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Creed II: Superação a cada round

Depois de seis filmes focados na história do lendário pugilista Rocky Balboa (Sylvester Stallone), o primeiro Creed (2015), dirigido por Ryan Coogler, inverteu a direção temática da franquia. Explorando a vida de Adonis Creed (Michael B. Jordan), filho do falecido Apollo Creed, o filme constrói o protagonista da mesma forma que Balboa fora, porém, adiciona novas interpretações ao impor um cenário mais marginalizado e periférico com uma forte identidade racial. Em sua continuação, contando com a direção de Steven Caple Jr., esta essência é ignorada e perdida, dando espaço para uma abordagem mais familiar e íntima com a própria franquia.

O que mais marcou toda a franquia de Rocky Balboa foi a importância dada aos personagens coadjuvantes. Os filmes não tratavam, prioritariamente, da ascensão de Rocky como um lutador. Seu amadurecimento profissional sempre esteve ligado com suas relações pessoais, sejam elas familiares, amorosas ou amigáveis. Isto fica nítido ao final da luta entre Rocky e Apollo em Rocky (1976), quando Balboa procura incessantemente Adrian (Talia Shire), deixando de lado o resultado no ringue. Tal conservação de um discurso familiar, que aborda mudanças e superação, dura até os dias de hoje com Creed II.

Adonis Creed mudou completamente de Nascido para Lutar para este. O relacionamento com Bianca (Tessa Thompson) está avançando cada vez mais, sua figura é exaltada internacionalmente e sua ligação com o treinamento de Balboa parece estar em seu ápice. Mesmo estando tudo bem na vida do novo campeão, percebe-se que a sombra do pai continua o atingindo e, também, o inspirando. Até que reaparece o famoso Ivan Drago (Dolph Lundgren) e seu filho Viktor (Florian Munteanu), disposto a desafiar o cinturão de Adonis. A figura de Drago, desde o começo, é sufocada por um ambiente escuro, frio e solitário, seu estilo de vida respira e se alimenta de boxe, sendo transmitido de geração a geração. Para quem já conhece o personagem, sabe que toda essa fórmula ajuda a criar uma alusão a sua versão em Rocky IV (1985), neutra e imprevisível.

A escolha de trazer Ivan Drago e seu filho para serem os verdadeiros antagonistas do longa foi a mais certeira – de várias – que ocorreu durante a estruturação do roteiro. Além da forte ligação com o passado de Creed, já que Ivan foi responsável pela morte de seu pai, há a tentativa de fortalecer um discurso de passagem entre duas gerações. Por isso que diversas vezes ocorre a transição de perspectivas entre os quatro. Enquanto temos Rocky e Adonis, ligados por uma fatalidade e tentando esquecê-la, vemos Ivan e Viktor procurando a reconstrução de suas vidas e legados.

E se a franquia inteira foi sobre os relacionamentos externos de Balboa, Creed II é sobre a vida pessoal de Adonis. Entre Balboa e Creed, a história só avança em relação ao antecessor. Ambos confiam inteiramente um no outro, tentam ignorar o passado até certo ponto e, profissionalmente, alcançaram seus respectivos objetivos. Talvez a disposição de Stallone e Jordan de entregarem atuações a altura do sucesso de seus filmes seja o trunfo para a inteira condução técnica e estrutural. O peso dramático se sustenta entre os dois, não há sequências tão boas quanto as conversas dos protagonistas. Há um senso de sinceridade e de realidade por ser um ator veterano e um jovem contracenando juntos, trazendo credibilidade e emoção.

Indo para o lado russo da coisa, Ivan e Viktor tem tratamentos pouco originais, mas que ganham substância ao longo do desenvolvimento. Ivan precisa que Viktor esteja em seu nível máximo, físico e psicológico, para derrotar o Creed e retomar o legado dos Drago. A forma abusiva e tensa que o filme joga no treinamento do filho condiz com a ótimo atuação de Dolph Lundgren. Sua expressão sempre neutra e séria conversa com o passado do personagem, o transformando na figura do pai durão e cego por sucesso. Em relação a Munteanu, novato do elenco, sua interpretação é extraordinária por conseguir expressar os sentimentos do personagem em poucas palavras.

Rocky Balboa tinha Adrian Pennino, assim como Adonnis Creed tem Bianca Taylor. O romance é outro que não pode faltar na composição temática desses longas, mas sem ser piegas ou superficial, há uma importância para a ascensão do protagonista. Tessa Thompson continua mostrando o porquê de ser uma das melhores atrizes da sua época. Tendo bastante tempo de tela, sua interpretação exala um senso materno e acolhedor sem perder a essência independente. A função principal é de representar o reflexo familiar de Creed, deixando claro que sua formação depende muito mais da família e o legado de seu pai do que das próprias lutas. Essa ideia fica bem clara em uma das melhores cenas dentro do terceiro ato.

O texto já transforma as duas horas e dez minutos em uma grande homenagem a este universo, e toda a direção de Caple não fica de fora. Todas as sequências e passagens de Creed II são previsíveis e acompanham a mesmíssima estrutura já conhecida dos anteriores. Porém, rimas cinematográficas e o retorno de elementos essenciais da trajetória de Balboa, transformam a obra em uma carta de apreço para toda a franquia. Apesar de negar as fortes influências de Coogler, o diretor tenta compor uma homenagem sincera e honesta.

