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Twisters | Entre tornados e CGI: a tentativa de reviver um clássico

”Qual a necessidade de uma continuação de Twister” é o que pensaram os fãs saudosistas do clássico longa-metragem de catástrofe natural. Quase que desnecessário, Twisters é um filme divertido que causa uma sensação de nostalgia ao telespectador

A sequência chega com a difícil missão de capturar o espírito do original, enquanto tenta modernizar a trama para um novo público. Embora traga novos personagens e desafios, a essência permanece a mesma: a luta humana contra a força implacável da natureza. Essa conexão entre o imprevisível e o heroísmo continua sendo o coração da história, e é nisso que Twisters busca se apoiar para conquistar tanto os fãs antigos quanto os novatos.

Ainda assim, Twisters entrega momentos de tensão e adrenalina que remetem ao charme do seu antecessor. A direção mantém o ritmo acelerado, com cenas de perseguições intensas e perigos imprevisíveis que nos prendem à tela. O maior desafio, no entanto, é conquistar tanto os novos espectadores quanto aqueles que guardam com carinho as lembranças do original. Será que a sequência consegue esse feito?

Twister GIFs | Tenor

Twisters é uma continuação do longa homônimo de Jan de Bont, lançado em 1996. Desta vez, sob a direção de Lee Isaac Chung (Minari) o filme foca em uma dupla de caçadores de tempestade. Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones) é uma ex-caçadora desses fenômenos, mas que acaba sendo atraída de volta às planícies por seu amigo Javi (Anthony Ramos), para testar um novo sistema experimental de rastreamento meteorológico. Nessa missão, ela cruza seu caminho com Tyler Owens (Glen Powell), um ícone das redes sociais que compartilha suas aventuras de caça à tempestade. Conforme a temporada de tempestades se intensifica, dando início a acontecimentos aterrorizantes, Kate e Tyler, que são concorrentes, se encontram em meio a uma situação nunca antes vista, colocando suas vidas em risco. 

De fato, Twisters não precisava de uma nova produção cinematográfica. Aqui, Twisters é tratado mais como um soft-reboot (termo usado quando uma saga ou franquia é reiniciada do zero, mas situada no universo original, sem desconsiderar o que veio antes). Contudo, devido ao peso do clássico, apostar em um elenco jovem, com Lee Isaac Chung como diretor, que está se experimentando no mundo dos blockbusters, foi uma jogada arriscada da Warner e da Universal. Por sorte, eles acertaram em cheio o alvo que estavam mirando.

Essa decisão ousada reflete a tentativa dos estúdios de equilibrar tradição e inovação. Ao mesmo tempo em que homenageiam o original, buscam cativar uma nova geração de espectadores que talvez nunca tenham assistido ao filme de 1996. O elenco jovem, com rostos promissores de Glen Powell, Daisy Edgar-Jones e Anthony Ramos, traz uma energia fresca à narrativa, e o diretor, em sua primeira grande incursão no mundo dos blockbusters, surpreende ao entregar um filme dinâmico e frenético, distanciando de seus dramas experimentais. 

A escolha de manter conexões sutis com o original, sem depender exclusivamente da nostalgia, foi um ponto forte. Os novos personagens enfrentam desafios próprios, com suas histórias e motivações, o que impede o filme de cair em uma simples repetição. A presença de alguns elementos icônicos do primeiro filme, no entanto, garante que o sentimento de familiaridade seja preservado, criando um vínculo emocional com os fãs de longa data.

Por fim, o equilíbrio entre momentos de tensão e cenas mais introspectivas contribui para o desenvolvimento da trama. O espectador não é apenas levado pelas cenas de ação frenética, mas também convidado a se conectar com os personagens e suas obsessões em caçar tornados. Esse foco no lado humano da história, mesmo que superficialmente, dá ao filme uma camada emocional que o diferencia de outras obras de desastres, tornando Twisters mais do que apenas um espetáculo visual.

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 Mesmo com um CGI de alta qualidade, o uso excessivo dessa tecnologia e o abandono quase completo dos efeitos práticos prejudicam o impacto visual de Twisters. Enquanto o original trazia uma sensação de perigo palpável, aqui o realismo é diluído em meio a tantas cenas geradas por computador, o que diminui o senso de urgência e desespero que o primeiro filme conseguia transmitir com maestria.

O avanço tecnológico permitiu que Twisters criasse cenas grandiosas e visualmente impressionantes, com tornados que parecem ganhar vida na tela. No entanto, essa dependência do CGI muitas vezes rouba a autenticidade que os efeitos práticos do filme original proporcionavam. Em Twister (1996), cada cena de destruição era visceral, com objetos sendo realmente lançados pelo ar, e os atores interagindo com os elementos ao redor. Esse toque realista fazia toda a diferença na construção da tensão, algo que a sequência não consegue replicar com o mesmo impacto.

A ausência de efeitos práticos não é apenas uma questão de nostalgia, mas sim de imersão. Quando vemos atores interagindo com cenários reais e elementos físicos, o perigo parece mais tangível, e o espectador é arrastado para dentro do caos. No caso de Twisters, embora o CGI seja tecnicamente impressionante, ele muitas vezes cria uma barreira entre o público e o desastre na tela. O perigo parece distante, calculado demais, o que acaba tornando a experiência menos visceral e emocionalmente intensa.

Esse contraste entre os dois filmes evidencia uma mudança na forma como os desastres naturais são representados no cinema moderno. Enquanto o primeiro Twister usava efeitos práticos para criar um senso de urgência e medo genuínos, Twisters aposta no espetáculo visual. Isso gera uma dualidade: por um lado, temos cenas de tirar o fôlego; por outro, falta o toque de realismo que fazia o espectador sentir que estava vivendo aquele momento. A tecnologia pode ter avançado, mas o impacto emocional parece ter ficado para trás.

Twisters' se apoia em elenco carismático para quase compensar falta trágica  de ambição; g1 já viu | g1 já viu | G1

Em resumo, Twisters se apresenta como uma sequência que tenta capturar o espírito do clássico original, mas que enfrenta o desafio de equilibrar tradição e inovação. Embora traga um elenco jovem e use da nostalgia para cativar antigos fãs, a falta de efeitos práticos e a forte dependência do CGI acabam diminuindo o impacto emocional que fez de Twister um marco no gênero de desastres. O filme entrega cenas de ação visualmente impressionantes, mas não consegue atingir o mesmo nível de urgência e autenticidade que seu predecessor alcançou com recursos mais limitados.

