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Trama Fantasma: A moldura imperfeita

Dirigido pelo experiente Paul Thomas Anderson, e estrelado pelo lendário Daniel Day-Lewis, Trama Fantasma não é um filme fácil de se assistir. Seja pelo seu desenvolvimento lento durante duas horas, pela própria técnica do diretor em expor os elementos cinematográficos com precisão ao abusar de planos mais parados e longos, ou até mesmo pela jornada contemplativa romântica e dramática percorrida pelos protagonistas, Reynolds Woodcock e Alma. Seria o amor, o verdadeiro objetivo que toda a humanidade almeja conquistar? Encontraremos o molde perfeito? Para chegar a essas perguntas seria necessário meses de discussão sobre  ilusões, obsessões e consequências que esse doce e ameaçador sentimento pode acarretar.

Reynolds Woodcock é um estilista renomado e severo em seu trabalho, além de ter uma sossegada vida pessoal. Quando este conhece Alma em um pequeno restaurante, se dá a impressão de que a peça que faltava nele se personifica na jovem moça. Depois que ambos se conhecem, seus estilos de vida demonstram contrariedade de um com o outro, até as consequências e os problemas dessa relação se tornarem expostos e difíceis de se administrar. Quanto ao psicológico de cada personagem, Thomas Anderson se prova mais uma vez eficaz ao ter controle absoluto de suas criações artísticas. Na primeira aparição do estilista, é notável a exploração total de seu local de trabalho: as mulheres que trabalham para ele respeitam regras de comportamento, andando organizadamente; as paredes são predominantemente brancas; e a luz consegue transmitir um senso de maior seriedade, sistematização e trabalho no ambiente.

Já na primeira aparição de Alma, percebe-se que ela está usando uma roupa de garçonete predominantemente vermelha, dentro de um restaurante azul com janelas iluminadas pela luz embranquecida, dando um ar de leveza e serenidade, contrastando os perfis dos protagonistas. Ao criar tal controle, o diretor encaixa perfeitamente sua bipolaridade: trabalhando com o romance e a melancolia ao mesmo tempo. Enquanto há momentos que os personagens se apreciam e tentam se entender, há outros que – com o auxílio da fantástica trilha de Jonny Greenwood (consegue captar a essência das passagens) – isolam eles por completo, criando um vazio interior e uma barreira exterior.

Vazio e barreira criados pelo conflito entre as abusivas regras do personagem de Daniel Day-Lewis, um dos atores mais completos existentes hoje em dia. Não só pela pesquisa e a preparação para com seus personagens, mas à habilidade de criar traços próprios e únicos em seus papéis: o movimento irritado com a boca, a delicadeza ao mexer com os tecidos das roupas e os picos de nervosismo provam isso. E quando as regras do silêncio no café da manhã e da dedicação completa ao trabalho são quebradas por Alma – Krieps ficará para a história com essa atuação – as consequências surgem no mesmo ritmo em que a inibição da liberdade individual de ambos acontece. O verdadeiro significado da expressão “cego por amor”.

Contudo, Trama Fantasma não usa o amor só como foco narrativo, mas também como uma ferramenta de roteiro para tecer críticas severas ao comportamento social e preconceituoso. Não é apenas sobre o “molde” de uma alma gêmea ou de uma simples roupa, mas sobre a injusta meritocracia predominante, que será a causa para as perspectivas errôneas que podem reclamar sobre a trama ser machista e divisora. NÃO. Isso é uma análise crítica do próprio Paul Thomas Anderson, praticando um exercício no roteiro ao injetar diálogos e continuidades que tratam diretamente sobre o assunto.

Por exemplo; quando Woodcock está conversando com Alma logo após o primeiro encontro: “Acho que as expectativas e suposições dos outros que nos causam mágoa”, já referencia o que possa acontecer no prosseguimento da história. Mais adiante, e que promete ser uma das cenas mais fortes do longa inteiro, é quando sua empresa necessita costurar um vestido de casamento para uma mulher (Barbara Rose) “fora dos padrões das clientes que aparecem naquele ateliê”, mas que como esta tem dinheiro e de certa forma parece sustentar os custos dos vestidos, ela se torna ACEITA por seu capital. Logo depois de receber o vestido para cerimônia, Rose começa a se comportar de uma forma antiquada para os padrões de se estar usando um vestido daqueles, se tornando excluída definitivamente devido suas ações quando Alma conclui sobre a vestimenta: “Ela não o merece”.