Talvez Creed II tenha as cenas de luta mais emocionantes e significativas desde Rocky II (1979). Fotografia, maquiagem, trilha sonora e atuação são as bases para qualquer composição artística de uma luta de boxe. Os planos intercalados corretamente e cortes ríspidos dão dinamicidade para a luta; o sangue escorrido em luvas e no próprio ringue deixam mais crível; uma boa trilha sonora carrega consigo tensão e ajuda na alternância de emoções, o perigo pode ser representando pela ausência dela, enquanto a reviravolta por uma fortíssima presença; e a forma como os atores coreografam e se posicionam denota convencimento.

Como se esperava, esse pacote completo está presente. Steven Caple demonstra capacidade transformando vícios conhecidos em prazerosos e surpreendentes. Em relação a montagem e edição, a continuação apresenta um trabalho detalhado primoroso. Um dos melhores filmes de ação do ano que deixará a audiência sem fôlego durante alguns minutos. É escandaloso e frenético, mas totalmente compreensível e realístico.

Durante seus momentos finais, além de algumas surpresas, o filme tenta se limitar emocionalmente. Apesar de nos presentear com cenas fantásticas, absurdamente significativas para a transição de personagens e o desfecho de arcos, não há decisões tão corajosas que estavam sendo esperadas. Parece que o próprio diretor não queria chorar dentro da sala de edição, e decidiu deixar só a homenagem sem correr muitos riscos.

Creed II pode servir como um ponto final para tudo o que passamos até aqui. Homenageia o passado e conclui o presente, deixando em dúvida o futuro. Foram muitas lutas, rounds, felicidades, decepções, emoções e mensagens de superação que esta franquia nos presenteou. Esta seria a hora perfeita de Sylvester Stallone aposentar o pugilista de vez, e sair pela porta da frente orgulhoso, por ensinar que todos nós podemos ser um Balboa.

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WiFi Ralph: Quebrando a Internet: Um mar de divertimento e concepções

O mundo digital e a internet são pautas recorrentes no cinema atual. Além de apresentarem uma dinâmica que interfere diretamente em nosso cotidiano, suas complexidades tecnológicas e culturais são chamativas e um combustível para boas histórias. O Jogo da Imitação (2014), por exemplo, aborda um dos precursores fundamentais para esse processo, enquanto A Rede Social (2013) relata a criação polêmica do famoso site Facebook, que se tornou uma das maiores redes de integração no mundo. Já quando se fala de WiFi Ralph: Quebrando a Internet, a animação surpreende em substituir a seriedade por uma comédia simples e eficiente, tornando elementos tecnológicos em personificados e cômicos.

WiFi Ralph parte da premissa que o WiFi é o grande destaque da vez. A instalação da conexão afetará diretamente a vida dos personagens já conhecidos do arcade, pois se tornará uma opção viável para a reconstituição de um dos jogos quebrados. Tal problemática é levada até o fim dos créditos, uma vez que o contraste entre os dois estilos de entretenimento, internet e fliperama, é o tema mais atraente do roteiro, e que será usado como base para a construção dos melhores momentos e de diversas piadas da sequência.

Rich Moore e Phil Johnston, diretores do projeto, trouxeram à vida uma incrível concepção completamente inovadora para a internet. Todas as práticas dos usuários e os elementos presentes no dia-a-dia da era digital (bugs, spans, publicidades, vírus, comentários, etc) são transformados em seres animados com jeitos e manias humanas. As famosas páginas e banners publicitários são transformados em seres segurando uma plaquinha e gritando excessivamente no rosto das pessoas. Estas pessoas, deixando registrado, são apenas bonecos que representam a vida do usuário dentro do servidor digital, inexpressivos e robóticos.

Outros tópicos como compras e comentários são hilários de se verem transformados. Ao apertar o link, um carrinho surge inesperadamente levando o usuário até o respectivo site – todos os sites são representados por casas, prédios ou monumentos – e os comentários se assemelham com o que nós vemos na realidade nua e crua. Embora superficialmente, o longa flerta em discutir questões envolvendo privacidade e manifestações de críticas gratuitas.

Contudo, há de se dizer que as referências, como no antecessor, continuam sendo o maior sucesso. E deve-se dizer que nem é tão difícil formular piadas quando se tem marcas como Google, Disney, eBay, Amazon, entre outras, no seu contrato. WiFi Ralph, portanto, usa essa vantagem com inteligência em prol da constituição de seu entretenimento e o envolvimento de seus protagonistas, e do próprio público, com a narrativa principal.

Toda a sequência ocorrida dentro do espaço da Disney atinge o nível máximo de referências. Star Wars, Marvel, Ursinho Pooh e o lendário Stan Lee são os principais atrativos e forçam o público, inconscientemente, a apontar os dedos e explicar as diversas presenças dentro de tela.  Há inúmeras cenas, aliás, que guardam mais de cinco representações simultaneamente. Algumas delas estão no encontro entre a protagonista Vanellope e, absolutamente, todas as princesas da Disney. O diálogo, que ocorre dentro de um salão de princesas, guarda diversas menções sobre as origens das respectivas personagens, bastante conhecidas pelo público.

