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O suspense dinâmico e eletrizante de O Culpado

Escrito por Thaís Morgado

Chegou à Netflix o novo suspense estrelado por Jake Gyllenhaal (Donnie Darko, O Abutre), que ficou no top 10 no Brasil desde seu primeiro dia. Sob a direção de Antoine Fuqua (Dias de Treinamento) e roteiro assinado por Nic Pizzolatto (True Detective), a produção é um remake do filme dinamarquês Culpa, de 2018. Na história, Gyllenhaal interpreta Joe Bayler, um detetive que após um problema em seu emprego, fora rebaixado ao cargo de atender chamadas de emergência. Situado durante os incêndios florestais de Los Angeles, que aconteceram verdadeiramente em 2019, Joe atende diversas chamadas, porém quando uma mulher liga desesperadamente pedindo ajuda por ser sequestrada, ele mergulha em uma experiência alucinante para ajudá-la. Apesar de ter apenas Gyllenhaal em tela, o elenco é composto por nomes famosos que emprestaram suas vozes, como Ethan Hawke (Antes do Amanhecer), Paul Dano (The Batman) e Peter Sarsgaard (A Órfã).

Por se passar em um dos eventos catastróficos que marcou o mundo nos últimos anos, nos sentimos mais próximos da trama, o que foi uma ótima sacada do longa, pois também mostra o caos e o desespero em que o país se encontrava, além de ser um fator que atrapalhou as buscas na história. A narrativa se constrói, sobretudo, através de diálogos, eles são o elemento essencial do longa, tanto que teria êxito se ocorresse só por meio deles, como um podcast, ainda que a atuação de Gyllenhaal tenha acentuado ainda mais este drama policial. E apenas por meio deles, funcionando através de chamadas telefônicas, a tensão é bem construída e não depende, necessariamente, do visual. O tumulto e aflição das vozes consegue por si só criar uma atmosfera apreensiva em um tipo de roteiro que poderia facilmente deslizar para a monotonia se não fosse pela ótima direção e atuação. Ao passo que Joe se envolve na trama de Emily -mulher que fora sequestrada- para ajudá-la, sua própria trama é desenvolvida e sua história é aprofundada gradativamente. Até o final, todas as peças são encaixadas, como o porquê do personagem perder seu posto de detetive, o porquê de seu casamento estar com problemas, ser um homem um tanto explosivo e o motivo dele sempre olhar para a foto de sua filha. Assim, no terceiro ato, percebemos a complexidade do protagonista e a razão de seu caos interior.

Netflix's "The Guilty" isn't as progressive and critical of cops as it pretends to be | Salon.com

Jake Gyllenhaal entrega uma ótima atuação, o que não é surpresa visto seu trabalho em excelentes obras como Animais Noturnos e O Abutre. Sua interpretação corresponde aos momentos de aflição e espanto e, de forma genuína, o ator apresenta a reação que muitos teriam se passassem pela mesma situação. A performance de Gyllenhaal não é nem um pouco escassa em cenas de nervosismo, ansiedade e raiva. Ainda que só vejamos o intérprete de Joe, as atuações são encaixadas de forma eficiente por meio do trabalho de voz, e só por elas e suas variações de tom, é bem perceptível o ótimo trabalho de elenco. No longa, vemos que para o suspense se estabelecer, a operação técnica e condução das dublagens foram um dos aspectos cruciais e que ditaram a criatividade do enredo. O filme foi gravado no auge da pandemia, em novembro de 2020, e, por isso, os atores foram orientados de suas casas através de chamadas pelo Zoom, fato que não afetou o produto final. Mostrando, assim, que mesmo durante a pandemia, houveram boas produções audiovisuais.

A fotografia é um ótimo ponto a ser destacado também. Com uma visão intimista e muitas vezes com um desfoque, sentimos junto de Joe a perturbação e o suspense, principalmente porque nesses momentos a câmera se mantém colada ao rosto dele. Desse modo, embora o longa se passe no mesmo cenário durante todas as suas 1h30m de duração, a direção de fotografia consegue ser dinâmica e sempre pegar pontos diferentes. Também, a maquiagem teve sua contribuição para evocar a aparência de cansaço e agitação de Joe, tal como a iluminação do local.

O Culpado é um suspense que, apesar de ser mais um remake americanizado não necessário, possui uma trama bem desenvolvida que faz o espectador imergir nessa experiência caso não tenha assistido ao original. Com um plot twist que quebra -em um bom sentido- a expectativa construída desde seu início, e que questiona nossa interpretação, o título conversa diretamente com sua narrativa.

Nota: 4/5 – Ouro

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Thaís Morgado

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