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Torre Lista #3 | Animês de 2021

O que seriam tradições se não a inércia te forçando a fazer algo simplesmente por sempre ter feito aquilo? A ideia de que precisamos fazer uma retrospectiva ao final de cada ano não é necessariamente verdade, e ano após ano, penso sobre a futilidade da existência e sobre a efemeridade da vida humana… Mas acabamos fazendo a lista de melhores animês do ano de qualquer forma!

2021 teve seus (poucos) altos e (vários) baixos, tanto num contexto geral, como para as animações japonesas. Embora falar mal de coisas dê ibope, preferimos comentar sobre o que o redator mais gostou ao longo das quatro temporadas, fazendo um top 10 dos shows que o leitor médio da Torre provavelmente não vai querer assistir.

Esse ano, teremos apenas eu (Vini) comentando sobre sua lista, mas, para compensar, tentei fazer uma postagem mais legal e engajada. Depois me digam se deu certo ou não, beleza? Sem mais delongas, segue:

Décimo lugar: "Tropical-Rouge Precure"

10. Tropical-Rouge Precure

Onde assistir: Crunchyroll
Leia mais: Um pouco de esperança com “Pretty Cure” (Tecnicamente sobre a temporada anterior, mas o sentimento ainda vale!)

Para abrir a lista, nada como garotas mágicas e sereias, não é mesmo?

Depois de uma temporada um pouco mais reflexiva e contida (que foi Healin’ Good Pretty Cure), Tropical-Rouge veio com tudo para uma temporada animada, pra cima e super agitada, uma atmosfera divertida que realmente fez falta no ano passado. Trazer o tema de “motivação” em um ano tão conturbado como 2021 foi um acerto da série, pois semana após semana, a alegria das protagonistas (em especial da Manatsu, dublada pela talentosíssima Ai Fairouz) era contagiante, te enchendo de sentimentos positivos para encarar a semana que chegava.

Além disso, por ser uma temporada mais “reativa”, onde as garotas apenas respondiam aos perigos apresentados pela Bruxa da Protelação e seus lacaios, tivemos muito tempo para ver o dia-a-dia e as aventuras “mundanas” das personagens. Isso deu espaço para bastante desenvolvimento de cada uma delas, além de diversas situações engraçadas e emocionantes ao longo do ano.

Para quem já conhece a franquia, “Tropical-Rouge” foi uma ótima temporada, potencialmente rivalizando com algumas das favoritas do fandom. E para quem não conhece, pode servir como uma excelente apresentação, por ser agitada o bastante para não se tornar chata.

Mas é claro que eu recomendaria, afinal, se não recomendasse, não estaria no meu Top 10, não é mesmo?


Nono lugar: "Combatants Will Be Dispatched!"

9. Combatants Will Be Dispatched!

Onde assistir: Funimation (Também disponível dublado!)

Claro que não seria uma lista minha se não estivesse repleta de comédias. “Combatants Will be Dispatched!” é apenas a primeira comédia pura a entrar aqui, mas mesmo estando em nono lugar, certamente não decepciona.

Sendo do mesmo autor de “KonoSuba!” (que eu já falei sobre antes), você deve saber exatamente o que está te esperando: Uma história exagerada, baseada em um humor com requintes de crueldade e perversão (no bom sentido! Eu acho).

A comparação com sua obra-irmã é inevitável. As duas são, na minha opinião, a mesma coisa com apresentações diferentes. Você prefere um belo bolo de morango ou uma charmosa torta de morango? Independente do que você escolher, o recheio será o mesmo. A ideia acaba sendo mais ou menos essa. “KonoSuba!” é uma obra intrinsecamente mágica e medieval, enquanto “Combatants” se passa num mundo com conceitos modernos e tecnológicos… Mas no final, os dois se baseiam no mesmo tipo de humor e possuem elencos semelhantes.

Na prática, o que quero dizer é que se você gostou de “KonoSuba!”, você vai gostar de “Combatants Will be Dispatched!”, e vice-versa. Agora, se não gostou… Bem, a lista só está começando! Segue dando scroll aí, que ainda tem muitos shows de 2021 para ver.


Oitavo lugar: "The Saint's Magic Power is Omnipotent"

8. The Saint’s Magic Power is Omnipotent

Onde assistir: Funimation (Também disponível dublado!)
Leia mais: Buscando uma vida tranquila em outro mundo

Procurando uma história séria, mas que ainda seja leve e divertida? Cansado de animês sobre adolescentes, e queria um elenco de adultos, pensando e agindo como adultos? Adora quando personagens fazem carinhas caricatas super engraçadas? Se respondeu “sim” para ao menos uma dessas perguntas, talvez você devesse dar uma chance para nossa Santa Sei.

Eu sei que é um isekai, e eu sei que é uma história com elementos mágicos super fantasiosos… Mas é um show tão gratificante de se acompanhar, que até mesmo quem não vai bem com esses elementos pode acabar gostando. A jornada da protagonista, Sei, de tentar conseguir viver a vida tranquila que nunca pôde ter no mundo real, é muito fácil de se identificar com, e cada desenvolvimento é retratado por uma ótica tão pé-no-chão e realista que você se sente no lugar dela muito facilmente.

Embora não seja uma comédia, tem sua boa dose de humor, e seu clima leve é ideal para relaxar depois de um dia cansativo de trabalho.


Sétimo lugar: Animê "The Case Study of Vanitas"

7. The Case Study of Vanitas

Onde assistir: Funimation e, a partir de algum dia de janeiro, também na Crunchyroll (Também disponível dublado!)

Agora que coloquei os dois lado a lado na lista, “The Case Study of Vanitas” e “The Saint’s Magic Power is Omnipotent” tem uma vibe bem similar… Claro, são animês completamente diferentes, com públicos diferentes e ideias diferentes, mas ambos passam a mesma impressão de uma história séria, mas nem tanto; com humor no tempo certo e muitas carinhas caricatas; um elenco majoritariamente de adultos e que na maioria das vezes tem noção do que estão fazendo… É, dá pra enganar um ou outro com isso.

Vanitas” é, claro, uma obra de arte visual. Um show sobre vampiros, situado em uma hipotética Paris do século XIX? Seria incrível fazer algo que não fosse extremamente bonito e elaborado. Mas a obra se apoia em sua beleza técnica sem usá-la como bengala. Suas personagens são intrigantes e falhas, dando a elas uma sensação de realidade, de humanidade (até mesmo para os vampiros); e sua história está sempre se movendo, sempre indo numa direção que você não espera, e te deixando com vontade de saber mais e mais sobre aquele mundo.

E se “Vampiros sexy lutando em batalhas super coreografadas e com uma história incrivelmente interessante” não for o suficiente pra te convencer, você pode se interessar ao saber que Noè, um dos protagonistas, possui um gato gordinho e preguiçoso super fofo ain que coisa mais fofinha… Ou, se interessar em tentar cancelar Vanitas, o outro protagonista, que faz algo politicamente incorreto quase que diariamente.

São opções válidas de entretenimento em 2021.

Ah, sim, e a segunda temporada vai começar agora em Janeiro, então é um ótimo momento para você ficar em dia e acompanhar semanalmente os novos episódios.


Sexto lugar de 2021: Animê "The Aquatope on White Sand"

6. The Aquatope on White Sand

Onde assistir: Crunchyroll
Leia mais: “The Aquatope on White Sand” e o pecado de amar demais

A postagem sobre “Aquatope” saiu há pouco, e por causa disso, eu honestamente não tenho muito mais para dizer sobre o animê. Dá uma olhada no link ali em cima.

Em resumo, o último animê “sério” da lista é uma história passageira sobre magia e realismo. Outra super-produção técnica da P.A. Works, e se você conhece esse nome, já deve ser mais que o suficiente. E se não conhece, eu expliquei na postagem ali em cima. Vai lá ver.

Apenas um comentário engraçado e parcialmente fora do assunto: Vi pessoas comentando que “Aquatope” passa uma impressão de ser “muito yuri”. Acho que é uma questão de referência, né? Eu, particularmente, diria que está bem longe de ser ou ser sugestivo, mas até entendo que pessoas não muito acostumadas com o gênero “Yuri/GL” possam ter essa impressão. Enfim, só trazendo essa experiência para deixar esse tópico um pouco maior.


Quinto lugar de 2021: Animê "Osamake: Romcom Where The Childhood Friend Won't Lose"

5. Osamake: Romcom Where The Childhood Friend Won’t Lose

Onde assistir: Crunchyroll

Para começar a sequência de comédias que vai fechar a lista (sim, é tudo comédia daqui pra baixo), acho razoável voltar às minhas origens e colocar uma comédia-romântica baseada em uma Light Novel com título imenso e que serve de sinopse para a obra.

Osamake” é uma péssima adaptação para uma péssima história. Isso precisa ser dito logo de cara para alinharmos nossas expectativas. Acontece que até mesmo um carro desgovernado e em chamas pode servir para algo, e esse animê é um exemplo claro disso: Nem tudo precisa ser levado a sério; Nem tudo precisa ser tecnicamente perfeito; Nem tudo precisa fazer sentido ou ser coeso ou simplesmente ter sido pensado por mais de três segundos antes de ser colocado no papel. E tudo bem. “Osamake” é uma comédia absurda, mas não de propósito. Ela é absurda por todos os problemas que ela tem, de forma que a coisa fica ironicamente boa.

O clássico “desligue o cérebro e aproveite a calcinação mental”, sabe? Pois o que eu me diverti com esse animê não está escrito, mesmo sabendo que é uma das piores coisas que eu já consumi, tanto em 2021, como na vida. Adoraria ver mais, e você talvez também adore. Dá uma chance pro coitado.