Ainda assim, Twisters consegue proporcionar entretenimento, principalmente para aqueles que buscam um espetáculo de efeitos especiais e momentos de tensão. É uma produção que reflete as mudanças da indústria cinematográfica, onde a tecnologia avança, mas a conexão humana com a história pode se perder. No fim, Twisters pode não causar o mesmo impacto que o original, mas ainda assim, merece ser reconhecido pelo esforço de manter viva uma franquia que marcou uma geração.

Nota: 3/5

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O Dublê é um filme que não se leva a sério, e isso é ótimo!

Filmes que não se levam a sério costumam ser honestos com o telespectador: não prometem muito e deixam claro que não são obras de grande profundidade. Isso é excelente, especialmente quando um longa-metragem abraça essa honestidade, em vez de tentar transmitir uma seriedade ou grandiosidade que não consegue sustentar.

O Dublê, protagonizado por Ryan Gosling e Emily Blunt, é um exemplo claro dessa despretensiosidade. O filme não tenta ser mais do que realmente é e funciona como um excelente passatempo para quem busca um entretenimento leve. No fim, ele cumpre seu papel, deixando um gosto satisfatório após sua conclusão.

Happy Ryan Gosling GIF by The Fall Guy

O Dublê é um filme de ação e comédia dirigido por David Leitch (Trem-Bala, Deadpool 2) e baseado na série Duro na Queda, sucesso dos anos 80. A história acompanha Colt Seavers (Ryan Gosling), um dublê de Hollywood que precisou abandonar a vida de acrobacias perigosas após sofrer um acidente que quase acabou com a vida e a carreira dele. Porém, um tempo depois, ele é chamado de volta para trabalhar em um filme dirigido por sua ex-namorada, Jody Moreno (Emily Blunt), realizando as cenas mais intensas de ação de Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson), protagonista do longa. Durante as filmagens, este herói da classe trabalhadora abraçou a missão e a responsabilidade de desvendar um grande mistério: o desaparecimento misterioso de Tom. E, enquanto grava suas sequências e tenta entender o sumiço do astro de Hollywood, Colt descobre que pode ter se envolvido em algo muito maior do que um simples trabalho como dublê, tudo isso enquanto tenta reconquistar o amor da sua vida.

O longa equilibra essa falta de pretensão com momentos de humor e ação. A química entre Gosling e Blunt é evidente, o que torna a experiência ainda mais divertida, transformando cenas do cotidiano em algo quase carnavalesco. A direção de David Leitch, embora sem grandes inovações, cumpre bem sua função, mantendo o ritmo e garantindo que o filme nunca se leve a sério demais.

Pode-se dizer que O Dublê se assemelha a um longa de ação dos anos 80/90, onde tudo era exagerado e despreocupado, focado em entregar sequências de ação intensas, mas sem muita profundidade, visando entreter a grande massa.

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Mesmo sem se destacar grandiosamente no gênero de ação ou comédia, O Dublê entrega exatamente o que promete: um entretenimento descompromissado, que diverte o suficiente para valer a pena, mesmo que de forma momentânea. É o tipo de filme que você assiste sem grandes expectativas, mas que, ao final, deixa uma sensação de satisfação.

Pela honestidade desde os materiais promocionais e com a comédia “pastelona” sendo um de seus principais elementos, O Dublê se torna uma opção relevante para uma noite em família ou com amigos, perfeito para um momento de descontração coletiva.

Nota: 4/5 

 

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Fúria Primitiva: A Violência Visual que Deslumbra em Meio ao Comum

Filmes de ação com violência excessiva e coreografias cativantes ganharam popularidade desde o lançamento de John Wick: De Volta ao Jogo, criando uma onda de produções focadas em vingança desenfreada e com pouca inovação. Fúria Primitiva surge nesse cenário, marcando a estreia de Dev Patel como diretor, além de atuar e assinar como produtor.

A proposta de Fúria Primitiva não se afasta muito da fórmula consagrada, mas a ambientação na Índia e a influência cultural trazem uma leve diferenciada. O filme se posiciona entre os tradicionais longas de ação, mas com uma camada de profundidade que poderia ter sido mais explorada.

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Após anos de raiva reprimida, um lutador descobre uma maneira de se infiltrar no enclave da elite. Ele logo embarca em uma campanha explosiva de vingança para acertar as contas com os homens que tiraram tudo dele.

Fúria Primitiva é uma obra comum e formulaica, que não traz inovações e parece tímida ao abordar temas mais sérios que poderiam ser seu diferencial, como uma exploração mais profunda da religião hinduísta. Apesar de se alinhar a dezenas de filmes que contam histórias semelhantes, ele cumpre seu papel de entreter, sem se esforçar para ir além do que foi proposto.

Em sua estreia como diretor, Patel faz um bom trabalho, mas que permanece no básico. Ele não imprime uma assinatura própria que poderia diferenciá-lo de outros cineastas especialistas em ação, podendo ser facilmente substituído por diretores como David Leitch ou Chad Stahelski, sem grande impacto na qualidade final.

Por outro lado, a atuação de Patel é brilhante, como de costume. O ator, mais uma vez, prova ser um dos melhores de sua geração em Hollywood. Ele encarna perfeitamente um personagem furioso em busca de justiça, com olhares e gestos arrepiantes que convencem o espectador de que sua sede por vingança é genuína.

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Apesar de um começo arrastado e tedioso, Fúria Primitiva revela seu verdadeiro potencial à medida que a tensão aumenta e a ação se intensifica. Os últimos 50 minutos não apenas elevam o ritmo, mas também trazem uma mudança significativa na qualidade da narrativa, mantendo o espectador à beira do assento. É como se ele finalmente encontrasse sua identidade, revelando uma intensidade e urgência que estavam ausentes na primeira metade.

A violência apresentada não é gratuita; ela é uma extensão do personagem central, refletindo a brutalidade do mundo em que está inserido. Patel utiliza cenas de ação coreografadas com maestria, criando uma dança de caos e controle que é visualmente impressionante. Esses momentos são a alma do filme, oferecendo um espetáculo visual que contrasta com a história monótona.

