos que mantém o espírito dos três filmes.

Ao final (sem spoilers), o diálogo entre o Adonis e Damian retrata dois homens compreendendo como o sentimento de vingança só serve para consumir aquilo que resta. Mas o destaque está quando eles se conscientizam sobre o quão equivocados estavam em tentar procurar culpados entre si, quando a culpa verdadeiramente partia daquelas forças externas maiores, que – às vezes – os tornam coadjuvantes da própria vida.

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Retorno de Succession é síntese do que a série sempre foi

Humor e drama andam de mãos dadas em Succession. O sucesso estrondoso do streaming faz por merecer a audiência e a repercussão. Após três temporadas finalizadas, a série ainda se mantém fiel aquilo que a fez chegar aos holofotes, e sem perder a qualidade e as particularidades técnicas que a tornaram incomparável e única no meio de tantas produções televisivas. Sua principal virtude recai na forma como ela enxerga a elite econômica americana. Isto é, um retrato irônico sobre uma família que possui tudo do ponto de vista financeiro e, ao mesmo tempo, nada na perspectiva familiar e afetiva – e talvez um dos seus apelos seja justamente rir daqueles que estão acima (em termos de concentração de renda e poder), como se fosse uma catarse temporária para nós, espectadores, rodeados por uma dinâmica de tensão de classes.

Rir e chorar, aliás, ditam os ritmos do primeiro episódio, que serve como abertura para já anunciada quarta e última temporada. Em poucos minutos, a série consegue criar tensão sobre um negócio particular complicado, que envolve uma transação de bilhões de dólares; humor na festa de aniversário de Logan (Brian Cox) rodeada de pessoas interesseiras que se esforçam para conseguir o mínimo de apreço e apenas recebem desprezo; estranhamento pelo fiasco da campanha presidencial de Connor; dramaticidade a partir do conflito amoroso entre Shiv e Tom; além do constrangimento decorrente da situação enfrentada por Greg. Assim, são cenas que geram emoções contraditórias: preocupação, atenção, alegria, tristeza – e isto é síntese do que a série sempre foi. Um amálgama de emoções que nos fazem odiar e amar todos os personagens, torcer contra alguns, mas depois torcer para outros. É uma experiência audiovisual inteligente e capaz de nos fazer enxergar uma família por diferentes perspectivas e, desse modo, nos tornar ativos a cada episódio: para quem estamos torcendo, afinal?

Numa das cenas de abertura do episódio, os convidados cantam parabéns para Logan, este que sai da sala esbravejando: “put* que o pariu…”. Já é popularmente conhecida a insatisfação geral de Logan pela vida e as pessoas ao seu redor. Embora seja um dos personagens mais cruéis, sinto uma sinceridade rara exalando nele; como se fosse o único realmente consciente do interesse que move o cotidiano corporativo. O diálogo entre ele e seu segurança num simpático e humilde restaurante demonstram uma preocupação honesta sobre o destino e a finitude das coisas. De certo modo, é um momento particular que enxergamos as outras camadas da sua personalidade, nos afeiçoando brevemente – para logo depois o próprio criticar e colocar pra baixo a sua equipe de suporte inteira.

Ao fim da terceira temporada, os personagens se separaram em dois pequenos grupos. Shiv (Sarah Snook), Roy (Kieran Culkin) e Kendall (Jeremy Strong) fizeram uma tentativa frustrada de tomar as rédeas da corporação presidida pelo seu pai, enquanto Logan ficou com Tom, este que traiu a confiança da esposa para conseguir o mínimo apreço e finalmente conquistar seu espaço dentro da empresa. Como prometido, portanto, a quarta temporada será marcada pelo conflito entre esses dois grupos, ambos ambicionando poder, influência e dinheiro. Nesse episódio especificamente, os filhos finalmente conquistam a primeira vitória contra as tentativas do pai, que subestimou a coragem destes. A repercussão desse embate, contudo, só poderá ser vista no próximo episódio.

Antes de entrar na cena mais dramática, devo mencionar o quão engraçado foi descobrir os resultados da campanha presidencial do Connor (Alan Ruck). O filho mais velho de Logan é um coadjuvante na trama principal, mas guarda para si uma missão: tornar-se presidente dos EUA. Porém, seus gastos milionários na campanha quase não surtiram efeito, atingindo a marca impressionante de 1% nas pesquisas. E sua dúvida é se um investimento adicional de 100 milhões de dólares seja suficiente para que sua campanha não perca décimos e não seja considerada um fracasso (como se 1% não fosse cômico suficiente). Greg (Nicholas Braun) também passa por uma situação engraçada ao praticar relações sexuais com a parceira num dos quartos de Logan, onde Tom afirma que existem câmeras instaladas. Greg, então, fica preocupado e começa a questionar Logan durante o ponto mais crítico da negociação. Logo, enquanto todos estão preocupados com o desfecho do acordo, Greg fica completamente deslocado da seriedade e tensão do ambiente, resultando em cenas constrangedoras – e hilárias.

