Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Precisamos de mais Histórias de Amor com a cor Azul

“Só o amor pode salvar o mundo. Por que eu teria vergonha de amar?”

Sempre que eu via algum texto, foto ou algo referente à graphic novel Azul é a Cor Mais Quente, sempre pensava com meus botões “preciso ler isso.” e isso ocorreu durante anos. Pois bem, o dia da leitura chegou, e agora mudo minha frase para um questionamento: “porque, diabos, eu demorei tanto para ler isso?”.

A francesa Julie Maroh, que é ativista do movimento pelos direitos dos homossexuais, começou a escrever a história com 19 anos e levou cinco para concluir. Azul é a Cor Mais Quente foi publicado em 2010, e conta uma história de amor que todos nós gostaríamos de ter vivido. O romance tem encontro e desencontros, brigas, momentos íntimos, felicidade, tristeza, tem o fator de lutar pelo amor, de sair do porto seguro, tem o medo de dar errado, o medo de estar errado e tem a recompensa de quando as coisas vão bem. Ele fala sobre as crises adolescentes, o medo de encarar a sexualidade, de o que a sociedade pode pensar, de viver o que se quer de verdade. E sobre amadurecimento. Tudo que sonhamos encontrar em uma grande história de amor, inclusive nas que gostaríamos ou queremos viver está lá.

No livro conhecemos a simpática Clémentine, uma jovem que leva uma vida normal, com a correria de provas, seus amigos, pais que se preocupam que horas ela vai chegar em casa e namoro escolares. Mas a cinzenta vida da garota ganha uma cor. A azul. Quando ela vê uma bela menina com os cabelos dessa cor que no meio da multidão sorrir para Clémentine. O que vemos daí para frente é uma bela história de idas e vindas pelo verdadeiro amor. O amor que você sente pulsar dentro de ti.

Esse amor é despido de preconceitos. Sejam eles sexuais, raça, estéticos, financeiros e até mesmo moral. O que Clémentine e Emma passam para os leitores é que o amor pode e deve acontecer, não importando o tsunami de coisas contrárias que possam surgir. Muitas vezes deixamos de amar e se permitir ser amados por motivos banais. De como comentários mesquinhos e maldosos. Ou do fato de queremos somente seguir as cartilhas que impõem como corretas, acabam condenando vidas à romances errados. No caso das nossas protagonistas, tudo é mais complicado. Ainda mais em um mundo em que o preconceito é forte e dolorido.

Azul é a Cor Mais Quente é uma grande ciranda de emoções. Quando eu digo que o preconceito é forte, é uma das latentes da trama. Ele brota dos amigos, dos pais e da própria Clémentine. Essa é a primeira ciranda. Ao mesmo tempo que ela se sente bem quando se propõe a amar de verdade, ela sente vergonha. Se sente cometendo um ato falho. E quando ela decide que quer ficar com Emma, que também tem seus problemas. E tem mais uma ciranda. Emma é mais velha, tem um relacionamento longo com outra mulher, ela sente medo de por Clémentine ser muito jovem, isso ser apenas uma fase. A cada página as emoções vão consumindo as duas e o leitor.

Uma coisa que conversa muito bem com o leitor em Azul é a Cor Mais Quente são os gestos. O silêncio em alguns quadros, mas que são gritantes com os gestos e movimentos dos personagens são tocantes e valorizam demais a narrativa. Esse silêncio, juntamente com a palheta de cores engrandecem a obra. O mundo extremamente cinza se contrasta com o azul do amor. Todo momento azul é uma explosão de emoções para Clémentine, mas quando o azul sai de cena, o mundo desmorona.

Falei mais acima que Azul é a Cor Mais Quente é uma lição de amor que todos devemos aprender. E realmente é isso e além. Ele também fala da vida a dois em momentos difíceis e até de fidelidade. De amadurecer rápido, de crescer e assumir responsabilidades que não eram planejadas quando se é apenas uma criança. Lutar contra tudo e contra todos. Até se preocupar com o momento sócio-político que a França passava na época em que Nicolas Sarkozy ganhou as eleições. Mas sempre para viver o amor. Essa é a maior lição de Azul é a Cor Mais Quente, sempre pelo amor.

Azul é a Cor Mais Quente tem formato 25 x 17 cm, 160 páginas e o preço de R$ 44,90. A graphic novel chegou ao Brasil em 2013 pela editora Martins Fontes.

 

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Em Solitário, o Homem Elefante recebe as bênçãos de uma deusa e vive sonhando

Já consagrado como um dos maiores autores modernos do mercado de quadrinhos da Europa, Christophe Chabouté entrega em Solitário o que se assemelha a uma junção de suas duas obras publicadas no Brasil anteriormente pela editora Pipoca e Nanquim, com a ambientação marítima e desoladora de Moby Dick e a sensibilidade humana de Um Pedaço de Madeira e Aço.