Quarto lugar de 2021: Animê "The Quintessential Quintuplets 2"

4. The Quintessential Quintuplets 2

Onde assistir: Crunchyroll
Leia mais: O destino de comédias-românticas com “As Quíntuplas”

Única continuação da lista, e está numa posição bem alta, ein! Bem, se considerar que a primeira temporada tinha ficado em 1º lugar no seu ano de lançamento, 4º lugar é até que uma queda considerável. E acho que isso reflete bem o que houve com a série.

Como comentei na postagem, “As Quíntuplas” é uma das minhas comédias-românticas prediletas. Essa nova temporada pode ter sido um pouco menos engraçada que a primeira, por conta da carga de drama obrigatória, mas ainda se manteve muito bem, e mesmo com essa leve queda, ainda ficou melhor que muita coisa. A mudança de estúdio, a adição de novos personagens secundários, o avanço no relacionamento das personagens e, especialmente, a dedicação em manter a comédia mesmo no meio do drama, foram pontos que renderam o quarto lugar do ano à essa série que vai ser finalizada em um filme…

Ah, como eu odeio filmes que dão continuidade a séries…


Terceiro Lugar de 2021: Animê "The Vampire Dies in no Time"

3. The Vampire Dies in No Time

Onde assistir: Funimation (Também disponível dublado!)

Falar de “The Vampire Dies in no Time” vai ser complicado. Eu gostei tanto do animê que eu queria ter feito uma postagem só para ele, falando sobre suas qualidades e o quão divertido ele é. Mas eu não consegui. Estamos falando de uma comédia clássica, que funciona na base do grito e do absurdo. E eles são muito bons nisso. Acontece que… Como podemos falar sobre gritos e absurdos? Eles só fazem sentido em contexto, e é justamente o contexto que faz a graça do show.

Talvez o mais legal é que a parte técnica do show foi utilizada muito bem, fazendo piadas visuais que complementam a conversa, e uma direção de áudio que só perde para o próximo da lista. Fora que né, botar Jun Fukuyama e Makoto Furukawa para gritar entre si por três meses é uma decisão genial.

Prêmio de melhor abertura e de melhor mascote de 2021 vão para “The Vampire Dies in No Time”, também. Abraços para o John!


Segunda lugar de 2021: Animê "Girlfriend Girlfriend"

2. Girlfriend Girlfriend

Onde assistir: Crunchyroll
Leia mais: Primeiras Impressões | Girlfriend Girlfriend

Se você entendeu a dica que eu dei no item anterior, teria certeza de que o segundo colocado da lista só poderia ser “Girlfriend Girlfriend”.

A postagem que temos sobre o show é uma de “Primeiras Impressões”, onde eu escrevi tendo visto apenas dois episódios do animê. Relendo o que eu disse lá, não tenho muito o que acrescentar, pois a qualidade, a graça e a falta de bom senso que eu tanto elogiei no começo, se mantiveram até o fim.

Inclusive, minha nossa, eu fiquei muito feliz que a história se manteve boba e sem se levar a sério por toda a duração do que foi adaptado. Seguimos os doze episódios com o mais puro suco de Manzai, com música, efeitos sonoros e dublagem que deixavam tudo dez vezes melhor (ou pior, mas nesse caso, são termos equivalentes).

Os avisos de antes se mantém, porém: Estamos em 2021! Você precisa esquecer qualquer coisa e simplesmente assistir o show pelo que ele tenta ser. Não tente racionalizar ou questionar a situação, pois o próprio animê não tenta. Estamos aqui para dar risada de uma situação hipotética, e eles fazem isso muito bem!


Primeiro lugar de 2021: Animê "I've been killing slimes for 300 years and maxed out my level"

1. I’ve Been Killing Slimes for 300 Years and Maxed Out My Level

Onde assistir: Crunchyroll (Também disponível dublado!)
Leia mais: Buscando uma vida tranquila em outro mundo

E chegamos ao grande campeão, o animê que eu julguei como sendo o melhor do ano de 2021. Aquele que eu mais gostei, que mais me marcou, e que eu lembrarei por mais tempo: Fiquei matando gosmas por trezentos anos e cheguei no nível máximo.

Não há uma única coisa ruim que eu possa falar sobre “Killing Slimes”. Não existe um único defeito. Literalmente perfeito do início ao fim. Eu me diverti em todos os episódios, tanto com o humor que me fez dar gostosas risadas, como com todo o clima positivo e alegre que a Azusa e família proporcionam.

E já que citei, acho legal comentar sobre o episódio 10, que foi o momento onde eu decidi de vez que esse seria o meu animê predileto do ano. Não estou exagerando nem um pouco quando digo que é possivelmente um dos melhores episódios individuais de animação que eu já assisti, tanto em 2021, como na minha vida. É um arco de desenvolvimento de personagem completo e emocionante em meros 24 minutos.

Aplaudo de pé.


Menção Honrosa: Animê "Vlad Love" (Não é de 2021, mas...)

Menção Honrosa: Vlad Love

Onde assistir: Crunchyroll
Leia mais: Vlad Love é uma declaração de amor ao caos

Eu precisava roubar um pouquinho, desculpa.

Tecnicamente falando, “Vlad Love” teve seu primeiro episódio lançado em 18 de dezembro de 2020, fazendo com que ele não seja, de fato, um “animê de 2021”… Mas com quase todo o resto tendo saído em 2021, eu acho válido pelo menos citá-lo nesta lista, especialmente por tudo que ele fez.

Mamoru Oshii é um nome que carrega muitos significados, que variam de pessoa para pessoa. Para mim, ele representa o ápice da comédia absurda e do anti-humor. “Vlad Love” foi a maior declaração de amor ao gênero que o diretor poderia fazer, e eu respeito essa paixão com essa dedicatória.


Muitos bons títulos ficaram de fora da lista, seja pela competição acirrada, ou seja por eu não ter tido tempo o suficiente para assistir tudo que eu queria (Prometo que vou assistir ODDTAXI algum dia). Mas acho que, no geral, os onze animês citados mostram um excelente cenário e uma ótima seleção de comédias – com algumas coisas sérias no meio.

E você? Qual foi o seu animê predileto de 2021? Concorda com a opinião do nosso redator? Ajude com o engajamento das redes sociais e comente sobre o quão certo ou quão errado eu estou, e fiquem ligados para mais conteúdo no ano que chega amanhã!

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A Leitura Que Me Fez Bem! As Indicações de 2021!

Em todo mês de dezembro, surgem as famosas “listas dos melhores do ano”. Ano passado, resolvemos criar algo diferente e juntamos um time de pessoas que fazem parte da mídia de quadrinhos, ou então que fazem quadrinhos ou que são leitores, e criamos A Leitura que Te Fez Bem. Aquele gibi ou livro que te fez bem no ano que passou, que tenha mexido com você de alguma forma.

Esse ano juntamos uma galera de primeira linha e pedimos para realizar a mesma coisa. E o resultado foi muito bom.

Principalmente, por que esse ano reuniu algumas resenhas de quadrinhos nacionais e de uma galera que… digamos… é mais “underground”. O que é bom, por que se tem uma coisa que eu adoro é divulgar a galera dos quadrinhos nacionais. Principalmente a galera lá da labuta.

Mas também temos arrasa quarteirões como X-Men do Jonathan Hickman, Incal, temos mangá, livros e a maravilhosa Berlim. Ou seja, tem para todos os gostos. Se te fez bem, se colocou sua massa para pensar, se te deu um alivio e te divertiu. Então o gibi cumpriu a sua missão.

Um time lindo, cheiroso e talentoso, colocou aqui suas leituras que, de alguma forma, marcaram ou que ficou na mente esse ano e indica para você, queridaço leitor! E aqui está a leitura que fez bem para todos nós:

Quadrinhos Azedos Vol. 0 (Felipe Limão) – Por Ricardo Ramos

O quadrinista e professor Felipe Limão não fez uma coletânea com suas histórias. Ele agiu como a música da banda Engenheiros do Hawaii chamada Armas Químicas e Poemas: “Eu abri meu coração, como se fosse um motor. E na hora de voltar, sobravam peças pelo chão. Mesmo assim eu fui à luta…” sim, Felipe foi a luta e apresenta um dos quadrinhos mais sinceros que transbordam sentimentos que li esse ano. Ele junta tudo que vivenciou na pandemia do COVID-19 desde o ano passado, em relação a seu relacionamento, vida financeira, raiva do negacionismo, medo de perder pessoas queridas, conviver com perdas cada vez mais próximas… e também a alegria de reencontrar parentes, amigos e uma retornada a “vida normal”.

Quadrinhos Azedos V.0 reúne essas passagens e também trabalhos do Felipe Limão publicados em 2019 como a excelente Tempo Acúmulo. Em uma viagem existencial, onde tudo depressão e desanimo batem de frente com esperança e a alegria de uma vida simples, Quadrinhos Azedos é um espelho para muita gente que se vê nas situações do Felipe.

Para poder ter o seu exemplar, você pode entrar em contato direto com o autor pelo Twitter ou assinando a sua campanha no Padrim.


Manual do Minotauro (Larete) – Por (Laura Athayde – designer, ilustradora e quadrinista)

Eu adoro quadrinhos, mas eu AMO tirinhas! Não é à toa que esse é o formato que mais exploro no meu trabalho. Acho que tirinhas têm um potencial imenso de provocar reflexões e sentimentos com poucos e bem pensados quadros. Por isso, a minha leitura preferida do ano (que, na verdade, ainda não terminei) é o Manual do Minotauro, da Laerte. Bem conhecida pelas tirinhas com personagens engraçados e charges de cunho político, em 2004 Laerte começou a testar formas diferentes de fazer quadrinhos.