Porém, como em diversas animações que apresentam discursos mais inflamados por trás, WiFi Ralph traz consigo uma mudança essencial. Além da alternância entre o protagonismo de Ralph e de Vanellope, que é bem mais importante neste filme do que no anterior, esta fantasia criada pela Disney tenta quebrar diversos paradigmas das fábulas encantadas, deixando clara sua intenção de dar mais notoriedade e importância para as personagens femininas. Mesmo assim, a animação consegue manter um alto nível de divertimento e infiltra críticas razoáveis durante as ações das personagens.

O único problema que estraga WiFi Ralph é a falta de uma narrativa principal convincente. Há tantas coisas acontecendo ao redor do conflito mais significativas, que o clímax acaba sendo desinteressante, acarretando em um final pouco expressivo e impactante. Ao invés de nos importarmos com os acontecimentos da trama, ficamos mais ligados na próxima referência, no aparecimento de algum site conhecido ou de uma personalidade famosa.

Wifi Ralph: Quebrando a Internet cumpre perfeitamente seu papel como animação. Apesar de ter uma história completamente irrelevante e, até certo ponto, boba, agrada por apresentar elementos reais traduzidos para a técnica de animação. Engraçado, divertido e esteticamente deslumbrante, a continuação promete ficar na cabeça dos apreciadores e caçadores de referências por mais um tempo.

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Bird Box: A Inversão de Valores

O novo projeto da Netflix, baseado no livro homônimo de Josh Malerman, que marca a primeira empreitada de Sandra Bullock no serviço, tenta algo incomum quando relacionado aos gêneros. A mistura de terror e drama familiar precisa ser competente para alcançar o relacionamento psicológico com o público.  Se não ocorresse uma boa exploração e um aprofundamento diante desses dois conceitos, além do estabelecimento da conexão entre eles, provavelmente Bird Box seria um fracasso. Porém, diante do talento da sua protagonista e a habilidade técnica da diretora Susanne Bier, o resultado é positivo, mesmo que guarde alguns tropeços no decorrer da narrativa.

A história principal é fragmentada em dois espaços temporais. O primeiro ocorre no passado e mostra o início de uma doença desconhecida que faz com que as pessoas se suicidem apenas a olhando. Na segunda linha, temos os tempos atuais com Sandra Bullock e um casal de crianças em um mundo pós-apocalíptico completamente devastado. O filme consegue contrastar os dois ambientes e desenvolve a narrativa em prol da construção da protagonista Malorie Shannon.

Shannon transmite um perfil inicial clichê e pouco criativo. Ela está prestes a ser mãe, mas tem uma vida completamente distinta deste novo papel, negando a sua gravidez. Nos primeiros minutos a abordagem evidencia essa negação e já apresenta alguns momentos do futuro, apresentando, visualmente, um perfil bem diferente do que estamos presenciando. Ao passo em que a doença começa a se difundir na cidade, a moça encontra um grupo de sobreviventes, e é a partir do encontro que a história começa a se resolver e criar sentido.

Talvez todo a linha do passado seja o maior ponto fraco do roteiro. Não há um texto tão elaborado e inventivo, coisas que se tornam claras no fraco relacionamento entre os atores, – estes que são muito mal interpretados e decepcionam ao entregar atuações robóticas e pouco originais – na pobreza do cenário que aparenta ser de qualquer novela das nove e do tratamento superficial que se dá aos conflitos emocionais dos personagens. Em várias sequências o filme demonstra um vazio técnico e estrutural, mas sua linha futura contrasta inteiramente com essa ideia.

O futuro apocalíptico é profundamente pensado e idealizado. Os sets mais soturnos que abordam a natureza com árvores, rios e paisagens naturais, transforma o ambiente isolado e conecta com o psicológico dos personagens presentes. Principalmente a de Sandra Bullock, esta tem uma exploração tridimensional profunda e auxiliada pelos elementos cinematográficos presentes. As câmeras insistem em ângulos mais fechados e primeiros planos para realçar as emoções daquelas pessoas. A composição sonora também auxilia nessa composição tensa e cansativa, ficando impostada nas cenas de mais ação e perigo.

E é nas cenas futuras dentro das florestas que a mistura de gêneros se concretiza. Há diversos diálogos que expõem relacionamentos e transmitem angústia, enquanto os sustos tentam idealizar a figura da “doença” e o vínculo entre Shannon e as crianças constrói a concepção familiar da história, estabelecendo certas mensagens além da perspectiva psicológica da protagonista.

Deixando de lado o desfecho, – um bom twist – o que mais surpreende é a originalidade em abordar temas tão comuns em filmes dramáticos e familiares. Tudo o que acontece entre as crianças e Malorie Shannon tem um significado profundo e auxiliará eles durante a jornada, abordando aspectos familiares e sociais. Eles não estão mais em estruturas sociais presentes em um estado ou em uma sociedade, suas vidas retornaram ao estado natural sem laços pessoais, parentais ou comunitários, as crianças, principalmente, devem aprender e resgatar estes valores, mesmo que tenham de ser adaptados à nova situação mundial.

Apesar de apresentar certa bipolaridade em sua estrutura, Bird Box é extremamente habilidoso e inteligente ao abordar figuras no estado natural delas, e traduzir isso em transformações incríveis para seus personagens. Com um discurso fortemente voltado ao feminismo e a igualdade social, este novo projeto da Netflix se consagra como um dos melhores do serviço até agora.

