Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

A dublagem da Crunchyroll: Recovery of a MMO Junkie

No nosso segundo episódio dessa série de postagens sobre as dublagens nacionais de animês da Crunchyroll, podemos pular a introdução cheia de ladainhas e ir direto ao assunto, que dessa vez, é um outro tipo de comédia: Recovery of a MMO Junkie.

Caso não tenha visto, a primeira postagem foi sobre a versão brasileira de KonoSuba, que você pode ler clicando aqui.

MMO Junkie é, convenhamos, muito mais family-friendly que KonoSuba. Por ser uma comédia-romântica, ter maior parte do elenco com adultos, e explicar muito bem a sua própria ambientação, o animê se torna muito mais fácil de ser engolido.

Com isso, vejo MMO Junkie como uma boa escolha para a dublagem: é brando o bastante para agradar gregos, e específico o suficiente para agradar troianos. E como comentei na primeira postagem, acredito que a receptividade de um show seja um ponto essencial para o sucesso de sua versão nacional.

Fazendo a ponte aérea, saímos do Rio e vamos para São Paulo, onde o animê foi dublado: no estúdio Unidub, que trabalhou em Dragon Ball Super, Grand Chase e Bob Esponja (entre outros diversos títulos). A direção foi feita por Úrsula Bezerra, ninguém mais, ninguém menos que Naruto Uzumaki e Son Goku (criança) em pessoa.

No elenco, nomes já conhecidos (ou melhor, vozes familiares) da Imprensa Especializada(TM):

  • Priscila Franco como Morioka Moriko (Eternizada como Saber em Fate/Stay Night [2006], mas que provavelmente é mais lembrada como Sharon Carter do MCU);
  • Michel Di Fiori como Sakurai Yuta (O Neji de Naruto, e o Genos de One Punch Man);
  • Fábio Lucindo como Hayashi (Que deu a voz ao Jin de Grand Chase, Shaoran de Sakura Card Captors e… Troy Bolton de Highschool Musical);
  • Michelle Giudice como Lily (Já experiente em animês, dublou Mitsuha de Your Name e Serena de Pokémon XY);
  • Caio Guarnieri como Homare Kowai (O dono dos vocais do Kouga de Pégaso em CdZ Omega, e do Kevin de Steven Universo).

Vou começar pelas reclamações, para não acharem que sou parcial. Meu único problema com a dublagem foi uma simples escolha de direção, que atrapalhou o meu divertimento por todos os episódios: o uso de honoríficos.

Eu sei que eu vivo reclamando disso, mas há momentos onde dá para aturar. Em legendas, por exemplo, eu até entendo quem goste delas. Afinal, você está ouvindo a personagem falar aquilo; já em mangás e novels, eu acredito que seu uso exija, no mínimo, uma nota de tradução; agora, numa dublagem? Onde as personagens estão falando português?

Vamos lá, de novo: para quem não sabe, honoríficos são partículas comuns no idioma japonês, que são adicionadas após nomes de pessoas, para indicar, de certa forma, a relação entre os indivíduos envolvidos no diálogo. Existem honoríficos que demonstram respeito, que demonstram amizade, que demonstram hierarquia… Até não utilizar um honorífico tem um significado. Acontece que isso é algo exclusivo do idioma nipônico. Isso não existe em português. E se você precisar traduzir esses significados descritos no último parágrafo, existem diversas formas de se fazer isso, com expressões que são nativas e naturais para a nossa língua.

O uso dos honoríficos torna a dublagem extremamente alienígena, por causa desses termos japoneses completamente diferentes de todo o resto que é falado. Acima de tudo, dublar uma obra tem como função trazer aquilo para a ambientação nacional. Mesmo que o show se passe no Japão, nós estamos nos dando ao trabalho de regravar todas as vozes de todos os episódios, para deixá-los em português, não estamos? Então qual o sentido de deixar expressões puramente japonesas no produto final?

E o que me deixou mais desconfortável nisso tudo, foi como o uso de honoríficos pareceu aumentar, do nada, já na metade do show. Personagens que se chamavam apenas pelo nome passaram a adicionar os honoríficos, sem razão alguma. Enquanto houve um ou dois casos nos primeiros episódios, ouvi pelo menos quinze nos últimos.

Eu quando acesso alguma rede social.

Porém, acho justo darmos o crédito quando assim é necessário, e todos os outros aspectos da dublagem merecem recomendações positivas. O elenco foi escolhido muito bem, tendo vozes que combinam com as personagens, e que conseguem bater de frente com os gigantes que fizeram a versão japonesa. Em especial, a atuação da Priscila Franco no papel principal foi monumental: a interpretação das cenas mais “exageradas” (típicas de animê, e que podem ser difíceis de fazer parecer naturais) ficou tão boa, que eu senti, pela primeira vez, que esse tipo de reação pode dar certo no nosso idioma.

A adaptação e direção também estão de parabéns, que exceto pelo que já foi discutido, fizeram um show ambientado no Japão passar uma impressão costumeira para os brasileiros, sem parecer careta (o que é muito importante!). Além disso, não vi muitos problemas de sincronia, volume ou desinformação, carimbando assim, uma excelente dublagem.

Recovery of a MMO Junkieestá disponível dublado e legendado na Crunchyroll, e o primeiro episódio da versão nacional pode ser visto gratuitamente no canal do YouTube da Crunchyroll Brasil (que eu já linkei ali em cima, aliás!).

Categorias
Anime

Zack Snyder produzirá anime sobre mitologia nórdica para a Netflix

De acordo com o THR, Zack Snyder produzirá um anime sobre mitologia nórdica para a Netflix. Esse é o primeiro trabalho do diretor para a televisão. Ele co-criará a série ao lado de Jay Oliva, responsável por Ponto de Ignição. Além disso, também será produzida por Deborah Snyder, Wesley Coller e desenvolvida pela Stone Quarry, produtora de Snyder.

“A narrativa visual inovadora de Zack Snyder o estabeleceu como um dos cineastas mais distintos de sua geração. Nós estamos mais do que ansiosos em trabalhar com ele e sua excepcional a fim de trazer os personagens e as histórias da mitologia nórdica sob o seu estilo inimitável.” – disse John Derderian, responsável pela divisão de animes da Netflix.

Porém, essa não é a única produção de Snyder sendo desenvolvida em parceria com o serviço de streaming. Army of The Dead, o próximo filme do cineasta, já entrou em pré-produção e será lançado em 2020.

