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Imperdoável (2021) e o destaque para a excelente atuação de Sandra Bullock

Na última sexta-feira (10), a Netflix adicionou no catálogo o seu mais novo filme dramático com Sandra Bullock no papel principal e com outros rostos conhecidos em seu elenco. A trama traz a tentativa de Ruth Slater (Bullock) em reencontrar sua irmã após ter cumprido pena por assassinato e assim restabelecer esse laço familiar após 20 anos. Ou tentar.

A sinopse não apresenta nada original, porém o diferencial é como essa história está sendo contada e com quem. Imperdoável poderia ter sido um marasmo completo, mas teve uma grande ajuda para garantir a atenção do espectador.

A interpretação de Sandra Bullock foi sensacional do início ao fim e considerei como a pessoa responsável por ter deixado a história ainda mais agradável. O visual abatido e sem maquiagem de Ruth nos entregou como a personagem tinha preocupações mais urgentes para tratar do que andar toda deslumbrante como a Miss Simpatia. Sua expressão vazia foi outro ponto notável de sua atuação para mostrar as marcas de uma vida encarcerada devido ao seu crime. Apenas uma consequência de seus atos passados.

A atriz também conseguiu passar ao telespectador que sua personagem merecia uma segunda chance e reconstruir a sua vida ao recuperar o tempo perdido com sua irmã. Isso foi fácil, mas tentar convencer os pais adotivos de Katherine foi a parte mais difícil nessa trajetória. Como todo o clichê esperado em produções assim, criou-se uma atmosfera de medo e desconfiança em puxar a filha para memórias traumatizantes de sua vida antes da adoção. A cena da conciliação é o belo exemplo de embate entre os três personagens envolvidos (Ruth, Rachel e Michael). Tendo uma Bullock destacando-se com a Ruth explosiva e desesperada nessa tentativa de ter a irmã de volta em sua vida.

O elenco de apoio é composto por figurinhas carimbadas no universo televisivo e cinematográfico da Marvel/DC, tendo então Viola Davis, Vincent D’Onofrio e Jon Bernthal. Os três contracenaram com a personagem principal, porém não conseguiram roubar a atenção necessária do público. O foco continuou sendo na Ruth e apenas na Ruth. Isso foi o que acabei percebendo enquanto assistia. Só notarmos que o tempo de tela de Viola, por exemplo, é bem contido e intercalado. Não a vemos de forma constante, porém destaco o diálogo dramático entre Liz e Ruth. Jon até aparece mais um pouco por interpretar um colega de trabalho de Ruth. Já o Vincent possui um papel a desempenhar na trama, mas depois desaparece.

É nesse diálogo entre as duas personagens que tivemos o twist da história, mas olhos mais atentos podem ter matado a charada antes da revelação ter sido feita. Só me dei conta dessa virada instantes antes de apresentarem a última peça que faltava desse importante quebra-cabeça. Antes disso, o flashback era apresentado em pequenos frames sobre o dia fatídico. Claro que já dava para ter uma ideia do que aconteceu, então esses cortes não eram tão chamativos. Apenas esse último corte merecia a nossa atenção total.

O plot de vingança foi a cereja clichê desse bolo e sigo com a opinião de que não precisava ter inserido na trama. Uma vez que podiam ter trabalhado tranquilamente com as ideias apresentadas e assim acabariam tendo mais tempo de tela para serem desenvolvidos. Ao menos rendeu um diálogo bacana sobre como lidar com o luto e as consequências de uma atitude desesperada.

Para os amantes de dramas sobre segunda chance, Imperdoável é a melhor pedida atual no catálogo do streaming vermelho. Vale muito a pena ver toda a entrega de Sandra Bullock na construção de uma personagem corroída pelo fantasma de seu crime. Mostrando como o passado condena e mesmo com o presente sempre lembrando de seu pecado, nada impede que a redenção seja construída a pequenos passos.

Nota: 4/5

Imperdoável já pode ser visto na Netflix.

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Mesmo sem inovar, Alerta Vermelho convence com diversão, ação e química entre o trio protagonista

Para quem não está familiarizado com o termo, a difusão vermelha (Red Notice), cuja natureza está ligada ao cumprimento de mandados de prisão expedidos em desfavor de pessoa que se encontre em país diverso daquele onde teve decretada a sua prisão. Portanto, a difusão vermelha nada mais é do que um alerta internacional (na Interpol), expedido por autoridades judiciais de países membros, para fins de extradição de pessoas procuradas pela justiça criminal. Via: Jusbrasil

É a partir da introdução deste conceito que o novo filme da Netflix apresenta a sua trama de comédia investigativa, quando O Bispo está sendo procurado internacionalmente por seus roubos. O bom de Alerta Vermelho é que ele não tenta ser sério demais ou tenta acrescentar algo inédito nesse universo de roubos e caçadas de artefatos históricos, então tudo que foi apresentado já vimos anteriormente em produções como Indiana Jones, A Lenda do Tesouro Perdido e Missão Impossível. A graça está justamente nisso: Em não ser ambicioso, o longa trouxe bastante diversão e entretenimento ao telespectador.

Nos primeiros minutos já somos apresentados aos personagens John Hartley (The Rock) e Nolan Booth (Ryan Reynolds) brincando de gato-e-rato após o roubo de um dos preciosos ovos de Cleópatra. Vale destacar as sequências de fuga e luta, onde a câmera chega a flutuar para acompanhar toda a perseguição.

Conhecemos os dois atores por serem inundados de carisma em seus filmes e também fora de tela, então são excelentes exemplos de como atrair o público para consumir determinados produtos. Se um é bom, dois é ainda melhor. Gal Gadot entra em cena para fechar como três é bom demais.

O trio reunido agrega bastante para a trama, graças a ótima interação entre os personagens. Os atores em cena demonstram naturalidade e boa química, assim acabamos em criar empatia imediata por John, Nolan e Bispo. As sequências de luta de Gal mostram bem o seu lado femme fatale e só me veio em mente de como ela poderia participar fácil de Missão Impossível ou 007. Quem sabe, né?