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Better Call Saul: O nascimento de Saul Goodman

Breaking Bad foi e continua sendo um marco televisivo. Uma série que começou com seus tropeços e problemas, mas que em pouco tempo cresceu imensamente e se tornou sucesso absoluto no mundo inteiro. Para aqueles que estão iniciando suas empreitadas, ou até para os mais experientes, a série de Vince Gilligan se tornou referência para trabalhos nesta mídia. Tal fama se deve muito ao próprio diretor, roteirista e produtor, que trouxe identidade ao apresentar um trabalho de transformação de personagem completo e competente. Após a conclusão da série, foi decidido a criação de um spin-off, Better Call Saul, que contaria a origem do advogado corrupto Saul Goodman (Bob Odenkirk). Repetindo o feito, Gilligan tenta trazer seu toque autoral e um novo ponto de vista para esse universo. Mesmo que esta série não esteja tendo tanta notoriedade quanto a sua fonte, seu quarto ano se demonstrou corajoso em criar pernas próprias e não depender do passado.

Em três temporadas, Bob Odenkirk, Gilligan e Peter Gould, tentaram reproduzir o mesmo discurso do sucesso de cinco anos atrás. Desde a fotografia até o tratamento de personagens e cenário, Better Call Saul parecia ser apenas uma homenagem a Breaking Bad. Tinha seus bons momentos, guardando linhas próprias e originais. Porém, a falta de identidade era o que faltava para ela realmente se estabelecer como um programa televisivo autêntico. E a morte de Chuck McGill (Michael McKean) no final do terceiro ano foi a cartada final para a reviravolta completa.

Os primeiros episódios da quarta temporada já demonstram diferenças em relação aos seus antecessores, além de serem constituídos por uma pesada carga de luto, houve mudanças na caracterização dos personagens. Parecia que eles estavam transformados pelo ocorrido, e esta mudança se refletiu na condução do restante dessa temporada. Novos personagens e novos conflitos, que estão relacionados com o futuro de Breaking Bad, mas que não são introduzidos a favor da primeira obra. A preocupação está em como os personagens serão representados e trabalhados NESSA trama, com dilemas pessoais e morais sendo desconstruídos de forma absolutamente brilhante.

Jimmy McGill está suspenso de seu cargo de advogado e precisa buscar um novo emprego e certa dignidade perante Kim Wexler (Rhea Seehorn), atual namorada. A busca por emprego é moldada pelos discursos persuasivos de McGill, que serão o trunfo dos conflitos do protagonista. Se nos últimos anos o desenvolvimento focava no trabalho de Wexler e nos trambiques de Jimmy, o quarto foca na vocação pessoal do protagonista em advogar. O enredo fica nos jogando na cara o tempo inteiro a necessidade de ele voltar para os tribunais, sua vida está dentro deles e só com a sua carreira poderá provar seu valor e utilidade para a sociedade.

A morte de Chuck também está pesando na relação de Wexler e McGill, ao passo em que a advogada não entende o porquê de seu namorado não estar impactado com a morte do irmão. Essa problemática é o principal elemento dramático que Gilligan irá se utilizar até o nascimento de Saul Goodman, um ponto final entre a relação dos irmãos e o desprendimento de Jimmy da sua vida atual.

Há, como de costume, um outro lado dessa história. Enquanto Jimmy está resolvendo sua vida, Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks) e Gustavo Fring (Giancarlo Esposito) estão em uma narrativa própria e bem particular. Suas narrativas giram em torno da construção do famoso laboratório subterrâneo, que será utilizado por Walter White no futuro. Surpreendendo a todos, Mike e Fring se mantém mais nas sombras nesta temporada, deixando a equipe de construção como o principal condutor. Fica nítido a mudança de perspectiva trazida pelo diretor, de demonstrar as dificuldades do grupo e de seu líder: Werner Ziegler (Rainer Bock), o reflexo da vida de Mike.

O estranhamento de tratar personagens desconhecidos, e até dispensáveis, é válido. Porém, tal prática guarda um objetivo maior, que é trazer uma contraparte de Mike. Zigmur tem esposa e uma vida tranquila. Seu cotidiano é completamente distinto do que nós conhecemos neste universo. Com isso, a vida dele é utilizada para completar a transformação de Mike, negando a vida comum e tranquila, se fechando para o mundo. Aliás, a cena de ambos na montanha durante a season finale é uma das mais sensíveis e bonitas já feitas nas duas séries.

No entanto, há um único problema em todos os núcleos presentes, que é o arco da família Salamanca. Depois de tantos bons momentos trazidos por Jimmy e Mike, parecia que não havia espaço para o desenrolar necessário dos personagens envolvidos na máfia mexicana. Talvez o único que deva ser ressaltado seja Hector Salamanca (Mark  Margolis), que, como os outros protagonistas, torna-se o que veremos em Breaking Bad.

Tecnicamente a série continua impecável. O nível de paciência e detalhamento de Gilligan e seus diretores, aliado ao seu senso estético apurado em deixar seus planos parados, silenciosos e um tanto quanto reflexivos, torna a experiência de assistir a série agradável. Aqui dá para encontrar diferenças em relação aos anos passados, há mudanças nas colorações dos ambientes, antes mais saturados, agora mais limpos e claros. Há um sentimento de quietação e lentidão, estamos presenciando a virada da trama e de seus componentes.

Ao final da quarta temporada, presenciamos o começo de uma nova era para todos. Mike se transformou no pior dos seres humanos, e Jimmy McGill deu o último passo para virar Saul Goodman. Com tantos pontos positivos e autenticidade, nota-se o amadurecimento de Better Call Saul como série. Enquanto ela se aproxima cada vez mais de Breaking Bad, parece criar autonomia para estabelecer sua própria voz e essência.