Tal qual a deusa mitológica do destino Dalia, a embarcação Dahlia possui em suas mãos o destino do solitário morador de um farol. E assim como a deusa, esta embarcação – com sua tripulação composta por apenas dois homens – é a responsável por fornecer bens materiais, essenciais para a sobrevivência de Solitário. E as semelhanças não se limitam a estes aspectos, visto que Dalia (filha de Dievas), é muito mais uma executora das vontades de Dievas do que tomadora de decisões. A Dahlia desta história executa as vontades de um pai falecido. Além do destino, o pai de Solitário garantiu que Dahlia seria a incumbida pela riqueza material que forneceria a vida ao isolado faroleiro que não tem seu nome revelado, nesta narrativa que também não possui recordatórios, desenvolvendo todo o álbum com sua arte magistral e nada além de poucos balões de fala ou páginas de impressos.

Ao longo das mais de 370 páginas que compõem o livro seu criador de forma inventiva estabelece a rotina de um personagem curioso, uma figura rejeitada pela sociedade de maneira já conhecida pelo inconsciente popular por histórias como a do Homem Elefante, que consagrou-se através do filme de 1980 dirigido por David Lynch. E o autor não sente a menor pressa para ambientar o leitor, já que através de seus traços característicos e exímio uso de chiaroscuro se utiliza de muitas páginas de pura contemplação através de transições de momento a momento e ação a ação quando em ambientes abertos ou centrado em figuras específicas, e também de aspecto a aspecto quando inserido em ambientes mais fechados, tornando tangível este local.

Notem que o céu de Chabouté quase sempre é aberto e extrapola os limites dos quadros, como é o céu sobre nossas cabeças. As gaivotas são livres para voarem para onde bem entenderem, criando um contraste doloroso quando em comparação com a figura central que vive em sua ilhota, perdido em sua rotina de descobrimentos e imaginando determinadas cenas ou frustrando-se por não conhecer (ou não entender) certos assuntos da vida. O mar em toda sua imensidão traz no balanço de suas ondas um universo de itens perdidos à porta de Solitário, que geram uma miscelânea de descobertas e ligações. E as novidades que descobre não significam nada para a magnitude do oceano, apenas para o sonhador enigmático.

Os enquadramentos tomados pelo autor são extremamente exitosos em garantir uma sensação de liberdade ou claustrofobia, enquanto o céu e o mar rompem as linhas dos quadros e a solidão do farol é retratada quase sempre com suas paredes limitando o ambiente. O autor também brinca com a maneira como Solitário mergulha em seus pensamentos, em cenas como as das páginas 66 e 123, onde a imaginação do protagonista começa a fluir das margens do quadro para o interior, entrando diretamente na vivência limitada em aprendizado e tomando forma somente após um quadro de transição.

A solidão nesta obra não soa forçada. Não é piegas, demasiada melosa ou impalpável. O farol em que vive o protagonista é um verdadeiro labirinto, pois dele aparentemente não há saída. Em seus quadrinhos conhecidos pelo público brasileiro até então, Chabouté abordou aspectos extremamente humanos, como a possessão e sede de vingança, os pequenos momentos que devem ser valorizados, amizades, amores e perdas. Esta parece ser a máxima de suas criações, a capacidade de transmitir sensações reais ao seu leitor. A rotina narrada em Solitário não é cansativa, monótona ou chata para quem a acompanha. A curiosidade até faz com que, nos momentos finais, haja certa apreensão em saber o que acontecerá a seguir.

E somente um verdadeiro mestre e estudioso da nona arte é capaz de unir tamanha imersão narrativa à uma poderosa lição. Não é o destino que o fará repetir os mesmos erros por toda sua vida, e a solidão pode ser apenas autoimposta. A realidade em que você está vivendo pode parecer confortável ou sua única opção, mas ela definitivamente pode não ser a melhor para sua vida. E as pessoas ao seu redor são capazes de desempenhar um papel importantíssimo para melhorar seus sentimentos.

A edição nacional está caprichadíssima, com encadernação em capa dura com soft touch e verniz aplicado apenas no título, no logotipo da editora e na janela do farol, dando um aspecto brilhante para a única fonte de luz natural que ilumina o ambiente escuro. A tradução do meu querido amigo Pedro Bouça é sempre um primor, e não encontrei erros de revisão.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Relembre as Piores Mortes em The Walking Dead

ATENÇÃO!! ESSE ARTIGO CONTÉM SPOILERS!!

E chegou ao fim The Walking Dead, depois de quinze anos convivendo com o apocalipse zumbi e a forma em que a humanidade se portou diante das ruínas da sociedade, Robert Kirkman resolveu dar um ponto final a sua história surpreendendo todos os leitores. Durante todo esse tempo a franquia ficou gigante. Ganhou livros, séries para a TV, games, action figures e tudo que o consumismo da cultura pop lhe dá direito.

Mas principalmente, durante todos esses anos, a HQ trouxe personagens memoráveis (com grande destaque nos vilões). Rick Grimes merece configurar no panteão de grandes personagens de quadrinhos, assim como os seus antagonistas Governador e Negan. Robert Kirkman sempre deixou bem claro que The Walking Dead nunca foi uma história sobre zumbis, sobre a busca de uma cura. Os zumbis seriam algo como um “cenário” de sua trama principal. Sempre foi uma história que tratava de sobrevivência. De até onde uma pessoa pode chegar para viver. Quais os limites e pudores as pessoas podem romper para sobreviver. Mas como a humanidade se portaria diante do fim de tudo quanto é regra social. O autor apresentou o pior do íntimo do ser humano mesclando violência, machismo, violência doméstica, abuso sexual, pedofilia, canibalismo, total falta de caráter e traições. Mas também soube pontuar coisas importantes como amor, trabalho em conjunto, amizade, perdão e romances LGBTQ+.

