Categorias
Séries Tela Quente

WandaVision e o Futuro da Marvel na Disney Plus

Após um ano sem produções da Marvel Cinematic Universe, fomos presentados com WandaVision, a primeira série do universo lançado na Disney Plus. Fugindo bastante da fórmula vista nos longas, o título tem sua premissa executada de forma excelente por meio de uma homenagem à televisão norte-americana em seus episódios e mostra o grandioso e promissor futuro da Marvel no novo serviço de streaming, que já conta com diversas séries confirmadas para expandir o grandioso universo apresentado nos cinemas.

Entretanto a produção e os atores criaram expectativa demais por meio de entrevistas no decorrer da série prometendo maior duração nos episódios finais, maiores surpresas para o futuro no audiovisual da Marvel e participações especiais – tal como a que ocorre no final da temporada de The Mandalorian. Toda essa expectativa resultou em diversas teorias semanais criadas pelos fãs, onde tais debates acabaram sendo melhores do que a conclusão da série em si que desperdiça seu enorme potencial em meio a um final apressado e levemente preguiçoso.WandaVision on Disney+: What We Know So Far & Coronavirus Delay | Observer

A trama de WandaVision segue após os eventos de Vingadores: Ultimato onde Wanda Maximoff acaba sequestrando uma cidade ao formar um domo em seu redor e trazendo o seu amor, Visão, de volta a vida. Dentro da cidade, a feiticeira cria uma simulação que no decorrer dos episódios transita entre as diversas épocas da televisão norte-americana como uma forma de contar sua história e de homenageá-la. Enquanto isso, coisas estranhas começam a acontecer dentro do domo e em seu exterior uma equipe tenta desfazer todo o caos que Wanda está promovendo com seus poderes. O roteiro funciona bem para atingir o objetivo do seriado: desenvolver os poderes e a personalidade da Wanda junto com relação entre os dois personagens de forma superior ao que foi feito nos últimos longas, porém apresenta alguns deslizes durante os episódios e principalmente na conclusão do título.

A partir do quarto episódio, quando o seriado começa a transitar entre o interior e o exterior da cúpula, observa-se a necessidade do roteiro em querer explicar tudo diversas vezes ao mesmo tempo que não explica quase nada em certos momentos. Com isso, em seus dois últimos episódios, o show sofre uma conclusão rápida com uma batalha final bem medíocre e com o desfecho de um personagem em específico extremamente decepcionante, desperdiçando uma oportunidade de ouro para desenvolver o mesmo e a ideia central do multiverso. Mas ao mesmo tempo que a conclusão foi meia-boca, ela funciona com o que a série propõe e faz com que seu desfecho seja satisfatório.

A montagem dos episódios foi feita de forma excepcional e na medida certa, onde os três primeiros episódios homenageiam os seriados antigos e a partir do quarto começa a transitar entre os dois pontos da série. O que deixou a desejar foi a duração: cada episódio apresenta certa de trinta a quarenta minutos onde apenas dez são de créditos, isso contribui para o que foi dito acima a respeito da conclusão ter sido rápida. Caso a duração fosse prolongada mais tal como prometeram nos últimos episódios, o problema poderia ter sido facilmente resolvido. WandaVision termina com batalha digna de Vingadores e despedida emocionante · Notícias da TV

Elizabeth Olsen está perfeita no papel de Wanda, entregando aqui sua melhor atuação até então no papel da personagem – não que antes estivesse ruim, mas com os holofotes voltados para ela e com o desenvolvimento perfeito da protagonista no decorrer da série, sua atuação no seriado se destaca dos demais títulos da produtora. E o mesmo pode ser dito para Paul Bettany, inclusive a química entre os dois é sensacional e bem trabalhada em tela durante todos os nove episódios.

É inegável que WandaVision deu o empurrão inicial para as séries da Marvel na Disney Plus, apresentando a mesma qualidade vista em um filme e fugindo da fórmula apresentada ao longo dos anos. Imagina-se que as futuras séries da plataforma de streaming sigam o mesmo rumo, principalmente Loki: o vilão adorado por muitos fãs em breve estará chegando e imagino que sua série tenha a mesma repercussão que WandaVision teve nesses dois meses. Por outro lado a próxima a ser lançada neste dia 19 é O Falcão e o Soldado Invernal, seriado de ação da dupla que ao mesmo tempo que aparenta ter uma fotografia incrível e cumprir o que vende, também aparenta ser uma série que não alcançará o que esta conseguiu. Entretanto aparenta ser também uma incrível expansão do que foi apresentado em tela nos últimos dez anos de MCU, dando destaque e desenvolvimento aos dois protagonistas com a mesma qualidade vista nos filmes. O futuro é promissor, tanto das séries como dos filmes – agora vamos torcer para que seja de fato.

WandaVision 1x05 Wanda Vision Argument 1080P HD1 - YouTube

Então, é bom?

Sendo uma produção diferente do que foi visto nas últimas películas do estúdio, WandaVision foi uma incrível surpresa da Marvel no novo serviço de streaming e, por mais que os três primeiros episódios tenham sido levemente arrastados, eles cumpriram seu papel e a composição da série ficou incrível. É uma série que acrescenta em muito no desenvolvimento da personagem – que até então não tinha tido tanto destaque nos filmes do MCU, e na relação entre Wanda e Visão.