Para saber sobre tudo o que acontece na televisão, mantenha-se ligado na Torre de Vigilância.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

A dublagem da Crunchyroll: KonoSuba

Tenho certeza que se você perguntar para alguém que curte animês hoje, sobre como ele conheceu a mídia e se envolveu pela primeira vez nela, as chances dele responder “assisti um animê dublado na minha infância” é de pelo menos 70%.

Para muitos, a dublagem de Dragon Ball (e suas respectivas sequências), Yu Yu Hakusho, Sailor Moon, Cavaleiros do Zodíaco ou Sakura Card Captors – entre outros títulos – foram a porta de entrada para o mundo da animação japonesa, muito antes de sabermos que se tratavam disso. Por conta desse histórico, acabamos por arraigar o conceito de que animês dublados são entry-level, e que devem ter como função a de introduzir esse universo para alguém sem nenhuma experiência prévia.

Sendo isso verdade ou não, é o que grande parte das pessoas acredita, e de certo modo funciona assim mesmo (quem nunca falou do Narutinho dublado que atire a primeira pedra). Por isso, quando soube da iniciativa da Crunchyroll Brasil de dublar para o português alguns animês de seu catálogo, imaginei que eles escolheriam títulos “seguros” que pudessem ser mostrados até para a sua mãe. E embora alguns dos felizardos se encaixem nessa descrição (Orange e The Ancient Magus Bride, por exemplo)… KonoSuba com certeza não é um deles.

Longe de mim ser elitista (muito pelo contrário), mas como comentei anos atrás, quando falei sobre o “Choque Cultural” de um iniciante em animês, tem certas coisas que você precisa estar preparado mentalmente para encarar. Chega um momento que isso tudo não passa de algo normal, mas pra quem está começando, pode assustar. E KonoSuba assusta os despreparados.

Essa montagem é boa demais para eu desperdiçar num post de três anos atrás.

Mas talvez isso seja exatamente o que faça com que KonoSuba seja um candidato ideal para ser dublado. Se a palavra-chave é “acessibilidade” (isso é, estar em português torna a obra mais acessível), dar uma opção de algo que mostra que o buraco é bem mais fundo para mais pessoas pode ser considerado uma jogada de marketing genial. Se isso tudo foi pensado ou não, deixo em aberto.

De qualquer maneira, podemos largar o achismo de lado e falar sobre fatos. Começando pelos culpados e pelo local do crime: KonoSuba foi dublado pelo Estúdio Som de Vera Cruz, no Rio de Janeiro; Também dublados lá, tivemos Black Clover, Re:Zero, Free!, Interview With Monster Girls, Orange e The Ancient Magus Bride; Quem dirigiu o elenco foi Leonardo Santhos, que estará presente no Anime Friends Rio 2019 como convidado da Crunchyroll, e é incrivelmente ativo e receptivo nas redes sociais.

Nos papéis principais, temos:

  • Erick Bourgleux como Kazuma (Conhecido como a voz de Aang, o avatar e Omi de Duelo Xiaolin);
  • Natali Pazete como Aqua (A voz da famosa YouTuber Virtual, Any Malu);
  • Isabella Simi como Megumin (Que cedeu vocais para a protagonista da recente adaptação hollywoodiana de Alita: Anjo de Combate);
  • Natália Alves como Darkness (A “Cara” de Luke Cage, e a “Tanya” de Supergirl).

Agora que as fichas estão na mesa, acabamos sempre caindo na mesma história toda santa vez: querer comparar a dublagem nacional com a original, seja lá de qual idioma ela seja.

Os japoneses são uma potência quando o assunto é dublagem, tendo sob sua bandeira uma lista gigantesca de atores de voz dignos de nota. Eu mesmo sou um fã que acompanha de perto o trabalho de alguns deles. Por causa disso, os comentários comparativos surgem sem falhar uma única vez, normalmente em defesa dos asiáticos.

Meu único pitaco no assunto é o seguinte: Isso acaba sendo questão de costume, e não culpo quem diz que prefere o original. É a velha história de que a primeira impressão é a que fica. Quer um exemplo? Eu não tinha assistido KonoSuba antes, vi pela primeira vez com a dublagem da Crunchyroll. E após dar uma ouvida no áudio japonês, digo que o Kazuma do Erick Bourgleux é até mais agradável do que o do Jun Fukushima, o dublador japonês do garoto.

Acostumado ou não com o idioma da dublagem, o trabalho que foi feito pelo Som de Vera Cruz está excelente, num nível geral. A escolha das vozes foi feliz (já comentei como adorei a voz do Kazuma), a adaptação e localização das conversas e das piadas (PRINCIPALMENTE DAS PIADAS!) foi feita no capricho, e tudo parecia muito natural.

Se eu fosse reclamar, seria do lipsync. Para quem não sabe, é adaptar o áudio de forma que ele “se encaixe” nos movimentos labiais do ator (ou no caso, da personagem). Eu senti com muito mais frequência do que gostaria que as personagens estavam falando pelos cotovelos. Quem mais sofreu com isso foi a Megumin. Até entendo que por conta da natureza da personagem (que adora fazer longos discursos sem nenhum nexo) o lipsync seja complicado, mas nas cenas de conjuração de magia com a garota, o assincronismo fica evidente demais.

A experiência geral, porém, é extremamente positiva, e fiquei muito feliz com o que assisti. O show em si já é de uma qualidade tremenda (de novo, para quem gosta de comédias idiotas e está psicologicamente preparado para ela), então poder vê-lo em meu idioma materno foi apenas um mimo a mais. Deixo meus parabéns para a equipe da Crunchyroll Brasil, por dar pique nesse projeto audacioso, e a todos do Estúdio Som de Vera Cruz, pelo trabalho bem feito.

Você pode assistir tanto a versão dublada como a original de KonoSuba na Crunchyroll, assim como outros títulos também disponíveis em português.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

GRANBLUE FANTASY: The Animation é o ápice de uma adaptação de videogame

Sei que o título pode parecer sensacionalista – e se pararmos para analisar, esse post inteiro vai ser sobre como realmente é de um sensacionalismo descarado – mas é uma afirmação que eu gostaria de defender e só desistirei por cima do meu cadáver. Não que seja muito difícil.

