A Devir Brasil colocou Frank Miller como o bom velhinho nesse final de ano. A editora está republicando algumas das obras mais famosas e cultuadas do autor: 300 de Esparta, Xerxes e a série Sin City. Todas as publicações ganharam notoriedade e chegaram até aos cinemas em filmes de sucesso.
300 de Esparta
Um invencível exército persa avançava para o Ocidente conquistando inapelavelmente todos os povos em seu caminho. Chegou o momento da pequena Grécia, uma “ilha” de razão e liberdade num oceano de misticismo e tirania, enfrentar a força de Xerxes. Entre os gregos e a onda de destruição que se aproxima existe apenas um pequeno destacamento formado por 300 soldados de elite liderados por Leônidas. Nenhum soldado comum teria aceitado essa missão, mas eles não são homens comuns… eles são espartanos.
300 de Esparta tem formato 30 x 22 cm (um pouco menor da edição anterior da própria Devir), 88 páginas e o valor de R$ 100,00. Ela é vencedora de três prêmios Eisner Award em 1999: Melhor Minissérie, Melhor Roteirista/Artista e Melhor Colorista.
Xerxes
Inédita ainda no Brasil, o prequel de 300 é ambientada antes dos fatos da edição original e apresenta a luta dos gregos contra a tirania Persa atinge um ponto decisivo depois da destruição da cidade de Sardis e da batalha de Maratona. Em uma campanha militar para aniquilar a cidade de Atenas, Xerxes, o príncipe Persa, assiste a derrota de seu pai, Darius, no campo de batalha. Xerxes, agora rei, está decidido a conquistar o mundo para vingar seu pai e criar um império nunca antes visto… em seu caminho, entretanto, está Alexandre o Grande, o rei da Macedônia e esse pode ser o começo do fim desse incrível império.
Xerxes tem formato 30 x 22 cm, 122 páginas e o valor de R$ 110,00
Ambas histórias já foram adaptadas para os cinemas, tendo o ator brasileiro Rodrigo Santoro como Xerxes nas duas produções.
Sin City – O Difícil Adeus
Um dos clássicos de Miller e para muitos o seu melhor trabalho desde Batman – O Cavaleiro das Trevas. A cidade de Sin City não é para fracos e seus moradores são calejados pela violência, corrupção e diversas outras mazelas. Nessa primeira edição, que originalmente se chamava A Cidade do Pecado, conhecemos o icônico Marv. O pobre diabo era apenas um ex-presidiário tentando seguir com a vida em uma cidade violenta. Nada dava muito certo até que ele conheceu Goldie, uma verdadeira deusa que presenteou esse homem miserável com uma noite inesquecível. Algumas horas depois, Marv acorda e encontra Goldie morta. Quem a matou… vai pagar caro por isso.
Sin City teve suas ruas desbravadas em sete volumes: A Dama Fatal, A Grande Matança, O Assassino Amarelo, A Noite da Vingança, Balas, Garotas & Bebidas e De Volta ao Inferno.
Aqui no Brasil, Sin City foi publicado pela Editora Globo (1996), Pandora Books (2000 e 2003) e pela própria Devir a partir de 2005. A mudança do título segue ao padrão dos Estados Unidos, que também mudou.
Sin City levou três prêmios no Eisner Award de 1999: Melhor Roteirista/Artista, Melhor História serializada, Melhor Desenhista/Arte-finalista (publicações em preto e branco). Além de ter sido adaptado para os cinemas duas vezes.
Sin City – O Difícil Adeus tem formato 17 x 26 cm, 216 páginas, capa dura e o valor de R$ 105,00.
Quando os créditos finais de Liga da Justiça de Zack Snyder sobem, a primeira pergunta a ser feita: “Por quê?” Por que este não foi o filme lançado nos cinemas em 2017? Quanto mais tempo usado para refletir, menos sentido faz a decisão tomada há quase 4 anos. A obra é exatamente o que o estúdio buscava: É leve, bem humorada, otimista e extremamente esperançosa. Acima de tudo, mostra que Snyder sabe operar com o tradicional, mas sem perder sua assinatura.
Assinatura essa, tão criticada no passado, responsável por tocar as mentes, os corações e as almas de tantos fãs. Ainda pergunta-se o porquê de Liga da Justiça ter sido lançada? Porque enquanto críticos profetizavam com dedos nos teclados, um grupo de indivíduos atravessou o ódio e disse: “Você não está sozinho.” O senso de unidade do movimento #ReleaseTheSnyderCuté, metaforicamente, equivalente ao do time de super-heróis no filme.
Sem perder tempo com brigas ou piadas desnecessárias, a Liga da Justiça, como Snyder quis, não é a cópia fajuta dos Vingadores como eles foram na versão teatral (Parcialmente dirigida por Joss Whedon, que coincidência!). O roteiro de Chris Terrio traz o senso de urgência necessário e coerência para a união do time. Por mais que cada membro esteja quebrado por dentro, todos estão unidos por um ideal em comum, desde o início até o fim. Eles realmente são a nova era de heróis que precisa retornar. Talvez não seja adaptação sonhada por alguns fãs, mas ao assisti-los formulando um plano, é possível sentir: Não é simplesmente uma equipe. É a equipe.
O senso de unidade também está presente visualmente no aspect ratio4:3. Apesar de ser uma produção conduzida por grandes cenas de ação, a proporção de tela não apenas concede mais detalhes ao espectador, mas também centraliza a ação, sem qualquer possibilidade de desviar o olhar. Além disso, a cinematografia de Fabian Wagner é fornecedora de um tom diferente, apropriadamente leve para o filme. Todos esses aspectos, aliados à direção de Snyder, com muito slow-motion e brilhantes movimentos de câmera e narrativa visual, tornam cada frame em uma pintura.
Apesar da montagem por David Brenner e Doddy Dorn não ser perfeita, ainda há uma ótima coordenação dos arcos de cada personagem no filme, um deles, em particular, é brilhante pela sua ressonância temática com a obra. Também é preciso destacar a excelente trilha sonora de Junkie XL, imponente, dramática e empolgante. Além disso, a decisão em dividir a obra em capítulos, é especial e cooperativa para a fluidez das 4 horas. É como a leitura de uma graphic novel publicada pela DC Comics.
Cada personagem traz o seu melhor. A interpretação de Ben Affleck como Batman apresenta um vigilante mais esperançoso, mas não bobo, também é um excelente líder e estrategista, carregado de culpa. É interessante como o impacto das Amazonas é maior para a Mulher-Maravilha (Gal Gadot) do que em seus filmes solo e é fascinante como o Flash (Ezra Miller) é engraçado, criativo e inteligente, muito próximo dos quadrinhos e das animações da equipe. Talvez Aquaman (Jason Momoa) tenha o arco menos interessante, contudo, é bem desenvolvido como personagem e prepara um bom terreno para o seu ótimo filme solo.