Se a narrativa tivesse ousado mais, poderia ter elevado o filme a um patamar superior, mas, mesmo dentro de seus limites, Fúria Primitiva consegue se destacar, ainda que de forma modesta.

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Fúria Primitiva é um longa que se leva um pouco mais a sério do que as tradicionais obras de Sessão da Tarde, mas que poderia facilmente ser encaixado nesse mesmo contexto. Com cenas de ação de alta qualidade, que acabam sendo seu ponto forte, o filme não se destaca pela inovação, mesmo com um potencial latente para explorar algo diferente, com raízes indianas mais presentes. É uma escolha certeira para quem busca uma pausa em um dia monótono, oferecendo um entretenimento mediano sem exigir reflexões complexas.

NOTA: 3/5

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A Vida segundo O Urso

Tolice é acreditar que a vida será um devaneio de bênçãos, assim como é fútil concluir que a vida resultará exclusivamente em uma onda de maldições. A existência é um equilíbrio entre momentos bons e ruins, e devemos nos preparar para enfrentar tanto os ápices agradáveis quanto os desagradáveis ao longo de nossa jornada. O Urso é exatamente sobre isso: uma história crua e bela sobre o que é viver em meio às adversidades do cotidiano, enquanto coisas boas acontecem simultaneamente.

Produzida pela Disney através de sua subsidiária FX, à primeira vista, O Urso parece ser apenas mais uma série de alto padrão: boas atuações, direção coerente, roteiro de qualidade e uma história simples, mas cativante. No entanto, a obra vai além de qualquer atributo de perfeição, atingindo um patamar quase inalcançável de excelência.

The Bear” Is Overstuffed and Undercooked | The New Yorker

Carmen Berzatto (Jeremy Allen White) é um jovem chef que herda um restaurante e tenta transformar o lugar em um grande negócio. No entanto, Carmy enfrenta várias dificuldades e busca ajuda nos diversos funcionários para tentar melhorar e transformar o The Beef em um dos maiores e melhores restaurantes de Chicago. A trama explora como cada personagem lida com suas vidas pessoais enquanto tentam alavancar suas carreiras na indústria alimentícia. Além das ambições profissionais e a rotina estressante do restaurante, a relação de Carmy com a família é cheia de tensão, especialmente depois do suicído do irmão que impactou a todos. A produção discute comida, família e a rotina insana dos restaurantes. Carmy batalha para elevar seu estabelecimento e a si mesmo ao lado da equipe de cozinha carrancuda que aos poucos se transforma em uma nova família.

A obra captura com precisão a essência do que significa ser humano, com todas as suas falhas, esperanças e desesperos. Em cada cena, O Urso nos lembra que a vida é uma dança caótica entre o sucesso e o fracasso, onde a verdadeira força reside em nossa capacidade de continuar, mesmo quando tudo parece desmoronar. É nessa resiliência silenciosa, que o seriado encontra seu maior poder, revelando que, em meio ao caos, ainda existe beleza.

À medida que Carmy (Jeremy Allen White) lida com os desafios de assumir o restaurante de seu falecido irmão, somos convidados a refletir sobre nossos próprios dilemas e inseguranças.

O Urso não oferece respostas fáceis, mas sim uma jornada introspectiva que desafia o espectador a aceitar a imprevisibilidade da vida, compreendendo que a verdadeira riqueza da existência está nas pequenas vitórias cotidianas, muitas vezes invisíveis aos olhos desatentos.

The Bear GIFs | Tenor

Jeremy Allen White, como Carmy, encarna perfeitamente o que é ser uma pessoa constantemente preocupada e ansiosa, sempre à beira do colapso. Sua atuação é executada com maestria, transmitindo sentimentos reais e não meramente encenados. Ao assistir, é quase impossível não sentir que Jeremy está, de fato, sofrendo internamente, tamanha a autenticidade com que dá vida ao personagem.

Todavia, o que mais chama a atenção em Carmy é o fenômeno curioso da não aceitação inconsciente das coisas boas. Sua vida caótica, que começou em uma família disfuncional e se estendeu à sua carreira como chef e empresário, fez com que ele se acostumasse a viver no meio do caos e das adversidades. Quando algo bom finalmente acontece, como ser “presenteado” com um relacionamento genuíno, o personagem reage com estranheza à nova situação. Como defesa, devido aos traumas do passado, ele resiste aos momentos bons, lutando contra a felicidade que tanto parece desejar.

Esse contraste em Carmy reflete uma verdade profunda sobre a condição humana: a tendência de muitos de nós a rejeitar o que é bom por medo de perder ou não merecer. Jeremy Allen White capta essa dualidade com uma sutileza que transcende a tela, fazendo o espectador refletir sobre suas próprias resistências às consagrações da vida.

O desempenho de White em O Urso vai além da representação de um personagem; ela nos faz questionar como nossas próprias inseguranças e experiências passadas moldam a maneira como lidamos com as oportunidades que a vida nos oferece. É um retrato poderoso de como, muitas vezes, somos nossos maiores inimigos, impedindo-nos de abraçar plenamente as coisas boas quando elas finalmente nos alcançam.

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Não é apenas de Carmy que se sustenta O Urso. O elenco de apoio é tão crucial quanto o protagonista, dividindo o peso da narrativa com o chef central.

Primo (Ebon Moss-Bachrach), Sydney (Ayo Edebiri) e os demais personagens e astros transmitem com precisão a luta interna de enfrentar as adversidades cotidianas, muitas vezes invisíveis ao olhar alheio. Cada um carrega seus próprios dilemas e anseios, travando batalhas quase que silenciosas fora das paredes caóticas do restaurante.

Esses personagens são tão bem construídos que se fundem à trama como uma verdadeira amálgama, tornando impossível imaginar uma história tão cativante sem a presença de cada um deles. Mesmo com substituições, a força da narrativa seria irremediavelmente enfraquecida.

O que torna O Urso verdadeiramente excepcional é a profundidade com que cada personagem é desenhado. Eles não são meros coadjuvantes; são representações das complexidades humanas, das lutas internas que todos enfrentamos em algum nível. O espectador se vê refletido neles, nas suas falhas e nas suas pequenas vitórias, o que reforça a conexão emocional com a série.

