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A mensagem sobre lar e adversidades em Sweet Tooth

Escrito por Thaís Morgado

Baseada nas histórias em quadrinhos da DC Comics pelo selo adulto Vertigo e criadas por Jeff Lemire, Sweet Tooth é a nova série original Netflix que estreou despertando o interesse de muitos espectadores. O que também chamou atenção para a série foi a participação de Robert Downey Jr. e Susan Downey na produção. 

Na trama, o mundo entra em colapso após um vírus acometer a população, enquanto começam a nascer crianças híbridas, no caso metade humano e metade animal, levando muitos a acreditarem que elas causaram o vírus. O protagonista Gus (Christian Convery), um menino metade cervo, vive isolado em uma floresta com seu pai (Will Forte), que faz de tudo para protegê-lo de humanos que caçam híbridos. Em busca de respostas de seu passado e origem, Gus parte em uma aventura junto de Jepperd (Nonso Anozie), um homem um tanto emburrado, mas que o protege muitas vezes e que também precisa lidar com suas memórias quanto ao flagelo. 

A história se mostra atrativa, sobretudo, pela sua premissa criativa e única. Toda sua atmosfera é composta por uma fantasia que nos convida a embarcar nesse mundo tão fantástico quanto assustador. Esse é um dos pontos que o roteiro consegue balancear bem, mesmo com tantas tragédias e incertezas em um mundo pós-apocalíptico, pode-se perceber o quanto as relações ali se tornam profundas. É evidente que quase todos os episódios dialogam sobre os conceitos de lar e resiliência de forma afável, sem parecer algo raso ou repetitivo. Da mesma forma, ao passo que assistimos uma jornada divertida, percebemos também as nuances mais soturnas do enredo, com mensagens que causam impacto de tão reais e atuais que são.

Com um protagonista carismático, já nos vemos quase completamente apegados à sua história e circunstância. Quanto mais episódios se passam, mais se faz presente a sensação de compartilhar dos sentimentos de Gus, sua inocência, amor por doces, sua curiosidade que cativa, e também seus medos. Devido à perseguição aos híbridos, assistimos a temporada inteira torcendo para que nada de mal aconteça ao protagonista e às outras crianças híbridas, fato que nos amarra emocionalmente ainda mais à narrativa. 

Além disso, a relação de Gus e Jepperd vai se tornando cada vez mais genuína e cômica de se ver. Assim como todos os outros personagens apresentados, que são muito bem desenvolvidos com suas particularidades e contribuição para com a narrativa, a trama funciona de forma bem estruturada.

As locações em paisagens naturais são, sem dúvidas, um dos pontos mais encantadores do seriado. Cada panorama se mostra mais belo que o outro, com fotografias espetaculares que dão à obra uma identidade visual ímpar e que muito contribui para estabelecer a atmosfera de aventura. O sentimento é de que estamos participando dessa história, imergidos em uma fábula e a conhecendo ao mesmo tempo, isso graças também à narração de James Brolin.

A série contém muitos elementos que lembram a atual pandemia, tendo assim um forte apelo emocional e que conversa com o público, que conhece essa experiência. É visível as comparações e mensagens claras sobre o cenário vigente, e fica difícil não se identificar com a situação. No entanto, a obra tem seus defeitos, sendo eles os problemas resolvidos facilmente em alguns momentos, ou a impressão de se arrastar lentamente, assim como a caracterização de outras crianças híbridas que deixou a desejar em outras cenas. 

Ainda que não possua o ar sombrio das hqs, Sweet Tooth também funciona com seu clima mais esperançoso e positivo, adaptado na intenção de alcançar todas as idades. E mesmo sendo uma aventura leve que fala sobre família e amor, também tem seu quê de taciturno ao explorar temas como a violência, discriminação e, sobretudo, como as pessoas se comportam em tempos difíceis. Por isso, talvez adaptar a obra sob um olhar mais delicado tenha sido a melhor decisão.

Nota: Diamante

 

E também, não deixe de conferir as principais diferenças entre a adaptação live-action e os quadrinhos!

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Sobre o Autor

Thaís Morgado