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Bumblebee | Como uma criança com poucos brinquedos, mas muita imaginação

Um bom personagem faz com que você goste dele. Um excelente personagem faz com que você sofra por ele. Você, leitor, deve estar se perguntando por que eu comecei minha crítica de Bumblebee com esta afirmação? Pois este é o primeiro filme de Transformers, sobre personagens, desde a estreia do primeiro, em 2007. Há 11 anos, ninguém esperaria que os brinquedos da década de 80 fariam tanto sucesso nas telonas, a ponto de revolucionar a indústria de efeitos especiais.

Todavia, Hollywood, infelizmente, segue uma lógica megalomaníaca conhecida como: “Faça uma sequência. Faça maior.” As quatro sequências as quais se seguiram, superaram o primeiro filme, em escala, mas não, em alma. Felizmente, 11 anos depois, Bumblebee, o primeiro spin-off dos robôs disfarçados, chega aos cinemas, fazendo a alma falar mais muito mais alto.

Em Bumblebee, essa alma , a qual habita a película, não reside no garoto perdedor, o qual se descobre um herói, algumas horas depois. Mas sim, na garota ansiosa para escapar das mudanças de sua vida. Os dois compartilham algo em comum: Uma amizade com seu carro.

Parafraseando Bobby Bolivia: “O motorista não escolhe o carro. O carro é quem escolhe o motorista. Há uma ligação mística entre homem e máquina.” Definitivamente, há algo místico entre a interação de Charlie Watson (Hailee Steinfeld) e Bumblebee (Dylan O’Brien). Não apenas místico e inexplicável, mas mágico, encantador. Um encanto o qual é transcrito através dos olhares, humanos e robóticos. Os olhares dizem tudo em Bumblebee. Aquele senso de maravilhamento, descoberta, aquele gostinho da simplicidade trazido pela infância, é a essência a qual permeia a obra.

Esse encanto não é limitado ao que pode ser visto nas telas, mas à forma como pode ser presenciada. Travis Knight traz pureza em sua direção, como uma criança, mas é extremamente maduro e confortável com o seu primeiro live-action, trazendo combates nítidos e extremamente objetivos. Knight extrai todo o potencial emotivo de seu elenco, dos momentos mais dramáticos até os mais cômicos. Boa parte se deve ao eficiente roteiro de Christina Hodson, simples, redondo e com um humor extremamente genuíno e inocente, o qual funciona, em todas as ocasiões.

O humor de Bumblebee é funcional em todas as cenas as quais está presente e arrancam as gargalhadas mais genuínas do espectador, um feito extremamente raro para a safra atual de blockbusters, o qual sacrifica o peso em prol das piadas. Felizmente, Bumblebee utiliza os dois para fortalecer o vínculo entre a audiência e os personagens. A escolha de ambientar a trama nos anos 80 é um belo convite à nostalgia e se mistura de forma sinérgica à trama. Ajuda a delimitar alguns limites narrativos para tornar a escrita mais coerente.

Não se engane, Bumblebee não é um reboot. Apesar de contar com designs mais simplificados, há inúmeras referências aos filmes de Bay, desde personagens à eventos os quais definiram alguns dos principais aspectos do robô, em 2007. Há um imenso respeito para com todas as gerações de fãs. Não apenas remete à Geração-1, como também ao Spielberg, em sua mais pura essência, não se dispondo de muitos recursos para criar uma experiência memorável.

Bumblebee é o ditado “menos é mais” executado com excelência. Simplicidade, inocência e encanto, andam lado a lado e nunca se separam, nem mesmo após o espectador deixar a sessão. É um filme o qual aquece seu coração. É como uma criança com poucos brinquedos, mas muita imaginação. Não é apenas o melhor Transformers, é um dos filmes mais encantadores e divertidos do ano.

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Aquaman é a experiência cinematográfica visual do ano

Aquaman é predominantemente visual. Não há demérito algum nisso. É um bom filme. Minto, é um ótimo filme. Algumas pessoas acreditam que a arte de contar histórias está estritamente associada à força do roteiro. Entretanto, o redator o qual vos escreve, discorda fortemente desta lógica. É possível contar histórias através da estética. Em alguns casos, imagens dizem mais do que palavras. Não quero dizer que o roteiro é um elemento desnecessário para uma obra. Entretanto, a força de Aquaman não está no roteiro, está nos visuais, em tudo o que cerca Atlântida.

Quando James Wan pediu para que os produtores e Zack Snyder não apresentassem a cidade submersa em Liga da Justiça, pois tinha um grande papel dentro da narrativa de Aquaman, ele não estava brincando. A forte inspiração na arte épica de Ivan Reis e Paul Pelletier dos Novos 52, é notável e precisa ser admirada. O mar nunca pareceu tão interessante ou fascinante. A direção de arte de Bill Bzerski é excepcional. Somando os belíssimos cenários ao olhar único de James Wan na direção, temos um filme o qual você precisa ver para crer.

Ainda falando em Wan, o diretor não apenas sabe como apresentar cada canto dos vastos setes mares, como também coordena com maestria as cenas de ação. Planos-sequência são constantes aqui e dão um frescor único ao subgênero. Wan utiliza-se bastante do estilo aplicado por Zack Snyder, mas o aperfeiçoa, elevando-o à enésima potência. Outro acerto é como o diretor conhece seu elenco. Arthur Curry e Mera, se adaptam aos atores Jason Momoa e Amber Heard, e não o contrário. São mudanças as quais fortalecem o sentido da palavra adaptação. Momoa e Heard possuem uma química provocativa incrível, a maquiagem e penteado da dupla, contribuem para o surrealismo da produção, respirando quadrinhos.