Assim, a série converte-se mais que uma simples narrativa sobre um restaurante ou a vida de um chef. É uma exploração cuidadosa da condição humana, onde cada personagem representa um aspecto diferente dessa jornada. O seriado nos lembra que, em meio ao caos, são as interações humanas e a luta silenciosa de cada um que realmente definem quem somos.

The Bear's Ebon Moss-Bachrach on Richie's Transformation & the Season Finale

Christopher Storer, showrunner e criador de O Urso, demonstra uma genialidade única ao criar uma série que transcende a categorização de comédias tradicionais. O que é entregue por ele para o público não é apenas uma comédia dramática, mas uma verdadeira obra-prima de trágica beleza, que reflete as nuances da vida com uma precisão quase desconcertante. Storer entende que a vida não é um espetáculo linear de risos ou lágrimas, mas uma mistura caótica de ambos, onde os momentos de humor e dor coexistem de forma interdependente. Ele captura essa essência ao construir um universo onde os personagens são forçados a enfrentar suas próprias falhas e inseguranças, enquanto navegam por uma realidade que oscila entre o cômico e o devastador. A habilidade de Storer em tecer uma narrativa que é ao mesmo tempo cruel e compassiva, sombria e luminosa, é o que torna O Urso uma experiência profundamente humana.

Em O Urso, a comédia não serve apenas como alívio cômico, mas como uma lente através da qual as tragédias da vida são vistas com uma clareza ainda mais dolorosa. Cada momento de humor é uma faca de dois gumes, revelando as camadas de dor e desesperança que permeiam na rotina dos personagens. 

Storer nos força a confrontar a verdade de que, por mais que tentemos planejar e controlar nossas vidas, estamos todos sujeitos as imprevisibilidades do superior. E é nessa incerteza que reside a verdadeira beleza da vida, algo que O Urso capta com uma precisão e uma profundidade que poucas séries conseguem alcançar.

The Bear GIFs | Tenor

Rasgando nossos sentimentos quase como uma faca afiada, O Urso é uma obra tão reflexiva que deixa o espectador imerso em pensamentos por dias a fio. O seriado dá um tapa na cara de quem assiste, oferecendo uma mensagem clara e contundente: “Seja maduro e aceite que a vida é uma montanha-russa, onde felicidade e tristeza se alternam constantemente.”

O Urso se destaca como uma joia na televisão moderna, combinando atuações impecáveis, uma narrativa envolvente e uma visão profunda e honesta sobre a vida. É uma série que não apenas entretém, mas também desafia, ressoando profundamente com o público ao explorar as complexidades da existência humana com uma excelência inigualável.

NOTA: 5/5

 

 

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O Horror Profano de Longlegs: Vínculo Mortal que Intimida até o Terror de Shopping Center

O terror é o gênero cinematográfico que mais oferece liberdade criativa aos seus criadores, dado o número infinito de caminhos que os cineastas podem explorar ao contar uma história.

Longlegs: Vínculo Mortal exemplifica essa liberdade de maneira notável, entregando um horror profano que causa impacto até nos populares filmes de terror de shopping center. Esta obra mergulha no conceito do satanismo com um toque de realismo perturbador, mesmo ao incorporar elementos de fantasia, afastando-se da previsibilidade cansativa de grandes franquias como Invocação do Mal.

Nicolas Cage breaks down his 'androgynous' Longlegs role and using his mother as inspiration

Longlegs – Vínculo Mortal é dirigido pelo cineasta Oz Perkins. A narrativa segue a agente do FBI, Lee Harker (Maika Monroe), que é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer em uma cidade tranquila. À medida que Lee mergulha na investigação, ela descobre indícios perturbadores de práticas ocultas ligadas aos crimes, levando-a por um caminho sinuoso e perigoso. Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a numa corrida contra o tempo para evitar novas vítimas. Contudo, à medida que avança, percebe que algo sinistro a observa de perto, ameaçando não só o desfecho do caso, mas também sua própria segurança. Enquanto luta para desvendar a verdade por trás dos assassinatos, Harker se vê numa encruzilhada entre o dever profissional e os segredos sombrios que emergem, transformando sua investigação em uma batalha intensa entre a razão e o desconhecido.

Filho do icônico Anthony Perkins, eternizado como Norman Bates em Psicose, Oz Perkins vem deixando sua marca em Hollywood desde que dirigiu o aclamado O Último Capítulo. Conhecido por contar histórias assustadoras com uma abordagem crua e realista, Perkins desafia os clichês hollywoodianos ao trabalhar com a seguinte questão: “Como o ocultismo impactaria a vida de alguém, sem os exageros típicos de Hollywood?”

Em Longlegs: Vínculo Mortal, Perkins se mantém fiel a esse conceito, conduzindo com maestria uma trama que flerta com o drama, como fez em A Enviada do Mal. Contudo, a diferença nesta nova produção está em seu ritmo. Embora menos acelerado em comparação aos filmes de horror convencionais, Longelegs é mais ágil que os demais trabalhos de Perkins, mantendo o espectador em constante tensão. A cada cena, o diretor manipula o ritmo com sua direção arrepiante, alternando entre momentos de quietude inquietante e tomadas que preparam o terreno para o mal iminente.

Perkins demonstra um domínio notável sobre os elementos visuais, utilizando a iluminação e o design de som para criar uma atmosfera que não só conta a história, mas também a intensifica. As transições entre cenas mais lentas e momentos de puro terror são executadas com precisão, elevando a sensação de perigo constante que permeia o filme. Esse equilíbrio entre suspense psicológico e horror visceral faz de Longlegs uma experiência única e memorável.

Ao evitar os clichês do gênero e explorar a escuridão de forma sutil, Perkins entrega mais do que sustos baratos; ele convida o espectador a enfrentar o medo e a incerteza de maneira profunda.

Longlegs: Terror com Nicolas Cage promete ser o mais impactante do ano; Confira o trailer! | Cine Vibes

Longlegs: Vínculo Mortal não se destaca apenas pela história aterrorizante, mas também pela excelência das atuações, que são o verdadeiro ponto alto da produção.

Nicolas Cage está impressionante no papel-título, incorporando com maestria um serial killer ocultista com sérios distúrbios mentais. Seus trejeitos bizarros, em vez de tornarem o personagem caricato, contribuem para a construção de uma figura memorável e assustadora. A bizarrice e o exagero presentes na sua performance não resultam em um vilão cafona, mas sim em uma entidade tão apavorante quanto as aparições do “Homem Lá de Baixo”, que observa o telespectador e a protagonista nos momentos mais aterrorizantes do filme.