Foram oito semanas de teorias criadas pelos fãs após o final de cada episódio e expectativas criadas pelas entrevistas dadas pelo elenco, no fim, quase nada se cumpriu e o final dividiu opiniões entre quem criou expectativas acerca dos debates criados e se decepcionou e por quem não criou nada e se surpreendeu com a conclusão. O final da série é levemente problemático por parecer ter sido executado de forma apressada em seu último episódio, onde observa-se claramente o receio por parte do roteiro de querer explorar certos assuntos e de se aprofundar em outros que a série abriu brechas durante sua temporada. Acaba que a conclusão é medíocre, mas satisfatória ao que é mostrado na série e funciona em harmonia com toda a trama – abrindo também uma porta para o brilhante futuro da personagem no universo e cumprindo seu papel com maestria. Com mais tempo de episódio e coragem por parte do roteirista de abordar certas temáticas e ganchos, com toda a certeza sua conclusão poderia ser melhor.

Cedars | Super-Powered Chaos: A Spoiler Review of “WandaVision” Episode Six

Por fim, WandaVision é uma série excelente e com uma qualidade absurda, que serve perfeitamente como um prólogo para o que está por vir na sequência de Doutor Estranho, no futuro do universo cinematográfico e como o pontapé inicial para as séries seguintes na Disney Plus. Agora nos resta esperar para que O Falcão e o Soldado Invernal, que tem seu lançamento previsto para daqui a duas semanas, consiga expandir o universo da mesma forma e entreter no mesmo nível.

Nota: 4/5

Categorias
Tela Quente

Monster Hunter: Monstruoso, de fato

Mais um longa lançado este ano nos cinemas brasileiros por conta da pandemia de COVID-19, Monster Hunter chegou em sessões especiais desde o dia 18 deste mês e terá sua estreia no dia 25. Mais uma vez, Paul W.S. Anderson  – responsável não somente pela direção, mas também pelo roteiro e pela produção do título – e sua esposa conseguem estragar uma adaptação live-action de uma franquia de jogos da Capcom.

E, sinceramente, não é muito difícil fazer um filme de Monster Hunter: respeitando a caracterização, era apenas trazer uma trama base e colocar humanos lutando contra monstros gigantes, sabendo dirigir uma cena de ação tal como Guillermo del Toro fez em Círculo de Fogo. Entretanto, Anderson se superou e conseguiu entregar um longa preguiçoso, pior que seus outros filmes. Mas, sendo bem sincero, alguém tinha alguma expectativa para este longa depois dos estragos em Resident Evil?

Monster Hunter 2020 ― ( Full MOViE ) free ʺENG-SUBʺ | Monster Hunter (2020) — B.L.U.R.A.Y

O roteiro do filme é bem simples: um grupo de militares liderados por Artemis (interpretada por Milla Jovovich), sofre um acidente em meio a uma tempestade no deserto e se transporta por meio de um portal para o mundo de Monster Hunter. Com isso eles precisam sobreviver aos monstros da nova dimensão e, ao encontrar um caçador experiente, aprendem como fazer isso. O trailer do filme acaba contando toda a história do título e reúne as melhores cenas do mesmo, pois o restante é algo monstruoso e torturante de se assistir.

Caso tivesse uma boa direção e um bom elenco, a história poderia ser desenvolvida da forma correta. Mas não é isso que acontece, nos primeiros dez minutos de filme somos introduzidos a personagens que não apresentam nenhum carisma e nenhum desenvolvimento em tela. Depois disso, só se observa cenas de ação sem nexo com a Milla Jovovich correndo dos monstros até encontrar um aliado. Após isso, mais cenas de ação picotadas e sem nexo como se fosse um videoclipe de rock dos anos 2000.

A montagem do filme é horrível, as cenas de ação são extremamente cortadas e o uso do slow motion é feito da forma errada e preguiçosa. Junto a isso, grande parte do filme é apenas Milla Jovovich correndo, com a mesma expressão de sempre, dos monstros e estranhando tudo ao seu redor. Ou seja, uma trama de uma hora e quarenta minutos se torna extremamente arrastada e monótona. A maior decepção não é o longa, mas sim o final aberto que indica uma continuação – ou seja, mais filmes ruins da franquia a caminho com a desculpa de que o próximo será melhor tal como foi com a sua franquia anterior.

Monster Hunter, Pulled In China, Tops Box Office In 5 Other Markets – DeadlineFora isso, a trilha sonora é péssima e os efeitos especiais são dignos de dar risada. Há diversos momentos onde é notável o fundo de Chroma Key e de cgi, em somatória, o diretor utiliza apenas três monstros em um universo que deveria ser, na teoria, dominado por diversas espécies de monstros. Entende-se que isso ocorre pelo baixo orçamento do longa, mas diversas outras produções com o mesmo valor de orçamento ou até menos fizeram algo melhor.

Por último os único pontos positivos do filme são o figurino e a sua ambientação. As armas, armaduras e até mesmo os monstros, mesmo que estes tenham um cgi de baixa qualidade, apresentam uma certa fidelidade aos jogos (o que era o mínimo também, convenhamos). O destaque mesmo de fidelidade vai para a aparição do Amigato, sendo esta idêntica a sua cutscene no último jogo da franquia Monster Hunter: World.

Com esse filme, é comprovado oficialmente que Paul W.S. Anderson é um diretor extremamente preguiçoso que não procura evoluir com seus filmes – tal como sua esposa, Milla Jovovich, que se contenta com a mesma atuação medíocre de sempre. É inegável que o diretor teve diversas chances de provar que sabe dirigir e lançar um filme que tenha uma qualidade minimamente positiva; enfim, todas estas chances foram desperdiçadas pelo visto, não somente em sua franquia anterior como também nos seus últimos títulos como sua adaptação de Os Três Mosqueteiros e Pompeii.

Image result for monster hunter 2020
Então, é bom?