Entretanto, o melhor personagem da projeção é Orm, brilhantemente interpretado por Patrick Wilson, o qual entrega uma performance extremamente imponente. Wilson está para Orm, assim como Shannon está para Zod. Ambos são personagens os quais possuem uma presença de tela formidável. Outro membro do elenco o qual é impossível de desviar os olhos da tela, é Nicole Kidman como Atlana, com um background muito maior em relação a sua contraparte dos quadrinhos. O Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), apesar de ser o elo mais fraco do elenco, é perfeitamente adaptado com sua linha de raciocínio extremamente vingativa e direta.

Outro aspectivo majoritariamente negativo, é a trilha sonora composta por Rupert Gregson Williams. Com exceção de duas faixas, o trabalho do compositor soa genérico aos ouvidos e destoa da perfeição visual apresentada pelo filme. O tema de Aquaman mal pode ser ouvido ou identificado, o que enfraquece, mas não compromete a imersão do espectador para com o filme.

O roteiro de Will Beal e David Leslie Johnson, não chega à superfície do script de Johns nos quadrinhos do personagem, apesar de oferecer muitos momentos genuinamente engraçados e frases as quais poderiam ser facilmente lidas em quadrinhos da Era de Prata. É um script bobo, porém simples e focado, sem muitas incongruências na trama a qual busca apresentar. Desempenha sua função, mas não é inspirado como algumas das produções anteriores da DC Comics.

Para finalizar, pode-se dizer que Aquaman é um marco para o cinema de quadrinhos. É o filme mais bonito do subgênero desde Valerian e Watchmen. É um verdadeiro colírio para os olhos e garante uma experiência apesar de imperfeita, extremamente única ao espectador. É a obra-prima e a experiência cinematográfica visual do ano. As premiações de efeitos visuais procurarão por um rei, mas encontrarão algo melhor: Um herói.

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Creed II: Superação a cada round

Depois de seis filmes focados na história do lendário pugilista Rocky Balboa (Sylvester Stallone), o primeiro Creed (2015), dirigido por Ryan Coogler, inverteu a direção temática da franquia. Explorando a vida de Adonis Creed (Michael B. Jordan), filho do falecido Apollo Creed, o filme constrói o protagonista da mesma forma que Balboa fora, porém, adiciona novas interpretações ao impor um cenário mais marginalizado e periférico com uma forte identidade racial. Em sua continuação, contando com a direção de Steven Caple Jr., esta essência é ignorada e perdida, dando espaço para uma abordagem mais familiar e íntima com a própria franquia.

O que mais marcou toda a franquia de Rocky Balboa foi a importância dada aos personagens coadjuvantes. Os filmes não tratavam, prioritariamente, da ascensão de Rocky como um lutador. Seu amadurecimento profissional sempre esteve ligado com suas relações pessoais, sejam elas familiares, amorosas ou amigáveis. Isto fica nítido ao final da luta entre Rocky e Apollo em Rocky (1976), quando Balboa procura incessantemente Adrian (Talia Shire), deixando de lado o resultado no ringue. Tal conservação de um discurso familiar, que aborda mudanças e superação, dura até os dias de hoje com Creed II.

Adonis Creed mudou completamente de Nascido para Lutar para este. O relacionamento com Bianca (Tessa Thompson) está avançando cada vez mais, sua figura é exaltada internacionalmente e sua ligação com o treinamento de Balboa parece estar em seu ápice. Mesmo estando tudo bem na vida do novo campeão, percebe-se que a sombra do pai continua o atingindo e, também, o inspirando. Até que reaparece o famoso Ivan Drago (Dolph Lundgren) e seu filho Viktor (Florian Munteanu), disposto a desafiar o cinturão de Adonis. A figura de Drago, desde o começo, é sufocada por um ambiente escuro, frio e solitário, seu estilo de vida respira e se alimenta de boxe, sendo transmitido de geração a geração. Para quem já conhece o personagem, sabe que toda essa fórmula ajuda a criar uma alusão a sua versão em Rocky IV (1985), neutra e imprevisível.

A escolha de trazer Ivan Drago e seu filho para serem os verdadeiros antagonistas do longa foi a mais certeira – de várias – que ocorreu durante a estruturação do roteiro. Além da forte ligação com o passado de Creed, já que Ivan foi responsável pela morte de seu pai, há a tentativa de fortalecer um discurso de passagem entre duas gerações. Por isso que diversas vezes ocorre a transição de perspectivas entre os quatro. Enquanto temos Rocky e Adonis, ligados por uma fatalidade e tentando esquecê-la, vemos Ivan e Viktor procurando a reconstrução de suas vidas e legados.

E se a franquia inteira foi sobre os relacionamentos externos de Balboa, Creed II é sobre a vida pessoal de Adonis. Entre Balboa e Creed, a história só avança em relação ao antecessor. Ambos confiam inteiramente um no outro, tentam ignorar o passado até certo ponto e, profissionalmente, alcançaram seus respectivos objetivos. Talvez a disposição de Stallone e Jordan de entregarem atuações a altura do sucesso de seus filmes seja o trunfo para a inteira condução técnica e estrutural. O peso dramático se sustenta entre os dois, não há sequências tão boas quanto as conversas dos protagonistas. Há um senso de sinceridade e de realidade por ser um ator veterano e um jovem contracenando juntos, trazendo credibilidade e emoção.

Indo para o lado russo da coisa, Ivan e Viktor tem tratamentos pouco originais, mas que ganham substância ao longo do desenvolvimento. Ivan precisa que Viktor esteja em seu nível máximo, físico e psicológico, para derrotar o Creed e retomar o legado dos Drago. A forma abusiva e tensa que o filme joga no treinamento do filho condiz com a ótimo atuação de Dolph Lundgren. Sua expressão sempre neutra e séria conversa com o passado do personagem, o transformando na figura do pai durão e cego por sucesso. Em relação a Munteanu, novato do elenco, sua interpretação é extraordinária por conseguir expressar os sentimentos do personagem em poucas palavras.