A inspetora Das (Ritu Arya) é uma personagem formidável mesmo não tendo o mesmo apelo do nosso trio e suas cenas até que são boas. Nada muito extraordinário, pois núcleo policial é sempre uma peça em produções de aventura.

Falando nesse gênero, um plot twist sempre movimenta a história e Alerta Vermelho trouxe isso. Apesar das pequenas pistas sendo jogadas inocentemente, não cheguei a perceber que poderiam utilizá-las como gatilho para uma possível revelação.

Considerado como o maior orçamento da Netflix até o momento (Forbes informa que custou entre US$ 160 milhões e US$ 200 milhões), Alerta Vermelho não desperdiça o nosso tempo em quase duas horas de duração. O filme é muito bom e garante muitas doses de diversão e ação. Isso mostra como algo simples consegue nos prender a atenção. O final entrega um gancho satisfatório e solta no ar a necessidade de uma sequência. Que será muito bem-vinda.

Nota: 4/5

Alerta Vermelho está disponível na Netflix.

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‘Eternos’ se consagra como um dos melhores filmes da Marvel

Dirigido por Chloé Zhao, vencedora do Oscar 2020 pelo seu trabalho incrível em Nomadland, ‘Eternos’ chegou nos cinemas brasileiros dividindo opiniões: enquanto uma parte das críticas deram notas baixas para o filme, outra parte elogiou bastante o que foi visto em tela – apresentando, inclusive, 48% no Rotten Tomatoes e a pior pontuação entre todos os filmes do MCU no CinemaScore

Por sorte, nem toda crítica deve ser considerada uma verdade universal ao se encarar qualquer filme. Neste caso em específico, mesmo diante das críticas negativas e com ciência das mesmas, decidi conferir e acabei de me deparando com um dos melhores filmes já feitos dentro deste universo cinematográfico.

Os Eternos: Marvel revela trailer de cair o queixo dos super-heróis – Jornal Pequeno

Nos quadrinhos criados por Jack Kirby durante a década de 70, os Eternos são seres geneticamente modificados criados pelos Celestiais – os deuses espaciais deste universo. Em tese, Kirby se inspirou nos elementos de sua saga da DC, Quarto Mundo, e no famoso livro ‘Eram os Deuses Astronautas?’ lançado em 1968. Além dos Eternos, os celestiais foram responsáveis também por criar os Deviantes: o oposto destes protagonistas, sendo uma raça destrutiva que entra em conflito com estes seres.

A trama do filme segue o que foi exposto nos quadrinhos originais: os Eternos foram criados pelos Celestiais com a missão de proteger a humanidade dos Deviantes e vieram para a Terra cumprir este objetivo. Por sete milhões de anos, os protagonistas presenciaram toda a história mundial e fizeram suas respectivas partes nela, até que optaram por viver tranquilamente.

Sem poder interferir diretamente nos conflitos humanos, aqui usado como uma desculpa para a ausência do grupo na luta contra Thanos durante o arco do Infinito, o grupo segue separado observando os eventos da Terra até que os Deviantes retornam e indicam que o fim do mundo acontecerá dentro de sete dias – dessa forma, os membros devem se unir novamente e evitar o pior para o planeta.

Eternals': Even with MCU's First Real Sex Scene, Series Is Sex-Less | IndieWire

O mais interessante de se observar na obra de Kirby é que, por mais que os protagonistas de seus quadrinhos sejam comparados com os deuses greco-romanos por conta de suas habilidades e seus feitos ao longo da história humana, os mesmos são os equivalentes aos guardiões presentes no cristianismo. O principal ponto é ver como os Celestiais se equiparam ao Deus cristão e suas criações, os Eternos, aos anjos enviados para proteger a humanidade de sua criação que deu errado.

Porque eu disse isso? pois Chloé Zhao consegue manter essa essência intacta enquanto nos apresenta a este novo lado místico e, de certa forma, religioso dentro deste grandioso universo que a Marvel iniciou em 2008. A diretora já concretiza este argumento ao apresentar mudanças na formação da equipe onde, cada membro se apresenta em pares de sexo opostos que veio à Terra em uma arca espacial – semelhante a Arca de Noé nas histórias sagradas.

Saiu o trailer final de Eternos, agora com Kit Harington e muito mais dos Deviantes

E falando na Chloé Zhao, sua direção neste filme está surpreendente e faz jus ao seu Oscar na prateleira. A diretora consegue trabalhar bem a trama mesmo que o roteiro envolva inúmeros acontecimentos em tela e diversos personagens para desenvolver. Por mais que um ou outro se torne subdesenvolvido, – com destaque a Dane Whitman, personagem de Kit Harington – todos os principais são bem trabalhados e se entende que a trama tem como foco o relacionamento entre os protagonistas e em abrir a porta para a entrada de Dane Whitman no MCU. Sua direção é tão leve que consegue trabalhar com a devida naturalidade a primeira cena de sexo em um filme da Marvel e todas as representatividades presentes no longa.

Zhao consegue trabalhar o tempo de tela de cada um, desenvolver toda a trama dos Celestiais e introduzir de forma sólida este novo lado para o universo cinematográfico da Marvel. Porém, devido ao excesso de informações e de personagens presentes no roteiro, alguns elementos acabam não sendo trabalhados da forma que deveriam e se tornam furos durante a exibição. Além disso, é tanta coisa acontecendo em tela que algumas passam despercebido aos olhos do telespectador.