Sendo bem sincero, Monster Hunter é um dos piores filmes que já assisti em toda a minha vida. Todo o longa parece um amontoado de cenas de ação sem nexo graças à sua montagem mal feita e ao desenvolvimento porco dos personagens em tela. O roteiro é fraco e apresenta sequências extremamente vergonhosas, com cenas de ação e frases toscas – entretanto, caso o título fosse dirigido por alguém competente, poderia ser melhor do que esta bomba monstruosa. Nem os efeitos visuais se salvam, tendo em vista que até uma série com baixo orçamento para a televisão apresenta efeitos melhores, sendo assim um filme vergonhoso de se assistir no cinema.

O único elogio que tenho a fazer é ao figurino e ao visual dos monstros no longa. Estes, de fato, se apresentam semelhantes ao que é visto nos jogos sendo a única parte da adaptação digna de aplausos. Infelizmente o diretor já confirmou que a sequência está sendo escrita e é nítido pelo final extremamente aberto que teremos mais longas por aí, tal como a franquia de filmes baseada nos jogos de Resident Evil, estamos prestes a ver outro desastre cinematográfico no mundo das adaptações de videogames por um bom tempo. Infelizmente Paul W.S. AndersonMilla Jovovich não aprenderam com seus erros, e nem devem aprender tão cedo.

Apenas uma palavra pode definir esse filme: horroroso.

Nota: 0.5/5

 

Categorias
Tela Quente

Eu Me Importo: ácido e mordaz

Após uma performance de tirar o fôlego em Garota Exemplar -longa baseado no livro da brilhante autora Gillian Flynn-, Rosamund Pike, agora sob a direção de J Blakeson,  protagoniza novamente um papel de vilã em que arquiteta roubos contra idosos de forma ardilosa, se tornando curadora deles e, dessa forma, confiscando seus bens “legalmente” graças ao seu renome na área, isso junto com sua cúmplice e namorada (Eiza González). Mas a situação muda quando ela tem como nova vítima, Jennifer Peterson, interpretada por Dianne Wiest, que é rica e sem herdeiros, mas que possui associações criminosas e perigosas.

Resultado de imagem para eu me importo filme

Com um roteiro que fica entre a comédia e o suspense, comédia essa que não se faz presente através de piadas, mas sim no sarcasmo da própria narrativa, o filme se tornou o mais assistido da Netflix até agora após ser lançado na plataforma no dia 19 de fevereiro.

Certamente Rosamund é um dos grandes coeficientes, tanto para despertar a atenção do público quanto para a trama, que talvez não teria o mesmo resultado sem ela. A perspicácia e destemor da personagem impressiona a ponto de despertar a curiosidade no espectador de quais serão suas próximas artimanhas, ao passo que faz com que a velhice pareça assustadora por ser vulnerável a pessoas cruéis assim.

Resultado de imagem para eu me importo filme

Apesar de sua cena de sobrevivência frente ao poder da máfia russa tenha exagerado no absurdo, a famigerada brincadeira entre gato e rato -aqui, entre a protagonista e o filho de Jennifer Peterson- parece funcionar na película, que aposta na indagação do certo e errado, além da corrupção enraizada na coletividade. No entanto, os encontros entre as personagens de Pike e Wiest pareciam transmitir um confronto mais interessante e tenso e poderiam ter mais tempo de tela ou mesmo ser o foco do enredo, esse talvez seria um bom caminho para o roteiro seguir.

Estrelado por alguns nomes conhecidos como Peter Dinklage (Game of Thrones) e Chris Messina (Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa), Eu Me Importo mostra um pouco da crueldade e do satírico sem se entregar totalmente ao thriller, o que pode ou não ter sido uma boa decisão, mas que ainda assim é envolvente somado à implacabilidade da protagonista.

Resultado de imagem para eu me importo filme

Categorias
Cinema Colunas Entretenimento Tela Quente

A transição de amor, arte e egocentrismo em Malcolm & Marie

Feito em segredo, Malcolm & Marie é uma produção filmada durante a pandemia, em 2020, que conseguiu puxar os olhares de todos os assinantes da Netflix pelo seu estilo e por estrelar apenas duas das personalidades  mais famosas atualmente do audiovisual, Zendaya e John David Washington. Dirigido pelo filho do grande diretor Barry Levinson (‘Rain Man’, ‘Bom Dia, Vietnã’), Sam Levinson, o longa traz um casal voltando a première do primeiro filme dirigido por Malcolm, e que acaba gerando discussões sobre cinema, amor, passado e política.

Filmes sobre brigas de casais não são atípicos no cinema, ‘História de um Casamento’ (2019) e a trilogia do Antes (amanhecer, pôr-do-sol e meia-noite) são grandes exemplos de longas desse tipo, e tem um certo elemento que cria o sentimento no telespectador de querer ver uma ‘DR’ de uma hora e quarenta e seis minutos, as atuações, e nesse caso, é sem dúvidas fenomenal como Washington e Zendaya dão os seus corações. Os atores conseguem trazer uma química igualável ao casal favorito de Hollywood, Ryan Gosling e Emma Stone, só que de uma forma tão humana que se parece um relacionamento verdadeiro. Desde suas feições, até o drama mais escuso e subtexto da personagem, essa dupla consegue sublimemente traduzir o início ao fim seus sentimentos, dores, medos e angústias.  Provavelmente, se fosse qualquer outro casal de atores, dificilmente teriam criado tamanha simbiose dramática.