It’s all good, man.

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Buscando…: A sombria realidade falsa

Buscando… consiste em um trabalho pensado profundamente, que se sustenta no suspense para transformar sua narrativa em uma verdadeira experimentação. Gerando um conflito entrelaçado com seus personagens e relacionamentos, o filme consegue demonstrar a dramaticidade e urgência de sua história, mas sem ignorar a autenticidade da linguagem cinematográfica adotada. A internet e os meios eletrônicos como base para toda a construção da narrativa trazem identidade a obra, que discute polêmicas e problemáticas envolvendo os espectadores numa progressiva descoberta ligada ao enredo e à nossa própria realidade.

Nos primeiros minutos de exibição, há dois elementos fundamentais estabelecidos: o psicológico dos personagens e a linguagem. Através da tela de um computador – que será o cenário até o final – nos é transmitido o passado da família Kim até os dias de hoje. Os registros dos familiares ficam contidos nos incontáveis documentos no computador. Através de fotos, vídeos, telefonemas e notificações, conseguimos entender os acontecimentos de forma cronológica e coerente. Mesmo sendo previsível o que acontecerá com uma das personagens, o diretor Aneesh Chaganty encontra maneiras inventivas e criativas de revelar os desfechos. A partir deste início, a conexão com o filme está realizada, e a linguagem estabelecida.

O mistério é transmitido ao redor do desaparecimento da filha (Margot Kim) e a tentativa desesperado do pai (David Kim) de reencontra-la. Com isso, ele começa uma busca incansável nas redes sociais da garota, tomando conhecimento de outras dificuldades enfrentadas e escondidas por sua filha. As descobertas do pai são empolgantes, já que estão inseridas no conceito da linguagem do computador acompanhado de uma trilha tensa – intensificando a dramaticidade e a perturbação. Porém, a melhor de todas adaptações decorrentes da técnica de produção é a utilização da webcam como ponto de vista. Os planos e enquadramentos são fixos e inexpressivos, abrindo total espaço para atuação dos personagens – por outro lado, os planos do Windows e do MacBook são intercalados para se criar dinamismo na hora do suspense, incluindo cortes secos e zoom.

Bem montado e estruturalmente sem falhas, Buscando… consegue implementar um discurso rígido e sério sobre a utilização da tecnologia nos dias atuais. Contudo, nada é nu e cru. O trabalho é fragmentado pelas questões de justiça cibernética, exclusão social, pós-verdade e até julgamento público. Tais problemáticas não são abordadas de forma direta, sendo diluídas através das cenas no clímax do suspense. E, consequentemente, o filme nos coloca na posição de julgarmos as ações dos personagens, decorrentes das descobertas ao longo da exibição.

Mesmo assim, o thriller mostra que as suspeitas estavam equivocadas, nos colocando contra a parede. Neste momento, percebemos que nos tornamos logo aquilo que Buscando… estava criticando. A obra  deixa de ser um mero suspense para dar espaço a um experimento social válido e complexo, demonstrando que as influências da tecnologia são um ciclo interminável. Os pensamentos e os julgamentos estão em nossas cabeças, só basta um meio de alcance considerável para expô-los. Não importando quem esteja do outro lado da tela.

O terceiro ato é constituído por dois plot twists coerentes com o que foi contado. Existem, obviamente, algumas extrapoladas inevitáveis para concretizar o destino dos personagens, mas aceitáveis na presença de uma ótima construção e ambientação. Imitando o começo, o final combina os elementos cinematográficos na transmissão de uma conclusão em nível de excelência.

Buscando… é o tipo do gênero de suspense que consegue captar o público de primeira e desenvolver satisfatoriamente sua história. Entretanto, o principal atrativo fica com o experimento feito simultaneamente, que nos demonstra a incapacidade do ser humano diante da nova realidade dominada pela tecnologia, falsa e obscura.

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Primeiro vídeo de JOKER mostra os reflexos do vilão em Joaquin Phoenix

O diretor Todd Phillips, através de sua conta oficial no Instagram, divulgou o primeiro vídeo do filme JOKER. O teste de câmera mostra a transformação do personagem Arthur Fleck em um palhaço nitidamente melancólico.

 

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Camera test (w/ sound). Joker.

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Com previsão de estreia para 04 de outubro de 2019, a obra terá o principal antagonista do Batman interpretado por Joaquin Phoenix e será dirigida por Todd Phillips, que escreveu o roteiro ao lado de Scott Silver. Martin Scorsese é o responsável pela produção

O elenco também conta com Robert DeNiro, Zazie Beetz, Marc Maron e Frances Conroy.

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A Freira: Muito potencial, razoável aproveitamento

Os spin-offs de Invocação do Mal começaram com o pé esquerdo. Tendo Annabelle (2014) como seu ponto de partida, era nítida a falta de empenho dos realizadores em tentar produzir algo de verdadeira qualidade e significância, como as obras principais que serviam de base temática para estas outras empreitadas. Depois veio a continuação, intitulada A Criação do Mal (2017), que se distanciou do seu antecessor fazendo um filme com muito mais perspectiva, apesar de ainda ser bem inferior em relação aos dois Invocação do Mal. Agora, com A Freira, a esperança de finalmente ter um filme competente e que faria jus aos principais renascia. Prometendo uma premissa pautada diretamente a religiosidade, utilizando uma das figuras mais icônicas de Invocação do Mal 2 (2016), A Freira é, sem dúvida alguma, MAIS um erro dos realizadores que não encontraram o equilíbrio entre criatividade e reverência.

