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Pisque Duas Vezes acerta em seu roteiro, mas tropeça em sua direção

Pisque Duas Vezes marca a estreia de Zoë Kravitz como diretora, um nome que desperta curiosidade, tanto pelo seu trabalho como atriz quanto pela promessa de uma nova visão no gênero de suspense. No entanto, ao assistir ao filme, fica evidente que, embora Kravitz demonstre um potencial indiscutível para criar narrativas intrigantes, sua falta de experiência como diretora afeta o ritmo e a entrega da trama. O longa, que gira em torno de um suspense psicológico, é tão complexo quanto parece à primeira vista, com um roteiro inesperado e envolvente, mas que, por vezes, se perde na execução lenta e cansativa.

Channing Tatum e Naomi Ackie encabeçam o elenco, trazendo dinâmicas contrastantes que funcionam de maneiras diferentes ao longo da produção. Enquanto Tatum parece preso a um tipo de papel que já interpretou várias vezes, Ackie brilha intensamente, carregando parte significativa da tensão dramática. Mesmo com performances desequilibradas, a obra é sustentado pelo roteiro afiado de Kravitz, que entrega reviravoltas chocantes e momentos que deixam o espectador preso à cadeira, ansioso pelo próximo movimento da história.

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A garçonete Frida o bilionário Slater King e concorda em passar as férias em sua ilha particular. Mas o que parecia ser a viagem perfeita se torna uma experiência angustiante quando Jess, a melhor amiga de Frida, desaparece. A garçonete questiona a realidade após situações estranhas acontecerem e luta para descobrir a verdade.

A maior virtude de Pisque Duas Veze está, sem dúvida, em seu roteiro. Kravitz, também responsável pela escrita, constrói uma narrativa rica em suspense, marcada por mistérios e surpresas bem elaboradas. A trama evita os clichês do gênero, surpreendendo com momentos de tensão bem construídos, que forçam o espectador a questionar tudo o que pensava saber sobre os personagens e suas motivações. É uma história que exige atenção total, e quando as revelações começam a aparecer, elas vêm como um golpe repentino, trazendo reviravoltas que são genuinamente chocantes. Kravitz demonstra um olhar astuto para a criação de suspense psicológico, fazendo com que o público desconfie de cada pequeno detalhe.

Enquanto o roteiro é o ponto alto do filme, a direção de Kravitz acaba sendo o elemento que enfraquece a experiência. Fica claro que esta é sua primeira incursão como diretora, já que alguns momentos parecem arrastados, com uma cadência que poderia ter sido mais ajustada. O longa, em certos trechos, sofre de um ritmo irregular, tornando-se entediante em partes que deveriam ser mais envolventes. A construção do suspense se dilui em sequências prolongadas e silenciosas que, em vez de contribuir para a tensão, acabam tornando a experiência cansativa. O resultado é uma obra que flutua entre momentos brilhantes e outros que carecem de força, prejudicando a imersão.

É claro que Kravitz ainda está encontrando seu caminho como cineasta, e isso é perceptível em várias decisões que acabam por minar o ritmo do filme. O resultado é uma obra que poderia ter sido muito mais impactante se tivesse uma mão mais experiente no comando. Mas, ao mesmo tempo, é uma estreia que mostra potencial, e Kravitz certamente tem o talento necessário para crescer nesse novo papel. Se ela conseguir alinhar seu olhar estético com uma narrativa mais fluida em suas futuras produções, podemos esperar grandes coisas de sua carreira como diretora.

Blink Twice' Ending Explained: What Happens to Channing Tatum?

Channing Tatum, que tem um papel de destaque, traz mais uma vez o carisma que lhe é característico. Contudo, sua atuação carece de profundidade. Tatum parece preso a um tipo específico de personagem: o homem charmoso e misterioso, mas sem grandes variações emocionais. Não se pode dizer que ele seja um ator ruim, mas a sua performance não foge do que ele já fez em outros filmes. Seu personagem acaba se tornando previsível, sem grandes nuances, o que contrasta fortemente com a complexidade que o roteiro tenta oferecer. Tatum entrega o esperado, mas não surpreende.

Por outro lado, Naomi Ackie é o oposto de Tatum. A atriz mergulha profundamente em sua personagem, transmitindo desespero e inquietação em cada cena. Suas expressões faciais, gestos e até mesmo o silêncio que permeia algumas de suas falas refletem uma atriz em pleno controle de sua atuação. Ackie consegue traduzir o medo do desconhecido e o peso da trama de uma forma que mantém o público engajado. Sua personagem traz uma energia visceral que equilibra a falta de dinamismo de outras partes do filme, oferecendo ao público momentos genuínos de tensão e emoção. É inegável que sua performance é um dos elementos que mantêm o suspense vivo até o final.

Blink Twice (2024) | MUBI

Pisque Duas Vezes é um filme que, apesar de suas falhas, consegue se destacar pelo roteiro e pela atuação de Naomi Ackie. Channing Tatum mantém sua zona de conforto, enquanto Zoë Kravitz, embora tropece na direção, demonstra um talento promissor na criação de histórias. Ele certamente entrega o suficiente para manter os fãs do gênero interessados. Kravitz tem um longo caminho a percorrer, mas, com mais experiência, ela pode se tornar uma diretora a ser observada nos próximos anos.

Nota: 3/5 

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O Grande Gatsby de Baz Luhrmann: exuberância visual e tragédia antemporal

O Grande Gatsby (2013), dirigido por Baz Luhrmann, é uma adaptação visualmente deslumbrante e exagerada da icônica obra de F. Scott Fitzgerald. A extravagância da direção de Luhrmann, marcada por sua assinatura carnavalesca, encontra um casamento perfeito com a proposta original do romance, destacando a opulência de uma Nova York que fervilhava com festas luxuosas e sonhos impossíveis. A energia frenética e excessiva que o cineasta imprime nas grandes festas de Jay Gatsby reflete de forma vívida a era do jazz e os excessos da sociedade americana na década de 1920, oferecendo ao público uma experiência visual impactante e envolvente.

Em um filme que transborda exageros, seja pela trilha sonora anacrônica ou pelo visual quase surreal, Luhrmann consegue capturar a essência das celebrações extravagantes de Gatsby, fazendo da obra um espetáculo visual que seduz tanto quanto choca. As luzes ofuscantes, os cenários grandiosos e a opulência exagerada transportam o público para uma Nova York emergente, onde riqueza e status eram o centro das atenções. Essa abordagem vívida não só enriquece a narrativa, mas também eleva o tom teatral da história, trazendo à tona o caráter ilusório do mundo que Gatsby criou ao seu redor.

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Nick Carraway (Tobey Maguire) tinha um grande fascínio por seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Após ser convidado pelo milionário para uma festa incrível, o relacionamento de ambos torna-se uma forte amizade. Quando Nick descobre que seu amigo tem uma antiga paixão por sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), ele resolve reaproximar os dois, esquecendo o fato dela ser casada com seu velho amigo dos tempos de faculdade, o também endinheirado Tom Buchanan (Joel Edgerton). Agora, o conflito está armado e as consequências serão trágicas.

O fascínio de Nick Garraway por Jay Gatsby é um dos pilares mais intrigantes da narrativa. Nick, interpretado por Tobey Maguire, se vê irresistivelmente atraído pela figura misteriosa de Gatsby, um homem cuja vida de festas luxuosas oculta segredos profundos. À medida que o jovem narrador mergulha na vida de Gatsby, a busca por conhecer o verdadeiro motivo por trás das festas de arromba revela camadas inesperadas. Diferente do que se poderia esperar de um melodrama convencional, a motivação por trás das festas não se limita à busca de poder ou fama. O desejo de Gatsby por reencontrar sua amada Daisy Buchanan, e o sonho de recriar um passado idealizado, traz uma profundidade emocional inesperada para a história.