Para finalizar a análise do episódio, é preciso comentar sobre a relação entre Shiv e Tom. Após diversos momentos críticos em episódios variados, o casamento parece ter chegado no seu limite emocional. Cansados de manter algo desgastado e sem sentido, o diálogo que serve como desfecho do episódio é um dos mais sentimentais da série por representar o fim do amor a partir da consciência de dois adultos maduros que compreendem que aquilo ali acabou, por mais duro que seja. A cena com ambos deitados de mãos dadas é, desde já, uma das imagens mais marcantes e tristes do ano.

Tom, particularmente, possui um retrato melancólico. Enquanto este despreza as pessoas sem poder aquisitivo, algo que fica marcado nas piadas referentes à companheira de Greg, suas brincadeiras e gozações acobertam uma vida artificialmente construída pelo interesse, um casamento infeliz, além de relações de trabalho frágeis. É um personagem habilmente construído e atuado com excelência por Matthew Macfadyen, que traz consigo trejeitos quase infantis como alguém que não possui habilidades sociais suficientes para dizer aquilo que sente, apenas arrota arrogância para disfarçar a insegurança.

Portanto, Tom não é  retratado exclusivamente como um pobre coitado, mas também como um vilão oportunista e manipulador, indiferente em como as atitudes irão respingar em seus relacionamentos. Essa ambiguidade envolta dele, e de todos os outros, é uma das razões para a série se destacar em meio a tantas produções.

Succession volta aos domingos preenchendo uma lacuna possível de ser alcançada por raríssimas obras que tenham algo a dizer, mas principalmente mostrar – e isso ela tem de sobra. Chega com a proposta de combater uma associação socialmente construída entre poder aquisitivo e valores pessoais, como se o bilionário fosse exemplo de perfeição em carne e osso, uma idealização altamente difundida nesses tempos sombrios de coaching. Mesmo com a crueldade e perversidade de alguns personagens, a série é capaz de extrair sentimentalismo e sinceridade das relações de seus protagonistas, e destacar como estão perdidos tentando aprender uma lição fundamental: nem tudo se compra.

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CUIDADO! Vampire Survivors é vício difícil de escapar

Eu passei por um momento complicado há dois meses, e gostaria de compartilhar a experiência com os simpáticos leitores da Torre de Vigilância.

No começo desse ano, estive praticamente obcecado por um jogo indie intitulado Vampire Survivors. Era quase como se me sugasse para uma dimensão minimalista e não me deixasse escapar. Foram horas de gameplay absolutamente incríveis e, quando estava com o console desligado, eram horas pensando nele. Seu segredo não é mistério, muito pelo contrário, é até óbvio se pensarmos em sua proposta e estrutura, mas diante do cenário atual da indústria de games, sua fórmula de sucesso é quase como uma equação matemática complicadíssima.

E esta é a simplicidade. Sim, porque a jogabilidade de Vampire Survivors se resume a você movimentar o seu personagem e clicar, quando requisitado, na escolha de suas armas e na eventual evolução dos poderes. Andar, coletar baús, cumprir curtas missões no mapa, e sair matando descontroladamente dentro do limite de 30 minutos são a base da fórmula do sucesso. (isto até você liberar a opção de tornar a fase interminável). Aliás, não há necessidade de aperta um botão sequer para atirar/lançar tiros, feitiços ou encantamentos. Você ‘só’ precisa andar e desviar dos inimigos – que te geram dano ao encostar – deixando que a magia aconteça pela combinação dos poderes e seus upgrades, possibilitando cenas insanas de luz, cores e demônios sendo devorados na  tela. (Capaz de você ficar anestesiado após um bom round).

Não posso esquecer de comentar sobre o sistema de conquistas do jogo, que transforma todas as suas tarefas em conquistas, o que atrai ainda mais viciados por gamerscore e/ou troféus. É um jogo que possui a capacidade de agradar públicos variados, mas um perigo para aqueles particularmente obcecados por evolução e conquistas.

O início pode soar um pouco arrastado e cansativo, tanto na lentidão do personagem quanto na sua evolução propriamente dita. Porém, após cerca de duas a três horas de jogatina, serão liberados tantos personagens e habilidades que o início irá se tornar recompensador – como todo o resto. Não só pelas conquistas, mas também a mecânica de coletar moedas – e sobreviver o máximo que conseguir – é relevante para a progressão do jogo por conta do desbloqueio de heróis e habilidades passivas que permanecem contigo até o final (podendo ser desativadas se assim desejado). Assim, Vampire Survivors possui elementos rogue-lite, onde morrer e tentar de novo são fundamentais, mas a frustração é mínima quando se nota a sua evidente evolução no decorrer do jogo.