Se há vários pontos temáticos que comprovam o motivo de Paul  Thomas Anderson ser um gênio da atualidade, não se pode esquecer do tratamento técnico na maquiagem e no figurino dessa obra. Tanto para com os próprios cabelos de Day-Lewis, que quando bagunçados parecem refletir a vulnerabilidade do personagem, até as fantásticas roupas sofisticadas que dão um glamour a parte na triste e apaixonante jornada.  Os riquíssimos detalhes denotam profissionalismo e cuidado na preparação da ambientação e do impacto visual.

Trama Fantasma é a provável porta de saída de Daniel Day-Lewis, que mostra a toxidade do amor contemplativo e puramente cego. Na tentativa de exercermos sob o outro nossas vontades e desejos, estamos apenas o afundando junto a sociedade segregada e hipócrita. Uma última lição importante e duradoura, deixada por um dos maiores atores do século.

“Beije-me, minha garota, antes que eu esteja doente.”

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Uma Noite de Crime 4 divulga título e pôster

O quarto filme da franquia Uma Noite de Crime, criada pelo diretor James DeMonaco, começou oficialmente seu processo de divulgação. Referenciando o começo do expurgo, a premissa básica do novo longa, o título foi oficialmente confirmado como The First Purge, que contará as origens sociais, econômicas e políticas do caso.

Além disso, foi liberado o primeiro pôster, que traça uma forte comparação com o boné usado por Donald J. Trump em sua campanha pela presidência dos Estados Unidos.

The First Purge estreará em uma data especial para o povo americano: 04 de julho, o feriado de independência. Dirigida por Gerard McMurray, a trama promete usar um protagonista inspirado em Clint Eastwood no Os Imperdoáveis (1992), e satirizar o quadro político americano.

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Creed 2 pode ser o filme mais triste de 2018

Me desculpem pelo título tendencioso, mas isso precisa ser dito. Desde que assisti Creed – Nascido Para Lutar (2015), não parei de pensar nas inúmeras possibilidades que podem ser usadas na continuação, que já foi confirmada para esse ano. Apesar da ansiedade ser enorme, já que o filme dirigido por Ryan Coogle foi emocionante, impactante e pautado numa forte realidade, os pensamentos para o próximo Creed são aterrorizantes. Sendo que estes pensamentos não estão relacionados à qualidade da trama em si, mas ao que acontecerá nela.

A MÚSICA E O BOXE

Quando Adonis Creed (Michael B. Jordan) sai de sua mansão para ir morar perto de Rocky Balboa, o filho do campeão Apollo Creed conhece uma garota chamada Bianca, interpretada pela talentosa Tessa Thompson. Ao ouvir música em um nível altíssimo, Creed desce até o quarto da garota para pedir que baixe o volume, e rapidamente os dois se “resolvem” e se despedem. Em uma outra noite, Adonis encontra Bianca cantando em um bar pequeno, lotado de pessoas e luzes de neon. Interessado em conhecê-la, a convida para comer. Depois de conversarem e se conhecerem melhor, a garota revela que tem perda auditiva progressiva (concluindo-se que ela não conseguirá ouvir música e cantar, algo que sonhava). O filme traça paralelos duros, concretos e nítidos com os sonhos dos dois jovens, o boxe e a música, as limitações e os desafios.  Além de ter uma forte representatividade da cultura negra inserida nesta história, mas que pode ser comentada num outro momento.

O perigo, que na verdade não se caracteriza como um, porém, seria tristíssimo, é o problema auditivo se agravar durante Creed 2. Ver os sonhos da garota serem desmantelados e tendo que aceitar uma perda que fará imensa falta dentro de sua vida poderia ser uma das sequência mais tristes que a franquia “Rocky” (se considerarmos Creed dentro desta) já nos proporcionou – em meio de várias outras. Os filmes passados já demonstravam certa dramaticidade, seja pela vida íntima de Balboa desmantelada (virou um aposentado, se tornou velho, viu uma geração atropelar a sua, perdeu seu treinador, seu melhor amigo e sua amável esposa), ou por cenas pontuais: o discurso do lutador para seu filho, Paulie (Burt Young) chorando pela irmã Adrian (Talia Shire), a morte de Mickey (Burgess Meredith), e até mesmo o fantástico diálogo entre Balboa e Apollo: “ Deu tudo de si?”. É esperar para ver.

IVAN DRAGO E A VINGANÇA

Doulph Loundgren está no elenco da continuação, e, recentemente, houve a confirmação da contratação do lutador profissional romeno Florian Munteanu para interpretar o filho de Ivan Drago. Com isso, certamente veremos um embate entre a velha e a nova geração. Mas além disso, teremos um embate esperado e que promete ser impactante com um teor dramático, que é um Creed na frente de Drago. Para quem desconhece, em Rocky IV (1985), Apollo prometeu fazer um show contra o lutador soviético, que era altamente treinado e usava esteroides, enquanto seu desafiador já estava aposentado. A luta resultou na morte de Creed em um golpe fortíssimo e devastador de Ivan Drago.