Em sua história, ela também consegue cativar bem, mas isso depende muito da visão do público que está entrando nesse mundo criado por Levinson. É claro o amor que o diretor tem por cinema, e a forma na qual ele consegue trazer suas discussões diante de variados assuntos, seja sobre o passado da sua carreira, política em filmes, como pessoas de cor são vistas no audiovisual e a crítica cinematográfica pretensiosa (esse ponto precisa ser discutido mais a frente). Para quem é cinéfilo, ou conversa muito sobre a sétima arte nas redes sociais, consegue pegar bem as discussões que são criadas aqui; diferente de quem é indiferente diante desse universo, que por sua vez, pode se tornar tedioso. O mesmo pode ser dito quando o foco de discussão é o amor? Se depender de Zendaya e Washington, não; já que você se sente um personagem vendo ambos brigando e cada vez mais jogando seus problemas no ventilador. Ainda voltado ao cinema, é muito intrigante ver Malcolm falar com tamanha paixão sobre sua profissão, e para quem trabalha e conhece a área, sabe o que ele está passando. Vê-lo reagir às criticas profissionais e do público é engraçado e quem já acompanhou a crítica de algum filme que teve interesse, vai se espelhar muito no personagem.

Agora falando sobre a crítica que citam no filme, tem um ponto que pode ser desconfortável quando você entende sobre a história de Sam Levinson. No seu último filme, ‘Pais de Violência’ (2018), o diretor recebeu uma crítica de uma escritora do L.A. Times, Katie Walsh, que disse: “Uma tentativa malsucedida de comentário social” (Fonte: Estado de Minas). Então, durante todo o filme, e em duas sequências longas, vemos o Malcolm xingar essa crítica do L.A. Times (sem citar seu nome, apenas chamando-a de “garota branda do L.A. Times”). E sinceramente, é engraçado nas primeiras vezes, mas depois, parece que o diretor se perdeu no próprio personagem e está querendo mesmo que o longa se torne um vendeta para Katie. Por mais que durante o filme, se façam alguns comentários negativos realistas sobre críticos de cinema, o que ele faz com sua raiva diante de Katie chega a ser ridículo, e infantil. Sinceramente? Dá até medo de escrever mal sobre esse filme e me tornar o próximo alvo de Levinson. Por mais que seja infantil, e também muito enfatizado (que até esgota o humor), os comentários que Malcolm chegam a ficar engraçados, por conta da ótima atuação de John. Já Marie, parece uma representação do público, sempre querendo cortar o assunto sobre a garota branca do L.A. Times.

Em seus aspectos técnicos, o filme também entrega um ótimo resultado final. Sua fotografia é linda, e engraçada, pois realmente remete muito à fotografia de anúncios de perfume e roupas de padrão mais alto. Brincadeiras à parte, o preto e branco combina com a maioria do clima do longa e consegue deixar tudo em cena espetacular, até em sua proporção foi um acerto em cheio. A trilha-sonora também foi uma grata surpresa, já que ela foi composta pelo Labrinth, que conseguiu fazer um trabalho fenomenal. Uma curiosidade, o produtor executivo do longa, é o rapper Kid Cudi.  Ainda no mundo do áudio, devemos dar os parabéns para a dublagem do filme e à mixagem de áudio, a atenção aos detalhes é feita com muito carinho.

Já sua direção… Mesmo com o seu grande problema dito anteriormente, é coesa em trazer questões muito atuais sobre o mundo do audiovisual em si, desde política, passado, futuro e afins. Mas peca muito por sua vontade em transformar o filme em sua vingança, se não fosse as atuações dos protagonistas, se tornaria um grande desabafo de Levinson e seu ódio por conta de uma só crítica. O roteiro é bem feito, como já foi dito, a atuação teve seu devido patamar elevado e seus diálogos foram um fator principal nisso.

Malcolm & Marie é um filme lindo, sobre um relacionamento conturbado e que está preso diante de um amor maior: o cinema. De todos os seus detalhes e discussões, é algo que muitos amantes do cinema podem se identificar, e até se preocupar com isso, em certos aspectos. O filme prova que, mesmo sem tantos recursos e um filme sendo filmado em meio de uma pandemia, você consegue dar uma qualidade de um longa digno de grandes produções. E também prova que, se o diretor não deixar de ser tão egocêntrico ao ponto de quase estragar o filme com sua raiva, e não amadurecer com isso, ele vai continuar sendo uma sombra no nome de seu pai.

Nota: 3/5

Categorias
Tela Quente

A fragilidade familiar em Mulheres Ocultas

Em 2020, o longa Parasita ganhou o Oscar de melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro original, alguns dos principais prêmios da noite. Em seu discurso de vitória, o diretor Bong Joon-ho disse o seguinte: “Quando vocês superarem a minúscula barreira das legendas, vocês serão apresentados a muitos outros filmes incríveis.” Assim, o público passou a abrir os olhos para produções estrangeiras e os streamings contribuíram para que estas ganhassem seu devido espaço na indústria cinematográfica, afinal a qualidade de um filme não se restringe apenas às norte-americanas.
Mulheres Ocultas é um filme taiwanês que lá alcançou a maior bilheteria em 2020, e que recentemente foi disponibilizado pela Netflix.
O enredo acompanha o processo de luto de uma família após a morte do pai que era ausente e adúltero, mostrando a dificuldade das mulheres da família em perdoa-lo e se livrarem do ressentimento, o que coloca em evidência a contrariedade da família tradicional.