Essa revelação sobre as festas de Gatsby, ao invés de soar clichê, adiciona complexidade ao personagem-título, vivido por Leonardo DiCaprio com uma combinação perfeita de charme, mistério e vulnerabilidade. Gatsby, ao invés de ser apenas mais um magnata festeiro, é um homem trágico, obcecado por um ideal inatingível. Suas festas, repletas de brilho e grandiosidade, são apenas uma fachada para uma dor profunda e um desejo impossível de realizar. Esse contraste entre a exuberância externa e o sofrimento interno faz de Gatsby um personagem inesquecível, e a relação entre ele e Nick Garraway ganha nuances emocionais ricas que afastam a trama dos padrões previsíveis.

A interação entre Nick e Gatsby não só revela o lado humano por trás da fachada glamorosa do anfitrião, mas também coloca Nick em um dilema moral. Ao descobrir o real motivo por trás das festas, Nick se torna mais do que um mero espectador; ele passa a ser um confidente, alguém que compreende a tragédia por trás da luxúria. O filme explora essa dualidade de forma intrigante, permitindo que o público veja o quanto Gatsby, no fundo, é um homem solitário, preso a um passado inalcançável. O roteiro, nesse sentido, é bem-sucedido ao mostrar como os sentimentos e motivações dos personagens fogem dos estereótipos, trazendo frescor à história.

O Grande Gatsby (LEG) - Movies on Google Play

Apesar de Luhrmann conduzir com maestria a estética exagerada e teatral do filme, o uso excessivo de CGI em certas sequências compromete o impacto visual da obra. Há momentos em que o apelo estético, tão bem manejado em muitas cenas, é quebrado pela artificialidade dos efeitos digitais, afastando o espectador da sensação de imersão total. Em festas que já eram naturalmente grandiosas e cenas de paisagens urbanas que poderiam ser impressionantes por si só, a dependência excessiva de CGI cria uma barreira entre o público e o mundo que o filme tenta apresentar.

Em vez de recorrer a cenários práticos ou efeitos mais sutis, o filme acaba se perdendo em um excesso visual que prejudica o seu ritmo em alguns momentos. A extravagância estilística de Luhrmann, que é uma de suas marcas registradas, poderia ter sido ainda mais impactante se o diretor tivesse optado por elementos palpáveis em vez de depender tanto de tecnologia. Isso não chega a ofuscar a grandiosidade do filme como um todo, mas certamente há momentos em que o CGI desnecessário tira parte da mágica e da autenticidade que poderiam ter sido alcançadas com uma abordagem mais contida.

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No fim, O Grande Gatsby de Baz Luhrmann é uma obra visualmente estonteante e emocionalmente poderosa, que captura com precisão a essência da sociedade americana dos anos 1920. O exagero estilístico de Luhrmann, embora às vezes prejudicado pelo excesso de CGI, entrega uma adaptação moderna e vibrante de um clássico literário, trazendo nova vida a uma história que, mesmo quase um século após sua publicação, continua a fascinar. Com performances marcantes e uma direção ousada, o filme se destaca como a melhor versão cinematográfica da obra de Fitzgerald, proporcionando ao público uma experiência memorável e única.

NOTA: 4/5

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A ficção-científica que transformou V/H/S/Beyond o melhor filme da franquia!

V/H/S consolidou-se como uma saga de terror que oferece aos seus criadores total liberdade criativa por se tratar de uma antologia, presenteando os fãs com sete filmes (além de dois spin-offs) que oscilam entre segmentos de qualidade impressionante e outros tão vergonhosos que nem deveriam ter saído do papel. O que começou como uma produção de baixo orçamento, rapidamente escalou para obras mais ambiciosas, com cineastas renomados do mainstream de horror se envolvendo na franquia e trazendo novas visões e ideias.

Com o passar dos anos, a franquia foi evoluindo e, em 2024, a Shudder lançou V/H/S/Beyond, a nona produção dessa mitologia rica, que não apenas veio para somar, mas também com a pretensão de ser o melhor filme da série; um objetivo que, sem dúvida, foi alcançado com maestria.

O grande diferencial de Beyond não é apenas o orçamento maior ou os nomes por trás das câmeras, mas a capacidade de resgatar a essência visceral do terror que fez a franquia ganhar notoriedade, misturando-se com ficção. Cada segmento não só busca provocar medo, mas também explorar novos limites do gênero, entregando uma experiência que, mesmo para os mais veteranos fãs de horror, consegue surpreender.

V/H/S/Beyond (2024) - IMDb

V/H/S/Beyond conta com seis novas fitas horripilantes, colocando o terror na vanguarda de uma paisagem infernal inspirada na ficção científica.

Inspirando-se nas artes de Oleg Vdovenko e até trazendo um “sucessor” espiritual de Tusk: A Transformação, V/H/S/Beyond oferece aos seus diretores e roteiristas um nível mais evidente de intimidade em comparação aos filmes anteriores da série. Isso ocorre porque a produção escolheu seguir um caminho mais coeso, focando em uma abordagem única e convidando cineastas experientes na ficção e no terror para dar vida a suas visões perturbadoras.

Como em qualquer antologia, alguns segmentos irão ressoar mais com certos espectadores do que com outros. Contudo, a Shudder e o Bloody Disgusting conseguiram a rara façanha de criar um longa-metragem onde todas as fitas mantêm um padrão de qualidade consistente. Cada história vai direto ao ponto, sem enrolação, e entrega exatamente o que se propôs desde o início: uma experiência aterrorizante, com atmosfera densa e história criativas.

O grande trunfo de V/H/S/Beyond está em sua capacidade de equilibrar o experimentalismo com o tradicional. Mesmo trazendo elementos inovadores para a saga, como temas mais introspectivos e camadas de comédia, o filme não perde o impacto visual e visceral que os fãs esperam. Cada segmento se encaixa perfeitamente no contexto da antologia, criando uma narrativa que, embora fragmentada, parece coesa e bem amarrada.

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A grande inovação de V/H/S/Beyond reside na sua capacidade de pegar temas já amplamente explorados, como robôs e o conceito clássico de Frankenstein, e transformá-los em algo completamente imprevisível dentro do gênero de horror. O filme subverte as expectativas do público ao apresentar histórias que, à primeira vista, parecem seguir fórmulas conhecidas, mas logo se desviam para direções surpreendentes. Essa habilidade de impactar o espectador, mesmo em contextos familiares, é um dos pontos fortes da produção, intensificando a tensão e mantendo quem assiste sempre em estado de apreensão, sem jamais antecipar o que virá a seguir.

Além disso, a narrativa central, desenvolvida em formato de documentário, confere ao filme uma sensação de proximidade. Ao emular produções mais comuns em grandes estúdios, V/H/S/Beyond cria uma conexão imediata com o público, mas rapidamente desfaz essa segurança ao inserir elementos desconcertantes e sobrenaturais que desviam a trama de qualquer previsibilidade. Essa combinação entre o familiar e o perturbador torna o filme uma experiência singular, em que o espectador se sente constantemente desafiado, incapaz de adivinhar os próximos acontecimentos.

