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Trilogia Rua do Medo é nostálgica, mas esquecível

Para todos os fãs de terror, é muito fácil encontrar obras que fazem referência ao tão amado gênero, como por exemplo a icônica e revolucionária quadrilogia Scream, de Wes Craven. A trilogia Rua do Medo, dirigida por Leigh Janiak (Panic), chegou à Netflix no mês de julho e chamou atenção por ser lançado um filme a cada semana, sendo cada um em uma época diferente que se conecta à história antiga de uma bruxa. Funcionando como uma homenagem à série de livros do escritor R. L. Stine, e não uma adaptação direta deles, os três filmes giram em torno da maldição que paira sob a cidade Shadyside por gerações, sempre influenciando pessoas a cometerem assassinatos.

Rua do Medo: 1994 - Parte 1: Crítica do filme da Netflix

Parte 1

No primeiro longa, acompanhamos Deena (Kianna Madeira), seus amigos e seu irmão tentando salvar a namorada de Deena, Sam (Olivia Scott Welch), que após perturbar o túmulo da bruxa Sarah Fier, começa a ser perseguida por assassinos. Os jovens precisam sobreviver a uma noite perturbadora e descobrir como impedir a bruxa. Iniciando com a participação de Maya Hawke (Stranger Things) em uma cena à la Drew Barrymore em Scream, já fica claro a intenção de homenagear os slashers, trazendo certa nostalgia para os fãs do gênero, porém não funcionando no quesito terror. A cena conta com muitos jumpscares baratos que pecam pelo excesso. No entanto, os detalhes técnicos como a escolha de cores néon e iluminação, sua estética chamativa dos anos 90 e fotografia passam o sentimento cativante da época.

Talvez o maior problema do filme seja seus personagens, que não são nem um pouco carismáticos, com atuações caricatas demais. Geralmente, no terror não se precisa de um grande aprofundamento nos intérpretes, porém se faz necessário uma linha entre espectador e personagem, coisa que a obra não entrega. Além disso, outro grande defeito -e que infelizmente se perpetua nas sequências- é a quebra de momentos de tensão, que chega a ser patético. O principal exemplo é a cena onde os jovens estão na escola armando seu plano para pegar os assassinos e de repente todos começam a namorar, criando um cenário digno de vergonha alheia. A forma como vai muito fácil de nervosismo à romance é brusca, e faz com que não se estabeleça um sentido na linha narrativa geral, o que é muito frustrante. O roteiro se perde durante todo o filme, chega-se ao final e ainda não sabemos se é um terror sério ou um trash com mais humor como A Babá, fato que sabotou o primeiro filme. 

Nota: Prata

Parte 2

Na sequência é contada a história de Ziggy (Sadie Sink) e sua irmã Cindy (Emily Rudd) em suas férias de verão no acampamento Nightwing. Agora com o ar dos anos 70 e com direito aos clichês do gênero dessa época, vemos diversas referências à Sexta-feira 13, Carrie, O massacre da serra elétrica, entre vários outros. Ainda que seu primeiro ato se desenrole de forma um pouco mais lenta, o longa consegue instaurar um clima mais vibrante, sobretudo por não se passar em uma cidade que de repente fica deserta como foi em seu antecessor. Aqui os protagonistas instigam e conseguem tomar nossa atenção para como eles vão resolver as situações e sobreviver, e entregam mais carisma.

Crítica | Rua do Medo: 1978 – Parte 2 - Plano Crítico

A personagem Ziggy, apesar de indelicada, é quem traz a empolgação necessária para o filme, visto que a relação com sua irmã teve um bom desenvolvimento e as duas funcionam bem juntas em tela. A mitologia acerca da bruxa vai se aprofundando ainda mais, dando a impressão de que a história não está sendo desperdiçada. A parte 2 nos presenteia com cenas cheias de adrenalina e mais apreensão em sua narrativa, nos levando a indagar em quase todos os momentos o que vem a seguir. Rua do Medo 1978 não possui o mesmo problema do anterior acerca de não saber qual caminho seguir, aqui o roteiro parecia mais certo de qual tom se direcionar. Mostrando ser um pouco mais sério e sabendo em que momentos ser cômico, o segundo filme se consagrou como o superior da trilogia. 

Nota: Ouro

Parte 3

Na conclusão ambientada no ano 1666 durante a caça às bruxas, enfim é contada a história de Sarah Fier, como e porquê foi realizada a maldição da cidade, enquanto Deena e seu irmão tentam salvar Sam e livrar a cidade do mal em 1994. Até pouco depois da metade do longa é enjoativo e maçante ver a narrativa, acompanhada de uma fotografia crua. Fica claro que a parte 3 foi feita para dar respostas, por mais que demore a desenvolver o terror, sendo esse o que menos flerta com o trash.

