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Sem tempo e sem glória, Loki é uma grande decepção

Anos após anos, Loki se consolidou no universo Marvel como um dos personagens mais amados do público, e sempre que fazia uma ponta, roubava a cena. Tom Hiddleston deu ao personagem um carisma e empatia única, e Kevin Feige percebeu isso, então fomos presenteados com uma série solo do deus da mentira. Mas, será que a série foi só mais um truque para enganar o telespectador?

Com tamanha expectativa para a série, o universo seguindo um caminho completamente novo e explorando a linha do tempo, multiverso e novos vilões, é impossível ficar inquieto com essa possibilidade de ver coisas extraordinárias, histórias, viagens em outras épocas! Porém, a direção e o roteiro deixam a desejar em uma escala estrondosa. O vazio dentro dos episódios de em média de 46 minutos, só mostram que houve uma tentativa de criar uma nova fórmula para às séries da editora, e isso é o que mais machuca e prejudica a obra como um todo.

Loki (TV Series 2021– ) - IMDb

Partimos com um começo fantástico, todo o descobrimento da AVT (TVA, no idioma original), ver o Loki descobrindo mais sobre seu futuro e ver múltiplas variantes e o perigo eminente de uma guerra multiversal é de deixar qualquer fã maluco. O seu início foi com o pé direito e sorrisos, mas logo em seu segundo episódio, ele desliza muito. Vemos um episódio que enrola muito em pontos que não há necessidade de criar suspense ou de focar por tanto tempo, e diálogos exaustivos e sem solução, até que, nos últimos cinco minutos de episódio, acontece alguma coisa que te prende e o episódio acaba. E isso nos leva até o episódio três, que foi o maior tombo possível.

O desenvolvimento do personagem é muito importante, com toda certeza é, esse é o motivo das séries da Marvel. WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal, todos desenvolvem seus personagens de formas incríveis, porém, Loki esquece que ele tem uma história a se comprometer. Com muita influência do clássico “Antes do Amanhecer”, ele busca criar uma relação de interesse amoroso ao protagonista, porém, isso vira um episódio extremamente cansativo e que, novamente, só consegue fazer alguma coisa nos cinco minutos finais. A história vira um figurante no momento mais crucial. A falta de harmonia entre a criação de desenvolvimento da personagem e da trama é algo que incomoda, pois é uma facada nas costas da série e no telespectador.

Loki" The Nexus Event (TV Episode 2021) - IMDb

Já seu quarto episódio é quase esquecível, se não fosse (novamente) pelos minutos finais. Já focado mais em desenvolver a história, ele se perde no maior quesito da série: o vazio. Tudo que vem antes parece sem sentido, com muita falta de organização e coesão. Momentos que se repetem, e repetem, até chegar no minuto onde tudo começa a correr e acontecer, como se o roteirista não soubesse como escrever coisas para prender a atenção, e essa repetição de modelo escrito é entediante.

O quinto episódio é seu pináculo, aqui, foi extremamente bem pensado, a exploração da mitologia criada aqui, como isso interfere no mundo ao redor e em como essa história vai acabar. A interação e desenvolvimento dos personagens é algo feito com muito carinho e dedicação, como cada um se encaixa como um quebra cabeça e suas motivações, é fantástico. Também, aqui se tem uma das cenas mais épicas já feitas no MCU, e consegue cativar a querer o próximo episódio e o fim da primeira temporada.

I grandi film non li fanno più - MYmovies.it

O fim da temporada é decepcionante. Tem uma grande surpresa que foi a melhor parte disso tudo, e carregou o episódio nas costas, mas tirando isso, esse episódio é um grande vácuo em um roteiro que parece ter sido feito em 15 minutos. Cenas e diálogos que ficam se repetindo, as mesmas coisas acontecendo, e se não fosse pelo personagem apresentado aqui, tudo desmoronaria de forma horrenda. Seu final não fecha nenhuma ponta, apenas abre mais e mais, e termina com o clímax mais anticlimático possível. Quando finalmente começa a andar e realmente ficar interessante, sobe os créditos, e agora é ter que esperar mais uma leva de filmes e séries para se descobrir o que acontecerá, sendo que a série coloca o espectador no vazio.

Assim como WandaVision, a série tem medo de realmente ousar, de pensar, de usar o potencial que tem. Ao invés de criar e mostrar múltiplas variantes, deixar um final com um cliffhanger que não só os fãs de quadrinhos entenderão, e ir fundo em coisas espetaculares, eles cometem os mesmos erros dos filmes: Fórmulas. É cansativo assistir sabendo que gasta quase uma hora para nada acontecer, e quase todo episódio sendo assim, desgasta todas as tão grandes expectativas que foram criadas. A tão amada “Casa das ideias” que tem medo de sonhar, é trágico. Agents of S.H.I.E.L.D. explora o tempo de forma muito mais criativa e divertida que Loki, e realmente não tem medo de se explorar até seu limite.

Loki Episode 4: Release Date and Time in UK, USA, India and Europe - Daily Research Plot

Em sua questão técnica, aqui merece aplausos. Tirando sua direção e roteiro, as partes de fotografia, trilha-sonora, cenografia, efeitos especiais e atuações são magnificas, mas não ao ponto de salvar a série. Ver que agora a Marvel se importa com questões que eram deixadas completamente de lado em seus filmes é gratificante, pois faltava aquela beleza visual dos quadrinhos, que era substituído por um CGI que se fosse de videogame, seria considerado ultrapassado.

Loki é uma série que merecia mais carinho e atenção na sua história e criação, personagens tão carismáticos, histórias e pontos que poderiam ser abordados, todo um novo mundo, apenas comendo migalhas. As maiores críticas aos filmes do MCU é o uso exagerado de uma fórmula cansativa e previsível, e isso é algo que estão tentando recriar em suas séries. Isso destruiu a primeira temporada, e criou um remédio para insônia. Enquanto eles se confortam em uma cadeira, e os fãs aceitarem mais dessas minúsculas migalhas, o gênero de heróis se desgastará mais e mais, e citando Blade Runner, sumirá como lágrimas na chuva.

