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Pacificador: Da mente criativa de James Gunn

Escrito por Guilherme Marconi

Após o estrondoso fracasso de Esquadrão Suicida (2016) e a redenção do soft-reboot, pelas mãos de James Gunn, com O Esquadrão Suicida (2021), muito se questionava sobre a série do Pacificador. Afinal: “quem precisa de uma série de um personagem B?” É aí que somos supreendidos.

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(Fonte: HBO/Divulgação)

Após os eventos de O Esquadrão Suicida, o Pacificador se vê em uma cama de hospital, se recuperando dos ferimentos de sua luta contra o Sanguinário (Idris Elba). Ainda corroído pela culpa de suas escolhas, ele é chamado para mais uma missão, a mando de Amanda Waller (Viola Davis), para impedir uma invasão alienígena. A trama se desenrola a partir daí. As “borboletas”, esses pequenos seres invasores de corpos de outro planeta, foram criados por James Gunn, exclusivamente para a série.

Trazendo uma abordagem mais cômica e leve do personagem, apresentado pela primeira vez em Fightin’ 5 #40 (1966), Pacificador é uma sátira ao próprio universo dos personagens de quadrinhos, e que não tem medo de soar brega, com collants coloridos e discursos clichês.

Na série, não faltam referências ao universo DC, tanto dos quadrinhos quanto do seu próprio Universo Cinematográfico. Como fã da editora, fiquei muito satisfeito em captar quase todas as referências. Um prato cheio para quem já é inserido a este mundo, mas que se apresenta muito bem aos entusiastas de primeira viagem.

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O humor de James Gunn já é conhecido: ácido, cafona e com pitadas de humor politicamente incorreto. Mas, na série, você nota uma maior liberdade criativa, tanto no tom satírico da série quanto na violência gráfica. Esqueça as porradas fofas, aqui, Gunn nos entrega entranhas, tripas e cérebros voando entre as piadas.

Outro destaque fica por conta dos personagens secundários, como o Vigilante (Freddie Stroma), que por muitas vezes rouba a cena. Na versão original oitentista dos quadrinhos, o promotor Adrian Chase, o Vigilante, se torna uma espécie de Justiceiro da DC, quando teve sua família assassinada brutalmente pela Máfia. Ele decide agir, quando vê o sistema judiciário falhar em punir os responsáveis. É interessante notar, a releitura que Gunn fez no personagem, o tornando muito mais interessante e carismático. A química entre ele (Vigilante) e o Pacificador é incrível. Eu não me surpreenderia se o personagem ganhasse um spin-off só dele no futuro.

(Fonte: HBO/Divulgação)

Ainda falando em carisma, a águia Eagly tem seus momentos de destaque, mesmo sendo quase sempre em computação gráfica, é impossível não se apegar ao penoso.

Uma grata surpresa, foi notar que a série não se prende apenas a referências e humor, mas explora o lado emocional dos personagens, como do próprio protagonista. John Cena consegue entregar takes muito emocionantes. Mesmo caricátos, você se compadece de sua dor e traumas por muitas vezes. O cena abaixo, foi o ápice neste quesito, ligando conversas do primeiro episódio. Foi de uma sensibilidade incrível.

(Fonte: HBO/Divulgação)

A série também se esbalda com uma trilha hard rock farofa dos anos 80. Gunn tem um ótimo timing musical para inserí-las no momento certo sem soar cansativo. Mais uma marca registrada dele.

Os personagens de apoio também cumprem muito bem o seu papel, como Clemson Murn (Chuk Iwuji), Leota Adebayo (Danielle Brooks), Emilia Harcourt (Jennifer Holland) e John Economos (Steve Agee). Estes dois últimos, já haviam aparecido em O Esquadrão Suicida (2021). As coreografias nas cenas de ação são bem satisfatórias. Todos da equipe possuem sua ponta de importância, e o tempo de tela de cada um são muito bem dosados. Você simplesmente não se cansa de vê-los em ação, seja do protagonista ao figurante.

(Fonte: HBO/Divulgação)

Além da trama principal, o antagonismo da invasão alienígena é dividida com o Dragão Branco, personagem interpretado pelo veterano Robert Patrick, eternamente conhecido como o androide T-1000, em O Exterminador do Futuro 2. Apesar de não aparecer tanto quanto deveria, dado ao potencial do ator, o personagem cumpre bem o seu papel de ser odiado pela audiência. Afinal, quem não ama odiar um vilão? A série ainda consegue pincelar críticas políticas à extremistas, negacionistas e teóricos da conspiração. Mas não espere nada muito contemplativo.

E como poderia me esquecer do baixinho Mestre-Judoca (Nhut Le), que assim como o Vigilante, rouba a cena com seu collant verde e seu Cheetos picante. O personagem também teve sua versão modificada, para algo que se encaixasse melhor no tom da série. Acho digno resgatar e repaginar personagens esquecidos no leque da editora, que tem uma mitologia riquíssima e ainda pouco explorada nas telas.

(Fonte: HBO/Divulgação)

O número de episódios é satisfatório. Não espere uma trama complexa ou megalomaníaca. Ela é simples, direta ao ponto e na medida certa. Uma curiosidade, é que Gunn escreveu o roteiro em apenas 8 semanas. A estratégia do serviço de streaming do HBO Max também foi acertada: 3 episódios lançados na estreia, e o restante particionado nas cinco semanas seguintes. Creio que isso aumentou a meia-vida da série nas redes sociais. Afinal, nada mais vende do que o velho e bom boca a boca.

(Fonte: HBO/Divulgação)

Nem todas as piadas parecem funcionar muito bem algumas horas. São momentos pontuais, admito, mas a repetição de algumas delas podem cansar algumas vezes. Nada que tire o brilho do produto final. Todos os episódios também contam com cenas pós-creditos. Fique atento! Também, no último episódio, que foi ao ar no dia (17), temos uma grata surpresa, com heróis do time A já conhecidos por nós fazendo uma ponta.

(Fonte: HBO/Divulgação)

Pacificador entrega o que promete. Uma série sincera, divertida e que certamente renderá frutos, não só aos fãs da editora, quanto ao próprio Universo DC. Vida longa a James Gunn e sua visão criativa. E uma boa notícia: A série já foi confirmada para sua segunda temporada e a primeira temporada já está disponível no HBO Max.

4/5

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Sobre o Autor

Guilherme Marconi

Fundador do site Torre de Vigilância, artista digital, boxeador amador e apaixonado por quadrinhos.

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