O Cyborg sempre foi descrito por Snyder como o coração da equipe e ele realmente é. É criminoso como Ray Fisher foi tratado pela versão de 2017. Aqui Victor Stone é mais do que um homem dizendo “Booyah” ´para agradar alguns nerds. Ele é um personagem, com trauma, raiva, luto, todas as emoções possíveis, a performance de Fisher é brilhante e o seu arco é emocionalmente poderoso e inspirador. Liga da Justiça é um filme sobre ascensão, sobre a cura da dor através do coletivo, através do altruísmo.
Falando em altruísmo, o Superman de Henry Cavill é mil vezes mais Superman através do seu silêncio pacífico, calmo do que as milhões frases de efeito presentes na versão com bigode removido por CGI. Todos os momentos, toda a tranquilidade expressa em seus gestos e olhar, são catárticos, tanto quanto o seu reencontro com Lois e Martha. Todas as cenas do núcleo do Último Filho de Krypton são emocionantes graças à carga dramática presente nos dois filmes anteriores. É como um presente, um presente que esperamos muito tempo para abrir.
Se O Homem de Aço foi a construção, Batman vs Superman, a desconstrução, Liga da Justiça de Zack Snyder é a reconstrução. Todas as feridas provocadas pelo corporativismo aos fãs, ao elenco, à toda produção e especialmente, ao autor, foram curadas, tal qual os nossos heróis ao final da obra, olhando para um amanhã melhor, mais justo, mais esperançoso, unindo-se ao Sol. Porque eles não estão quebrados ou sozinhos. Nós também não.
Érico Borgo, ex CEO do Omelete, revelou por meio de suas redes sociais, um “festival” de cinema que começará em 09 de Setembro de 2020 com o intuito de incentivar as pessoas a retomarem para as grandes salas de entretenimento.
Denominado de Festival De Volta Para o Cinema, a programação contará com filmes da Warner Bros. Pictures, como Batman: O Cavaleiro das Trevas, Mulher-Maravilha e Superman. Vingadores, ET, Matrix, De Volta Para o Futuro e O Iluminando são algumas das produções que estarão presentes no evento que irá ocorrer ao redor do Brasil.
Por R$ 10,00 os clientes terão acesso a sala normal. Já, caso o telespectador tenha interesse em uma sala VIP, os ingressos vão custar R$ 20,00. Ambos os valores terão opção de meia entrada.
O retorno será possível, apenas com distanciamento social, uso obrigatório de máscaras (tanto os clientes quanto os funcionários), álcool em gel individual e etc.
FINALMENTE POSSO FALAR! Vem aí o maior festival de cinema que o Brasil já viu! Serão 26 filmes e + de 1200 salas em #DeVoltaParaoCinema. A programação mistura filmes marcantes como De Volta Para o Futuro, ET, Matrix, Tubarão e O Iluminado, com novos clássicos, como Os Vingadores! pic.twitter.com/9N9hWymQWl
O movimento faz parte da tag #JuntosPeloCinema, que reuni exibidores, distribuidores e empresas ligadas ao segmento, de acordo com as palavras do próprio Borgo.
Para futuras informações, fique ligado aqui, na Torre de Vigilância.
Em pesquisa realizada pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema) no ano passado sobre o consumo de meia-entrada nos cinemas do país, foi constatado que 80% dos ingressos vendidos era em favor do benefício (59,75% beneficiários, 17,27% promocionais e 2,34% cortesias). Segundo a Agência, os preços dos ingressos são altos, por isso o consumo da meia-entrada é recorrente.
O Ministério da Economia deu seu relato sobre a pesquisa e iniciou uma possível extinção da lei federal e de todas as regras que garantem a meia-entrada para estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de baixa-renda.
Há 3 anos os ingressos classificados como “inteira” sofrem queda, saindo de 2018 com 30% das compras para 21% em 2019.
Foi revelado através do The Hollywood Reporter, que a República Tcheca, Nova Zelândia e Reino Unido autorizaram a retomada e o início das gravações de filmes e séries. A paralisação, foi devido a pandemia do coronavírus.
De acordo com o mandato dos governos locais, as produções terão que seguir inúmeras diretrizes, como por exemplo: higienização constante, não será permitido o compartilhamento de bolsas de maquiagens entre atores, contato apenas com os membros que tenham um papel mais ”fundamental” nos bastidores, comidas embaladas e talheres descartáveis, testes contastes nos atores e membros da equipe.
Com isso, The Falcon and the Winter Soldier (República Tcheca), Carnival Row (Reública Tcheca), Avatar 4 (Nova Zelândia), O Senhor dos Anéis (Nova Zelândia) e The Batman (Reino Unido) já podem retornar as suas gravações. Entretanto, ainda não houve nenhum pronunciamento por parte da Disney e Amazon a respeito de quando suas produções irão voltar a normalidade. Já, a Warner informou que as gravações de The Batman não irão voltar imediatamente.
Nós, da Torre de Vigilância, recomendamos que você fique em casa (se possível) e mantenha suas mãos e moradia máximo higienizados possível. Estaremos atualizando o nosso site normalmente diariamente.
O que torna uma personagem interessante? A resposta é conflito porque nós somos comovidos pelos atos grandiosos, mas por dilemas e a superação deles. Há quatro tipos de conflito na ficção: Indivíduo contra indivíduo, sociedade, natureza e ele mesmo. Apesar da não predominância de desafios externos, há diversos internos para Rey, a protagonista da última trilogia de Star Wars. Tais quais: A sensação de abandono, insegurança, a necessidade de aprovação, pertencimento e a busca por identidade. Logo, através deste longuíssimo artigo, nós discutiremos a jornada de Rey, de ninguém, à Palpatine e à Skywalker.
“A Força desperta…”
Você já se apaixonou por uma pessoa sem ver o rosto dela? Porque eu já.
A introdução de Rey é brilhante. Composta por quase nenhum diálogo, a contextualização do seu cotidiano é perfeita. Porque o entendimento é imediato: Ela é uma catadora sobrevivente solitária, ganhando um quarto de porção por dia. Apesar da solidão e tristeza, o tema composto por John Williams é ingênuo e pacífico. Os desejos da personagem são expostos visualmente, seja pelos números riscados em um AT-AT, ou a maneira como observa as naves que deixam Jakku. Entretanto, só será verbalizado quando ela é atraída para a aventura por BB8: “Eu sei tudo sobre espera. Pela minha família. Eles voltarão. Um dia.” A partir dessa fala, a esperança dela é compreendida por nós, mesmo com uma trágica realidade por trás.
