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Quando a caçadora se torna a caça | REVIEW Metroid Dread

Em 1994 a Nintendo lançava o aclamadíssimo Super Metroid, terceiro título da franquia Metroid, iniciada no NES em 1986, e trazia um contraste explícito com os outros títulos da empresa. Ao passo que Mario e cia. sempre apresentavam temas leves, músicas felizes e muitas cores aqui as cores eram mortas, a atmosfera sombria e misteriosa com direito a trilha sonora de dar medo nos mais novinhos.

A narrativa, com direito a momentos cinematográficos, casava harmonicamente com momentos de ação, exploração, mistério e principalmente solidão.

Na pele da caçadora de recompensas Samus Aran, você estava totalmente sozinho em um ambiente extremamente hostil, em um engenhoso labirinto vertical, e só você poderia escapar daquela situação obtendo upgrades e voltando em áreas que antes eram inacessíveis (o famoso backtracking) de modo que o jogo, aos poucos, fosse se abrindo mais e mais ao jogador.

Ao final, depois de muito sufoco, você se sentia recompensado controlando uma Samus mais poderosa e capaz de abrir atalhos e caminhos que não eram imagináveis no começo da jornada.

O jogo contou com uma sequência direta lançada em 2002 para Game Boy Advance chamada Metroid Fusion e desde então não houve continuação direta.

Neste meio tempo, Metroid ganhou uma brilhante reformulação para primeira pessoa na trilogia Metroid Prime, que contava eventos anteriores ao terceiro jogo e ganhou remakes no estilo clássico side-scrolling do primeiro e segundo jogos, respectivamente chamados de Metroid Zero Mission (GBA) e Metroid Samus Returns (3DS).

Este último, lançado em 2017 para o Nintendo 3DS, contou com o diretor da obra original e a equipe da MercurySteam e foi o pontapé mais importante para que Metroid Dread visse a luz do dia.

Após o sucesso, a Nintendo, agora aliada à MercurySteam, reviveu os planos do projeto lendário de mesmo nome.

– Sim, Metroid Dread foi inicialmente projetado para o Nintendo DS, em 2006, com nome vazado e teria sido cancelado supostamente após resultados tidos como insatisfatórios com a tecnologia da época ficando apenas como “rumor” na comunidade e mídias especializadas da época.

Com direito a uma bem vinda retrospectiva dos jogos anteriores o jogo começa com uma cutscene contando de maneira resumida e direta os eventos com gráficos modernos e reformulados.

Seguindo diretamente os acontecimentos de Metroid Fusion, Samus Aran é chamada ao planeta ZDR, onde supostamente uma amostra do perigoso parasita X, que teria sido exterminado pela própria Samus na aventura anterior, foi encontrado à paisana neste misterioso planeta. Samus é sinalizada pela Federação Galáctica e vai de encontro a esta poderosa suposta reminiscência de ameaça biológica.

Já no início, com a Samus deitada no chão, temos ciência de que algo aconteceu neste curto espaço de tempo, e que, com alguns flashes, percebemos que Samus foi atacada ao entrar no planeta, sua nave não estava mais ao seu alcance e algo de estranho havia ocorrido com ela mesma.

A jogabilidade é bem fluida e, como em toda aventura, Samus precisa reaver suas habilidades e poderes através da exploração e enfrentamento de chefões começando apenas com seu tiro simples, o parry introduzido em Samus Returns e uma nova rasteira, possibilitando que ela alcance lugares apertados e mudando um pouco a fórmula clássica dos jogos anteriores.

Se nos títulos anteriores a famosa Morphing Ball, que faz com que a protagonista se transforme em uma bola para acessar áreas estreitas, seja um dos primeiríssimos power-ups adquiridos, aqui, com a introdução da rasteira, este item só ficará disponível mais tarde no game, trazendo um estranhamento, mas ao mesmo tempo um frescor ao ritmo do jogo e dificultando um pouco mais a vida do jogador.

Falando em dificuldade e mudança de ritmo temos também os “verdadeiros protagonistas” do jogo, os letais e ágeis robôs de pesquisa E.M.M.I., que patrulham áreas específicas e dão um constante medo ao jogador, que tem que se esconder e contornar confrontos já que essas belezinhas possuem o poder de matar a Samus com um hit.

As suas áreas de patrulha, no entanto, são bastante delimitadas, e não frustram o fator de exploração do jogo. Para derrotar o E.M.M.I. de cada área você precisará do Omega Canon, um upgrade temporário e poderoso que só é obtido após derrotar a unidade central responsável por aquela área de patrulha e que fica imediatamente inabilitado após a destruição de um E.M.M.I.

As perseguições e batalhas contra os E.M.M.I. são eletrizantes e satisfatórias, nestes momentos, inclusive, é onde fica perceptível como o jogo consegue transitar bem entre o side-scrolling e o 3D em terceira pessoa, mesmo que por apenas ângulos de visão quando você está apontando o omega cannon.

Assim como nos títulos anteriores o planeta é dividido em áreas, e estas áreas possuem um próprio mapa a ser preenchido, seja pela exploração, seja pelos mapas adquiridos nas Map Rooms, onde agora é possível salvar o jogo.

O mapa agora é mais amigável, mostrando de amarelo as salas onde são possíveis salvar o jogo, vermelhas para áreas com alta temperatura e azul escuro para áreas com baixa temperatura. Se há algum item pra trás, em uma área que você já explorou, a área ficará piscando no mapa, mas não indicará exatamente em qual parte do quadrante brilhante o item se encontra para não prejudicar a exploração. Há também o registro de porcentagem de itens por área, que é uma implementação de qualidade de vida muito útil para aqueles que, assim como, são maníacos pelos 100%

Cada área tem o seu bioma e inimigos característicos mas, confesso, em comparação com os títulos anteriores, não achei tão marcantes as diferenças entre as áreas pois quase todas compartilham de certas regiões com alta e baixa temperaturas, áreas background robótico/tecnológico e até mesmo as músicas, que são excelentes, não são instantaneamente memoráveis como no resto da série.