Maika Monroe, no papel da detetive Lee Harker, não fica atrás de Cage. Enquanto ele traz exagero ao interpretar Longlegs, Monroe atua com uma sutileza que transmite a timidez e o medo de sua personagem, moldando uma detetive desconfiada até de si mesma, mas determinada a colocar um fim no mal. O contraste entre essas duas personas resulta em uma interação profunda e caótica, deixando o espectador em dúvida sobre a possibilidade de uma mudança de lado por parte de Harker.

A trilha sonora também merece destaque. Composta por uma combinação de sons dissonantes e ritmos perturbadores, a música amplifica a atmosfera sombria e intensifica o impacto das cenas mais assustadoras. A sonoridade imersiva contribui para a experiência geral, adicionando uma camada extra de terror que se entrelaça perfeitamente com a narrativa visual e as performances intensas dos astros.

Longlegs: Vínculo Mortal é perturbador e incômodo — e isso é ótimo | Review

Infelizmente, Longlegs: Vínculo Mortal possui seus pontos baixos, embora isso não prejudique sua excelência geral. No entanto, é importante abordá-los.

Por ser um terror mais contemporâneo, o uso excessivo de jump scares acaba banalizando certos momentos. Inicialmente, Oz Perkins emprega essa técnica com inteligência, utilizando-a como um recurso que enriquece a trama e contribui para a tensão. Contudo, à medida que o filme avança, o cineasta parece perder a mão, utilizando os jump scares de forma mais gratuita e previsível, o que reduz o impacto que esses sustos poderiam ter em momentos críticos.

O plot twist, apesar de bem elaborado e com uma justificativa dramática e aterrorizante, é revelado de forma um tanto direta, sem o mistério e a construção que poderiam intensificar o impacto. Embora a revelação não seja ruim, sua entrega antecipada tira parte da surpresa e da profundidade que um mistério bem trabalhado poderia proporcionar. Em um filme com uma narrativa tão envolvente como Longelegs, um enigma mais sutil e desenvolvido teria elevado ainda mais a experiência.

Apesar dessas falhas, Longlegs: Vínculo Mortal continua a ser uma obra impressionante dentro do gênero, oferecendo uma experiência que, mesmo com suas imperfeições, mantém o espectador cativado e imerso em seu terror perturbador.

How to watch Longlegs – Is it streaming? - Dexerto

Em um cenário onde obras de horror frequentemente se tornam previsíveis e se baseiam em fórmulas desgastadas, Longlegs: Vínculo Mortal surge como um verdadeiro alívio para os aficionados do gênero. Eu não me lembrava da última vez que um longa do gênero conseguiu me causar um medo genuíno; mas essa produção conseguiu exatamente isso. Cada cena é carregada de uma tensão palpável que se intensifica de forma magistral, mantendo o espectador completamente imerso. O medo que ele provoca é visceral e autêntico, um ponto fora da curva em um mar de produções que muitas vezes preferem se apoiar em sustos fáceis e previsíveis.

O que realmente distingue Longlegs dos habituais “terror de shopping center”, é sua abordagem ousada. Enquanto muitos há longas-metragens que se contentam com efeitos superficiais e roteiros formulaicos, Vínculo Mortal se destaca pelo seu medo profundo e real por meio de uma estética que abraça o horror profano de maneira genuína. É uma produção que não apenas assusta, mas também desafia e inquieta, oferecendo uma experiência cinematográfica memorável que permanece depois dos créditos finais. Em suma, Longlegs: Vínculo Mortal é um exemplo brilhante de como o terror pode ser elevado a um patamar superior, misturando uma narrativa realista com uma atmosfera de arrepiar.

NOTA: 4/5

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Alien: Romulus é junção imperfeita de horror, ficção e ação

Ridley Scott tentou explorar mais a fundo a ficção científica da sua franquia renomada Alien com Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017). Infelizmente, embora gostando desses filmes, admito que suas intenções esbarraram em ideias confusas e – por que não? – estranhamente bizarras. Mas os filmes estão ali, tentando abordar temas de natureza mais complexa do que os filmes anteriores, discutindo a origem da humanidade e onde ela se encaixa no grande esquema das coisas. Em Alien: Romulus, o diretor Fede Alvarez também está interessado na ficção científica deste universo, desde a construção de um cenário distópico onde a humanidade se curva ao mundo privado até aos desdobramentos da existência de humanoides entre a sociedade civil. E, se essas discussões são mais bem pontuadas e desenvolvidas aqui, vale mencionar o quão bem-sucedido Alvarez foi se comparado com o mestre Scott.

Alien Romulus equilibra ficção científica e terror na medida certa -  Opinião | Minha Série

O êxito do diretor, cuja filmografia demonstra um interesse pelo suspense e o horror, reside na criação de um amálgama da franquia ao colocar o horror do clássico Alien, o Oitavo Passageiro (1979), a ação intensa de Aliens, o Resgate (1986), a maternidade de Alien 3 (1992), e as bizarrices de Prometheus e Covenat em uma mistura só. Assim, Romulus é, definitivamente, uma ode ao passado, que prova que a originalidade não é o único caminho, e beber de fontes certas sabendo o que está fazendo é uma tarefa tão árdua quanto inovar – embora só depender delas também não o faça um grande diretor.

A trama segue a dupla Rain (Cailee Spaeny) e Andy (David Jonsson), cuja irmandade começou quando o pai da garota integrou o humanoide Andy à família, e o deixou com a diretriz de proteger a garota. Eles se envolvem com um grupo de conhecidos na tentativa de fugir do sistema em que estão, a partir de uma carga de módulos de hibernação encontrada numa estação espacial abandonada. Este, portanto, é o cenário perfeito para que o grupo se depare com as criaturas adormecidas devido às pesquisas passadas envolvendo suas origens.