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V/H/S/Beyond não é apenas mais uma adição à antologia; é o ápice criativo da franquia. Com uma execução impecável, a produção consegue revitalizar temas consagrados, transformando-os em algo inesperado e aterrorizante. A forma como brinca com a familiaridade, ao mesmo tempo em que desafia o espectador com reviravoltas imprevisíveis, faz com que essa obra se destaque como a mais ousada e coesa de todas. A combinação de criatividade, direção afiada e uma narrativa que sabe exatamente até onde levar o público faz deste filme o maior marco da série. V/H/S/Beyond eleva o padrão de qualidade da franquia, consolidando-se como o melhor filme até agora.
NOTA: 5/5
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Vidas Passadas | Quando o final feliz é incomodo e prejudicado com a lentidão

Comédias românticas e romances são, sem dúvida, uma ótima escolha para quem busca entretenimento leve e descontraído após um dia cansativo. No entanto, a longo prazo, podem ser perigososs para aqueles que não possuem maturidade emocional. Isso ocorre devido aos gêneros em si, que, em sua maioria, são moldados por Hollywood e tendem a romantizar o amor de forma exagerada, criando expectativas irreais. Essa idealização afeta gerações recentes, alimentando visões ilusórias sobre relacionamentos. Em contraste, Vidas Passadas oferece uma visão mais realista dos altos e baixos do amor, proporcionando ao público uma perspectiva honesta e profunda sobre o que é “verdadeiramente” amar alguém no mundo real.

Vidas Passadas convida o espectador a refletir sobre os desafios e decisões que moldam um relacionamento ao longo do tempo, destacando que o verdadeiro amor está nos detalhes e nas escolhas difíceis, e não em idealizações inatingíveis.

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Escrito e dirigido por Celine Song, Vidas Passadas é um drama que conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância com uma conexão profunda, mas que acabam se separando quando a família de Nora decide sair da Coréia do Sul e se mudar para a cidade de Toronto. Vinte anos depois, os dois amigos se reencontram em Nova York e vivenciam uma semana fatídica enquanto confrontam as noções de destino, amor e as escolhas que compõem uma vida.

Com uma narrativa simples, Céline Song utiliza suas habilidades como diretora para abordar a trama com um olhar sensível e realista, evitando cair no exagero dramático que tantas vezes permeia filmes do gênero. Em Vidas Passadas, a Céline equilibra de forma competente as dores e as alegrias que compõem o amor, mostrando que o sentimento é formado por uma complexa mistura de sensações. A trama é trabalhada de forma a capturar a autenticidade das emoções, revelando que o romance não é apenas feito de momentos felizes ou tristes, mas de uma mescla constante entre eles.

A direção também se destaca por fugir de convenções previsíveis, conduzindo a história com sutileza e profundidade. Ela cria personagens que se sentem humanos, imperfeitos, e suas interações refletem isso de forma genuína. Vidas Passadas evita grandes reviravoltas ou gestos românticos exagerados, optando por pequenos momentos que carregam um grande peso emocional. Essa abordagem minimalista não apenas enriquece a trama, mas também traz uma sensação de autenticidade ao relacionamento central, permitindo que o público se conecte verdadeiramente com as experiências e os dilemas vividos pelos personagens.

Prime Video: Past Lives

Entretanto, uma história realista e bem dirigida, mesmo com um roteiro que atende às expectativas, pode ser prejudicada por um ritmo lento e cansativo, o que pode minar o interesse do espectador e desviar sua atenção para outros estímulos. Infelizmente, Vidas Passadas sofre desse mal em alguns momentos, quando seu ritmo se arrasta, prejudicando a imersão na narrativa. Essa lentidão só é parcialmente resgatada com a entrada de Arthur, vivido por John Magaro, o marido de Nora, interpretada por Greta Lee. A presença de Arthur traz uma nova dinâmica à trama e restaura parte do interesse que a premissa inicial prometia.

A chegada de Arthur não apenas reanima a narrativa, mas também adiciona um novo ponto de vista, criando uma tensão emocional que eleva o enredo. Sua interação com Nora adiciona camadas ao conflito central, destacando as complexidades de um relacionamento marcado por diferentes culturas, distâncias e expectativas.

Past Lives Cast: Every Actor and Character in the 2023 Movie

A disparidade de maturidade emocional entre Nora, vivida por Greta Lee, e Hae, interpretado por Teo Yoo, contribui para que a narrativa se torne arrastada em certos momentos, mesmo com os dois atores entregando performances competentes. Enquanto Nora já superou o romance do passado, mantendo uma afeição que se aproxima mais do filia (o amor entre amigos) do que do eros (o amor romântico), Hae ainda está preso a sentimentos mais intensos e não resolvidos. Essa diferença de perspectiva, embora essencial para o enredo, acaba por criar uma dinâmica desequilibrada que, em vez de intensificar o drama, provoca uma sensação de desgaste para o espectador.

O conflito entre os sentimentos de Nora e Hae deveria agregar profundidade à trama, mas a insistência de Hae em manter uma conexão romântica unilateral acaba tornando suas cenas repetitivas e previsíveis. A tensão emocional que poderia ser explorada de forma mais rica e complexa se dilui, à medida que o espectador percebe que Hae está preso a uma idealização que Nora já deixou para trás. Isso acaba esgotando com a história se prolongando sem grandes mudanças de dinâmica, resultando em uma narrativa que, em alguns momentos, parece não avançar, apesar do bom trabalho dos atores.

Past Lives [LAST SCREENINGS] - Cinéma Moderne

Vidas Passadas é uma escolha atraente para aqueles que buscam uma abordagem mais madura e realista do amor, oferecendo ao espectador uma imersão profunda nas emoções e dilemas dos personagens. A trama convida à reflexão sobre as complexidades das relações e os sentimentos não resolvidos que muitas vezes nos acompanham ao longo da vida. No entanto, apesar da direção habilidosa de Celine Song e de um roteiro que explora bem essas nuances, o ritmo lento e a atmosfera de melancolia beirando ao tédio em certas ocasiões podem esgotar a paciência de quem não está familiarizado com esse tipo de narrativa mais contemplativa e sutil.

NOTA: 3,5/5

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Coringa: Desastre a Dois

Coringa: Delírio a Dois é um desastre, e isso não é engraçado. Com um antecessor que beira o perfeccionismo cinematográfico dentro do universo de filmes baseados em personagens de quadrinhos, o mínimo que se esperava da sequência era que seguisse um caminho semelhante. Ainda que não precisasse alcançar a excelência de Coringa (2019), ao menos deveria entregar algo satisfatório. No entanto, o que recebemos está longe disso.

A expectativa em torno de Coringa: Delírio a Dois era altíssima, alimentada tanto pelo sucesso estrondoso do primeiro filme quanto pela promessa de uma abordagem inovadora ao personagem através de elementos musicais. No entanto, o que se apresenta na tela é uma tentativa fracassada de capturar a essência do original sem a profundidade psicológica que fez do Coringa de Joaquin Phoenix uma obra marcante. Em vez de mergulhar no caos interno do personagem, a sequência se perde em excessos que acabam prejudicando a narrativa.

A mistura de gêneros, incluindo o musical, que poderia ter sido uma aposta ousada, acaba sendo mais um fator que afasta o longa de seu potencial. Ao tentar ser diferente, Coringa: Delírio a Dois parece esquecer o que tornou o primeiro filme tão impactante: a sua crueza e visceralidade. Em vez de elevar o legado de Coringa, a sequência entrega uma experiência que parece superficial e desconectada, frustrando as expectativas dos fãs que aguardavam uma continuação à altura.

FYEAHMOVIES — JOKER: FOLIE À DEUX ...