Buscamos listar as mortes que mais marcaram impacto durante toda a trama. E olhe que não foram poucas. Kirkman nunca teve muito pudor em matar o personagem que fosse. Fique com a gente nessas memórias dos mortos!

The Walking Dead #5 – Andrea mata a sua irmã Amy


The Walking Dead #6 – Jim pede para ser abandonado para morrer


The Walking Dead #6 – Carl Mata Shane


The Walking Dead #14 – O pacto suicida entre Chris e Julie (filha de tyreese)


The Walking Dead #15 – O assassinato de Susie e Rachel, as gêmeas de Hershel Greene


The Walking Dead #41 – O suicídio da Carol


The Walking Dead #46 – A morte de Tyreese


The Walking Dead #48 – A morte de Lori e Judith


The Walking Dead # 48 – O Governador mata Hershel


The Walking Dead #48 – A morte do Governador


The Walking Dead #61 – Ben assassina Billy


The Walking Dead #61 – Carl mata Ben


The Walking Dead #66 – Caçadores massacrados


The Walking Dead #66 – A morte de Dale


The Walking Dead #83 – As mortes de Jessie e seu filho Ron


The Walking Dead #83 – A Morte de Morgan


The Walking Dead #98 – Abraham assassinado


The Walking Dead #100 – A morte de Glenn


The Walking Dead #118 – A morte de Eric


The Walking Dead #118 –  A morte de Shiva


The Walking Dead #144 – A fronteira das cabeças


The Walking Dead #156 – Negan assassina Alpha


The Walking Dead #158 – A morte de Gabriel


The Walking Dead #159 – A “morte” de Lucille


The Walking Dead #167 – A morte de Andrea


The Walking Dead #186 – Rick mata Dwight


The Walking Dead #192 – A morte de Rick Grimes


The Walking Dead: Alien – A morte de Jeffrey Grimes

Apesar de ter encerrado a trama principal de The Walking Dead, Robert Kirkman deixou um universo gigantesco que ainda pode ser explorado e com diversas histórias para serem contadas. Portanto, não será nenhuma surpresa que ainda voltaremos a visitar o apocalipse zumbi.

 

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Skybourne: um quadrinho de ação e humor que mistura Rei Arthur com H. P. Lovecraft

Minissérie em cinco partes escrita e ilustrada pelo famoso Frank Cho – uma das figuras mais polêmicas da indústria moderna dos quadrinhos – Skybourne foi lançada em 2016 pela editora norte-americana BOOM! Studios e chegou ao Brasil recentemente através de uma bela edição encadernada da Mythos Editora.

E apesar de o nome não deixar nada muito claro sobre o teor desta série, a história de Skybourne reúne um vasto número de ideias que são apresentadas com muito humor negro e ação desenfreada, onde Cho e seu colorista Márcio Menyz criam um mundo bem ousado que trará elementos principais de Rei Arthur, que movem a história central, e até mesmo de H. P. Lovecraft.

Propositalmente raso, este quadrinho possui uma trama simples e direta: os três filhos de Lázaro são Abraham, Thomas e Grace Skybourne, e todos são dotados de habilidades incríveis como superforça e imortalidade. A Fundação Topo da Montanha foi criada para proteger a Terra de ameaças sobrenaturais, e há muito tempo a principal ameaça enfrentada foi um mago louco que visava acabar com a humanidade: o mago Merlin.

Todos os clichês de filmes de ação e espionagem são os pontos focais de Skybourne. Ação interminável, caracterização de elenco que se desenvolve com poucas imprevisibilidades e muitas cenas divertidas, dramas manjados, entre outros. Entretanto, essas características podem parecer empecilhos para a qualidade da história, mas encarando-a como se deve e da forma como o autor se propôs a apresentá-la, esta se transforma em uma surpresa agradabilíssima e descompromissada.

Frank Cho é dono de um traço extremamente limpo (e bonito) e como roteirista não perde tempo com muitos detalhes, mergulhando o leitor em uma narrativa cinematográfica após poucas páginas de leitura. A trama principal se desenrola com investigações e treinamentos com eventuais descobertas acerca do passado de alguns protagonistas, e rapidamente torna-se perceptível que além dos super-humanos, esta é também uma incrível história de monstros mitológicos.

Skybourne se inicia como uma aventura de ação com superseres, e termina trazendo seres míticos gigantescos (dragões, minotauros, centauros, ciclopes), com uma subtrama ainda mais apoteótica que pode liberar entidades cósmicas de suas prisões secretas, trazendo caos ao mundo. As lendas arturianas, vivas no mundo moderno, misturam-se aos avanços da tecnologia. E as cinco edições são de tamanha fluidez que a leitura passa literalmente voando.

E apesar da imprevisibilidade quase nula no desenrolar da história, o humor negro e bastante ácido é um dos pontos de destaque, tanto quanto as batalhas. Cho é muito exitoso em desenvolver contextos para quebrar a expectativa do leitor em seguida, entregando viradas de página que te pegam de surpresa e provocam risos ou choque sincero.