Rocky Balboa tinha Adrian Pennino, assim como Adonnis Creed tem Bianca Taylor. O romance é outro que não pode faltar na composição temática desses longas, mas sem ser piegas ou superficial, há uma importância para a ascensão do protagonista. Tessa Thompson continua mostrando o porquê de ser uma das melhores atrizes da sua época. Tendo bastante tempo de tela, sua interpretação exala um senso materno e acolhedor sem perder a essência independente. A função principal é de representar o reflexo familiar de Creed, deixando claro que sua formação depende muito mais da família e o legado de seu pai do que das próprias lutas. Essa ideia fica bem clara em uma das melhores cenas dentro do terceiro ato.

O texto já transforma as duas horas e dez minutos em uma grande homenagem a este universo, e toda a direção de Caple não fica de fora. Todas as sequências e passagens de Creed II são previsíveis e acompanham a mesmíssima estrutura já conhecida dos anteriores. Porém, rimas cinematográficas e o retorno de elementos essenciais da trajetória de Balboa, transformam a obra em uma carta de apreço para toda a franquia. Apesar de negar as fortes influências de Coogler, o diretor tenta compor uma homenagem sincera e honesta.

Talvez Creed II tenha as cenas de luta mais emocionantes e significativas desde Rocky II (1979). Fotografia, maquiagem, trilha sonora e atuação são as bases para qualquer composição artística de uma luta de boxe. Os planos intercalados corretamente e cortes ríspidos dão dinamicidade para a luta; o sangue escorrido em luvas e no próprio ringue deixam mais crível; uma boa trilha sonora carrega consigo tensão e ajuda na alternância de emoções, o perigo pode ser representando pela ausência dela, enquanto a reviravolta por uma fortíssima presença; e a forma como os atores coreografam e se posicionam denota convencimento.

Como se esperava, esse pacote completo está presente. Steven Caple demonstra capacidade transformando vícios conhecidos em prazerosos e surpreendentes. Em relação a montagem e edição, a continuação apresenta um trabalho detalhado primoroso. Um dos melhores filmes de ação do ano que deixará a audiência sem fôlego durante alguns minutos. É escandaloso e frenético, mas totalmente compreensível e realístico.

Durante seus momentos finais, além de algumas surpresas, o filme tenta se limitar emocionalmente. Apesar de nos presentear com cenas fantásticas, absurdamente significativas para a transição de personagens e o desfecho de arcos, não há decisões tão corajosas que estavam sendo esperadas. Parece que o próprio diretor não queria chorar dentro da sala de edição, e decidiu deixar só a homenagem sem correr muitos riscos.

Creed II pode servir como um ponto final para tudo o que passamos até aqui. Homenageia o passado e conclui o presente, deixando em dúvida o futuro. Foram muitas lutas, rounds, felicidades, decepções, emoções e mensagens de superação que esta franquia nos presenteou. Esta seria a hora perfeita de Sylvester Stallone aposentar o pugilista de vez, e sair pela porta da frente orgulhoso, por ensinar que todos nós podemos ser um Balboa.

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WiFi Ralph: Quebrando a Internet: Um mar de divertimento e concepções

O mundo digital e a internet são pautas recorrentes no cinema atual. Além de apresentarem uma dinâmica que interfere diretamente em nosso cotidiano, suas complexidades tecnológicas e culturais são chamativas e um combustível para boas histórias. O Jogo da Imitação (2014), por exemplo, aborda um dos precursores fundamentais para esse processo, enquanto A Rede Social (2013) relata a criação polêmica do famoso site Facebook, que se tornou uma das maiores redes de integração no mundo. Já quando se fala de WiFi Ralph: Quebrando a Internet, a animação surpreende em substituir a seriedade por uma comédia simples e eficiente, tornando elementos tecnológicos em personificados e cômicos.

WiFi Ralph parte da premissa que o WiFi é o grande destaque da vez. A instalação da conexão afetará diretamente a vida dos personagens já conhecidos do arcade, pois se tornará uma opção viável para a reconstituição de um dos jogos quebrados. Tal problemática é levada até o fim dos créditos, uma vez que o contraste entre os dois estilos de entretenimento, internet e fliperama, é o tema mais atraente do roteiro, e que será usado como base para a construção dos melhores momentos e de diversas piadas da sequência.

Rich Moore e Phil Johnston, diretores do projeto, trouxeram à vida uma incrível concepção completamente inovadora para a internet. Todas as práticas dos usuários e os elementos presentes no dia-a-dia da era digital (bugs, spans, publicidades, vírus, comentários, etc) são transformados em seres animados com jeitos e manias humanas. As famosas páginas e banners publicitários são transformados em seres segurando uma plaquinha e gritando excessivamente no rosto das pessoas. Estas pessoas, deixando registrado, são apenas bonecos que representam a vida do usuário dentro do servidor digital, inexpressivos e robóticos.

Outros tópicos como compras e comentários são hilários de se verem transformados. Ao apertar o link, um carrinho surge inesperadamente levando o usuário até o respectivo site – todos os sites são representados por casas, prédios ou monumentos – e os comentários se assemelham com o que nós vemos na realidade nua e crua. Embora superficialmente, o longa flerta em discutir questões envolvendo privacidade e manifestações de críticas gratuitas.