Resultado de imagem para Mulheres ocultas filme
Fica claro que a matriarca da família, interpretada pela atriz Chen Shu-fang, é a que mais guarda rancor e mesmo fazendo um velório para ele, é aparente o desconforto da personagem. Ela criou as filhas sozinha e manteve a família unida, fato que desperta a empatia do espectador.
O olhar intimista da obra mostra um pouco das dificuldades de cada uma das irmãs, como a saúde, família, profissão e religião, mergulhando no cenário de cada uma.
No entanto, o filme se desenrola de forma muito lenta e por vezes particulariza pontos desnecessários. Além disso, quase beira ao tedioso ao não focar nos problemas inicialmente apresentados. Apesar de possuir uma premissa bastante relevante, o drama não consegue alcançar o necessário para que o público se emocione ou sinta a mesma tristeza que a família.

Resultado de imagem para Mulheres ocultas filme
As revelações significativas para a trama não causaram o choque e nem tiveram o peso que deveriam, seja pelo tempo de tela ou os diálogos que não davam a importância suficiente, resultando na falta de comoção de quem assiste.
As cores usadas possuem uma harmonia e exprimem a frieza da esfera. Têm alguns cortes de cena bruscos, mas nada que interfira a qualidade do longa.
Ainda que possua alguns percalços, Mulheres Ocultas é o retrato dos sentimentos de perda e mágoa, ao mesmo tempo que narra as adversidades do conceito de família que sempre estão presentes, independente da época.

Resultado de imagem para Mulheres ocultas filme

Categorias
Tela Quente

Lupin, uma série francesa: cativante, perspicaz e divertida

O ano de 2021 começou com grandes promessas de produções da Netflix, sendo Lupin a pioneira nas séries e ainda superando a audiência de sucessos como O Gambito da Rainha e Bridgerton. Talvez o principal fator a chamar a atenção do público foi a premissa apresentada no trailer: o roubo de um colar de diamante no Louvre e cenas muito bem-apresentadas.

Mesclando o romance policial com um pouco de comédia, Lupin é uma série francesa que adapta para os dias atuais a obra de Maurice LeBlanc, criador do personagem Arsène Lupin, famoso ladrão do meio literário, sendo este o qual o protagonista Assane Diop (Omar Sy) se inspira para realizar seus planos na grande Paris. A melhor característica da história se dá pelo fato de que o protagonista não executa seus roubos visando o dinheiro, e sim uma vingança contra a elite no geral, em específico à família que seu pai prestava serviços e que acabou acusando-o injustamente pelo roubo do tal colar, logo depois suicidando-se na prisão, o que deixou marcas na vida de Assane. A série conta com cinco episódios e já tem a segunda parte confirmada e gravada.

Culturadoria

 

Tramas em que o espectador torce para o cara “mau” que infringe a lei são famosas e, dependendo da atmosfera que a produção cria e sobretudo o carisma deste, ocasionam uma experiência eletrizante. Além de conseguir propiciar essa sensação, a narrativa de Lupin é construída em uma base totalmente justificada e tangível, fazendo com que críticas sociais atuem de uma forma orgânica que conseguem nitidamente passar a mensagem necessária, sem forçar ou repeti-la várias vezes. A maior delas é a motivação do protagonista de buscar vingança, pois o racismo enraizado na alta sociedade fez com que o pai de Assane fosse preso por roubo, e ainda mais tarde a suspeita das pessoas acerca de Assane quando ele compra o colar apenas pela sua aparência. A série levanta tais questões que dão um soco no estômago por serem tão reais, e sem perder o foco central proposto.

Omar Sy (Intocáveis, Jurassic World) entrega uma performance carismática, charmosa e natural, além de passar uma sensação de poder. Os disfarces que seu personagem usa são convincentes somados à atuação de Omar. De fato, ele foi a escolha certa para dar a visibilidade que séries estrangeiras merecem.

No entanto, a série peca em algumas cenas que claramente não se adequam à realidade e que dificilmente dariam certo, em particular o episódio em que Assane vai à prisão atrás de respostas sobre seu pai. Muitos pontos parecem funcionar a fim de que o intérprete consiga alcançar seus objetivos de forma rápida e fácil, sem se preocupar com a veracidade da situação. Numa produção com esse tipo de premissa, muitos espectadores esperam circunstâncias que se afastem da ficção e pareçam genuínas.

Em suma, Lupin é inteligente, cômico, possui uma história com ótimos pretextos e sequências de cenas empolgantes. Com certeza uma ótima produção da Netflix e a escolha certa se você gosta de ser surpreendido por um enredo.

Categorias
Tela Quente

Tenet: do superestimado diretor Christopher Nolan

Antes de lançar seu novo longa em plena pandemia, Christopher Nolan insistiu para que o mesmo fosse aos cinemas pois, segundo ele, Tenet iria salvar os mesmos e era uma experiência única de ser vista nas telonas. Caso o diretor estivesse falando a respeito de Dunkirk, ele estaria completamente certo – entretanto ao falar assim de Tenet, Nolan superestimou seu longa e provocou um enorme prejuízo ao exigir seu lançamento durante a atual pandemia. Mesmo que o filme seja incrível visualmente, não há tantos detalhes técnicos que justifiquem a briga do diretor para o seu lançamento nos cinemas, entretanto ao mesmo tempo é um filme de tirar o fôlego tanto pela sua trama como pelas cenas de ação.

Review: “Tenet” de Christopher Nolan | PixelDrama

Em Tenet acompanhamos o Protagonista (John David Washington; conhecido por BlacKkKlansman), um agente da CIA que é recrutado para uma missão que tem como objetivo impedir que uma terceira guerra mundial ocorra através do tempo por meio de uma arma que faz com que ele corra ao contrário. Para isso, ele se une ao Neil (Robert Pattinson; conhecido por High Life e The Batman).