Thomas e Grace Skybourne são os heróis da aventura, com destaque especial para o primeiro. A enigmática Fundação Topo da Montanha também é desenvolvida com pinceladas de protagonismo por parte de alguns membros-chave da mesma, e o autor possui em suas mãos um universo que renderia mais histórias no mesmo teor desta primeira, com foco na ação e no deslumbrante visual.

Esta é a criação de um Frank Cho mais contido em alguns aspectos, porém extremamente livre e confortável em outros. Em momento algum esta aventura tenta reinventar a forma como os quadrinhos são encarados pelo público, e a sinceridade em se apresentar quase como um storyboard para um épico de ação dos cinemas é o maior mérito da produção.

As cores de Menyz são compatíveis com os traços claros do autor, e revezam muito bem as tonalidades entre os flashbacks, o presente e as monstruosidades. Os diálogos são competentes e batem com a premissa, e a forma como Excalibur e as lendas arturianas foram representadas ao longo dos anos nunca foi tão diferente e criativa quanto aqui.

Skybourne chegou ao Brasil em uma edição de 164 páginas encadernadas em capa dura com verniz aplicado e formato americano (26 x 17 cm), reunindo toda a série original, e o preço sugerido é R$ 72,90. Clique aqui para adquirir o encadernado com 35% de desconto.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Resenha | Big Baby

Tony não costuma brincar na rua, tem um único amigo e uma aparência que faria qualquer garota tomar distância considerável dele. A maior diversão encontrada por ele é se fechar em seu mundo alimentado por seus brinquedos, quadrinhos e filmes de terror que precisa assistir escondido de seus pais. Criado em sua própria bolha, começa a ter dificuldades quando esta estoura e passa a respingar na vida real que, para ele, apresenta sempre fortes referências à sua bagagem cultural.

Assim, temos quase 100 páginas de quadrinhos que revivem casos clássicos que fazem parte do cotidiano norte-americano. Mas aqui, no lugar da falsidade dos vizinhos e urina dos convidados para o churrasco de fim de semana, a piscina guarda um segredo que só se vê no cinema trash, a babá irresponsável pode se arrepender de não seguir à risca sua chance de dinheiro fácil e os pais de Ricky Bellows teriam uma formidável companheira para o chá da tarde caso Pamela Voorhees quisesse compartilhar as peripécias de seu querido filho Jason.

Charles Burns desde cedo já despontava como um mestre do chiaroscuro. Sua arte ao mesmo momento que resgata o clássico, se torna atemporal. Burns já estava pronto em seu traço, mas não em seu roteiro. As histórias de Big Baby são medianas comparadas ao que se veria em Sem Volta ou Black Hole, este último claramente o resultado final da ideia que começou no tomo Peste Juvenil de Big Baby onde, assim como em Black Hole, uma doença é transmitida entre adolescentes através do sexo.

Tony é a bizarra encarnação das aventuras de seu autor quando jovem. Seus medos, a descoberta dos quadrinhos, os prazeres e perigos da leitura de material impróprio para sua idade, a curiosidade de descobrir por que era diferente dos seres mais velhos… Tudo está ali e nos brinda com o que muitos já passaram nessa idade. Inclusive quem agora redige esse texto. Apesar de tudo, a passagem de Tony pelo papel foi curta: Seu pai o criou para apenas 4 histórias entre 1983 e 1991. Se considerar a primeira somente introdução, podemos dizer que foi apenas trilogia. Big Baby teve uma morte prematura.

Poucos vão lembrar, mas essa não é a primeira vez que Big Baby aparece no Brasil: sua primeira história de apenas duas páginas foi publicada na revista Animal nº1 da editora VHD Diffusion em 1988. Agora, a Darkside nos traz em edição única todas as aventuras do garoto com feições que misturam um lagarto e o clássico Pinduca compilada em livro de capa dura com comentários do autor e extras.

IMAGEM: guiadosquadrinhos.com

Big Baby satisfaz a quem sente saudades de quando tinha entre 7 e 14 anos. Período perigosamente saudosista que insiste em não sair de nossas memórias e atitudes. Somos moldados justamente nesse período e, se tivermos as mesmas desventuras que Tony, as cicatrizes podem ser eternas.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Resenha | Imaginário Coletivo

Tentem esvaziar a mente. Pensar em nada. Conseguiram? Provavelmente, não. No princípio, tudo aponta que havia nada. E como era esse vazio? Até isso ousamos imaginar.

De qualquer forma, é de dar voltas na cabeça tentar deduzir o que pensava Wesley Rodrigues ao criar Imaginário Coletivo, sua primeira história em quadrinhos lançada pela Darkside Books. Temos incialmente uma tradicional fábula com a introdução de um mundo de faz de conta que tantas outras vezes ouvimos falar até mesmo pouco antes de dormir para, em nossos sonhos, exercitarmos o nosso próprio imaginário. Nessas circunstâncias, cada um é dono de seu próprio universo. Mas, Wesley vai além. Aqui, um teimoso ser vivo quer se tornar um pássaro mesmo designado a ser vaca e sua persistência o faz vir a esse mundo como um bovino nascido de um ovo.