Quando o planeta é deixado por ela em prol da missão, Rey ascende socialmente: Ela faz amizade com Finn, um stormtrooper desertor, e uma breve figura paterna é descoberta em Han Solo. Durante a cena do compressor, outra característica é exposta: A necessidade de aprovação, nesse caso, de Solo. Assim como um auto desprezo: “Eu sou apenas uma catadora.” Há também um senso de deslumbramento constante na personagem, não apenas quando avista um planeta repleto de verde, contrário ao seu planeta desértico. Assim como quando as histórias sobre a Força, os Jedi, os Sith e Luke Skywalker são confirmadas. Novas possibilidades estão abertas a ela, através da proposta de emprego por Han e a missão da busca pelo mapa. Conforme apresentado pelo filme, ela é extremamente habilidosa como catadora, piloto e até mesmo, mecânica. Por que ela não aceitaria a oferta?
Ela ama verde <3
Porque na filosofia de Rey, se, após a missão, ela não voltar para Jakku, não estará lá para o retorno de seus pais. Ao mesmo tempo em que o desejo é fruto de um otimismo, é um fator de um repulsão. Caso ela retorne, não crescerá como pessoa, ou descobrirá quem ela é. Através disso, a personagem será forçada ao afastamento de uma realidade anterior e lançada diretamente a uma nova. A protagonista é atraída pela própria voz, ao desconhecido. Quando ela é chamada pelo sabre de luz dos Skywalker, as visões mostram a ela um inevitável pedaço do seu passado: O seu abandono.
Mesmo com a explicação de Maz Kanata sobre a Força, Rey está assustada. Assim como toda jornada de herói, há a negação ao chamado à aventura. Todavia, a decisão não é apenas fruto da sua vontade. Maz diz: “Você já sabe a verdade. Quem quer que esteja esperando em Jakku, não retornará.” A partir desse momento, é compreendido a negação da personagem pela verdade, uma caraterística constante nos próximos filmes. A promessa foi uma mentira contada por ela mesma a fim do ocultamento traumático e as consequências disso. Por isso, a música da personagem é triste e ao mesmo tempo, feliz, a representação sonora do otimismo como instrumento de negação. Ou seja, Rey não acredita no próprio potencial.
Tristeza, apenas tristeza
Perdida, ela foge para a floresta, mas é capturada por Kylo Ren. Durante a cena de interrogação, ela é menosprezada pelo vilão: “Você. Uma catadora.” Assim como tem suas fraquezas reveladas por ele: “Você é tão solitária. Tem medo de sair […] e Han Solo, você o vê como o pai que nunca teve.” Kylo está certo de que ela não resistirá, assim como ocorrido com Poe no início do filme. Entretanto, a tortura mental é resistida e a Força é utilizada pela primeira vez por ela. Ela inesperadamente “devolve na mesma moeda”: “Você tem medo de que nunca será forte como o Darth Vader.”
A perseguição da Millenium Falcon em Jakku, mostra inicialmente, Rey sem noção de direção, mas no decorrer da cena, ela aprende como pilotar a nave até dominá-la. Logo, se o fácil aprendizado da personagem é perigoso, com a Força, será ainda mais. É o que acontece quando ela convence um stormtrooper a libertá-la através de um truque Jedi da mente. Ela não sabe se irá funcionar, mas o faz mesmo assim e obtém sucesso na terceira tentativa. Agora, livre, e com a noção de algo em seu interior, ela não é mais uma catadora, mas uma força a ser temida.
Kylo Ren comete um erro.
Como Kylo disse: “Ela está testando seus poderes. Quanto mais demorarmos para encontrá-la, mais poderosa ela se tornará.” Chame Rey de Mary Sue, eu não ligo, mas é honestamente incrível e empoderador, ver uma mulher escapando com seus próprios recursos porque ela é uma sobrevivente, enquanto os homens tentam resgatá-la, no caso de Finn e Han, ou sequestrá-la, no caso de Kylo. Mesmo com as habilidades utilizadas, ainda não há compreensão sobre elas.
Mais tarde, no segundo e último confronto em uma floresta, o sabre dos Skywalker é chamado por Kylo, mas só atende o chamado de Rey, ainda incerta, mas seguidora de um instinto. Ela o ataca, mas foge, assim como em Takadona, até ser levada à beira da morte, em que o inimigo declara a si mesmo como um professor. Os conselhos de Maz finalmente são seguidos por ela: Os olhos dela são fechados e a Força desperta nela por definitivo. A sensação de superioridade masculina do vilão cai por terra ao ser superado por uma simples catadora, a qual via-se da mesma forma há algumas horas, mas agora, com a sensação de que há muito mais a ela do que uma vida em um planeta deserto.
Kylo Ren comete um erro 2
A vitória é ainda maior quando Rey é enviada para Ahch-To, vê a ilha em seus sonhos e encontra Luke Skywalker. É um momento de extrema importância para o personagem: As lendas, as histórias tornam-se real e ela é parte delas agora. Não há mais uma realidade anterior para retornar. Como Maz disse: “O pertencimento que você busca não está atrás de você, mas à frente.” A resposta é assumida por Rey: “Luke.” Talvez ela esteja errada e o sucesso seja uma ilusão.
“… a última Jedi…”
Admita: A sua reação foi a mesma.
Quando ocorrem discussões sobre a trilogia sequela, costumo apontar que esses filmes são propositalmente metalinguísticos por serem uma análise da memória coletiva de Star Wars. Se O Despertar da Força é a afirmação da saga como um fenômeno, através de Rey, uma fã das histórias assistidas por nós, Os Últimos Jedi irá além e questionará essa admiração através de uma quebra das expectativas, a qual é comum com todas as personagens durante a narrativa, mas mais centralizadas na nossa protagonista, com um arco dramático simultâneo a outros dois personagens: Luke Skywalker e Kylo Ren.
Durante a primeira cena dela, há uma sensação de vitória e sucesso, um otimismo, mas o encontro com o velho Jedi é filmado de uma maneira diferente: É mais impessoal, com um distanciamento maior e até mesmo uma trilha sonora decrescente. Mesmo assim, a personagem não está preparada para a rejeição dele. É como se o sucesso de alguns minutos atrás, perdessem o significado. Entretanto, o seu fracasso, não apenas com ela mesma, mas com Leia e a Resistência, é negado. Ela persistirá e o seguirá, até cair de joelhos, cansada, decepcionada e confusa com o não cumprimento de expectativas.
Achou que seria fácil? Achou errado.
Novamente, a heroína é chamada ao desconhecido, dessa vez, até uma árvore com a incisão de luz sobre os textos Jedi, é possível a argumentação de que isso é a representação de seu futuro, já que eles são utilizados no nono filme. Luke finalmente aproxima-se e pergunta sobre o propósito dela. Uma motivação ideológica é dada: “A Resistência me enviou.” É como se uma adolescente tentasse esconder os seus sentimentos. Logo após, a motivação pessoal finalmente é admitida: “Algo dentro de mim, sempre esteve lá e agora despertou. E eu estou com medo. Eu não sei o que é e o que fazer com isso.” Logo, o maior desejo de Rey é um guia para a autodescoberta na Força.