Afinal, são essas pequenas percepções que engrandecem a experiência num bom jogo de vídeo-game. Sentir seu aprendizado e, consequentemente, sua melhora na compreensão das mecânicas do jogo e nas habilidades requisitadas por este. Foi com sentimento de satisfação que terminei minha jornada insana com Vampire Survivors, no qual passei dias e noites mal dormidas num único objetivo: matar e upar. Matar e upar. Matar e upar. Matar e upar.

Vampire Survivors prova como a simplicidade às vezes é o caminho ideal para aquelas empresas que querem gerar impacto aos seus consumidores. O vício se instaura em questão de minutos, num jogo onde a premissa básica é se movimentar e sobreviver. E você não irá perceber quando as garras do vampiro estiverem cravadas em seus músculos e cérebro. Quando isso acontecer, fique tranquilo, porque a maior dificuldade será enfrentar a crise de abstinência após a conclusão. (E eu continuo sofrendo, esperando a morte cinza me levar).

Vampire Survivors está disponível para os assinantes do Game Pass no Xbox Series X|S e PC, além de possuir versões para Android e iOS.

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John Wick 4: Baba Yaga: Uma viagem alucinante e brutal

“A good death only comes after a good life.”

John Wick é a definição ideal do exército de um homem só. Como dito exaustivamente, é um homem de foco, compromisso, de pura vontade. Keanu Reeves deu vida a um personagem que não demorou para se tornar um símbolo do gênero de ação. Mas muito além disso, tornou-se sinônimo de um estilo vibrante, frenético e brutal, onde a preocupação da câmera recai no posicionamento e na movimentação dos corpos em cena, responsabilidade do excelente Chad Stahelski.

O primeiro filme da franquia parte da premissa básica de um assassino aposentado, que se vê forçado a voltar à ação após o assassinato cruel do seu cão, presente de sua falecida esposa. Essa sede de vingança foi apenas escalando filme após filme, numa demonstração clara de que o cachorro era a superfície de um anseio interior maior e mais intenso. Essa ascensão da violência chega na Alta Cúpula, a grande organização criminosa deste universo ficcional; quando a bala de John Wick rompe todas as regras e mandamentos que mantém o sistema criminal operante, tornando-o alvo principal com uma recompensa milionária pela sua cabeça. Em seu quarto filme, John começa sua jornada para o acerto de contas com a instituição que lhe trouxe morte, sangue e consequências irremediáveis. 

Diferente do seu antecessor, John Wick 4: Baba Yaga demora alguns minutos para pegar no tranco. O filme pode ser observado como uma obra composta por três grandes sequências de ação, bem delineadas no começo, no meio e no fim. Para os acostumados à ação desenfreada da franquia, a proposta inicial pode soar estranha por se debruçar substancialmente nos diálogos e nas relações dos personagens, embora os clichês e as frases de efeito continuem aqui. Assim, pode-se dizer que o roteiro arquiteta estas cenas como apoio para o surgimento da ação, quase como a necessidade de carregar a arma antes de apertar o gatilho.

E quando o gatilho é apertado… o filme é uma obra inesgotável de luta, tiros, coreografias, sangue e brutalidade. As cenas funcionam como a culminação de tudo aquilo que o diretor e o restante da equipe aprenderam com os filmes anteriores. Há diversas repetições daquilo que já vimos, tanto em termos de escolhas estéticas da direção de fotografia e do design de produção (paleta de cores, enquadramentos, composição de cenário, iluminação e movimentos de câmera conhecidos) quanto de detalhes dos efeitos das balas, que ricocheteiam na blindagem ou explodem no crânio, mas a execução desses elementos em conjunto nas sequências de longa duração é um êxtase para o espectador.

Tal sentimento é constante ao longo das quase três horas de filme, porque é como se a obra fosse como o protagonista: inesgotável. O filme parece não cansar da ação, e é importante salientar como as cenas nunca se tornam exaustivas, pela habilidade do diretor ao constituir um ritmo que ofereça possibilidade de compreendermos aquilo que está na telona. A câmera é consciente de si, isto é, percorre o ambiente sem deixar escapar detalhes do campo de visão e da ação dos personagens. Sua movimentação também permanece contida, porque é mais eficiente você deixar brilhar a equipe de dublês e os movimentos treinados/coreografados do que balançar/chacoalhar para dar a falsa sensação de ação e dinamismo (né, Michael Bay?). 