A estranha novidade é encontrada por Agripino, um humilde minerador que, como muitos de seu vilarejo, trabalha para satisfazer a incansável autoritarismo e desejo de um tirano rei por ouro. Encantado pelo leite diferenciado que sua vaca produz, Agripino o começa a vender aos habitantes da região, o que muda suas trajetórias inesperadamente: Os ocupantes do reino, inclusive seu rei, se tornam animais das mais variadas espécies. Agripino se torna meio pássaro, meio humano e, apesar da nova forma, continua representando o que sempre foi: Alguém entre a liberdade e a submissão.

Sua vaca cresce assim como seu desejo de ser pássaro, e sua ânsia e habilidades vão alcançando patamares inimagináveis para a compreensão humana, logicamente se esta compreensão esteja visando apenas o plano da realidade. O animal que costuma nos alimentar agora se alimenta de nossas fantasias.

A liberdade toma conta até das páginas da HQ. Seus quadros são distribuídos livremente a cada página e não seguem padrão algum. É extremamente comum ao leitor sair de uma página dupla para vários quadros de diversos tamanhos já na página seguinte. Até técnicas de Storyboard são usadas, estas não de se espantar, já que Wesley é mais conhecido por suas premiadas animações em video. Que graça teria à liberdade se não fosse experimental também nessa categoria?

A arte fica mais deliciosa a cada avanço. Seu traço lembra outro grande contador de fábulas: Cyril Pedrosa, que no Brasil teve publicado o também excelente Três Sombras. A Psicodelia de Wesley nos faz várias vezes observarmos seus quadros repetidamente para ter certeza que é aquilo mesmo que lá foi marcado. É inclusive difícil em determinadas partes descrever o que se passa, inclusive em onomatopeias cujo significado não se consegue decifrar. É evidente também o estúdio Ghibli como influência nessa empreitada.

A edição é caprichada. Suas imponentes 472 páginas são protegidas por uma belíssima capa dura com verniz de reserva e encadernação costurada. Apesar de volumosa, a publicação pode ser lida rapidamente. Muitas de suas páginas têm pouco ou nenhum texto. O deleite dos olhos fica “apenas” nas ilustrações em muitos momentos. A história poderia muito bem ter menos páginas, mas isso não apequena seu brilhantismo.

O curioso é perceber que, apesar de seu conteúdo belíssimo, Imaginário Coletivo pouco tem a ver com o conteúdo principal da Darkside Books, editora que, como o nome já deixa implícito, é especializada em publicações de terror e suspense. O motivo então da publicação permanece um mistério que se torna bem-vindo no fim das contas.

Imaginário Coletivo nos ensina que podemos criar o que quisermos, mesmo que seja algo cujo significado sustente-se apenas em cada um de nós. Portanto: Imaginem. Pensem. Inventem. Sejam criativos.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Resenha | O Dia de Julio

É de um espanto absoluto pegar uma publicação e, já no texto de contracapa, encontrar a informação de como o destino do protagonista da história é selado. Assim, muito dificilmente quem pôr as mãos em O Dia de Júlio já não saberá seu final antecipadamente.

Mais do que isso: Nos deparamos com as feições de quase todos os personagens que compõem a narrativa em diversos momentos de suas vidas antes mesmo da primeira página. Uns têm nome e outros são apenas “anônimos” em identidade: O pai de Julio é apenas o “pai de Julio”.

Toda essa apresentação incomum mais tarde nos mostra que era irrelevante a preocupação. Esta obra nos apresenta a vida de Julio e sua família, latinos habitantes de um vilarejo paupérrimo dos Estados Unidos da América com suas transformações em decorrer do passar do tempo e História do próprio país. O ambiente, apesar de explícito, poderia ser bem algum local de interior do Brasil, tal similares suas características.

A história contada por Gilbert Hernandez é, apesar de tudo, um conto simples da mesma forma que é seu traço. O jeito que o enredo nos é apresentado vale mais que seu conteúdo em si.

Conversas banais viram grandes reflexões filosóficas. Se encontra tempo para humor até no meio da desgraça. Páginas sem texto falam mais que outras com balões. Páginas que, inclusive, poderiam quase todas contar uma história individualmente. Hernandez deixa o leitor deduzir em que espaço de tempo está situado no momento e não há uma caixa de narrador sequer por toda a leitura.

Alguns personagens são presentes em grande parte da narrativa; Outros vão e voltam anos depois. Há membros cativantes na família de Júlio; Outros nos dão nojo e sensação de raiva por personagens da história não perceberam mais cedo o mal que causam. É sentida impotência de nossa parte por sermos apenas observadores e nada podermos fazer. Até um nematelminto se torna protagonista e nos faz ser contra ou torcer por ele dependendo da passagem. A história de Julio poderia ser a de qualquer um.

Racismo, machismo, pedofilia, homofobia, estereótipos… Todas as adversidades estão ali mescladas no que compõe o Homo sapiens que se esqueceu de pensar. Personagens guardam segredos dentro de si que não deveriam ser escondidos, mas as circunstâncias o fazem optar por isso. Já outros, inseridos em uma sociedade diferente graças ao tempo, esse segredo já não existe mais.