Em Coringa 2, acompanhamos a sequência do longa sobre Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), que trabalhava como palhaço para uma agência de talentos e precisou lidar desde sempre com seus problemas mentais. Vindo de uma origem familiar complicada, sua personalidade nada convencional o fez ser demitido do emprego, e, numa reação a essa e tantas outras infelicidades em sua vida, ele assumiu uma postura violenta – e se tornou o Coringa. A continuação se passa depois dos acontecimentos do filme de 2019, após ser iniciado um movimento popular contra a elite de Gotham City, revolução esta, que teve o Coringa como seu maior representante. Preso no hospital psiquiátrico de Arkham, ele acaba conhecendo Harleen “Lee” Quinzel (Lady Gaga). A curiosidade mútua acaba se transformando em paixão e obsessão e eles desenvolvem um relacionamento romântico e doentio. Lee e Arthur embarcam em uma desventura alucinada, fervorosa e musical pelo submundo de Gotham City, enquanto o julgamento público d’O Coringa se desenrola, impactando toda a cidade e suas próprias mentes conturbadas.

À primeira vista, transformar um longa-metragem do Coringa em um musical pode parecer uma ideia ousada, abrindo espaço para infinitas possibilidades criativas — desde delírios que refletem o caos em sua mente até cenas que personificam a verdadeira loucura do personagem. No entanto, Todd Phillips não soube explorar esse recurso de maneira que se encaixasse organicamente na trajetória de Arthur Fleck e Lee (Lady Gaga). O filme acaba entregando músicas melosas e tediosas, que poderiam facilmente ter sido substituídas por canções que abordassem temas mais ligados com o verdadeiro mau da dupla, como psicopatia e distúrbios mentais, algo que teria acrescentado uma camada de complexidade ao enredo.

A introdução do elemento musical prometia trazer uma nova perspectiva à mente fragmentada de Arthur Fleck, mas o que vemos em Coringa: Delírio a Dois são cenas que falham em transmitir a angústia e a perturbação do protagonista. As músicas escolhidas não refletem a psique distorcida do personagem, mas sim caem em um terreno genérico e pouco inspirado. Essa abordagem descompassada acaba quebrando o ritmo do filme, tornando as sequências musicais mais um obstáculo do que um recurso criativo que pudesse expandir a narrativa.

Além disso, a química entre Arthur e Lee, que poderia ter sido o ponto alto do filme, é prejudicada pela falta de coerência entre suas interações e as escolhas musicais. As letras, em vez de explorar a dualidade entre sanidade e loucura, optam por uma superficialidade que minimiza a profundidade emocional do relacionamento dos dois personagens. O potencial dramático da relação deles, que deveria ter sido explorado com intensidade, se perde em meio a números musicais que pouco acrescentam à trama.

No fim, o uso do musical em Coringa: Delírio a Dois parece mais um artifício que visa a diferenciação do que uma escolha narrativa sólida. Phillips tentou inovar, mas ao fazer isso, esqueceu de manter a essência sombria e introspectiva que fez do primeiro Coringa uma obra de arte psicológica. A sequência falha em capturar a complexidade mental de Arthur, resultando em um filme que, em vez de instigar o público, o afasta com sua execução desconexa e falta de substância.

Joker Sequel 'Folie à Deux': Everything We Know

Lady Gaga, no papel de Lee, é um verdadeiro desperdício de talento, prejudicada por um roteiro covarde que reduz sua personagem a uma simples “doente mental” apaixonada por Arthur. Em vez de explorar uma obsessão visceral pelo Coringa, o filme entrega uma versão superficial e estereotipada da personagem. A profundidade e a complexidade que poderiam ter feito de Lee uma figura fascinante e aterrorizante são deixadas de lado em favor de um romance mal desenvolvido e sem o peso psicológico que a trama exigia.

A personagem Lee, que tinha potencial para ser uma figura impactante e ameaçadora, perde completamente sua força com o desenvolvimento frágil e mal executado no filme. Ao contrário de outras versões de vilãs dos quadrinhos, como a Harley Quinn de Margot Robbie, que traz uma mistura de perigo, carisma e imprevisibilidade, Lee é retratada de maneira rasa e inofensiva. Sua obsessão por Arthur deveria ter sido uma fonte de tensão, mas, em vez disso, ela se transforma em uma personagem passiva, desprovida da energia caótica que poderia ter conectado o público com sua loucura.

Diferente de Harley, que cativa o espectador com sua personalidade excêntrica e imprevisível, Lee não consegue criar uma ameaça tangível que sustente sua presença em tela. Enquanto Harley Quinn é uma força avassaladora, Lee parece existir apenas como um complemento do Coringa, sem uma motivação própria que mova a narrativa. Isso resulta em uma personagem que falha em envolver o público ou gerar qualquer empatia, tornando suas interações previsíveis e pouco impactantes. O filme perde uma grande oportunidade de criar uma vilã memorável e relevante dentro desse universo.

Coringa: Delírio a Dois (2024) | MUBI
ATENÇÃO, OS TRECHOS A SEGUIR CONTÉM SPOILER DE CORINGA: DELÍRIO A DOIS. PULE PARA A FINALIZAÇÃO! 
A revelação de que Arthur Fleck não é o verdadeiro Coringa, mas sim um colega de Arkham que o observava constantemente dentro das paredes da prisão psiquiátrica, é um dos raros acertos de Delírio a Dois. Esse personagem, cujo nome nunca é revelado, mas sua natureza psicopática é evidente, traz ao telespectador uma sensação similar à que se tem ao ler os quadrinhos do Batman, onde o passado do Príncipe do Crime permanece um mistério envolvente. A decisão de manter essa incerteza sobre a verdadeira identidade do Coringa é uma jogada inteligente, pois reforça a aura de caos e imprevisibilidade que o personagem sempre teve.

Essa abordagem de manter o verdadeiro palhaço nas sombras não só cria uma tensão intrigante, como também dialoga com o legado do personagem nos quadrinhos e no cinema. Ao recusar-se a fornecer respostas claras sobre quem realmente é o Coringa, o filme preserva a essência enigmática que o torna tão fascinante. Assim como nos quadrinhos, onde múltiplas origens e histórias competem entre si, Delírio a Dois acerta ao deixar o público sem uma definição concreta, o que apenas reforça a ideia de que o Coringa é mais um conceito de caos do que uma pessoa definida. Esse elemento, sem dúvida, é um dos poucos momentos em que a produção atinge a profundidade que faltou em grande parte da narrativa.

Entre os poucos elogios que Delírio a Dois merece, destaca-se o monólogo de Arthur Fleck com Gary Puddles, um confronto indireto onde os diálogos manipuladores e narcisistas de Fleck demonstram sua verdadeira natureza. A tensão entre os personagens é habilmente construída, revelando as camadas de perversidade de Fleck sem a necessidade de violência explícita. Outro ponto que merece reconhecimento é a direção de arte, que, embora mais tímida em comparação com o filme anterior, consegue manter a fidelidade estética aos musicais de época, criando um ambiente que, mesmo discreto, ainda assim contribui para a ambientação peculiar do longa.

Crítica: 'Coringa - Delírio a Dois' (2024) com Joaquin Phoenix e Lady Gaga  | Mais Goiás

Coringa: Delírio a Dois descarta o que foi magistralmente construído em Coringa (2019), onde o epílogo deixava claro que Arthur Fleck havia finalmente abraçado sua loucura e se transformado em algo mais do que uma vítima. A sequência, no entanto, retrocede essa evolução ao colocá-lo novamente no papel de uma figura trágica, presa às circunstâncias, como se seu destino fosse sempre o de um homem oprimido e não o de um agente do caos. Isso não apenas desconsidera o desenvolvimento do personagem no primeiro filme, como também mina o impacto que aquela transformação final causou no público.