Aliás, os dublês e as passagens de luta continuam sendo o ponto mais alto de John Wick, porque apresentam uma brutalidade real com técnicas e estilos verídicos, mas mantém certa teatralidade pelo excesso e o absurdo com tantos golpes num curtíssimo intervalo de tempo, que, combinados com a mise-en-scène bem pensada e executada, oferecem uma ação orquestrada como num espetáculo.

Nunca iria me perdoar se não reservasse um parágrafo para comentar sobre uma das maiores sequências de ação que já assisti dentro da sala de cinema. Não havia como cronometrar, mas acredito que a parte final contenha mais de quarenta minutos de ação postergada de ação e antecedida por ação. O que ocorre é tão frenético que só termina literalmente nos créditos finais. Sem respiros ou tempo para se ajeitar na poltrona, o terço final combina a estrutura de anúncio de recompensas da Cúpula feito exclusivamente por mulheres via rádio (já apresentada em filmes anteriores) com a perseguição por John Wick. Os anúncios de aumento da recompensa, como também da localização em tempo real de John, são acompanhados por músicas na transmissão. É como se colocasse uma playlist no Spotify ditando o ritmo da carnificina. Em dezenas de minutos, os ambientes se alternam entre ruas, pontos turísticos, cômodos e escadas (importante salientar a sequência com o uso do plano zenital que será lembrada por diversos anos); os tipos de arma se modificam de pistolas à metralhadoras (ressalto aqui a edição de som da arma explosiva); e as ameaças vão ficando gradativamente piores. Minha tremedeira ao final é a única resposta possível para exemplificar o sentimento provocado pela experiência.

Outro ponto fundamental é a integração completa da cultura oriental na narrativa de John Wick. Mesmo sendo pincelada no terceiro filme, aqui os aspectos orientais ficam em evidência e são articulados pelas escolhas narrativas do longa. Principalmente no início, o ambiente oriental é o palco principal, com os estilos de luta e armas complementando essa representação. A adição do personagem Caine (Donnie Yen) é absolutamente espetacular, sendo este responsável por roubar a cena quando passa.

Porém, o maior destaque desta integração fica na predominância da temática da honra acerca da trajetória de vida, e como as escolhas possuem consequências às vezes definitivas. De certo modo, o filme tenta encontrar razão para a insanidade que John Wick persiste em manter e percorrer mesmo sofrendo perdas irrecuperáveis, oferecendo delicadeza ao retratar as escolhas de um assassino aparentemente impiedoso e inescrupuloso num caminho sem volta. Essa constatação é marca de como um exercício de gênero de ação se permite sensibilizar-se com a história de seu protagonista, possuindo virtudes para além das suas coreografias, cores, sons e luzes estonteantes. 

John Wick 4: Baba Yaga é o ápice da franquia e, possivelmente, uma conclusão plausível e satisfatória sobre um marido que buscou sangue como forma de sobreviver à dor do luto. Afinal,o pequeno cachorro serve como um pretexto para as profundas ânsias de John Wick, que o usa como justificativa para respaldar toda a sua aparente sede de vingança ao reproduzir violência. Mas balas não funcionam contra a inevitabilidade da morte – e do sofrimento proveniente -, são apenas tentativas frustradas de curar a ferida profunda e incurável. Assim, John Wick se reveste como Baba Yaga para dar vazão àquilo que o impede de prosseguir; mas se empenha para ser lembrado como um marido dedicado, e não como o maldito que matou três homens no bar com a porra de um lápis.   

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Final de Better Call Saul é inevitável e incomparável

Foram seis anos. Com estreia em 2015, pairava sobre Better Call Saul uma única e sonora expectativa: o retorno ao universo Breaking Bad. Embora os criadores do spin-off prometessem uma história focada na origem do advogado ardiloso Saul Goodman, a audiência estava realmente interessada em assistir qualquer referência, easter egg ou participação da série original. O que receberam, afinal, foi uma série despreocupada com a sua fonte original, caminhando com pernas próprias ao estabelecer a sua razão de existir em si própria. Better Call Saul existe porque existe, porque Gilligan e Gould encontraram uma oportunidade de, para além da expansão dos horizontes interpretativos da história de Walter White (Bryan Cranston), apresentarem histórias e personagens complexos numa narrativa visual provocativa e densa.