Em Nascido Para Lutar, o espírito do lendário lutador e seu nome está rodeando inteiramente o ambiente do longa. Ele é citado várias vezes e tem um peso enorme na vida do protagonista, positivamente e negativamente. Mas o que sempre se mostrou desconfortável para Adonis foi a morte de seu pai e nunca o ter conhecido. Ver o homem que deu fim a vida dele causará um tormento psicológico na vida dos personagens em volta. O encontro dos dois poderá resultar em uma reconciliação?

Rocky e Ivan também tiveram um embate no passado, que serviu como uma “vingança” por Apollo, e Balboa levou a melhor. Ver Stallone e Lundgren em cena juntos é ótimo em Os Mercenários (2010), agora, retornando como seus icônicos personagens, será tão satisfatório quanto.

O FIM DA CAMINHADA DE ROCKY BALBOA

Deixei o pior e mais triste momento para o final. A coluna inteira é pautada por expectativa e previsão, portanto, posso dizer o que realmente acho que deve acontecer. Depois de sete filmes, não há como ignorar a fantástica vida de Rocky Balboa. Sua trajetória, desde a ascensão até a completa decadência, formaram um personagem forte e que consagrou o nome de Stallone. O boxeador era solitário e sozinho com um sonho e uma determinação na cabeça: ser um profissional e campeão.  Todos sabemos que ele conseguiu, mas logo depois, começou a perder amigos e parentes próximos (o mais valioso para ele), perdeu dinheiro e fama, e teve que reconquistar o reconhecimento de uma nova geração.

Já nessa nova empreitada, o Garanhão Italiano aprendeu a lição e entendeu sua posição no “novo mundo”. Treinou o filho do seu treinandor e oponente mais querido e ensinou os passos que todo o boxeador precisa passar. A imagem do personagem ficará na cabeça de fãs no mundo inteiro, principalmente por suas lições de vida e a demonstração de que com persistência e dedicação, podemos conquistar o que quisermos.

Pois bem, deixando seu legado em sete filmes (indo para o oitavo), talvez o roteiro entenda que a hora do pugilista chegou. E, infelizmente, há um oponente que não pode ser derrotado com porradas: o câncer. A luta contra o câncer, iniciada em 2015, continuará até os últimos minutos, servindo de alguma lição para Adonis, finalizando de vez a vida inspiradora de um dos melhores personagens da história do cinema. Seria o seu último round?

Aconteça o que acontecer, dia 21 de novembro deste ano obteremos as respostas. Se essas serão positivas ou negativas, só o tempo para dizer. Triste ou não, assistir a mais um filme desse universo é um grande prazer que só um Balboa e um Creed podem oferecer. LET’S GET READY TO RUMBLE!

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Dentro do cinema: o que realmente deveria importar?

O cheiro de pipoca no ar. As máquinas de refrigerante não param em nenhum momento. Estamos dentro de um cinema. Damos o ingresso para o funcionário, ele analisa e permite nossa entrada. Na sala “da telona” subimos as escadas e passamos por corredores melados, provavelmente pela manteiga da pipoca ou das incontáveis gotas de refrigerantes que, acidentalmente, acabaram caindo no chão. Sentamos naquelas poltronas (às vezes confortáveis) e esticamos as costas. Há uma curta conversa prévia ao início da sessão, falando sobre regras de “boa conduta” dentro do cinema, fofocas, ou até algo relacionado à obra que está prestes a começar. De repente, as luzes se apagam lentamente, um feixe de luz atravessa a cabine de projeção. Os trailers, comerciais e afins começam a aparecer na tela e, finalmente, estamos prontos para ASSISTIRMOS AO FILME?

Qualquer apaixonado pelo cinema, talvez, se relacione com esse breve resumo. Em poucas palavras, eu consigo descrever toda a parte “externa” e física da atividade de ir no cinema. Quem nunca gostou de ir nesse lugar? Para alguns… um santuário. Para outros… um simples local para se passar duas horas, beijar, conversar e curtir com os amigos. E, em relação a esse segundo caso, claramente as redes cinematográficas do nosso país, especificamente, irão usar todos seus recursos possíveis para extrair cada centavo dessas pessoas. Salas XD, IMAX, 3D, D-BOX, 4D, MACRO XE etc… tudo o que for possível e que faça as pessoas se “interagirem” com os filmes e GASTAREM, com certeza estará lá. Infelizmente, com esses objetos externos, o simples material, a parte física da coisa: cadeiras que se mexem, coisas saltando perto de seus olhos, cadeiras que reclinam etc… cria-se uma redoma perigosa, e privam as pessoas de prestigiarem o verdadeiro motivo de estarem nesse lugar, nessa sala, nesse cinema: a arte.