Granblue Fantasy, um mobile game (popularmente conhecido como “mobage”) da gigante nipônica Cygames, completará cinco anos de vida no próximo dia 10 de março, e as festividades dentro do jogo só estão por começar. Aproveitando o momento, dedicarei uma postagem a sua adaptação em animê, que aconteceu em meados de 2017 e foi uma surpresa enorme para todos os envolvidos, uma enxurrada de dinheiro para os produtores, e uma lição não só de direção, como também de marketing.

Quando olhamos para o histórico de adaptações de jogos, sejam elas americanas ou japonesas, em quaisquer mídias que sejam… Não temos uma boa impressão. Aberrações como os filmes de Mortal Kombat e de Tekken são o que surgem na mente, e claro que com um passado assim, fica fácil duvidar de entradas futuras no gênero. Mas nem tudo é um Super Mario Bros. (1993) no mundo dos videogames, e a animação de Granblue Fantasy conseguiu mostrar que com grana e com jeito, se adapta o jogo do sujeito.

Aquela velha história: Eu sou fã e quero service

Questões que precisam ser muito bem pensadas quando passamos uma história de um videogame para um seriado são, entre outras: Como adaptar mecânicas do jogo para uma história “real”; Como deixar o desenvolvimento da trama mais dinâmico e verossímil; E como agradar os fãs que esperam ver suas personagens prediletas do jogo, mesmo elas não fazendo parte da trama principal. Isso tudo, enquanto se preocupam com os assuntos já comuns para um animê: direção, coreografia, animação, OST… É um saldo de trabalho extra que se faz necessário para garantir o sucesso do projeto.

Dissecando cada um dos pontos, começo pelo que eu acredito ser a essência da falha de qualquer adaptação de jogo: as suas malditas mecânicas e como transformá-las. Granblue Fantasy é um jogo relativamente complexo, e que possui cinco anos de conteúdo sendo adicionado com uma frequência semanal. Onde eu quero chegar é que: seria muito fácil de estragar o negócio, se você tentasse. Tem muita coisa que você poderia tentar trazer que ficaria simplesmente bizarro dentro de um universo animado, e por mais incrível que isso possa parecer, o mérito da animação em questão foi justamente… A inação.

Às vezes, a melhor forma de fazer alguma coisa é se ater ao básico. Não é preciso “frufrulizar” o negócio para ele ser consistente. Ao se manter longe de suas famosas extravagâncias, a animação conseguiu trazer sua essência mostrando apenas o essencial. Um exemplo perfeito disso? A mecânica de “evocações”, que é um conceito-chave do jogo, e que é over-the-top demais para uma animação que quer ser levada a sério. Para mostrar o seu efeito ingame (que é de fortalecer seus aliados ou enfraquecer os inimigos), não foi preciso trazer o fim do mundo ao evocar o Deus-Dragão da destruição.

Tá certo que evocaram o tal deus da destruição no primeiro episódio, mas depois? Uma luzinha e uma mão no peito tá mais que de bom tamanho.

Partimos pro segundo ponto, para analisarmos como fazer a história funcionar. Se você já jogou um mobage na sua vida (ou qualquer JRPG, pra ser sincero), sabe como eles são repletos de cenas fragmentadas, encontros aleatórios destruindo conversas e uma introdução fraca e genérica que claramente não foi feita com muito esforço pois o objetivo do jogo é ser um moneygrab instantâneo e não um mundo rico em ambientação. É normal que, só depois de se estabilizarem com relativo sucesso, que esse tipo de jogo comece a investir, de fato, em sua produção.

Granblue Fantasy não foge disso, e tem em seus primeiros capítulos uma trama tão aguada que parece caldo de cana de rodoviária. Mas é a introdução da história, e se você quer fazer uma adaptação do jogo, é preciso passar por ela. O que fazer, então? Você pode apenas cortar as partes irrelevantes e todos os encontros aleatórios (ou não, vai que você queira que monstros apareçam a cada três frases? Tem doido pra tudo) e deixar a história ainda sem graça, mas um pouco menos irritante… Ou você pode aproveitar essa chance para dar um empenho tão grande quanto o atual para uma parte antiga do seu trabalho.

Ao reescrever as partes iniciais, a animação conseguiu não mudar os principais pontos de roteiro, mas deixar tudo mais claro, mais lógico e com mais emoção. No show, eles foram capazes de destrinchar a personalidade das protagonistas, encaixar acontecimentos em momentos mais oportunos, e fazer com que encontros se tornassem mais naturais. É o reboot que arruma a maioria dos problemas causados pela falta de interesse da obra original.

Tem como não adorar essa garota?

Acredito eu, porém, que apesar de tudo já comentado, um detalhe menor mas que pode causar a maior quantidade de discórdia entre sua audiência é a falta de “secundários”. Tendo exatamente 546 personagens jogáveis no momento em que escrevo esta postagem (considerando versões alternativas e colaborações), fora os incontáveis NPCs que povoam os céus, é literalmente impossível agradar todas as pessoas que estão esperançosas de ver sua personagem predileta animada nas telinhas. E para piorar, fora de eventos específicos ou episódios especiais, a maioria dessas pessoas nunca nem dá as caras na história principal (que é o que você vai adaptar). Como lidar com essa situação, sem causar o apocalipse na internet?

Se tivéssemos tempo, dinheiro e dedicação o suficiente, seria fácil fazer um animê que fique vinte anos no ar (acredita que One piece estreou em 1999? Puta merda bicho), e adapte todas as histórias que já aconteceram no jogo. Mas como esse não é o caso, e você tem míseros três meses de exibição semanal para trabalhar, é preciso um planejamento extra para isso.

Dentro do próprio jogo, existem votações mensais de personagens prediletas, então saber quem são as mais populares foi fácil. Eles só precisavam de uma desculpa para colocá-las na animação, e estaríamos prontos. É aí que o parágrafo anterior ganha um brilho extra: já que já estamos mudando a história um pouco, qual o problema de uma ou duas mudanças a mais? De uma forma que pareceu natural e orgânica, as personagens marcantes do jogo foram inseridas dentro do mundo, e interagiram ou ganharam screentime sem parecer terem sido forçadas. Muito pelo contrário, conseguiram trazer personalidade e vida à ambientação, deixando cada ilha muito mais rica.

Mas é ÓBVIO que a maioria das personagens mais populares seriam todas garotas, o que você estava esperando?

