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Resenha | Os Últimos Dias de Krypton

Escrito por Gabriel Faria

Como um livro com um final conhecido há mais de 75 anos pode surpreender um leitor? Escrito por Kevin J. Anderson (conhecido por outras obras de ficção-científica ou relacionadas a quadrinhos), ‘Os Últimos Dias de Krypton‘, publicado no exterior em 2007, dá uma excelente profundidade à mitologia do Superman além de abordar outros aspectos do universo da DC Comics de forma sutil e inesperada até mesmo para os fãs mais assíduos do Homem de Aço. [Sem spoilers para quem conhece um pouco dos quadrinhos].

Planeta condenado. Cientistas desesperados. Última esperança. Casal bondoso. A história de Kal-El, o Superman, é tão conhecida e disseminada na cultura pop que com pouquíssimas palavras é possível resumi-la e quase todos os leitores saberão do que se trata. Apesar dos quadrinhos e filmes do maior herói de todos os tempos mostrarem algo de Krypton em suas muitas versões (principalmente os quadrinhos), a proposta do livro publicado no Brasil pela editora LeYa sob o selo Fantasy é contar detalhadamente e reinventar o que aconteceu antes da origem do herói, narrando a história da vida de seus pais e os acontecimentos que culminaram na destruição da sociedade kryptoniana.

Capa da versão brasileira do livro.

A bagagem que Kevin J. Anderson traz de suas outras obras de ficção-científica (que incluem os prelúdios e spin-offs do clássico Duna) é notada em poucas páginas. O autor possui uma narrativa fluida, rápida e de fácil entendimento, onde todas as cenas e diálogos são escritos de perfeita maneira. Além disso, um dos pontos-chave do livro são os personagens fortes também conhecidos pelos fãs de quadrinhos, como Jor-El, Lara, Zod, Zor-El, Alura e outros.

O livro começa com Jor-El, cientista filho de uma grande figura de Krypton, sendo sugado para uma dimensão paralela e vazia que ele acaba de descobrir. Lara, artista iniciante e filha de grandes artistas, estava trabalhando na residência do cientista e acaba salvando o desastrado Jor-El desta Zona Fantasma. Este é o primeiro encontro de um dos casais mais icônicos da mitologia da DC, e toda a história é narrada a partir daí.

Claramente os protagonistas desta história são Jor-El e Dru-Zod. O primeiro possui uma relação direta com Zod, nesta época ainda Comissário de Aceitação de Tecnologias. O autor situa muito bem a personalidade do Comissário desde as primeiras páginas. Ele é ambicioso, insatisfeito com seu atual posto de serviço e aspira mais do que o conservador Conselho de Krypton pode lhe dar, tornando o personagem um vilão ambíguo que passa por cima de qualquer um para obter o que deseja.

Apesar do ponto alto do livro ser o desenvolvimento dos personagens citados, elementos essenciais da história do planeta também são contados. O que fez com que ele explodisse? Quem estava e quem não estava preocupado com a destruição iminente? Quais foram os primeiros sinais de que o planeta estava condenado, quem estudava estes sinais e quais cidades (como Argo City, Borga City, Kandor e Xan City) foram afetadas? E, claro, toda a batalha ideológica entre os kryptonianos que querem explorar o universo e os membros conservadores do Conselho é contada com altos e baixos narrativos que prendem a atenção de qualquer leitor.

A grande capital de Krypton, Kandor.

A Krypton deste livro parece ter servido de inspiração para o que vimos no filme O Homem de Aço, de 2013. A sociedade séria e receosa, um planeta que contém fauna e flora próprias (incluindo os h’raka, raça de animais voadores) e debates acerca do conservadorismo kryptoniano foram muito explorados nos primeiros minutos do filme. Todos estes elementos tornam a leitura ainda mais prazerosa visto que é possível criar imagens mentais da narrativa facilmente.

Mas o livro não para por aí. Mesmo situada no presente a história nos dá detalhes acerca do passado do planeta, como as tiranias de Jax-Ur que levaram o Conselho a se tornar tão amedrontado. E situando o passado o autor também toma a liberdade para falar de fatos conhecidos pelos fãs de quadrinhos, como o engarrafamento da capital Kandor, realizado por um ser que recebeu o nome Brainiac. Esta tragédia permite que Zod tenha a liberdade que sempre desejou para alcançar seus objetivos, e temos aí um dos pontos altos do livro, que é a ascenção de Zod ao poder e no que tudo isso culminará, já que Jor-El e seu irmão Zor-El (outra relação muito bem explorada), estão se esforçando desde o começo para tentar salvar os habitantes do planeta.

Por mais que o desfecho desta história já seja conhecido, ‘Os Últimos Dias de Krypton‘ funciona perfeitamente como um prelúdio de tudo que já conhecemos graças aos quadrinhos. Até mesmo outro herói da DC faz uma breve aparição, em um momento surpreendente que acaba se tornando importante para a narrativa. E a forma como tudo é contado, com tantos personagens interessantes e momentos icônicos, é o que torna tão boa esta história-spoiler.

O livro possui 464 páginas e foi publicado no Brasil em 2013 pelo selo Fantasy Casa da Palavra, sendo uma leitura essencial para qualquer fã do Homem de Aço e da mitologia da DC Comics.

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.