Ao tentar se distanciar da profundidade psicológica e da crueza visceral do original, Delírio a Dois acaba se perdendo em uma tentativa de inovação que falha em todos os aspectos cruciais. Desde a superficialidade do musical até o subdesenvolvimento dos personagens, o filme não consegue replicar a força narrativa que fez do primeiro Coringa uma experiência tão marcante. O que restou foi uma sequência que parece desconectada de sua própria origem, oferecendo mais espetáculo do que substância.

No fim, Coringa: Delírio a Dois demonstra que nem sempre o desejo de inovar é suficiente para sustentar uma continuação. A sequência subverte o que foi estabelecido de forma poderosa no primeiro filme, mas sem oferecer algo igualmente forte em troca. O resultado é uma obra que, apesar de alguns acertos pontuais, falha em honrar o legado de Arthur Fleck, deixando o público com uma sensação de cansaço e de uma oportunidade desperdiçada.

NOTA: 2/5

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Twisters | Entre tornados e CGI: a tentativa de reviver um clássico

”Qual a necessidade de uma continuação de Twister” é o que pensaram os fãs saudosistas do clássico longa-metragem de catástrofe natural. Quase que desnecessário, Twisters é um filme divertido que causa uma sensação de nostalgia ao telespectador

A sequência chega com a difícil missão de capturar o espírito do original, enquanto tenta modernizar a trama para um novo público. Embora traga novos personagens e desafios, a essência permanece a mesma: a luta humana contra a força implacável da natureza. Essa conexão entre o imprevisível e o heroísmo continua sendo o coração da história, e é nisso que Twisters busca se apoiar para conquistar tanto os fãs antigos quanto os novatos.

Ainda assim, Twisters entrega momentos de tensão e adrenalina que remetem ao charme do seu antecessor. A direção mantém o ritmo acelerado, com cenas de perseguições intensas e perigos imprevisíveis que nos prendem à tela. O maior desafio, no entanto, é conquistar tanto os novos espectadores quanto aqueles que guardam com carinho as lembranças do original. Será que a sequência consegue esse feito?

Twister GIFs | Tenor

Twisters é uma continuação do longa homônimo de Jan de Bont, lançado em 1996. Desta vez, sob a direção de Lee Isaac Chung (Minari) o filme foca em uma dupla de caçadores de tempestade. Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones) é uma ex-caçadora desses fenômenos, mas que acaba sendo atraída de volta às planícies por seu amigo Javi (Anthony Ramos), para testar um novo sistema experimental de rastreamento meteorológico. Nessa missão, ela cruza seu caminho com Tyler Owens (Glen Powell), um ícone das redes sociais que compartilha suas aventuras de caça à tempestade. Conforme a temporada de tempestades se intensifica, dando início a acontecimentos aterrorizantes, Kate e Tyler, que são concorrentes, se encontram em meio a uma situação nunca antes vista, colocando suas vidas em risco. 

De fato, Twisters não precisava de uma nova produção cinematográfica. Aqui, Twisters é tratado mais como um soft-reboot (termo usado quando uma saga ou franquia é reiniciada do zero, mas situada no universo original, sem desconsiderar o que veio antes). Contudo, devido ao peso do clássico, apostar em um elenco jovem, com Lee Isaac Chung como diretor, que está se experimentando no mundo dos blockbusters, foi uma jogada arriscada da Warner e da Universal. Por sorte, eles acertaram em cheio o alvo que estavam mirando.

Essa decisão ousada reflete a tentativa dos estúdios de equilibrar tradição e inovação. Ao mesmo tempo em que homenageiam o original, buscam cativar uma nova geração de espectadores que talvez nunca tenham assistido ao filme de 1996. O elenco jovem, com rostos promissores de Glen Powell, Daisy Edgar-Jones e Anthony Ramos, traz uma energia fresca à narrativa, e o diretor, em sua primeira grande incursão no mundo dos blockbusters, surpreende ao entregar um filme dinâmico e frenético, distanciando de seus dramas experimentais. 

A escolha de manter conexões sutis com o original, sem depender exclusivamente da nostalgia, foi um ponto forte. Os novos personagens enfrentam desafios próprios, com suas histórias e motivações, o que impede o filme de cair em uma simples repetição. A presença de alguns elementos icônicos do primeiro filme, no entanto, garante que o sentimento de familiaridade seja preservado, criando um vínculo emocional com os fãs de longa data.

Por fim, o equilíbrio entre momentos de tensão e cenas mais introspectivas contribui para o desenvolvimento da trama. O espectador não é apenas levado pelas cenas de ação frenética, mas também convidado a se conectar com os personagens e suas obsessões em caçar tornados. Esse foco no lado humano da história, mesmo que superficialmente, dá ao filme uma camada emocional que o diferencia de outras obras de desastres, tornando Twisters mais do que apenas um espetáculo visual.

Twisters' Is Now Streaming—How To Watch The Blockbuster Thriller At Home

 Mesmo com um CGI de alta qualidade, o uso excessivo dessa tecnologia e o abandono quase completo dos efeitos práticos prejudicam o impacto visual de Twisters. Enquanto o original trazia uma sensação de perigo palpável, aqui o realismo é diluído em meio a tantas cenas geradas por computador, o que diminui o senso de urgência e desespero que o primeiro filme conseguia transmitir com maestria.

O avanço tecnológico permitiu que Twisters criasse cenas grandiosas e visualmente impressionantes, com tornados que parecem ganhar vida na tela. No entanto, essa dependência do CGI muitas vezes rouba a autenticidade que os efeitos práticos do filme original proporcionavam. Em Twister (1996), cada cena de destruição era visceral, com objetos sendo realmente lançados pelo ar, e os atores interagindo com os elementos ao redor. Esse toque realista fazia toda a diferença na construção da tensão, algo que a sequência não consegue replicar com o mesmo impacto.

A ausência de efeitos práticos não é apenas uma questão de nostalgia, mas sim de imersão. Quando vemos atores interagindo com cenários reais e elementos físicos, o perigo parece mais tangível, e o espectador é arrastado para dentro do caos. No caso de Twisters, embora o CGI seja tecnicamente impressionante, ele muitas vezes cria uma barreira entre o público e o desastre na tela. O perigo parece distante, calculado demais, o que acaba tornando a experiência menos visceral e emocionalmente intensa.

Esse contraste entre os dois filmes evidencia uma mudança na forma como os desastres naturais são representados no cinema moderno. Enquanto o primeiro Twister usava efeitos práticos para criar um senso de urgência e medo genuínos, Twisters aposta no espetáculo visual. Isso gera uma dualidade: por um lado, temos cenas de tirar o fôlego; por outro, falta o toque de realismo que fazia o espectador sentir que estava vivendo aquele momento. A tecnologia pode ter avançado, mas o impacto emocional parece ter ficado para trás.

Twisters' se apoia em elenco carismático para quase compensar falta trágica  de ambição; g1 já viu | g1 já viu | G1

Em resumo, Twisters se apresenta como uma sequência que tenta capturar o espírito do clássico original, mas que enfrenta o desafio de equilibrar tradição e inovação. Embora traga um elenco jovem e use da nostalgia para cativar antigos fãs, a falta de efeitos práticos e a forte dependência do CGI acabam diminuindo o impacto emocional que fez de Twister um marco no gênero de desastres. O filme entrega cenas de ação visualmente impressionantes, mas não consegue atingir o mesmo nível de urgência e autenticidade que seu predecessor alcançou com recursos mais limitados.