Netflix, Hulu, Amazon e tantos outros serviços de streaming são baratos (em grande parte), rápidos, acessíveis e úteis. A quantidade de filmes e séries que estes serviços produzem, além dos milhares de títulos que são disponibilizados por estes, os tornaram rentáveis dentro do mercado consumidor. Várias pessoas assinam algum tipo de streaming, é bacana ver o interesse de assistir filmes de uma forma mais ágil, porém, ao mesmo tempo, o que torna a assistida uma experiência cinematográfica? Bem, a resposta depende de pessoa por pessoa, tentarei argumentar a minha.

O processo, descrito no primeiro parágrafo, tirando uma frase ou outra, pode, facilmente, ser feito em nossas casas. A pipoca, a cadeira, o sofá, o refrigerante, a tela, o escuro e a conversa prévia. Não teremos o vendedor, os cheiros, a meleca, o som imponente, as regras de convivência, a tela gigante, os trailers e os chatíssimos comerciais. Em suas vantagens e desvantagens, esse processo dentro de casa não se demonstra ruim, pelo contrário, o conforto de sua casa é incomparável e indiscutível. Além disso, você não precisa GASTAR DINHEIRO e consegue assistir inúmeros filmes de uma vez só. E, quando acabar, você não precisará fazer algum comentário, pensar sobre o que acabou de assistir durante a saída pelos corredores do cinema, simplesmente irá fazer um xixi, lavar a louça, dormir etc.

Bom, nos dois casos, assistimos a algum tipo de filme e fomos fazer outra coisa, que pode estar relacionada à atividade ou não. Porém, qual foi o significado de tudo aquilo que aconteceu há alguns minutos atrás? Aonde está a famosa experiência cinematográfica? A resposta é simples: ELA ESTÁ COM VOCÊ.

Parece que estou fazendo uma confusão, mas não. Quando estamos em casa, não gastamos dinheiro, ficamos completamente confortáveis e depois vamos procurar outra coisa para fazer. Quando ficamos sentados numa poltrona que se mexe, 3D incrível, grande parte das pessoas ficaram apenas prestando atenção nisso. Esquecendo do lado mais importante de todo esse processo: o interior.

Filmes, na MINHA perspectiva, são uma das coisas de extrema importância que o mundo artístico pôde nos proporcionar. Filmes são maiores do que os vinte reais que você pagou para assisti-los, melhores do que o simples 3D ou a cadeira vibrante (UAU!). Eles nos deixam um legado, uma mensagem, algo que ficará (pode ser que só por alguns instantes) em nossas cabeças e que durará muito mais do que as coisas supérfluas que fizemos durante aquele processo. Isso que deve ser levado em conta. As lacunas que as obras cinematográficas deixam para serem preenchidas individualmente por nossas visões de mundo, por nossas perspectivas e experiências de vida. A parte interior e psicológica fazem longas se tornarem grandiosos diante de nossos olhos. Claro que há milhares de outros quesitos, teóricos e técnicos, que fazem um filme poder ser bom, ruim, razoável, memorável e grandioso. Mas o meu foco com esse texto é falar sobre o que nós, como espectadores, podemos extrair de um filme. E para conseguirmos sentir a emoção, captar minúcias dentro da história, interpretá-los da melhor maneira possível, só o CINEMA, apenas esse lugar, pode nos auxiliar da forma mais prazerosa e rica possível.

Assistir a um filme na internet, na TV da sala ou em qualquer outro lugar é inteiramente aceitável. Eu faço isso! Eu, como muito de vocês, consigo reconhecer virtudes dos filmes que assisto dentro de casa. Só que o cinema, aquele maldito e incrível lugar, é incomparável. Ignore, por um simples momento, a cadeira vibrante e os aparatos tecnológicos. Olhe para aquela tela de preencher os olhos. Entenda o ambiente em sua volta, as caixas de som pulsando junto a telona. Sério mesmo que você acha que um filme só serve para se divertir, curtir com os amigos, conversar e beijar? TUDO ISSO EM SUA VOLTA TEM UMA RAZÃO! Por que fazem salas e salas, por que esses filmes são reconhecidos nacionalmente e internacionalmente, se só servem para isso?

Porque não são só para isso. Faça esse exercício, olhe para a tela e tente pensar, que seja por dois segundos, o que esse diretor está tentando me mostrar? O que essa história, mesmo que falhe miseravelmente, quer me contar? Ao final, se fazendo essas perguntas, refletindo e até mesmo discutindo sobre esse assunto, não indo fazer outra coisa em sua casa, você saberá o que é a verdadeira experiência cinematográfica.