Ela foi pra um caminho mais filosófico e experimental, e são esses trabalhos que estão compilados no Manual do Minotauro. O livro tem mais de 1.500 tirinhas, a maioria delas composta de 4 quadros. E é incrível ver tantas formas diferentes que a autora encontrou de preencher esse espaço!

Manual do Minotauro é uma publicação da Quadrinhos na Cia.


X-Men (Jonathan Hickman) – Por Konema (Podcaster do HQ Corp e comentarista de NBA no Twitter)

Meu prêmio de melhor quadrinho do ano vai para os X-men de Jonathan Hickman!

Não é de hoje que a gibisfera rasga elogios ao Hickman e nessa fase dos mutantes não poderia ser diferente! Depois de anos de história de sofrimento com lapsos de sucesso, Jhonathan vem para escrever um épico mutante onde a raça Homo-Superior finalmente irá PROSPERAR no universo Marvel!

Tem como isso ser ruim?

Esse foi o melhor título que li esse ano, disparado, chegava a da crise de ansiedade esperando a próxima edição, coisas como a formação da nação mutante Krakoa a planos “sem falhas” do futuro da raça mutante arquitetado por Magneto e Xavier em cima de uma pilha de segredos.

Um dos pontos mais altos para mim é como o Hickman escreve o Ciclope, Scott Summer tomou no meu coração o primeiro lugar antes conquistado pelo Logan, neste título ele contempla que FINALMENTE a raça mutante chegou a um patamar onde não está mais se matando, onde não a mais necessidade de revolução ou guerras e que finalmente eles têm uma terra para chamar de sua, ele nunca teve isso e vai lutar com tudo o que tem para manter, é apaixonante ver a evolução do personagem de aluno, líder, revolucionário para agora protetor!

Eu poderia perder horas falando desse título, até já fiz isso em outras mídias, mas fica aqui para vocês a melhor leitura do meu ano de 2021.

X-Men é publicado no Brasil pela Panini Comics.


Dez Dias num Hospício (Nelly Bly) – Por Raphael Fernandes (Editor-Chefe da Editora Draco e sangue bom demais)

Dez Dias num Hospício, de Nelly Bly, foi uma grata surpresa e acredito que foi o livro mais interessante que li este ano. Trata-se de uma reportagem de 1887 sobre o sistema manicomial norte-americano, que foi escrita por uma das pioneiras do jornalismo investigativo.

A jovem Bly conseguiu forjar facilmente a própria condição mental e testemunhou como funcionava o encarceramento de mulheres em instituições para “tratamento” de pessoas com algum tipo de distúrbio mental. Uma reportagem brutal, muito bem escrita e que revela que o inferno somos nós.

Dez Dias num Hospício é uma publicação da Editora Fósforo.


Tecnodreams (Isaque Sagara) – Por Monique Mazzoli ( Podcaster Yellow Paper, HQ Corp e redatora da Torre de Vigilância)

Meu quadrinho escolhido do ano de 2021, entre muitos que eu também gostaria de falar, é o Tecnodreams do Isaque Sagara. Tecnodreams aborda um cenário futurista, mas que infelizmente ainda está preso em questões do passado, uma realidade ainda muito atual para todos nós, como a desigualdade social e a ideia errônea da meritocracia.

A HQ narra como a possibilidade de obter um pouco mais de poder sobre o próprio destino, ainda que em um mundo de realidade virtual, faz com que o ser humano passe rapidamente de oprimido a opressor. Com o Slogan: “Seja o que você quiser” a tecnologia Orion, da empresa Tecnodreams, faz com que seus maiores sonhos e desejos estejam a um passo de distância, basta desejar.

O trabalho do professor e quadrinista Isaque Sagara, sempre aborda questões sociais, mostrando como ainda vivem boa parte dos brasileiros, com temas pertinentes a serem debatidos, independente do cenário apresentado. Recomendo demais, não apenas esta HQ, como também seus outros trabalhos.

Tecnodreams é uma publicação do selo Negrogeek.


Dampyr (Mauro Boselli e Maurizio Colombo)  – Por  Caio Oliveira (Cantinho do Caio e o mais amado pelo fãs do Snydercut)

Quando me pediram pra resenhar o melhor gibi que li em 2021, eu tive que parar e pensar bastante pra lembrar qual foi. Não que não tenha lido coisas incríveis esse ano, mas: 1- queria evitar cair em Demolidor do Zdarsky ou Hulk do Ewing; 2- o grosso do que tenho lido nos últimos anos são compilações gringas de gibis velhos que li nos anos 80 e 90, e não sabia se isso funcionaria na proposta que me pediram. Foi então que me decidi por Dampyr, da Editora 85, que tá fazendo um excelente trabalho editorial em suas publicações. Dampyr nem sequer é meu fumetti favorito em bancas atualmente (esse seria Mágico Vento), mas eu tenho um carinho especial por Harlan Draka e seus companheiros por ter sido o primeiro fumetti que comprei em bancas, em 2004, quando ainda era publicado pela Mythos. Eu já lia Ken Parker, Dylan Dog e Mágico Vento que comprava em sebos, mas comprar a edição na banca me pareceu na época um ato de traição contra os gibis americanos, meu xodó na época! Me senti ousado e aventureiro!

Mas do que trata Dampyr? É a velha história de um caçador de vampiros filho de um vampiro mais poderoso. O diferencial de Dampyr é a ambientação, quase sempre as histórias se passam em cidades do leste europeu (em especial Praga) onde eclodem guerras civis, um prato cheio pros vampiros, que se banqueteiam. Na edição 7 da Editora 85, nós temos 4 histórias, 3 delas escritas por Mauro Boselli e uma escrita por Maurizio Colombo, os criadores do personagem. Eu prefiro a escrita do Boselli, acho mais fluida, em especial na história que abre a edição, “Pesadelo Flamengo”, sobre dois amigos idosos envoltos no mistério  do assassinato de seus velhos conhecidos de infância, numa trama de terror que deixaria Dylan Dog orgulhoso! Isso com a arte magistral de Luca Rossi (aliás, todos os artistas dessa edição 7 são fantásticos!).

Enfim, Dampyr é um bom gibi pra quem procura ação, terror e até um pouco de tramas históricas. Recomendo demais!

Dampyr é publicado no Brasil pela Editora 85.


Laura Dean Vive Terminando Comigo (Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O’Connell) – Por Fabi Marques (Colorista e podcaster do 1001 Crimes e DFP)

Laura Dean Vive Terminando Comigo é uma daquelas hqs que a gente lê de uma vez só e depois fica olhando pra parede se sentindo órfão.
Os personagens são tão bem escritos que a gente vive todo o ciclo de estar preso em um relacionamento tóxico e sente o frio do coração de gelo de uma pessoa que não está emocionalmente disponível, no caso, a Laura Dean.

O enredo é muito bem construído, no meio existe uma certa confusão que é exatamente o sentimento de um relacionamento abusivo não linear, com seus altos e baixos muito baixos mesmo.

Um quadrinho que mostra que todes nós estamos sujeitos a cair em armadilhas tóxicas e não é nossa culpa. Um quadrinho que pode ajudar a curar um coração partido mas também ensinar outras pessoas a terem mais empatia, enquanto mostra o verdadeiro valor das amizades e que você não está só.

Laura Dean Vive Terminando Comigo é uma publicação da editora Intrínseca.


Detrito – do caos a lama (João Carpalhau, Alex Genaro e Cristiano Ludgerio) – Por Paloma Diniz (Desenhista e quadrinista)

Sinopse: a história se passa na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, e narra o dia a dia de Renato Barros, um professor que está num momento muito ruim e delicado em sua vida pessoal e profissional. Como se não pudesse piorar mais, acontece um acidente químico após um assalto a um carro com carga radioativa na cidade. O que mudará completamente a vida do Renato e das pessoas na história. Baseada em fatos trágicos e reais que ocorreram em 2012 na cidade de Duque de Caxias-RJ, apesar de ficcional, traz muito da realidade brasileira.

Pessoalmente, é uma HQ na qual me identifico e que gostei muito em todos aspectos: uma HQ brasileira, feita por brasileiros, ficcional e bem embasada na nossa vida; uma história completa (com começo, meio e fim), num formato fácil de manusear, confortável de ler, e o melhor: preço acessível. Pra mim, o melhor de uma produção brasileira em todos os quesitos. Precisamos de mais HQs como estas.

Detrito – do caos a lama é uma publicação da Capa Comics.


Ao No Flag (Kaito) – Por Bruno Fonseca (Editor-Chefe do site Proibido Ler)

Sabe aquelas leituras que não exige nada do leitor? Você não tem que ter conhecimento prévio de nada, nem precisa se esforçar muito pra entender a trama. É sentar, ler e se divertir de um jeito simples e prazeroso. Assim é Ao No Flag, mangá escrito e ilustrado por Kaito.

Na história, três jovens estão naquele período de se formar no Ensino Médio e entrar na faculdade. Um período cheio de dúvidas e incertezas, mas que ficarão menos pesado por conta dos protagonistas. Aqui, todo mundo gosta de todo mundo, mas ninguém tem coragem de assumir e eles vão de um jeito único se entendendo e te cativando. Leitura boa para desestressar e relaxar.

Ao No Flag é publicado no Brasil pela Panini Comics.


Incal (Alejandro Jodorowsky  e Moebius) – Por Carlos Pedroso (Yellow Paper poscast)

Um dos quadrinhos que me marcou em 2021 foi Incal, escrita por Jodorowsky e desenhada por Moebius, da editora pipoca e nanquim. Incal apresenta um futuro distópico cheio de bizarrices, ação e aventura capazes de me fazer imaginar no mundo real como tudo isso seria. Com uma visão particular para um futuro a autor nos apresenta a uma intriga intergaláctica ala Star Wars, cheio de inimigos perigosos que querem dominar o universo e aliados inesperados. Incal conseguiu me prender da primeira à última página com maestria, e conforme fui entrando e conhecendo seus personagens fiquei de boca aberta com o roteiro e artes casam de uma forma única, construindo todo universo e com seus personagens cheio de camadas e história bizarras.