Reviravolta de Rua do Medo: 1666 estava na cara dos fãs o tempo todo

A conclusão da trilogia entrega uma boa reviravolta mas que poderia ser mais embasada, e que se for mais analisada apresenta furos no roteiro. Nem todas as perguntas são respondidas e nem todas as respostas são satisfatórias, além de que algumas cenas e circunstâncias se tornam muito confusas por não serem explicadas com clareza, ao invés disso optaram por uma sobreposição de falas que causam uma verdadeira bagunça. Ainda, perto de encerrar, o longa apresenta cenas bastante toscas, como a dos assassinos atacando um ao outro. 

Nota: Bronze

Em suma, a trilogia Rua do Medo tem a clara a intenção de homenagear os clássicos do terror com seu tom de saudosismo, porém cansa de tanto que se agarra nisso, não trazendo sua marca e, assim, se tornando completamente esquecível, mas um passatempo para se assistir sem grandes expectativas. Um dos fatores que atrapalham a tensão dos filmes é a trilha-sonora. Em literalmente todos os aspectos de som, os três pecam de forma que quebra sua estética e tom. Sua sonoplastia é pouco trabalhada e o uso de sons genéricos faz parecer um curta humorístico. As músicas da época são encaixadas de maneira muito irregular, e não combinam com o que é visto. Já sua trilha-sonora original se baseia em filmes de ação, mas acaba lembrando uma ação ‘Indiana Jones’ do que um terror de fato.

Por se passar no universo criado por Stine, são utilizados até certos lugares e famílias que se tem nos livros, porém a trama de Shadyside e Sunnyvale não existe. Também, a escrita das obras são focadas no público infanto-juvenil, enquanto aqui, se tornou um slasher sangrento e adulto. A trama talvez fosse mais bem amarrada se adaptasse algum dos livros ao invés de tentar criar um aglomerado de ideias que se perdem em um devaneio da direção e roteiro. A edição dos três também não é de se aplaudir. Com cortes muito estranhos e que influenciam no ritmo do longa, o resultado é a quebra da imersão (que já é completamente danificada), e que não consegue achar seu espaço. Cenas simplesmente são jogadas na tela e nada bem trabalhadas. A maquiagem e figurino são um dos pontos altos, muito bem feitos, o visual criado aqui é digno de suas respectivas épocas e do gênero. O sangue e como o visual dos assassinos são feitos (muitos referenciando outros filmes de terror), se encaixam bem, mesmo que pouco explorados a origem de cada um. Já sua cenografia é estranha em alguns momentos, no primeiro filme (1994) é de se estranhar a ambientação, pois não se assemelha tanto com a época em certos pontos. Em 1974 é clara a escolha de referência ao “Sexta-Feira 13”, e aqui funciona extremamente bem. Já em 1666, sua parte no passado é bem elaborada e evoca o passado, mas quando volta ao “presente”, a ambientação volta a ser estranha. 

Enquanto o primeiro filme a todo momento falha em seu desenvolvimento e carisma, o segundo diverte ao passo que nos faz imergir na situação assustadora do acampamento, já o terceiro serve como um esclarecimento da história e o que menos se preocupou com a qualidade da narrativa. Se tanto o primeiro filme quanto o terceiro seguissem a mesma matriz de roteiro do segundo, e principalmente cumprissem com o terror proposto, a trilogia completa seria mais empolgante. Seu aspecto visual intenso aparenta ser um slasher contagiante, mas que porém é sabotado pelo roteiro e seu vício por variar entre o pânico e o cômico a todo momento. Sem assumir sua identidade, seu objetivo ou estilo, a história se perde em seu mix de referências.

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Lupin entrega toda a sua astúcia e carisma na segunda parte

Após o sucesso da parte 1 lançada no começo do ano, a série francesa da Netflix, Lupin, retorna com sua segunda parte para dar continuidade às aventuras e história de Assane Diop (Omar Sy). Logo depois de seu filho, Raoul (Etan Simon), ser sequestrado a mando do antagonista e corrupto Hubert Pellegrini (Hervé Pierre) no final da primeira parte, Assane busca pelo filho desesperadamente, enquanto ainda segue atrás de justiça pelo o que aconteceu com seu pai no passado.