Luke é apenas desenvolvido como um personagem por causa do passado e indiretamente, por causa de Rey. Apesar de ter concordado em ensiná-la (Depois de uma chantagem emocional do R2D2), há a necessidade da provação sobre o fim dos Jedi. Logo, duas lições relacionadas a esse ponto de vista são ensinadas para a personagem. Se pudesse descrever Rey em um adjetivo, provavelmente seria ingênua. De acordo com o dicionário: “Que possui inocência e simplicidade; que não possui malícia.”
Ensine a garota, Luke. Ensine-a agora.
Em decorrência disso, a visão de Rey em relação aos Jedi, à Força, são básicas e talvez, romantizadas. Durante a primeira lição, essa simplicidade é demonstrada quando é dito: “É um poder que ajuda os Jedi a controlarem mentes e fazer coisas flutuarem.” Algo o qual Luke imediatamente discorda devido aos seus anos de experiência. Não é sobre levantar pedras, a Força não é um super-poder e não pertence aos Jedi. Pela primeira vez, Rey está conectada ao seu interior espiritualmente, em paz e liberdade: A ilha, a vida, a morte, a luz, a escuridão, os ciclos dessas relações finalmente apresentados a ela. Mas ela é tentada pelo lado sombrio, ao não conter-se diante do desejo e necessidade. O passado ainda vive em seus pensamentos.
Enquanto a primeira foi sobre a democratização da Força, a segunda é sobre a desconstrução da romantização da Ordem Jedi. Luke os aponta como um legado de fracasso, mas há discordância por Rey: “A galáxia talvez precise de uma lenda” e o acréscimo de seu desejo: “Eu preciso de alguém que me mostre o meu lugar nisso tudo.” Ela até mesmo o lembra de Vader. Ironicamente, há uma crença absoluta na ideia de que Kylo é o culpado: “Kylo falhou com você. Eu não irei.” A sua necessidade de aprovação faz-se presente novamente e Luke, diferente de Han, está espantado com a determinação da jovem. Todavia, se uma há de conhecer a verdade, deve conhecer todos os aspectos sobre ela. O que leva ao outro lado do arco dramático compartilhado: Ren.
É um filme muito bonito.
De acordo com os sofistas, a verdade é um conceito relativo: O que é para um, pode não ser para outro. No roteiro por Rian Johnson, há duas verdades sobre o mesmo acontecimento: A de Luke, a de Kylo e a ouvinte, em conflito com uma resposta definitiva: Rey. Como os dois lados são necessários, a díade é criada com o propósito narrativo da desconstrução da simplicidade na mente dela e a construção de ambiguidade. Mesmo com ódio dela por ele, a inevitável conexão, a cada cena, os tornam mais íntimos.
Queira ou não, o vilão é o responsável pela mudança de visão de mundo da protagonista. Conforme dito pela atriz Daisy Ridley no documentário The Director and The Jedi: “Luke realmente deveria estar estimulando, mas é Kylo quem o faz.” Novamente, a necessidade de uma família em decorrência do seu abandono é apontado como uma fraqueza, apesar da negação dela. Além disso, há uma resistência em acreditar no ponto de vista dele sobre Luke. Na filosofia dele: “Deixe o passado morrer. Mate-o se for necessário. É a única forma de tornar-se quem você está destinada a ser.” (Ele está errado no final)
“É a primeira vez que eu vejo água e você me interrompe!”
“Beleza.”
Movida pela confusão e necessidade, Rey adentra ao desconhecido novamente, agora, em busca de respostas. Se a árvore era a representação de seu futuro, a caverna é o passado. Durante uma sequência psicodélica, com múltiplas versões suas enfileiradas, ela é chamada por uma voz feminina e levada até o espelho, até o fim, sem pânico, ou medo, como se ela esperasse por um destino. “Meus pais. Deixe-me vê-los.” – ela solicita, mas só lhe é concedida a própria reflexão. Ela precisa descobrir quem ela é, por ela mesma. Sem a compreensão disso, ela está devastada, sem respostas e tão sozinha quanto a sua infância em Jakku. Logo, em seu momento de desespero, a única possibilidade de confissão é com o “monstro”.
Como descrito por Johnson no áudio-comentário do filme quando Ben e ela tocam as mãos: “A noção de que ela vê essa oportunidade nele e talvez, algo além disso.” A partir desse momento, a segunda verdade é finalmente revelada a ela e confrontada contra Luke. Se antes havia ódio pelo aprendiz de Snoke, agora há a compaixão, mas ela ainda precisa da verdade. Neste momento, quando ele nega-se a aceitar o sabre novamente, é perceptível a ela: Se Luke não é a esperança da Resistência, talvez Ben seja. Um Skywalker de sangue por outro. Ela é novamente guiada por esperança, assim como quando chegou na ilha e o último Jedi é deixado com uma lição a ser refletida: Não é tarde demais para ele.
Pega logo isso, Luke. O braço dela está doendo.
Apesar do perigo, da incerteza, ao dirigir-se até uma armadilha, os ideais de Rey são prevalecentes, assim como suas expectativas devido ao seu coração otimista e a visão do futuro dele: “Ben, quando nós tocamos mãos, eu vi o seu futuro. Apenas uma parte dele, mas sólido e claro. Você não ajoelhará-se perante ao Snoke. Você mudará. Eu o ajudarei.” Entretanto, a crença dele é contrária, devido às respostas possuídas sobre os pais dela. Rey imediatamente recua quando ele diz: “Eu vi quem são seus pais”, pela resolução ter sido negada por ela. Através disso, há uma obviedade não dita sobre o término dessa sequência.
A expectativa dela sobre a redenção dele é fortalecida quando Snoke é morto e os dois unem-se contra inimigos. Após o final da violenta e enérgica colaboração, a preocupação imediata dela é com os resistentes. A fim de manipulá-la emocionalmente, Rey é forçada por Kylo a revelar a “verdade” negada por ela sobre os pais dela: “Eles eram ninguém.” O trauma do abandono e a quebra da ilusão de uma predestinação, ou de um lugar nesta história. Ela é menosprezada novamente por ele, dessa vez, não chamada de catadora, e sim, nada. Aliás, também há decepção com a escolha dele.
“Um novo império? Ben, meu compromisso é com a frota, é com a Resistência.”
Pela primeira vez no filme, Rey não estende a mão esperando que alguém a pegue. As suas vulnerabilidades não são interferentes aos seus ideais, os quais permanecem mesmos durante o todo filme, enquanto os de Luke e Kylo, indiretamente influenciados por ela, são invertidos e enquanto eles lutam contra os seus demônios, as pedras são levitadas por ela em Crait e a sua visão ingênua é afirmada não como um equívoco, ou uma fraqueza, mas como o caminho certo.