Particularmente o querido Jonh Difoo que mais parece um velho rabugento que só sabe reclamar, foi sem dúvida o melhor personagem. Sempre reclamando de algo, o duvidando o tempo todo e sendo o herói improvável. Outro que me cativou foi o Metabarão, personagem frio e calculista, cheio de manias mais parecido com o “Hitman do jogo”, o Metabarão deu um ar de filmes dos anos 80 para a trama. O mais interessante é que todos os outros personagens são importantes para o desenvolvimento da trama e tem seu momento. E meu, que história concisa, densa e cheia de reviravoltas e surpresas que te prende e te faz querer chegar ao final para descobrir o que vai acontecer com nossos heróis.

Com uma arte impecável e roteiro sensacional, Incal sem dúvidas é uma das melhores leituras que fiz nesse ano fácil. Um adendo, cara que cores tem esse quadrinho, com uma coloração viva que realça todos os ambientes, além de destacar em detalhes os ambientes, planetas e pessoas. Esse é o tipo de quadrinho, com uma combinação perfeita na minha opinião como fã de ficção científica e tem tudo para quem gosta do gênero, viagem espacial, tramas bem elaboradas, uma visão distópica do futuro e muita ação.

Incal é uma publicação da editora Pipoca & Nanquim.


Berlim (Jason Lutes) – Por Léo Palmieri (Podcaster Gibi Nosso de Cada Dia e fundador do site Crossover Nerd)

Imagine acompanhar algumas vidas durante o conturbado período de 1928 a 1938 em Berlim. Neste incrível quadrinho, Jason Lutes conseguiu sintetizar de forma magistral, acontecimentos incríveis na vida de pessoas comuns na cosmopolita Berlim dos anos 30. Aqui, vemos como foi a ascensão do Nazismo frente a todas as situações ideológicas possíveis, bem como este regime totalitário se utilizou de toda a cultura e informação para, aos poucos, estabelecer o seu poder.

Jason Lutes demonstra neste trabalho, que além de uma narrativa sem igual (beirando a cinematográfica em algumas situações), domina muito da história da Alemanha. Os Embates dos Nazistas contra os comunistas, a troca de situações quase novelescas, o auge e queda de pessoas, comércio, cultura e liberdade. Berlim não é uma obra fácil de se digerir, se você não for uma pessoa empática. Esse quadrinho me tocou muito nesse ano.

Berlim foi publicada pela Editora Veneta.


Juquinha: O Solitário Acidente da Matéria (Max Andrade) – Por Gabriel Ávila (Jornalista do site Jovem Nerd)

Juquinha: O Solitário Acidente da Matéria é a típica HQ que engana o leitor. Se você confiar na sinopse, vai achar que está comprando um “mangá sobre aceitação e amadurecimento em uma realidade” – o que não é mentira, mas não é toda a verdade. Partindo desta ideia, que parece simples, Max Andrade (Tools Challenge) constrói uma história que é ao mesmo tempo grandiosa e metalinguística, como também é intimista e sincera.

É nesse equilíbrio de coisas que parecem antagônicas que esse quadrinho sustenta em uma história cativante as infinitas referências que habitam a mente de um dos maiores talentos dos quadrinhos. E faz tudo isso com uma sinceridade vibrante que torna a experiência memorável e o Juquinha um dos mais queridos personagens das HQs.

Vida longa ao Juqs!

Juquinha: O Solitário Acidente da Matéria é uma publicação da Editora Draco.

 

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Não Olhe para Cima e sua crítica extremamente certeira aos tempos modernos

Depois de dois anos cercados por fake news e diferentes conflitos, não só políticos como também em relação ao gigantesco negacionismo da ciência diante da atual pandemia que vivemos, chega na Netflix o mais novo longa do diretor Adam McKay, Não Olhe Para Cima (Don’t Look Up), que visa justamente demostrar uma crítica certeira aos tempos modernos e sombrios que vivemos por meio de um humor ácido aplicado com maestria e por bons momentos mostrados em tela – que, infelizmente, se coincidem e muito com a realidade.

Don't Look Up' Netflix Review: Stream It or Skip It?

Em Não Olhe para Cima, acompanhamos o doutor Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e sua doutoranda, Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence). Após descobrirem que um cometa localizado em nosso sistema solar está prestes a colidir com a Terra e que apresenta 99,8% de chance de dizimar toda a espécie humana em seis meses, os astrônomos decidem avisar a Casa Branca. Com a ajuda do doutor Oglethorpe (Rob Morgan), os dois tentam alertar não só a presidente (Meryl Streep) e o seu filho Jason (Jonah Hill), como também todo o mundo antes que o pior aconteça.

Com uma trama que chega a ser clichê se comparado a filmes que retratam uma catástrofe, Adam McKay consegue dirigir com maestria o roteiro e satiriza todos os elementos que estão presentes em um filme do gênero utilizando, não só eles, como também outras figuras de linguagem como uma forma de criticar toda a situação atual, não só de interesses políticos e econômicos diante de determinada situação como também do negacionismo extremo perante aos dados expostos cientificamente – seja no cenário da atual pandemia como em eventos passados, junto com a geração de fake news e conflitos por viés político.

Don't Look Up tem 63% de aprovação do Rotten Tomatoes

A forma como o diretor decide trabalhar esta sátira misturando elementos da vida real com os ficcionais perante a situação que envolve a trama é bastante interessante, feita através de um humor ácido bem aplicado e por meio de sátiras dos principais talk-shows e empresas de tecnologia norte-americanas. Entretanto, durante a exibição do filme, ele se perde nisso e, ao apertar sempre na mesma tecla, torna uma experiência que antes estava agradável em arrastada e repetitiva – principalmente a partir da metade do segundo ato.

Além disso, McKay tenta alarmar a situação subestimando toda a população e fazendo com que todos os personagens do filme (além dos protagonistas) apresentem tal comportamento negacionista. Porém, isso não tira o brilho do filme: o seu argumento é bem estabelecido e a sua mensagem é transmitida de forma clara e precisa, da melhor forma possível e no tempo necessário.

Confira o que inspirou a temática do filme Don't Look Up, disponível na Netflix

Quanto ao elenco, é impossível não elogiar os nomes de peso presentes nele. Leonardo DiCaprio está sensacional e transmite todas as nuances de sua personalidade, um cientista que antes tem problemas de ansiedade e não consegue falar com o público sem utilizar termos técnicos se torna uma certa celebridade da televisão. Junto a ele, Jennifer Lawrence vive uma doutoranda que expressa de forma nítida seus sentimentos e se equilibra perfeitamente com o personagem de DiCaprio.

Meryl Streep interpreta com maestria o papel de uma presidente irresponsável que nega com todas as forças a situação que está por vir, sendo o principal elemento de sátira da trama. Um problema deste elenco de peso é que, diante de tantos nomes bons da indústria, alguns ficam ofuscados e seus personagens acabam sendo esquecidos na trama, como é o caso de Jonah Hill ou de Timothee Chalamet.

Don't Look Up Review: An All Star Apocalypse in Adam McKay's Satire | Den of Geek

Então, é bom?

Não Olhe para Cima é um filme excelente e que foi lançado no tempo certo. Sua temática, apesar de clichê, utiliza elementos satíricos como uma forma certeira de criticar toda a situação que vivenciamos desde o ano passado e que vem crescendo com o tempo.

Adam McKay consegue amarrar do melhor jeito possível todas essas informações e dirige com maestria o projeto. Além disso, o elenco de peso ajuda na composição do longa e nos traz uma excelente reflexão, não só do tempo que vivemos, como do que está por vir e o que precisamos fazer para mudar o cenário de forma mais rápida possível.

Nota: 4/5

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Detective Comics

‘Gioconda’ celebra o amor e a arte por Da Vinci

Vencedora do edital de quadrinhos do ProAC em São Paulo no ano passado e lançado ainda este mês pela Nemo, Gioconda nos conta uma história apaixonante e entrega uma celebração, não só do amor entre duas pessoas como também ao amor que temos pela arte e, além disso, homenageia com maestria todo o trabalho do grandioso Leonardo Da Vinci.

Em Gioconda, acompanhamos Francisco: um imigrante brasileiro que mora em Paris e trabalha no famoso museu do Louvre como faxineiro, sendo o responsável pelo andar no qual se encontra a Monalisa – a famosa obra de DaVinci. Como um grande amante das artes e admirador da obra, o protagonista acaba se apaixonado pela criação de Leonardo DaVinci e pelo seu misterioso sorriso. Até que, em um certo momento, ele encontra uma mulher extremamente semelhante à obra do pintor enquanto andava no metrô da cidade

Com uma trama simples e, relativamente curta, Gioconda consegue se mostrar como uma obra simples e bela que cativa o leitor do início ao fim. É interessante observar que a obra não se restringe apenas em exibir nas páginas toda essa relação entre Francisco, a obra e Elisa – a mulher pelo qual Francisco se apaixona. Além de trabalhar o mistério por trás da semelhança física entre a Elisa e a obra de arte, o quadrinho também aborda, mesmo que brevemente, a xenofobia que o brasileiro sofre em outros lugares.

A história feita por Felipe Pan consegue, com a sua simplicidade, arrastar o leitor mas o grande mistério principal que marca a obra. Além disso, as ilustrações de Olavo Costa com a coloração de Mariane Gusmão casam de forma perfeita e com um grande brilhantismo onde se nota todo o carinho pelo qual a obra foi feita, além da paixão pela mesma.