Alien: Romulus' é belo equilíbrio entre homenagem e cópia para ressuscitar  a franquia; g1 já viu | Cinema | G1

A premissa é simples, mas extremamente eficiente. Ao longo dos primeiros minutos, nos afeiçoamos com a dupla de protagonistas e pela habilidade do roteiro de construir um background entre eles, sem torná-los rasos e apenas um pedaço de carne para ser devorado (ou acasalado). Mas isso não se repete com os outros personagens, que apenas são condicionados a estarem relacionados com Rain e Andy. Como foi dito, o filme sabe explorar sua filosofia ao abordar a existência de Andy e como sua presença pode ser perturbadora para aqueles que são contrários à sua existência. Essa tensão entre os personagens já conduz a narrativa para além do superficial da sobrevivência, e nos oferece uma camada adicional quando coloca em pauta o quanto uma vida vale mais que a outra.

O que oferece um contorno ainda mais interessante é quando a consciência do sintético Rook (Ian Holm), mesmo modelo do famoso Ash do filme original, é transportada para Andy, e a figura inocente do personagem dá lugar à frieza cruel de alguém capaz de fazer o que for necessário para cumprir sua diretriz: entregar os resultados das pesquisas dos xenomorfos à Weyland-Yutani. E essa mudança, além de ser um aspecto brilhante da ótima atuação do David Jonsson, coloca em jogo a relação entre a humana Rain e seu “irmão”, e o quanto ela abdicaria de suas convicções para sobreviver.

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De um ponto de vista estético, há muitos elogios para se fazer em relação às escolhas do diretor de fotografia Galo Olivares. Com um bom uso de luzes e sombras, o filme consegue explorar o seu cenário de modo a construir toda aquela sensação de perigo e solidão, seja através do vermelho presente em sinalizadores e sinais de alerta pela estação, às sombras dos corredores que sempre ameaçam guardar algum susto – ou surpresa desagradável. Gosto de como a protagonista é retratada como a Ripley dessa jornada, a colocando como a grande heroína da história. Outro fator que contribui ao horror são os ótimos efeitos práticos que tornam as ameaças mais verossímeis e incômodas só pela sua movimentação estranha; a maquiagem também reforça o horror com corpos estraçalhados, perfurados, dignos de um filme gore.

Além disso, a ação é outro elemento presente aqui e bem conduzido. Devo destacar a cena envolvendo as secreções/substâncias ácidas dos Aliens, e quando elas estão espalhadas num andar sem gravidade. A beleza estética fala por si só, e a tentativa de escapar de qualquer ferimento é a sequência mais apreensiva do longa.

Alien: Romulus" estreia nos cinemas brasileiros

Infelizmente, a apreensão dessa cena não se repete ao longo do filme. Mesmo fazendo um trabalho competente, não me encontrei imerso em quase nenhum momento de Romulus. A sensação de perigo, a claustrofobia, o receio, o medo pelos personagens são emoções esperadas que não estiveram presentes durante a minha experiência. É como se o filme se contentasse com soluções fáceis e convenientes, e não trouxesse soluções mais interessantes, e desperdiçasse seus ótimos comandos artísticos na fotografia, na maquiagem, no figurino e no design de produção. Cito aqui uma cena onde o silêncio se faz fundamental para não alertar as criaturas e de repente surge uma voz na transmissão de rádio alertando a todos no local. Se Alien: Romulus for sua primeira experiência de terror nos cinemas, talvez essa cena, entre várias outras, surta o efeito pretendido.

Basear-se nas fontes boas e saber trabalhá-las é o grande destaque deste filme, mas também é seu principal obstáculo: o potencial esbarra nas suas inspirações. Embora Romulus possua um início particular e imersivo, que prometia um desenrolar mais intimista e amedrontador, ele respeita tanto seus antecessores que acaba esvaindo-se de ideias criativas, não necessariamente originais. Desse modo, acaba encerrando sua história de forma diametralmente oposta ao seu início: óbvia e comum. E isso não faz jus ao bom filme feito por Alvarez.

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Planeta dos Macacos: O Reinado | Quando o modesto se torna o maior e a lição cinematográfica para a própria Disney

Não há o que esconder: O Reinado consolida-se como o melhor filme da nova franquia Planeta dos Macacos, iniciada em 2011 com César, interpretado por Andy Serkis.

Não obstante, o longa-metragem, que chegou ao Disney+ na última sexta-feira (02/08/2024), demonstra à própria Disney que grandes obras cinematográficas não necessariamente emergem de vastas sagas, mas sim de produções relativamente “menores”. Afinal, permanece um mistério o motivo pelo qual a maior produtora do mundo trata seus maiores e mais lucrativos trunfos com desleixo, enquanto suas franquias de menor escala são lapidadas como diamantes.

Sci-fi Gifs — Kingdom of the Planet of the Apes (2024), dir. Wes...

Muitas sociedades de macacos cresceram desde que César conduziu seu povo a um oásis, enquanto os humanos foram reduzidos a sobreviver e se esconder nas sombras. Um líder macaco começa a escravizar outros grupos em busca de tecnologia humana, enquanto um jovem macaco, que testemunhou a captura de seu clã, embarca em uma jornada para encontrar a liberdade, sendo uma jovem humana a chave para essa conquista.

Planeta dos Macacos: O Reinado não apresenta uma narrativa original ou inovadora, utilizando uma fórmula comum frequentemente adotada pelos filmes hollywoodianos. Todavia, a relevância da trama reside em sua execução fluída, que cativa o espectador em uma sequência de emoções intensas.

Assim como nas demais edições de Planeta dos Macacos, O Reinado apela ao emocional com inteligência e consistência, através de diálogos redigidos de forma excepcional. A direção de Wes Ball conduz o universo do filme por meio de ações humanizadas e imaturas, fazendo com que os símios se assemelhem mais aos humanos, e os humanos, mais aos símios.

A crítica social presente, embora mais sutil em comparação com os filmes anteriores, revela-se ainda mais incisiva, evidenciando ao espectador a natureza do ser humano como intrinsecamente má e a nossa disposição para buscar poder, até mesmo escravizando nosso próprio povo.

Kingdom Of The Planet Of The Apes Review – 'These apes are still strong'

Os laços entre os personagens são explorados na medida certa, sem excessos. Dessa forma, os protagonistas interagem de maneira genuína e natural, criando uma relação espontânea e verdadeira que espelha a vida real.

Proximus César destaca-se como um vilão à parte. A forma como é inserido na história revela que Proximus é uma ameaça mesmo sem aparecer diretamente, tornando-se o melhor antagonista da saga. Sua postura, que o faz acreditar ser um discípulo de César, contribui para sua construção como adversário de Noa, conferindo-lhe um propósito que foge às razões convencionais de se tornar maligno.