Obsessão

A palavra “obsessão” define bem o tema central da sexta e última temporada de Better Call Saul. Por conta do assassinato da sua família, Lalo Salamanca (Tony Dalton) começa uma busca implacável atrás daqueles que foram responsáveis pelo ato; Nacho Vargas (Michael Mando) se encontra perturbado ao perceber que tudo ao seu redor o sufoca, sem chance de escapar da vida que escolhera; Kim e Jimmy estão obcecados com a destruição da reputação da carreira de Howard, este, que também entra numa paranoia ao acreditar (acertadamente) que a dupla está tramando contra ele. Já Gus Fring (Giancarlo Esposito), sempre frio e um passo à frente dos demais, se mostra uma pessoa insegura com a suposta ameaça iminente, na crença (também correta) que Lalo está vivo e à sua procura. Dessa forma, os primeiros episódios do final tratam de aprofundar as fragilidades e inquietudes de seus personagens; estas que acarretam em consequências dramáticas e severas para trama, como o suicídio de Nacho, que choca ao ser o único caminho encontrado pelo personagem para escapar da situação.

O que vemos a partir dessas inquietudes é uma narrativa ágil ao intercalar as tensões em vários episódios, fazendo com que certos acontecimentos se colidam com outros. Como o fato de Howard aparecer no apartamento na mesma hora que Lalo (adiante falarei mais sobre), ou a operação de segurança de Gus Fring ser questionada pela própria Kim.

Desenvolve-se, então, uma história pautada na perseguição psicológica. Com Gilligan e Gould no comando da arquitetura geral, todos os episódios têm uma técnica primorosa, característica das temporadas anteriores, ao estabelecer um padrão visual rico em detalhes com um ritmo gradual particular, embora familiar aos fiéis espectadores da série. Há preocupação milimétrica sobre tudo o que está em cena, quais objetos serão focados, ou desfocados, uma mise-en-scène cuidadosa e minuciosa, enquadramentos que, ou transmitem a sensação da cena, ou buscam esteticamente atribuir significado concreto no desenvolvimento dos personagens. Enfim, um virtuosismo técnico impressionante que coloca a série numa estante altíssima quando falamos de fotografia, design de produção, montagem e edição em produções televisivas.

Assim, acompanhada de responsáveis que sabem o que estão fazendo, a história da perseguição psicológica acaba se desenrolando para um caminho surpreendente, porém inevitável: Saul Goodman. São diversas passagens na série que poderíamos pincelar gritando: É AÍ QUE ELE VIRA O SAUL. Incontáveis os exemplos onde Jimmy aparenta mostrar a face de Saul Goodman, mas é um exercício fútil e desnecessário escolher uma única cena que exemplifique a transformação, porque há tons de cinza no processo dessa constituição, Saul resulta de vários acontecimentos combinados. Por isso, McGill e Goodman, pelo menos até Breaking Bad, vivem como um só.

Mas só até esse ponto. Saul Goodman poderia ser considerado o alívio cômico em Breaking Bad. O advogado criminal malandro, que sempre encontra uma forma de estar em cima e ganhar, com os ternos coloridos um tanto quanto antiquados, o cabelo estranho, colocam ele numa posição que contrasta com a frieza dos outros personagens. Após Better Call Saul, contudo, nossa visão sobre o personagem se altera drasticamente, ao descobrimos que seus sorrisos, sua fala rápida e incansável, seus ternos e luxos, suas tiradas com os policiais, tudo aquilo que compõe sua personalidade, não passa de uma fantasia de palhaço para esconder a figura melancólica de Jimmy McGill, frágil e traumatizada.

Jimmy e Kim viram comparsas após o desfecho da quinta temporada. Jimmy percebe o quão ardilosa Kim pode ser, e ambos prometem manchar a carreira de Howard. A partir de planos inescrupulosos, os episódios acompanham ambos destruindo gradualmente sua reputação, até chegar num desfecho fatídico e mirabolante, levando Howard a encontrá-los no apartamento. Em paralelo, Lalo decide incluir seu advogado no plano de vingança contra Gus Fring, coincidindo estar no local junto ao “desconhecido” Howard. O assassinato a sangue frio do advogado é um impacto visceral, o que rende reações imperdíveis tanto de Bob Odenkirk (que por mais de uma década acata com maestria as necessidades do seu personagem) quanto de Rhea Seehorn, na melhor atuação da temporada ao refletir uma nova faceta até então desconhecida, mas também por explorar as angústias profundas da protagonista.

No nono episódio, quando Lalo decide ir até o laboratório construído por Gus, o Salamanca se depara com Fring dentro da instalação. Numa dinâmica excelente entre Giancarlo Esposito (excepcional ao mostrar uma vulnerabilidade jamais vista) e Tony Dalton (criando uma presença hostil e imprevisível), encerra o arco do melhor antagonista da série, que subestimou a inteligência do gerente do Los Pollos Hermanos. O nono episódio coloca um ponto final em vários arcos e subtramas, deixando o caminho livre (4 episódios) para as cenas em preto e branco – para não dizer pinturas filmadas -, e o futuro de Gene, formando um epílogo eficiente e memorável.