Em Super Metroid e Metroid Fusion, por exemplo, era mais evidente as diferenças entre regiões e setores, possibilitando-se adivinhar fácil em qual lugar você estava. A transição entre regiões como Crateria, Brinstar, Maridia e Tourian, ou entre os setores 1, 2, 3 e 4 eram visualmente muito mais perceptíveis pelas diferenças explícitas entre suas paletas de cores, fundo e música.

Isto não significa que Metroid Dread seja feio, longe disso, a direção de arte mais acerta do que erra e talvez tenhamos aqui biomas até mais verossímeis e complexos, não tão heterogêneos e com fundos que contam um pouco mais sobre aquele lugar.

Além dos teletransportes trazidos por Metroid Samus Returns as áreas são conectadas por elevadores e bondes, todos com cenas de loading bem disfarçadas através das lindas cutscenes de transição de imagem para cada mecanismo utilizado.

Os chefes, sem dúvida nenhuma, já não perdem nada em carisma e level design pros bosses da série. Eles até elevam e homenagem alguns já conhecidos. Bem desafiadores, os bosses espalhados pelo jogo lhe farão repensar estratégias, tentar múltiplas vezes, morrer, mudar sua estratégia e, principalmente, memorizar os movesets de cada um. A ambientação de cada batalhe contra chefões, a trilha sonora, e a diversidade movimentos e estratégias são uma verdadeira aula de dificuldade por level design.

A única coisa que eu ressaltaria nas batalhas contra chefes é como a obrigatoriedade do parry em determinadas situações davam uma sensação mais próxima de um quicktime event, já que, em algumas lutas, o acerto do timming do pareamento seja necessário para conseguir matar ou avançar para sua próxima fase caso você erre, e isso dá a impressão que o dano causado não está sendo levado em conta.

Em contrapartida, este caráter não é absoluto sendo que há chefões onde a janela de parry apenas te presenteie com mais oportunidade de causar mais dano, e, quando obrigatório, esta janela se torna mais frequente caso você tenha causado um dano considerável, então não se preocupe.

Outra coisa importante, é que, mesmo com poucos diálogos os mesmos se encontram dublados, com voz até para o computador ADAM, trazido no Fusion, e que tem este nome em homenagem ao antigo comandante da Samus quando a mesma integrava o exército da Federação Galáctica.

Suas salas também se tornaram oportunidade de salvar o jogo e além de por o jogador mais a par do que está acontecendo ADAM dá algumas instruções e insights que podem facilitar a dedução do seu próximo objetivo já que o jogo não o sinalizará no mapa.

Outra coisa que é importante ressaltar, o jogo possui momentos com salvamento automático, então nem sempre que morrer você será punido, sendo levado de volta à última sala de salvamento.

Há a presença de power ups velhos conhecidos como as armaduras Varia Suit (para calores extremos) e Gravity Suit (para andar na água e em frios extremos, como adaptações de poderes como, por exemplo, o Spider Magnet, que te permite grudar em determinadas paredes mas não em forma de bola como na antiga  Spider Ball.

No geral, tanto os poderes já conhecidos como sempre foram, tanto as adaptações de antigos junto aos novos formam uma gama muito gostosa de opções de exploração. A cada power up obtido mais fácil se torna transitar entre salas e mais gostoso acessar e buscar por áreas ainda não vistas ou escondidas.

A história, para não dar spoilers, talvez seja tão polêmica e corajosa que divida a base de fãs, enquanto algumas teorias acabaram se confirmando ainda há bastante pergunta deixada sem resposta e com lacunas imensas para o deleite dos fóruns de especulação da internet.

Explorando bem (e morrendo bastante, bem como ficando perdido na exploração) alcancei 15 horas de jogo quando zerei o game e vi que ainda tinha pego somente 40% dos itens do jogo. Além da deliciosa exploração final pelos 100% dos itens ainda ocorre a habilitação do hard mode para aqueles que já finalizaram a campanha do jogo aumentando consideravelmente o fator replay. E provavelmente aumentando de maneira relevante a duração do jogo já que, sendo bem sincero, não é um jogo fácil nem em seu modo normal. Não se deixe frustrar por algumas mortes, muitas ainda virão e faz parte da experiência. Metroid Dread é difícil mas deliciosamente recompensador.

Em sua imensa maioria de vezes dá pra dizer que o jogo é bem justo e recompensa e até ajuda o jogador na medida certa.

Em questão de performance o jogo fica na maior parte do tempo a 60FPS com eventuais quedas de frames que não chegam a prejudicar a imersão da experiência.

Apesar dos minúsculos tropeços, Metroid Dread alça vôos muito maiores que os detalhes que não afetam em nada a diversão e oferecem uma jornada a altura dos Metroid Clássicos, com direito a plot twist de cair o queixo e um final nada previsível e surpreende de maneira positiva ao invés de frustrar.

NOTA: 5/5 (Diamante)

Metroid Dread é exclusivo de Nintendo Switch e foi lançado no dia 08 de outubro para a plataforma.

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Sobre o Autor

Luiz Cláudio Chaves Andrade

Advogado durante o horário comercial, gamer apaixonado nas demais horas do dia e invisível durante os finais de semana.

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