Neste ponto, acaba que um dos poucos defeitos do título se encontra dentro do seu roteiro, que se apresenta desarmônico em certos momentos e deixa o telespectador confuso diante de tanta informação exposta em tela. Entretanto, Zhao dirige o seu filme da melhor forma possível e consegue deixar este roteiro o menos irregular nas quase três horas de exibição do longa. E já que estamos falando dos defeitos, outro grande ponto é a edição do longa que também se torna irregular ao transitar sempre entre passado e futuro, além de iniciar o filme com uma abertura que mastiga a principal trama do título – esta que, é exposta em uma simples conversa entre Whitman e Sersi no primeiro ato.

Eternos: trailer deixa claro onde o filme se encaixa na linha do tempo

Quanto ao elenco, todos os integrantes apresentam a química necessária para interagirem entre si e desenvolverem suas respectivas tramas e lados dentro da história. Cada membro da equipe apresenta um arco individual que é bem elaborado em tela e, quando todos estão juntos, se complementam de forma perfeita. Não somente em suas relações interpessoais como também nas batalhas que ocorrem ao longo dos anos.

Assim como os efeitos visuais, a fotografia do filme está incrível e cada cena é de tirar o fôlego! Ben Davis consegue enquadrar bem todos os elementos presentes em tela e transmitir uma sensação única ao telespectador que vê eles em tela. Por último, os figurinos do longa podem ser considerados alguns dos melhores já feitos para o MCU.

Então, é bom?

Ao adaptar para as telas toda a premissa cristã desenvolvida por Jack Kirby em seus quadrinhos na década de 70, Chloé Zhao consegue introduzir com maestria este novo lado do universo cinematográfico da Marvel, apresentando um desenvolvimento honesto dos personagens que compõem a equipe, da composição deste lado místico e com uma trama única que consegue escapar por um triz da fórmula Marvel.

Com uma fotografia excepcional, efeitos visuais de tirar o fôlego e um elenco incrível que funciona bem em conjunto nas telas, ‘Eternos’ consegue se consagrar como um dos melhores filmes já produzidos dentro deste universo.

Nota: 4.5/5

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Army of Thieves encontra o equilíbrio virtuoso entre único e familiar

Após o sucesso estrondoso do filme dirigido por Zack Snyder, ‘Army of the Dead’ (Clique aqui para conferir nossa crítica do filme), esse novo universo tende a se estender mais ainda mostrando o passado do amado personagem do longa original, Ludwig Dieter (Matthias Schweighöfer). Enquanto o mundo estava passando pelo surto dos zumbis em Las Vegas, a atenção foi completamente roubada, e então uma misteriosa mulher decide contatar Ludwig para um dos maiores assaltos já vistos na história, nos cofres mais lendários já feitos, e que são a paixão do protagonista, e que conectam ambos os filmes.

Sua história tem seus pontos singulares, como a trama com zumbis, o conto por trás de cada cofre, personagens originais, mas em um todo: Não é revolucionário no meio de filmes de assalto a bancos, e não há problema nenhum nisso, pois seu charme não está em se diferenciar nisso: Está em como isso é criado. A construção da identidade aqui é algo que é feito com maestria, e que definitivamente, não teria o mesmo impacto se não fosse pela direção e roteiro.

Quem dirige o longa é o próprio protagonista, Matthias Schweighöfer, e seu roteiro é feito por Shay Hatten (John Wick: Parabellum)  e Zack Snyder. O fator de seu personagem ser a pessoa por trás de tudo isso só torna mais fácil a imersão e o entendimento da história, logo que, tudo aqui é visto através do contar do próprio Dieter. E como o seu início de carreira em filmes norte-americanos, sua direção apenas foi explorada em uma série e poucos filmes estrangeiros, pode se dizer que Matthias tem um futuro extremamente promissor; apesar de não ser perfeita e em poucos momentos cometer certos deslizes (alguns até por culpa da edição em si), a atenção ao detalhe e o ritmo se alcança de maneira esplêndida. O seu excelente roteiro também é um grande auxílio, a criação das personagens, cenas, interações foi fundamental para que a direção capturasse a verdadeira essência do que estava sendo proposto aqui. Cenas mais tensas, mais cômicas (que, sem dúvidas, é o suprassumo do longa) e o desenvolver de tudo, é magnifico. Em alguns momentos é possível ver uma influência de Zack na direção, e pode acabar tirando foco da marca de Schweighöfer, mas também auxilia para que seja feito com uma mão mais experiente – é uma faca de dois gumes.

E falando sobre os atores, a composição de tudo, desde química até background, tudo é muito encaixado e diverso para que funcione de fato. A escolha de ter cada um com uma nacionalidade cria uma identidade e diferencia de outros estereótipos do gênero. Consequentemente, alguns tem mais destaque que outros, mas mesmo assim, tudo tem sua belíssima funcionalidade. O único fator ruim no elenco, foi seu ‘vilão’, Delacroix (Jonathan Cohen), que é extremamente caricato e pouquíssimo interessante. Por mais que tenhamos mais de um, como Beatrix (Noemie Nakai), entrega algo muito mais interessante, mas pouco focada. Também temos uma cena envolvendo crianças supostamente ‘brasileiras’ que ficou no mínimo esdrúxulo, por mais que tenha sido uma cena divertida.

Em seus pontos técnicos, não há o que falar sem ser elogios. Sua trilha-sonora é composta por Hans Zimmer, e somente por esse nome já se cria uma expectativa enorme, mesmo não sendo seu maior trabalho, não desaponta nem por um segundo. Sua fotografia é incrivelmente bem executada, e também chega a se lembrar o trabalho de Snyder, que é exemplar. Mas sua maior graça está no trabalho sonoro, que é muito bem detalhado, mas poderia ter sido mais explorado, de certa maneira. Vale também pontuar o ótimo uso da cenografia e locais, assim como de um trabalho de figurinos incríveis, e que sabem se imergir bem com a trama. O seu CGI é muito satisfatório, principalmente em cenas onde os cofres são abertos.

