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Primeiras Impressões | Qualidea Code

Escrito por Vini Leonardi

Psst. Ei. É, você mesmo. Vem cá, deixa eu te contar um segredo: Sabia que Japonês é um povo estranho? Hein? Como assim todo mundo sabe disso? De qualquer maneira, aconchegue-se e venha ler o mais novo Primeiras Impressões. Depois de paradoxos quânticos do Jailson Mendes e garotas sexistas e superficiais, podemos ir para frases de bandeira, que tal? Uma vez um amigo meu me disse que frase de bandeira é sempre algo que nós fingimos que temos, mas na realidade é o que mais precisamos (vide: Ordem e Progresso). Quer uma frase de bandeira maior do que algo próximo de “Qualidade” no nome desse anime?

A reação mais normal que qualquer pessoa poderia ter, ao assistir isso (além de falar mal da péssima animação, mas que já comento sobre), é ficar mais perdida que garota inocente na hora de levar madeirada. Eu não me perdi muito, já que fiz minhas pesquisas antes de começar, mas um ser humano médio ficaria atordoado com o que viu.

Vou passar rapidamente sobre os resultados de minhas pesquisas. Se quiser ir mais a fundo, você pode ler o mesmo post que eu li, no blog do Frog-kun (em inglês, infelizmente). Basicamente, a série “Qualidea” é uma cooperação de três autores de Light Novels relativamente famosas: Tachibana Koushi, autor de Date a Live, uma série que eu gosto bastante; Sou Sagara, autor de Hentai Ouji to Warawanai Neko, ou Henneko para abreviar; e Watari Wataru, autor de Oregairu (essa eu nem ouso escrever o nome completo). Juntos, eles tiveram essa ideia depois de beber até falar mole (é sério), e decidiram botar em prática.

Cada escritor toma conta de uma das escolas da trama: Koushi da escola de Kanagawa (a escola das espadas), Sagara da escola de Tóquio (a escola dos magos), e Wataru, da escola de Chiba (a das arminhas). Tendo em vista que o projeto ainda é novo, há pouco material disponível, mas o plano é de que cada escola possua suas histórias independentes, contadas em Light Novels separadas. A história do anime é um “roteiro original”, escrito em conjunto pelos três.

Os três autores da obra em seu habitat natural (é sério, são eles mesmo).

Os três autores da obra em seu habitat natural (é sério, são eles mesmo).

Isso significa que você precisa ter lido as outras trocentas obras para entender o que está dançando na sua tela? Não exatamente. Basta você entender que o show não é um universo fechado, mas sim uma peça de um quebra-cabeça maior. Ainda não tenho uma bola de cristal, mas acredito fortemente que a obra será auto-suficiente o bastante para poder ser aproveitada sozinha. Para questões não resolvidas e desentendimentos de história, só podemos dar tempo ao tempo.

Falando na história… Caras, não dá. Quando eu criei o gênero “Harém Escolar Mágico Genérico” alguns anos atrás, eu não imaginava que o último adjetivo viria a ser o mais importante e o mais relevante. Tá certo que o que faz sucesso tende a ser copiado, e que algo só se torna ‘clichê’ porque foi tão bem recebido que começou a ser utilizado em demasia… Mas nossa, é demais, caras… Não tem nada que eu não tenha visto em Qualidea Code. Tudo que está presente e todos os aspectos envolvidos são genéricos e você encontra, quase que na íntegra, em outros 49 shows semelhantes.

Cutucando a ferida, falemos da tal animação. O estúdio responsável, a A-1 Pictures (também conhecido na comunidade tóxica de animes como “McDonalds”. Longa história…) está claramente com as mãos cheias demais. Com uma pesquisa rápida, pude ver que Qualidea Code é o TERCEIRO show que eles estão fazendo ao mesmo tempo. Digo terceiro pois os outros dois (B-Project: Kodou Ambitious e a adaptação de Phoenix Wright) são lançados antes dele.

Antes que me joguem pedras ou peguem os tridentes e as tochas, já adianto que não sou especialista em animação ou expert no trabalho de estúdios, mas consigo muito bem imaginar que a culpa da arte HORRENDA de Qualidea se dá, além do baixo investimento, pela sobrecarga dos responsáveis.