O primeiro episódio já começa sem rodeios, em continuidade ao gancho deixado em aberto na parte 1. O episódio, em particular, teve cortes e ângulos de cena bastante estranhos, o que causou uma confusão visual. Felizmente, essa escolha de filmagem não continuou nos episódios que se seguiram. O passado do protagonista se mantém sendo um elemento presente, o que é ótimo. A série consegue criar uma sincronia e sensação de sequência de forma excelente, sendo recorrente em ambas temporadas. Porém, o maior pecado dessa parte foi o primeiro capítulo que, ainda que tivesse as melhores intenções, não conseguiu entregar a tensão necessária para a situação de Diop e Raoul.

Lupin fala sobre pessoas que estão num local, mas ninguém se importa', diz Omar Sy - Jornal O Globo

Contudo, os outros episódios mantêm a mesma linha de qualidade da primeira parte. As sucessões de artimanhas de Assane ainda possuem a mesma perspicácia e funcionam em seus respectivos contextos, mas não são tão empolgantes quanto as de outrora. As relações do protagonista são mais abordadas, mas no entanto não foram bem aprofundadas, como a dele com Juliette Pellegrini (Clotilde Hesme) que merecia mais atenção e que no entanto deu a sensação de que o relacionamento foi apenas jogado na trama e esquecido.

O seriado ainda obtém sucesso em criar plot twists. A forma que Diop engana tanto os personagens quanto o telespectador cria uma relação original e excepcional. Chega-se ao final de alguns episódios e é revelado que fomos completamente enganados por ele, causando a surpresa pretendida. Outro ponto positivo é a dinâmica entre o protagonista e seu melhor amigo Benjamin (Antoine Gouy), que foi mais apresentada. Ver a parceria dos dois em tela é divertida, tanto no passado quanto atualmente, além dos atores possuírem uma harmonia entre si. Para nossa surpresa, ainda descobrimos um novo personagem aliado de Assane e que possui potencial para as próximas temporadas.

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A segunda parte de Lupin se mostra ainda com o potencial e perspicácia de antes, com críticas sociais ainda abordadas de forma sútil mas que podem ser percebidos. O charme, carisma e inteligência de Assane Diop, interpretado por Omar, são também ainda o ponto alto da série. Sua segunda parte possui erros técnicos -como de continuação, cenas de luta mal coreografadas ou com cortes muito bruscos- e de roteiro, mas que não tiram a qualidade da série no geral. Mesmo que não possua a mesma empolgação de antes, os truques de Assane continuam a manter nossa atenção para a tela, esperando por sua próxima proeza.

Nota: Ouro

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A mensagem sobre lar e adversidades em Sweet Tooth

Baseada nas histórias em quadrinhos da DC Comics pelo selo adulto Vertigo e criadas por Jeff Lemire, Sweet Tooth é a nova série original Netflix que estreou despertando o interesse de muitos espectadores. O que também chamou atenção para a série foi a participação de Robert Downey Jr. e Susan Downey na produção. 

Na trama, o mundo entra em colapso após um vírus acometer a população, enquanto começam a nascer crianças híbridas, no caso metade humano e metade animal, levando muitos a acreditarem que elas causaram o vírus. O protagonista Gus (Christian Convery), um menino metade cervo, vive isolado em uma floresta com seu pai (Will Forte), que faz de tudo para protegê-lo de humanos que caçam híbridos. Em busca de respostas de seu passado e origem, Gus parte em uma aventura junto de Jepperd (Nonso Anozie), um homem um tanto emburrado, mas que o protege muitas vezes e que também precisa lidar com suas memórias quanto ao flagelo. 

A história se mostra atrativa, sobretudo, pela sua premissa criativa e única. Toda sua atmosfera é composta por uma fantasia que nos convida a embarcar nesse mundo tão fantástico quanto assustador. Esse é um dos pontos que o roteiro consegue balancear bem, mesmo com tantas tragédias e incertezas em um mundo pós-apocalíptico, pode-se perceber o quanto as relações ali se tornam profundas. É evidente que quase todos os episódios dialogam sobre os conceitos de lar e resiliência de forma afável, sem parecer algo raso ou repetitivo. Da mesma forma, ao passo que assistimos uma jornada divertida, percebemos também as nuances mais soturnas do enredo, com mensagens que causam impacto de tão reais e atuais que são.

Com um protagonista carismático, já nos vemos quase completamente apegados à sua história e circunstância. Quanto mais episódios se passam, mais se faz presente a sensação de compartilhar dos sentimentos de Gus, sua inocência, amor por doces, sua curiosidade que cativa, e também seus medos. Devido à perseguição aos híbridos, assistimos a temporada inteira torcendo para que nada de mal aconteça ao protagonista e às outras crianças híbridas, fato que nos amarra emocionalmente ainda mais à narrativa. 