De fato, um dos únicos pontos negativos da obra é a sua numeração de páginas: por mais que consiga apresentar uma excelente narrativa e expor suas ideias de forma clara, a trama é relativamente curta e diversos assuntos que poderiam ser mais desenvolvidos acabam passando despercebidos ou são deixados de lado com o tempo.

Por fim, celebrando o amor pela arte e homenageando de forma incrível as obras de DaVinci, além de abordar temas importantes, como a xenofobia, em algumas de suas páginas, Gioconda é um quadrinho cuja a simplicidade encontra a beleza e nos entrega uma história formidável da forma mais linda possível, aquecendo o coração do leitor até o fim.

Número de páginas: 112
Capa: Papel Cartão
Editora: Nemo
Data de Publicação: 15 de Dezembro de 2021
Dimensões: 21 x 1.2 x 28 cm
Onde comprar? Amazon

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Cinema Entretenimento Tela Quente

Matrix Resurrections força nostalgia em uma modernização caricata

No ano de 1999, Matrix revolucionou o mundo audiovisual, mudou o gênero e marcou uma geração, além de se tornar um forte elemento presente na cultura pop. Foi tamanho sucesso desse universo, criado pelas irmãs Lana e Lilly Wachowski, que foram feitas duas continuações, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, e após quase vinte (20) anos desde os eventos do terceiro, chegou aos cinemas o quarto filme: Matrix Resurrections. Contando com um grande trabalho de marketing para divulgar o longa, a continuação conta com a direção de apenas Lana Wachowski dessa vez e também com o retorno de Keanu Reeves no papel do protagonista Neo e Carrie-Anne Moss como Trinity. Na trama, Neo volta como Thomas A. Anderson e está de volta à Matrix, tendo diversos sonhos e eventos estranhos até uma nova versão de Morpheus abrir sua mente novamente a fim de criar uma nova rebelião e libertar todos do controle das máquinas.

O longa tem o poder de já na primeira cena criar um misto de sentimentos e nostalgia, sobretudo ao ver a primeira roupa preta de couro, que é algo icônico nos filmes, assim como ver Neo nas telas de novo. Keanu Reeves ainda possui o mesmo tom do personagem que vimos nos filmes anteriores, o carinho que os espectadores possuem pelo ator faz com que assisti-lo na história novamente seja animador. O mesmo pode-se dizer de Carrie-Anne, ainda que durante o longa sintamos falta da Trinity que conhecemos, o final compensa completamente essa falta, e ver o casal junto em cena mostra que a mesma química ainda se faz presente.

A nova versão de Morpheus, agora interpretado por Yahya Abdul-Mateen II (Aquaman, A Lenda de Candyman), entrega o personagem com um tom um pouco mais cômico e menos sério, diferente do que foi visto anteriormente, contudo, o próprio filme explica o motivo disso. Apesar do talento do ator, não se pode comparar com o impacto de Laurence Fishburne nas narrativas anteriores, sua atuação e o modo como ele marcou o papel é algo que deixou uma lacuna no desempenho da trama. Além disso, Morpheus só tem mais destaque no primeiro ato, pois depois sua presença passa a ser tratada com irrelevância, mas com o aparente propósito de dar mais destaque a novos personagens, como Bugs (Jessica Henwick), que é um elemento de importância no enredo e ajuda Neo constantemente. O carisma da atriz e o bom desenvolvimento da personagem é um ponto bastante positivo, e fica a vontade de querer ver mais da história dela. 

Tratando-se dos vilões, o antagonista ilustre do universo Matrix, Agente Smith -antes interpretado pelo talentoso Hugo Weaving-, também ganhou um novo intérprete: o ator Jonathan Groff (Mindhunter), fato que foi prejudicial para o longa. Groff não parece possuir qualquer expressão facial nem harmonia no papel e reproduz falas e modos de agir parecidos com de Weaving, mas que não funcionam e só causam vergonha alheia, não possuindo a mesma tensão e ameaça passada pela atuação de Hugo Weaving nos filmes anteriores. O mesmo se aplica ao novo vilão, o qual Neil Patrick Harris (How I Met Your Mother) dá vida, ele é ainda mais caricato e não se parece com o mundo de Matrix, que sempre teve uma atmosfera séria e complexa, distante de enredos superficiais. Assim, é visível que a mudança desses atores prejudicou a qualidade do filme.

A mitologia de Matrix é conhecida por seu enredo filosófico e técnicas audiovisuais, bem como alegorias sobre problemas sociais, e diferentemente do segundo e terceiro longa, o quarto consegue balancear muito bem a reflexão abordada e a ação, que apesar de não inovar nesse quesito ainda mostra o kung fu tão presente nos anteriores. Apoiando-se em uma grande metalinguagem, a trama fala do próprio filme e sua nostalgia, na qual as pessoas conhecem a matrix estando dentro da mesma, sem conseguir distinguir o que é real ou não -um clássico da narrativa- e que se auto critica ao expor como a população se recorda do programa. A obra ainda continua a se preocupar com os mínimos detalhes, mostrando as falhas da Matrix em coisas sutis, e que se você for atento perceberá. O fato de usar e abusar de flashbacks em seu desenvolvimento pode enjoar ao assistir, mesmo que alguns sejam para relembrar eventos que ocorreram, e muitas cenas são iguais ao primeiro longa-metragem, se prendendo a essa nostalgia e, portanto, não entregando algo novo.

A fotografia é muito bem planejada e é um tópico positivo, com paleta de cores cinza e neutras que remetem um ambiente tecnológico e futurista, tal como o trabalho de maquiagem. O jogo de câmeras e o modo como é feita a troca de cenários de forma vertiginosa é ótima e criativa, principalmente nos primeiros minutos de filme. Porém, são muitas as cenas que possuem uma câmera lenta que é estranha e mal feita, causando incômodo ao assistir. Ademais, as cenas de luta não são coreografadas com maestria nem são dignas de aplausos, ainda que remeta os outros filmes.

Matrix Resurrections vem para relembrar como sua história marcou o cinema, sem inovar nesse quarto filme ou acrescentar algo de fato, mas que termina dando grande satisfação só de ver personagens icônicos de volta às telas. Seria difícil -ainda que possível- superar a grandiosidade do primeiro longa, mas Resurrections não ousa, apenas parece uma releitura de sua própria história. Ainda assim, é inegável que foi um presente para os fãs.

 Nota: 3/5 – Prata

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Gavião Arqueiro redefine o que é uma boa adaptação e representatividade

Após anos, inúmeros fãs pedindo para que um dos mais saudosos heróis do universo da Marvel fosse explorado em um projeto solo, finalmente chegou a vez do Gavião atirar suas flechas. Com seus dois primeiros episódios lançados em 24 de novembro, a série finaliza com seis atos que definitivamente merecem uma bela análise.

Temos que deixar bem claro que a sua fonte de inspiração é totalmente focada na run de Matt Fraction, que foi de 2021 até 2015. Até mesmo a arte de David Aja é relembrada na introdução e nos créditos finais. Com isso, devemos lembrar que em uma década de MCU, a fidelidade com o material original é uma incógnita entre os fãs, mas a forma que se propõe aqui é diferente de tudo já visto em termos de honrar sua inspiração.

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Com isso dito, já podemos falar que muitas origens são modificadas, mas que são bem-vindas. Com isso, começamos com a da Kate Bishop, que se liga com os eventos de Os Vingadores, em uma cena que lembra muito o início de Batman v Superman. Lucky, Jack Duquesne, Kazi e Derek Bishop são outros que também tem suas histórias modificadas; mas, algumas ideias criativas aqui podem causar revolta nos fãs. Porém, cada uma das novas invenções mostradas aqui se encontra em harmonia e fazem muito sentido.

Em sua história, o roteiro é fantástico. É difícil tentar definir como ele funciona, mas é uma mescla de uma comédia dos anos 80 natalina com uma trama criminal recheada de ação, coisa que até provavelmente Scorsese gostaria. Todo o desenvolvimento aqui funciona extremamente bem, a relação de Clint com Kate, como o mistério envolvendo a família Bishop e a gangue do agasalho estão conectadas, e como cada personagem está amarrado. Desde o momento inicial até o final, somos cativados por esse mundo que estava sendo muito necessitado nesse universo de deuses e poderes, algo mais pé no chão. Além de que, todo o humor da série acerta em cheio com o dos quadrinhos, e todas suas partes dramáticas também funcionam – uma parte muito bem realizada principalmente pelo remorso do Clint. Mas, infelizmente tem sua parte ruim, que é o desperdício de histórias, não temos muitos aprofundamentos em elementos essenciais dos quadrinhos que poderiam aumentar ainda mais a qualidade da série – e isso é um erro em quase todas produções Marvel, tristemente. Também, a série infelizmente desliza em seu último episódio, sem conseguir de fato atingir toda a glória na qual ele estava quase conquistando. Por mais que seja bom, aquele gosto amargo fica, de que está faltando alguma coisa; e isso se intensifica na pior cena pós-credito de qualquer produção do estúdio.

Já por parte de seu elenco, é digno de salva de palmas. O maior foco é para Hailee Steinfeld, que acertou em cheio ao dar vida para Kate, é uma combinação que até mesmo Kevin Feige disse que não houve teste de elenco. Jeremy Renner continua dando vida para uma adaptação nada fiel, porém divertida de Clint, e consegue trazer muita emoção para o background do personagem. Os outros personagens secundários também são marcantes e muito divertidos, assim como os antagonistas, principalmente Echo e Yelena.