Olhando todos esses fatores juntos, percebemos que a direção do animê (feita por Yuuki Itou) trouxe muito conhecimento de causa e conseguiu transformar um material mediano (para não dizer medíocre) em um show genuinamente interessante, não só para os fãs do jogo, como para quem está conhecendo a franquia por ele. E os números comprovam que não sou só eu quem acha isso, vendendo uma média de 57 mil cópias por volume (ficando em nono lugar no ranking de vendas de Blurays da história registrada!).

E lembra daquela lição de Marketing? Tenho certeza que adicionar códigos para itens exclusivos dentro do jogo não tem relação nenhuma com o magnificente sucesso de vendas da série.

A série completa pode ser assistida na plataforma de Streaming Crunchyroll, e uma segunda temporada já está em produção. E se tiver interesse, o jogo se encontra disponível em inglês para PC, Android e iOS.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Primeiras Impressões | Rascal Does Not Dream of Bunny Girl Senpai

Sei que vai ser difícil de acreditar, mas é verdade, então leia tudo até o fim. Faça isso, por favor! Apesar de estarmos falando de um animê, com um nome pouco chamativo e que provavelmente já te passou uma péssima primeira impressão, fazendo você achar que Japonês é um povo estranho… Dessa vez, tem algo a mais nisso. Algo que você precisa ver com seus próprios olhos. Dessa vez, até que animê não foi uma ideia tão ruim assim.

Fica bem fácil de saber que esse animê é baseado numa Light Novel, não fica? Digo, os sinais são óbvios: um nome longo e que descreve (ao menos) metade da sinopse; Nome, aliás, que soa ridículo para qualquer pessoa que já não esteja acostumada com esse tipo de coisa; Uma garota bonita na capa em alguma situação inusitada; Estrutura em arcos que fica óbvio onde cada volume acaba e onde o próximo começa… Poderia ficar aqui por horas, mas meu papel nessa postagem é outro, né?

Sabe o que é importante sobre uma Light Novel? Seu Autor. E o da Novel que deu origem a este animê é um já bem conhecido pelos fãs de melodrama adolescente: Hajime Kamoshida. Esse japonesinho com cara de simpático já passou pelas Primeiras Impressões quando o Luís comentou sobre Just Because!, quase um ano atrás. Se você assistiu a última obra adaptada do homem, sabe exatamente o que esperar disso aqui.

O estilo de escrita dele continua o mesmo, só mudando o enfoque: enquanto Just Because! se destacou por ser extremamente realista e pé no chão, Bunny Girl (que, desculpem, vou abreviar) parece ser uma primeira tentativa de trazer o sobrenatural para seu repertório.

E rapaz… Não é que ele está acertando em cheio?

Para explicar como que o nosso autor predileto consegue manter sua escrita “humanizada” enquanto parte para histórias além da compreensão humana, precisamos analisar justamente os humanos que estão inseridos nessa história: suas personagens.

Basta olhar para trás, que você verá o histórico do cara com seus protagonistas: tanto o Sorata de Sakurasou no Pet na Kanojo, como o Eita de Just Because! são farinha do mesmo saco. Apesar de terem suas próprias peculiaridades que conseguem distingui-los bem, eles têm um ‘esqueleto’ em comum: sua boa vontade e bom coração, sempre buscando ajudar os outros, mas cercado por diversas camadas de ironia e sarcasmo, que vão sendo derrubadas (e, às vezes, reconstruídas) com o passar da trama.

Em Bunny Girl, ele repete a fórmula, e consegue fazê-la bem, mais uma vez. E o motivo é simples: esse é o perfil mais genérico para um adolescente dos dias de hoje. É difícil errar quando você sabe exatamente onde quer acertar.

Esse garoto está saindo com coelhinhas bonitas graças a esse truque estranho. >>CLICA AQUI<<

Já a garota, tem suas peculiaridades (até por conta de suas circunstâncias), mas também é convincente. Também é uma pessoa que você consegue imaginar sendo real, existindo e tendo problemas semelhantes aos que você vê na tela. E o jeito como ela reage, tanto ao mundo ao seu redor (já falo disso) como aos esforços do garoto, duas coisas que beiram o sobrenatural… É deveras realista. Você se surpreende com a racionalidade dela.

A ambientação do mundo é a grande novidade da obra. Pela primeira vez, ele tenta fazer algo além de sua zona de conforto, e traz o místico pro palco principal. Fica claro que ele não tem muita experiência com o assunto, mas que está se esforçando para dar o seu melhor.

Ele explica a visão geral das coisas e deixa com que você preencha as lacunas com seus próprios pensamentos e ideais sobre o oculto… Mas cinco minutos depois, traz a personagem que é o bode expiatório da sua própria culpa, e tenta desmentir tudo.

Você reclamando de política na sua timeline depois de já ter excluído todo mundo.

Exatamente, essa analogia é perfeita: o autor queria escrever uma obra sobrenatural, mas sua racionalidade é muito arraigada ao seu jeito de redigir… Daí, para desencargo de consciência própria, ele fez questão de tentar racionalizar, equacionar e desmistificar qualquer aspecto que não seja cientificamente comprovável.

Talvez esse defeito acabe sendo uma de suas maiores façanhas, no final das contas. O clima que temos acerca desta tal “Síndrome da Adolescência” é justamente de mistério. É uma “doença” que não faz sentido algum para a “ciência tradicional”, mas que, quando analisada psicologicamente por moleques de quinze anos, faz todo o sentido.

É a tal da “puberdade” sendo explicada em formato mais entretível. Ambas as personagens estão mergulhadas no oculto, em coisas sem explicação… Mas você consegue trazer todos os problemas que elas possuem para o âmbito de carne e osso. O real “inimigo” da série não é o fenômeno sobrenatural que é chamado de “Síndrome da Adolescência”, mas sim o fenômeno real de se viver numa sociedade e de ver e experienciar as consequências disso.

Agora, vem cá… O QUE ESSES JAPONESES TEM COM O SCHRÖDINGER E SEU MALDITO GATO? Desculpem a exaltação, mas francamente… Toda hora, o tempo todo, esse maldito experimento sendo citado e redesenhado e remodelado por animês e afins. E o pior de tudo? METADE DAS VEZES, ELES TÃO ERRADOS! O Gato de Schrödinger é um experimento criado pelo cientista de mesmo nome para mostrar justamente… o quão ABSURDO é o conceito por trás da Mecânica Quântica. Mas parece que gostam de citá-lo como uma fonte de razão e de racionalidade sempre que possível… E não é isso… Não assim… Não desse jeito…

Desculpem o desabafo.