Army of Thieves é um filme divertido, que consegue entregar diversão e certos momentos de tensão (por mais que, tenha seu final meio “estragado” para quem já assistiu Army of the Dead”), pode decepcionar quem busca algo mais sério. Definitivamente, é um ótimo filme para o início da carreira de Matthias, e que consolida mais ainda o universo que Zack Snyder está criando com tanta atenção e dedicação.

Nota: 4/5 – Ouro

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Duna: A obra-prima de Denis Villeneuve

”Eu não devo ter medo. Medo é o assassino da mente. Medo é a pequena morte que leva à aniquilação total. Eu enfrentarei meu medo. Permitirei que passe por cima e me atravesse. E, quando tiver passado, voltarei o olho interior para ver seu rastro. Onde o medo não estiver mais, nada haverá. Somente eu permanecerei.”

Assim que li Duna em 2015 e assisti ao filme de David Lynch, feito em 1984, tirei como conclusão de que esta seria uma obra impossível de ser adaptada no cinema e que a melhor opção seria uma série televisiva nos mesmos moldes que Game of Thrones – isso tanto pelo conteúdo como pelo vasto universo presente nos livros.

Originalmente, Duna é um livro publicado em 1965 por Frank Herbert e considerado por muitos um dos precursores da atual ficção científica, sendo uma das mais renomadas. Além deste primeiro livro, o universo de Duna apresenta mais cinco sequências que expandem todo este incrível universo. O fato é que este é um livro cuja sua narrativa pode ou não cativar o leitor, e há uma certa dificuldade em fazer com que esta seja adaptada em tela de forma que agrade o público e que o mesmo consiga compreender toda a essência e a magnitude deste universo – neste caso, Denis Villeneuve consegue com maestria.

Warner Bros revela a primeira imagem oficial de "Duna"

Resumir a história do longa é complicada, mas basicamente a trama de Duna se passa em um futuro onde a ordem é feita por meio de um império intergaláctico nos moldes feudais, onde cada família é responsável por administrar um planeta. Nesta primeira parte, acompanhamos o início da trajetória de Paul Atreides e sua viagem para o planeta Arrakis. Seu pai, o duque Leto Atreides é convocado pelo Imperador para administrar Arrakis: planeta natal da especiaria melánge, antes administrado pela casa Harkonnen. Junto a isso, Paul precisa lidar com os sonhos que vêm tendo e com o fato de que o mesmo pode ser o Kwisatz Haderach, ou seja, o escolhido. Após a chegada da casa Atreides em Arrakis surgem diversos desafios políticos, como por exemplo a rivalidade entre as casas Atreides e Harkonnen, as questões que envolvem a especiaria ou a união com os fremen.

Quando é dito que Duna é um livro difícil de ser adaptado para as telas, não é um grande exagero. Se observarmos bem o filme de David Lynch em 1984, podemos ver o quão complicado é adaptar um vasto material para um longa com curto tempo de duração. Pessoalmente não considero a adaptação de Lynch tão ruim como dizem, mas se até o diretor tem vergonha de assinar o filme, quem sou eu para discordar.

A verdade é que Duna apresenta uma narração densa, uma trama política bem detalhada e descrições extremamente ricas que compõem o incrível universo apresentado por Herbert. Portanto, o grande desafio de Villeneuve seria conseguir transformar um denso material em um roteiro que consiga agradar tanto o público que é fã da obra original como quem será apresentado através desta adaptação.

Duna: Elenco usava apelidos de estrelas pornô nas filmagens, revela Rebecca Ferguson · Rolling Stone

Denis Villeneuve consegue concluir este desafio da melhor forma possível, realizando uma adaptação que apresenta com precisão a vastidão do universo de Duna. De certa forma, talvez a duração do longa não agrade todo mundo: afinal, são em média duas horas e meia onde há bastante diálogo. Entretanto, o diretor consegue compreender a essência da obra e expõe ela da melhor forma possível na tela.

Há algumas ”falhas”, obviamente, como toda adaptação: aqui, há alguns vazios na trama e o diretor opta por não focar na trama política e nem em outros detalhes presentes no livro – talvez para desenvolver os temas nas futuras sequências ou apenas para que tudo se encaixe dentro do filme sem prolongar demais. Além disso, Villeneuve também muda a essência de alguns personagens, como por exemplo Lady Jessica – mãe de Paul – que apresenta um comportamento diferente do livro e de outros personagens secundários que são deixados de lado. Isto não afeta em nada a trama, mas em particular senti falta da exploração acerca do lado político que tem na obra.

Outro ponto que poderia ter sido mais impactante no longa é a respeito dos vermes de areia: a cena onde, finalmente, ocorre a revelação da criatura tem um grande impacto visual no telespectador. Porém, ela foi exposta no trailer junto com o visual em fotos promocionais – caso não tivesse, o impacto teria sido bem maior. Nada que interfira na experiência, mas que poderia ter gerado uma surpresa no telespectador que não conhece a trama (até porque, sua construção no decorrer da exibição ocorre de forma discreta e até mesmo construindo um terror psicológico e uma curiosidade para o que está por vir).

Duna” quase foi adiado para 2022 – Categoria Nerd

A fotografia de Duna é incrível em todos os detalhes, Greig Fraser fez um trabalho sensacional aqui. Tive oportunidade de assistir o longa na sala IMAX a convite da Warner Bros e, sem dúvida, o filme foi feito para ser visto nos cinemas. A ambientação é construída com atenção em cada detalhe e toda cena surpreende o telespectador tanto por sua beleza como pelos efeitos ao redor.

Não só a fotografia como o figurino também chama a atenção, tudo foi feito nos mínimos detalhes e da melhor forma possível para mostrar a diferença cultural entre Arrakis e Caladan – planeta casa dos Atreides. Além disso, a trilha sonora de Hans Zimmer combina perfeitamente com a ambientação e consegue criar todo um clima que envolve o telespectador com o filme.