A Freira escancara o principal problema de todos os filmes paralelos, que juntos, tendem a criar um universo integrado: a falta de uma mente ambiciosa como a de James Wan. É nítida a falta de visão do diretor Colin Hardy em tentar criar algo inédito. Enquanto vemos Invocação do Mal corajoso na tentativa de alterar os padrões técnicos do terror, presenciamos A Freira indo para a direção contrária. Mesmo se sustentado na religiosidade, que poderia ser seu trunfo, o filme não ultrapassa a linha das convenções e dos clichês do gênero, resultando em outro trabalho sem personalidade e comprometimento com o que está sendo contado.

Em relação ao Annabelle, A Freira se assemelha muito no que se entende como falta de ritmo e ambientação. Se em Annabelle os ambientes e personagens soavam forçados, este não se diferencia muito. Até os primeiros dois planos gerais em que vemos a visão do castelo como uma forma de nos situarmos dentro do campo de ação, havia um certo cuidado em relação a composição espirituosa do convento e seus integrantes. Porém, o problema é quando as repetições de enquadramentos e sequências se tornam obstáculos para o fluxo da experiência: não há sentimento de claustrofobia ou inquietação em nenhum dos ambientes internos, porque o longa não se preocupa com tal.

Já falando em ritmo, A Freira consegue estragar seus pontos mais altos com bizarrices envolvendo alívio cômico sem nenhum impacto, e diálogos fracos e superficiais entre personagens quase inexpressivos. Quando há esse tipo de situação, fica escancarado o descuido em tratar seu gênero como mero entretenimento passageiro, estragando uma experiência que poderia ser, no mínimo, interessante.

Se a criatividade passou distante do processo de filmagens de A Freira, não há como se negar as reverências às convenções do gênero de terror. O momento do susto – referenciado pela expressão jump scare – as aparições diante do escuro e do vazio, o som ensurdecedor, o corte seco e preciso, além de várias outras técnicas já manjadas por fãs de longa data. Há de ser justo e dizer que, quase sempre, Hardy acerta a mão em tratar seu filme como um simples precursor do bom e velho terror. As luzes, que formam sombras e escuridões, dão uma sensação sombria satisfatória, além de trazer cores como o vermelho e o azul para irem se alternando entre as passagens. A edição e mixagem de som são, facilmente, a melhor coisa de A Freira. Correntes, vozes, passos, gritos, orações, trovões, entre outros, constroem, gradativamente, um conjunto de elementos que são encaixados de acordo com a movimentação dos objetos – corretamente dispostos no quadro, conseguindo captar a essência da religiosidade – e da tensão na cena.

O jump scare também é altamente utilizado. Vários cortes e panorâmicas são propositais, tornando previsível alguns espantos aos espectadores mais experientes. Mas há alguns bons sustos que pegam todos os públicos desprevenidos. Os que envolvem a freira são os melhores e eficazes, porque são esses que vão trabalhar toda a figura dela, desde a vestimenta até a maquiagem. Continua sendo uma das figuras mais aterrorizantes desse universo, mesmo com o excesso de CGI em quase todas as aparições.

Há um elenco formado por bons atores e atrizes, mas que trabalham pouco por seus personagens, provavelmente pelo texto fraco. O Padre Burke (Demián Bichir) e Frenchine (Jonas Bloquet) são os mais dispensáveis e entram para alguns dos piores da franquia. Ambos são os típicos que farão as maiores burrices, e às vezes ultrapassando o limite entre a facilitação do roteiro e a coerência da própria personalidade. Se um é o padre mais inútil da face da Terra, o outro é o personagem da Marvel com o pior timing da história.

Contudo, o núcleo feminino composto pela Taissa Farmiga e Charlotte Hope é formidável. Ainda acontece algumas incoerências, desta vez toleráveis. A Irmã Irene (Farmiga) chama a atenção no terceiro ato, quando é exigida pelos sufocos e dramas que envolvem a sua maturidade. Já a Irmã Oana (Hope) é rápida em sua aparição, porém marca com o peso dramático em que está envolvida. Duas personagens femininas que conseguem entregar uma parcela significativa de seu potencial.

A Freira consiste na falta do novo e na insistência do velho. Carece de criatividade e da ambição de seu próprio diretor, que parece não se importar com a falta do seu envolvimento. Como filme de terror, consegue se sair razoável por apresentar um bom domínio das velhas técnicas e truques para prender o espectador na poltrona. Talvez seja exatamente isso que o público espera, já para aqueles que buscam inovação e experiências únicas e particulares, A Freira não seria a melhor opção.

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House of Cards: VOTE EM CLAIRE UNDERWOOD

Após meses conturbados na produção de House of Cards, devido as polêmicas e acusações envolvendo o nome de sua estrela, Kevin Spacey, a série finalmente irá voltar com seu último e derradeiro ano. Para qualquer projeto que conte com Spacey no elenco, a perda de um ator desse calibre tem um peso considerável. Entretanto, diante dos crimes cometidos por Spacey, é inaceitável para os fãs e a própria Netflix o seu retorno. Não importa o sucesso ou o dinheiro, há assuntos fora das telas que devem ter uma supervisão rígida com uma seriedade extrema.