Ainda assim, Twisters consegue proporcionar entretenimento, principalmente para aqueles que buscam um espetáculo de efeitos especiais e momentos de tensão. É uma produção que reflete as mudanças da indústria cinematográfica, onde a tecnologia avança, mas a conexão humana com a história pode se perder. No fim, Twisters pode não causar o mesmo impacto que o original, mas ainda assim, merece ser reconhecido pelo esforço de manter viva uma franquia que marcou uma geração.

Nota: 3/5

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Fúria Primitiva: A Violência Visual que Deslumbra em Meio ao Comum

Filmes de ação com violência excessiva e coreografias cativantes ganharam popularidade desde o lançamento de John Wick: De Volta ao Jogo, criando uma onda de produções focadas em vingança desenfreada e com pouca inovação. Fúria Primitiva surge nesse cenário, marcando a estreia de Dev Patel como diretor, além de atuar e assinar como produtor.

A proposta de Fúria Primitiva não se afasta muito da fórmula consagrada, mas a ambientação na Índia e a influência cultural trazem uma leve diferenciada. O filme se posiciona entre os tradicionais longas de ação, mas com uma camada de profundidade que poderia ter sido mais explorada.

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Após anos de raiva reprimida, um lutador descobre uma maneira de se infiltrar no enclave da elite. Ele logo embarca em uma campanha explosiva de vingança para acertar as contas com os homens que tiraram tudo dele.

Fúria Primitiva é uma obra comum e formulaica, que não traz inovações e parece tímida ao abordar temas mais sérios que poderiam ser seu diferencial, como uma exploração mais profunda da religião hinduísta. Apesar de se alinhar a dezenas de filmes que contam histórias semelhantes, ele cumpre seu papel de entreter, sem se esforçar para ir além do que foi proposto.

Em sua estreia como diretor, Patel faz um bom trabalho, mas que permanece no básico. Ele não imprime uma assinatura própria que poderia diferenciá-lo de outros cineastas especialistas em ação, podendo ser facilmente substituído por diretores como David Leitch ou Chad Stahelski, sem grande impacto na qualidade final.

Por outro lado, a atuação de Patel é brilhante, como de costume. O ator, mais uma vez, prova ser um dos melhores de sua geração em Hollywood. Ele encarna perfeitamente um personagem furioso em busca de justiça, com olhares e gestos arrepiantes que convencem o espectador de que sua sede por vingança é genuína.

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Apesar de um começo arrastado e tedioso, Fúria Primitiva revela seu verdadeiro potencial à medida que a tensão aumenta e a ação se intensifica. Os últimos 50 minutos não apenas elevam o ritmo, mas também trazem uma mudança significativa na qualidade da narrativa, mantendo o espectador à beira do assento. É como se ele finalmente encontrasse sua identidade, revelando uma intensidade e urgência que estavam ausentes na primeira metade.

A violência apresentada não é gratuita; ela é uma extensão do personagem central, refletindo a brutalidade do mundo em que está inserido. Patel utiliza cenas de ação coreografadas com maestria, criando uma dança de caos e controle que é visualmente impressionante. Esses momentos são a alma do filme, oferecendo um espetáculo visual que contrasta com a história monótona.

Se a narrativa tivesse ousado mais, poderia ter elevado o filme a um patamar superior, mas, mesmo dentro de seus limites, Fúria Primitiva consegue se destacar, ainda que de forma modesta.

Monkey Man: Filme de ação de Dev Patel ganha data de estreia no Brasil | Chippu

Fúria Primitiva é um longa que se leva um pouco mais a sério do que as tradicionais obras de Sessão da Tarde, mas que poderia facilmente ser encaixado nesse mesmo contexto. Com cenas de ação de alta qualidade, que acabam sendo seu ponto forte, o filme não se destaca pela inovação, mesmo com um potencial latente para explorar algo diferente, com raízes indianas mais presentes. É uma escolha certeira para quem busca uma pausa em um dia monótono, oferecendo um entretenimento mediano sem exigir reflexões complexas.

NOTA: 3/5

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Serial-Nerd Séries

A Vida segundo O Urso

Tolice é acreditar que a vida será um devaneio de bênçãos, assim como é fútil concluir que a vida resultará exclusivamente em uma onda de maldições. A existência é um equilíbrio entre momentos bons e ruins, e devemos nos preparar para enfrentar tanto os ápices agradáveis quanto os desagradáveis ao longo de nossa jornada. O Urso é exatamente sobre isso: uma história crua e bela sobre o que é viver em meio às adversidades do cotidiano, enquanto coisas boas acontecem simultaneamente.

Produzida pela Disney através de sua subsidiária FX, à primeira vista, O Urso parece ser apenas mais uma série de alto padrão: boas atuações, direção coerente, roteiro de qualidade e uma história simples, mas cativante. No entanto, a obra vai além de qualquer atributo de perfeição, atingindo um patamar quase inalcançável de excelência.

The Bear” Is Overstuffed and Undercooked | The New Yorker

Carmen Berzatto (Jeremy Allen White) é um jovem chef que herda um restaurante e tenta transformar o lugar em um grande negócio. No entanto, Carmy enfrenta várias dificuldades e busca ajuda nos diversos funcionários para tentar melhorar e transformar o The Beef em um dos maiores e melhores restaurantes de Chicago. A trama explora como cada personagem lida com suas vidas pessoais enquanto tentam alavancar suas carreiras na indústria alimentícia. Além das ambições profissionais e a rotina estressante do restaurante, a relação de Carmy com a família é cheia de tensão, especialmente depois do suicído do irmão que impactou a todos. A produção discute comida, família e a rotina insana dos restaurantes. Carmy batalha para elevar seu estabelecimento e a si mesmo ao lado da equipe de cozinha carrancuda que aos poucos se transforma em uma nova família.

A obra captura com precisão a essência do que significa ser humano, com todas as suas falhas, esperanças e desesperos. Em cada cena, O Urso nos lembra que a vida é uma dança caótica entre o sucesso e o fracasso, onde a verdadeira força reside em nossa capacidade de continuar, mesmo quando tudo parece desmoronar. É nessa resiliência silenciosa, que o seriado encontra seu maior poder, revelando que, em meio ao caos, ainda existe beleza.

À medida que Carmy (Jeremy Allen White) lida com os desafios de assumir o restaurante de seu falecido irmão, somos convidados a refletir sobre nossos próprios dilemas e inseguranças.

O Urso não oferece respostas fáceis, mas sim uma jornada introspectiva que desafia o espectador a aceitar a imprevisibilidade da vida, compreendendo que a verdadeira riqueza da existência está nas pequenas vitórias cotidianas, muitas vezes invisíveis aos olhos desatentos.

The Bear GIFs | Tenor

Jeremy Allen White, como Carmy, encarna perfeitamente o que é ser uma pessoa constantemente preocupada e ansiosa, sempre à beira do colapso. Sua atuação é executada com maestria, transmitindo sentimentos reais e não meramente encenados. Ao assistir, é quase impossível não sentir que Jeremy está, de fato, sofrendo internamente, tamanha a autenticidade com que dá vida ao personagem.

Todavia, o que mais chama a atenção em Carmy é o fenômeno curioso da não aceitação inconsciente das coisas boas. Sua vida caótica, que começou em uma família disfuncional e se estendeu à sua carreira como chef e empresário, fez com que ele se acostumasse a viver no meio do caos e das adversidades. Quando algo bom finalmente acontece, como ser “presenteado” com um relacionamento genuíno, o personagem reage com estranheza à nova situação. Como defesa, devido aos traumas do passado, ele resiste aos momentos bons, lutando contra a felicidade que tanto parece desejar.