Nota: 2/5 – Bronze

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Love, Death & Robots Vol.2, a incompreensão da arte em sua pior forma

Desde o lançamento de seu primeiro volume, ‘Love, Death & Robots’ havia se tornado uma série querida pelos fãs apaixonados nas ideias e criações totalmente singulares da Netflix. Com isso, o anseio para seu segundo volume era estrondoso. Infelizmente, toda essa expectativa é quebrada, mas com classe.

Contando com apenas oito episódios, com sua duração mais longa de 18 minutos, é difícil explicar como essa temporada consegue decepcionar tanto, em comparação a  sua anterior. Mas uma coisa é clara, quase nada explorado aqui é memorável. Enquanto em sua última temporada tivemos ‘Os Três Robôs’, ‘A Testemunha’, ‘Boa Caçada’ e ‘Zima Blue’ – que são celebrados até hoje como uma das melhores produções da Netflix – nessa temporada temos apenas quatro episódios consideravelmente marcantes: ‘Esquadrão de extermínio’, ‘Snow no Deserto’, ‘A Grama Alta’ e ‘Pela Casa’. Os dois mais longos, e os dois mais visualmente bonitos e criativos.

Já os outros episódios, precisam de uma análise mais detalhada, mas todos têm sempre duas coisas em comum: Estilos visuais desagradáveis e em alguns pontos, psicologicamente repulsivo. E histórias que não se encaixam em uma narrativa nem um pouco sólida. Começando a falar por sua arte,  é um ponto extremamente delicado, já que muitos pensadores consideram a arte como algo que tem sua necessidade de incomodar – como diz o escultor Gormley: “(…) a arte que faz você se sentir cômodo provavelmente é artesanato, não arte” (ESTADÃO, 2008). Sim, a arte tem esse papel fundamental para passar uma mensagem, mas aqui não passa nada, vemos apenas estilos artísticos desproporcionais em momentos desnecessários e mal executados; a utilização exagerada de CGI e um simples vazio criativo. Se usarmos o exemplo do episódio da primeira temporada, ‘ZIMA BLUE’, entendemos o motivo de seus traços e animação, aqui é apenas algo jogado, qual o esforço da arte aqui? Um incômodo barato é a mesma coisa que uma diversão sem alma. Esse é o paradoxo do artista pretensioso.

Já no uso de CGI, isso fica claro no episódio ‘Gaiola de sobrevivência’, estrelado por Michael B. Jordan. Em momentos, você não consegue diferenciar se está vendo o ator na cena, ou se ele é um personagem virtual com gráficos de um videogame. Isso causa uma confusão mental totalmente desnecessária. E o episódio também não tem uma história nada convincente.

Felizmente, temos episódios que salvam o que foi quase perdido. Em história, temos ‘Snow no Deserto’, que lembra muito um universo de ‘Star Wars‘, caçadas intergalácticas e que realmente prende a atenção – e tem a fotografia mais bonita da temporada. ‘Esquadrão de extermínio’ é totalmente inspirado no universo revolucionário de Ridley Scott e Phillip K. Dick, ‘Blade Runner’, e traz uma discussão filosófica ao nível de sua maior referência (até visualmente temos semelhanças, como o mundo e a cena final de ‘Blade Runner 2049’).

 Já os episódios ‘Grama Alta’ e ‘Pela Casa’ conquistam por seu estilo de animação digno do nome de sua série. Vemos o uso de uma animação 3D que se parece com uma pintura em movimento, que ao mesmo tempo parece um stop-motion, é um mistério, igual a história apresentada aqui. Já em ‘Pela Casa’ vemos um claro stop-motion muito bem feito, cada detalhe e o uso da iluminação foi feito com maestria. Esses episódios mostram como a arte tem que ser usada, como ela funciona.

Em um geral, a transição entre polos no segundo volume de Love, Death & Robots é perceptível e triste, com uma primeira temporada tão promissora, é difícil não se decepcionar com o que apresentaram aqui. Talvez possa ter sido um corte de orçamento massivo, ou uma falta de atenção, ter perdido dez episódios talvez seja o que comprometeu a experimentação psicótica e harmônica que seus fãs queriam.

Nota final: 2/5 – Prata

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Em Mortal Kombat, a maior luta é se manter coeso

FIGHT! Após dois filmes e um curta-metragem, a grande franquia de jogos Mortal Kombat recebe uma nova adaptação, moderna e muito, muito violenta. Dirigido pelo novado Simon McQuoid e escrito por Greg Russo, Oren Uziel, David Callaham, o filme se consolida, porém, há seus deslizes significativos.

A história segue o lutador de MMA fraco, Cole Young (interpretado por Lewis Tan), que não fazia ideia que o sangue em suas veias tinha uma herança sanguinária e importante. Com isso, Young é perseguido por Sub-Zero (Joe Taslim), e precisa da ajuda de Sonya Blade e Jax para descobrir o seu destino e proteger sua família. Partindo disso, discorreremos sobre seu roteiro.

É um pouco difícil decifrar como esse longa foi escrito, muitas das cenas têm diálogos precários, mas que se encaixa em o que se propõe, um filme de ação focado em sua violência. O que incomoda, é como muitas partes da história são corridas e pouco desenvolvidas, e como certos personagens importantes simplesmente não tem tanto foco. Mas para pontuar a pior coisa, devemos falar sobre seu protagonista, Cole, que impressionantemente não tem desenvolvimento algum até o fim do filme; e mesmo assim, seu desenvolvimento acontece nos quinze minutos finais. Enquanto personagens como Scorpion, que aparece relativamente pouco, tem mais desenvolvimento que ele, lembra muito a protagonista dos filmes originais de Resident Evil, se não estivesse ali, ninguém sentiria falta. Mas de resto, com tudo apresentado,  os personagens originais fazem jus para suas versões digitais. Talvez, a direção não soubesse como levar toda uma história em uma hora e cinquenta minutos, talvez até uma meia-hora a mais ajudaria a não ser tão corrido.

Mas nem tudo está perdido. Visando suas lutas, é sensacional. A forma na qual a releitura é feita para as telonas é incrível, até mesmo falas do jogo aparecem aqui (por mais que sejam estranhas em algumas de suas cenas). Todas caem como luvas, a utilização das arcanas e fatalities foram executadas com maestria e viram cenas memoráveis. Os efeitos especiais também ajudam muito na criação das lutas fantásticas, principalmente quando se há muito sangue, e quando Sub-Zero está em tela.