Além disso, a relação de Gus e Jepperd vai se tornando cada vez mais genuína e cômica de se ver. Assim como todos os outros personagens apresentados, que são muito bem desenvolvidos com suas particularidades e contribuição para com a narrativa, a trama funciona de forma bem estruturada.

As locações em paisagens naturais são, sem dúvidas, um dos pontos mais encantadores do seriado. Cada panorama se mostra mais belo que o outro, com fotografias espetaculares que dão à obra uma identidade visual ímpar e que muito contribui para estabelecer a atmosfera de aventura. O sentimento é de que estamos participando dessa história, imergidos em uma fábula e a conhecendo ao mesmo tempo, isso graças também à narração de James Brolin.

A série contém muitos elementos que lembram a atual pandemia, tendo assim um forte apelo emocional e que conversa com o público, que conhece essa experiência. É visível as comparações e mensagens claras sobre o cenário vigente, e fica difícil não se identificar com a situação. No entanto, a obra tem seus defeitos, sendo eles os problemas resolvidos facilmente em alguns momentos, ou a impressão de se arrastar lentamente, assim como a caracterização de outras crianças híbridas que deixou a desejar em outras cenas. 

Ainda que não possua o ar sombrio das hqs, Sweet Tooth também funciona com seu clima mais esperançoso e positivo, adaptado na intenção de alcançar todas as idades. E mesmo sendo uma aventura leve que fala sobre família e amor, também tem seu quê de taciturno ao explorar temas como a violência, discriminação e, sobretudo, como as pessoas se comportam em tempos difíceis. Por isso, talvez adaptar a obra sob um olhar mais delicado tenha sido a melhor decisão.

Nota: Diamante

 

E também, não deixe de conferir as principais diferenças entre a adaptação live-action e os quadrinhos!

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Cruella é um live-action divertido e de perfeita extravagância

Em uma era de live-actions de desenhos e histórias queridas da infância, ou ainda o aprofundamento de vilões e suas histórias por trás da vilania, como Malévola -também da Disney– nos aproximamos da trajetória de Cruella de Vil dessa vez, anteriormente encarnada pela talentosíssima Glenn Close. Muitos facilmente deslizam e acabam desagradando o público ou ainda não despertando interesse, o que não se aplica à Cruella, o mais novo live-action do momento que conta a história da vilã do famoso desenho 101 dálmatas.

Cruella (2021) - IMDb

Dirigida por Craig Gillespie (Eu,Tonya), a trama narra a vida de Estella (Emma Stone), uma jovem vigarista que desde pequena é decidida a ser uma designer de moda. Com uma personalidade forte e criativa, ela chama a atenção de uma famosa e assustadora estilista, a Baronesa Von Hellmann (Emma Thompson), enquanto lida com seus traumas de infância, revelações e seu lado mais rebelde, sombrio e vingativo, a Cruella.

Já no começo é apresentado o perfil marcante e os eventos trágicos que marcaram a jornada da personagem, o que permite criar uma afinidade por ela apesar de já conhecermos seu histórico como vilã. Esse sentimento não é algo inusitado na história do cinema, visto que constantemente nos vemos mais interessados na história do antagonista do que do mocinho, como no filme Coringa (2019). Ao passo que assistimos a ascensão de Estella vemos também seu plano de vingança, sendo esse mais um fator que nos aproxima dela pelo desejo de justiça ao seu passado. Até pelo menos a metade do filme já se tem uma visão diferente quanto a protagonista, como uma anti-heroína e não vilã, o que se dá em grande parte pelo carisma da atriz. Além disso, suas aventuras com os dois amigos ladrões são cativantes, assim como a sua determinação em viver o seu sonho. Em adição, a construção dos personagens secundários possuem o necessário para estimular a simpatia do espectador, sem muitos excessos ou faltas. Tudo se desencadeia de uma forma excelente, com uma aura empolgante que se estabelece durante todo o filme.

Cruella: Você vai ficar chocado com a perfeição das novas fotos de  bastidores do filme - Febre Teen

O grande ponto positivo, sem dúvidas, é a escolha dos figurinos. Eles são o coração do longa, com uma extravagância perfeita que contrasta com o cinza de Londres, que por sua vez teve uma ótima ambientação e apresentação. Cada nova criação ou espetáculo da protagonista era mais marcante que a outra. O trabalho da produção de figurino foi realmente impecável e criativo, expressando a personalidade da história que será, sem sombra de dúvidas, uma grande referência quando se fala desse gênero. Além disso,a demonstração da era punk rock da década de 70, com o acompanhamento de uma trilha sonora ideal, harmonizou ainda mais o enredo. 