Por último, o elenco está sensacional e combina com os personagens que representam. Chalamet entrega um grande potencial como Paul Atreides, assim como Oscar Isaac como o duque Leto e Rebecca Furgson como Lady Jessica. Até mesmo os personagens secundários da trama tem seu destaque, inclusive Zendaya como Chani – que, mesmo em pouco tempo de tela, consegue marcar o filme. E isso não deve ser preocupação, nas sequências ela terá um papel fundamental no decorrer da jornada de Paul.

New Dune trailer shows off 3 minutes of desert chaos - CNET

Então, é bom?

Com diversos detalhes técnicos sensacionais, um roteiro que cativa tanto os fãs da obra como o novo telespectador e com um grandioso elenco, Duna consegue se consagrar como a obra-prima de Denis Villeneuve. O longa se prova como um dos melhores filmes do ano e uma das melhores adaptações já feitas, respeitando o material base e servindo como o início de uma grande franquia nos cinemas tal como O Senhor dos Anéis foi em sua época.

Agora é torcer para que sua sequência seja confirmada e que concorra ao Oscar nas categorias técnicas pois, sem dúvida alguma, este filme merece.

Nota: 4.5/5

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Halloween Kills é um estudo de um roteiro inseguro

Após o aclamado e amado filme, Halloween (2018), finalmente voltamos para a noite em que o mal encarnado, Michael Myers, retorna em sua cidade natal para continuar o banho de sangue e carnificina. Com Laurie Strode no hospital após os acontecimentos do longa anterior, a sua família e a cidade terão que se unir para combater o bicho-papão que os assombra na noite mais sombria do ano.

Halloween Kills serve para ser a construção para o futuro fim da nova trilogia, que é focada em ser mais séria e pé no chão. Mas, será que ela realiza isso com a precisão necessária e não deixando uma burla para o desandar da história? Definitivamente, essa película é um caso de amor e ódio. Aqui, vemos um lado curioso sendo abordado, quem e o que é Michael Myers, e o que é Haddonfield? Qual é o papel de cada peça nesse xadrez doentio? A exploração mais afundo do psicológico das personagens é algo que esse filme fez de maneira primordial, mas com deslizes.

O que mais precisa de aplausos são as partes técnicas, é com maestria a maneira que tudo se encaixa perfeitamente e tão unicamente. Sua maquiagem e efeitos práticos em cenas de morte são convincentes e memoráveis. Sua trilha-sonora sabe muito bem como criar a tensão necessária, e também, de como fazer esse ‘crescer’ de raiva pelo antagonista. Ambientação é impecável e nostálgica, principalmente em flashbacks, e sua fotografia auxilia o contar da história de maneira impressionante. Sua montagem pode ser estranha em certos momentos, mas com o ritmo passando, é fácil de acompanhar. Alguns call-backs para cenas anteriores também podem parecer desnecessárias, mas auxiliam espectadores que podem não se lembrar do clássico e do filme de 2018.

O verdadeiro problema aqui é a falta de responsabilidade do roteiro em tentar ser algo excepcional, sempre que podemos avançar em algo, ele recua de maneira que prejudica o andar do filme. E enquanto isso, a direção de David Gordon Green é fenomenal e de deixar qualquer amante da sétima arte pasmo, a forma em que é mostrada uma violência brutal e sádica de Myers chega a chocar. Ângulos simplesmente nunca vistos na franquia e também pouco explorados no terror em um geral, para fãs de matança é um prato cheio. Porém, seu roteiro é uma coisa que machuca até o maior fã da saga.

Infelizmente, temos cenas que tentam evocar um humor que se torna inconveniente, falas fracas e definitivamente momentos em que é questionável imaginar que algum produtor realmente leu o roteiro por inteiro. Mesmo com esses erros, o que mais mata é a contradição que se atribui com a proposta original dessa nossa visão de Green. A ideia vendida que deixariam de lado elementos odiados das sequências desnecessárias do passado, conceitos que nunca foram muito bem entendidos, é quase humilhante comparar a originalidade do seu antecessor com o que é feito aqui. O roteiro simplesmente se vê mais como uma máquina de reciclar, do que criar algo verdadeiramente único. E em momentos onde eles tentam criar, é possível ver que se tinha essa faísca criativa para criar algo que faria sua história ter um decorrer, mas eles não se atrevem.

Por mais que tenhamos cenas de violência surpreendentes e divertidas, arcos que poderiam deixar a história mais densa e criativas, decisões mal desenvolvidas e que se tornam até incoerentes com a data e lógica – como as pessoas de Haddonfield não conheceriam quem foi Michael Myers? Ou não conseguir capturar uma foto, divulgar em redes sociais e mídias locais? Se esse roteiro fosse de 1979, seria aceitável. 2018? É completamente estúpido. Temos até uma forma de crítica social com fake news, que é extremamente bem dirigida e montada, só que não faz nenhum pingo de sentido.

Halloween Kills Moves to 2021 Due to Coronavirus Concerns, Drops Teaser Trailer - Den of Geek

Halloween Kills é extremamente divertido na mesma medida que é péssimo em seu roteiro, tentar encontrar uma racionalidade no meio disso, transforma que o medo encarnado não é Michael Myers, e sim, a ganância de um estúdio em querer mais dinheiro, e não se importar em como isso afeta tanto a qualidade que os fãs tanto merecem. Talvez, Michael Myers sempre volte, mas esperamos que ele volte com sua glória prometida, não com seu desprezível passado nas mãos erradas.

Nota: 3/5 – Prata

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The Manor (2021) debate sobre a seguinte questão: Estamos prontos para envelhecer?

O Amazon Prime Video liberou na última sexta-feira (08) os dois últimos filmes (Madres e The Manor) da parceria com Blumhouse Productions, totalizando oito longas lançados desde 2020. Eu não estava mentindo quando disse sobre a qualidade dessa segunda leva em relação à lançada na semana anterior. Os dois conseguiram criar uma excelente ambientação para o terror e ainda debater algumas questões que rodeiam nossas vidas. O primeiro falou sobre o verdadeiro mal e o segundo quis contar sobre o pavor do envelhecimento. Atire a primeira pedra quem não tem medo de envelhecer.