Assim, vemos o já óbvio: Não existe a clichê frase de “No meu tempo…” quando se trata de comportamento humano. O preconceito e a forma de o combater sempre coexistiram. A questão é escolher em que lado você estará.

Como na vida, a sua grande rival morte está presente ao longo destas cem páginas. Algumas delas, nos dá o estalo necessário caso tenhamos sido desatentos a algo que estava ao tempo todo nos pedindo atenção. É necessário perder para dar valor, ou nos deixar atentos ao que passou.

Um ponto negativo vai para a “introdução” do escritor Brian Everson à obra. Apesar de alguns pontos já se saber, Everson entrega muito de seu conteúdo. A introdução teria funcionado muito melhor se fosse um posfácio, assim se recomenda lê-la apenas ao fim de absorver o conteúdo principal, que é e sempre será a história.

O Dia de Julio é uma leitura rápida que acaba da mesma forma que começa, assim como é a vida de cada ser vivo. O nada volta a ser nada. Um vazio. E este vazio cabe a cada um de nós o preencher da forma que convir enquanto há tempo.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Conheça o MELHOR quadrinho moderno sobre Excalibur e Rei Artur

Rei Artur, Uther, Merlin, Guinevere (Genebra em tradução portuguesa), Morgana, Gorlois, Igraine. Estes nomes conhecidos protagonizaram no decorrer das décadas diversas obras fantásticas contando as histórias de suas vidas. No rádio e no cinema, nos livros e nos quadrinhos, as chamadas lendas arturianas estiveram em contato conosco algumas vezes com qualidade, outras nem tanto.

Especificamente nos quadrinhos diversos autores já se utilizaram do Ciclo Arturiano para contar histórias. O maior nome de referência é, provavelmente, Hal Foster com seu Príncipe Valente. Ainda nos EUA, Jack Kirby se baseou nas lendas do Rei Artur para a criação de Etrigan na DC Comics, que posteriormente veio a publicar também a minissérie Camelot 3000. Na Marvel Comics, Alan Moore criou o Capitão Britânia, que assim como o Cavaleiro Negro, bebeu das mesmas influências. Excalibur, a espada do Rei Artur, dá nome a uma das séries mais consagradas da Casa das Ideias.

Mike Mignola descreveu em sua criação máxima, o Hellboy, que o personagem é um descendente direto de Mordred, o filho bastardo de Artur e sua meia-irmã Morgana. Em Mage, de Matt Wagner, o autor reimagina a lenda de Artur nos dias de hoje. E na Europa há também muitos quadrinhos sobre o assunto, alguns inclusive publicados no Brasil, como Arthur de David Chauvel e Jérôme Lereculey (Delcourt, 1999 a 2006).

Mas também na Europa está sendo produzida hoje a série que é, possivelmente, a melhor obra moderna a adaptar as lendas da Excalibur e do Rei Artur, apresentando algo novo em um tema explorado à exaustão. Trata-se de Crônicas de Excalibur, de Jean-Luc Istin e Alain Brion, publicada na França pela Soleil (um selo editorial da Delcourt especializado em fantasia) que chegará ao Brasil em breve através de publicação da Mythos Editora.

Crônicas de Excalibur apresenta a mítica saga da espada mais famosa do mundo na visão de Istin, criador de um dos maiores sucessos dos quadrinhos europeus modernos, Elfos. No primeiro volume vemos o Mago Merlin entregando Excalibur para Uther Pendragon visando a união dos reinos bretões contra os invasores. Nisso já presenciamos algumas das figuras mais recorrentes: Viviane, Gorlois e Igraine. Ao mesmo tempo, a igreja busca influenciar os futuros líderes, atacando as tradições antigas e as Damas de Avalon.

Esta série mostra acontecimentos já conhecidos, como a paixão do orgulhoso Uther pela belíssima Igraine, sua batalha contra Gorlois, a presença da jovem Morgana, assim como o amadurecimento do Rei Uther como pessoa através da mentoria de Merlin, potencializando sua derrocada; porém, todos os pontos são abordados de maneira quase poética e mais violenta, com designs e arte do magistral ilustrador Alain Brion, que apresenta vestes e cenários totalmente diferentes de tudo que já presenciamos, por exemplo, em live-actions.

Sua arte é fantástica e cinematográfica, e diversos quadros possuem aspecto de grandes pinturas antigas. As feições dos protagonistas são retratadas com extrema precisão real, e os cenários bem detalhados inserem o leitor nos mais variados tempos e ambientações.

Merlin serve como o fio condutor da história e a magia nesta representação das lendas é mais tangível que, para fator de comparação, em obras como a consagrada trilogia literária de Bernard Cornwell. Suas dúvidas e certezas com relação ao futuro de Uther, da Excalibur e das visões que vem tendo aos poucos tecem um intrincado plano maior, e a rixa inicial de Uther e Vortigern cria um aspecto violento que casa com a temática, se estendendo às outras batalhas, além de modernizar a forma como os leitores poderão encarar as lendas.

E modernização é a palavra que curiosamente se aplica à série Crônicas de Excalibur. Apesar de tratar de um assunto conhecido há séculos, explorado infinitas vezes pelas mais variadas mentes criativas, este quadrinho traz uma ousadia única na forma como desenvolve as relações dos personagens e no que tange ao aspecto religioso do período, apresentando contestações sobre o cristianismo em paralelo com a adoração politeísta.