Esse contraste em Carmy reflete uma verdade profunda sobre a condição humana: a tendência de muitos de nós a rejeitar o que é bom por medo de perder ou não merecer. Jeremy Allen White capta essa dualidade com uma sutileza que transcende a tela, fazendo o espectador refletir sobre suas próprias resistências às consagrações da vida.

O desempenho de White em O Urso vai além da representação de um personagem; ela nos faz questionar como nossas próprias inseguranças e experiências passadas moldam a maneira como lidamos com as oportunidades que a vida nos oferece. É um retrato poderoso de como, muitas vezes, somos nossos maiores inimigos, impedindo-nos de abraçar plenamente as coisas boas quando elas finalmente nos alcançam.

The Bear season 3: release date, how to watch, cast and more - Mirror Online

Não é apenas de Carmy que se sustenta O Urso. O elenco de apoio é tão crucial quanto o protagonista, dividindo o peso da narrativa com o chef central.

Primo (Ebon Moss-Bachrach), Sydney (Ayo Edebiri) e os demais personagens e astros transmitem com precisão a luta interna de enfrentar as adversidades cotidianas, muitas vezes invisíveis ao olhar alheio. Cada um carrega seus próprios dilemas e anseios, travando batalhas quase que silenciosas fora das paredes caóticas do restaurante.

Esses personagens são tão bem construídos que se fundem à trama como uma verdadeira amálgama, tornando impossível imaginar uma história tão cativante sem a presença de cada um deles. Mesmo com substituições, a força da narrativa seria irremediavelmente enfraquecida.

O que torna O Urso verdadeiramente excepcional é a profundidade com que cada personagem é desenhado. Eles não são meros coadjuvantes; são representações das complexidades humanas, das lutas internas que todos enfrentamos em algum nível. O espectador se vê refletido neles, nas suas falhas e nas suas pequenas vitórias, o que reforça a conexão emocional com a série.

Assim, a série converte-se mais que uma simples narrativa sobre um restaurante ou a vida de um chef. É uma exploração cuidadosa da condição humana, onde cada personagem representa um aspecto diferente dessa jornada. O seriado nos lembra que, em meio ao caos, são as interações humanas e a luta silenciosa de cada um que realmente definem quem somos.

The Bear's Ebon Moss-Bachrach on Richie's Transformation & the Season Finale

Christopher Storer, showrunner e criador de O Urso, demonstra uma genialidade única ao criar uma série que transcende a categorização de comédias tradicionais. O que é entregue por ele para o público não é apenas uma comédia dramática, mas uma verdadeira obra-prima de trágica beleza, que reflete as nuances da vida com uma precisão quase desconcertante. Storer entende que a vida não é um espetáculo linear de risos ou lágrimas, mas uma mistura caótica de ambos, onde os momentos de humor e dor coexistem de forma interdependente. Ele captura essa essência ao construir um universo onde os personagens são forçados a enfrentar suas próprias falhas e inseguranças, enquanto navegam por uma realidade que oscila entre o cômico e o devastador. A habilidade de Storer em tecer uma narrativa que é ao mesmo tempo cruel e compassiva, sombria e luminosa, é o que torna O Urso uma experiência profundamente humana.

Em O Urso, a comédia não serve apenas como alívio cômico, mas como uma lente através da qual as tragédias da vida são vistas com uma clareza ainda mais dolorosa. Cada momento de humor é uma faca de dois gumes, revelando as camadas de dor e desesperança que permeiam na rotina dos personagens. 

Storer nos força a confrontar a verdade de que, por mais que tentemos planejar e controlar nossas vidas, estamos todos sujeitos as imprevisibilidades do superior. E é nessa incerteza que reside a verdadeira beleza da vida, algo que O Urso capta com uma precisão e uma profundidade que poucas séries conseguem alcançar.

The Bear GIFs | Tenor

Rasgando nossos sentimentos quase como uma faca afiada, O Urso é uma obra tão reflexiva que deixa o espectador imerso em pensamentos por dias a fio. O seriado dá um tapa na cara de quem assiste, oferecendo uma mensagem clara e contundente: “Seja maduro e aceite que a vida é uma montanha-russa, onde felicidade e tristeza se alternam constantemente.”

O Urso se destaca como uma joia na televisão moderna, combinando atuações impecáveis, uma narrativa envolvente e uma visão profunda e honesta sobre a vida. É uma série que não apenas entretém, mas também desafia, ressoando profundamente com o público ao explorar as complexidades da existência humana com uma excelência inigualável.

NOTA: 5/5

 

 

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Cinema Tela Quente

O Horror Profano de Longlegs: Vínculo Mortal que Intimida até o Terror de Shopping Center

O terror é o gênero cinematográfico que mais oferece liberdade criativa aos seus criadores, dado o número infinito de caminhos que os cineastas podem explorar ao contar uma história.

Longlegs: Vínculo Mortal exemplifica essa liberdade de maneira notável, entregando um horror profano que causa impacto até nos populares filmes de terror de shopping center. Esta obra mergulha no conceito do satanismo com um toque de realismo perturbador, mesmo ao incorporar elementos de fantasia, afastando-se da previsibilidade cansativa de grandes franquias como Invocação do Mal.

Nicolas Cage breaks down his 'androgynous' Longlegs role and using his mother as inspiration

Longlegs – Vínculo Mortal é dirigido pelo cineasta Oz Perkins. A narrativa segue a agente do FBI, Lee Harker (Maika Monroe), que é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer em uma cidade tranquila. À medida que Lee mergulha na investigação, ela descobre indícios perturbadores de práticas ocultas ligadas aos crimes, levando-a por um caminho sinuoso e perigoso. Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a numa corrida contra o tempo para evitar novas vítimas. Contudo, à medida que avança, percebe que algo sinistro a observa de perto, ameaçando não só o desfecho do caso, mas também sua própria segurança. Enquanto luta para desvendar a verdade por trás dos assassinatos, Harker se vê numa encruzilhada entre o dever profissional e os segredos sombrios que emergem, transformando sua investigação em uma batalha intensa entre a razão e o desconhecido.

Filho do icônico Anthony Perkins, eternizado como Norman Bates em Psicose, Oz Perkins vem deixando sua marca em Hollywood desde que dirigiu o aclamado O Último Capítulo. Conhecido por contar histórias assustadoras com uma abordagem crua e realista, Perkins desafia os clichês hollywoodianos ao trabalhar com a seguinte questão: “Como o ocultismo impactaria a vida de alguém, sem os exageros típicos de Hollywood?”

Em Longlegs: Vínculo Mortal, Perkins se mantém fiel a esse conceito, conduzindo com maestria uma trama que flerta com o drama, como fez em A Enviada do Mal. Contudo, a diferença nesta nova produção está em seu ritmo. Embora menos acelerado em comparação aos filmes de horror convencionais, Longelegs é mais ágil que os demais trabalhos de Perkins, mantendo o espectador em constante tensão. A cada cena, o diretor manipula o ritmo com sua direção arrepiante, alternando entre momentos de quietude inquietante e tomadas que preparam o terreno para o mal iminente.

Perkins demonstra um domínio notável sobre os elementos visuais, utilizando a iluminação e o design de som para criar uma atmosfera que não só conta a história, mas também a intensifica. As transições entre cenas mais lentas e momentos de puro terror são executadas com precisão, elevando a sensação de perigo constante que permeia o filme. Esse equilíbrio entre suspense psicológico e horror visceral faz de Longlegs uma experiência única e memorável.

Ao evitar os clichês do gênero e explorar a escuridão de forma sutil, Perkins entrega mais do que sustos baratos; ele convida o espectador a enfrentar o medo e a incerteza de maneira profunda.