(Leia a nossa crítica de Madres)

Após sofrer um derrame, Judith Albright (Barbara Hershey) é internada em um antigo asilo, onde começa a suspeitar que algo sobrenatural está rodeando os residentes. Para escapar, ela terá que convencer a todos que ela não pertence ali.

É esperada uma enxurrada de clichês quando um asilo vira o cenário principal, pois já sabemos o que esperar de uma produção desse tipo. Desconfiar da diretora muito simpática, ficar de olho na equipe truculenta e bizarra, regras estranhas e aguardar a aparição da cuidadora que acreditará que existe um complô na gestão.

The Manor movimentou-se dessa forma, porém o filme ganhou muito quando a personagem principal trouxe suas principais preocupações sobre as consequências do envelhecimento. O roteiro não precisou quebrar a quarta parede para conversar com o público, uma vez que os próprios diálogos cumpriram bem a proposta. Quando Judith ficava frustrada em não dançar mais ou optava em não ser mais um estorvo para uma filha já impaciente, já era possível se espelhar numa história de algum idoso, seja parente ou não. Os maiores conflitos da velhice são abrir de mão de inúmeras atividades que fazia normalmente e tornar-se dependente de cuidados. Claro que existem boas exceções, como idosos que possuem uma saúde de ferro e estão sempre ativos.

O clima sobrenatural de The Manor não deixou a desejar e parecia que eu estava assistindo um ótimo episódio filler de Supernatural. O mistério foi bem criado e os objetos das cenas foram peças-chaves para tentar desvendar a origem desse ser noturno. Comprei totalmente a escolha da entidade, pois alinhou-se ao grande desejo dos personagens: uma nova chance.

Querendo ou não, The Manor também trouxe uma história de amor. Após a perda do pai, Josh encontrou em Judith, sua avó, o ponto de conforto necessário para superar a fase de luto. Os dois estabeleceram um vínculo tão forte e isso não poderia ser quebrado só por causa de sua estadia no asilo. Não é à toa que o personagem esteve presente em todo o filme e foi a peça fundamental para descobrirem o que estava acontecendo naquele lugar.

Diante disso, considerei válida e totalmente compreensível a decisão desses personagens no final. Isso me fez pensar em como o roteiro permaneceu fiel sobre os principais ideais de Judith e Josh sobre o vínculo formado, apesar de ter sido facilmente questionável o que aquilo representaria: a permanência do ciclo. Numa situação semelhante, tomaríamos a mesma decisão?

Nota: 4/5

Você pode conferir The Manor no Amazon Prime Video.

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Madres (2021): O verdadeiro terror está na atitude do ser humano

Sexta-feira foi mais um dia para assistir dois filmes da parceria entre Amazon Prime Video e Blumhouse Productions: Madres e The Manor. Finalizando assim oito filmes lançados desde 2020. A crítica de Black as Night, lançado na semana passada, pode ser lida aqui. A segunda leva desse ano conseguiu ser superior da leva anterior (01) por ter criado um bom suspense e conversado com o telespectador com pautas reais, criando uma reflexão mais pé no chão. O que seria mais aterrorizante: O sobrenatural ou o ser humano? Madres trata bem de um assunto comum, porém ainda assusta quando pensamos até onde uma pessoa vai fundo na obscuridade.

Nos anos 70, um casal mexicano-americano, grávidos com sua primeira criança, se mudam para uma comunidade rural no interior da Califórnia. Quando a esposa começa a sentir estranhos sintomas e visões aterrorizantes, ela tenta descobrir se é algo relacionado a uma antiga maldição ou algo mais nefasto.

É totalmente normal encontrarmos uma explicação na religião quando a ciência não consegue explicar determinado evento. Quando você já tem uma crença firmada em sua mente, fica difícil encontrar uma explicação mais racional para certas situações na vida. Se grávidas não conseguem ter seus bebês, isso só pode ser culpa de alguma maldição. A trama se passou nos anos 70, mas poderia ser em pleno 2021. É interessante notar como o assunto é algo atemporal.

O roteiro de Madres foi jogando migalhas de pão para a gente tentar decifrar o que realmente estava acontecendo naquela comunidade, mas nada muito complexo que te faça queimar mil neurônios. Quando a revelação aconteceu, trouxe mais vida ao longa em mostrar que o verdadeiro mal está dentro de nós. Somos capazes de evocar o nosso pior lado e cometer o pior dos pecados. Seja nas piadinhas das mulheres em cima de Diana por não saber espanhol ou na verdadeira causa da baixa natalidade da região.

Para aproximar o público com o caso, eis que a história foi baseada em eventos reais. Madres queria contar que o plot twist não foi um artifício inventado para ficarmos chocados. Ele existe, mutila e mata. Pessoas reais foram acometidas de forma cruel e deliberada pelos responsáveis. Mesmo diante de denúncias, muita impunidade foi dada em resposta.

Resumo da colheita: Madres é uma boa pedida para quem curte assistir produções onde nem sempre o sobrenatural é a causa dos eventos estranhos e que também consegue cumprir a missão de trazer indignação com uma prática assombrosa. Objetivo alcançado com sucesso. O desfecho é satisfatório mesmo tendo uma ajuda do sobrenatural, mas retoma o controle da situação ao concluir que nenhuma prática chega realmente ao fim. Pelo contrário, só muda o responsável. Final sombrio, porém real.

Nota: 4/5

Madres já pode ser visto no Amazon Prime Video.