No te puedes perder el último tráiler de Cruella con Emma Thompson como la  nueva villana de Disney | Grazia México y Latinoamérica

Emma Stone claramente entrega tudo em sua atuação, que foi única e arrebatadora, sobretudo a partir da metade do filme. Apesar da personagem já ter sido interpretada por Glenn Close, Stone consegue dar um novo ar sem ser inferior, de maneira única que prova como ela se encaixou perfeitamente no papel. Assim como a performance de Emma Thompson que, como de costume, não deixa a desejar. A junção de duas atrizes tão talentosas foi mais um dos pontos altos, e a competição entre as duas intérpretes na trama é divertida e eletrizante, visto que as duas contracenam com uma ótima simetria.

Alguns dos pontos negativos se dão principalmente pelo CGI dos cães e de outras cenas, que ficaram um tanto toscas. Além de certas cenas muito arrastadas ou que não deveriam ter tanto tempo de tela, dando a sensação, às vezes, de algo enrolado.

Chega-se ao final e vemos uma Cruella perfeitamente encarnada, com seu tom de loucura e  frieza que muito provavelmente não seria tão impecável sem Emma Stone no papel, que, com seu carisma e multifacetas entregou uma divertida live-action. Sob essa nova perspectiva da icônica vilã, sem a atmosfera pesada das animações antigas e do filme de 1996, o longa pode se consagrar como mais um dos acertos da Disney.

Emma Stone: Disney Smoking Ban Affected Cruella Transformation | IndieWire

Nota: Ouro

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Oxigênio e a atmosfera rarefeita em sua composição

Oxigênio é o novo filme francês da Netflix dirigido e produzido por Alexandre Aja (Viagem maldita, Predadores assassinos) e estrelado por Mélanie Laurent (Bastardos inglórios, Truque de mestre). Nesta ficção científica, uma mulher desperta dentro de uma câmara criogênica sem lembrar de quem é, onde está ou porque está ali, enquanto o oxigênio disponível vai se esgotando. Em uma luta claustrofóbica a protagonista (Liz) precisa resolver o enigma que garantirá sua sobrevivência.

Oxigênio: Explicamos o final eletrizante do filme da Netflix

O filme começa com uma perspectiva pra lá de incômoda, sem se preocupar em preparar o espectador, o que é bom, pois cativar a atenção nos primeiros 15 minutos é fundamental em um enredo assim. Quanto mais minutos se passam, mais complexo e intrigante fica a história, e a cada chute que você dá sobre o que vem a seguir, mais você se surpreende. A narrativa não é nada previsível e é de pasmar a cada revelação -muitas delas arrepiantes. O oxigênio se esgota cada vez mais ao passo que sentimos precisar de mais e mais respostas, enquanto descobrimos o percurso da protagonista Liz junto da mesma, quase como coadjuvantes.

Oxygen': Netflix's New Sci-Fi Film, Release Date, Plot, Cast, and Trailer -  Sci-Fi Scoop

Não há o que reclamar da atuação de Mélanie Laurent aqui: a atriz consegue espelhar precisamente todas as emoções possíveis naquele contexto, mas sem exageros ou falta de comoção. Passamos juntos com a protagonista por vários tipos de sensações, como medo, aflição, dúvida, desespero e até as partes mais filosóficas acerca da personagem e sua história. O fato de ser reduzida a um pequeno espaço durante quase todo o longa foi também um grande agente que pôs ainda mais em evidência o talento de Mélanie. 

Os cortes de cenas funcionam de várias formas, todas elas dinâmicas e criativas, assim como os ângulos e jogos de câmera engenhosos. Mesmo com uma uma área limitada de cenário, tudo ali foi aproveitado de uma maneira eficiente, garantindo nossa imersão naquele ambiente apavorante e transpassando a agonia daquela esfera. Tudo fruto de uma boa direção, porém com um roteiro que possui suas falhas. As cores escolhidas também são um ponto positivo, sendo as principais vermelho e azul, o que contribui para a apreensão visual, assim como sua bela fotografia.

Oxigênio na Netflix: Entenda o final do filme estrelado por Mélanie Laurent  - Notícias de cinema - AdoroCinema

O longa pode não ser inteiramente de suspense, visto que foca também na história da protagonista e as explicações da trama em si, mas isso não significa que em muitas cenas não entregou o que prometeu, como a tensão, que poderia ter sido um pouco mais aproveitada, ainda que se tenha feito presente. Vale dizer que as descobertas desse quebra-cabeça é o que realmente instaura a apreensão, além de toda a profundidade filosófica do cenário. No entanto, parece que no final toda a questão é resolvida com só um pouco de esforço de Liz, e toda a sua existência, que seria a parte mais significativa, é mal aprofundada na conclusão, o que deixa uma sensação de insatisfação por parecer que toda a história foi bem desenvolvida mas o final não, como se toda a luta pelo oxigênio tivesse sido em vão dada a facilidade com que as coisas se sucederam.