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Outros pontos que merecem muitos elogios são suas partes artísticas, a cenografia dos lugares é maravilhosa e muito bem adaptada. E os figurinos também tem suas características únicas, sabem modernizar e ter sua originalidade para o filme. O visual de Scorpion, Sub-Zero, Raiden e Kung Lao são os pontos altos dessa discussão.

Já sua fotografia também é uma montanha-russa, muitas vezes linda, e outras que parece que foi esquecida; enquadramentos estranhos e utilização de cor/iluminação que parecem aleatórios. Sua edição também é esquisita, para não dizer outra coisa. Quando conhecemos o protagonista, um mar de cortes desnecessários chega a dar náusea. Sua montagem normaliza, mas ainda sofre alguns deslizes. E sua trilha-sonora é bem trabalhada, mas não recebe o destaque que merece, o fato de terem utilizado o tema clássico, recriando em algo moderno, é uma nostalgia boa aos fãs.

Mortal Kombat: První český trailer předělávky oblíbeného herního filmu | Prima Cool

Enfim, Mortal Kombat é um filme com falhas, porém extremamente divertido, e necessita de mais para fazer essa franquia tão importante se concretizar. Um roteiro fraco e apressado fez com que várias oportunidades aqui fossem jogadas fora, e também, a possibilidade de se criar um protagonista original e cativante. Por outro lado, o seu universo ainda pode ser muito bem explorado, com seus icônicos personagens sendo tão bem reproduzidos. A verdade é, se aqui fosse feito uma série, sua qualidade poderia melhorar de forma significativa, e vários de seus problemas poderiam ser resolvidos. Agora, é esperar pelo melhor, e que seu futuro possa soar como uma ‘Flawless Victory’.

Nota final: 2.8/5 – Prata

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Nomadland, a arte da compaixão em sua forma mais primordial

Sendo sincero, é um pouco difícil ter que falar sobre o maior vencedor da noite do Oscar 2021, Nomadland, de forma totalmente mais técnica e objetiva. Tanto quanto crítico e espectador, quando vemos um filme, nunca sabemos o que enfrentaremos ou adoraremos; com toda certeza, não estava esperando receber tamanha obra de arte, em um ano tão difícil para o audiovisual.

    O longa nos apresenta Fern (interpretada por Frances McDormand, que venceu como ‘Melhor Atriz’ no último domingo), uma mulher que perde seu marido e que deverá sair da casa onde morava, pertencente a empresa, que acabou falindo. Com isso, ela decide buscar esse novo caminho de sua vida vivendo pelas estradas dos Estados Unidos, com os nômades. Assim, começa uma grande jornada que explora lados pessoais e a tão aclamada ideia do “American Way of Life”. Desde empregos na Amazon (coisa na qual o longa foi duramente criticado no país, após polêmicas de como os funcionários são maltratados) e ajuda voluntária com outros andarilhos, vemos cada detalhe dessa vida que parece tão incomum, porém, enorme.

    É muito difícil abordar aspecto por aspecto do filme, já que o roteiro, direção e edição foram todos feitos pela aclamada Chloé Zhao. Ela consegue encaixar tão perfeitamente tudo tão bem como se fosse uma simbiose, cada pilar que sustenta a obra é firme e unido, o que é feito aqui é algo singular, coisa que vemos a cada 5, 10 anos no cinema. A direção aqui é tomada com tanta delicadeza, o ritmo do filme é lento – mas necessário. Você consegue sentir na pele, você cria uma empatia com cada personagem apresentado, e até com objetos. A imersão é humana, e tem um porquê disso.

    Uma coisa precisa ser dita que pode mudar totalmente sua experiência com o filme, e que surpreende ao ponto de ficar boquiaberto: A maioria das personagens aqui são não-atores. No máximo, somos apresentados 4 ou 5 atores de verdade. Todos os nômades aqui disseram que interpretaram a si mesmos, é por isso que quando assistimos, é tão real ao ponto de parecer um documentário. Ali são sentimentos reais, histórias reais, pessoas reais. Até mesmo ‘personagens’ em que o livro se baseia, escrito por Jessica Bruder, aparecem no longa, como o nômade Bob Wells, que ajuda a todos os seus companheiros de estrada a conseguirem se encaixar nessa vida. Mostra os motivos das pessoas estarem lá, seja por suas perdas, pelo o fator econômico; mostra que todos lá são um só, são uma família. Frances e todos seus companheiros de estrada dão o seu melhor e são a alma de tudo isso.

    A maior esnobação do Oscar, com todas suas letras em maiúsculo, devem se a fotografia dessa obra não ter ganho. O empenho de Joshua James Richards é de tirar o fôlego, cheio de close-ups, planos abertos, e independente do enquadramento, vemos a emoção e sentimento carregados aqui. A colorização também é outro ponto magnifico, desde cenas que passam solidão, até o calor da felicidade e descoberta. Um ponto também muito interessante de ser levantado, é que a diretora levou a as não-atrizes do filme, Linda May e Charlene Swankie, para o festival. E Frances, ao ganhar sua estatueta, uivou como um lobo em homenagem ao engenheiro de som, Michael Wolf Snyder, que faleceu no último mês de março.

    E com sua trilha-sonora composta por Ludovico Einaudi (Intocáveis, Samba) é também um ponto que cria uma atmosfera que dialoga com o que a protagonista sente. Com 11 faixas e tendo um foque enorme em seu piano, e sua parte em músicas autorais. É impossível não se apaixonar, se emocionar e se identificar.

CRÍTICA | Nomadland conta uma história real e invisível - Tribernna

    Vencedor de três Oscar’s, melhor filme pelo BAFTA, Globo de Ouro, Critic’s Choice Awards e outros inúmeros prêmios, Nomadland é um filme que você precisa ver pelo menos uma vez em sua vida. É uma experiência que apenas o cinema consegue transmitir, é uma montanha russa de sentimentos e descobertas.

Não há despedidas finais. Vejo você na estrada.

