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Resenha | Valerian Integral: Volume 1

Escrito por Gabriel Faria

Valerian é um agente espaço-temporal. Laureline, sua parceira, divide o protagonismo das aventuras. Clássico dos quadrinhos europeus, com mais de vinte álbuns publicados, esta série de ficção científica retornou ao Brasil pela SESI-SP Editora, possibilitando que novos leitores tenham contato com tudo que torna Valerian e Laureline uma obra-prima.

Frutos da imaginação transbordante de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, os personagens Valerian e Laureline surgiram pela primeira vez nas páginas da revista Pilote n° 420, em 1967. Por sua inventividade e audácia, a série rapidamente se tornou referência absoluta para os leitores de histórias em quadrinhos de ficção científica. Cinquenta anos após o início de sua publicação original, Valerian retornou ao Brasil pela SESI-SP Editora (já tendo sido publicado por aqui n’O Globinho), que publicará os sete volumes integrais da série, compilando todas as aventuras.

Uma característica típica das obras de ficção científica que envolvem viagem no tempo, especialmente da década de 60, é começar com uma viagem ao passado. Doctor Who, The Time Tunnel, It’s About Time e outras produções dividem essa característica em comum. Valerian não é diferente. Em seu primeiro álbum, publicado em 67, Valerian volta à Idade Média para impedir um vilão, Xombul, que possui planos nefastos.

A simplicidade do plot de Os Maus Sonhos é refletida na simplicidade do início de Valerian como uma publicação de quadrinhos. Mézières não estava em seu auge artístico, ainda assim entregando cenários bem detalhados e personagens caricatos. Christin, que assinava como Linus, também estava refinando seu texto, com boas doses de absurdo e bom humor. Nesta primeira história Valerian conhece Laureline, uma garota da Idade Média, que vem a se tornar sua parceira. E com toda a simplicidade narrativa, destaca-se sempre a criatividade da dupla de artistas.

“Ano 2720, Galaxity, capital da Terra e do Império Galáctico Terrestre.” Com estas palavras, o primeiro quadro de Os Maus Sonhos chama a atenção do leitor pelo vislumbre do futuro. Apesar de primitiva, esta história faz a apresentação dos elementos básicos da série, com criaturas fantásticascenas divertidas e batalhas. Aqui temos a chance de visitar uma Idade Média com fórmulas mágicas, répteis gigantes e unicórnios.

Em A Cidade das Águas Movediças, de 1970, a dupla de autores parece estar encontrando o ponto ideal de suas capacidades. Perseguindo Xombul mais uma vez, Valerian e Laureline viajam para o futuro, especificamente para o ano de 1986, onde a Terra passa por um grande cataclismo e os EUA é um local instável. Nova York está submersa e Yellowstone sofre tremores e erupções, e o caos parece reinar. O mundo ruma aos seus últimos suspiros.

Esta segunda aventura, mais longa, parece um conto de literatura de onde Christin tirou parte de sua inspiração, enquanto vivia nos EUA. Na altura, Mézières aparenta estar refinando sua arte, entregando lindos quadros de paisagens devastadas e personagens menos caricatos. Parodiando figuras reais, como o pianista Sun Ra, o elenco de personagens de apoio é bem mais interessante quando comparado a primeira aventura. E em sua continuação, Terras em Chamas, o arco de perseguição a Xombul finalmente acaba.

Apesar dos pontos positivos das histórias anteriores, é nítida a adaptação para que seja atingida a plena utilização dos talentos envolvidos. Ambas as histórias servem como uma grande apresentação a este universo, com a viagem no tempo e a organização para qual Valerian responde, bem como a introdução ao status da humanidade no século XXVIII. E então, surge O Império dos Mil Planetas, de 1971.

O terceiro álbum de Valerian é uma aventura fantástica do início ao fim. Com um texto poético, situações dignas do melhor da ficção científica e desenhos em pleno potencial, O Império dos Mil Planetas mostra a que veio este clássico. E lidando de forma humanista com uma situação que envolve o domínio de um planeta inteiro, Mézières e Christin narram juntos este conto que, numa crescente, introduz elementos fantásticos, cenas memoráveis e batalhas incríveis com tecnologias de cair o queixo, além de questionarem a devoção às figuras religiosas e falarem sobre escravidão e miséria.

Enquanto os álbuns anteriores criavam a pedra angular da série, O Império dos Mil Planetas refina a construção deste universo, com o que viria a se repetir nas histórias subsequentes, alcançando a popularidade que possui hoje, graças a viagens fantásticas pelo espaço, lutas contra vilões ditadores e diálogos profundos, com tramas fechadas e belas ilustrações não somente nos cenários, como também em todos os seres de outros planetas.

A figura de Laureline, uma das pioneiras no protagonismo feminino dos quadrinhos, é adaptada com o passar das histórias, ganhando mais força no decorrer das aventuras. Independente, forte, sensível e bela, a garota ruiva fica com os diálogos mais naturais, enquanto Valerian se assemelha a um estrategista militar. O bom-humor característico dos quadrinhos franco-belgas é marcante em ambos os personagens.

O Império dos Mil Planetas também é uma história marcada pela forte influência exercida na criação de Star Wars, de George Lucas. Algumas ideias e visuais da trilogia original foram nitidamente inspirados em situações deste álbum, e cenas de álbuns seguintes também vieram a criar visuais de Guerra nas Estrelas. Uma imagem presente nos extras da edição nacional faz a comparação entre as duas obras, após uma grande entrevista com os autores e com o diretor Luc Besson.

Besson, fã declarado e apaixonado pela série, está lançando em agosto de 2017 o filme Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, onde após alguns anos de ideias e preparações, os atores Dane DeHaan e Cara Delevingne darão vida aos personagens na telona.

O retorno de Valerian e Laureline ao Brasil é um dos eventos mais fantásticos do ano para fãs da nona arte, marcado inclusive por um evento especial de lançamento realizado há cerca de um mês. A edição nacional da SESI-SP Editora possui um capricho gráfico louvável, bem como um tratamento editorial ótimo. Com orelhas, efeito metálico e papel de boa qualidade, a coleção dos volumes Integrais de Valerian será uma belíssima adição às livrarias de todo o Brasil.

E enquanto admiramos a volta deste clássico space opera de viagem no tempo, fica a esperança de que os fãs brasileiros abracem a série, tornando-a mais um sucesso franco-belga no Brasil, tal qual Asterix e Tintim.

Valerian Integral: Volume 1 possui 160 páginas, capa cartão, e compila as três primeiras histórias da série, em formato 29 cm x 22 cm. O preço de capa sugerido é R$ 58,00.

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.