Oxigênio é um filme que vale a pena assistir e que surpreende por sua ideia bem arquitetada, mesmo que deslize mais para o final. O que parece ser pequeno e simples por sua premissa surpreende por seu arcabouço bastante interessante.

Nota: Ouro

 

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A singularidade de Invencível no mundo dos super-heróis

Com tantas produções de super-heróis hoje, fica difícil achar uma que se destaque e realmente nos surpreenda, sem os mesmos eventos ou discursos previsíveis, e “Invencível” pode se encaixar dentro desta categoria.

“Invencível”, ou “Invincible” em inglês, é a nova série animada da Amazon Prime Video baseada nas histórias em quadrinho criadas por Robert Kirkman, autor também do universo de The Walking Dead. Na trama, Mark Grayson (Steven Yeun) é filho de um poderoso super herói, Omni-Man (J.K.Simmons), mas que não apresenta seus superpoderes até seus 17 anos, e que agora precisa se equilibrar entre sua vida de um garoto normal e de um super herói que enfrenta ameaças para proteger a Terra, isso com o auxílio de seu pai.

Invincible': TV Review | Hollywood Reporter

O elenco de dubladores da animação é sem dúvidas algo que precisa ser comentado e levado em conta para o seu sucesso. Temos Steven Yeun (The Walking Dead) dublando o protagonista, J.K. Simmons (Homem-Aranha) como Omni-Man, Sandra Oh (Killing Eve) e também Zazie Beetz (Coringa). E ainda, participações de figuras muito estimadas como Mark Hamill, Mahershala Ali, Ezra Miller, Lauren Cohan, entre outras. Certamente, a equipe de dubladores é vasta, com nomes que você provavelmente já ouviu antes. Esse foi um ponto forte e o que propiciou parte da personalidade única da série.

O primeiro episódio começa até então de um jeito despretensioso e típico do gênero: a equipe de heróis, chamados Guardiões do Globo, derrota os vilões. Em seguida, somos apresentados à trama de Omni-Man e seu filho, Mark Grayson, que deseja logo ter seus super poderes e seguir os passos do pai. Tudo parecia singelo e inofensivo, até o final do episódio, quando se tem a quebra de expectativa chocante que foi talvez a parte crucial para evocar a sensação de querer assistir mais. Parte disso se dá pelo enredo que vai sendo construído de forma excepcional, sempre cativando o telespectador e envolvendo-o com seu leque de personagens e arcos de forma divertida. 

Steven Yeun and the Cast of 'Invincible' on Bringing the Best-Selling Comic  to Life

É claro que a sátira permeia a obra, uma vez que os personagens são claramente inspirados em super-heróis já conhecidos. Contudo, essa não é a única e principal finalidade da animação. As histórias dos personagens são bem desenvolvidas e dispõem de algumas das famosas narrativas que gostamos de ver em um super-herói, afastando-se portanto do foco de uma sátira. Dado o alto teor de violência e cenas explícitas de tripas e globos oculares para fora, diga-se de passagem, pode suscitar uma lembrança da sérieThe Boys”, também da Amazon Prime Video. Entretanto, diferentemente de “The Boys”, “Invencível” não se preocupa em apenas fazer piada dos super-heróis das gigantes da editora. Ela tem seu humor próprio e não-óbvio, seu próprio universo sem ridicularização. E isso é ótimo, visto que as produções de heróis quando não pertencem à Marvel ou DC sempre são meramente sátiras.

Invincible Kills Off Its Version of the Justice League | CBR

Depois do episódio 7, que foi insanamente arrebatador e com um ritmo frenético, chegamos ao oitavo e último episódio da temporada, com muitas explicações, sequências atônitas e uma perspectiva até filosófica da relação de Mark com seu pai, e sobre o que significa ser um super-herói. E é claro, a ansiedade para uma próxima temporada de uma história rica em conteúdo.

“Invencível” tem o que todo fã do gênero super-herói gosta e um pouco mais: equipes de super- heróis; o mocinho versus o vilão; as particularidades de cada personagem e lutas de deixar boquiaberto. Também, o fato de não possuir tanto os já conhecidos clichês é um aspecto excelente, somando com todos os elementos necessários para viciar e deixar aquela curiosidade pro próximo episódio, surpreendendo mais a cada um que passa. Sua criatividade em um ramo já tão desgastado por produções similares umas às outras é de fato seu triunfo. Com certeza foi uma ótima surpresa do ano e, felizmente, sua segunda e terceira temporada já foram confirmadas pela Prime Video.