Nota final: 5/5 – Diamante

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Falcão e o Soldado Invernal, o legado perfeito do passado para o futuro

Uma coisa é inegável em toda a história da Marvel Studios, é que todo o universo do Capitão América é um dos melhores, vide que sua trilogia é a melhor de todo MCU. Com Falcão e o Soldado Invernal não foi diferente, a série com seis episódios dirigida por Kari Skogland atinge um novo patamar para o estúdio.

Quando WandaVision, a primeira série da Marvel na Disney+ terminou, foi bombardeada com críticas ao seu roteiro, direção inconstante e uma história muito mal explorada. Surgiu então o medo que a próxima fosse por esse caminho, e felizmente, ela provou fazer justamente o contrário; a qualidade, carinho e dedicação que se tem em cada ponto é de cair o queixo. Começando pela sua direção, que sabe regular muito bem o seu timing, seja com a ação, drama, comédia ou suspense. Se for comparar com algum filme da marca, seria com a de ‘Capitão América 2: O Soldado Invernal‘, o pináculo dos filmes do MCU e dos Irmãos Russo. Cada detalhe sobre o passado, sobre como transmitir o que se passa nos personagens e no mundo ali criado, é muito difícil comparar com outros, por tamanha qualidade.

Falcon and Winter Soldier episode 5 release date, cameo and trailer | Tom's Guide

Seu roteiro também consegue dar uma aula de como se executar com maestria. A forma na qual Malcolm Spellman consegue arquitetar sua escrita de forma tão natural, combina perfeitamente nas mãos de Skogland. As explorações das histórias do Capitão América são adaptadas de forma coesas e que instigam, a criação e redenção de John Walker, a dor de Isaiah Bradley, a motivação de Karli, e a atenção para a adaptação das personagens principais aqui são o puro diamante da casa de ideias. Até mesmo como conseguem reconstruir todo o Barão Zemo para uma versão extremamente fiel a sua persona dos graphics novels e a maior e melhor utilização da Sharon Carter, coisas que foram muito criticadas em ‘Capitão América: Guerra Civil‘, aqui acertam com precisão. Isso é algo que foi totalmente diferente ao Wandavision. Ao invés de criar uma falsa expectativa no público, e ter os dois pés para trás ao pensar em ser ousado e inovador, eles criam um início e fim que se completam com propriedade e com a próximas histórias perfeitamente definidas; diferente de uma série que desconstrói oito episódios em um e cria um final genérico incoerente com seu universo e com milhares de pontas soltas que se perderam do interesse com o tempo. A escrita dessa série é tão bem pensada, que não precisa usar de falsas expectativas para cativar seu público, ela apenas precisa do que já tem; e o que ela tem? O melhor. Também, a forma sútil na qual a série aborda temas mais pesados como racismo e política foram necessários e ditaram o rumo da história. Um dos únicos problemas do roteiro, e por vez da direção, é acabar sendo lento em alguns momentos (especificamente nos episódios um e cinco), e acabam perdendo o ritmo, que se recupera nos momentos finais, mas pode atrapalhar bastante para quem assiste.

Não precisa nem falar sobre seu elenco, Anthony Mackie e Sebastian Stan entregam suas melhores performances e criam uma química ótima, até melhor do que que Sebastian tinha com Chris Evans. Wyatt Russel rouba a cena em muitos momentos, tanto que, sua atuação em um dos maiores momentos de choque da série precisava de uma atuação boa, e ele entregou seu máximo. Daniel Bruhl, Emily VanCamp e Erin Kellyman também não ficam de fora, roubam a cena em todos os momentos em que aparecem.

Emily VanCamp teases the mystery of Sharon Carter on The Falcon and the Winter Soldier | EW.com

Uma das coisas que também se destacam são os detalhes técnicos, a fotografia é simplesmente maravilhosa, a Marvel é conhecida por não se importar tanto em seus filmes com isso, mas aqui é outra história; desde o trabalho nas cores até enquadramentos, cria uma estética única para a série. Sua trilha-sonora, cenografia (principalmente em suas cenas em Madripoor) e figurinos são tão bem trabalhos quanto em qualquer outra produção do MCU. Também, sua edição é simples, porém, deleitável.

Com tudo isso, Falcão e o Soldado Invernal é digno de palmas, com acertos tão brilhantes e poucos erros, pode se dizer que essa série é o que a Marvel precisa focar em seu futuro, pois é um dos suprassumos de toda a filmografia do estúdio. Explorar mais suas histórias, sem medo, e entender diferentes estilos de gênero para suas produções é o que cria esperança para um futuro tão brilhante quando foi iniciado aqui.

Nota final: 4.8/5

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Raya e o Último Dragão, e a confiança na diversidade

Dirigido por Carlos López Estradanos (Blindspotting) e Don Hall (Big Hero 6, Moana), eles nos levam para o extraordinário mundo de Kumandra, onde dragões e humanos viviam em harmonia, até que seres mágicos ameaçaram este mundo e forçaram os dragões a se sacrificarem pelo bem do mundo. Agora, 500 anos após essa tragédia, a magia voltou ao mundo, e cabe a guerreira Raya terminar essa história de uma vez por todas.

De primeiro relance, fãs de Avatar: A Lenda de Aang e Korra podem reparar que o estilo visual da animação e até um pouco em sua história podem remeter à animação da Nickelodeon, que foi uma ótima fonte de inspiração para montar um mundo nunca visto em uma produção da Disney. Mas também não é só isso, eles fizeram um ótimo trabalho pesquisando o sudeste-asiático, tendo reunido uma equipe para fazer uma pesquisa sobre a região, para conseguir representar bem seu trabalho e criar com originalidade uma animação visualmente marcante. Desde as locações, até as roupas, modo de cada povo das cinco regiões de Kumandra terem suas reverências e estilos. Também é muito gratificante ver como a Disney está dando mais espaço para personagens femininas fortes e originais, nesse longa temos duas personagens centrais femininas incríveis e uma vilã com uma motivação ainda mais original e desenvolvida.

Além disso, é preciso reconhecer o trabalho da animação e design gráfico, que também foi feito com maestria. Raya e todas as personagens da animação tem rostos muito distintos de outros longas da produtora, e o seu mundo é muito bem detalhado. E parece ser até filmado em locações reais de tanto que foi empenhado esforço da equipe de animação, é surreal e único.