Um dos pontos mais fortes aqui é a representatividade trazida por um dos fatos mais importantes dos quadrinhos do herói, que é a deficiência. Aqui é sondado toda uma parte focada na surdez de Clint, que após inúmeros eventos envolvendo lutas físicas, intensificou para quase uma perda total auditiva. E falando de representatividade, também temos a atriz iniciante da Echo, Alaqua Cox, que é nativa-americana, surda e tem sua perna direita amputada. É uma atitude belíssima por parte da Marvel de explorar isso com atores que realmente tem as mesmas características que suas personagens, vimos isso também em Os Eternos – e que isso seja um bom começo para que todas as produtoras acabem com o capacitismo dentro de produções audiovisuais. E também, que respeitem as origens étnicas de seus atores com seus papeis, assim como mais uma vez foi realizada com Alaqua.

Alaqua Cox revela apoio de Jeremy Renner e Hailee Steinfeld por sua deficiência auditiva

Em seus pontos técnicos, tudo é feito com maestria, menos dois pontos que pareceram ficar sem atenção pela produção. Sua direção é fantástica, temos cenas em plano-sequência que são absurdas (com foco na da terceira temporada), uma ótima forma de se contar a história e um timing bem estruturado para o clima funcionar. Sua fotografia também é uma bela cereja nesse bolo, junto com a equipe de cenografia e figurino, as cores funcionam de maneira primorosa e com foco no roxo – marca registrada dos heróis nos quadrinhos – e parece que ele puxa da página para a tela. Seus efeitos especiais também são muito bem feitos, principalmente em momentos de luta. E uma trilha sonora recheada de Natal, com músicas de Esqueceram de Mim e Grinch, só para deixar o natal ainda mais especial.

Mas a grande aflição chega na parte de maquiagem, que entrega perucas de qualidade baixíssima e execuções desnecessárias, um exemplo é o cabelo de Eleanor Bishop no início do primeiro episódio, que parecia de um vídeo feito para o Youtube. Sua montagem e edição também são em certos momentos confusa e chega a tirar a imersão, quebrando regras que deixaram Walter Murch arregalado. Mas, isso provavelmente foi causado por cortes de cenas, logo que, há rumores fortes quanto a pós-produção.

De todos os alvos, Gavião Arqueiro acerta com maestria, mesmo que por vezes quase errando de raspão, é uma obra essencial e que merece um reconhecimento como uma adaptação de sui generis. Se o futuro do universo cinematográfico se parece com isso, então, é fácil dar um salto de fé e dizer que o amanhã é glorioso.

NOTA: 4,5/5 – Ouro

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“The Aquatope on White Sand” e o pecado de amar demais

Procurando um animê para toda a família? Algo que poderia muito bem passar na Sessão da Tarde, irritar o seu tio, fazer sua mãe chorar, e seu primo que é redator de um blog de cultura nerd reclamar sobre escolhas de roteiro que ele entende que não são feitas para um público-alvo como ele? Pois “The Aquatope on White Sand” é possivelmente o show para você!

Captura de tela do episódio 18 de "The Aquatope on White Sand", mostrando Kukuru entregando bonecos para várias crianças
“Essa garotada vai se meter em altas confusões enquanto se aventuram no incrível mundo dos aquários!” (Reprodução: Crunchyroll)

Antes de começarmos, porém, vai ser necessário entender com quem estamos lidando. “Aquatope” é mais um animê original da P.A. Works, estúdio conhecido por criar lindos cenários e histórias que destacam o comum como mágico e a magia como corriqueira. A direção é de Toshiya Shinohara, que também fez coisa parecida em “IRODUKU: The World in Colors”, e “Nagi-Asu: A Lull in the Sea”.

Isso faz com que um novo animê vindo deles tenha uma certa expectativa, de seguir a “fórmula P.A. Works”: Uma trama adolescente que tica todas as caixas na lista de “coming-of-age” da Wikipédia; uma parte técnica linda e que vai agradar todos os nerds das respectivas áreas; e a garantia de um sucesso cult entre os que não gostam tanto assim de mecha dos anos 70. E “Aquatope” é exatamente isso, surpreendendo por o quão nos eixos ele conseguiu seguir semana após semana.

Abaixo, a sinopse e o trailer do show, que estreou em julho deste ano e terminou sua exibição recentemente, conforme fornecidos pela Crunchyroll:

“Em um pequeno aquário localizado na ilha de Okinawa, trabalha Kukuru Misakino, uma jovem de 18 anos. Lá ela encontra Fuka Miyazawa, uma ex-idol que perdeu seu emprego em Tóquio e está desnorteada. Elas começam a passar os dias juntas no aquário, conhecendo melhor uma a outra, mesmo com a iminente crise financeira ameaçando fechar o estabelecimento. Em meio aos sonhos e à realidade, à solidão e à amizade, aos laços e aos conflitos, as duas amigas vão virar uma nova e brilhante página neste verão.”

O contraste entre a primeira e a segunda parte da história é um dos pontos mais interessantes de se assistir pelo simples ato de compará-los. Começamos com uma adolescência mágica e inocente, onde tudo se resume a uma única coisa em um pequeno espaço. A jovem Kukuru é um retrato do próprio Aquário Gama Gama: enraizado a um alicerce instável, mas que sobrevive com base na boa vontade e no apoio de diversas mãos amigas. É um lugar intrinsecamente sobrenatural, que consegue mostrar a magia que só existe nos olhos de alguém naquela faixa etária.

Então, na segunda metade, a vida adulta mostra como o mundo é muito maior – e mais cruel – do que um conto-de-fadas teen. A magia se esvai conforme o chamado das responsabilidades se sobressai a qualquer oportunidade de sonhar. O Aquário Tingaara pode ser maior, mais tecnológico e possuir muito mais espécies, mas ele não passa de uma casca vazia para quem não entende a função daquele lugar, ou para quem o vê como um substituto de algo insubstituível.

O próprio conceito de histórias coming-of-age é mostrar que, na vida adulta, você precisa correr atrás de criar a sua própria magia. Buscar satisfação pessoal – seja com seu trabalho, hobbies, amizades ou amor – é a mensagem que o gênero tenta passar, e que “Aquatope” tentou contar de forma tão agridoce.

Captura de tela do episódio 1 de "The Aquatope on White Sand", mostrando Fuuka no oceano
Não tente prender a respiração durante as cenas aquáticas desse animê! Eles respiram com magia, você não! (Reprodução: Crunchyroll)

Um dos comentários que eu mais fiz (e que mais vi sendo feito por outras pessoas) durante a exibição do animê foi o realismo com que ele retratou os ambientes de trabalho. Em uma empresa pequena e familiar, foi mostrada a contratação de parentes e amigos, mesmo que sem experiência ou qualificação para o cargo; e uma hierarquia nada meritocrática onde a garota de 18 anos consegue se tornar chefe simplesmente por ser neta do dono. Já na empresa da “cidade grande”, o que vemos é uma relação nada saudável entre funcionários; uma equipe de marketing que não se importa nem um pouco com a equipe técnica e que simplesmente joga a bucha para eles e sai andando; estagiários desinteressados e que estão vendo o circo pegar fogo e simplesmente vão embora 17h em ponto… São pequenos toques de coisas que vemos no dia-a-dia que dá credibilidade para o slice of life do show.

Outro ponto desse realismo contextual é sobre como a história se foca nas suas protagonistas, mas sem deixar de mostrar que o mundo ao redor delas é orgânico e que coisas estão acontecendo mesmo longe de seus olhos. Ao longo de todo o animê, vemos situações sendo comentadas, ouvimos boatos sobre acontecimentos relevantes de personagens secundários, histórias que parecem ser extremamente interessantes, mas que nunca são contadas. Como acompanhamos a jornada da Kukuru e da Fuuka, o roteiro apenas explicita o que tem contato direto com o desenvolvimento das duas. Pode ser frustrante para quem tinha interesse nesses arcos que aconteceram fora da tela, mas é uma escolha proposital para destacar ainda mais que, na vida real, você apenas se importa com o seu pequeno círculo, e raramente se envolve em problemas alheios.

Captura de tela do episódio 18 de "The Aquatope on White Sand", mostrando Fuuka, com a legenda: "Acho que o mais incomum é gente como você, que escolhe trabalhar porque gosta."
O animê não só mostra como o trabalho funciona, como entende o principal ponto sobre trabalhar: Que ninguém gosta de trabalhar (Reprodução: Crunchyroll)

Agora, um problema que todos deveriam se envolver, é o tema que pairou sobre toda a história do animê: A conscientização ecológica e ambiental. Estamos assistindo um show sobre criaturas marinhas, com um roteiro que se baseia nos oceanos. É óbvio que teríamos ao menos uma mensagem sobre isso, né?

Se me perguntar, acho até que abordaram pouco o assunto! Ele foi bem suave, quase invisível, mas presente, durante 90% da duração do animê, e só decidiram deixá-lo mais descarado na parte final. Sei que sou suspeito ao falar isso, por ser ambientalista de formação, mas acho que informar e interessar as pessoas em questões ambientais deveria ser feito com maior frequência. Se botar garotas fictícias para sofrer semanalmente por seis meses é o que vai ajudar a fazer a nova geração se importar com o destino do planeta, que façam mais histórias tristes!

Captura de tela do episódio 22 de "The Aquatope on White Sand", mostrando uma tartaruga marinha e um amontoado de lixo, com a legenda "Mês passado, a maré trouxe uma tartaruga enrolada em cordas"
União sinistra P.A. Works e Projeto TAMAR (Reprodução: Crunchyroll)

Sei que acabei de falar no parágrafo anterior sobre como as garotas sofrem e como a história é triste… Mas a verdade é que “Aquatope”, em sua essência, não é uma tragédia. O que nós temos é uma série de pequenos problemas, uma morte por mil cortes. Claro que alguns cortes são maiores e mais profundos que outros, mas todos eles acontecem não pela existência de um vilão, uma figura malvada ou um desastre inimaginável. Eles acontecem pelo excesso de amor das personagens, e é aí que a piada do título se torna real. O único erro das protagonistas é amar demais, se apegar demais, ter empatia demais.