Sci-fi Gifs — Kingdom of the Planet of the Apes (2024), dir. Wes...

Planeta dos Macacos: O Reinado é surpreendente. Simples, mas eficaz, a produção evita ser um entretenimento barato e se estabelece como uma obra cinematográfica que supera expectativas, oferecendo um verdadeiro espectáculo visual e sensorial para o espectador.

NOTA: 5/5

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Simples e divertido, Deadpool & Wolverine cumpre a proposta como uma comédia despretensiosa

Engana-se quem acredita que Deadpool & Wolverine é a “salvação” da Marvel Studios, como o próprio personagem afirma repetidamente em seu filme, chamando-se de “Jesus da Marvel”. O filme, é uma produção feita para ser simples e divertida, cumprindo sua proposta como uma comédia despretensiosa que não se preocupa em alavancar uma empresa que teve altos e baixos nos últimos anos.

Marvel Gifs — DEADPOOL & WOLVERINE (2024)

Deadpool & Wolverine reúne o icônico mercenário tagarela Wade Wilson (Ryan Reynolds) e o poderoso mutante Wolverine (Hugh Jackman) em uma aventura cheia de ação e humor, escrita e produzida pelos mesmos criadores de Deadpool (2016) e Deadpool 2 (2018). Enquanto Wade desfruta de um momento de aparente tranquilidade com Vanessa (Morena Baccarin) e seus amigos, Wolverine se recupera de ferimentos. Seus caminhos se cruzam, formando uma aliança improvável. Juntos, enfrentam um inimigo formidável, desencadeando uma jornada repleta de ação, humor e surpresas. O filme promete uma experiência épica, com referências aos quadrinhos e muita adrenalina, oferecendo aos fãs um vislumbre único no universo dos super-heróis.

Esperar que Deadpool & Wolverine seja um marco cinematográfico é irreal. Nem todo filme precisa ser uma obra-prima; algumas produções existem apenas para entreter. Deadpool, tanto nos quadrinhos quanto no cinema, não é um personagem de profundos simbolismos, mas sim um anti-herói voltado para o humor e diversão em massa. Ele cumpre seu papel sem grandes surpresas.

Ryan Reynolds novamente usa o longa como um laboratório de ideias, com sucesso em muitos casos, mas também apresenta piadas com timing questionável, que parecem destinadas a agradar sua bolha de amigos famosos.

É inegável o empenho de Ryan Reynolds em trazer Hugh Jackman de volta e a colaboração de Kevin Feige, CEO da Marvel Studios, que, antes da compra da 20th Century Fox pela Disney, estava limitado por questões burocráticas. O trio está claramente satisfeito com o resultado, não apenas pela expectativa de alcançar US$ 1 bilhão, mas também por oferecer aos fãs elementos que esperavam há muito tempo.

Como em outras produções da Marvel Studios, Deadpool & Wolverine apresenta uma direção padronizada. Shawn Levy está à frente apenas por ser amigo de Reynolds, enquanto Ryan e Feige são os verdadeiros responsáveis pelo entretenimento.

Deadpool & Wolverine" também é para quem não conhece os filmes da Marvel, garante o realizador - Atualidade - SAPO Mag

O retorno de Hugh Jackman como Wolverine é divertido, mas não emocionante, dado que o foco do filme é Deadpool. O novo Wolverine de Jackman busca se redimir de falhas passadas, mas não traz novidades para quem conhece os quadrinhos ou assistiu Logan. Ver Jackman no icônico traje amarelo e com sua personalidade impetuosa é um momento que poderia ter chegado antes.

Cassandra Nova demonstra a versatilidade de Emma Corrin como atriz, mas a vilã serve somente para aprofundamento do Vazio, tal como Paradoxo, que se revela genérico e pouco cativante para Matthew Macfadyen.

As participações especiais, que fazem referência à FOX, servem para provocar reações no público, mas não têm peso na trama. Ao contrário de Sem Volta Para Casa, onde os as aparições de Tobey Maguire e Andrew Garfield estavam integrados na narrativa, estas aparições em Deadpool & Wolverine são meros divertimentos, sem impacto significativo.

Deadpool & Wolverine: Every Easter Egg, Cameo and Marvel Reference (That We Spotted) - IGN

Em resumo, a nova obra da Marvel Studios  não passa de um ótimo entretenimento barato, que assim como qualquer outra comédia de grandes estúdios hollywoodianos, tira ótimas gargalhadas de seus telespectadores através de maneirismos visuais e piadas sarcáticas com conotações sexuais, algo que funcional muito bem com o tipo de público que o terceiro longa do mercenário tagarela visa atingir: adolescentes e jovens adultos que por algum motivo, ainda acreditam estar na adolescência.  

NOTA: 3,5/5

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Rivais: Luca Guadagnino transforma triângulo amoroso em espetáculo esportivo de alta tensão

Luca Guadagnino é um cineasta reverenciado pelos cinéfilos da nova geração devido ao seu trabalho em Me Chame Pelo Seu Nome. Portanto, qualquer produção que tenha o nome do italiano vinculado atrai os holofotes da mídia.

Não seria diferente com Rivais, seu mais recente longa-metragem esportivo sobre um triângulo amoroso onde o ego é mais valorizado do que a determinação de vencer.

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“Rivais” acompanha Tashi (Zendaya), uma tenista prodígio que se tornou treinadora, uma força da natureza que nunca pede desculpas por seu jogo, dentro e fora do campo. Casada com Art (Mike Faist), ela conseguiu transformar a carreira do marido, de um jogador medíocre para um campeão mundialmente aclamado. Quando Art está tentando superar um período difícil, onde apenas acumula derrotas, a estratégia de Tashi toma um rumo inesperado: ela convence o marido a jogar em um torneio “Challenger” – o nível mais baixo do circuito profissional – onde terá de enfrentar Patrick (Josh O’Connor), seu antigo melhor amigo e ex-namorado de Tashi. Patrick, que também já foi um talento promissor, agora se encontra exaurido e lentamente caminha para o ocaso de sua carreira. O encontro dos três pode reacender antigas rivalidades, dentro e fora da quadra, e resultar em um desfecho diferente para a carreira de todos.