Gorlois nesta encarnação é mostrado como um louco possivelmente manipulado por um sacerdote cristão. A relação de sua filha Morgana com o Mago Merlin cresce aos poucos e o esboço de Camelot vai se montando. Excalibur tem o deve de unir a todos, e inicialmente usada como força separatista para agradar as luxúrias e o espírito heroico de Uther, sua primeira etapa na jornada maior é desenhada com intrigas e momentos marcantes de pacificação.

Crônicas de Excalibur planta a bela semente do que pode se tornar um épico que narra toda a jornada da espada Excalibur ao longo dos anos. O primeiro tomo (na França, cinco tomos foram publicados até o momento) é introdutório e estabelece o que parece ser o tom a ser seguido até o fim, e o início da trajetória de personagens como a já mencionada pequena e enigmática Morgana, filha de Gorlois e Igraine de Avalon, que terá papel vital no futuro. A relação de mãe e filha, em momentos tocantes e apreensivos, também é um destaque positivo da obra.

E ao final se mantém a questão de que aquele que empunhar Excalibur se tornará rei de todos os bretões, que irá reger a terra e calar a discórdia. Mas há sempre a possibilidade de não existir o sangue real digno de tal feito entre os vivos até então.

E cabe aos magos e sábios desvendarem os desdobramentos da linhagem real e digna, que pode ou não mergulhar a todos em um grande período de trevas.

A edição brasileira publicada pela Mythos Editora com selo Gold Edition possui 132 páginas encadernadas em capa dura e grand format. A tradução é de Jotapê Martins e Helcio de Carvalho. O preço sugerido é R$ 89,90 e você pode reservar o seu na pré-venda com 35% de desconto clicando aqui.

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

Os diabos mais esdrúxulos e divertidos estão em Helldang: Pandemônio

“Leitura indispensável aos recém-desencarnados e para diabos que já foram exorcizados, a vagantes e atormentadores, o guia para demônios e espíritos obsessores. Tudo o que acontece depois das velas e das flores.” (Matanza Inc.)

Expansão divertida! Esse seria termo correto para classificar Helldang: Pandemônio. A HQ independente escrita por Airton Marinho e com desenhos de Samuel Sajo aumenta mais o leque de possibilidades que foi apresentado na primeira edição. Para quem não lembra, na primeira edição de Helldang, uma banda de rock super fracassada resolve dar a sua cartada final para chegar ao estrelato. Tentam fazer um ritual satânico com a ajuda do caminhoneiro Tião. Obviamente rola uma cagada danada e tudo dá errado. Esse segundo volume apresenta um pouco das consequências desse ritual errado, revelando qual foi o demônio invocado pela desgraçada banda.

Em Helldang: Pandemônio, Tião precisará se livrar de um adolescente com o espírito de um demônio preso no corpo. Após tentar tirar o encosto do moleque usando todas as formas conhecidas pelas ciências ocultas e demonologia, a única alternativa que lhe resta é ir até a Arena Pandemônio, uma realidade onde capetas e monstros de toda qualidade se enfrentam numa espécie de rinha de demônios. Porém, algo mal resolvido no passado nebuloso de Tião irá atrapalhar todos os seus planos.

Assim como na primeira edição, o maior ponto de Helldang é a diversão. E como é divertido ler esse gibi. Airton Marinho coloca todo tipo de sandice dentro da curta história, misturando coisas como Hellblazer, doutrinas católicas, trash podreira, críticas políticas, misticismo brasileiro, Garth Ennis, Trad Moore e rinha de galo! A leitura é tão divertida que quando o leitor percebe já acabou o gibi e já está começando a ler novamente. Ouso dizer que Helldang tem o naipe de ser uma coisa que o mestre José Mojica Marins, o Zé do Caixão, escreveria para os seus filmes.

“Se entra numa briga apanha até de anão, rabo de arraia, voadora e soco no coração, pelo menos no amor tudo era verso e prosa, até sua mina confessar trabalhar na vila mimosa. Encosto! Encosto!” (Grangena Gasosa)

A HQ tem uma correria desenfreada, mas organizada. São várias coisas acontecendo ao mesmo tempo e tem muitas vezes na primeira leitura, você não absorve tudo que acontece e aos detalhes nos quadros. É um típico roteiro trash total que funciona magnificamente!

A arte do Samuel Sajo anda de mãos dadas com o roteiro do Airton. Imagino as conversas e gargalhadas dos dois no tipo: “Ei! Vamos fazer isso aqui!”. Na primeira edição, Sajo estava limitado a desenhar poucos personagens, mas com gigantescos demônios e quadros espalhados que engolem o leitor. Em Helldang: Pandemônio, a coisa cresceu. São muito mais personagens e os ambientes estão populosos. O estádio, apesar das pessoas estarem com capuz, percebe-se que cada uma tem um tipo de expressão quando são acionadas.