Com dois Oscars na carreira, Kevin Spacey é um dos maiores atores na atualidade. Protagonista em filmes estrelados como Seven – Os Sete Pecados Capitais (1995), Beleza Americana (1999), Baby Driver (2017) e Os Suspeitos (1995), entre outros, seu currículo é melhor do que de muitos em Hollywood. Um ator que sempre explorou o melhor de seus personagens, construindo personalidades próprias, demonstrando seus comportamentos e ideais. Spacey dava a vida pelo personagem. Alguns memoráveis, como Lester Burnham, que tem atitudes controvérsias e instáveis ao longo do excelente Beleza Americana. O retrato perfeito da classe média americana e a sua degradação em prol do estilo de vida ideal.

Já em Seven, o sociopata John Doe cria uma teia para divulgar seus ideais morais em relação ao comportamento humano. Apesar de aparecer em poucos minutos, Spacey parece se personificar no personagem, com um olhar duvidoso e ameaçador, ao mesmo tempo que retrata um psicológico profundo divido em psicopatia e serenidade. Em Os Suspeitos, o ator consegue extrair o essencial de seu personagem: confuso, perturbado e com problemas motores. E, consequentemente, sua atuação alcança o “clímax” nos últimos minutos, junto a um dos mais impactantes plot twists do cinema. Méritos do roteirista Christopher McQuarrie, do diretor Bryan Singer e do próprio ator.

Em 2013, estreava a promissora obra original da Netflix: House of Cards. A série que conquistou o público, e ajudou a Netflix crescer progressivamente, retratou de forma cruel e de certa forma, melancólica, a atuação política dentro do cenário americano. E a sua representação mais forte, intensa e objetiva é Frank Underwood, impiedoso e inescrupuloso na busca por poder. Talvez seja o resultado de toda a carreira de Spacey, depois de incontáveis personagens que exploram de forma crua a condição humana, Underwood foi o personagem que mais explorou essa variável. Da mudança de sotaque ao olhar penetrante, o premiado ator somou outro fenômeno em sua carreira, conquistando diversos prêmios e nomeações.

Se Underwood foi o resultado de diversas construções de personagens, Kevin Spacey é o retrato de tudo que explorou com eles. A crueldade, a necessidade de estar por cima e o egocentrismo extremo foram cruciais para a queda brusca de sua carreira, ainda, promissora. Foi a vida imitando a arte da forma mais surpreende que poderíamos presenciar. Nesse momento, a arte entregue por todos esses anos está manchada? Será influenciada por nossos pensamentos diante das ações do ator? Ou tudo deve ser ignorado, e a arte não tem nenhuma ligação com a vida exterior? Perguntas difíceis de serem respondidas. É no mínimo discutível todas elas, e, obviamente, cada um terá uma opinião sobre. Deixemos elas de lado por enquanto.

O que está em jogo, contudo, é o que irá acontecer daqui pra frente com a série americana. A saída afeta diretamente a parte comercial de House of Cards, porém, dar continuidade a história pode não afetá-la qualitativamente. Há um fator que muda tudo, há algo que pode conquistar novos públicos, concluir pontas soltas, e encerrar a série com chave de ouro. Este fator é Claire Underwood.

Robin Wright é versátil em cada papel que trabalha. Construiu uma carreira sólida e Claire Underwood é a sua personagem de maior destaque. Em duas temporadas mais tímidas e menos presente, Wright foi estabelecendo sua personagem. Não havia a presença da figura da mulher empoderada e independente. Claire era completamente cercada por Underwood, dependia dele para sua carreira e sucesso. Foi-se demonstrando vulnerável e submissa. Os esquemas do protagonista sempre se colocaram em cima de seus projetos pessoais. Mas não por muito tempo.

A partir da terceira temporada, os roteiristas deveriam ter percebido o valor que Claire e Wright tinham para a série. Em poucos episódios, a esposa submissa de Frank Underwood, se tornou autônoma e independente. Parecia que ela estava começando a tramar seus planos de forma concisa e independente. A série foi desconstruída em dois paralelos distintos, entre Frank e Claire. Cada um com seus objetivos e histórias próprias, lutando por benefícios individuais, mesmo que o casal continuasse junto.

Na quarta temporada, a equiparação dos personagens atingiu o mundo real. Ainda mais promissora, Claire Underwood estava se tornando o que as mulheres queriam ver em suas representações. Embora criticada por muitos e perdendo uma parte da velha audiência, House of Cards estava tornando sua protagonista feminina no que todas deveriam ser um dia. Embora a mídia e o público em si, não estejam se importando com isso. O desenvolvimento foi claro e óbvio durante as três últimas temporadas, e a quinta temporada, que seria marcada pela queda de Kevin Spacey, foi a ascensão de Robin Wright.

Era estranho os primeiros episódios, a quebra da quarta parede não era só mais feita por Frank, havia episódios que o próprio quase não aparecia. Sua ânsia de poder parecia estar sendo substituída pela jornada de sua parceira. E na cena final, na câmera focando em Claire Underwood e a bandeira americana furada pelo ex-presidente, foi o ponto final para sua consagração completa. O começo de uma nova era, dentro e fora.