Partindo para sua história, ela tem um coração e te cativa logo nos primeiros momentos. Tudo gira entorno de uma temática: confiança. E isso é muito bem trabalhado na personagem de Raya e de como ela reage com o mundo ao longo que é desenvolvida. O início do filme começa com uma parte previsível, mas importante. Em seu final, parece que o roteiro se perde e fica muito corrido, e o ritmo se torna um inimigo desse filme. Uma coisa em que a história chama atenção, são seus personagens coadjuvantes, que todos têm seu próprio tempo na história e se encaixam de forma criativa, não são usados apenas para o propósito da protagonista e seu desenvolvimento.

Mas a pior parte do longa é sua direção e roteiro. Em qualquer longa, a história se desenvolve por ritmos, quebras de drama para comédia, ação para drama, e assim vai; em Raya, parece que esquecem disso. Quando começamos a história da protagonista em busca de consertar o mundo, vemos só cenas de humor e piadas a cada diálogo e não para, são tão infantilizadas e sem tempo para criar o humor, que até para crianças deve ficar enjoativo. As cenas dramáticas desse filme são bem-feitas e importam, mas são ofuscadas pela falta de atenção. Esse humor também acaba atrapalhando em certos personagens, como a bebê Noi, que é um alívio cômico tão distante da trama que é difícil entender do porquê estar ali.

Sim, é um filme para crianças, e a trama mais séria precisa ser deixada leve, mas não tão leve ao ponto de ser ignorada. Podemos usar de exemplo Avatar: A Lenda de Aang e Dois Irmãos, são animações que foram destinadas ao público infantil, e conseguiram manter seu ritmo de ação, drama, comédia e assuntos delicados de forma tão bem encaixada que a trama e seus personagens sempre eram importantes. Os diretores de Raya e O Último Dragão já disseram que inicialmente, seu corte seria mais adulto e receberia classificação para maiores, não é necessário (por mais que curioso), mas ao menos poderiam ter mantido um pouco da trama em um foco maior, e assim criar um ritmo melhor para todos os públicos.

Já o trabalho de James Newton Howard na trilha-sonora é de aplaudir, por mais que a trama tenha seus problemas de comunicação e ritmo, sua música sabe muito bem onde quer chegar e o que quer passar.

Raya e o Último Dragão não consegue distinguir se é um duelo de espadas, ou uma dança descontraída, mas sabe muito bem como ser marcante, e ser uma das coisas mais únicas já feitas pela Disney. Se no futuro tivermos o universo tão criativo criado aqui, explorado em continuações e séries na Disney+, ela consiga se definir, não só com seu ritmo, mas como seu destino. O que nos resta é confiar no amanhã.

Nota: 3/5

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A transição de amor, arte e egocentrismo em Malcolm & Marie

Feito em segredo, Malcolm & Marie é uma produção filmada durante a pandemia, em 2020, que conseguiu puxar os olhares de todos os assinantes da Netflix pelo seu estilo e por estrelar apenas duas das personalidades  mais famosas atualmente do audiovisual, Zendaya e John David Washington. Dirigido pelo filho do grande diretor Barry Levinson (‘Rain Man’, ‘Bom Dia, Vietnã’), Sam Levinson, o longa traz um casal voltando a première do primeiro filme dirigido por Malcolm, e que acaba gerando discussões sobre cinema, amor, passado e política.

Filmes sobre brigas de casais não são atípicos no cinema, ‘História de um Casamento’ (2019) e a trilogia do Antes (amanhecer, pôr-do-sol e meia-noite) são grandes exemplos de longas desse tipo, e tem um certo elemento que cria o sentimento no telespectador de querer ver uma ‘DR’ de uma hora e quarenta e seis minutos, as atuações, e nesse caso, é sem dúvidas fenomenal como Washington e Zendaya dão os seus corações. Os atores conseguem trazer uma química igualável ao casal favorito de Hollywood, Ryan Gosling e Emma Stone, só que de uma forma tão humana que se parece um relacionamento verdadeiro. Desde suas feições, até o drama mais escuso e subtexto da personagem, essa dupla consegue sublimemente traduzir o início ao fim seus sentimentos, dores, medos e angústias.  Provavelmente, se fosse qualquer outro casal de atores, dificilmente teriam criado tamanha simbiose dramática.

Em sua história, ela também consegue cativar bem, mas isso depende muito da visão do público que está entrando nesse mundo criado por Levinson. É claro o amor que o diretor tem por cinema, e a forma na qual ele consegue trazer suas discussões diante de variados assuntos, seja sobre o passado da sua carreira, política em filmes, como pessoas de cor são vistas no audiovisual e a crítica cinematográfica pretensiosa (esse ponto precisa ser discutido mais a frente). Para quem é cinéfilo, ou conversa muito sobre a sétima arte nas redes sociais, consegue pegar bem as discussões que são criadas aqui; diferente de quem é indiferente diante desse universo, que por sua vez, pode se tornar tedioso. O mesmo pode ser dito quando o foco de discussão é o amor? Se depender de Zendaya e Washington, não; já que você se sente um personagem vendo ambos brigando e cada vez mais jogando seus problemas no ventilador. Ainda voltado ao cinema, é muito intrigante ver Malcolm falar com tamanha paixão sobre sua profissão, e para quem trabalha e conhece a área, sabe o que ele está passando. Vê-lo reagir às criticas profissionais e do público é engraçado e quem já acompanhou a crítica de algum filme que teve interesse, vai se espelhar muito no personagem.

Agora falando sobre a crítica que citam no filme, tem um ponto que pode ser desconfortável quando você entende sobre a história de Sam Levinson. No seu último filme, ‘Pais de Violência’ (2018), o diretor recebeu uma crítica de uma escritora do L.A. Times, Katie Walsh, que disse: “Uma tentativa malsucedida de comentário social” (Fonte: Estado de Minas). Então, durante todo o filme, e em duas sequências longas, vemos o Malcolm xingar essa crítica do L.A. Times (sem citar seu nome, apenas chamando-a de “garota branda do L.A. Times”). E sinceramente, é engraçado nas primeiras vezes, mas depois, parece que o diretor se perdeu no próprio personagem e está querendo mesmo que o longa se torne um vendeta para Katie. Por mais que durante o filme, se façam alguns comentários negativos realistas sobre críticos de cinema, o que ele faz com sua raiva diante de Katie chega a ser ridículo, e infantil. Sinceramente? Dá até medo de escrever mal sobre esse filme e me tornar o próximo alvo de Levinson. Por mais que seja infantil, e também muito enfatizado (que até esgota o humor), os comentários que Malcolm chegam a ficar engraçados, por conta da ótima atuação de John. Já Marie, parece uma representação do público, sempre querendo cortar o assunto sobre a garota branca do L.A. Times.