Uma dessas prints é de Qualidea Code, a outra é de uma obra de 2001. Consegue descobrir qual é qual?

A A-1 Pictures normalmente não é associada a boas animações, embora possa tirar alguns bons resultados vez ou outra. Mas quando o assunto são animes atuais, nós sempre esperamos um nível MÍNIMO de qualidade. Se você mostrar o primeiro episódio de Qualidea para alguém que conhece o meio, mas está por fora dos lançamentos atuais, uma reação muito plausível seria a pessoa achar que o show foi produzido em meados dos anos 2000. E que me perdoem Haruhi, Cowboy Bebop e Sakura Card Captors, que tem uma animação muito superior, mesmo sendo dos anos 2000.

Você percebe que não é simples falta de capacidade, ao assistir a abertura: a animação lá é boa. Não chega a ser maravilhosa, mas é um nível aceitável. A primeira coisa que passou pela minha cabeça, ao vê-la, foi: “Essa qualidade deveria ser o padrão DO EPISÓDIO, e não da abertura”. É uma pena, já que o show poderia ser muito mais aproveitável (menos insuportável).

Já que toquei no assunto musical, a direção sonora é, com certeza, um dos pontos positivos do show. Talvez o único indivíduo que tenha feito um trabalho decente em todo o elenco seja o senhor Taku Iwasaki. Suas grandes participações incluem Ben-to, Tengen Toppa Gurren Lagann, Soul Eater e a Parte 2 de JoJo. Com um currículo desses, é de se imaginar que a BGM seja, no mínimo, satisfatória de se ouvir. Além das músicas de fundo, as músicas-tema da abertura e encerramento foram muito bem produzidas, sendo cantadas por dois grandes nomes da cultura recente, LiSA e ClariS, respectivamente. Poderia até ser maldoso e dizer que gastaram o orçamento inteiro do anime só na contratação das cantoras, e depois tiveram que animá-lo com os vales-refeição.

Outro ponto que podemos dizer ser algo positivo, são os personagens. Desde seus designs (nem tão) marcantes, até suas habilidades (nem tão) especiais e suas personalidades (nem tão) bem definidas.

Na aparência, temos quatro garotas com características que, embora facilmente encaixáveis em “esteriótipos”, não são tão óbvias quanto as que vimos em New Game! (tirando a loirinha, ela é estereotipada demais, meu deus do céu. Mas ainda é linda melhor garota 10/10). Temos também dois garotos que… Bem… São garotos, então quem liga pra aparência deles? Apesar que devo dizer que a armadura mágica (ou seja lá o que for aquilo) no braço do Líder de Tóquio é até que bem estilosa.

Já as habilidades… Como comentei algumas vezes, já vi iguais em outros shows. Não são muito criativas, nem fogem do básico. Talvez a única inovação, seja a enorme possibilidade de piadas com JoJo, por conta de tais poderes serem chamados de “Worlds“.

Por fim, as personalidades são, sim, bem definidas. Tendo em vista que isso não é algo que se pode ter um espectro enorme, até que foram escolhidas sabiamente. Chega a ser engraçado, pois com um pouco de conhecimento sobre os três autores, fica muito fácil de descobrir quem criou cada personagem, só por suas personalidades.

Resumindo tudo, então: três caras beberam demais e criaram mais um harém escolar mágico genérico de baixo orçamento, mas com uma música bacana, e que poderia ser viável, se não parecesse ter sido criado nos anos 2000. Difícil dar mais que 4/10 para essa estréia, e resta torcer para que façam um make-over total nos Blurays, como aconteceu com Mekakucity Actors (todos podemos sonhar, não é?).

A série pode ser assistida legalmente na Crunchyroll, com episódios novos todos os sábados.

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Sobre o Autor

Vini Leonardi

Cavaquinho na roda de pagode da Torre. Químico de formação, blogueirinho por diversão e piadista de vocação. "Acredito que animês são a mídia perfeita para a comédia, e qualquer tentativa de fazer um show sério é um sacrilégio", respondeu ao ser questionado sobre o motivo de nunca ter visto Evangelion.