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Papo de Saloon | Tex: A Volta de Mefisto

Escrito por Gabriel Faria

Mefisto, criado por Gian Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini, sempre foi o principal antagonista do ranger Tex Willer. Um mago ilusionista poderosíssimo, Steve Dickart (nome real do vilão) enfrentou Tex e seus pards algumas vezes ao longo das décadas, e suas aparições nos quadrinhos da editora italiana Bonelli sempre foram eventos grandiosos.

O personagem rapidamente se caracterizou como a antítese do herói, e a cada retorno suas ações se tornaram mais e mais diabólicas. Em 1983, entretanto, a última desventura do vilão foi contada pelas mãos de seus criadores, que deram um fim à sua vida, e ali estava marcado (pelo menos por enquanto) o encerramento da história desta vil criatura. No mesmo ano, Gian Luigi parece ter esboçado uma história que marcaria o retorno de Mefisto, e esta só foi publicada quase vinte anos depois. Hoje, no Papo de Saloon, falaremos sobre Tex: A Volta de Mefisto.

A Volta de Mefisto foi publicada na Itália em 2002. Os autores escolhidos em 1996 para continuarem os esboços inicias de G. L. foram dois nomes característicos de Tex, peritos no personagem que vinham trabalhando no mesmo há alguns anos: Claudio Nizzi e Claudio Villa. Ainda em 1996, a história começa a ser escrita e desenhada, porém longos atrasos fizeram com que ela fosse publicada somente após a virada do século. E com grande expectativa, esta história atingiu as bancas italianas, chegou ao Brasil em 2004 e retornou recentemente em uma edição de luxo da editora Mythos, totalmente colorida!

Esta aventura de cerca de 360 páginas, apesar de trazer de volta um personagem clássico, pode ser lida por novatos no mundo de Tex. Tem início com a irmã de Mefisto, Lily Dickart, tendo ideias de ressuscitar o irmão através do uso dos poderes de um mago indiano. Visando fixar a alma do vilão de volta em um corpo físico, Lily e seu marido milionário seguem suas jornadas enquanto Tex, na aldeia navajo, recebe uma mensagem de mau agouro vinda do vidente e ancião da aldeia, Nuvem Vermelha. Descrente, Tex passa a encarar uma série de acontecimentos bizarros ao mesmo tempo que realiza uma missão da Agência Pinkerton, e o embate com Mefisto aparenta estar cada vez mais próximo.

Claudio Nizzi, o roteirista, segue uma fórmula característica de boa parte de suas histórias: divide os pards em dois núcleos, sendo um composto por Tex e Carson, e outro por Jack e Kit. Eventualmente, os caminhos dos quatro heróis se cruzam, e a reta final tem início. Nizzi, herdando aqui as principais ideias dos esboços de G. L. Bonelli, produz uma história bem amarrada com muito ocultismo, assassinatos e magia negra, e abusa (no melhor sentido possível) dos clichês das histórias “mágicas” do Tex, mas sem deixar de lado a característica investigativa de crimes aparentemente mais simples e palpáveis, quando algumas diligências passam a ser misteriosamente atacadas.

Nizzi também consegue dar vozes específicas para cada um dos personagens desta história. Seu Mefisto, por exemplo, é de extrema fidelidade ao clássico, em seus discursos e atitudes. Os personagens criados para o retorno do vilão, como o Major e o marido de Lily, também desempenham seus papéis de forma interessante e condizente com suas personalidades apresentadas desde o início da história. E outro mérito gigantesco é a arte de Claudio Villa.

Villa, então capista de Tex, também estava envolvido com diferentes projetos e demorou anos para entregar suas páginas finalizadas. Considerado sucessor espiritual de Galep por tentar reproduzir seu estilo (e não dever em nada à memória do grande autor), muitos fãs consideram seu Mefisto tão bom quanto o original, e os elogios não são exagerados. A narrativa de Villa é ágil, e sua arte é limpa e muito cinematográfica, fazendo com que seus personagens possuam feições muito realísticas. E apesar das cores da Sergio Bonelli Editore não possuírem muito apreço de parte dos fãs, elas complementam bem os desenhos deste arco, dando um tom ainda mais real para cada quadro.

O desenrolar da trama, que se dá ao longo de suas mais de 300 páginas, possui um ritmo bem cadenciado e não cansa o leitor em momento algum. Como o retorno do vilão é muito bem estruturado desde o início, firmadas as bases da história, resta ao leitor a curiosidade de saber onde tudo isso vai dar. Os momentos finais, de extrema tensão mental, tiram o fôlego enquanto tudo parece estar perdido. E de forma criativa e inusitada, Nizzi e Villa finalizam o retorno de Mefisto em grande estilo, com um gostinho de quero mais.

A edição de luxo da Mythos, em capa dura e formato italiano (21 x 16 cm), possui acabamento primoroso e textos editoriais interessantes que situam o leitor ao longo de toda a cronologia que levou a publicação d’A Volta de Mefisto, além de mostrar claramente a importância desta história para a Sergio Bonelli Editore. O papel utilizado é o offset, que não deixa as cores brilhantes (tornando-as mais opacas), dando um ar de aventura clássica para cada página.

Resta saber se a editora pretende dar continuidade a este formato, lançando uma nova coleção do ranger mais querido dos quadrinhos, com mais aventuras importantes para a cronologia do personagem e, quem sabe, republicando alguns clássicos em cores. Caso venha a acontecer, o Papo de Saloon definitivamente será um espaço da internet para comentar tais lançamentos!

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Sobre o Autor

Gabriel Faria

Assistente Editorial, apaixonado por quadrinhos, redator da Torre de Vigilância, criador do blog 2000 AD Brasil e otaku mangazeiro nas horas vagas.