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Thor: Ragnarok: Vale a meia-entrada

Escrito por Thiago Pinto

Thor: Ragnarok tinha uma missão grande nas mãos, as expectativas estavam altíssimas pela primeira empreitada do diretor Taika Waititi no universo Marvel, que poderia mudar completamente o jeito do estúdio de fazer cinema e apresentar um filme digno para um personagem tão querido pelos fãs de quadrinhos. Infelizmente, posso afirmar que este terceiro longa de Thor (Chris Hemsworth) é só outro genérico da Marvel, porém, se prova um ótimo filme para o personagem. Isso já paga metade do ingresso.

Em seus minutos iniciais, o filme abre com um monólogo do protagonista consigo mesmo, contextualizando os acontecimentos mais recentes com humor e até uma sutil imaturidade incomuns ao herói. Logo após, nos é apresentado um vilão VISUALMENTE ameaçador dentro de um cenário bem feito com cores escuras, que logo iriam contrastar com o resto do filme (colorido e vibrante), além da sequência de ação com a trilha “bombando” mostrando como a dupla Thor e Mjölnir são imbatíveis, colocando a câmera seguindo o homem e o martelo no excelente tratamento da pós-produção. Se você entender todo esse início, não é difícil desvendar o que te espera nas próximas duas horas.

E se essa previsibilidade já incomoda – as piadas excessivas, os personagens descaracterizados, um vilão “tanto faz” e esquecível, além das cenas de ação sem nenhum impacto – o potencial que é desperdiçado pelo subtítulo “Ragnarok” é outro incômodo para a cabeça. O apocalipse nórdico, numa visão completamente pessoal de Waititi, está lá para ser o centro dos problemas… só que apenas no ato final. Enquanto este não chega, todo o problema que está acontecendo em Asgard, a repressão que os asgardianos estão sofrendo pela vilã Hela (Cate Blachett) (esquecível em grande parte), fica completamente em segundo plano.

Como em Doutor Estranho (2016), Ragnarok não consegue se entender no ritmo e é mal resolvido. O diretor deve ter se lembrado no meio das gravações todo o potencial que tinha nas mãos, e coloca cenas – relação entre Odin (Anthony Hopkins) e os filhos, valquírias contra Hela são algumas delas – que não estão aliadas com a proposta cômica do filme. O problema é que elas representam um peso e até uma qualidade cinematográfica significativamente maior do que nos é apresentado, deixando o gostinho de que poderia ser uma história maior e melhor do ponto de vista narrativo. Poderia realmente mudar os rumos da Marvel Studios para sempre.

Mas Taika Waititi parece não se importar com grandes feitos e entrega uma aventura pelo menos decente ao seu personagem. Começando pela forma como este trata a relação entre Loki (Tom Hiddleston) e Thor, que não recebe o apelo melodramático como em O Mundo Sombrio (2013), mas que ganha outra abordagem interessante e leve ao procurarem seu pai na Terra até a diferença de ideais: Thor quer salvar Asgard, enquanto Loki quer ganhar os holofotes de Asgard. Além disso, há um envolvimento enorme de Thor com o universo compartilhado, talvez esse seja um dos filmes solo com mais conexões. A pequena participação do Doutor  Estranho (Benedict Cumberbatch) e a relevância de Hulk (Mark Ruffalo) demonstram isso.

Seguindo o padrão de título: Homem Formiga e Vespa, poderia muito bem se chamar Thor & Hulk. Já que o envolvimento de Bruce Banner/Hulk o torna protagonista ao lado de Thor. Todo o ato que se passa dentro do Planeta Sakaar é o mais divertido e envolvente. Não só pelos ótimos personagens introduzidos: o grão-mestre colorido e com a dose ácida de sarcasmo interpretado por Jeff Goldblum, perfeito para o papel. A valquíria interpretada por Tessa Thompson é ótima como alavanca para ação, e Korg que é realmente engraçado pela sua voz e seu jeitão desajeitado de ser. Mas também pelos diálogos e cenas escritas por Eric Pearson, que não necessitam de nenhum requisito tecnológico para se sustentarem, deixando a ação para a batalha entre os vingadores. E essa não é apenas uma jogada marketeira como Optimus Prime vs. Bumblebee.

Relacionado aos cenários escolhidos, as cores, os formatos, os figurinos, as câmeras em constante movimento, a cinematografia de Thor: Ragnarok é ótima. Remete à genialidade de Jack Kirby em criar quadros cósmicos perfeitos, utilizando pinturas e estruturas para construir uma ambientação perfeita. Sendo que todas as cores, tanto quente quanto frias, são completamente presentes e poluem a tela intencionalmente. Parece carnaval quando as tintas e as poeiras coloridas vão sendo jogadas pela população de Sakaar; ou até mesmo o visual de Thor que adquire marcas e faixas coloridas, representando sua inserção forçada com o planeta.

Após muita aventuras entre Hulk e Thor, o foco do terceiro ato finalmente está em Ragnarok e toma uma posição séria e madura, mas sem perder a leveza. Tudo o que o filme poderia ser foi reduzido em um ato, que literalmente salva a comédia muitas vezes forçada de Taika Waititi. E esse caminho poderia ser adotado pela Marvel. O ato que traz ação, emoção e humor sem se colidirem, criando um ritmo natural e muito melhor do que nos fora apresentado. Importante salientar como o público na sessão riu mais no terceiro ato, já que as piadas pontuais soavam em tom de equilíbrio com os apelos emocionais.

Thor: Ragnarok é longe de ser uma catástrofe. Tem muitos pontos positivos e diverte enquanto entretenimento. Porém, o que esse filme poderia representar para os heróis no cinema fica só na nossa mente, decepcionando expectativas que esperavam um filme empolgante, emocionante e memorável da Marvel. Deixando na dúvida a capacidade do estúdio de conseguir fazer algo que realmente nos faça lembrar e se apaixonar novamente.

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Sobre o Autor

Thiago Pinto

‘’E quando acabar de ler a matéria, terá minha permissão para sair’’

-Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)