O valor de assistir, entender, refletir e discutir o cinema é intangível. Está na cabeça de cada um. Não me chame de velho, não fale que eu quero assistir filmes com os irmãos Lumière em uma sala com pianinho, ou que sou 100% tradicional e arcaico. O que eu quero de você, querido leitor, é que entenda o significado de tudo isso para mim e para outras pessoas apaixonadas como eu. Eu assisto 3D, já fui em inúmeras salas VIP, reclinei a cadeira e cometi várias vezes o erro de “conversar baixinho” dentro da sala. Porém, quando eu me direciono para olhar a tela, eu tento me aprofundar no INTERIOR. As coisas EXTERIORES são coisas passageiras, materiais, superficiais, e que não ficarão comigo após a sessão.

Agora, voltaremos ao cinema em breve. Sentiremos o cheiro da pipoca de novo, ouviremos as máquinas soltando líquidos gaseificados atrás de líquidos gaseificados. Veremos novamente o funcionário do cinema, daremos o ingresso. Passaremos, tudo de novo, pelos corredores melados. Nos sentaremos em nossas poltronas, intituladas “às vezes confortáveis”. Conversaremos brevemente e OLHAREMOS para a tela. O feixe de luz passando. Se exibirão trailers, comerciais e afins. E, no final… presenciaremos aquele clima. O ambiente com luzes, som e tela riquíssimos, exteriormente e interiormente falando. As pessoas em volta, comendo suas pipocas e bebendo seus refrigerantes. Reconhecendo a real importância disso tudo: o que passará na tela, o filme, a experiência cinematográfica.

Agora sim, estaremos sempre prontos para ASSISTIRMOS AO FILME. De novo, de novo e de novo outra vez.

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Mark L. Smith irá escrever Star Trek de Quentin Tarantino

Parece que o projeto R-Rated (maiores de 18 anos) de Star Trek, dirigido por Quentin Tarantino, irá realmente acontecer. Anunciado recentemente pela Paramount Pictures, o longa ganhou seu roteirista, Mark L. Smith, que escreveu O Regresso (2015), Temos Vagas (2007) e O Buraco (2009). A notícia foi dada pelo Deadline.

Resultado de imagem para Mark L. Smith

J.J. Abrams, responsável pela direção de Star Trek (2009) e Além da Escuridão: Star Trek (2013) , participará da produção. Não houve mais nenhuma informação relacionada a gravações, elenco ou previsão de estreia.

Por enquanto, Tarantino está trabalhando em sua próxima obra, prevista para chegar aos cinemas dia 9 de agosto de 2019.

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Máfia, criminosos e tiros no trailer de Sicario 2: Soldado

A continuação de Sicario: Terra de Ninguém, dirigido por Denis Villeneuve, irá ganhar uma continuação dirigida por Stefano Sollima. Intitulada Sicario 2: Soldado, a trama dará continuidade à parceria entre  os personagens de Josh Brolin e Benício Del Toro.

 

https://www.youtube.com/watch?v=XhCCRHJLTec

Taylor Sheridan é responsável pelo roteiro. Isabela Moner, Catherine Keener e Jeffrey Donovan fazem parte do elenco. A estreia mundial está prevista para o dia 29 de junho de 2018. Villeneuve não terá nenhuma participação criativa.

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Bright: A falsa mensagem de David Ayer

Ao se deparar com a premissa de Bright, novo filme do diretor David Ayer em parceria com o astro Will Smith, é quase impossível não compará-la com a de Distrito 9 (2009), dirigido por Neill Blomkamp. É visível o objetivo de Neill em discutir questionamentos sociais e, principalmente, humanitários, quando se coloca aliens e humanos juntos na Terra, onde os extraterrestres são completamente oprimidos e segregados da humanidade em uma metáfora que retoma o Apartheid e outras divisões existentes atualmente. Usando essa mesma estrutura, Ayer utiliza sua fantasia misturada com ficção, tentando trazer debates semelhantes entre orcs, elfos e humanos, porém, diferente de suas inspirações, o filme joga fora várias oportunidades em construir um discurso inteligente e sério, se perdendo na ação excessiva e na maldita necessidade de colocar seu astro hollywodiano em cada frame.

Will Smith sempre foi uma peça importante para seus filmes. Sua presença de tela incrível aliada a suas próprias habilidades de atuação e conseguir extrair diversas emoções dos personagens foram alguns dos motivos que o fizeram a ser o grande ator que é. Infelizmente, as vantagens do ator acabam caindo na péssima prática publicitária de diretores e produtores em colocarem seu rosto em cada momento do filme, em pôsteres e publicidades, apagando outros personagens e até atrapalhando o ritmo da própria história. E, enquanto seu personagem, Scott Ward, consegue transmitir a mensagem necessária ao público, do policial negro que está em constante luta diante da exclusão de seus companheiros, a falsa necessidade atrapalha o desenvolvimento de Joel Edgerton, que deveria ser mais reconhecido.