“Você está dentro, ou está fora?”

Esta frase é dita por Gene para Jeff (Pat Healy) no décimo episódio, Nippy, que começa a nos aprofundar no pós-Breaking Bad com as cenas em preto e branco, até então restritas nas temporadas passadas no começo dos episódios iniciais. Para Gene, estar dentro e estar fora são caminhos inevitáveis na vida, e Jeff está num conflito entre querer saborear as vantagens de estar no jogo ou manter-se na legalidade. Por ser envolver com alguém como Gene (e o nome soar como Jimmy não é coincidência), é fácil saber qual lado Jeff escolheu.

Afinal, esse é o lema moral do universo Breaking Bad. Estar dentro do jogo, ou estar fora dele. Aguentar as consequências, positivas e negativas, dessa escolha. Walter White se encontrou dentro do jogo como Heisenberg, seu ego e sua ganância foram agraciados e ele se tornara aquilo que vemos no fim, mesmo que, para isso,  tenha dizimado sua família e destruído tantas outras. Gus Fring é um jogador nato, consciente que essa escolha não o permitirá ter um fôlego de paz e tranquilidade, como estar num balcão do bar flertando com o garçom; sua vida não lhe permite tal privilégio. Kim também decide entrar nessa, e lhe restou apenas um sentimento de culpa preso na garganta escondendo um segredo cruel e criminoso. Já Mike sofre por ter que manter distância da neta ao levar uma vida perigosa e obscura. Nem preciso comentar de Saul, que parece ter nascido dentro do jogo, tendo Gene como a representação personificada de uma vida marcada por más escolhas.

Gene e a máquina do tempo

Breaking Bad, El Camino e Better Call Saul são, em última instância, sobre tragédia. Como as escolhas de seus personagens, mesmo que bem intencionadas, têm consequências que podem gerar cicatrizes profundas e irreparáveis. Saul é Saul porque perdeu o irmão Chuck (Michael McKean), decorrente de um falso processo movido por Jimmy; foi responsável por levar um Howard inconformado ao seu assassinato; além de se afastar do amor da sua vida.

No fim, resta a persona Gene, identidade falsa conseguida por Saul no final da série original. Se entendemos que Gene se sente frustrado por não poder ser mais Saul Goodman, ao decorrer da série, sabemos que sua postura se deve ao fato dele viver na pele de Jimmy novamente, frustrado e derrotado pela vida. Mas como Chuck alertava, Jimmy sempre seria um trambiqueiro, e é através de esquemas de roubos que Gene encontra um subterfúgio para escapar daquela mediocridade. Contudo, as bebidas, as prostitutas, os pequenos privilégios reconquistados por Gene soam antiquados na situação em que ele se encontra; perseguido, inseguro em cada virada de esquina, com um passado traumatizante, vivendo uma vida monótona e insuportável, bebendo como se estivesse num conforto. Está tentando se deslocar da realidade ao preencher seu vazio com futilidades.

Por outro lado, Kim parece não se contentar com a nova vida que leva. Há um sentimento de culpa que se mantém constante no ar, e a única maneira de expor é assumindo à mulher de Howard o que acontecera. Prosseguida de um choro no ônibus como forma de expulsar aquele desespero entalado, filmado brilhantemente por Gilligan ao apenas deixar a câmera centrada na atriz, que oferece uma atuação marcante.


No último episódio, vemos Gene finalmente ser pego pelas autoridades, após, movido pela mesma ganância que o levara para o colégio de Walter, ter sido denunciado pela senhora interpretada sutilmente pela famosa Carol Burnett. Já na delegacia, a cena que enquadra Gene e o telefone no qual é permitido fazer a ligação é ironicamente engraçada, enquanto Better Call Saul é o slogan do advogado, Gene nem tem alguém que o ajude para ligar; familiar, amigo, colega, as relações humanas foram reduzidas a zero.

Resta a Saul Goodman um último ato, resistir à prisão e se safar de todos os crimes cometidos. Porém, como dito, esse universo é sobre escolhas e tragédia, nenhum personagem passa ileso de um desenvolvimento comandado por Gilligan e Gould. Dessa forma, a série subverte as nossas expectativas quando, ao pensarmos que Saul vai mais uma vez dar um show de malandragem, assume seus erros e crimes em frente à juíza, quase como numa catarse onde tudo que o estava acumulando é despejado por meio de palavras e sentenças. De 7 anos conquistados por um acordo, sua pena vai para 86 anos, mas com a conquista de livrar Kim de qualquer suspeita e envolvimento. Saul manipulou pela última vez, não para sair por cima, mas para deixar sua amada presenciar suas confissões e livrá-la da lei, praticamente sua última cliente. E, desde já, Saul assumindo a culpa pela morte do irmão, através de uma atuação irretocável de Odenkirk, é uma das cenas mais dolorosas feitas para a televisão.