Quando comparado com os filmes anteriores do mestre, Rivais exibe uma direção frenética e inquieta, típica de uma boa partida de tênis. O esmero que Luca demonstra ao narrar essa história, situada em dois períodos de tempo sem parecer confusa, confere um charme à obra que poucos diretores, mesmo renomados, conseguem trazer.

A adrenalina imposta por Guadagnino não se restringe às quadras esportivas apresentadas durante a história, que muitas vezes são tratadas como uma “entidade” que fala por si só. Essa adrenalina também se estende à relação entre os personagens centrais, gerando um triângulo amoroso composto por ego e tensões sexuais fascinantes de se acompanhar.

Justin Kuritzkes, o roteirista, capricha ao trazer um relacionamento psicosexual, sem relegar a trama esportiva a um segundo plano.

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Do seu início ao seu epílogo, Rivais trabalha nos mínimos detalhes para que o espectador sinta-se íntimo da história ali apresentada, sendo eufórica mas sem exaurir em seus espectros quase “tóxicos”.

Devido aos talentos escolhidos a dedo pelo diretor, é difícil escolher um único personagem para se simpatizar, dado que Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist sabem muito bem como compartilhar o brilho entre si.

O holofote compartilhado entre os três astros culmina em um favoritismo equilibrado, moldando um desejo de que todos triunfem de acordo com a natureza e rivalidade de cada um presente na trama.

Um trio, quando bem desenvolvido, demonstra a capacidade que tem de cumprir os desejos mais profundos de um único corpo, e Rivais é a prova disso.

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Rivais é um diamante meticulosamente lapidado por Luca Guadagnino, que explora os principais anseios humanos de forma surpreendente, egocêntrica e sensual sem ser vulgar, sendo uma peça de grife dentro da vasta e esplêndida filmografia do diretor.

NOTA: 5/5

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Saltburn: uma odisséia sobre amor, ódio e manipulação

Ser bom compensa? Não de acordo com Saltburn, novo filme de Emerald Fennell, diretora do aclamado Bela Vingança, que recebeu a estatueta do Oscar 2021 na categoria Melhor Roteiro Original; que em suas entrelinhas, aborda sobre a manipulação humana com sutileza e selvageria, sem perder sua classe. 

Ousado, Saltburn é uma odisséia sobre amor e ódio. Contudo, sua história aborda infidelidade de forma muito mais ampla como a grande massa está acostumada, expandindo o termo para além de ”traição eros’‘, trabalhando a quebra de fidelidade em conjunto com a propagação de mentiras com inteligência e sagacidade.  

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 A trama se passa nos anos 2000 e acompanha o estudante universitário Oliver Quick, que tem dificuldades para se encaixar na Universidade de Oxford. Após conhecer Felix Catton, Oliver é imediatamente atraído pelo mundo aristocrático do jovem ,que o convida para passar uma temporada na casa de sua família. Mas o que começa como uma amizade aparentemente inocente logo escalona para uma crescente obsessão.

Emerald, que além de assumir o posto de diretora, assina o roteiro satírico e magistral que conduz o espectador para uma teia burguesa de podridão, levando quem está assistindo para uma história recheada de canalhiches e reviravoltas passíveis de atitudes sociopatas (e psicopatas) dos personagens que compôem o elenco. 

Propositalmente, Fennell entrega motivações vazias e rasas para os membros da família Catton, dado que Saltburn se trata de um drama satírico que também visa explorar a carência emocional de uma pequena sociedade parental que se contém com prazeres mundanos e imundos. Dessa forma, a cineasta cutuca na ferida desse tipo de gente com muito sarcasmo e ironia. 

Contudo, o grande destaque da obra está na relação entre as duas personas principais: Oliver Quick (Barry Keoghan) e Jacob Elordi (Felix Catton), que mesmo inicialmente tendo comportamentos distintos, vão se transformando ao decorrer da história em um único ser movido à sexo, drogas, prazeres rasos. Jacob se esforça em entregar uma atuação respeitosa e convincente. Por sorte, ele consegue, mas não tanto quanto Barry, que é a grande cereja desse bolo, afinal não é atoa o papel que ele anda desencadeando em Hollywood, sendo um ator disputado por grandes estúdios e trabalhando na Marvel e DC ao mesmo tempo. 

Keoghan é tão convincente em seu papel como Oliver, que mesmo sendo um personagem fictício, dá-se a impressão que tudo que é visto ao longo das duas horas do filme é real e que Oliver Quick foi contratado para fazer ao filme com Emerald gritando aos fundos das gravações: ”apenas seja você mesmo!”

Polêmico filme 'Saltburn', com Barry Keoghan e Jacob Elordi, estreia no Brasil

Saltburn também se destaca pela sua atmosfera de Dark Academia, dando um toque especial para aquilo que já era perfeito. Além disso, sua ambientação no início da década 2000, faz com que Emerald Fennell fuja de sua zona de conforto, buscando por saídas  ”medievais” para situações que ela colocou seus personagens, fazendo assim, um show de entretenimento sádico e angustiante. 

Sua direção, que muitas vezes lembra obras cinematográficas de décadas passadas filmadas por câmeras analógicas, pode inicialmente causar um pequeno desconforto devido as famosas bordas pretas ao redor da tela. Entretanto, o que parecia ser um problema, torna-se um charme casando com a temática de Dark Academia citada no parágrafo anterior. 

Em outras palavras, a produção não se salva somente pela sua extraordinária história e elenco, mas também, por todo conceito artístico cuidadosamente montado para entregar ao espectador, um produto de qualidade acima da média. 

Saltburn | Crítica do filme do Prime Video com Barry Keoghan

Saltburn mostra o quão imundo e manipulador o ser-humano é quando lhe convém, mostrando que a confiança e bondade não costumam existir em meios da alta e baixa cúpula. Acima do amor e ódio, a manipulação é quem reina em pessoas que tendem a tirar vantagem de tudo e todos; e a nova obra prima de Emerald Fennell mostra tudo isso com muita maestria através de reviravoltas inesperadas, chocantes e bárbaras. Se não fosse por uma trama tão sutilmente agressiva, Saltburn não seria o que ele é, sendo necessário explorar e romantizar até certo ponto, a podridão humana. 

NOTA: 5/5