O roteiro apresenta uma boa premissa que acaba sendo mal desenvolvida pelo diretor. Como? Por meio de diálogos expositivos que, ao explicar o objetivo ou algum evento que ocorre durante a exibição do título, se tornam confusos propositalmente para que o público se perca em meio a tanta explicação. Fora isso, a montagem do primeiro ato do longa parece ter sido feita de forma apressada ao ponto de que o telespectador se perca facilmente sobre os eventos que está acontecendo. Outro problema é o vilão, que não é marcante e o roteiro não faz com que ele apresente uma ameaça real ao mundo.

Deixando esses deslizes de lado, a trama do filme é envolvente, empolgante e prende o público que consegue acompanhar todas as reviravoltas e os diálogos até o seu desfecho.

Crítica | Puramente técnico, Tenet é uma experiência sobre a trajetória, e não uma história sobre começos e fins – Por Ramon Vitor – Central HQs Central HQs

Um dos pontos fortes do longa são as atuações e a química entre Robert Pattinson e John David Washington: ambos se complementam de forma perfeita em cena e não é exagero dizer que carregam o longa nas costas durante suas duas hora e quarenta minutos de exibição.

As cenas de ação são bem sincronizadas, expostas na medida certa e em conjunto com a trilha sonora composta por Ludwig Göransson se tornam um trabalho único e bem realizado. No fim, a fotografia de Tenet e suas sequências se tornam os maiores destaques do longa.

Tenet | Filme de Christopher Nolan tem data de estreia adiada - Cinema com Rapadura

Então, é bom?

Tenet é um filme extremamente divertido com momentos de ação bem coordenados e exibidos na dose certa. A trama, por mais que tenha seus problemas, é envolvente e prende o telespectador do início ao fim. De fato, os únicos problemas do longa são sua montagem inicial e o fato de Christopher Nolan explicar algo simples de forma complexa para que o público se confunda e ache seu plot algo abstruso, coisa que não é.

Logo nos primeiros trinta minutos, um diálogo fala que Tenet não é para ser entendido, e sim para ser sentido – entretanto, durante toda a exibição do filme, o roteiro procura explicar cada detalhe com exposições em cima de exposições onde algumas distorcem o que já tinha sido dito, contradizendo o que foi exibido anteriormente. Resumindo: é um bom filme, com uma história envolve e excelentes cenas de ação, mas que seria melhor caso o diretor não tivesse superestimado sua obra afirmando que a mesma seria a salvação do cinema.

Por fim, Christopher Nolan acaba provando que é um diretor superestimado que tem a pretensão de criar grandes filmes sempre que tem a chance para dirigir um, subestimando o seu público e tentando transformar algo simples em complexo para engrandecer o roteiro no qual trabalha, além de ser elitista ao afirmar que todo filme deve ser visto no cinema, não sendo diferente com seu último longa. O enorme ego do diretor acaba atrapalhando o desenvolvimento de uma excelente ideia – não só neste filme, como em outros de seu histórico.

Nota: 3.5/5

Categorias
Tela Quente

Sound of Metal e a importância da sonoridade em um longa

São poucos os filmes que conseguem transmitir a veracidade de um sentimento ou de uma situação para as telas. Que usam todos os artifícios cinematográficos disponíveis com maestria conquistando a imersão do público. O Som do Silêncio (Sound of Metal, em inglês) se encaixa devidamente nesse perfil, sendo uma das boas surpresas do segundo semestre de 2020.

Baterista de um duo de Heavy Metal/punk com sua namorada Lou (Olivia Cooke) sendo a vocalista, Ruben (Riz Ahmed) de repente fica surdo, o que acaba colocando em jogo sua carreira que estava para decolar com uma turnê e também a vida como conhecia. Sendo ex-viciado em drogas, ele vai para uma clínica de deficientes auditivos (um termo que aliás é debatido durante o longa) a fim de evitar uma recaída por conta dos acontecimentos. Sua namorada possui um papel importante nesse aspecto apesar do pouco tempo de tela no geral, sendo ela quem o encoraja a ficar na clínica e dá apoio emocional, o que destaca a atuação de Olivia Cooke que consegue transparecer a preocupação da personagem na situação.

Contando com Riz Ahmed -que participou do universo Star Wars atuando em Rogue One– como protagonista e dirigido por Darius Marder, o longa é original Amazon Studios.

Desde o título até a premissa do filme, é importante que o telespectador se atente às cenas que põem em evidência os sentidos e sensações, sendo elas oferecidas mesmo na primeira cena onde há uma guitarra que causa incomodidade, talvez uma prévia do que estava por vir. É feito um jogo de comparação quando foca-se em sons cotidianos da vida de Ruben, como a cafeteira ligada ou o liquidificador e depois quando ele perde a audição há um completo silêncio, possibilitando que tenhamos a mesma sensação de perda e a mesma experiência que ele, o que é crucial.

Sound of Metal", da Amazon, é um dos melhores filmes de 2020 | A Gazeta

Mas o design de som não operaria perfeitamente se não houvesse uma atuação à altura, e Riz Ahmed não peca em momento algum em sua performance, pois além de aprender Língua de Sinais Americana e bateria para o filme, ele exterioriza o que chega mais perto e real da reação de alguém que sofre a perda de algum sentido bruscamente: o estado de choque, depois a negação e a aflição.

Os diálogos entre Ruben e Joe (Paul Raci), orientador da clínica, são responsáveis por nos fazer compreender o real objetivo daquela comunidade e da principal linha de pensamento desenvolvida no longa: questionar a ideia de que pessoas surdas são deficientes e de que precisam de aparelhos auditivos, ou de qualquer reparação para viverem plenamente na sociedade. Dessa forma, perder a audição não é o real problema, e sim a dificuldade em aceitá-la. Apesar disso, desapegar de sua vida antiga e abraçar o desconhecido não é um processo fácil, e esse fato faz com que o telespectador sinta empatia pelo protagonista e suas decisões ao longo do recorte de sua jornada.