Assumir a culpa e o nome verdadeiro – “O nome é McGill”  – é destruir por completo e em definitivo a fantasia de Saul Goodman, que serviu como uma cortina de um homem atormentado, mesmo que seja lembrado para sempre como o advogado (a cena dos presidiários cantando a música tema deixa isso claro.). Mas também significa oferecer um pouco de justiça numa série onde os vilões são tratados como mocinhos e saem, de um jeito ou de outro, impunes. Como Chuck McGill dizia, depois copiado pelo irmão: Que se faça justiça, ainda que o céu caia. 

E é interessante notar como Peter Gould (que dirigiu e escreveu o último episódio) tratou de salientar como a prisão continua semelhante à vida que Gene levava. Os paralelos visuais; o foco na máquina de massa, o preparo da massa do pão e do cinnamon roll, o cozimento, pontuando como a diferença entre estar na prisão e estar foragido é mínima, porque sua vida já estava condenada pelas suas escolhas. Exemplo de como os criadores articularam a linguagem visual da série para também contar a história, não tratando a composição visual como uma mera plataforma do roteiro.

Nos instantes finais, sobram Jimmy e Kim como no começo da série. Encostados na parede, num canto iluminado por um feixe solar, compartilhando o cigarro. Contudo, a parede do estacionamento dá espaço para a gélida parede penitenciária, o Jimmy advogado dá lugar para o presidiário, e a Kim, de advogada honesta para advogada dúbia e ardilosa. Constatando como Gilligan e Gould criaram uma obra-prima complexa, onde acontecimentos, sejam pequenos ou grandes, moldam seus personagens por completo. Não há retorno, e máquinas do tempo só existem na ficção. A humanidade está condenada aos seus próprios atos.

Na minha crítica da quinta temporada, escrevi no título: “Better Call Saul atinge o nível de Breaking Bad”, ainda estabelecendo erroneamente um grau de comparação entre as duas, como se houvesse a obrigação de uma ser melhor que a outra. Assim, essa última temporada prova que a série não precisa de comparação alguma, sendo uma obra original autêntica com rumos próprios, abrigando uma história independente que “apenas” acrescenta camadas à trama iniciada em 2008. E isso fica ainda mais concreto quando as participações (excelentes, aliás) mais esperadas desde 2015, de Bryan Cranston e Aaron Paul, passam como “mero detalhe” no meio de uma temporada incomparável – e de seis anos formidáveis.

Como Walter White diz na sua confissão tardia – e verdadeira – à Skyler:
“Eu fiz por mim.”

Caberia perfeitamente na lápide de Jimmy, Saul e Gene.

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Games

Gotham Knights ganha gameplay inédito pela WB Games

O universo do Morcego nos games é vasto e já ganhou muitos fãs e prêmios, decorrente do sucesso da franquia Arkham. Agora, seguindo um outro caminho, sem Batman como protagonista e fora do Arkham, a WB Games Montreal aposta em Gotham Knights, RPG de mundo aberto onde os famosos sidekicks tomam a função de protetores de Gotham após a suposta morte do herói.

Hoje, 10/05, a WB Games lançou um gameplay inédito focado na jogabilidade do Asa Noturna e do Capuz Vermelho, além de alguns elementos presentes ao longo do jogo. Confira:

Gotham Knights tem previsão de lançamento para 25 de outubro deste ano, e sairá apenas para as versões da nova geração, PS5 e Xbox Series X|S, e PC. Anteriormente, o jogo estava planejado para também sair nos consoles de velha geração, mas o estúdio decidiu cancelar o lançamento dessas versões.

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1917, Bloodshot e Mr. Bean são os destaques do final de ano do Prime Video

O Prime Video encerra mais um ano com grandes destaques na área dos filmes e das séries. Apostando no lançamento de Bloodshot, Jumanji: Próxima Fase e 1917, além da série humorística icônica de Mr. Bean, o final de ano do streaming parece promissor.

Confira a seguir os principais destaques dos lançamentos de dezembro;

01/12

Bloodshot (2020)

Depois de ser morto em combate, o soldado Ray Garrison é trazido de volta à vida com um exército de nanotecnologia em suas veias e poderes sobre-humanos: uma incrível força e a habilidade de se curar instantaneamente.