Contudo, há de se dizer que as referências, como no antecessor, continuam sendo o maior sucesso. E deve-se dizer que nem é tão difícil formular piadas quando se tem marcas como Google, Disney, eBay, Amazon, entre outras, no seu contrato. WiFi Ralph, portanto, usa essa vantagem com inteligência em prol da constituição de seu entretenimento e o envolvimento de seus protagonistas, e do próprio público, com a narrativa principal.

Toda a sequência ocorrida dentro do espaço da Disney atinge o nível máximo de referências. Star Wars, Marvel, Ursinho Pooh e o lendário Stan Lee são os principais atrativos e forçam o público, inconscientemente, a apontar os dedos e explicar as diversas presenças dentro de tela.  Há inúmeras cenas, aliás, que guardam mais de cinco representações simultaneamente. Algumas delas estão no encontro entre a protagonista Vanellope e, absolutamente, todas as princesas da Disney. O diálogo, que ocorre dentro de um salão de princesas, guarda diversas menções sobre as origens das respectivas personagens, bastante conhecidas pelo público.

Porém, como em diversas animações que apresentam discursos mais inflamados por trás, WiFi Ralph traz consigo uma mudança essencial. Além da alternância entre o protagonismo de Ralph e de Vanellope, que é bem mais importante neste filme do que no anterior, esta fantasia criada pela Disney tenta quebrar diversos paradigmas das fábulas encantadas, deixando clara sua intenção de dar mais notoriedade e importância para as personagens femininas. Mesmo assim, a animação consegue manter um alto nível de divertimento e infiltra críticas razoáveis durante as ações das personagens.

O único problema que estraga WiFi Ralph é a falta de uma narrativa principal convincente. Há tantas coisas acontecendo ao redor do conflito mais significativas, que o clímax acaba sendo desinteressante, acarretando em um final pouco expressivo e impactante. Ao invés de nos importarmos com os acontecimentos da trama, ficamos mais ligados na próxima referência, no aparecimento de algum site conhecido ou de uma personalidade famosa.

Wifi Ralph: Quebrando a Internet cumpre perfeitamente seu papel como animação. Apesar de ter uma história completamente irrelevante e, até certo ponto, boba, agrada por apresentar elementos reais traduzidos para a técnica de animação. Engraçado, divertido e esteticamente deslumbrante, a continuação promete ficar na cabeça dos apreciadores e caçadores de referências por mais um tempo.

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Bird Box: A Inversão de Valores

O novo projeto da Netflix, baseado no livro homônimo de Josh Malerman, que marca a primeira empreitada de Sandra Bullock no serviço, tenta algo incomum quando relacionado aos gêneros. A mistura de terror e drama familiar precisa ser competente para alcançar o relacionamento psicológico com o público.  Se não ocorresse uma boa exploração e um aprofundamento diante desses dois conceitos, além do estabelecimento da conexão entre eles, provavelmente Bird Box seria um fracasso. Porém, diante do talento da sua protagonista e a habilidade técnica da diretora Susanne Bier, o resultado é positivo, mesmo que guarde alguns tropeços no decorrer da narrativa.

A história principal é fragmentada em dois espaços temporais. O primeiro ocorre no passado e mostra o início de uma doença desconhecida que faz com que as pessoas se suicidem apenas a olhando. Na segunda linha, temos os tempos atuais com Sandra Bullock e um casal de crianças em um mundo pós-apocalíptico completamente devastado. O filme consegue contrastar os dois ambientes e desenvolve a narrativa em prol da construção da protagonista Malorie Shannon.

Shannon transmite um perfil inicial clichê e pouco criativo. Ela está prestes a ser mãe, mas tem uma vida completamente distinta deste novo papel, negando a sua gravidez. Nos primeiros minutos a abordagem evidencia essa negação e já apresenta alguns momentos do futuro, apresentando, visualmente, um perfil bem diferente do que estamos presenciando. Ao passo em que a doença começa a se difundir na cidade, a moça encontra um grupo de sobreviventes, e é a partir do encontro que a história começa a se resolver e criar sentido.

Talvez todo a linha do passado seja o maior ponto fraco do roteiro. Não há um texto tão elaborado e inventivo, coisas que se tornam claras no fraco relacionamento entre os atores, – estes que são muito mal interpretados e decepcionam ao entregar atuações robóticas e pouco originais – na pobreza do cenário que aparenta ser de qualquer novela das nove e do tratamento superficial que se dá aos conflitos emocionais dos personagens. Em várias sequências o filme demonstra um vazio técnico e estrutural, mas sua linha futura contrasta inteiramente com essa ideia.

O futuro apocalíptico é profundamente pensado e idealizado. Os sets mais soturnos que abordam a natureza com árvores, rios e paisagens naturais, transforma o ambiente isolado e conecta com o psicológico dos personagens presentes. Principalmente a de Sandra Bullock, esta tem uma exploração tridimensional profunda e auxiliada pelos elementos cinematográficos presentes. As câmeras insistem em ângulos mais fechados e primeiros planos para realçar as emoções daquelas pessoas. A composição sonora também auxilia nessa composição tensa e cansativa, ficando impostada nas cenas de mais ação e perigo.

E é nas cenas futuras dentro das florestas que a mistura de gêneros se concretiza. Há diversos diálogos que expõem relacionamentos e transmitem angústia, enquanto os sustos tentam idealizar a figura da “doença” e o vínculo entre Shannon e as crianças constrói a concepção familiar da história, estabelecendo certas mensagens além da perspectiva psicológica da protagonista.