Não só por seu excelente trabalho em caracterização como orc, mas a atuação timída e ao mesmo tempo cômica traz bastante receptividade entre Nick Jakoby e o espectador. A dinâmica entre a dupla Smith e Edgerton funciona e impressiona pela proximidade, mas, como dito excessivamente no parágrafo anterior, Jacoby poderia ter tido um desenvolvimento mais inteligente de certa forma. Se o filme está se vendendo o tempo inteiro como a exclusão de orcs dentro da sociedade e, do protagonista, dentro da polícia, faltou grande tempo de tela e demonstrações por parte do roteiro.

Como mistura de gênero: sci-fi, fantasia, ação e até comédia, Bright está frágil nessa relação. No sci-fi, David Ayer flerta bastante e em quase todos seus discursos fala sobre as questões que estão na trama, mas se elas só são refletidas numa introdução que deixaria Zack Snyder orgulhoso, além da trilha sonora, sem mais nenhuma exemplificação nítida, estas se tornam fracas, rasas e desinteressantes. Na fantasia, orcs e elfos têm uma maquiagem exuberante e detalhista, só que a representação por meio das atuações é pífia e chega até ao ridículo de elfos fazerem piruetas excessivas. Há outro flerte que é o dragão, sem nenhuma menção anterior, em um rápido plano geral desnecessário e que falha na tentativa de ambientação.

O diretor, entretanto, não chega a decepcionar em todos os gêneros. Como ação e comédia, Bright é extremamente agradável. Não é repleto de piadas isentas de graça e sem timing, há várias passagens que despertam facilmente o riso, principalmente pela dupla protagonista que tem os melhores diálogos. Em um feito muito parecido com Esquadrão Suicida (2016), a ação bem feita e produzida por Ayer é frenética e de difícil acompanhamento pela edição defeituosa, mas traz um efeito violento eficiente – remete aos filmes de gângster.

Bright é muito mais o flerte de seu diretor do que filme de “ficção com ação”. Apesar de ter uma excelente dupla como protagonista, suas decisões desperdiçam oportunidades complexas e promissoras, deixando as mensagens apenas nos discursos promocionais de sua equipe. Ao final, há um pequeno gancho para uma possível continuação, e que isso aconteça! Porém, com outros caminhos a serem percorridos, já que esse universo parece muito rico e, se for explorado corretamente, poderá se tornar uma das melhores produções da Netflix.

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Viva: A Vida é Uma Festa: A arte como ela deve ser

A Disney/Pixar já provou várias vezes a sua habilidade em conseguir conquistar o público infantil, adulto e até mesmo idoso. E essa conquista não é por acaso, já que o trabalho feito pelo estúdio sempre teve esse objetivo. A forma como as história são infantilizadas e contadas de um jeito leve e sutil, mas sem perder a seriedade ao tratar de perspectivas sociais, é o grande trunfo da Disney/Pixar desde os dias de hoje. Provando-se mais uma vez competente, o novo trabalho do estúdio: Viva: A Vida é uma Festa, discute bastante todas as visões da arte em nossas vidas; sua obsessão, admiração e seu prestígio no mundo; cercada pela premissa do menino Miguel, que tem o sonho de ser músico um dia, dentro da família onde a música é proibida.

Todo o primeiro ato é pautado por essa premissa, que trabalha vários traços da cultura mexicana no Dia dos Mortos, suas tradições e crenças.  Não sendo um mexicano, não há como afirmar se o que nos foi apresentado está recheado de clichês do país, mas em se tratando do ponto de vista puramente estético, há um ótimo trabalho técnico no design criado em Viva. Vários lugares recheados de cores e vida; repare nas bandeiras, no figurino dos personagens e nos próprios edifícios e cemitérios; o som criado pelos violões sempre usado como pano de fundo; e as imagens remetentes a comemoração dos mortos trazem para o ambiente algo de grande valor representativo.

Após um grande aprofundamento dentro da cultura mexicana, o filme vai para um lado mais fantasioso quando Miguel entra no mundo dos mortos. Todos os esqueletos que ele vê estão lá, comemorando com suas famílias vivas, impossibilitadas de os verem, mas acreditando que eles estão com elas. Com isso, o longa nos introduz a perspectiva dos mortos com o mundo atual sem perder a leveza e a graça, além de conseguir encaixar os próprios questionamentos de sua história: a influência da arte na vida, segregação e prestígio social no pós-vida.

