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Matrix Resurrections força nostalgia em uma modernização caricata

Escrito por Thaís Morgado

No ano de 1999, Matrix revolucionou o mundo audiovisual, mudou o gênero e marcou uma geração, além de se tornar um forte elemento presente na cultura pop. Foi tamanho sucesso desse universo, criado pelas irmãs Lana e Lilly Wachowski, que foram feitas duas continuações, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, e após quase vinte (20) anos desde os eventos do terceiro, chegou aos cinemas o quarto filme: Matrix Resurrections. Contando com um grande trabalho de marketing para divulgar o longa, a continuação conta com a direção de apenas Lana Wachowski dessa vez e também com o retorno de Keanu Reeves no papel do protagonista Neo e Carrie-Anne Moss como Trinity. Na trama, Neo volta como Thomas A. Anderson e está de volta à Matrix, tendo diversos sonhos e eventos estranhos até uma nova versão de Morpheus abrir sua mente novamente a fim de criar uma nova rebelião e libertar todos do controle das máquinas.

O longa tem o poder de já na primeira cena criar um misto de sentimentos e nostalgia, sobretudo ao ver a primeira roupa preta de couro, que é algo icônico nos filmes, assim como ver Neo nas telas de novo. Keanu Reeves ainda possui o mesmo tom do personagem que vimos nos filmes anteriores, o carinho que os espectadores possuem pelo ator faz com que assisti-lo na história novamente seja animador. O mesmo pode-se dizer de Carrie-Anne, ainda que durante o longa sintamos falta da Trinity que conhecemos, o final compensa completamente essa falta, e ver o casal junto em cena mostra que a mesma química ainda se faz presente.

A nova versão de Morpheus, agora interpretado por Yahya Abdul-Mateen II (Aquaman, A Lenda de Candyman), entrega o personagem com um tom um pouco mais cômico e menos sério, diferente do que foi visto anteriormente, contudo, o próprio filme explica o motivo disso. Apesar do talento do ator, não se pode comparar com o impacto de Laurence Fishburne nas narrativas anteriores, sua atuação e o modo como ele marcou o papel é algo que deixou uma lacuna no desempenho da trama. Além disso, Morpheus só tem mais destaque no primeiro ato, pois depois sua presença passa a ser tratada com irrelevância, mas com o aparente propósito de dar mais destaque a novos personagens, como Bugs (Jessica Henwick), que é um elemento de importância no enredo e ajuda Neo constantemente. O carisma da atriz e o bom desenvolvimento da personagem é um ponto bastante positivo, e fica a vontade de querer ver mais da história dela. 

Tratando-se dos vilões, o antagonista ilustre do universo Matrix, Agente Smith -antes interpretado pelo talentoso Hugo Weaving-, também ganhou um novo intérprete: o ator Jonathan Groff (Mindhunter), fato que foi prejudicial para o longa. Groff não parece possuir qualquer expressão facial nem harmonia no papel e reproduz falas e modos de agir parecidos com de Weaving, mas que não funcionam e só causam vergonha alheia, não possuindo a mesma tensão e ameaça passada pela atuação de Hugo Weaving nos filmes anteriores. O mesmo se aplica ao novo vilão, o qual Neil Patrick Harris (How I Met Your Mother) dá vida, ele é ainda mais caricato e não se parece com o mundo de Matrix, que sempre teve uma atmosfera séria e complexa, distante de enredos superficiais. Assim, é visível que a mudança desses atores prejudicou a qualidade do filme.

A mitologia de Matrix é conhecida por seu enredo filosófico e técnicas audiovisuais, bem como alegorias sobre problemas sociais, e diferentemente do segundo e terceiro longa, o quarto consegue balancear muito bem a reflexão abordada e a ação, que apesar de não inovar nesse quesito ainda mostra o kung fu tão presente nos anteriores. Apoiando-se em uma grande metalinguagem, a trama fala do próprio filme e sua nostalgia, na qual as pessoas conhecem a matrix estando dentro da mesma, sem conseguir distinguir o que é real ou não -um clássico da narrativa- e que se auto critica ao expor como a população se recorda do programa. A obra ainda continua a se preocupar com os mínimos detalhes, mostrando as falhas da Matrix em coisas sutis, e que se você for atento perceberá. O fato de usar e abusar de flashbacks em seu desenvolvimento pode enjoar ao assistir, mesmo que alguns sejam para relembrar eventos que ocorreram, e muitas cenas são iguais ao primeiro longa-metragem, se prendendo a essa nostalgia e, portanto, não entregando algo novo.

A fotografia é muito bem planejada e é um tópico positivo, com paleta de cores cinza e neutras que remetem um ambiente tecnológico e futurista, tal como o trabalho de maquiagem. O jogo de câmeras e o modo como é feita a troca de cenários de forma vertiginosa é ótima e criativa, principalmente nos primeiros minutos de filme. Porém, são muitas as cenas que possuem uma câmera lenta que é estranha e mal feita, causando incômodo ao assistir. Ademais, as cenas de luta não são coreografadas com maestria nem são dignas de aplausos, ainda que remeta os outros filmes.

Matrix Resurrections vem para relembrar como sua história marcou o cinema, sem inovar nesse quarto filme ou acrescentar algo de fato, mas que termina dando grande satisfação só de ver personagens icônicos de volta às telas. Seria difícil -ainda que possível- superar a grandiosidade do primeiro longa, mas Resurrections não ousa, apenas parece uma releitura de sua própria história. Ainda assim, é inegável que foi um presente para os fãs.

 Nota: 3/5 – Prata

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Thaís Morgado

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