Eu nem vou me dar ao trabalho de mostrar os erros científicos do show, então fiquem com esse meme de baixa qualidade ao invés disso…

Voltando a programação normal, podemos falar da parte técnica, que vejam só, não está decepcionando nem um pouco! A animação é do estúdio CloverWorks (que fez relativo sucesso recentemente com Darling in the FranXX); tem direção de Souichi Masui (que já tem um bom tempo na indústria); Um destaque também vai para Satomi Tamura, que fez os excelentes Designs de Personagens, e participou da animação dos primeiros episódios.

O visual é lindo, as personagens são muito bem desenhadas e se envolvem perfeitamente com o mundo (também belamente desenhado) em que estão. Até os figurantes e personagens de fundo, que muitas vezes são ignorados (ou renderizados em 3D) acabaram ficando bons. E a trilha sonora não deixa a desejar, sendo perfeita para todas as ocasiões, quase todas as vezes.

No mais, fica claro que Bunny Girl é muito mais do que aparenta ser, e que traz muito mais do que seu título poderia te fazer imaginar. É, literalmente, um livro que não se pode julgar pela capa, e parte disso se reflete até na própria trama do show. Sinceramente, não gostaria de me exaltar aqui, mas creio que, no mínimo, 8/10 para essa estreia é o que ela merece.

A série está sendo transmitida pela Crunchyroll, com novos episódios todas as quartas-feiras.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Primeiras Impressões | Holmes of Kyoto

Quem não gosta de um conto de detetive? Faz sucesso há anos, tem que ser bom! E claro que, como tudo que faz sucesso (e as vezes até coisas que não fazem), tem que vir algum japonês transformar o negócio em alguma coisa estranha. É o caso de Holmes of Kyoto.

Pois bem… Elementar, meu Caro Watson… Só que dessa vez o Watson é uma garota de 16 anos ressentida com a vida e que não ajuda em nada nos casos. E o próprio Holmes também é um jovem adulto ressentido com a vida. Sério, tá todo mundo depressivo nesse show, bicho?

O animê vem baseado em uma obra já antiga: o material original é uma Novel com início de publicação em 2015 por Mai Mochizuki. Se considerarmos que Sherlock Holmes é de 1887, dá pra chamar de velho né? De qualquer maneira, a novel de Mochizuki também foi adaptada em versão mangá em 2016, com um design muito mais próximo do que vemos na animação. Não que isso importe muito para o caso em questão.

Assim como uma obra de investigação faz, Holmes of Kyoto mostra algo para te enganar no começo, te dar pistas falsas e te convencer de que sabe o que está acontecendo. Quando na verdade, você está sambando na mão do assassino o tempo inteiro.

Mas o que exatamente é pura lábia no animê? Elementar, pois: o primeiro episódio te faz acreditar que teremos uma temporada inteira de Trato Feito Quioto, dentro da loja de antiguidades que nos é apresentada. E sinceramente? Acho que isso seria muito bom. Quem não gosta de Trato Feito? É um dos melhores programas da TV fechada atual.

Infelizmente não é isso que acontece. A partir do segundo episódio, temos uma série de “casos” que precisam ser resolvidos pelo protagonista (que aliás nem se chama Holmes de verdade, mas achei uma boa sacada o motivo do apelido), e todos surgem tão repentinamente quanto acabam. Em momento algum nós somos apresentados aos motivos que fazem esses casos serem levados especificamente para o Yashigara (que é o nome real do Holmes, aliás). E nunca nos é explicado como que essas pessoas conseguem se sustentar, tendo em vista que todos os casos até então foram resolvidos na base da “troca de favores” e eles aparentemente ignoram a existência da loja por longos períodos de tempo.

Quem fez melhor?

Mesmo com uma trama aparentemente episódica que serve mais para mostrar a vasta gama de trívias de rodapé de livro que o protagonista leu, as personagens conseguem ser interessantes. Digo, as duas personagens que apareceram por mais de cinco minutos na tela. Temos o mocinho, que abertamente admite ser uma pessoa ruim; e temos a mocinha, que é totalmente uma adolescente gótica da cidade grande que se mudou pro interior. São pequenos traços de personalidade, sim, mas que são bem explorados e conseguem te definir como são as pessoas que estamos lidando.

Acontece que mesmo com um elenco legal, as investigações não são tão divertidas como deveriam ser. Passamos quinze minutos gastando tempo com alguma coisa que parece ser relevante, para no final o caso ser resolvido com alguma coisa nunca antes mencionada, literalmente tirada da cartola do protagonista. Não existe nenhuma forma de você chegar na mesma conclusão que o caso toma. O mistério deixa de ser divertido e se torna frustrante. Você passa a pensar: “Que coisa minúscula e idiota vai ser a chave para resolver esse caso?“. Você precisa ignorar todas as pistas reais que são dadas (e que ocupam 80% do episódio sendo mostradas) e apontar para a coisa mais não-relacionada que aconteceu.

Na parte técnica, temos uma animação razoável. Não é ruim, e tem até algumas cenas bonitas, mas peca em algumas outras. Cortesia do estúdio Seven com direção de animação de Yosuke Ito. Sobre músicas… Eu sinceramente nem percebi se tinha algo tocando no fundo ou não. Acredito que é um sinal negativo para a OST. Mas ao menos a dublagem é bem bacaninha, com Kaito Ishikawa no papel do mocinho e Miyu Tomita no papel da assistente-peso-de-papel.

Eu assistindo aos casos sendo desvendados magicamente.

No final das contas, não é mistério nenhum que eu não fui muito com a cara do show. Mas é claro que você pode acabar gostando. Afinal, nem todo mundo gosta das mesmas coisas, e não precisa ser um xeroque rolmes pra saber disso. Pra mim, ao menos, a nota inicial para o animê é de 4/10. Pode melhorar, com certeza, se decidir ser mais racional, mas por enquanto…

Você pode conferir por si mesmo assistindo ao show, que está disponível na Crunchyroll com novos episódios lançados todas as segundas-feiras.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Primeiras Impressões | Chio’s School Road

A gente tenta postar no horário, mas no caminho do painel de controle acontecem coisas bizarras, e nós acabamos quase sempre nos atrasando. Parece que sempre que vou escrever sobre japonês, surgem umas coisas estranhas… O que era de se esperar. E hoje, temos o animê mais idiota e mais vergonhoso que eu vi nos últimos tempos. E justamente por isso, ele é sensacional.