Adrian Molina e Matthew Aldrich, roteiristas de Viva, além de criarem uma mitologia própria baseada em acontecimentos reais, conseguem criar personagens engraçados, interativos e profundos. Tudo o que vai sendo apresentado ao Miguel: conhecer e reencontrar familiares já falecidos que mantiveram, por várias gerações, o seu desprezo pela música e tradições, faz reconhecermos valores de nossas próprias famílias. A curiosidade de saber o porquê da criação de alguma tradição por meio de seus antigos parentes talvez seja o desejo ínfimo de alguém.

Enquanto todas essas cenas se mostram bem próximas ao público, a aventura passada por Miguel chega a nos emocionar em várias horas. Os conflitos vividos durante todo o desenvolvimento da narrativa parecem cair, às vezes, para o simples imaginários fantasioso de seus criadores, mas sempre há aquela peça da Disney/Pixar em que o background do protagonista é destrinchado para ser usado em várias causas e consequências dentro da história: Miguel e Héctor precisam cantar em um show de talentos; Miguel entra no mundo dos mortos por um violão; o passado de sua família foi marcado pela a música, entre outras. Por causa disso, a aventura sempre é pautada pela música e a arte como essenciais para a vida de seus personagens.

Musicalmente, a trilha sonora de Viva: A Vida é Uma Festa empolga dentro de seu próprio visual, tem partes interessantes e vívidas, além de ser importante na introdução e no desfecho de personagens, porém tende a ser mais memorável pela mensagem do que como música em si. Detalhe nos enquadramentos das mãos quando tocam nas cordas dos violões, a riqueza de detalhes impressiona.

Viva: A Vida é Uma Festa finaliza com uma mensagem esperançosa e realmente prova como a arte transforma nossa vida na festa que ela deve ser. Em uma das cenas mais emocionantes que o estúdio nos proporcionou desde o início, seu filme se encerra demonstrando que aqueles que já foram sempre serão lembrados por nós, seja por meio de nossas lembranças ou por meio da arte: o instrumento mais poderoso que podemos ter.

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Rian Johnson desenvolverá nova trilogia de Star Wars

O diretor de Star Wars: Os Últimos Jedi, Rian Johnson, continuará trabalhando em conjunto com a Lucasfilm desenvolvendo novos projetos para o universo Star Wars. A ideia, anunciada recentemente pela Disney, é desenvolver uma nova trilogia que não seguirá a mesma história da trama principal.

Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm, falou um pouco sobre o trabalho do diretor e suas expectativas para o futuro: Todos nós amamos trabalhar com Rian em Star Wars: Os Últimos JediEle é uma força criativa, e vê-lo fazer Os Últimos Jedi do início ao fim foi uma das grandes alegrias da minha carreira. Rian fará coisas incríveis com a tela em branco desta nova trilogia”.

Além de Johnson, Ram Bergman também encabeçará o novo projeto. Ambos se comunicaram sobre o anúncio: “Star Wars é o maior produto da mitologia moderna e nos sentimos muito sortudos por ter contribuído para isso. Mal podemos esperar para continuar esse legado nesta nova série de filmes”.

Star Wars: Os Últimos Jedi estreia dia 14 de dezembro nos cinemas brasileiros. Seu elenco conta com Daisy Ridley, Carrie Fisher, Mark Hamill, John Boyega, Adam Driver, entre outros.

 

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Thor: Ragnarok: Vale a meia-entrada

Thor: Ragnarok tinha uma missão grande nas mãos, as expectativas estavam altíssimas pela primeira empreitada do diretor Taika Waititi no universo Marvel, que poderia mudar completamente o jeito do estúdio de fazer cinema e apresentar um filme digno para um personagem tão querido pelos fãs de quadrinhos. Infelizmente, posso afirmar que este terceiro longa de Thor (Chris Hemsworth) é só outro genérico da Marvel, porém, se prova um ótimo filme para o personagem. Isso já paga metade do ingresso.

Em seus minutos iniciais, o filme abre com um monólogo do protagonista consigo mesmo, contextualizando os acontecimentos mais recentes com humor e até uma sutil imaturidade incomuns ao herói. Logo após, nos é apresentado um vilão VISUALMENTE ameaçador dentro de um cenário bem feito com cores escuras, que logo iriam contrastar com o resto do filme (colorido e vibrante), além da sequência de ação com a trilha “bombando” mostrando como a dupla Thor e Mjölnir são imbatíveis, colocando a câmera seguindo o homem e o martelo no excelente tratamento da pós-produção. Se você entender todo esse início, não é difícil desvendar o que te espera nas próximas duas horas.