Cada drama, na verdade, não passa de uma simples dificuldade corriqueira. Para alguém que não se importa, seria uma mera inconveniência. Mas, para quem é apaixonado por aquilo, a coisa se torna uma questão de vida ou morte. Vemos diversos tipos de dificuldades se tornando trabalhos hercúleos por motivos diferentes, mas todos relacionados ao amor: A dificuldade de espalhar o seu amor para outros; a dificuldade de se recuperar de um amor perdido; a dificuldade em encontrar seu amor… O show faz um excelente trabalho de mostrar cada personagem sofrendo por um motivo diferente, te permitindo entender o quanto cada um ama o que está perdendo (ou lutando por).

Captura de tela do episódio 23, mostrando Kukuru cercada por três pinguins
Acho que “lutar pelos pinguins fofinhos ownn cuticuti” é o drama mais fácil de se identificar que o show oferece (Reprodução: Crunchyroll)

A mensagem final que o animê deixa é que a vida continua, você olhando para ela ou não. O que assistimos nos vinte e quatro episódios é apenas um pedaço da vida das personagens: Elas viveram coisas antes, muita coisa que não vimos aconteceu no durante, e elas continuarão vivendo depois. A história de “Aquatopetem um começo, um ponto onde as coisas mudam drasticamente… Mas ela não tem um fim. Encerramos um capítulo e uma nova página se abre, mas essa ainda está em branco. E fica claro que cada uma das personagens tem em mãos a tinta para escrever o seu próprio futuro.

The Aquatope on White Sand” é perfeito para quem gosta de recortes de uma vida incomum e mágica, mas racional e realista, e quer ver o crescimento de uma garota cujo único pecado foi amar demais. Divertido e complexo, engraçado e trágico, com contrastes na medida certa e pontos o suficiente em aberto para te deixar curioso ou irritado, depende do seu ponto de vista. Como um todo, a nota do redator é 4,0/5,0 e mais um adendo de que eu me esforcei para não colocar uma comparação entre o animê e um pagode no final do churrasco, pois ambos são bem parecidos.

Você pode assistir “The Aquatope on White Sand” na plataforma de streaming Crunchyroll, onde o animê está completo com 24 episódios e possui legendas em português.

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A nostálgica magia de Um Menino Chamado Natal

A cada ano os filmes de Natal se tornam mais populares e os streamings apostam cada vez mais nesse gênero, além de passarem a chamar mais a atenção e interesse dos espectadores. Dentre eles, existem diversas vertentes que os filmes que abordam ou se passam nesse feriado apresentam, como comédias românticas, fantasia, aventura e animação. Neste ano, o longa Um Menino Chamado Natal foi um dos vários lançamentos que chegaram no mês de dezembro no catálogo da Netflix. No enredo, acompanhamos o jovem menino Nikolas partir em uma aventura para encontrar a Vila dos Duendes, a fim de levar esperança a todos e encontrar seu pai. Durante essa jornada ele faz amigos e tenta ensinar a todos o real significado de generosidade.

A produção é dirigida por Gil Kenan (A Casa Monstro, Poltergeist O Fenômeno 2015) e possui um elenco rico em sua variedade, trazendo muitos rostos conhecidos, como Maggie Smith (saga Harry Potter, Downton Abbey), Kristen Wiig (MulherMaravilha 1984), Michiel Huisman (Game of Thrones), Jim Broadbent (saga Harry Potter) e Sally Hawkins (A Forma da Água). Diga-se de passagem que a escolha da atriz Maggie Smith como também narradora do longa foi uma ótima escolha. 

Maggie Smith stars in charming festive movie 'A Boy Called Christmas' - watch the trailer! - British Period Dramas

O filme funciona como uma história dentro de outra, o que o faz parecer literalmente como um livro infantil, no qual a tia das crianças conta a elas e ao espectador. E a direção nesse quesito se mostra um dos maiores pontos positivos, pois é feita de forma dinâmica, seja com jogos de sombras ou outros. O modo como o cenário do tempo atual se une ao da história que está sendo contada é feito de forma maestral e bastante criativa, destacando-se em um âmbito que muitos longas não conseguem: a narração de histórias. Assim, acompanhamos a jornada de Nikolas, que se mostra cheia de surpresas, risadas e ensinamentos, como todo bom filme de Natal. Além disso, a trama do presente conversa, de forma sutil, com a do passado, que é o luto que as crianças lidam ao perder a mãe. Fica claro que todos os elementos do Natal se fazem evidentes ali, sobretudo os sentimentos mais complexos como esperança, luto, a ternura que as crianças podem passar aos adultos e também o medo. Cada particularidade tratada de forma sensível e apta para todas as idades.

A Boy Called Christmas Movie Review - JoBlo

A fotografia e os cenários são o ponto mais alto e de destaque do longa-metragem, com locações de tirar o fôlego e frames que parecem sair de lugares mágicos. A propósito, foram tantas cenas com fotografias lindas que quis colocar aqui, mas que só possuem o mesmo efeito se assistidas no filme. Mesmo assim, florestas cobertas de neve, auroras boreais e céus estrelados são um pouco do que a obra apresenta em sua riquíssima fotografia e iluminação. 

As caracterizações dos personagens condizem bem com a época no que tange à história de Nikolas, que parece se passar na Era Medieval, e o trabalho de maquiagem da produção também se torna um destaque, tal como o figurino. Isso se vê igualmente nas vestimentas dos Duendes, que não se prendem ao clássico vermelho e verde, mas apostam em roupas coloridas e alegres, demonstrando suas próprias tradições e costumes, fato também visto na maravilhosa animação Klaus, disponível e original Netflix.

No entanto, a falta de carisma e expressões faciais do protagonista se mostra um ponto negativo, ainda que não afete o enredo no geral. Apesar do ator mirim interpretar todo o altruísmo do espírito do Natal, ele não parece se encaixar bem no papel, e sua atuação muitas vezes parece apática. Outro tópico negativo do longa é a sua ousadia no CGI, que em seu primeiro ato se mostra bem feito, mas que decai paulatinamente e se arrisca demais em efeitos especiais desnecessários. Exemplo disso é a pequena fada que Nikolas conhece na Vila dos Duendes, ela mais parece o rosto de uma mulher adulta em um corpo de criança graças a desproporcionalidade do CGI, e em qualquer movimento que a personagem fazia era uma experiência estranha de assistir, que mais faz você se perguntar o que foi feito ali todas as vezes que ela está em cena.

A que horas A Boy Called Christmas chega ao Netflix? - Guia Netflix

Um Menino Chamado Natal é um filme doce, repleto de sentimentos de alegria e esperança do Natal. Assistir a aventura do jovem Nikolas nos diverte e retoma a alegria das festas de fim de ano e a magia do Natal que assistimos em outros longas na infância. Pode não ser uma obra que irá se tornar clássica do gênero, mas com certeza merece estar na lista de maratona para entrar no clima natalino.

Nota: 4/5 – Ouro

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Sem Volta Para Casa se consolida como o melhor filme do Homem-Aranha, contando uma história espetacular e nostálgica

Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, foi o filme mais comentado de 2021 devido as incontáveis teorias que rodeavam a sua trama. Agora, o longa-metragem já está em cartaz nos cinemas e todos os fãs do herói ao redor do mundo, finalmente terão a oportunidade de assistirem a obra prima que esta produção é. 

Há dois anos, a Sony Pictures junto da Marvel Studios haviam tomado uma decisão que deixou a internet polvorosa por semanas. Ambas as empresas  determinaram que não renovariam suas parcerias, e o terceiro filme do Homem-Aranha de Tom Holland não seria mais situado no MCU.

Como era de se esperar, grande parte dos admiradores do teioso não gostaram da escolha, e os dois estúdios definiram que iriam reverter a situação, prolongando suas colaborações por mais dois filmes, um solo (é importante mencionar, que recentemente Amy Pascal, produtora-executiva da Sony Pictures, revelou que Holland será o protagonista de mais três obras do Cabeça de Teia dentro do Universo Cinematográfico da Marvel) e um de equipe. 

Após a notícia mencionada no parágrafo anterior, os apreciadores do Homem-Aranha e de sua trilogia esboçaram uma felicidade sem tamanha e ao mesmo tempo, uma dúvida: como será este novo filme? A resposta, veio com o tempo, e ela foi deslumbrante. 

Spider Man No Way Home Tom Holland GIF - Spider Man No Way Home Spider Man Tom Holland - Discover & Share GIFs

Após ter tido sua identidade secreta revelada ao mundo por culpa das ações de Mysterio, Peter Parker vê a sua vida e a sua reputação desmoronar. Ao procurar ajuda de Stephen Strange para tentar consertar tudo, a situação só fica ainda mais perigosa, e Parker precisa descobrir o que significa ser o Homem-Aranha.

A datar de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, o público faz duras críticas ao Homem-Aranha de Tom Holland por vários fatores, como: ele enxergar o Tony Stark como uma figura paterna, não possuir problemas sociais intensos como as suas contrapartes cinematográficas, a cada momento se deparar com soluções razoavelmente fáceis para grandes conflitos, não dispor de consequências fatais para os seus atos e etc. Em Sem Volta Para Casa, tudo isso é jogado no lixo… para um novo Amigão da Vizinhança de Tom ser concebido. 

Holland entrega uma atuação madura, consistente, responsável e o mais importante, um comportamento benevolente. 