Se fosse para definir Chio’s School Road em uma só frase, seria “eu mesmo”. Apesar de todos os absurdos e da enorme falta de seriedade em qualquer coisa (que já falo sobre), a maior qualidade da série é ser extremamente relatável e te conquistar por proximidade e intimidade.

Mas calma, vamos primeiro conhecer o que estamos lidando. A obra vem de um mangá, com autoria de um cara que é conhecido por… Desenhar Hentais: Tadataka Kawasaki (eu sei que vocês iam perguntar). A única obra que não precisa de faixas de censura dele é justamente essa, e isso já diz muito mais do que precisávamos saber sobre o assunto…

Voltando ao que importa, que é o animê em questão… O show promete ser algo extremamente simples: uma garota indo pra escola. O que poderia dar errado? Simplesmente por conhecermos a mídia em que estamos, a única resposta possível é “tudo”.
As coisas sempre dão errado, o tempo todo. Mas a melhor parte é que são pequenas coisas, acontecimentos do dia-a-dia que você, eu e todos nós passamos também. A diferença é que a Chio faz tudo que nós sempre sonhamos e nunca pudemos (ou melhor, nunca tivemos a coragem de) fazer. Isso torna esses pequenos imprevistos em cenas de repercussão astronômica, que por beirar a insanidade, acabam cruzando a linha do cômico.

Não só os acontecimentos como as personagens têm o seu humor próprio. Começamos de garotas terríveis cientes de sua própria maldade, passamos por lésbicas psicopatas, e chegamos até ex-membros de gangue em recuperação. O elenco é tão diverso que é impossível não gerar uma situação cômica pelo simples encontro dessas figuras.

Claro, não é um show para qualquer um. É preciso gostar de absurdo e ser aquele tipo de pessoa que morre de rir com uma foto de um atum. Também existem algumas barreiras culturais, com piadas que fazem mais sentido em japonês e/ou para a cultura oriental (você sabe como é o corte ideal de um Atum inteiro? Pois eu também não sabia). Mesmo assim, ainda há algum aproveitamento para todos, basta desligar seu cérebro e se divertir por alguns minutos. Ou só assistir, se você for como eu que já está com o cérebro desligado há alguns anos.

De verdade, a obra me conquistou desde o primeiro episódio, mas pode demorar um pouco mais para cair no gosto de pessoas menos imbecis que eu. Se o começo não te prender, dê uma chance para o segundo.

Pessoas que batem bem da cabeça tentando entender o que diabos está acontecendo.

Na parte técnica, o estúdio Diomedea está cuidando da animação, que está ótima e propositalmente simples, para realçar todos os efeitos necessários; a música é essencial, com uma OST adequada para a obra (simples, mas absurda), abertura e encerramento de excelente nível, e efeitos sonoros dignos de vídeo-cassetadas do Faustão (e isso é um elogio!); uma dublagem perfeita, com a protagonista Chio (CV: Naomi Oozora) tendo a voz ideal para as ações que ela toma…
Resumindo, é uma baita duma produção, dentro de seus méritos.

O comedômetro quebrou e foi substituído por outro, mas as notas continuam: 8/10 é mais do que merecido e Chio’s School Road tem um futuro brilhante pela frente. Completamente nonsense, mas brilhante.

O anime está disponível na Crunchyroll, com legendas em Português (ou inglês, se preferir) e novos episódios são lançados todas as sextas-feiras.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Primeiras Impressões | Magical Girl Ore

Tá, admito que esse parágrafo inicial normalmente é usado apenas para tirar um sarro e dizer que Japonês é um povo estranho, mas dessa vez, eu acho que eles têm razão. Presta atenção nisso: duas garotas que são idols, que se encontram com um membro da Yakuza que transforma elas em garotas mágicas, cuja verdadeira forma são homens sarados. Daí elas decidem virar idols ENQUANTO TRANSFORMADAS EM HOMENS SARADOS MÁGICOS.

Sério, como você pode não gostar de algo assim? É sensacional!

Ok, tudo bem. Sabemos que nem todos gostam de tudo, e que cada um tem o seu tipo predileto de mídia. Não somos todos iguais (graças a Deus!) e as diferenças são nossa força motriz. Mas mesmo assim, como que você pode ler uma descrição dessas e simplesmente não pensar “irado!“? Esse é o ápice da Japanimação e nem a vergonha alheia enorme de usar a palavra “Japanimação” não-ironicamente poderia superar a epicidade que estamos encarando aqui hoje.

Assim como One-Punch Man foi uma sátira que conseguiu rir de si próprio e se manter como um Battle Shounen enquanto tirava sarro de Battle Shounens, Magical Girl Ore faz exatamente a mesma coisa com o gênero Mahou Shoujo: é claramente um deboche de todas as obras semelhantes, mas continua sendo uma delas.

A cena de transformação; as roupinhas exageradamente coloridas; o mascote; a premissa confusa; os ‘vilões’ semanais e episódicos que não agregam em nada; armas duvidosas e questionáveis; o poder do amor movendo as personagens; aquela personagem chata que só existe para atrapalhar a vida das protagonistas…
Tudo está lá, todos os elementos de um Mahou Shoujo estão lá. É inegável que o show se trata, de fato, de um Mahou Shoujo. E o grande charme do show é justamente ser aquilo que eles mesmos parodiam.

Você já fez coraçãozinho com um membro da Yakuza hoje?

Se a simples meta-linguagem não for suficiente para te comprar, talvez o excessivo humor seja. Eu sou um cara que gosta de comédias (é o meu gênero predileto), e me agrado com tudo um pouco. Não tem tempo ruim comigo, desde que o negócio me faça dar risada, propositalmente ou não. Inclusive algumas das melhores obras que tem são aquelas acidentalmente engraçadas.

Com Magical Girl Ore, eu me vi não apenas dando risada, mas tendo crises de riso, em diversos momentos dos episódios. Além do humor parodial – que, confesso, você precisa ter ao menos uma base de conhecimento sobre clichês de garotas mágicas para entender – de excelente qualidade, o show ainda apresenta uma premissa tão absurda, e acontecimentos tão insanos, que simplesmente por existirem, certas situações já são engraçadas. É uma mistura maravilhosa de humor de nicho com humor nonsense, que trouxe o melhor dos dois mundos e conseguiu mascarar as falhas de ambos.

