Anos após anos, Loki se consolidou no universo Marvel como um dos personagens mais amados do público, e sempre que fazia uma ponta, roubava a cena. Tom Hiddleston deu ao personagem um carisma e empatia única, e Kevin Feige percebeu isso, então fomos presenteados com uma série solo do deus da mentira. Mas, será que a série foi só mais um truque para enganar o telespectador?
Com tamanha expectativa para a série, o universo seguindo um caminho completamente novo e explorando a linha do tempo, multiverso e novos vilões, é impossível ficar inquieto com essa possibilidade de ver coisas extraordinárias, histórias, viagens em outras épocas! Porém, a direção e o roteiro deixam a desejar em uma escala estrondosa. O vazio dentro dos episódios de em média de 46 minutos, só mostram que houve uma tentativa de criar uma nova fórmula para às séries da editora, e isso é o que mais machuca e prejudica a obra como um todo.
Partimos com um começo fantástico, todo o descobrimento da AVT (TVA, no idioma original), ver o Loki descobrindo mais sobre seu futuro e ver múltiplas variantes e o perigo eminente de uma guerra multiversal é de deixar qualquer fã maluco. O seu início foi com o pé direito e sorrisos, mas logo em seu segundo episódio, ele desliza muito. Vemos um episódio que enrola muito em pontos que não há necessidade de criar suspense ou de focar por tanto tempo, e diálogos exaustivos e sem solução, até que, nos últimos cinco minutos de episódio, acontece alguma coisa que te prende e o episódio acaba. E isso nos leva até o episódio três, que foi o maior tombo possível.
O desenvolvimento do personagem é muito importante, com toda certeza é, esse é o motivo das séries da Marvel. WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal, todos desenvolvem seus personagens de formas incríveis, porém, Loki esquece que ele tem uma história a se comprometer. Com muita influência do clássico “Antes do Amanhecer”, ele busca criar uma relação de interesse amoroso ao protagonista, porém, isso vira um episódio extremamente cansativo e que, novamente, só consegue fazer alguma coisa nos cinco minutos finais. A história vira um figurante no momento mais crucial. A falta de harmonia entre a criação de desenvolvimento da personagem e da trama é algo que incomoda, pois é uma facada nas costas da série e no telespectador.
Já seu quarto episódio é quase esquecível, se não fosse (novamente) pelos minutos finais. Já focado mais em desenvolver a história, ele se perde no maior quesito da série: o vazio. Tudo que vem antes parece sem sentido, com muita falta de organização e coesão. Momentos que se repetem, e repetem, até chegar no minuto onde tudo começa a correr e acontecer, como se o roteirista não soubesse como escrever coisas para prender a atenção, e essa repetição de modelo escrito é entediante.
O quinto episódio é seu pináculo, aqui, foi extremamente bem pensado, a exploração da mitologia criada aqui, como isso interfere no mundo ao redor e em como essa história vai acabar. A interação e desenvolvimento dos personagens é algo feito com muito carinho e dedicação, como cada um se encaixa como um quebra cabeça e suas motivações, é fantástico. Também, aqui se tem uma das cenas mais épicas já feitas no MCU, e consegue cativar a querer o próximo episódio e o fim da primeira temporada.
O fim da temporada é decepcionante. Tem uma grande surpresa que foi a melhor parte disso tudo, e carregou o episódio nas costas, mas tirando isso, esse episódio é um grande vácuo em um roteiro que parece ter sido feito em 15 minutos. Cenas e diálogos que ficam se repetindo, as mesmas coisas acontecendo, e se não fosse pelo personagem apresentado aqui, tudo desmoronaria de forma horrenda. Seu final não fecha nenhuma ponta, apenas abre mais e mais, e termina com o clímax mais anticlimático possível. Quando finalmente começa a andar e realmente ficar interessante, sobe os créditos, e agora é ter que esperar mais uma leva de filmes e séries para se descobrir o que acontecerá, sendo que a série coloca o espectador no vazio.
Assim como WandaVision, a série tem medo de realmente ousar, de pensar, de usar o potencial que tem. Ao invés de criar e mostrar múltiplas variantes, deixar um final com um cliffhanger que não só os fãs de quadrinhos entenderão, e ir fundo em coisas espetaculares, eles cometem os mesmos erros dos filmes: Fórmulas. É cansativo assistir sabendo que gasta quase uma hora para nada acontecer, e quase todo episódio sendo assim, desgasta todas as tão grandes expectativas que foram criadas. A tão amada “Casa das ideias” que tem medo de sonhar, é trágico. Agents of S.H.I.E.L.D. explora o tempo de forma muito mais criativa e divertida que Loki, e realmente não tem medo de se explorar até seu limite.
Em sua questão técnica, aqui merece aplausos. Tirando sua direção e roteiro, as partes de fotografia, trilha-sonora, cenografia, efeitos especiais e atuações são magnificas, mas não ao ponto de salvar a série. Ver que agora a Marvel se importa com questões que eram deixadas completamente de lado em seus filmes é gratificante, pois faltava aquela beleza visual dos quadrinhos, que era substituído por um CGI que se fosse de videogame, seria considerado ultrapassado.
Loki é uma série que merecia mais carinho e atenção na sua história e criação, personagens tão carismáticos, histórias e pontos que poderiam ser abordados, todo um novo mundo, apenas comendo migalhas. As maiores críticas aos filmes do MCU é o uso exagerado de uma fórmula cansativa e previsível, e isso é algo que estão tentando recriar em suas séries. Isso destruiu a primeira temporada, e criou um remédio para insônia. Enquanto eles se confortam em uma cadeira, e os fãs aceitarem mais dessas minúsculas migalhas, o gênero de heróis se desgastará mais e mais, e citando Blade Runner, sumirá como lágrimas na chuva.
Nota: 2/5 – Bronze