Se antes a crença era de que eles eram a esperança, agora é finalmente descoberto: Rey é a esperança e o pertencimento realmente não estava atrás, mas à frente: Em Finn, Poe, BB8, Rose, Chewie, a Resistência e principalmente, Leia, a única personagem que pega a mão dela como um guia para um futuro mais brilhante e esperançoso: “Nós temos tudo o que precisamos.” – a general diz para a garota segurando o sabre partido em duas metades, Mas de alguma forma, Palpatine retornou.
“… para ascender como uma Skywalker.”
Apesar dos motivos errados para um retcon relacionado à linhagem (Ela é poderosa por causa dele, ur dur), a personagem da Rey não foi arruinada, ou profanada, ou destruída em A Ascensão Skywalker. Muito pelo contrário. Visto que os desafios internos ainda estão ligados ao seu cerne: Família, o medo da solidão e o encontro do coletivo e principalmente, a busca por identidade. Além disso, é a melhor performance da Daisy Ridley no papel e é impressionante como a linguagem corporal é uma excelente transmissora da evolução da nossa heroína.
Se antes era tão incerta sobre a levitação de pedras, agora é uma tarefa fácil. Rey é reintroduzida conforme foi vista pela última vez: Com tudo o que ela precisa. O pertencimento foi encontrado na Resistência, tal qual uma figura materna/mestre: Leia. A zona de conforto foi encontrada pela personagem, ela finalmente está perto de conseguir tudo o que mais desejava. Entretanto, dentro de uma história, conforto nunca é duradouro para uma protagonista. Logo, conflito é necessário e as questões internas devem vir à tona.
Ela precisa de um abraço. Eu também.
Através da cena do treinamento, a base dramática perfeita é solidificada por três emoções. Primeiro, a insegurança, presente quando ela acredita que é impossível comunicar-se com as vozes dos antigos Jedi. Segundo, o medo, proveniente de visões sobre um futuro sombrio e eventos traumáticos do passado. Terceiro, a sua raiva, enquanto ela destrói o droid de treinamento, ela também deixa uma árvore cair em BB8. Pode parecer bobo, mas é eficiente para a construção de que Rey não é apenas um perigo para a Primeira Ordem, mas para os amados por ela também.
A necessidade de aprovação também é um elemento compartilhado com os dois filmes: Se no VII, era Han, no VIII, Luke, agora, no IX é Leia, quando é dito por ela: “Eu não quero ir sem a sua benção, mas eu irei. É o que você faria.” Não apenas isso, há indícios do retorno de um auto desprezo por conta do fracasso como por exemplo quando ainda é sentida a necessidade de merecimento sobre o sabre Skywalker, mesmo que o objeto tenha chamado por ela há muito tempo. É importante lembrar que ela também é assumidora do papel o qual seria desempenhado por Luke: A esperança de uma rebelião. Logo, é totalmente coerente a vontade dela em finalizar a jornada do Mestre Jedi para encontrar Exegol sozinha, para não deixar os amigos dela saírem feridos.
“The Sacred Jedi Texts!”
Contudo, A Ascensão Skywalker é um filme sobre coletividade e eles escolhem acompanhá-la na missão. Cabe ressaltar que o trio é a melhor decisão tomada em relação à história e as interações entre ela, Poe e Finn são muito bem escritas. Antes de deixarem Aj Kloss, Leia, ciente das inseguranças da sua aprendiz e das suas reais origens, aconselha: “Rey, nunca tenha medo de quem você é.” Algo não compreendido pela Jedi inicialmente.
Quando é testemunhado por ela o festival de Aki Aki, é afirmado: “Eu nunca vi nada como isso.” Mesmo estando um ano fora de seu planeta, esses momentos simples ainda são encantadores para Rey. No primeiro filme, foi Takodana, com uma paisagem esverdeada. Em Os Últimos Jedi, gotas de chuva e aqui, uma celebração. Ainda durante essa cena, há um set up importantíssimo para o final da história. É questionado a ela o seu nome e após isso, o nome da sua família. É tão sútil como a trilha por Williams e a atuação de Ridley são novamente transmissores de um otimismo como esconderijo de uma tristeza. “Eu não tenho um. Sou apenas a Rey.” – é respondido por ela com um sorriso forçado. Ela não se sente ela mesma.
“Ok, Rey, como você disfarça tristeza na frente de uma senhora?”
Como mencionado anteriormente, raiva é uma das três principais emoções a serem lidadas por ela nesse filme. No fim de Os Últimos Jedi, os destinos de Rey e Kylo Ren divergem completamente. Enquanto ela olha para o futuro, ele continua estagnado, falhando em matar o passado. As consequências emocionais desse ato de separação são transmitidas pela raiva dela. Sob um certo ponto de vista, a ideia de trazer o capacete de volta, é uma metáfora visual mais eficiente às sensações da protagonista do que as do antagonista. Porque é uma retomada da ideia inicial dela por ele: Um monstro. Tal qual visto em suas visões, a maligna proposta de Kylo ainda está viva na mente dela, tal qual o trauma do abandono.
No documentário The Skywalker Legacy, Chris Terrio diz: “E se a sua alma gêmea na Força fosse o seu inimigo? Circunstâncias o colocam um contra o outro, mas a Força os une. Eles entendem um ao outro sob o ponto de vista e mesmo assim, destino os fez inimigos.” Ao mesmo tempo em que ela é atraída pela conexão, no instante em que avista a nave dele, ela imediatamente o ataca. É importante lembrar que ela é pressionada por ele ao lado sombrio, para descobrir a verdade sobre ela mesma, ou pelo menos, aquilo a verdade dele sobre ela. Quando é informada de que Chewie está dentro de um dos transportes, ela imediatamente tenta puxá-lo, mas Ren opõe-se a ela e a competição torna-se tragédia, quando raiva é materializada através de um raio.
“Poder! Poder ilimitado!”
Mesmo que não tenha sido exatamente a responsável por isso, como o seu melhor amigo Finn aponta, ela culpa a si mesma. Ela comenta sobre as visões do trono do Sith em que ela está sentada ao lado do Líder Supremo. Apesar de não ser exposto no filme, é interessante como ela desesperadamente ansiava por um destino, mas aceitou o fato de não possuir um. Agora, o desejo anterior é realizado, mas parcialmente. Porque não há uma grandeza positiva como resultado final, apenas uma negativa. Ela está destinada para o mal, mas ainda não sabe o porquê, ou de onde ela veio.