Deixando de lado o desfecho, – um bom twist – o que mais surpreende é a originalidade em abordar temas tão comuns em filmes dramáticos e familiares. Tudo o que acontece entre as crianças e Malorie Shannon tem um significado profundo e auxiliará eles durante a jornada, abordando aspectos familiares e sociais. Eles não estão mais em estruturas sociais presentes em um estado ou em uma sociedade, suas vidas retornaram ao estado natural sem laços pessoais, parentais ou comunitários, as crianças, principalmente, devem aprender e resgatar estes valores, mesmo que tenham de ser adaptados à nova situação mundial.

Apesar de apresentar certa bipolaridade em sua estrutura, Bird Box é extremamente habilidoso e inteligente ao abordar figuras no estado natural delas, e traduzir isso em transformações incríveis para seus personagens. Com um discurso fortemente voltado ao feminismo e a igualdade social, este novo projeto da Netflix se consagra como um dos melhores do serviço até agora.

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Homem-Aranha no Aranhaverso | Uma linda obra de arte sobre o cabeça de teia

Imagine um história em quadrinhos escrita por Stan Lee, ilustrada por Steve Ditko e finalizada pelo artista do movimento pop art, Andy Warhol. Assim nasce Homem-Aranha no Aranhaverso, uma das melhores animações da Sony Pictures Animation, moldando uma obra de arte animada usando elementos do amigão da vizinhança em sua composição cinematográfica.

Anunciada em 2015, originalmente a animação seria focada apenas em Miles Morales e em suas descobertas  sobre seus poderes aracnídeos, que aparentemente, surgiram do nada. Alguns anos depois, a produtora revelou que Morales continuaria sendo o personagem principal do filme, mas que não seria o único escalador de paredes presente no longa, sendo acompanhando por mais cinco amigões da vizinhança durante a sua jornada heroica. Desta forma, borbulha um percurso sobre o real significado do cabeça de teia  acerca de sua vasta e esplêndida mitologia. 

Miles Morales é um jovem do Brooklyn, que se tornou o Homem-Aranha inspirado no legado de Peter Parker. Mas, em uma noite, ele é surpreendido com a presença de uma figura misteriosa, vestindo o traje do herói aracnídeo sob um sobretudo. A surpresa fica ainda maior quando Miles descobre a real indentidade do personagem, embarcando em uma aventura rumo à diversas realidades paralelas.

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No Aranhaverso inova quando o assunto é trazer para os seus telespectadores um estilo animado próprio e revolucionário, que não economiza em utilizar efeitos visuais coloridos tirados direto dos quadrinhos, como os famosos balões de diálogos e pensamentos. Tanto o cenário quanto os personagens, são construídos com uma delicadeza e sutileza única, onde dão a impressão de que foram desenhados a mão, já que ambos possuem um traço oscilante em suas silhuetas. 

Felizmente, o filme não poupa esforços em incluir easter eggs e referências por toda parte. Praticamente em todos os ângulos, existem pequenas alusões sobre a utopia do Homem-Aranha e de até mesmo, de outras figuras icônicas do universo Marvel, tendo uma mistura de emoções ao decorrer que esses pequenos fatores são mencionados, podendo tirar desde boas risadas até comoventes lágrimas daqueles que estiverem assistindo.

Um detalhe importantíssimo é a montagem do primeiro e segundo trailer, que vão desde cenas e diálogos falsos posicionados nos lugares errados, até grandes surpresas bem como extraordinárias participações especiais, que são mantidas em sigilo até o último segundo do material promocional da animação.

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A trama se esforça em dar o seu melhor, mas acaba entregando apenas o básico e o necessário para que o público não se perca durante tantas menções internas. Simultaneamente, traz elementos já visto antes, a história engloba diversas informações inéditas, fazendo uma deliciosa mistura, na qual une os novos e velhos fãs do Homem-Aranha.

Mesmo deixando pontas para as suas duas continuações já confirmadas, a fábula desse primeiro longa é redonda, sem que precise se apoiar em outros elementos linguísticos para contar sua própria crônica. Tudo é construído de uma maneira mais natural e tranquila possível, não precisando acelerar sua atividade linguística com o objetivo de concluir uma meta imposta pelos diretores e roteiristas Phil Lord e Chris Miller. Ponto positivo.

Desde os primeiros até os últimos segundos, a narrativa é inteiramente cômica, com pequenas pitadas de drama.  Diferente das outras animações convencionais, que sempre acabam caindo em piadas repetitivas e sem graças, aqui, a inovação é quem reina quanto o assunto é contar anedotas bem humoradas, nas quais mesmo que se distanciem do mundo real, muitas chacotas feitas pelos personagens abraçam problemas comuns da sociedade moderna na qual vivemos, com o intuito de tirar pelo menos 1% de graça da situação. 

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Cada personagem tem seu estilo e comportamento próprio. Começando com Miles Morales, a grande estrela da produção. O garoto é o típico adolescente que se sente forçado em viver em um mundo onde cada vez mais jovens são cobrados por aquilo que não são capazes de fazer, mas sim, por razões educacionais egoístas que sempre pensam em seu próprio benefício e não no bem estar do próximo, afinal, dons são extremamente inúteis para os centros educacionais mundiais. Duas críticas sociais são feitas usando o pensamento do personagem: a puberdade (descoberta de seus poderes) e a cobrança exacerbada. 

Peter Parker é um homem que está atuando como herói há 22 anos, estando esgotado psicologicamente e fisicamente. Aqui, Parker está beirando os 40 anos de idade, mas continua com a mesma mentalidade juvenil de sempre, característica dos quadrinhos. Sua força de vontade em continuar e nunca deixar nada para trás é o que faz Peter continuar seguindo em frente, mesmo que sua possível depressão camuflada através de seu bom humor, tente o derrubar cada vez mais. Aqui, as almas de Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland habitam apenas em um único corpo, que é o do mentor de Miles na animação. Uma bela homenagem para todos os atores que já passaram pelo teioso.