Jumanji: Próxima Fase

Em Jumanji: Próxima Fase, tentado em revisitar o mundo de Jumanji, Spencer (Alex Wolff) decide consertar o jogo de videogame que permite que os jogadores sejam transportados ao local.

Mr. Bean – 1º temporada

Mr. Bean é uma sitcom de comédia e humor britânico, estrelada pelo personagem de mesmo nome, criado e interpretado pelo ator e comediante Rowan Atkinson.

05/12

1917 (2019)

Na Primeira Guerra Mundial, dois soldados britânicos recebem ordens aparentemente impossíveis de cumprir.

10/12

The Expanse – 6º temporada

O cenário é um futuro onde a humanidade colonizou o Sistema Solar.

14/12

Dolittle (2020)

O Dr. Dolittle vive com uma variedade de animais exóticos e conversa com eles diariamente. Quando a jovem rainha Victoria fica doente, o excêntrico médico e seus amigos peludos embarcam em uma aventura épica em uma ilha mítica para encontrar a cura.

15/12

Mortdecai: A Arte da Trapaça (2015)

Armado apenas com sua boa aparência e encanto especial, o negociador de arte Charles Mortdecai embarca em uma viagem ao redor do mundo, para tentar recuperar uma pintura roubada, que segundo rumores, possui um código de uma conta bancária nazista.

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Cinema Séries

Hanna e produções natalinas se destacam no mês de Novembro no Prime Video

Estamos chegando na época das festas, e nada melhor do que produções natalinas para aproveitar o período dentro de casa com os amigos e familiares. O Prime Video promete ótimos filmes para nos aquecermos para as datas festivas, além de outros materiais que irão ampliar a oferta do serviço de streaming.

Confira todas as novidades e adições do mês de Novembro:

01/11

Darrow & Darrow: Vestígios de Um Crime

Claire Darrow, uma advogada idealista, luta pelo que é certo, independentemente do dinheiro. Sua mãe, Naomi, acredita que a lei é mais elástica e lucrativa. Elas colidem em quase tudo, especialmente na melhor maneira de criar a filha de Claire, Louise, uma jovem de 12 anos com uma alma mais velha.

Um Natal Apaixonado

Professora de coral visita um aluno para convencer seu pai viúvo a deixá-lo participar do Show de Natal. Porém, durante o encontro, eles acabam presos na casa em uma nevasca e um grande amor começa a nascer.

Natal em Holly Lodge

Sophie começa uma nova tradição festiva de passar todos os feriados na Pousada Evergreen, que herdou de seus pais. Evergreen é um lugar especial cheio de pessoas que não conseguem chegar em casa para o feriado ou que tiveram experiências tão maravilhosas que se tornou a casa longe de casa. Este Natal Sophie vai encontrar uma família inesquecível, e sua própria vida será mudada para sempre. (Filmow)

Um Natal de Mudanças

Cansadas da rotina e dos rumos que suas vidas tomaram, duas irmãs gêmeas resolvem trocar de identidade até o dia do Natal para descobrirem o verdadeiro sentido de suas vidas.

https://www.youtube.com/watch?v=I4i-lBI1kdU

05/11

Most Dangerous Game (1º Temporada)

Dodge Maynard (Liam Hemsworth) é um homem que, sofrendo com uma doença terminal, corre contra o tempo para cuidar da esposa grávida antes que seja tarde demais. Desesperado, ele aceita uma oferta para participar de um jogo mortal, onde se torna presa, ao invés de caçador.

12/11

Detetive Madeinusa

Madeinusa (Tirullipa) é um ex-político que virou um detetive atrapalhado. Ele é contratado por Neldson (Whindersson Nunes), um lobista milionário, para desvendar o roubo de um boi premiado e vai contar com a ajuda de uma equipe ainda mais atrapalhada.

Mayor Pete

O filme traz uma visão interna da campanha de Pete Buttigieg para concorrer à presidência dos Estados Unidos.

24/11

Soldado Anônimo: Lei do Retorno

Ronan, piloto de caça das Forças de Defesa de Israel e filho de um senador dos EUA, é abatido e capturado na Síria após uma missão. Assim, um esquadrão israelense é enviado para resgatá-lo em apenas 36 horas.

Hanna (3º Temporada)

Hanna (Esme Creed-Miles) é uma adolescente de 15 anos que vive com o pai, Erik (Joel Kinnaman) na zona rural da Finlândia. Sua rotina pacata muda quando ela descobre que ele trabalhava para uma organização governamental mudando o DNA de bebês para criar super-soldados e Hanna fora parte do experimento.

26/11

Pan y Circo (2º Temporada)

Reality Show que envolve celebridades conversando e trocando experiências durante um jantar organizado por chef’s mexicanos, com comidas típicas.

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