Portanto, Sound of Metal é uma experiência sensorial desconfortável e necessária para entender a realidade de quem a vive e também daqueles que se veem forçados a vivenciá-la com o intuito de alcançar a sensação de pertencimento, e ainda, uma mensagem sobre resiliência. Com uma fotografia em tons frios, diálogos e representações corpóreas profundas vemos a evolução e o aprendizado de Ruben, desde o momento em que o silêncio faz com que ele surte, até o momento final em que ele prefere a calma do mesmo. Assim, começando o filme na agitação da bateria, Ruben encerra-o na calmaria do som do silêncio.

 

Categorias
Tela Quente

Dickinson é uma obra-prima atípica e que necessita de seu holofote

De tempos em tempos, vemos séries que são de deixar boquiaberto e que vicia o espectador, mas se comparar Dickinson, em sua primeira temporada, com qualquer outra, vai ver que há uma diferença enorme. Construída com tanto amor e paixão, e claro, com uma originalidade tão criativamente alucinante que faz jus ao trabalho e personalidade da poetiza moderna, Emily Dickinson.

A série se passa em um período de mudança nos Estados Unidos. Abolição da escravidão, a segunda revolução industrial e várias outras batalhas. Quando vemos uma época assim, pensamos que a série terá um tom de palavreados e músicas do seu respectivo tempo, e em alguns minutos dentro do primeiro episódio, podemos perceber que a série mergulha de cabeça no anacronismo. E a melhor parte, é que não é um anacronismo por conta de um roteiro ruim ou uma direção errônea, e sim, a série busca contar a história como se fosse da visão tão moderna de Emily, alguém que não se encaixava em um mundo tão fechado.

Para falarmos mais sobre a história, precisamos entender quem foi Emily Dickinson. Em toda a sua vida, não teve mais de 10 poemas publicados (e muitos deles foram anônimos, apenas anos após sua morte, sua família decidiu publicá-los), era alguém que miticamente consideravam solitária e reclusa, muito pressionada pela sua família por ter comportamento muito fora dos padrões femininos impostos nos oitocentos. Emily foi uma das primeiras poetisas LGBTQI+, e em sua poesia, conseguia trazer uma linguagem muito próxima a oral e tinha uma liberdade única que desprendia de padrões e fórmulas. Por Emily ser uma pessoa tão afrente de seu tempo, a série decide optar por trazer elementos modernos, e se encaixam perfeitamente, mesmo causando certo estranhamento no começo. E assim, conhecemos de forma muito bem humorada e delicada, a vida dessa enorme personalidade. O roteiro aborda cada um dos principais temas da vida da poetiza de forma muito boa e descontraída, com falas que deixam tudo mais engraçado; os roteiristas também sabem muito bem colocar os momentos certos e suas emoções, e principalmente conseguem colocar piadas atuais no contexto histórico da série de forma primorosa.

Falando de seu elenco, neles temos nomes conhecidos e alguns novos; e nenhum que vá te deixar desapontado. Nossa protagonista é a indicada ao Oscar, Hailee Steinfeld (Bravura Indômita, Quase 18, Bumblebee), que consegue dar uma das suas melhores atuações e realmente cria uma personagem tão complexa e divertida como a autora. Seu par romântico, interpretado por Ella Hunt (Os Miseráveis), consegue criar uma química ótima com Emily, mas não chega a prender o espectador.  E no elenco principal temos Jane Krakowski e Toby Huss como os pais de Emily, Adrian Enscoe e Anna Baryshnikov como os irmãos. O elenco é incrível e consegue ter uma ótima relação com os personagens, além de sempre conseguir com que seu tempo em tela seja muito bem utilizado.

Emily Dickinson, “The Greatest Freak of Them All”? | Public Books

Nos aspectos técnicos, a série também é impecável. Podemos começar com a direção de arte, que consegue trazer o passado de uma forma tão linda e também consegue misturar esse elemento com os pensamentos e a visão de Emily. A direção também não se deixa ficar de fora, com um trabalho perfeitamente alinhado com o roteiro e a fotografia, consegue adicionar mais na condução de criar algo novo, moderno e único.

Agora na parte que mais assusta, a suas músicas. É engraçado entrar no primeiro episódio e se deparar com A$AP Rocky e não com uma música instrumental da época, ou uma sonoridade ‘’antiga’’. Grandes nomes atuais da música marcam presença, como a cantora Billie Eilish. A música é, com toda certeza, um dos pontos mais divertidos e criativos de toda a série.

Voltando mais para a parte criativa da série, é muito bom ver como eles utilizaram os poemas da escritora de forma tão sutil, sendo títulos dos episódios, e mostrando os momentos de sua vida em que certo poema foi escrito. Em alguns momentos, mostram até o surrealismo de sua escrita usando efeitos especiais e momentos utópicos da mente de Emily, desde encarar a Morte, até ter uma abelha gigante como amigo. Nesse aspecto, a série lembra bastante o modelo criativo usado em Doom Patrol, o que se encaixa como um quebra-cabeças.

Em sua primeira temporada, Dickinson se provou ser uma obra-prima tão singular e imaginativa, que com toda certeza é um dos melhores coming-of-age já feitos, e uma das mais únicas biografias criadas. Em contrapartida, é triste ver como a série, assim como as obras da autora, parecem ter seu reconhecimento inexplorado pelo grande público. Assim como Emily escreveu,

“Eu sou Ninguém. E você?