Rebeldia e pureza, são as melhores palavras que podem resumir Gwen Stacy, a Spider-Gwen. Mesmo tendo um olhar frustrante sobre determinadas situações, o otimismo sempre tenta tomar o coração da garota, já que faz de tudo para consolar e mostrar a realidade de fato para os seus amigos, que muitas vezes, ficam cegos por estarem habitando um universo diferente dos seus, fascinando-os durante toda a película.

Já, Peni Parker, Aranha-Noir e Porco-Aranha, são introduzidos no filme de uma maneira no tanto quanto repentina, dando a sensação que foram adicionados de última hora no roteiro. Mas isso não tira os seus brilhos pessoais, já que cada um conta com um estilo próprio de humor, que mesmo sendo feito as pressas, estão ali para impressionar e cativar os telespectadores.

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Rei do Crime é o típico vilão clichê que usufrui de seus dramas pessoais para criar toda uma atmosfera melodramática de um homem que, mesmo estando no mundo do crime, contém um pouco de amor e compaixão em seu coração por causa de sua família. Talvez isso seja um ponto negativo, pois além dos problemas citados, o ódio que Fisk mantém pelo cabeça de teia não é muito bem contextualizado.

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É de se confessar, Homem-Aranha no Aranhaverso é lindo, emocionante, espetacular e todos os adjetivos benevolentes que existem nesse mundo. A Sony conseguiu se redimir com todos os seus erros cometidos no passado, pois ela entregou um belo pedido de desculpas para seus fãs. Aranhaverso é uma animação que ficará por muitos anos na história, colocando seu nome como um dos melhores filmes animados de todos os séculos.

Espero que tenham gostado, até a próxima e não se esqueçam, todos nós somos o Homem-Aranha.

 

 

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As mensagens mal formuladas sobre os perigos da internet feitas por Cam

Com o avanço da tecnologia, o ser humano foi capaz de ultrapassar os seus próprios limites, criando inúmeros instrumentos úteis. Na era da informação rápida, a pornografia, que antes era limitada, agora é acessível com um único click. Um nicho específico, são os sites pornográficos em que homens e mulheres se exibem ao vivo pela webcam, nos quais o internauta pode doar uma certa quantia em dinheiro em troca de pedidos que envolvam diversos tipos de ”prazeres” diferentes para aqueles que estiverem se expondo. 

Pensando nisso, a Netflix lançou o filme de terror psicológico Cam, que tem como intuito alertar seus telespectadores sobre os perigos da internet, ao mesmo tempo que utiliza uma fórmula falha e não muito bem trabalhada sobre uma ambientação fantasmagórica, a partir do uso do conhecimento cibernético.

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Alice (Madeline Brewer) é uma ambiciosa jovem que trabalha com pornografia de webcam. Quando uma misteriosa mulher idêntica a ela toma seu canal, ela se vê perdendo o controle sobre os limites que estabeleceu em relação a sua identidade online e os homens na sua vida.

A maneira de como a película é construída, se assemelha bastante com outro longa metragem do mesmo ”ramo” chamado de Amizade Desfeita. Apesar de conter elementos ”sobrenaturais”, a história de Alice é mais centrada no mundo real, ou seja, um jogo mental sobre até onde o extraordinário pode ir sem que ultrapasse os seus próprios limites. 

Logo nos seus primeiros minutos, Cam se mostra como uma produção pesada e com um potencial que pode ir longe… mas, que infelizmente, morre na praia. O diretor Daniel Goldhaber faz um trabalho extremamente preguiçoso ao decidir não ir muito a fundo na relação da protagonista com os outros personagens, afinal, quem se masturba no meio de mais de 1 milhão de pessoas e ainda assim, tem uma vida relativamente tranquila?

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Em um filme que possui mais defeitos do que qualidades, o excesso de mistérios consegue criar uma atmosfera agradável, apesar do todo ser decepcionante. A impressão que se tem, é que apenas isso foi tratado com afinco pelos produtores, que antes de mais nada, são ideias boas que apenas aperfeiçoaram o lado mais sombrio rede.

Todo o esforço da protagonista feita ao decorrer da história para descobrir quem está passando por ela no site em que trabalha é jogado no lixo, ficando em evidência que os responsáveis por trás desse filme (que poderia ser muito bem uma elaboração cinematográfica de qualidade), ficaram mais preocupados com o quanto Cam iria arrecadar a partir do momento em que ficasse disponível na Netflix.

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Cam é decepcionante, agrada até determinado ponto mas não se esforça nem um pouco em prender o espectador com os personagens e a trama. Desperdiça um potencial que poderia ser grandioso. Caso algum dia, os acionistas da Netflix decidam fazer uma continuação, que aprendam com seus erros.

Espero que tenham gostando, até a próxima e lembrem-se, nunca se masturbem com uma faca por dinheiro.

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Os gritos de soldados do inferno de Operação Overlord

Anunciado há apenas um dia antes da estreia de Cloverfield: Paradox na Netflix, Operação Overlord causou um pequeno furdúncio na cabeça dos fãs, após os mesmos descobrirem que J. J. Abrams, um dos cineastas mais aclamados de Hollywood, estavam produzindo um filme de ficção científica ambientado na segunda guerra mundial. Logo, teorias sobre uma possível nova película a integrar o universo do monstro gigante começaram, afirmando com todas as palavras que Overlord seria o quarto filme da saga, que posteriormente, acabou sendo desmentido pelo próprio Abrams com o aval do diretor Julius Avery.

Óbvio que muitos ficaram desapontados, pois seria uma proposta excelente e curiosa que faria parte do vasto macroverso de Cloverfield, mas, tanto J.J. quanto Julius, provaram que é possível moldar uma obra de ficção científica com elementos de terror a partir de uma proposta única e original, que acabou culminando em um longa-metragem divertido e emocionante.