Em seus aspectos técnicos, o filme também entrega um ótimo resultado final. Sua fotografia é linda, e engraçada, pois realmente remete muito à fotografia de anúncios de perfume e roupas de padrão mais alto. Brincadeiras à parte, o preto e branco combina com a maioria do clima do longa e consegue deixar tudo em cena espetacular, até em sua proporção foi um acerto em cheio. A trilha-sonora também foi uma grata surpresa, já que ela foi composta pelo Labrinth, que conseguiu fazer um trabalho fenomenal. Uma curiosidade, o produtor executivo do longa, é o rapper Kid Cudi.  Ainda no mundo do áudio, devemos dar os parabéns para a dublagem do filme e à mixagem de áudio, a atenção aos detalhes é feita com muito carinho.

Já sua direção… Mesmo com o seu grande problema dito anteriormente, é coesa em trazer questões muito atuais sobre o mundo do audiovisual em si, desde política, passado, futuro e afins. Mas peca muito por sua vontade em transformar o filme em sua vingança, se não fosse as atuações dos protagonistas, se tornaria um grande desabafo de Levinson e seu ódio por conta de uma só crítica. O roteiro é bem feito, como já foi dito, a atuação teve seu devido patamar elevado e seus diálogos foram um fator principal nisso.

Malcolm & Marie é um filme lindo, sobre um relacionamento conturbado e que está preso diante de um amor maior: o cinema. De todos os seus detalhes e discussões, é algo que muitos amantes do cinema podem se identificar, e até se preocupar com isso, em certos aspectos. O filme prova que, mesmo sem tantos recursos e um filme sendo filmado em meio de uma pandemia, você consegue dar uma qualidade de um longa digno de grandes produções. E também prova que, se o diretor não deixar de ser tão egocêntrico ao ponto de quase estragar o filme com sua raiva, e não amadurecer com isso, ele vai continuar sendo uma sombra no nome de seu pai.

Nota: 3/5

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Dickinson é uma obra-prima atípica e que necessita de seu holofote

De tempos em tempos, vemos séries que são de deixar boquiaberto e que vicia o espectador, mas se comparar Dickinson, em sua primeira temporada, com qualquer outra, vai ver que há uma diferença enorme. Construída com tanto amor e paixão, e claro, com uma originalidade tão criativamente alucinante que faz jus ao trabalho e personalidade da poetiza moderna, Emily Dickinson.

A série se passa em um período de mudança nos Estados Unidos. Abolição da escravidão, a segunda revolução industrial e várias outras batalhas. Quando vemos uma época assim, pensamos que a série terá um tom de palavreados e músicas do seu respectivo tempo, e em alguns minutos dentro do primeiro episódio, podemos perceber que a série mergulha de cabeça no anacronismo. E a melhor parte, é que não é um anacronismo por conta de um roteiro ruim ou uma direção errônea, e sim, a série busca contar a história como se fosse da visão tão moderna de Emily, alguém que não se encaixava em um mundo tão fechado.

Para falarmos mais sobre a história, precisamos entender quem foi Emily Dickinson. Em toda a sua vida, não teve mais de 10 poemas publicados (e muitos deles foram anônimos, apenas anos após sua morte, sua família decidiu publicá-los), era alguém que miticamente consideravam solitária e reclusa, muito pressionada pela sua família por ter comportamento muito fora dos padrões femininos impostos nos oitocentos. Emily foi uma das primeiras poetisas LGBTQI+, e em sua poesia, conseguia trazer uma linguagem muito próxima a oral e tinha uma liberdade única que desprendia de padrões e fórmulas. Por Emily ser uma pessoa tão afrente de seu tempo, a série decide optar por trazer elementos modernos, e se encaixam perfeitamente, mesmo causando certo estranhamento no começo. E assim, conhecemos de forma muito bem humorada e delicada, a vida dessa enorme personalidade. O roteiro aborda cada um dos principais temas da vida da poetiza de forma muito boa e descontraída, com falas que deixam tudo mais engraçado; os roteiristas também sabem muito bem colocar os momentos certos e suas emoções, e principalmente conseguem colocar piadas atuais no contexto histórico da série de forma primorosa.

Falando de seu elenco, neles temos nomes conhecidos e alguns novos; e nenhum que vá te deixar desapontado. Nossa protagonista é a indicada ao Oscar, Hailee Steinfeld (Bravura Indômita, Quase 18, Bumblebee), que consegue dar uma das suas melhores atuações e realmente cria uma personagem tão complexa e divertida como a autora. Seu par romântico, interpretado por Ella Hunt (Os Miseráveis), consegue criar uma química ótima com Emily, mas não chega a prender o espectador.  E no elenco principal temos Jane Krakowski e Toby Huss como os pais de Emily, Adrian Enscoe e Anna Baryshnikov como os irmãos. O elenco é incrível e consegue ter uma ótima relação com os personagens, além de sempre conseguir com que seu tempo em tela seja muito bem utilizado.

Emily Dickinson, “The Greatest Freak of Them All”? | Public Books

Nos aspectos técnicos, a série também é impecável. Podemos começar com a direção de arte, que consegue trazer o passado de uma forma tão linda e também consegue misturar esse elemento com os pensamentos e a visão de Emily. A direção também não se deixa ficar de fora, com um trabalho perfeitamente alinhado com o roteiro e a fotografia, consegue adicionar mais na condução de criar algo novo, moderno e único.

Agora na parte que mais assusta, a suas músicas. É engraçado entrar no primeiro episódio e se deparar com A$AP Rocky e não com uma música instrumental da época, ou uma sonoridade ‘’antiga’’. Grandes nomes atuais da música marcam presença, como a cantora Billie Eilish. A música é, com toda certeza, um dos pontos mais divertidos e criativos de toda a série.