E se essa previsibilidade já incomoda – as piadas excessivas, os personagens descaracterizados, um vilão “tanto faz” e esquecível, além das cenas de ação sem nenhum impacto – o potencial que é desperdiçado pelo subtítulo “Ragnarok” é outro incômodo para a cabeça. O apocalipse nórdico, numa visão completamente pessoal de Waititi, está lá para ser o centro dos problemas… só que apenas no ato final. Enquanto este não chega, todo o problema que está acontecendo em Asgard, a repressão que os asgardianos estão sofrendo pela vilã Hela (Cate Blachett) (esquecível em grande parte), fica completamente em segundo plano.

Como em Doutor Estranho (2016), Ragnarok não consegue se entender no ritmo e é mal resolvido. O diretor deve ter se lembrado no meio das gravações todo o potencial que tinha nas mãos, e coloca cenas – relação entre Odin (Anthony Hopkins) e os filhos, valquírias contra Hela são algumas delas – que não estão aliadas com a proposta cômica do filme. O problema é que elas representam um peso e até uma qualidade cinematográfica significativamente maior do que nos é apresentado, deixando o gostinho de que poderia ser uma história maior e melhor do ponto de vista narrativo. Poderia realmente mudar os rumos da Marvel Studios para sempre.

Mas Taika Waititi parece não se importar com grandes feitos e entrega uma aventura pelo menos decente ao seu personagem. Começando pela forma como este trata a relação entre Loki (Tom Hiddleston) e Thor, que não recebe o apelo melodramático como em O Mundo Sombrio (2013), mas que ganha outra abordagem interessante e leve ao procurarem seu pai na Terra até a diferença de ideais: Thor quer salvar Asgard, enquanto Loki quer ganhar os holofotes de Asgard. Além disso, há um envolvimento enorme de Thor com o universo compartilhado, talvez esse seja um dos filmes solo com mais conexões. A pequena participação do Doutor  Estranho (Benedict Cumberbatch) e a relevância de Hulk (Mark Ruffalo) demonstram isso.

Seguindo o padrão de título: Homem Formiga e Vespa, poderia muito bem se chamar Thor & Hulk. Já que o envolvimento de Bruce Banner/Hulk o torna protagonista ao lado de Thor. Todo o ato que se passa dentro do Planeta Sakaar é o mais divertido e envolvente. Não só pelos ótimos personagens introduzidos: o grão-mestre colorido e com a dose ácida de sarcasmo interpretado por Jeff Goldblum, perfeito para o papel. A valquíria interpretada por Tessa Thompson é ótima como alavanca para ação, e Korg que é realmente engraçado pela sua voz e seu jeitão desajeitado de ser. Mas também pelos diálogos e cenas escritas por Eric Pearson, que não necessitam de nenhum requisito tecnológico para se sustentarem, deixando a ação para a batalha entre os vingadores. E essa não é apenas uma jogada marketeira como Optimus Prime vs. Bumblebee.

Relacionado aos cenários escolhidos, as cores, os formatos, os figurinos, as câmeras em constante movimento, a cinematografia de Thor: Ragnarok é ótima. Remete à genialidade de Jack Kirby em criar quadros cósmicos perfeitos, utilizando pinturas e estruturas para construir uma ambientação perfeita. Sendo que todas as cores, tanto quente quanto frias, são completamente presentes e poluem a tela intencionalmente. Parece carnaval quando as tintas e as poeiras coloridas vão sendo jogadas pela população de Sakaar; ou até mesmo o visual de Thor que adquire marcas e faixas coloridas, representando sua inserção forçada com o planeta.

Após muita aventuras entre Hulk e Thor, o foco do terceiro ato finalmente está em Ragnarok e toma uma posição séria e madura, mas sem perder a leveza. Tudo o que o filme poderia ser foi reduzido em um ato, que literalmente salva a comédia muitas vezes forçada de Taika Waititi. E esse caminho poderia ser adotado pela Marvel. O ato que traz ação, emoção e humor sem se colidirem, criando um ritmo natural e muito melhor do que nos fora apresentado. Importante salientar como o público na sessão riu mais no terceiro ato, já que as piadas pontuais soavam em tom de equilíbrio com os apelos emocionais.

Thor: Ragnarok é longe de ser uma catástrofe. Tem muitos pontos positivos e diverte enquanto entretenimento. Porém, o que esse filme poderia representar para os heróis no cinema fica só na nossa mente, decepcionando expectativas que esperavam um filme empolgante, emocionante e memorável da Marvel. Deixando na dúvida a capacidade do estúdio de conseguir fazer algo que realmente nos faça lembrar e se apaixonar novamente.