Assim como o passado não está quite com a galáxia, também não está com Rey. Durante a missão, a nave procurada por ela é a mesma em que seus pais partiram e algo horrível foi feito com o uso da adaga Sith. Entretanto, esses objetos serão re-significados: O primeiro, o lugar em que eles morreram e o segundo, como eles morreram. Ela já descobriu, mas a negação sobre o passado, tornará a admissão mais difícil. Novamente, ela será pressionada a enxergar as coisas como são: Os pais delas foram assassinados e ela é uma Palpatine de sangue.
Eu amo braços.
Durante toda a sua vida, Rey mentiu para ela mesma sobre ter sido abandonada, mas sempre sentiu que foi. Agora, a descoberta de que ela não foi deixada como lixo, mas protegida e todo o amor o qual poderia ter recebido, foi tomado dela pelo próprio avô, pelo próprio sangue. Conforme visto nos episódios anteriores, família sempre foi a vulnerabilidade dela. Logo, a reação dela , a essa retirada de seu desejo, a torna irreconhecível: “Ele matou meu pai e minha mãe. Eu encontrarei Palpatine e o destruirei.” Pela primeira vez, o lado pessoal da heroína fala muito mais do que o ideológico. É tudo sobre vingança agora, mas não é perceptível a ela. Se ela não fizer isso sozinha, os amigos dela sairão machucados.
Em Kef Bir, Rey separa-se do grupo. Nem mesmo a maré alta a impede de adentrar na Estrela Morte. A personagem parece ter regressado aos seu estágio inicial: Sozinha, escalando escombros imperiais. A heroína é chamada ao desconhecido novamente. Antes, pelo o sabre dos Skywalker, agora, o localizador Sith. A personagem já foi de encontro à escuridão em Ahch-To (Há espelhos também), mas não amedrontada como agora, com a materialização da sua visão sombria: A Imperadora Palpatine, a qual compartilha das palavras de Leia: “Não tenha medo de quem você é.” É isso quem ela é?
Eu amo paralelos.
Não obstante, ela é ainda mais pressionada por Kylo: “Olhe para você. Queria provar à minha mãe que era uma Jedi, mas acabou provando outra coisa.” O discurso dele não é interessante à Rey, o localizador nas mãos dele sim e ele tira isso dela. Ela é consumida pela raiva absoluta e um duelo é iniciado. Rey está cada vez mais distante de quem ela é. A cada golpe contra Kylo, há raiva, fúria e talvez ódio por todos os atos dele contra ela. É interessante como o cansaço dela é visível à medida que a batalha torna-se mais intensa e os movimentos, mais lentos e desordenados. Pela primeira vez, derrota parece próxima.
Mas a interferência de Leia não apenas a salva, como também o faz com Ben. Infelizmente, não é perceptível a ela o ato de sua mentora e no momento mais crítico e sombrio, Rey esfaqueia o seu nêmesis. É como se Leia fosse assassinada pela própria aprendiz e nesse momento a verdade recai: Ela tornou-se o que ela nunca foi. Arrependida, ela cura aquele que provocou muita dor a ela, porque ela é compassiva. Ironicamente, o ato é remetente a uma cena anterior do filme, em que uma serpente ferida é curada por ela. Ainda mais irônico, é o fato dela ter chamado o neto de Vader de “cobra assassina” em Os Últimos Jedi.
A sorte dele é que ela é uma garota bacana.
Após um momento de puro instinto como uma sombra, Rey exila-se em Ahch-To. Alguns disseram que Episódio IX não é uma sequência do anterior, mas esta cena prova ao contrário. Porque há um lindo complemento na relação entre ela e Luke. Se no filme anterior, os atos dela são inspiradores para uma auto reflexão sobre os medos dele, agora ele fará o mesmo por ela. É como poesia, rima. Yoda disse: “Ben Solo você perdeu. Perder Rey não devemos.” Ele finalmente torna-se o que ela esperava dele: Um mentor.
“Passe a ela tudo o que você aprendeu […] o maior professor o fracasso é.” Ambos já estiveram no mesmo lugar por medo, mas do que Rey tem medo? Dela mesma, da escuridão dentro dela, de como pessoas ao redor dela estão em risco, mas principalmente por ser uma Palpatine, uma herdeira do mal definitivo. Entretanto, o espírito, o coração, é o que Leia viu nela. Durante a vida dele, Luke viu o sobrinho com o sangue Skywalker ir para o lado sombrio. Logo, resta apenas uma lição, a mais importante para a decisão da heroína no final: “Algumas coisas são mais fortes do que sangue.”
Eu chorei muito.
Se Rey não se considerava merecedora do sabre a ponto de até mesmo jogá-lo longe (tal qual Luke), agora, o sabre de Leia também será concedido a ela e a jornada dela para se tornar uma Jedi será finalizada ao lado dos seus mestres, metaforicamente. A missão é obviamente aceita porque ela jamais mediu esforços para ajudar os outros. Agora, o futuro dos Jedi, não como uma ordem, mas como um conceito de heroísmo, está em suas mãos. Quando chegou à ilha, estava dentro de um caça Tie, ao deixá-la, pilota um X-Wing, um dos seus sonhos de infância. A mensagem é clara: A pureza é a vencedora. Não é mais sobre vingança, é sobre confrontar o medo.
Não há mais volta quando o trono dos Sith está à sua frente. O objeto de sua visão é real, assim como o homem responsável por todas as desgraças ocorridas em sua vida, mas não há mais chances de ser tentada ao lado sombrio porque ela já ressurgiu das suas inseguranças e erros. “Tudo o que você quer é que eu odeie, mas eu não irei. Nem mesmo você.” Apesar de Palpatine tentar usar o trauma contra ela, ele não consegue porque já foi usado contra ela tantas vezes. Só resta finalmente a consideração pelo sacrifício dos que a geraram: “Meus pais eram fortes. Eles me salvaram de você.”
Isso, garota!
Assim como Snoke subestimou Kylo, o Imperador subestima Rey ao acreditar que ela abraçará a linhagem sanguínea. Entretanto, ele desconhece o verdadeiro poder dela: Os seus simples atos de bondade. Graças a eles, os seus desejos e expectativas do último filme são validadas no ato final: Não apenas Luke serve como uma guia, mas Ben Solo retorna à luz para salvá-la. As vozes do Jedi são finalmente ouvidas por Rey e nada mais parece impossível.
É a carta de amor à coletividade. Se ela era solitária, agora há a descoberta de que ela nunca esteve sozinha, na Força. Porque eles ouvem o chamado dela por ajuda. Estes são os últimos passos para tornar-se uma Jedi. Os dois sabres Skywalker são empunhados por ela e com a ajuda daqueles que vieram antes, ela deflete os raios do seu avô contra ele mesmo, contra o ódio dele. É defesa, não ataque, como uma verdadeira Jedi.
Ela é todos os Jedi, otário.