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O suspense dinâmico e eletrizante de O Culpado

Chegou à Netflix o novo suspense estrelado por Jake Gyllenhaal (Donnie Darko, O Abutre), que ficou no top 10 no Brasil desde seu primeiro dia. Sob a direção de Antoine Fuqua (Dias de Treinamento) e roteiro assinado por Nic Pizzolatto (True Detective), a produção é um remake do filme dinamarquês Culpa, de 2018. Na história, Gyllenhaal interpreta Joe Bayler, um detetive que após um problema em seu emprego, fora rebaixado ao cargo de atender chamadas de emergência. Situado durante os incêndios florestais de Los Angeles, que aconteceram verdadeiramente em 2019, Joe atende diversas chamadas, porém quando uma mulher liga desesperadamente pedindo ajuda por ser sequestrada, ele mergulha em uma experiência alucinante para ajudá-la. Apesar de ter apenas Gyllenhaal em tela, o elenco é composto por nomes famosos que emprestaram suas vozes, como Ethan Hawke (Antes do Amanhecer), Paul Dano (The Batman) e Peter Sarsgaard (A Órfã).

Por se passar em um dos eventos catastróficos que marcou o mundo nos últimos anos, nos sentimos mais próximos da trama, o que foi uma ótima sacada do longa, pois também mostra o caos e o desespero em que o país se encontrava, além de ser um fator que atrapalhou as buscas na história. A narrativa se constrói, sobretudo, através de diálogos, eles são o elemento essencial do longa, tanto que teria êxito se ocorresse só por meio deles, como um podcast, ainda que a atuação de Gyllenhaal tenha acentuado ainda mais este drama policial. E apenas por meio deles, funcionando através de chamadas telefônicas, a tensão é bem construída e não depende, necessariamente, do visual. O tumulto e aflição das vozes consegue por si só criar uma atmosfera apreensiva em um tipo de roteiro que poderia facilmente deslizar para a monotonia se não fosse pela ótima direção e atuação. Ao passo que Joe se envolve na trama de Emily -mulher que fora sequestrada- para ajudá-la, sua própria trama é desenvolvida e sua história é aprofundada gradativamente. Até o final, todas as peças são encaixadas, como o porquê do personagem perder seu posto de detetive, o porquê de seu casamento estar com problemas, ser um homem um tanto explosivo e o motivo dele sempre olhar para a foto de sua filha. Assim, no terceiro ato, percebemos a complexidade do protagonista e a razão de seu caos interior.

Netflix's "The Guilty" isn't as progressive and critical of cops as it pretends to be | Salon.com

Jake Gyllenhaal entrega uma ótima atuação, o que não é surpresa visto seu trabalho em excelentes obras como Animais Noturnos e O Abutre. Sua interpretação corresponde aos momentos de aflição e espanto e, de forma genuína, o ator apresenta a reação que muitos teriam se passassem pela mesma situação. A performance de Gyllenhaal não é nem um pouco escassa em cenas de nervosismo, ansiedade e raiva. Ainda que só vejamos o intérprete de Joe, as atuações são encaixadas de forma eficiente por meio do trabalho de voz, e só por elas e suas variações de tom, é bem perceptível o ótimo trabalho de elenco. No longa, vemos que para o suspense se estabelecer, a operação técnica e condução das dublagens foram um dos aspectos cruciais e que ditaram a criatividade do enredo. O filme foi gravado no auge da pandemia, em novembro de 2020, e, por isso, os atores foram orientados de suas casas através de chamadas pelo Zoom, fato que não afetou o produto final. Mostrando, assim, que mesmo durante a pandemia, houveram boas produções audiovisuais.

A fotografia é um ótimo ponto a ser destacado também. Com uma visão intimista e muitas vezes com um desfoque, sentimos junto de Joe a perturbação e o suspense, principalmente porque nesses momentos a câmera se mantém colada ao rosto dele. Desse modo, embora o longa se passe no mesmo cenário durante todas as suas 1h30m de duração, a direção de fotografia consegue ser dinâmica e sempre pegar pontos diferentes. Também, a maquiagem teve sua contribuição para evocar a aparência de cansaço e agitação de Joe, tal como a iluminação do local.

O Culpado é um suspense que, apesar de ser mais um remake americanizado não necessário, possui uma trama bem desenvolvida que faz o espectador imergir nessa experiência caso não tenha assistido ao original. Com um plot twist que quebra -em um bom sentido- a expectativa construída desde seu início, e que questiona nossa interpretação, o título conversa diretamente com sua narrativa.

Nota: 4/5 – Ouro

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Venom: Tempo de Carnificina revitaliza a era galhofa de uma forma simples e divertida

Quando Venom estreou nos cinemas em 2018, houve centenas de avaliações negativas por parte da crítica especializada, na qual reprovava o seu excesso de humor e história simplória com elementos superficiais. Por outro lado, o público amou a produção por ser capaz de aproveitar a dinâmica entre Eddie Brock (Tom Hardy) e o simbionte (também interpretado por Hardy), além de levantar uma trama acessível para o público de todas as idades sem perder a essência do Protetor Letal.  

A produção de Venom: Tempo de Carnificina foi oficializada pouco tempo após o seu antecessor alcançar ótimos números nas bilheterias. Ruben Fleischer, o diretor da primeira obra cinematográfica, deixou o cargo de diretor (mas retorna como produtor executivo) e deu lugar ao ator e cineasta Andy Serkis assumir a nova aventura do anti-herói, que soube aproveitar todos os elementos bons de Venom para montar uma história divertida, simples e com muita galhofa, que deixaria até Joel Schumacher (diretor de Batman Eternamente e Batman e Robin) orgulhoso.

Bite Venom GIF - Bite Venom Venom Let There Be Carnage - Discover & Share GIFs

Após os eventos do primeiro filme, o relacionamento entre Eddie (Tom Hardy) e o Venom está evoluindo. Buscando a melhor forma de lidar com a inevitável simbiose, esse dois lados descobrem como viver juntos e, de alguma forma, se tornarem melhores juntos do que separados. Brock tenta reviver sua carreira ao entrevistar o serial killer Cletus Kasady (Woody Harrelson), que escapa da prisão e se torna o novo hospedeiro do simbionte Carnificina.