Sem Spacey e Frank, mas com Claire e Wright, House of Cards tem a chance de retomar sua posição como a grande série que foi em suas primeiras temporadas. Mesmo mantendo o nível, o público e a crítica não parecem ter gostado das últimas mudanças ocorridas na série. As pontas soltas deixadas, e as conclusões da quinta temporada, pareciam ter encerrado a trajetória de Frank Underwood, que coincidiu com a saída do ator. Não há mais sombras para finalizar a trajetória da melhor protagonista feminina na TV atualmente.

HAIL TO THE CHIEF, diz o teaser da sexta temporada. É a troca de lugares e posições. Junta dos produtores e roteiristas, Wright pode explorar cada minúcia da forma que bem querer. O espaço é todo dela, seu desenvolvimento será completo e único. Enquanto a sua trajetória possa ser a salvação da série, também pode ser um novo ponto de referência para todos os homens e mulheres que lutam pela igualdade de gênero e a transformação total desses paradigmas sociais. Como A presidente disse no final do teaser: We’re just getting started. E é o que todos nós esperamos.

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Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas: Colorido, divertido e esquecível

Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas tem uma proposta muito particular. Enquanto há animações que tendem a cair para a infantilização completa, abusando no colorido e na falta de lógica entre personagens e história, há outras que tentam entrar em equilíbrio entre o público infantil e adulto, buscando a seriedade no meio da infantilidade. Já a trilogia de Hotel Transilvânia como um todo, sempre teve um foco para com as crianças, desde o descompromisso com a história até a exacerbação dos perfis de seus personagens, porém, nunca deixou de tentar trazer referências e piadas do mundo adulto, criando uma experiência no mínimo interessante.

Férias Monstruosas acompanha a família do Conde Drácula de férias no passeio em um navio, devido ao cansaço e o descontentamento dos personagens diante do trabalho árduo no hotel. Logo nos primeiros minutos, um rápido diálogo entre Drácula e Mavis revela que o navio funciona como uma pousada de férias, justificando o mantimento do título do filme como Hotel Transilvânia. Como no primeiro, o terceiro filme consegue explorar  o ambiente de forma leve e carismática, desfrutando comicamente, embora clichê, das diversas características de seus personagens comparadas aos hábitos humanos.

Responsável pela direção dos três longas, Genndy Tartakovsky é um dos mais experientes em sua área. Trabalhou em Samurai Jack, Star Wars: Guerras Clônicas, O Laboratório de Dexter etc. E, obviamente, fica nítida a sua experiência na telona. A forma como os enquadramentos são desenhados torna a visibilidade das cores, do ambiente e dos personagens fácil. Não contém poluição visual, nem mesmo nas cenas de ação, há uma preocupação estética na forma de construir quadros que consigam capturar a essência dos momentos e, ao mesmo tempo, criar passagens frenéticas e animadas.

Em relação a dublagem brasileira, ponto positivíssimo. Além de manterem os dubladores oficiais, não tem nenhuma fala que apresente gírias brasileiras ou referências toscas da própria cultura nacional, que só brasileiros entenderiam. Existe uma fidelidade com a própria narrativa e os personagens continuam sendo bem representados por vozes que combinam com suas ações e traços, mesmo que tenham recebido críticas no começo da trilogia.

A condução descompromissada e, por muitas vezes, exagerada, estraga bastante Hotel Transilvânia. O compromisso entre a história e o espectador infantil/adulto é mínimo na hora da diversão e da experiência cinematográfica. Mesmo tendo uma qualidade estética notável, a falta de ambição é constrangedora, colocando este filme como mais um de uma enorme parcela de medíocres que acham que “cumprir seu papel de entreter o público” é o máximo que podem atingir.

Porém, a experiência tende a ser interessante por apresentar uma particularidade. Referenciar o mundo adulto de forma maliciosa, ou a cultura popular entre adolescentes, não é uma tarefa das mais simples. É preciso dosar os momentos corretos para que isso aconteça corretamente, e Hotel Transilvânia 3 não decepciona nesse quesito. São nos ápices da aventura que as referências ocorrem, nas viradas mais importantes da trama, que pode causar até um certo descontentamento por parte das crianças mais novas. Músicas e malícias em certas falas fazem com que o filme consiga se conectar com maiores públicos, sem, necessariamente, trazer seriedade ao que está sendo contado.

Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas é bonito, bem dirigido, colorido e dublado por uma equipe competente. Mesmo com tantos elogios, é fácil exemplificar os problemas e as condições que causarão o esquecimento acelerado deste. Mais uma animação que tinha potencial de ser ótima e trouxe algo pelo menos diferenciado, mas que não consegue sair da sua zona de conforto e segurança. Infelizmente, essas férias não foram as melhores como esperávamos.

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Divulgado teaser da última temporada de House of Cards

Depois de uma conturbada produção, devido a saída de Kevin Spacey após inúmeras acusações de assédio sexual, House of Cards finalmente lançará sua última temporada.

Ainda sem previsão para estreia, com Robin Wright (Claire Underwood) sendo a protagonista, um dos maiores sucessos do serviço da Netflix lançou o primeiro teaser mostrando que “querer é poder”.

Não há informações de como a trama irá tratar o personagem Frank Underwood.

Essa sexta temporada foi confirmada pela Netflix como a última da série, que retratará Claire como a primeira presidente mulher dos Estados Unidos. As cinco temporadas estão disponíveis no serviço.