Quando Rey morre aliviada por ter salvado os seus amigos e é ressuscitada por Ben, é um ato de retribuição. Se analisarmos, Episódio IX é também sobre como a compaixão de Rey movimenta a história e outros personagens: Ela cura uma serpente e isto inspira BB-8 a religar D-O. Porque Rey oferece a ele conforto, ele encontra algo em comum com Finn: Saudades dela. Por causa disso, o droid ajuda a Resistência com informações sobre a frota. Quando Kylo é curado por Rey, ele não entende o porquê. Entretanto, na última cena entre os dois, ele finalmente entende o que ele deve fazer e tem a força para fazer: Uma vida por outra. A conclusão da díade é através do ciclo de vida e morte. Gentileza gera gentileza.
É irônico e satisfatório ver a queda do último Destroyer da frota de Palpatine cair em Jakku. Porque ele é a razão para ela ter vivido toda a infância e adolescência dela naquele lugar, mas ele será esquecido como areia no deserto. Enquanto isso, Rey reencontra-se com a família dela: Finn , Poe, a Resistência. Ela essencialmente sempre volta para casa. Contudo, ainda resta algo importante. Durante a trilogia, Rey é chamada por tantos nomes: Catadora, a garota, nada e Palpatine. Kylo Ren e o Imperador assumem conhecê-la, a sua verdadeira natureza. Entretanto, como dito por ela: “Ninguém me conhece.” Não é sobre a aceitação do que é dito para ela, mas como ela sente-se sobre ela mesma.
Ela foi chamada pelo sabre Skywalker, mas sempre tentou retorná-los aos mestres dela devido à insegurança, apesar de merecê-lo. No início do filme, ela diz: “Eu serei digna do sabre do seu irmão. Um dia.” No fim, ela é digna do sobrenome. Ela escolhe o sabre de luz dela, composto por parte dos bastões dela, dourado, brilhante como ela.
Ela faz o destino dela.
Assim como os seus pais escolheram serem ninguém, ela também escolhe a identidade dela, com a permissão de Luke e Leia : “Rey Skywalker.” – ela diz confiante. Se antes olhava para naves esperando pela volta dos seus pais, agora, ela olha para o nascer dos dois sóis, uma imagem icônica da saga, tão alta quanto eles, para o futuro. Porque o pertencimento buscado realmente estava à frente dela.
A Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas), pediu através de uma carta pública a João Dória, o fechamento de todas as salas de cinema do estado de São Paulo durante a pandemia do coronavírus. A informação foi dada através da nossa assessoria de imprensa.
O pedido reconhece que tudo depende das negociações com cada uma das empresas administradoras dos Shoppings, uma vez que pertencem a diferentes grupos econômicos. A carta também aponta que o principal foco é o bem estar dos funcionários e telespectadores.
Atualmente, todos os Shoppings do estado de São Paulo estão funcionando das 12:00 à 20:00 horas e pela primeira vez na história do país, não houve nenhum lançamento em 15 dias.
Nós, da Torre de Vigilância, recomendamos que você fique em casa caso pode e mantenha suas mãos e moradia máximo higienizados possível. Estaremos atualizando o nosso site normalmente diariamente.
Em determinado momento de Entre Facas e Segredos, o detetive Benoit Blanc pondera sobre o buraco de uma rosquinha. Apesar de absurdo ou ridículo, é uma das inúmeras provas do amor de Rian Johnson pelos complexos mistérios de assassinato. Além do arquétipo do investigador mirabolante, o novo filme de Johnson homenageia o gênero em si. Assim como no controverso Os Últimos Jedi, o diretor busca pela revolução da estrutura narrativa, mas com um imenso respeito ao clássico.
A premissa de Entre Facas e Segredos é essencialmente a mesma de outras histórias de mistério: Uma pessoa é encontrada morta (Um escritor bem sucedido chamado Harlan Thrombey), a indicação de homicídio e os suspeitos são selecionados (A família). Sob a superfície, é mais um whodunnit, pois há um senso de familiaridade com diversos elementos. Entretanto, não demora muito para a subversão de expectativas proposta, novamente, por Johnson entrar em cena.
O roteiro, também do cineasta, é repleto de foreshadowings, ou seja, um truque narrativo com prenúncios. A história é desviada da premissa de uma maneira simples, instigante e surpreendente. Cada diálogo é extremamente importante para a resolução não apenas do caso, mas dos próprios personagens. É assim como uma história precisa funcionar, nada dito é simplesmente em vão. Há um ótimo equilíbrio entre exposição e narrativa visual. Além disso, a direção dele também é um trabalho ímpar, seja pelo excelente uso de close-ups nos atores, ou nas rimas visuais, muitas delas são indícios dos eventos futuros da película.
Tanto quanto a coordenação dos atributos em cenas, a direção de fotografia de Steve Yedlin é muito importante para o funcionamento das pistas. A trilha sonora composta por Nathan Johnson é contribuinte essencial para o suspense. O design de produção de David Crank parece um tabuleiro do jogo Detetive transportado para a vida. Além do mais, Entre as Facas e Segredos é um pouco metalinguístico e irônico, pois o assassinado é um escritor de mistérios, assim como Agatha Christie e Arthur Conan Doyle. Como já dito, Blanc é a mistura de Poirot e Holmes, Daniel Craig é cativante e possui um grande domínio de cena.
Entretanto, a verdadeira protagonista (sem spoilers) é a enfermeira Marta Cabrera. Ana de Armas é uma excelente tradutora da bondade, da verdade e da empatia carregada pela personagem. É óbvio e nada sútil o posicionamento de Johnson em relação aos imigrantes, mas o comentário sociopolítico funciona perfeitamente.
Porque a família Thrombey é representante dos piores aspectos do ser humano. Além da xenofobia bem exposta, é denunciada a linha tênue traçada por algumas pessoas entre solidariedade e interesse. O cinema no último ano trouxe a luta de classes à tona com Coringae Parasita, mesmo que não intensamente como os dois citados, isso também é abordado no filme. Pois há uma preocupação em trazer contemporaneidade e é extremamente bem vinda.
Entre Facas Segredos é um whodunnit para a atualidade. Talvez, conforme dito pelo diretor, não seja atemporal, mas só o tempo dirá. Por enquanto, é a prova de que Johnson é um excelente contador de histórias e essa aqui, é sobre o desenrolar involuntário dos fatos e como a verdade é acentuada pela bondade e a maldade intrínseca à natureza humana.
Filmes inspirados em fatos são um desafio. Porque há uma enorme linha tênue entre contar os acontecimentos e encontrar uma história neles. Quando digo história, me refiro a encontrar personagens e arcos dramáticos. Claro, alguns cineastas como Christopher Nolan em Dunkirk, preferem priorizar uma visão geral. Entretanto, o que torna esse tipo de filme bom, é transgredir a realidade e apresentar um propósito de maneira crível. Esse é o caso de As Golpistas.