No elenco, temos personagens que são claramente esteriótipos ambulantes. Quando falamos de sátiras, fica difícil de fugir disso. Mas eles conseguem sair pela tangente ao colocar os esteriótipos em “carcaças” diferentes do comum. Essa diferença abismal entre cara-crachá que algumas personagens apresentam só acrescenta ao senso de humor que é o forte do anime (assim como era na antiga Zorra Total).

Mudando de assunto pra falar da parte técnica, Magical Girl Ore trabalha com bons visuais. Não é uma animação cinemática (às vezes, muito pelo contrário), mas faz um excelente uso de “carinhas”. Uma vez eu estava conversando com um amigo meu sobre o motivo dele não gostar de animes. A resposta dele foi que “personagem de anime faz muita ‘carinha’ e isso me irrita“. Desde então, passei a chamar qualquer expressão caricata usada por personagens de “carinha”. Esse show tem excelentes carinhas.

Meu amigo odiaria isso. Acho que nem por causa das carinhas, mas…

E não tem mais o que falar, sem se tornar repetitivo. Apesar dos três princípios da comédia (Não se lembra? O primeiro princípio da comédia é a repetição, e o segundo princípio da comédia é a repetição), e apesar de eu ser um palhaço, e apesar do anime de hoje ser uma excelente comédia… Chega de falar mais do mesmo.

Para finalizar, então: Magical Girl Ore apresenta exatamente o que promete em uma paródia ciente de si mesma e que tem um senso de humor hilário para 3% da população, mas que ainda pode oferecer algumas boas risadas para os outros 97%. Não sei você, mas ainda estou estupefato pelas garotas mágicas serem homens bombados contratados pela Yakuza.

Não conseguiria dormir a noite se desse uma nota inicial menor que 9/10 para Magical Girl Ore, que é a definição da frase “Deus abençoe essa bagunça“. O show está disponível na Crunchyroll, com novos episódios toda segunda-feira.

E não esquecer que pegar a pessoa desprevenida é o terceiro princípio da comédia.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Primeiras Impressões | Koi wa Ameagari no You ni

Para abrir esse post, eu poderia falar que japonês é um povo estanho, mas vou deixar isso pra lá. Afinal, nada se encaixa melhor do que citar o nobre compositor e violinista brasileiro Luis Carlinhos, com a música que se popularizou na voz de Tato, vocalista do grupo Falamansa:

Experimente tomar banho de chuva
E conhecer a energia do céu
A energia dessa água sagrada
Nos abençoa da cabeça aos pés”

Baseado no mangá de Jun Mayuzuki, ganhador do 63º Shogakukan Manga Awards, serializado desde 2014 e que conta atualmente com nove volumes, “Koi wa Ameagari no You ni” (lit. “O amor é como o cessar da chuva”) é o show que iremos fazer uma análise precoce hoje. E amigos, acho que “show” é uma palavra perfeita pra isso.

Tudo, absolutamente TUDO no anime é demasiadamente pomposo, e merece o título de “show”. A premissa é o que mais chama a atenção, mas o desenvolvimento, a direção artística e as personagens não ficam para trás, formando um enorme mosaico de coisas espalhafatosas (positivamente falando) que quando juntas, acabam funcionando muito bem. Falemos de cada um desses pontos.

Quando o amor é pelo administrador do grupo

Primeiro, a premissa: Sabemos que o amor não tem barreiras; que não escolhe alguém por aparência, cor, credo ou idade; e que é responsável por muitas ações policiais envolvendo garotinhas que dizem ter 900 anos de idade, mas aparentam ter 12.
Uma garota de dezessete anos e um homem de quarenta e cinco. Esse é o tipo de história que poderia tanto ser um belo conto sobre a luta pelo triunfo do amor, como poderia ser o tipo de história que levanta diversos questionamentos sobre a integridade da mídia “anime” como um todo e geraria polêmicas reportagens no Fantástico.

Felizmente, até então, tivemos personagens extremamente racionais, tendo reações e tomando decisões também racionais, que fizeram com que a trama conseguisse se manter verossímil em seu desenvolvimento. É essa verossimilhança que me deixou tão intrigado (de novo, positivamente) com o show, por me mostrar que não importa o que o autor quiser fazer, ele tentará traçar um caminho que não ofenda a inteligência (e a ética) de ninguém.

Apesar de todos os elogios aos pontos anteriores, nenhum deles chega aos pés da qualidade de sua direção artística. Com Ayumu Watanabe no cargo-chefe, o anime consegue ser lindo e maravilhoso, sem exagerar. Nessa mesma temporada temos Violet Evergarden, que é considerado por muitos como um dos shows de TV mais bonitos da história. Pra mim? Eles exageram demais, tudo é demasiadamente detalhado, é como se eles tentassem demais fazer o negócio ficar bonito, e acaba não soando tão natural.

Já aqui, tudo é naturalmente bonito, os cortes são belos por sua simplicidade e por estarem sempre adequados ao momento. O estilo muda repentinamente, e você é pego de surpresa por isso. Ele muda, mas para algo que retrate bem a situação, e tudo flui perfeitamente. É um bagulho 5000% AESTHETICS o tempo todo. Mesmo quando não tenta ser cinematográfico, o show tem cenas bem animadas e agrada a todos os públicos.

Por fim, mas não menos importante, as personagens: Cara, o que falar dessas pessoas que eu mal conheço e já considero pacas? Todas as personagens são idiotas, mas são idiotas adoráveis. Desde a protagonista que não sabe ajustar o seu temperamento, até o gerente de meia-idade com mania de perseguição. Os secundários também brilham de uma forma incrível, com designs interessantes e personalidades que completam perfeitamente o quadro de pessoas da trama. É um elenco perfeito para uma obra que tenta pagar de hipster sem querer passar longe do palpável.

Minha única recomendação é: Dá uma chance pra esse negócio, venha de coração e mente abertas, e você não vai se arrepender de tentar. Você pode até não gostar, mas com certeza será uma experiência única. Pra mim, acho difícil alguma outra estréia bater essa, e carimbo um 8/10 para o começo dessa história que olha… Ainda tem muito chão pra andar, e muita água pra cair do céu.