Quando a sua duração foi registrada nos sites das principais redes de cinema dos Estados Unidos da América, muitos fãs ficaram preocupados quanto o desenvolvimento da trama, afinal, filmes de quadrinhos costumam ter mais de duas horas de duração, enquanto Tempo de Carnificina estava registrado com uma hora e meia. Felizmente, isso está longe de ser um problema. 

O tempo não é prejudicial para o seu desenvolvimento, dado que o seu progresso é fluído e com poucas enrolações, tendo-se a impressão de que os personagens sabiam que não podiam enrolar para resolver os problemas que envolvem o grande antagonista: Carnificina

Como mencionado no segundo parágrafo, o enredo é simples, sem a necessidade de ficar criando subtramas sérias para atender a demanda de um público mais nichado. A galhofa está por toda parte: desde piadas envolvendo galinhas até uma cabeça enorme de um simbionte faminto por bandidos saindo das costas de Eddie para eles terem um bate papo. Mas, se você achou que o sentido de galhofa neste texto é algo pejorativo, você está muito enganado, pois é esse detalhe que deixa tudo muito melhor; sem ele, Venom: Tempo de Carnificina não seria uma diversão saudável e descomplicada. 

Em paralelo, comparo a nova peripécia de Venom e Eddie Brock com os filmes Batman Eternamente e Batman e Robin, de Joel Schumacher. Os três longas tem a noção de que as suas composições não devem ser levadas a sério, pelo ao contrário, elas existem especificamente para serem divertidas e nada mais, mesmo que isso custe algumas vergonhas alheias, fator que traz toda a magia.

Venom: Let There Be Carnage': If Box Office Recovers, This May Tell | IndieWire
As galinhas são minhas amigas, Eddie!

O ponto alto está entre a dinâmica dos dois protagonistas: Eddie e Venom. Aqui, temos uma abordagem de amizade misturada com romance, visto que, mesmo Brock não gostando da ideia de ser um hospedeiro de um alienígena que parece uma ameba, Venom adora o seu ”companheiro de quarto”, mas por ter tido uma vida diferente em outro planeta, o Protetor Letal acaba não compreendendo as reais necessidades de seu amigo. 

É evidente que Tom Hardy ama estes personagens e que ele quer estar envolvido em tudo que envolvam eles no futuro. Tom entrega uma atuação com amor, caindo de cara nas dificuldades de Eddie Brock e nas alegrias e raivas de Venom

Em comparação a primeira produção, a dinâmica entre eles é muito mais fluida e natural (afinal, eles estão juntos há um ano), todavia, o humor está muito mais presente na vida de ambos em relação ao primeiro filme, que havia decido em ser algo um pouco mais sério (mesmo com uma grande quantidade de anedotas). 

VENOM: LET THERE BE CARNAGE - Official Trailer (HD) on Make a GIF

Com exceção de Michelle Williams, o elenco de apoio é fraco e com motivações rasas. Michelle traz uma atuação um pouco mais cômica em relação a Venom, porém, ela é um pouco menos participativa, mas mesmo assim, possui extrema importância em uma cena específica. 

Naomie Harris e Stephen Graham interpretam respectivamente Shriek e Detetive Mulligan, personagens que só estão presentes na história para preencher um vazio que seria existente caso eles não fossem inseridos. Shriek possui uma alta relevância, mas baixa simpatia, enquanto Mulligan, uma baixa relevância, mas uma pertinência que será explorada em uma eventual sequência. Ambos são incapazes de cativar os telespectadores. 

Por fim, Reid Scott retorna ao papel de Dan Lewis, o noivo de Anne, ex-namorada de Eddie e personagem de Michelle. O roteiro tenta ajudar Lewis, pondo eles em situações engraçadas (e algumas importantes) para tentar salvar a sua reputação. O resultado, é um figurante com mais tempo de tela e algumas falas adicionais. 

Line of Duty star's Venom 2 role could be more significant than you realise
Stephen Graham como o Detetive Mulligan. Nos quadrinhos, ele se torna o simbionte Toxina.

Woody Harrelson foi uma escolha certeira para dar vida ao serial killer Cletus Kasady e ao vilão Carnificina na primeira sequência de Venom

Harrelson da o seu melhor para trazer uma abordagem sádica e perversa à sua persona, assim como nos quadrinhos. Cletus é um assassino frio, mas aqui, ele possui um comportamento divertido, sendo o oponente ideal para Eddie.

Quanto ao Carnificina, ele é uma versão muito mais feroz e impiedosa de seu pai. O seu desenvolvimento é breve, mas extremamente satisfatório, fazendo jus ao seu nome: Carnificina. As cenas de ação entre ele e Venom são superiores em relação entre o anti-herói e o Riot presentes no primeiro longa, dando gosto de ver uma ameba preta e outra vermelha trocando socos. 

Todavia, nem tudo são flores. A motivação de Cletus não é a das melhores, fazendo com que o espectador se indague toda vez que Kasady reforça os seus motivos de ser mal ao decorrer da história. 

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Afinal, é bom?

Sim, e eu posso garantir que o seu ingresso de meia-entrada vale a pena. O principal objetivo de Andy Serkis com Venom: Tempo de Carnificina, é aperfeiçoar aquilo que já estava estabelecido no universo de Venom, mas sem perder a sua essência, que é o humor galhofa. Em inúmeros momentos, tive a sensação de que estava lendo um quadrinho do personagem lá dos anos 90, quando o mesmo tentou ser um herói por um tempo. 

O futuro de Venom e Eddie Brock será brilhante, e há muita história para contar. Agradeço por ter lido até aqui, e lembre-se de sempre checar se não há um parasita escondido dentro de você.

Agradecemos à Sony Pictures Brasil pela oportunidade de nos convidar para a cabine de imprensa do filme. 

NOTA: 4/5