Operação Overlord foi o codinome para a Batalha da Normandia, uma operação aliada que iniciou a invasão bem sucedida da Europa Ocidental ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. A operação teve início em 6 de junho de 1944, com os desembarques na Normandia. No filme, a missão é um pouco diferenciada. Nele, uma tropa de paraquedistas americanos é lançada atrás das linhas inimigas para uma missão crucial. Mas, quando se aproximam do alvo, percebem que não é só uma simples operação militar, e há mais coisas acontecendo no lugar, que estão ocupando por nazistas.

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Apesar de ser listado como um sci-fi/ terror, Avery decidiu focar-se bastante no drama. O elemento está presente apenas por baixo dos panos, mas que quando decide dar as caras, dá lugar a um clímax extremamente respeitoso. Felizmente (ou infelizmente) são poucas, já que a preocupação de cinco soldados são destruir uma torre alemã, ao invés de ficarem sentados chorando até que uma solução caia do céu.

Os atores Wyatt Russell e Jovan Adepo são os atores que carregam a história nas costas. Ambos são soldados americanos que lutam por um único propósito, mas com ideologias distintas. Wyatt dá vida a Ford, um cabo bastante experiente e durão, que apesar de irritar o telespectador em determinados momentos por conter apenas ”um modo de lidar com as coisas”, consegue criar uma atmosfera realista e séria através dos elementos da Segunda Guerra. Já Adepo, interpreta Boyce, um soldado que está no meio da linha de frente e que não consegue matar nem uma barata (até um determinado momento), mas antes mesmo do longa-metragem se encerrar, o personagem termina bem consigo mesmo, evoluindo como um homem.

Mathilde Ollivier e Johan Philip Asbæk mostram o lado mais sujo da humanidade através de ”pequenas” atitudes que o personagem de Asbæk faz com Ollivier. Lado positivo para ambos, mas que poderiam ter sido trabalhados com mais calma e delicadeza. Iain De Caestecker, John Magaro e Dominic Applewhite estão na história apenas para preencher um vazio, que podiam facilmente ser exterminados do conto que ninguém sentiria falta.

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Quando finalmente as bizarrices aparecem, um verdadeiro show de horrores começa. Para não estragar a surpresa, será mencionado apenas o soro que contém a habilidade de transformar tanto pessoas vivas como mortas, em soldados sobre-humanos que só pensam em matar e que contém um fator de cura inigualável em seus corpos. Sem sombras de dúvidas, os zumbis mais diferenciados que o cinema já criou.

O ”sobrenatural” é a verdadeira estrela da fábula, que tem o dom de pegar um fato histórico 100% real e transformá-lo em algo 200% fictício, mas claro, sem que sua essência seja tomada por completo pela ilusão de um mundo perfeito ao ver dos nazistas.

O gore (violência explícita) está na medida. Nada é muito exagerado e ”infantilizado”. Há cenas de estupro, decepamento, e fuzilamento, elementos que contribuem ainda mais para que Overlord seja grotesco em seus elementos físicos.

Seu único defeito é seu ritmo, que chega a ser grotesco. Inicialmente, o andamento é parado e dá um passo de cada vez até o primeiro ato, que magicamente, se torna um clímax acelerado e praticamente sem pausas, até a sua primeira conclusão, que retorna para lentidão, e vai tendo essa troca de ritmo até o seu fim.

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Operação Overlord se esforça para entreter na medida do possível, e felizmente, cumpre a sua missão. Seria interessante se futuramente, o conto fosse incluído no universo Cloverfield, já que pequenas brechas e pistas são feitas, mas sem um compromisso aparente. A película não é tão esquecível, pelo ao contrário, intriga e até mesmo da um gosto de ”quero mais” no momento em que os créditos finais vão avançando.

Espero que tenham gostado, até a próxima e lembrem-se, nunca injetem um soro desconhecido em alguém que acabou de falecer.

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Bohemian Rhapsody é um poema épico sobre o Queen

Bohemian Rhapsody não é um filme e muito menos uma música; ele é um sentimento. ”Mama, I don’t wanna die. I sometimes wish I’d never been born at all”. O trecho que você acabou de ler, fala sobre uma pessoa que está arrependida de ter matado um homem, na qual revela seu medo de morrer. Só que também nunca pediu para nascer. Com isso, nasce um dos versos mais brilhantes compostos por Freddie Mercury, que mais tarde, serviria de inspiração para a cinebiografia de uma das bandas mais importantes e influentes de todos os tempos, Queen.

Freddie Mercury (Rami Malek) e seus companheiros Brian May (Gwilyn Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazzello) mudam o mundo da música para sempre ao formar a banda Queen, durante a década de 1970. Porém, quando o estilo de vida extravagante de Mercury começa a sair do controle, a banda tem que enfrentar o desafio de conciliar a fama e o sucesso com suas vidas pessoais cada vez mais complicadas. 

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Como toda banda, o grupo não nasceu do sucesso, pelo contrário, sua origem deve-se por conta do fracasso, mas que se não fosse pela persistência e insistência, nunca teria saído do seu ponto de origem. Apesar de conter diversas melodias de sucesso, Bohemian Rhapsody foi escolhida para nomear a película, justamente pelo fato de ser uma composição ousada que mistura elementos de rock com ópera em sua composição épica. 