O show pode ser assistido por assinantes da Amazon Prime.

Categorias
Anime Cultura Japonesa Pagode Japonês

Primeiras Impressões | Grancrest Senki

Magos, cavaleiros, feudos e poderes malignos desconhecidos. Esse é o tipo de coisa que você encontra em qualquer tipo de mídia, não importa a sua origem. Então hoje provamos que não só os japoneses, mas como todo o mundo é um povo estranho.

Tudo começou quando um jogador de D&D fez amizade com um fã de Sonic. Após diversas carícias e noites de amor, eles deram à luz um menino chamado Grancrest Senki. Vivendo uma adolescência conturbada, o garoto foge de casa, mas leva consigo o lema de sua mãe. Um dia, ele é parado na rua por executivos extremamente suspeitos de um estúdio de animação (e fast-food) chamado A-1 Pictures. Vendo ali uma chance de garantir seu sustento, o garoto Grancrest aceita a proposta que lhe é oferecida.
O nome desse executivo? Ninguém menos que Albert Einstein.

Brincadeiras e surrealismo a parte, algo em torno de dez porcento do parágrafo anterior é, de fato, realidade. Você talvez conheça Lodoss-tou Senki (ou “Record of the Lodoss War“, em inglês), um OVA que foi produzido no início dos anos 90, e que foi o estopim para a explosão do sub-gênero de fantasia nas obras japonesas. Lodoss-tou Senki é o transcrito de uma campanha de RPG de mesa mestrada por Ryou Mizuno, o homem que viria a ser o criador do sistema 2d6, uma adaptação do clássico D&D para dados mais modestos.

Mas o que isso tudo tem com o anime que vamos falar hoje? Bem, Grancrest Senki é, de certa forma, o sucessor de Lodoss-tou Senki. Escrito pelo mesmo autor e com as circunstâncias semelhantes, uma Light Novel se cria e após ser adaptada em mangá, vira também um anime. Anime este que vamos falar hoje. Entendeu a volta que demos?

Com uma temática superficialmente genérica (assim como todas as obras de fantasia medieval), percebemos que o mundo que estamos por explorar é rico e amplamente detalhado por várias e várias horas de atenção dada por seu criador. Não que isso seja aproveitado, mas comentarei mais sobre, depois. Primeiro a gente fala de como é genérico, já que chamar as coisas de ‘genéricas’ dá ibope.

mcq chamam o meu anime de genérico

Eu normalmente não dou sinopses em minhas análises e resenhas pois é algo trivial, que pode ser facilmente encontrado internet afora, e que não acrescenta nada, além de tamanho, para meu post. Mas vejam só como a sinopse – levemente alterada – do show em questão pode ser encaixada em diversos outros:

Num mundo fantástico e de temática medieval, um grande mal de origem desconhecida paira pelos quatro cantos do continente. Um grupo de pessoas, agraciadas com um poder especial, são os únicos capazes de combater os misteriosos inimigos que espalham o caos. Com o passar das décadas, os homens começam a brigar entre si, buscando obter esse poder. Não para combater o mal, mas para seus próprios objetivos egoístas. Protagonista A é um(a) talentoso(a) que busca um(a) companheiro(a) de aventuras que tenha uma missão nobre para que juntos, possam mudar o mundo que, além de devastado pelo mal, sofre com a ganância dos homens. Protagonista A encontra Protagonista B e juntos, vivem incríveis aventuras.

Agora que falamos da parte genérica, podemos tentar falar sobre o ricamente trabalhado universo da séri-
Já o próximo tópico é sobre os personag-
Falemos também sobre a política que envolv-

Essa é a experiência de assistir Grancast Senki. Lembra do lema da mãe do garoto, que era fã de Sonic? Isso mesmo, o lema é “Gotta go Fast“. Tudo acontece num ritmo tão frenético que mal temos tempo de parar para respirar. Eu honestamente, sem meme, acredito que todo o conteúdo mostrado nesses três primeiros episódios poderiam preencher uma temporada inteira, e ainda estaríamos correndo um pouco. É sério, o negócio corre.

Gravação ao vivo dos bastidores do show

Há tantos acontecimentos, personagens, explicações de mundo e implicações políticas rolando, e tão pouco tempo para eles, que é muito fácil de se perder. Acabamos por ter diversas coisas na mesa, mas todas com pouco ou nenhum aprofundamento. Tudo é raso, tudo é superficial. O negócio chega ao absurdo de termos uma personagem que simplesmente surge, do nada, no episódio três, e está lá, junto com os protagonistas, fazendo coisas e tomando parte na ação. E que eu não faço a menor ideia de quem seja, nem mesmo o seu nome eu sei! Fica subentendido que todo o seu arco aconteceu por debaixo dos panos, e que devemos simplesmente aceitar aquilo como realidade.

A animação também não é lá essas coisas, falando em bom português. Cortesia da A-1 Pictures (Sword Art Online, Ao no Exorcist, Magi), que nunca foi conhecida por seus trabalhos de qualidade gráfica elevada. A maioria absoluta dos cortes são feios. Sério, feios mesmo. Temos eventuais bons cortes, mas que de nada ajudam com o resto, e pouco agregam a experiência como um todo. É de uma mediocridade sem igual.

O incrível, porém, é que mesmo rushado e visualmente feio, o anime ainda consegue ser prazeroso de se ver. Os seus personagens são interessantes (com um design único e que retrata bem suas personalidades) e todos são LEGAIS PRA CARAMBA, o tempo inteiro. Até mesmo o protagonista, que está mais para uma porta do que um lorde, tem seus momentos e consegue estampar um sorriso no teu rosto de vez em quando. Você não entende absolutamente nada do cenário mais amplo da trama, e quais consequências aquelas ações terão, mas as ações em si são divertidas, mesmo fora de contexto, por causa de seus atores.

No final do dia, a gente xinga, maltrata e esperneia, mas se diverte e dá gostosas risadas com a companhia de Grancrest Senki. É uma merda, mas é bem legal, eu gosto até. Pra esse conturbado início, creio que 6/10 é uma nota interessante. O show não é ruim. O show não é bom. A experiência de assisti-lo é simplesmente… Intrigante. Vale a pena arriscar, eu diria.

O anime pode ser assistido legalmente no site de streaming Crunchyroll.