Inspirado por um artigo por Jessica Pressler, o filme retrata um golpe aplicado por strippers em seus clientes, após a crise de 2008. A fim de criar um vínculo com o público, a história utiliza duas protagonistas: Destiny(Constance Wu) e Ramona (Jennifer Lopez). A primeira, ajuda a sua avó com a questão financeira. Enquanto a segunda, é uma veterana no pole dance, mãe solteira, também procurando por lucro. Ao longo da trama, uma amizade com altos e baixos é desenvolvida.
É interessante como As Golpistas parece mais do mesmo durante a primeira cena, quando é apresentada a rotina de uma das protagonistas e o cabaré Sin City. Mas após isso, segue em uma crescente, extremamente enérgico e feminista. A escolha da diretora Lorena Scafaria em não demonizar o ambiente adulto, mas trazer uma certa magia e encanto, é certamente algo ousado. Não é simplesmente uma fantasia barata, é um novo olhar sobre aquela realidade, em que as mulheres nos bastidores praticam a sororidade.
Scafaria também sabe como potencializar o seu elenco, como construir um certo humor, mas sem eliminar a gravidade das situações. O filme apresenta uma leveza muito bem coordenada e quando há a alteração tonal realizada próxima ao final da narrativa, é executada com perfeição. As performances no pole dance são muito bem dirigidas e o visual é simplesmente esplêndido, vai além dos neons dentro dos clubes.
O Sin City, inclusive, funciona como um personagem. Primeiramente, introduzido como um ambiente alegre, apesar da sujeira por debaixo dos panos. Em um segundo momento, após a crise, as luzes continuam, mas a essência é perdida. Os trabalhadores alcançam a depressão, perdem o lucro e o mercado se torna mais vulgar. É uma involução muito bem construída.
Assim como as protagonistas. Wu entrega uma das interpretações mais sinceras e cativantes do ano enquanto Lopez entrega um excelente contraste, com uma personagem pautada pela ganância. Todavia, a ganância em si, não figura como a principal temática da obra, diferente de outros filmes de golpe. Os laços, a amizade em lugares improváveis e o caminho pavimentado por ela, é o que realmente interessa à Scafaria.
A principal força de As Golpistas, talvez seja a edição por Kaila Emter. A montagem seleciona perfeitamente as músicas, transmite um senso de continuidade e o mais importante, dá corpo à obra. Muitas vezes é utilizada para brincar com os objetos do cenário, ou com as situações mais cômicas. A estilização é utilizada ao seu favor para construir um filme extremamente enérgico, charmoso, sensual e acima de tudo, irresistível.
Filmes bons entretém e filmes excelentes fazem isso e muito mais. Coringa é uma daquelas obras arrebatadoras deixando o espectador em um estado catatônico e eufórico após os créditos subirem. Poderia ser mais um estudo de personagem interessantíssimo fadado ao desinteresse do público, caso tivesse outro título. O próprio diretor Todd Phillips concorda que o filme não precisaria ser necessariamente sobre o maior vilão do Batman. Porém, Hollywood vive hoje em uma era repleta de filmes baseados em HQs e o público é atraído por heróis e vilões fantasiados (encare os fatos, quem não?). É certo que as intenções não se refletem em adaptação, mas sim, em tornar visível, uma tragédia sobre a psique humana.
Quem carrega o conto melancólico é Arthur Fleck, um homem com uma doença neurológica provocadora de risadas compulsivas. Ele trabalha como palhaço de placa para comprar remédios para a sua mãe. Ele quer ser um comediante, fazer as pessoas rirem, mas é rejeitado, mal tratado e violentado pela sociedade. Além disso, sua condição também é ignorada pelo sistema. Como tudo o que separa um homem da loucura é um dia ruim (nesse caso, uma vida), ele resolve revidar, tornando-se o Coringa. Com isso, ele inspira, por acidente, uma revolução contra Thomas Wayne e toda a elite de Gotham.
A forma como Coringa se inspira nas obras de Martin Scorsese era evidente desde as suas prévias. A direção de Phillips traz diversos planos semelhantes a Taxi Driver e O Rei da Comédia, mas nunca se torna uma cópia, ou homenagem forçada. O cineasta imprime um estilo próprio em sua direção. Como a maioria dos seus trabalhos consistem em comédias, Coringa caiu como uma luva para Phillips. Ele é um excelente diretor de atores e imprime uma certa subversividade na condução do humor, contraditório e pesado, encontrando nele, a carga dramática. Ele entende como ser caótico e ter domínio de seu espetáculo.
Mas existe um ingrediente especial conhecido como Joaquin Phoenix. Os trabalhos anteriores do ator são impressionantes, com bastante intensividade e tudo isso é entregue aqui, porém dessa vez, ele também entrega um resultado assustador. Sua performance passa por diversas fases durante a trama e próximo do final da obra, Phoenix é o próprio clímax. O que o difere das outras interpretações do Palhaço do Crime é, certamente, a humanidade. Já o vimos como alguém cômico, como anarquista, como gângster, mas nunca o vimos como uma pessoa. Aquilo que torna Coringa assustador é a proximidade emocional de Arthur com a plateia. Não é como olhar para uma tela, é como estar ao lado daquele homem trágico e dentro de sua mente.
Aliás é necessário comentar sobre a perfeição que é o roteiro de Phillips e Scott Silver, extremamente coeso, fornecendo todas as peças necessárias do desenvolvimento de seu protagonista e a sua queda à insanidade. A montagem por Jeff Groth também é extremamente importante para se situar na mente do personagem e questionar sobre o senso de realidade e ficção dentro da película. A cinematografia do Lawrence Sher é melancólica, claustrofóbica, deixa uma impressão fortíssima em quem assiste e a trilha sonora composta por Hildur Guðnadóttir, pautada por acordes extremamente agudos, quase como desafinação, é essencial para compôr a tragédia.
Coringa é um filme extremamente relevante, pois dá visibilidade a doenças mentais e denuncia a forma como são tratadas desumanamente pelo sistema. Talvez alguns considerem o último terço da obra, expositiva, mas ao meu ver, é um soco no estômago misturado com um choque de realidade aos 220 volts. É uma obra em que as gotas de humanidade restantes se secam justamente para lembrar a nós que ainda possuímos alguns desses pingos conosco. Às vezes é necessário filmar um circo pegando em fogo apenas para provocar uma reflexão e é exatamente a isso que, excelentemente, a produção se propõe.
Em suma, Coringa é um conto trágico, irônico, controverso, caótico, que tira o espectador do assento, o deixa trêmulo, espantado, entretido, chocado e faz com que seja para sempre, lembrado. É a experiência cinematográfica mais impactante do ano.
Observação: Não levem crianças para assistir ao filme.