Em primeiro lugar, não existe Rami Malek, apenas Freddie Mercury. Malek, entrou de cabeça e alma no personagem e isso é bem notório ao decorrer que a trama avança até o seu desfecho, que apesar de explorar muito pouco os momentos ruins de Freddie, as cenas em que o artista está no ”fundo do poço” é de tirar lágrimas de qualquer um que está presenciando a obra nos cinemas. Contudo, a produção decidiu-se em focar mais nos anos de glória do vocalista, que são feitos a partir de uma visão realista e cuidadosa por tudo que Mercury já passou. Malek faz uma atuação digna do Oscar.

 Contudo, como é uma adaptação mais light do grupo até o falecimento de Freddie, muitas coisas tiveram que ser alteradas e incrementadas. Claro que aqueles que não conhecem muito do Queen, não sentirão diferença alguma, mas os fãs mais fervorosos terão algumas dores de cabeça após o término do longa. Entretanto, é bom lembrar, que todas as cinebiografias passam por esse método com o intuito de entregar uma história cativante e inspiradora para os seus telespectadores.

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Bohemian Rhapsody inspira e transcreve umas mensagem de persistência através de suas cenas sobre o amor, ódio, tristeza e felicidade.. Bryan Singer iniciou uma trajetória cinematográfica linda baseado em uma história mais bela ainda, que mesmo com todos os seus problemas de vida, conseguem servir de inspiração para todos aqueles que estão sentindo e sofrendo por inúmeros problemas.

Já o resto do elenco composto por Ben Hardy, Joseph Mazzello, Gwilym Lee e Lucy Boynton impressionam com as suas incríveis atuações de respeito, que mesmo com tempo de tela divididos, conseguem dar um show a parte de forma gradativa. Ponto positivo.

Mesmo com defeitos escassos, a película contém apenas um problema que é bem difícil de engolir. Tudo é tratado a partir de um ponto de vista corrido, sendo entregue em diversas vezes, cenas que simplesmente vomitam informações na tela sem a menor preocupação de explicar como determinada ação aconteceu. O fato não estraga o filme por completo, mas chega a incomodar.

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Bohemian Rhapsody é mais do que ele simplesmente aparenta. Como o próprio texto acima diz, ele é um poema épico sobre o Queen. Seu final, é uma obra prima equivalente com as pinturas feitas por Francisco de Goya.  Choros com soluço são o que definem a sua perfeita, excelente e emocionante conclusão. Queen foi, é e sempre será uma das maiores bandas do mundo, obrigado Freddie Mercury por tudo que você nos ensinou através de suas canções. 

Espero que tenham gostado, até a próxima e lembrem-se, abra os seus olhos e olhe para os céus.

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A promessa do divino é uma ilusão em Apóstolo

Ultimamente, a Netflix vem apostando todas as suas fichas em produções originais de terror para o seu público. O que mais chama atenção nessa leva de contos sobrenaturais, é que cada história se distancia do restante famigerado ‘arroz com feijão’ de Hollywood, como A Bruxa, para citar um exemplo recente.

São produções que oferecem muito mais do que apenas assustar, mas intimidam a mente do telespectador através de diversos fatores, não ficando apenas nos famosos e preguiçosos jump scares. O Apóstolo se enquadra perfeitamente neste quesito desafiador, e  brinca com o comportamento humano selvagem para aterrorizar quem está assistindo.

Ambientado em 1905, Thomas Richardson é enviado por seu pai para um vilarejo isolado para investigar o suposto sumiço de sua irmã, que crê estar envolvida em uma espécie de culto religioso que alimenta a crença dos habitantes locais. 

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Dan Stevens é quem interpreta o protagonista do longa. Um homem desolado com a vida e que acredita que Deus é tão pecador quanto o Diabo, demonstrando o seu desprezo por ambas  entidades em uma única cena sem cortes e com um diálogos mais filosóficos. Suas unhas sujas, vestimentas emporcalhadas e olhar de desprezo sob os residentes do local demonstra o quão Thomas é um homem caído sob a visão da sociedade.
A atuação de Stevens, assim como a do elenco de apoio (Kristine Frøseth, Lucy Boynton, Michael Sheen, Annes Elwy, Bill Milner e Mark Lewis Jones), convence quem está assistindo de que o drama vivido por todos eles são reais, como se estivessem realmente sofrendo por algo além da ficção. 
O ritmo da produção é lenta mas necessária. Assim como sua história, que  durante o primeiro ato, decide-se focar apenas em temas do cotidiano, O Apósoto crítica ao fanatismo religioso da época. No segundo ato, é quando o sobrenatural começa a dar as caras, dando início a algo muito maior do que apenas uma freira que assombra um convento. Aqui, a fantasia é tratada de maneira mais palpável e menos fantasiosa, um belo de um ponto positivo.
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A fotografia e a trilha sonora fazem o trabalho de causar um certo desconforto para aqueles que estão aproveitando da obra. De um lado, temos um fator importantíssimo que faz o favor de não utilizar luzes artificiais, dando uma sensação convincente a ambientação e ao espectador, que está imerso com os personagens durante os momentos mais tensos da narrativa.
As músicas com altos e perturbadores acordes trabalham de maneira conjunta, para que o público sinta que algo de errado está por vir. O medo, a salvação, depressão e tensão são todos contados a partir de cenas perturbadoras e agonizantes, que usufruem da tortura e do sobrenatural para encerrar o seu ciclo do horror. 
Uma curiosidade: durante os créditos, as imagens de fundo são citações de diferentes versículos da Bíblia, que de certa maneira, são vistos no longa metragem como metáforas para diversas situações.
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Sem sombras de dúvidas, Apóstolo além de ser um filme de terror inteligente. é uma das melhores produções de horror que a Netflix já investiu, e que poderia muito facilmente ser adaptada através de uma série com 13 ou mais episódios.
Espero que tenha gostado, e cuidado com os falsos profetas vestidos em roupas de cordeiros.