Voltando mais para a parte criativa da série, é muito bom ver como eles utilizaram os poemas da escritora de forma tão sutil, sendo títulos dos episódios, e mostrando os momentos de sua vida em que certo poema foi escrito. Em alguns momentos, mostram até o surrealismo de sua escrita usando efeitos especiais e momentos utópicos da mente de Emily, desde encarar a Morte, até ter uma abelha gigante como amigo. Nesse aspecto, a série lembra bastante o modelo criativo usado em Doom Patrol, o que se encaixa como um quebra-cabeças.

Em sua primeira temporada, Dickinson se provou ser uma obra-prima tão singular e imaginativa, que com toda certeza é um dos melhores coming-of-age já feitos, e uma das mais únicas biografias criadas. Em contrapartida, é triste ver como a série, assim como as obras da autora, parecem ter seu reconhecimento inexplorado pelo grande público. Assim como Emily escreveu,

“Eu sou Ninguém. E você?

É Ninguém também?

Formamos par, hein?

Segredo — Ou mandam-nos p’ro degredo.

Que enfadonho ser alguém!

Tão público — como o sapo

Coaxando seu nome, dia vai, dia vem

Para um boquiaberto charco.”

As vezes, é melhor ser invisível, e ser uma obra-prima, do que se deixar na luxúria da fama passageira.

 

Nota: 5/5

Dickinson já está disponível na Apple TV+.

A série começou sua segunda temporada no dia 08/01, e quando chegar ao seu episódio final, faremos uma crítica, então fique ligado na Torre de Vigilância!

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Mulher-Maravilha 1984 e a sua carta de amor ao passado

Após o estrondoso sucesso de Mulher-Maravilha (2017), Patty Jenkins e Gal Gadot retornam na sequência da maior heroína da DC Comics na melhor forma possível. Em Mulher-Maravilha 1984 vemos uma Diana amadurecida, confiante e atuando sorrateiramente. Mas devemos deixar a principal qualidade do filme em evidência: a sua carta de amor ao passado.

Pensando em sua história, ela é bem simples e lembra bastante os filmes de Superman, quando era interpretado por Christopher Reeves. Se passaram anos desde a primeira guerra, e Diana trabalha com arte e a história dessas peças, ao lado de Barbara Minerva (Interpretada por Kristen Wiig). Nesse tempo, um homem de negócios chamado Maxwell Lord (Interpretado por Pedro Pascal) tem o objetivo de ser o homem mais bem-sucedido do mundo, e fará de tudo para que isso te torna realidade. E por meio de um mistério, a paixão passada de Diana, Steve Trevor (Interpretado por Chris Pine), retorna para ajudar a amazona em uma nova missão.

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O longa tem como tema central a verdade, assim como seu antecessor, que foi o amor. De uma forma muito bela e simples, vemos cada personagem sendo desenvolvido de forma maravilhosa e tendo seu destaque, e cada um tem seu diálogo com a verdade. Pedro Pascal arrasa e consegue roubar todos os holofotes, se tornando um dos melhores vilões do Universo Estendido da DC. Mas Gal Gadot e Chris Pine continuam com a mesma química do filme anterior, criando mais afinidade ainda com o casal. Kristen Wiig entrega uma boa Cheetah que pode ser mais desenvolvida em um futuro, mas os fãs da personagem ficarão satisfeitos com a adaptação.

Um dos pontos que mais surpreendem nesse filme é a atuação da Gal Gadot, que está fenomenal. Ela consegue trazer emoções ao espectador sem mesmo uma palavra. Duas cenas em especial são de cortar o coração, e Gal consegue transmitir a melhor atuação de sua carreira.

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Voltando aos aspectos técnicos, acho que é impossível não elogiar a trilha-sonora composta por Hans Zimmer. Com músicas que apenas Zimmer consegue fazer, juntando o estilo da época, é uma imersão que consegue compartilhar toda a emoção criada. Também é necessário falar sobre o uso da faixa ‘Beautiful Lie’, de Batman v Superman, em um momento crucial sobre a trama da verdade que é imposta no longa.

Mas o melhor ponto do longa é a devoção que Jenkins fez ao transcrever sua paixão ao passado da DC, vemos várias referências de filmes, séries e animações. Para os fãs da personagem, é impossível conter a emoção vendo cenas tão icônicas e esperadas desde criança; é um filme único, feito com o maior carinho possível. Vale lembrar que existe uma cena pós-créditos aqui que reafirmam com a maior força cada uma das palavras ditas diante das homenagens que a diretora fez, e essa cena não poderia ser melhor. É possível até ver nos efeitos especiais momentos que lembram cenas da série Mulher-Maravilha de 1975.

Os efeitos especiais são controversos, pois depende da forma na qual você enxerga. Se for comparar com outros filmes de herói, parece extremamente datado em certos aspectos, mas ao lado de ser uma homenagem ao passado, é possível entender a genialidade por trás disso tudo. Desde grandes cenas até pequenos movimentos de câmera, você percebe que realmente remete o passado.

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A arte do filme segue a linha padrão do seu antecessor: impecável. Por mais que os anos 80 estejam um tanto saturados com tantas produções recriando essa época, o longa não decepciona e tenta explorar outros lados da moda e dos cenários daquele tempo. A maquiagem também é sensacional e bem utilizada.

Infelizmente, o filme não é perfeito. É notável vários erros de continuidade durante cenas e alguns erros que deixam algumas pontas soltas durante o enredo, mas nada tão grave que faça o filme ser estragado, muito longe disso.

É realmente difícil escrever sobre um filme tão único e especial como esse, com toda certeza será um longa que trará discussões e opiniões controversas caso não tenha seu principal propósito entendido: uma homenagem ao que criou o que chamamos de adaptações. É inevitável que isso aconteça, mas para as pessoas que amam a personagem, é um prato cheio de sentimentos e nostalgia. Mulher-Maravilha 1984 é um dos melhores filmes de heróis já feitos, e um dos mais atípicos (e para todas as futuras adaptações de heróis atípicas, vocês são extremamente bem-vindas).