Desde o início da história de Sem Volta Para Casa, o Peter Parker do ator se comporta como as suas principais variantes dos quadrinhos: um rapaz simples, humano, piadista, ingênuo e que mesmo diante dos problemas mais conflitantes, ele ainda está de pé. A evolução repentina que o MCU trouxe ao Peter e Homem-Aranha, foi necessária para o contexto desse vasto e majestoso universo compartilhado, dado que a sua jornada como escalador de paredes, foi composta por altos e baixos.

Todos os acontecimentos presentes no enredo, desde os mais simplórios até os conceituados, foram necessários para a construção de um novo personagem que ainda possui um caminho extenso na Marvel Studios. Por sorte, temos Tom Holland, um astro dedicado e compromissado ao herói, para carregar o manto da Aranha Humana por muitos e muitos anos. 

Spider-Man: No Way Home's 2 post-credits scenes connect two Marvel Universes - Polygon

As interações entre Peter Parker, Doutor Estranho, Ned Leeds e MJ são orgânicas e funcionam. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) está mais arrogante e prepotente em comparação aos outros filmes do MCU (com exceção de Doutor Estranho).

O Mago Supremo não serve como um mentor para Peter como foi noticiado no final de 2020, mas sim, como uma pessoa que indica quais caminhos o Homem-Aranha deve seguir quando se trata de magia e multiverso. Apesar de possuir um papel chave para a conjectura da história, Estranho é facilmente descartado para segundo plano quando os componentes da trama decidem focar-se inteiramente na evolução de Peter Parker como ser-humano. 

A relação entre Parker e MJ (Zendaya) também passou por mudanças. Em De Volta ao Lar e Longe de Casa, o vínculo amoroso entre eles era cru e imaturo, mesmo com os roteiros se esforçando para criarem uma metalinguagem baseada na paixão. Agora, em Sem Volta Para Casa, a relação amorosa entre eles é verdadeira e contagiante, colocando o espectador diante um namoro adolescente que existe respeito e afeto genuínos. Felizmente, a produção abre brechas para o relacionamento de Peter e Michelle ser explorado em filmes futuros de forma ainda mais madura e cativante. 

Quanto a conexão do protagonista com Ned (Jacob Batalon), não há evolução; mas não se engane, isso não é algo ruim, uma vez que desde o primeiro longa-metragem protagonizado por Tom Holland, ambos possuíam uma união afetiva muito forte.  

Homem-Aranha enfrenta Doutor Octopus e resgata MJ em novas cenas de Sem Volta Para Casa - Geek Here

As presenças dos vilões são nostálgicas e caricatas, visto que Jon Watts retoma com perfeição os elementos apresentados em Homem-Aranha, Homem-Aranha 2, Homem-Aranha 3, O Espetacular Homem-Aranha e O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, e ao mesmo tempo insere novos componentes nesses personagens originários diretos dos quadrinhos, que alavancam ainda mais seus graus de importância para a mitologia do Amigão da Vizinhança

Sem sombras de dúvidas, Doutor Octopus (Alfred Molina) e Willem Dafoe (Duende Verde) são os vilões mais significativos para a história de Sem Volta Para Casa. Ambos os atores, entregam as exatas mesmas atuações vistas nos filmes anteriores, dando a sensação de que eles interpretam esses papéis de forma contínua. Enquanto Molina opera de um jeito inteligente, mas esnobe, Dafoe efetiva seu personagem com diretrizes sádicas e psicopatas. 

Electro (Jamie Foxx) recebeu uma melhoria ampla em contrapartida da sua versão de 2014. A sensação que Jamie entrega quando está no papel do vilão, é que ele é uma versão totalmente inédita de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, o que não é o caso. Dentre os cinco antagonistas, Electro é o mais caricato e previsível, uma vez que ele sempre fica repetindo o mesmo diálogo inúmeras vezes durante a trama. 

Homem-Areia (Thomas Haden Church) e Lagarto (Rhys Ifans) são os antagonistas com menos apelo emocional em comparação com os outros três. É gratificante vê-los participando dessa grandiosa trama, entretanto, o pressentimento que se tem relacionado as suas presenças, é que eles foram incluídos no filme ”de última hora”, sendo que seus desenvolvimentos não foram bem trabalhados quanto os de Doutor Octopus, Duende Verde e Electro. 

Sintetizando, as interações do quinteto com o Homem-Aranha funcionam e não são cansativas. Cada um, possui uma motivação distinta que se entrelaçam entre si, fator que contribui para a caminhada do enredo até o seu epílogo. 

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Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é um grande fan-service que a Sony Pictures junto da Marvel Studios construíram para atenderem uma certa carência que os fãs do Homem-Aranha do MCU tinham. A direção de Jon Watts (junto de A Viatura) é a melhor de sua carreira como cineasta. Desde os primeiros minutos até os últimos segundos, Watts respeita todo o legado e a história construída pelo teioso. 

Watts se esforça ao máximo para contar um ”conto” que definirá o rumo que o Homem-Aranha terá nos próximos anos; e por sorte, o seu esforço é motivo para prestígio. 

Sem Volta Para Casa, é uma produção visceral. Os combates corpo a corpo equivalem-se com o primeiro Homem-Aranha de Sam Raimi, ou seja, são compostos por lutas mais intensas, cansativas e reais. O mesmo pode-se dizer a respeito da trama, na qual foge por completo em tudo que a Marvel Studios construiu para o personagem desde De Volta ao Lar

O seu humor é inteligente e sarcástico, mas não pontual; o que é de se esperar vindo do Cabeça de Teia, um personagem que solta piadas nas histórias em quadrinhos nos momentos mais tensos para aliviar a tensão. 

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Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é o melhor filme do personagem, e o mais épico da Marvel Studios. A obra encerra com chave de ouro a primeira trilogia de Tom Holland. e deixa os fãs com um gostinho do que está por vir. Ele é um presente para os amantes de Peter Parker e sua mitologia, e ele deve ser valorizado. 

Agradeço por ter lido até aqui, e lembre-se, há certos sacríficos que valem a pena. 

Nota: Diamante. 

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Imperdoável (2021) e o destaque para a excelente atuação de Sandra Bullock

Na última sexta-feira (10), a Netflix adicionou no catálogo o seu mais novo filme dramático com Sandra Bullock no papel principal e com outros rostos conhecidos em seu elenco. A trama traz a tentativa de Ruth Slater (Bullock) em reencontrar sua irmã após ter cumprido pena por assassinato e assim restabelecer esse laço familiar após 20 anos. Ou tentar.

A sinopse não apresenta nada original, porém o diferencial é como essa história está sendo contada e com quem. Imperdoável poderia ter sido um marasmo completo, mas teve uma grande ajuda para garantir a atenção do espectador.

A interpretação de Sandra Bullock foi sensacional do início ao fim e considerei como a pessoa responsável por ter deixado a história ainda mais agradável. O visual abatido e sem maquiagem de Ruth nos entregou como a personagem tinha preocupações mais urgentes para tratar do que andar toda deslumbrante como a Miss Simpatia. Sua expressão vazia foi outro ponto notável de sua atuação para mostrar as marcas de uma vida encarcerada devido ao seu crime. Apenas uma consequência de seus atos passados.

A atriz também conseguiu passar ao telespectador que sua personagem merecia uma segunda chance e reconstruir a sua vida ao recuperar o tempo perdido com sua irmã. Isso foi fácil, mas tentar convencer os pais adotivos de Katherine foi a parte mais difícil nessa trajetória. Como todo o clichê esperado em produções assim, criou-se uma atmosfera de medo e desconfiança em puxar a filha para memórias traumatizantes de sua vida antes da adoção. A cena da conciliação é o belo exemplo de embate entre os três personagens envolvidos (Ruth, Rachel e Michael). Tendo uma Bullock destacando-se com a Ruth explosiva e desesperada nessa tentativa de ter a irmã de volta em sua vida.

O elenco de apoio é composto por figurinhas carimbadas no universo televisivo e cinematográfico da Marvel/DC, tendo então Viola Davis, Vincent D’Onofrio e Jon Bernthal. Os três contracenaram com a personagem principal, porém não conseguiram roubar a atenção necessária do público. O foco continuou sendo na Ruth e apenas na Ruth. Isso foi o que acabei percebendo enquanto assistia. Só notarmos que o tempo de tela de Viola, por exemplo, é bem contido e intercalado. Não a vemos de forma constante, porém destaco o diálogo dramático entre Liz e Ruth. Jon até aparece mais um pouco por interpretar um colega de trabalho de Ruth. Já o Vincent possui um papel a desempenhar na trama, mas depois desaparece.

É nesse diálogo entre as duas personagens que tivemos o twist da história, mas olhos mais atentos podem ter matado a charada antes da revelação ter sido feita. Só me dei conta dessa virada instantes antes de apresentarem a última peça que faltava desse importante quebra-cabeça. Antes disso, o flashback era apresentado em pequenos frames sobre o dia fatídico. Claro que já dava para ter uma ideia do que aconteceu, então esses cortes não eram tão chamativos. Apenas esse último corte merecia a nossa atenção total.

O plot de vingança foi a cereja clichê desse bolo e sigo com a opinião de que não precisava ter inserido na trama. Uma vez que podiam ter trabalhado tranquilamente com as ideias apresentadas e assim acabariam tendo mais tempo de tela para serem desenvolvidos. Ao menos rendeu um diálogo bacana sobre como lidar com o luto e as consequências de uma atitude desesperada.

Para os amantes de dramas sobre segunda chance, Imperdoável é a melhor pedida atual no catálogo do streaming vermelho. Vale muito a pena ver toda a entrega de Sandra Bullock na construção de uma personagem corroída pelo fantasma de seu crime. Mostrando como o passado condena e mesmo com o presente sempre lembrando de seu pecado, nada impede que a redenção seja construída a pequenos passos.

Nota: 4/5

Imperdoável já pode ser visto na Netflix.