Nota: Diamante

Review: Steven Yeun leads 'Invincible,' a brightly colored superhero  cartoon series | Datebook

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A subjetividade do papel de heroína em Bela Vingança

Bela Vingança, ou “Promising Young Woman” em inglês, alcançou cinco indicações ao Oscar deste ano, vencendo na categoria de Melhor Roteiro Original. Carey Mulligan (O Grande Gatsby; Drive) é a protagonista do longa escrito e dirigido por Emerald Fennell, e seu elenco apresentou algumas outras participações de figuras já conhecidas no cinema, como Adam Brody (Shazam!), Christopher Mintz-Plasse (Kick-Ass) e Alfred Molina (Homem-Aranha). 

  Na trama, Cassandra Thomas é uma mulher que, devido aos seus traumas do passado, passa as suas noites fingindo-se de bêbada com intenção de dar uma punição nos homens que tentam assediá-la ou aproveitar-se de sua “vulnerabilidade”, além de arquitetar sua vingança contra uma pessoa do seu passado.

CRÍTICA | 'Bela Vingança': resposta ácida contra a cultura do estupro

  O filme consegue passar a noção de começo, meio e fim de forma eficiente conforme apresenta gradativamente a narrativa dos personagens, bem como demonstra toda a atmosfera carregada do drama. É difícil não se compadecer da história de vida de Cassandra e sua perda e sofrimento, de forma que não conseguimos deixar de apoiar suas ideias de castigo, por mais perturbadoras que sejam. Suas motivações parecem dignas, e toda a complexidade emocional da protagonista é totalmente compreensível e profunda, resultante de uma sociedade machista e baixa, fato retratado de forma maestral e que ainda manifesta a realidade consternada das mulheres.   

  A atuação de Mulligan não é de deixar pasmo, mas é digna de aplausos. A frieza que a atriz consegue transmitir para sua personagem e suas rápidas mudanças de expressão são impressionantes. É ainda mais empolgante como consegue passar a sensação de nervosismo e inquietação para o telespectador durante suas artimanhas. Sua vingança prende a nossa atenção para o que virá a seguir ao passo que torcemos para que ela a cumpra, se tornando talvez uma heroína, dependendo do ponto de vista.  

Bela Vingança - Quadro por Quadro

  Suas críticas sociais são bem claras desde a sinopse até trailers, e a cultura do estupro é o tema central a ser analisado e criticado na película. Quando se chega ao final da história, a mensagem a ser passada fica inteiramente clara. No entanto, quem acha que o filme se apoia no suspense ou até mesmo um pouco de terror pode se decepcionar. O longa se concentra muito mais em suas críticas e piadas ácidas com um grande fundo de verdade do que na composição do suspense em si, ainda que suas poucas cenas desse tipo consigam instaurar a agonia necessária para faltar palavras, assim como seu final, que pode dividir opiniões e te deixar boquiaberto.

   Em suas partes técnicas, a fotografia possui um perfeito enquadre, e as músicas também tem seu papel na instauração da sensação de suspense.

  Em suma, Bela Vingança é um daqueles filmes necessários para contextualizar a atualidade social, seus problemas de gênero e abusos que, infelizmente, ainda se fazem presentes. Seu roteiro original escancara essa problemática de forma singular e criativa, sem fugir ou perder a força do seu argumento, e graças a isso teve seu devido reconhecimento na premiação mais famosa.

Sob o véu do humor, 'Bela Vingança' denuncia a cultura do estupro

Veredito: 3/5 – prata

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Radioactive e a incomum luz da ciência

  Filmes que narram a trajetória de personalidades famosas e históricas têm a responsabilidade de trazer consigo a veracidade de eventos referentes ao contexto da época, cenários e conflitos, ao passo que devem instaurar o drama. Alguns podem se desorientar no meio do caminho ou fugir quase totalmente da representação da realidade. Radioactive não é um desses filmes que se perdem no roteiro, embora se atrapalhe na sua execução e partes técnicas.

   Dirigido por Marjane Satrapi, o longa chegou à Netflix recentemente e ficou no top 10 do streaming no Brasil durante sua semana de estreia. Com nomes conhecidos no elenco como Rosamund Pike -que mostra mais do seu talento e multifacetas em seu histórico de atuações- e Anya Taylor-Joy, a biografia apresenta a jornada da cientista Marie Curie que veio a pesquisar e descobrir a radioatividade. 