Como disse antes, o maior mérito de Helldang: Pandemônio é ser expansivo e divertido. Se na primeira edição o cenário estava limitado a somente um lugar, agora, Airton e Samuel puderam brincar e se jogaram sem pudor nenhum na história. Uma trama tirada da cartola que abriu um leque de possibilidades gigantescos. E sopram os ventos do inferno que o terceiro volume vem aí…

Helldang: Pandemônio foi lançada durante a última Comic Con Experience, e para conseguir o seu exemplar, entre em contato com a page deles no Facebook clicando AQUI.

 

Categorias
Detective Comics Quadrinhos

A Simplicidade Visceral de Robert Kirkman em The Walking Dead

ESSE ARTIGO POSSUI SPOILERS DE EDIÇÕES RECENTES DE THE WALKING DEAD!

 

Depois de 16 anos, a trajetória de Rick Grimes chegou ao fim em The Walking Dead. Nas duas últimas edições (#191 e #192), o autor Robert Kirkman apresentou o destino do principal protagonista. E muitos leitores ficaram surpresos, digamos não da forma que foi, mas COMO foi e toda a trama que cercou. Kirkman é muito sagaz na série dos quadrinhos. Geralmente esperaríamos um evento como esse, com essa importância em uma edição especial. Ou comemorativa. Ele poderia ter feito o óbvio e ter esperado chegar na edição de número 200, ter montado um grande desenvolvimento onde veríamos a vida toda do personagem, com suas vitórias, derrotas, ganhos e perdas. Rever pessoas importantes que ambientaram a sua trajetória. Um grande acontecimento. Como qualquer editora faria.

Mas, como dito antes, Robert Kirkman é muito sagaz na trama, segura bem a direção dela e sabe onde atingir e quando atingir o leitor. Ele nunca teve medo de ter que matar o personagem seja lá qual ele fosse, querido ou não, popular ou não, rentável financeiramente ou não. O que normalmente seria decidido com uma grande batalha final, ou com o personagem agonizando em uma cama, como uma imensa ópera trágica… foi resolvido em um simples quarto e como fio condutor um personagem que foi recém introduzido na trama e que não era aspirante a nada na trama. Sem grandes alardes.

Sebastian Milton no momento do assassinato.

Sebastian Milton, o filho da governadora de The Commonwealth, Pamela Milton, foi apresentado como um rapaz frágil e mimado. Que tinha Mercer como guarda-costas e muitas vezes como capacho. Ou seja, não representava uma ameaça tão terrível e real como foi o Governador, Negan, Shane, Sussurradores e nenhum dos milhares de zumbis que cruzaram o caminho de Rick Grimes. Mas essa perversa ironia do destino que Robert Kirkman criou, reflete a realidade de como grandes líderes/influenciadores mundiais encontram seus fins de onde menos esperam, ou de onde não vejam que pode ser ameaçador.

Foi assim com John Lennon, Abraham Lincoln, Julio Cesar, Lady Di… muitos influenciadores e líderes, que arrebatavam milhões, mas tiveram seus destinos simplesmente em formas, digamos, simplórias, por pessoas ou meios. O ato de Sebastian Milton me lembra muito quando Robert Ford assassinou o terrível bandido Jesse James. Um total desconhecido, que matou o famoso fora da lei. Mas a fama de “o homem que matou Jesse James” se tornou uma maldição e um motivo de vergonha por onde passava. Mas Rick Grimes foi um grande líder. A pergunta agora é a seguinte: “Quem assumirá essa estirpe na trama?”

Uma coisa que sempre pensei era a seguinte: o Rick tinha o “dom” da liderança. Como todo líder era motivador e questionado. Ele às vezes tombava e tinha o a sua liderança questionada, e até mesmo por si mesmo. Mas sempre dava a volta por cima e as pessoas sempre ouviram e o seguiram. Vejo uma galera falando que o Carl vai assumir esse “cargo”.

Mas será que o Carl também tem isso? Será que as pessoas escutariam e seguiriam o jovem? É de se esperar que as pessoas esperem essa liderança “messiânica” dele por acreditarem que seja algo hereditário, mas será que ele tem o mesmo “dom”? Será que ele QUER isso? Pode ser que ele se veja forçado a fazer isso. E as pessoas com o tempo percebam que Carl tem pensamentos diferentes de seu finado pai. Pode ser que venha acontecer mais uma evolução do personagem. O jovem Carl Grimes ficaria irritado com todo o acontecido da morte do pai e buscaria vingança com sede de sangue. Ele teve que matar o zumbi que o seu progenitor se tornou. Mas aceitou que a prisão de Sebastian pelo assassinato, foi a coisa mais certa. Seria algo que seu pai iria fazer.

Recentemente, estava relendo a fase da Prisão. Ali nunca imaginaríamos que a Maggie chegaria a liderar uma comunidade. Ela se viu em uma posição que a obrigou a tomar as rédeas. Ela não tinha a veia da liderança. Foi uma grande evolução. Apesar do seu pai ter sido o líder de família e com grande poder de decisão de ser ouvido e respeitado. Mas era algo patriarcal. Mas não sei se Robert Kirkman faria a mesma coisa duas vezes. Mesmo sendo personagens distintos.

Depois dessa morte de Rick Grimes, ficou mais que provado que não podemos esperar o óbvio vindo de Robert Kirkman. Veremos como irá se desenrolar a trama daqui por diante. Será que estamos testemunhando a reta final? Ou o início de uma nova era?