É Ninguém também?

Formamos par, hein?

Segredo — Ou mandam-nos p’ro degredo.

Que enfadonho ser alguém!

Tão público — como o sapo

Coaxando seu nome, dia vai, dia vem

Para um boquiaberto charco.”

As vezes, é melhor ser invisível, e ser uma obra-prima, do que se deixar na luxúria da fama passageira.

 

Nota: 5/5

Dickinson já está disponível na Apple TV+.

A série começou sua segunda temporada no dia 08/01, e quando chegar ao seu episódio final, faremos uma crítica, então fique ligado na Torre de Vigilância!

Categorias
Tela Quente

Mulher-Maravilha 1984 e a sua carta de amor ao passado

Após o estrondoso sucesso de Mulher-Maravilha (2017), Patty Jenkins e Gal Gadot retornam na sequência da maior heroína da DC Comics na melhor forma possível. Em Mulher-Maravilha 1984 vemos uma Diana amadurecida, confiante e atuando sorrateiramente. Mas devemos deixar a principal qualidade do filme em evidência: a sua carta de amor ao passado.

Pensando em sua história, ela é bem simples e lembra bastante os filmes de Superman, quando era interpretado por Christopher Reeves. Se passaram anos desde a primeira guerra, e Diana trabalha com arte e a história dessas peças, ao lado de Barbara Minerva (Interpretada por Kristen Wiig). Nesse tempo, um homem de negócios chamado Maxwell Lord (Interpretado por Pedro Pascal) tem o objetivo de ser o homem mais bem-sucedido do mundo, e fará de tudo para que isso te torna realidade. E por meio de um mistério, a paixão passada de Diana, Steve Trevor (Interpretado por Chris Pine), retorna para ajudar a amazona em uma nova missão.

wonder-woman-1984 (4) - Pipoca Moderna

O longa tem como tema central a verdade, assim como seu antecessor, que foi o amor. De uma forma muito bela e simples, vemos cada personagem sendo desenvolvido de forma maravilhosa e tendo seu destaque, e cada um tem seu diálogo com a verdade. Pedro Pascal arrasa e consegue roubar todos os holofotes, se tornando um dos melhores vilões do Universo Estendido da DC. Mas Gal Gadot e Chris Pine continuam com a mesma química do filme anterior, criando mais afinidade ainda com o casal. Kristen Wiig entrega uma boa Cheetah que pode ser mais desenvolvida em um futuro, mas os fãs da personagem ficarão satisfeitos com a adaptação.

Um dos pontos que mais surpreendem nesse filme é a atuação da Gal Gadot, que está fenomenal. Ela consegue trazer emoções ao espectador sem mesmo uma palavra. Duas cenas em especial são de cortar o coração, e Gal consegue transmitir a melhor atuação de sua carreira.

Flipboard - Stories from 28,875 topics personalized for you

Voltando aos aspectos técnicos, acho que é impossível não elogiar a trilha-sonora composta por Hans Zimmer. Com músicas que apenas Zimmer consegue fazer, juntando o estilo da época, é uma imersão que consegue compartilhar toda a emoção criada. Também é necessário falar sobre o uso da faixa ‘Beautiful Lie’, de Batman v Superman, em um momento crucial sobre a trama da verdade que é imposta no longa.

Mas o melhor ponto do longa é a devoção que Jenkins fez ao transcrever sua paixão ao passado da DC, vemos várias referências de filmes, séries e animações. Para os fãs da personagem, é impossível conter a emoção vendo cenas tão icônicas e esperadas desde criança; é um filme único, feito com o maior carinho possível. Vale lembrar que existe uma cena pós-créditos aqui que reafirmam com a maior força cada uma das palavras ditas diante das homenagens que a diretora fez, e essa cena não poderia ser melhor. É possível até ver nos efeitos especiais momentos que lembram cenas da série Mulher-Maravilha de 1975.

Os efeitos especiais são controversos, pois depende da forma na qual você enxerga. Se for comparar com outros filmes de herói, parece extremamente datado em certos aspectos, mas ao lado de ser uma homenagem ao passado, é possível entender a genialidade por trás disso tudo. Desde grandes cenas até pequenos movimentos de câmera, você percebe que realmente remete o passado.

HBO Max will now be available on Roku devices and TVs - Business Insider

A arte do filme segue a linha padrão do seu antecessor: impecável. Por mais que os anos 80 estejam um tanto saturados com tantas produções recriando essa época, o longa não decepciona e tenta explorar outros lados da moda e dos cenários daquele tempo. A maquiagem também é sensacional e bem utilizada.

Infelizmente, o filme não é perfeito. É notável vários erros de continuidade durante cenas e alguns erros que deixam algumas pontas soltas durante o enredo, mas nada tão grave que faça o filme ser estragado, muito longe disso.

É realmente difícil escrever sobre um filme tão único e especial como esse, com toda certeza será um longa que trará discussões e opiniões controversas caso não tenha seu principal propósito entendido: uma homenagem ao que criou o que chamamos de adaptações. É inevitável que isso aconteça, mas para as pessoas que amam a personagem, é um prato cheio de sentimentos e nostalgia. Mulher-Maravilha 1984 é um dos melhores filmes de heróis já feitos, e um dos mais atípicos (e para todas as futuras adaptações de heróis atípicas, vocês são extremamente bem-vindas).

Nota: 4,5/5

 

Mulher-Maravilha 1984 já está disponível nos cinemas. Caso vá assistir, cuide-se da nova COVID-19, verificando as orientações de higienes sanitárias vigentes em sua região.