Longlegs: Terror com Nicolas Cage promete ser o mais impactante do ano; Confira o trailer! | Cine Vibes

Longlegs: Vínculo Mortal não se destaca apenas pela história aterrorizante, mas também pela excelência das atuações, que são o verdadeiro ponto alto da produção.

Nicolas Cage está impressionante no papel-título, incorporando com maestria um serial killer ocultista com sérios distúrbios mentais. Seus trejeitos bizarros, em vez de tornarem o personagem caricato, contribuem para a construção de uma figura memorável e assustadora. A bizarrice e o exagero presentes na sua performance não resultam em um vilão cafona, mas sim em uma entidade tão apavorante quanto as aparições do “Homem Lá de Baixo”, que observa o telespectador e a protagonista nos momentos mais aterrorizantes do filme.

Maika Monroe, no papel da detetive Lee Harker, não fica atrás de Cage. Enquanto ele traz exagero ao interpretar Longlegs, Monroe atua com uma sutileza que transmite a timidez e o medo de sua personagem, moldando uma detetive desconfiada até de si mesma, mas determinada a colocar um fim no mal. O contraste entre essas duas personas resulta em uma interação profunda e caótica, deixando o espectador em dúvida sobre a possibilidade de uma mudança de lado por parte de Harker.

A trilha sonora também merece destaque. Composta por uma combinação de sons dissonantes e ritmos perturbadores, a música amplifica a atmosfera sombria e intensifica o impacto das cenas mais assustadoras. A sonoridade imersiva contribui para a experiência geral, adicionando uma camada extra de terror que se entrelaça perfeitamente com a narrativa visual e as performances intensas dos astros.

Longlegs: Vínculo Mortal é perturbador e incômodo — e isso é ótimo | Review

Infelizmente, Longlegs: Vínculo Mortal possui seus pontos baixos, embora isso não prejudique sua excelência geral. No entanto, é importante abordá-los.

Por ser um terror mais contemporâneo, o uso excessivo de jump scares acaba banalizando certos momentos. Inicialmente, Oz Perkins emprega essa técnica com inteligência, utilizando-a como um recurso que enriquece a trama e contribui para a tensão. Contudo, à medida que o filme avança, o cineasta parece perder a mão, utilizando os jump scares de forma mais gratuita e previsível, o que reduz o impacto que esses sustos poderiam ter em momentos críticos.

O plot twist, apesar de bem elaborado e com uma justificativa dramática e aterrorizante, é revelado de forma um tanto direta, sem o mistério e a construção que poderiam intensificar o impacto. Embora a revelação não seja ruim, sua entrega antecipada tira parte da surpresa e da profundidade que um mistério bem trabalhado poderia proporcionar. Em um filme com uma narrativa tão envolvente como Longelegs, um enigma mais sutil e desenvolvido teria elevado ainda mais a experiência.

Apesar dessas falhas, Longlegs: Vínculo Mortal continua a ser uma obra impressionante dentro do gênero, oferecendo uma experiência que, mesmo com suas imperfeições, mantém o espectador cativado e imerso em seu terror perturbador.

How to watch Longlegs – Is it streaming? - Dexerto

Em um cenário onde obras de horror frequentemente se tornam previsíveis e se baseiam em fórmulas desgastadas, Longlegs: Vínculo Mortal surge como um verdadeiro alívio para os aficionados do gênero. Eu não me lembrava da última vez que um longa do gênero conseguiu me causar um medo genuíno; mas essa produção conseguiu exatamente isso. Cada cena é carregada de uma tensão palpável que se intensifica de forma magistral, mantendo o espectador completamente imerso. O medo que ele provoca é visceral e autêntico, um ponto fora da curva em um mar de produções que muitas vezes preferem se apoiar em sustos fáceis e previsíveis.

O que realmente distingue Longlegs dos habituais “terror de shopping center”, é sua abordagem ousada. Enquanto muitos há longas-metragens que se contentam com efeitos superficiais e roteiros formulaicos, Vínculo Mortal se destaca pelo seu medo profundo e real por meio de uma estética que abraça o horror profano de maneira genuína. É uma produção que não apenas assusta, mas também desafia e inquieta, oferecendo uma experiência cinematográfica memorável que permanece depois dos créditos finais. Em suma, Longlegs: Vínculo Mortal é um exemplo brilhante de como o terror pode ser elevado a um patamar superior, misturando uma narrativa realista com uma atmosfera de arrepiar.

NOTA: 4/5

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Planeta dos Macacos: O Reinado | Quando o modesto se torna o maior e a lição cinematográfica para a própria Disney

Não há o que esconder: O Reinado consolida-se como o melhor filme da nova franquia Planeta dos Macacos, iniciada em 2011 com César, interpretado por Andy Serkis.

Não obstante, o longa-metragem, que chegou ao Disney+ na última sexta-feira (02/08/2024), demonstra à própria Disney que grandes obras cinematográficas não necessariamente emergem de vastas sagas, mas sim de produções relativamente “menores”. Afinal, permanece um mistério o motivo pelo qual a maior produtora do mundo trata seus maiores e mais lucrativos trunfos com desleixo, enquanto suas franquias de menor escala são lapidadas como diamantes.

Sci-fi Gifs — Kingdom of the Planet of the Apes (2024), dir. Wes...

Muitas sociedades de macacos cresceram desde que César conduziu seu povo a um oásis, enquanto os humanos foram reduzidos a sobreviver e se esconder nas sombras. Um líder macaco começa a escravizar outros grupos em busca de tecnologia humana, enquanto um jovem macaco, que testemunhou a captura de seu clã, embarca em uma jornada para encontrar a liberdade, sendo uma jovem humana a chave para essa conquista.

Planeta dos Macacos: O Reinado não apresenta uma narrativa original ou inovadora, utilizando uma fórmula comum frequentemente adotada pelos filmes hollywoodianos. Todavia, a relevância da trama reside em sua execução fluída, que cativa o espectador em uma sequência de emoções intensas.

Assim como nas demais edições de Planeta dos Macacos, O Reinado apela ao emocional com inteligência e consistência, através de diálogos redigidos de forma excepcional. A direção de Wes Ball conduz o universo do filme por meio de ações humanizadas e imaturas, fazendo com que os símios se assemelhem mais aos humanos, e os humanos, mais aos símios.

A crítica social presente, embora mais sutil em comparação com os filmes anteriores, revela-se ainda mais incisiva, evidenciando ao espectador a natureza do ser humano como intrinsecamente má e a nossa disposição para buscar poder, até mesmo escravizando nosso próprio povo.

Kingdom Of The Planet Of The Apes Review – 'These apes are still strong'

Os laços entre os personagens são explorados na medida certa, sem excessos. Dessa forma, os protagonistas interagem de maneira genuína e natural, criando uma relação espontânea e verdadeira que espelha a vida real.

Proximus César destaca-se como um vilão à parte. A forma como é inserido na história revela que Proximus é uma ameaça mesmo sem aparecer diretamente, tornando-se o melhor antagonista da saga. Sua postura, que o faz acreditar ser um discípulo de César, contribui para sua construção como adversário de Noa, conferindo-lhe um propósito que foge às razões convencionais de se tornar maligno.

Sci-fi Gifs — Kingdom of the Planet of the Apes (2024), dir. Wes...

Planeta dos Macacos: O Reinado é surpreendente. Simples, mas eficaz, a produção evita ser um entretenimento barato e se estabelece como uma obra cinematográfica que supera expectativas, oferecendo um verdadeiro espectáculo visual e sensorial para o espectador.

NOTA: 5/5