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Torre Entrevista | Carlos Ezquerra

Escrito por Gabriel Faria

Artista espanhol que trabalha para o mercado britânico de quadrinhos, responsável por colaborações em séries como Bloody Mary, War Stories e Preacher ao lado de Garth Ennis, tive a honra de falar, em nome da Torre de Vigilância, com o co-criador do Juiz Dredd e da série Strontium Dog: Carlos Ezquerra! Confira abaixo este papo na íntegra.


É uma grande honra poder falar com o senhor e obrigado por ceder um tempo para esta entrevista! Antes de começarmos nossa conversa sobre sua vida profissional, eu tenho algumas perguntas mais pessoais, começando com: como e quando você conheceu as histórias em quadrinhos? Somada à esta descoberta, você possui alguma lembrança memorável de sua infância ou juventude que envolva as HQs?

Eu me lembro que aos domingos todas as crianças do distrito sentavam em uma pequena loja e usavam suas ‘mesadas semanais’ para comprar quadrinhos, especialmente os mais antigos, pois eles eram mais baratos e com isso podíamos comprar mais!

E como você se envolveu com trabalhos artísticos? Sempre pensou em trabalhar nesta área ou as coisas caminharam para tal?

Quando eu estava no serviço militar na Espanha eu conheci um artista e ele foi a primeira pessoa a me dizer que eu poderia ganhar a vida desenhando quadrinhos.

Você começou sua carreira trabalhando em Barcelona por volta de 1973, desenhando westerns e histórias de guerra, correto? Quais eram as maiores dificuldades enfrentadas nesta época?

Nesta época eu estava trabalhando para companhias pequenas e a maior dificuldade era: ser pago!

Focando no mercado britânico, você desenhou histórias para o público feminino, como Valentine e Mirabelle além dos westerns e histórias de aventura. Nesta época o trabalho foi o principal fator para que se mudasse à Londres?

Sim. Eu pensei que se eu iria trabalhar para a Inglaterra a melhor maneira de entender os leitores seria vivendo lá!

Vamos passar para o que todos os leitores brasileiros querem saber: Juiz Dredd. Você foi o responsável pela criação visual do personagem mais icônico dos quadrinhos britânicos. Fale um pouco sobre o personagem e quais foram suas inspirações para desenvolver o visual.

A descrição do personagem veio no script e eu comecei a mixar ideias fascistas com símbolos americanos (como a águia) e o capacete parecido com o de executores medievais, ombreiras muito protegidas, cotoveleiras, joelheiras, e uma grande e poderosa moto baseada em Harleys Davidson.

Nesta época o que fez com que você não desenhasse as primeiras histórias, deixando a arte por conta do grande Mike McMahon?

Eu ilustrei a primeira história mas ela não chegou a ser publicada pois foi considerada muito violenta. Então Pat Mills, o editor, pediu que o Mike emulasse minha arte para dar continuidade à série. Mesmo na primeira edição publicada algumas imagens foram copiadas e coladas da minha história. Esta história se chamava Bank Raid e foi impressa mais tarde diversas vezes.

Para você quais são as maiores vantagens e desvantagens em trabalhar com o Juiz Dredd?

Eu não consigo pensar em desvantagens, pois pra mim ele é “minha criança”.

Aqui no Brasil já foram publicadas algumas histórias do Dredd contendo sua arte. “Juiz Dredd – Origens” foi lançado dois anos atrás, e eu devo dizer que é simplesmente fantástico. Como foi para você, sendo co-criador, revisitar o “background” do mundo de Dredd?

Como eu disse antes, eu nunca estive muito distante do Dredd. Deve se lembrar que as maiores sagas do personagem eu desenhei sozinho, e minha relação de alma com o Dredd se estende ao escritor John Wagner, que é um amigo muito íntimo há mais de 40 anos! Foi normal.

Uma pergunta “fora da caixa”: se você vivesse em Mega-City Um, como acha que seria seu estilo de vida?

É uma ideia muito perturbadora…

Em 1978, ao lado de John Wagner, você criou a série “Strontium Dog” (que segue inédita no Brasil). Visualmente o protagonista, Johnny, lembra um pouco o Dredd: as ombreiras, a cor da roupa, o capacete, enfim. Você acha que usou um pouco da inspiração que também foi usada no Dredd para criar o visual de Johnny?

Não, eles são personagens bem diferentes. Johnny Alpha é um personagem muito humano, o oposto do Dredd, que possui um livro de leis no lugar de um coração.

Existe um fã-filme de “Strontium Dog” sendo produzido neste momento, vindo dos mesmos criadores do excelente “Judge Minty”. Você está acompanhando a criação deste filme ou simplesmente não mantém conexão alguma mas irá assisti-lo quando for lançado?

Eles estão fazendo um trabalho fantástico. Eu estive bastante envolvido com a produção, e estaria mesmo não sendo necessário após 37 anos de visuais documentados. Eles também fizeram um trabalho excelente em “Judge Minty”.

Uma pergunta difícil: Dredd ou Johnny Alpha? Com qual personagem você prefere trabalhar, e por quê?

Eu me sinto bastante confortável com ambos, afinal de contas eles são “minhas crianças”. Pessoalmente eu prefiro Johnny pois ele é um personagem mais humano e complexo.

Garth Ennis. Você trabalhou com este roteirista (querido por muitos) algumas vezes, e talvez no Brasil sua colaboração mais famosa seja em Preacher, onde você desenhou duas histórias especiais. Como foi o desenvolvimento destas histórias e como foi trabalhar para a DC/Vertigo ao lado de Garth Ennis? Você se sente livre trabalhando para o mercado americano, ou não?

Eu sempre me sinto livre trabalhando para qualquer mercado contanto que haja uma boa relação com o roteirista. Com John Wagner eu trabalho há mais de 40 anos, e com Garth Ennis há mais de 25. Se eu não me sentir confortável eu não trabalho para companhia alguma.

Qual foi o seu último trabalho publicado?

Sigo trabalhando em Strontium Dog e uma história curta do Juiz Dredd.

Você já visitou o Brasil alguma vez?

Não, eu nunca estive neste lindo país.

Antes de finalizarmos, outra pergunta “fora da caixa”. Admiro muito seu trabalho e estudo veterinária. Após checar algumas fotos em seu Facebook, devo perguntar: você prefere cães ou gatos?

Eu tenho dois cães e dois gatos… 🙂

Carlos, muito obrigado pela entrevista! Se quiser deixar alguma mensagem para os fãs brasileiros, essa é a hora! O espaço é seu.

Saúde! Viva, fãs do Brasil! 🙂

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.