Radioactive: a difícil verdade por trás do filme da Netflix

  Desde o começo, já somos apresentados ao universo de Curie, onde frascos de experimentos e pequenos laboratórios constroem o cenário, sobretudo na sequência em que, após descobrir o polônio e o rádio, ela descobre também a radioatividade. A Química é, de fato, o coração da obra, assim como a forma que a protagonista lida com as adversidades da vida, principalmente sociais. O sexismo exacerbado da época e a perseguição  foi algo bem aprofundado, trazendo temáticas pertinentes, ainda que tais problemáticas não impeçam Marie Curie em sua carreira e objetivos, sendo este o cume do longa.

Radioactive' On Amazon: The Story Of An Inspiring Woman Starring Rosamund Pike

   Os motivos de Marie para iniciar sua pesquisa ficam claros após descobrirmos que ela perdeu sua mãe para uma doença, sendo esta uma situação que acompanha sua trajetória e marca profundamente seu psicológico. Assim, o fato de que sua descoberta contribui para o tratamento de câncer a fascina e motiva, e a partir daí sua transformação para um tipo de heroína se desenvolve, de forma lenta, até o final, onde fica evidente sua vontade de ajudar a vida de soldados da primeira guerra mundial. 

Radioactive review: A reimagining of Marie Curie's luminous legacy | New Scientist

   O ponto principal do longa-metragem -e que foi um grande acerto- é a demonstração das consequências futuras dessa descoberta, podendo elas serem boas ou ruins. Se por um lado a radioatividade ajuda no tratamento de câncer ou no raio-x de ferimentos de soldados, ela também contribui para artefatos nocivos, como bombas  nucleares radiativas. Vale dizer que essa dicotomia é apresentada de forma bem planejada e executada.

   Falando sobre os defeitos do filme, eles se fazem muito presentes em vários cortes abruptos de cenas, além de que os primeiros 20 minutos se sucedem de forma bastante apressada. Isso resulta numa apresentação pobre de personagens e uma linha narrativa pouco sólida, que ao passo que desperta no telespectador a curiosidade de pesquisar sobre o assunto, não entrega novidades.

  Radioactive é uma biografia bastante interessante que vale o tempo assistido, pois a contribuição de Marie Curie para acontecimentos históricos é algo importante de se saber e apreciar. A performance de Rosamund é ótima e sua entrega à personagem é inegável, mesmo com alguns defeitos do filme e suas falhas técnicas.

Radioactive (2019)

  

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Eu Me Importo: ácido e mordaz

Após uma performance de tirar o fôlego em Garota Exemplar -longa baseado no livro da brilhante autora Gillian Flynn-, Rosamund Pike, agora sob a direção de J Blakeson,  protagoniza novamente um papel de vilã em que arquiteta roubos contra idosos de forma ardilosa, se tornando curadora deles e, dessa forma, confiscando seus bens “legalmente” graças ao seu renome na área, isso junto com sua cúmplice e namorada (Eiza González). Mas a situação muda quando ela tem como nova vítima, Jennifer Peterson, interpretada por Dianne Wiest, que é rica e sem herdeiros, mas que possui associações criminosas e perigosas.

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Com um roteiro que fica entre a comédia e o suspense, comédia essa que não se faz presente através de piadas, mas sim no sarcasmo da própria narrativa, o filme se tornou o mais assistido da Netflix até agora após ser lançado na plataforma no dia 19 de fevereiro.

Certamente Rosamund é um dos grandes coeficientes, tanto para despertar a atenção do público quanto para a trama, que talvez não teria o mesmo resultado sem ela. A perspicácia e destemor da personagem impressiona a ponto de despertar a curiosidade no espectador de quais serão suas próximas artimanhas, ao passo que faz com que a velhice pareça assustadora por ser vulnerável a pessoas cruéis assim.

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Apesar de sua cena de sobrevivência frente ao poder da máfia russa tenha exagerado no absurdo, a famigerada brincadeira entre gato e rato -aqui, entre a protagonista e o filho de Jennifer Peterson- parece funcionar na película, que aposta na indagação do certo e errado, além da corrupção enraizada na coletividade. No entanto, os encontros entre as personagens de Pike e Wiest pareciam transmitir um confronto mais interessante e tenso e poderiam ter mais tempo de tela ou mesmo ser o foco do enredo, esse talvez seria um bom caminho para o roteiro seguir.

Estrelado por alguns nomes conhecidos como Peter Dinklage (Game of Thrones) e Chris Messina (Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa), Eu Me Importo mostra um pouco da crueldade e do satírico sem se entregar totalmente ao thriller, o que pode ou não ter sido uma boa decisão, mas que ainda assim é envolvente somado à implacabilidade da protagonista.

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