Nota: 4,5/5

 

Mulher-Maravilha 1984 já está disponível nos cinemas. Caso vá assistir, cuide-se da nova COVID-19, verificando as orientações de higienes sanitárias vigentes em sua região.

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Com uma jogada feita com maestria, O Gambito da Rainha é a melhor produção do ano na Netflix.

Ver minisséries tendo um grande destaque é algo atípico, geralmente elas são destinadas para um público mais seleto e menor do que as grandes produções da gigantesca Netflix. Só que agora, a plataforma de streaming mudou tudo com a sua nova produção, ‘O Gambito da Rainha’, uma adaptação do romance publicado em 1983, escrito por Walter Tevis. É curioso ver que o livro não é baseado em fatos reais, e sim em experiências do autor; infelizmente, o livro não chegou a ser publicado no Brasil.

Quando falamos sobre ‘O Gambito da Rainha’, é intrigante lembrar que originalmente seria um filme. O co-criador da série, Allan Scott, tem os direitos da adaptação há mais de 30 anos, e ganharia um filme em 2008, dirigido por Heath Ledger e teria o ator Elliot Page no papel principal. Após a morte de Ledger, a produção ficou de lado e parada. Scott assistiu uma série chamada ‘Godless’, e logo em seguida enviou uma carta para Scott Frank, que dirigia, e eles decidiram que o formato de minissérie seria o ideal para adaptar o romance. E em 2018, a série começou a tomar forma, e agora em 2020, temos a minissérie mais assistida da Netflix, e com sua nota no Rotten Tomatoes em 99%.


Começando a falar sobre seu roteiro, citar o fato de que isso não é uma história baseada em fatos reais é algo de se admirar. A riqueza dos detalhes em todas as partes da trama, datas, jogadas, locais e falas, isso cria uma imersão enorme enquanto é assistida. As personagens são tão bem desenvolvidas e humanas, nada parece que é genérico ou que não se encaixa, a escrita é um quebra-cabeças que é feito no tempo certo. Scott Frank é o escritor e o diretor, então, a sua visão para obra foi mais do que certeira. Em história, o triste que é realmente difícil comparar ao livro original, mas vendo a minissérie, é de encher o coração; ver Beth Harmon passar por momentos difíceis e supera-los com a ajuda de amigos e ver como ela coloca sua alma nos jogos. Algo muito bom e curioso sobre a série, é que mesmo sem saber nada sobre xadrez, a série consegue cativar e não deixar o telespectador boiando.
Já sobre as atuações, é impressionante como todo o elenco se destaca de formas maravilhosas. A protagonista, interpretada por Anya Taylor-Joy (A Bruxa, Os Novos Mutantes) rouba a cena com uma atuação bem fria e que evolui a cada jogo e decisão da personagem. Outra personagem que chama muito a atenção é a de Benny, interpretado por Thomas Brodie-Sangster (Maze Runner, Nowhere Boy), que faz um grande enxadrista que ajuda no avançar do desenvolvimento de Beth. Aliás, vale citar que cada personagem aqui é tão bem escrito, que todos influenciam no desenvolvimento de Harmon, nomes como Moses Ingram, Harry Melling, Bill Camp e Marielle Heller trazem atuações ótimas e personagens que são de extrema importância.

Agora partido para partes mais técnicas, precisamos falar sobre a direção. É maravilhosa, Scott Frank faz um trabalho surreal em juntar tão bem o roteiro com sua direção, mas a única parte que diria ser ruim na série como um todo, são algumas partes em seu ritmo, que parece perder forças e pode ficar um pouco massivo. Mas de resto, a direção é ótima, e entrega o que promete. Falando sobre a fotografia, é uma das partes que mais surpreendem, é simplesmente de tirar o fôlego, o trabalho de Steven Meizler foi essencial para criar a atmosfera certa para o mundo de Beth e para criar cenas maravilhosas, e totalmente simétricas. Sua edição também é totalmente bem-feita e com uma montagem ótima, não se perde no storytelling e também é um pilar para criar esse universo da série.

Para entrarmos de forma sutil nos anos 60, precisamos de uma boa cenografia e de bons figurinos, e essa minissérie… acerta em cheio, de forma incrível. Sinceramente, a atenção ao mundo, roupas, locais e carros é extraordinário, o mundo é genuíno e fácil de se perder no tempo. Cada escolha do figurino também é precisa e certeira, suas roupas contam história e também fazem parte da história e sentimentos do personagem. Onde isso fica o mais evidente possível, é na última roupa que Beth utiliza no episódio final, que simboliza uma peça de xadrez da rainha. O tamanho esforço em cada parte dessa obra é algo que é admirável e que outras produções, sejam séries, minisséries ou filmes, devem tomar como inspiração.


Outro ponto essencial é a trilha-sonora, composta por Carlos Rafael Rivera, que trabalhou ao lado de Scott Frank em Godless, e que define muita das cenas o humor e o seu tempo. É incrivelmente única, e cresce ao decorrer do necessário, da excitação da partida, do mundo ao redor de Beth. O piano é o líder aqui, que segue com uma trilha harmônica tão emocional e delicada. E falando sobre o som, também é necessário elogiar o trabalho dos dubladores nessa série, que se encaixa tão bem e que consegue transitar de forma impressionante com as atuações.

Mesmo falando tanto sobre a obra, parece que não arranhei nem a superfície do que O ‘Gambito da Rainha’ é. Ele proporciona algo tão diferente ao ser assistido, cada um de seus episódios chega a ser tão empolgante que não dá vontade de parar. Torcer para ver como o jogo terminará em cada partida de Harmon (mesmo sem saber nada sobre o xadrez), é uma experiência que, se você tiver como presenciar e experimentar, não perca seu tempo. Esse é um dos casos raros de uma minissérie que abala tudo por sua tamanha qualidade, e que merece todos os aplausos.

Apenas com uma citação final, Scott Frank confirmou que fará uma adaptação em filme do livro ‘Laughter in the Dark’, do russo Vladimir Nabokov, estrelado também pela Anya Taylor-Joy. Esperamos que esse filme seja tão bom quanto essa minissérie, que merece ser eternizada como uma das melhores produções, não só da Netflix, como de todo o audiovisual.

Nota: 5/5

‘O Gambito da Rainha’ contém 7 episódios e já está disponível na Netflix.